Resp 873.224-RS

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Superior Tribunal de Justia

RECURSO ESPECIAL N 873.224 - RS (2006/0169438-3)


RELATOR
RECORRENTE
PROCURADOR
RECORRIDO
ADVOGADO

:
:
:
:
:

MINISTRO LUIZ FUX


MUNICIPIO DE SO MARCOS
VANDERLEI JOS RECH E OUTRO(S)
SRGIO PAULO NEVES
ELMAR MICHELON BORGHETTI
EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. EXECUO FISCAL. BEM DE FAMLIA.


IMPENHORABILIDADE. LEI N 8.009/90. ESTATUTO DO IDOSO. LEI
N 10.741/2003. EXEGESE. DIGNIDADE HUMANA DO IDOSO.
1. A impenhorabilidade do bem de famlia, prevista na Lei 8.009/80, visa a
preservar o devedor do constrangimento do despejo que o relegue ao desabrigo.
2. Deveras, a lei deve ser aplicada tendo em vista os fins sociais a que ela se
destina, por isso que impenhorvel o imvel residencial caracterizado como
bem de famlia, bem como os mveis que guarnecem a casa, nos termos do artigo
1 e pargrafo nico da Lei n 8.009, de 25 de maro de 1990. Precedentes:
AgRg no AG n 822.465/RJ, Rel. Min. JOS DELGADO , DJU de 10.05.2007;
REsp n 277.976/RJ, Rel. Min. HUMBERTO GOMES DE BARROS , DJU de
08.03.2005; REsp n 691.729/SC, Rel. Min. FRANCIULLI NETTO , DJU de
25.04.2005; e REsp n 300.411/MG, Rel. Min. ELIANA CALMON , DJU de
06.10.2003.
3. As excees impenhorabilidade do bem de famlia, previstos no art. 3 da Lei
n 8.009/1990, devem ser interpretadas restritivamente, considerando a
sistemtica estabelecida pela lei, sendo certo que a ressalva da lei decorre de
dvida do imvel por contribuio de cota condominial e no contribuio de
melhoria.
4. que "o vocbulo contribuies a que alude o inciso IV, art. 3, da Lei n.
8.009/90 no se reveste de qualquer conotao fiscal, mas representa, in casu, a
cota-parte de cada condmino no rateio das despesas condominiais. Nesta
circunstncia, a obrigao devida em decorrncia da m conservao do imvel
da recorrente h de ser includa na ressalva do mencionado dispositivo. " (RSTJ
140/344).
5. A penhorabilidade por despesas condominiais tem assento exatamente no
referido dispositivo, como se colhe nos seguintes precedentes: no STF, RE
439.003/SP, Rel. Min. EROS GRAU , 06.02.2007; no STJ, REsp. 160.928/SP,
Rel. Min. ARI PARGENDLER , DJU 25.06.01 e REsp. 203.629/SP, Rel. Min.
CESAR ROCHA , DJU 21.06.1999.
6. A exegese proposta coaduna-se com a dignidade humana que tutela o idoso,
nos termos do art. 37 da lei 10.741/03.
7. Recurso especial a que se nega provimento.
ACRDO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da PRIMEIRA TURMA
do Superior Tribunal de Justia acordam, na conformidade dos votos e das notas taquigrficas
a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr.
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Ministro Relator. Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki, Denise Arruda (Presidenta) e
Benedito Gonalves votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Francisco Falco.
Braslia (DF), 16 de outubro de 2008(Data do Julgamento)

MINISTRO LUIZ FUX


Relator

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RECURSO ESPECIAL N 873.224 - RS (2006/0169438-3)

RELATRIO
O EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX (Relator): Trata-se de recurso
especial interposto pelo MUNICPIO DE SO MARCOS , com fulcro na alnea "a" do inciso
III do art. 105 da Constituio Federal, no intuito de ver reformado acrdo prolatado pelo
egrgio Tribunal de Justia do Estado do Rio Grande do Sul, sob o fundamento de ter o
mesmo violado o disposto no inciso IV do art. 3 da Lei n 8.009/1990.
Noticiam os autos que o ora recorrido interps recurso de agravo de
instrumento, com fundamento no art. 522 do CPC, contra r. deciso do Juzo singular que
julgou improcedente o incidente de impenhorabilidade de imvel de famlia, albergado na Lei
8.009/1990 e na Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), suscitado na ao de execuo fiscal
ajuizada pelo MUNICPIO DE SO MARCOS em face de SRGIO PAULO NEVES , para
a cobrana de contribuio de melhoria decorrente da pavimentao da rua onde se situa o
imvel.
O i. Des. Relator do feito na origem, deu provimento ao agravo, sob os
seguintes fundamentos:
"AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTRIO. BEM IMVEL.
IMPENHORABILIDADE. PRINCPIO DA DIGNIDADE HUMANA.
ESTATUTO DO IDOSO.
1. O tributo exigido contribuio de melhoria, decorrente da
pavimentao da rua em que situado o imvel. Trata-se, portanto, de
contribuio devida em razo da valorizao do imvel pela obra
pblica que melhorou significativamente sua situao. A Lei n
8.009/90 excepcionou a regra da impenhorabilidade aos casos em
que o crdito se origina do prprio imvel. Merece, entretanto,
afastamento sua literal aplicao, diante do princpio da dignidade
humana, na exata exegese da Lei n 10.741/03.
2. Tendo em vista que o bem penhorado onde reside o agravante e o
seu nico imvel, lev-lo hasta pblica causar grave leso a este,
mormente em razo de tratar-se de pessoa idosa. Agravo provido. "
(fls. 60).
Irresignado, o MUNICPIO DE SO MARCOS interps o presente recurso
especial, em que aduz, em sntese, que o acrdo recorrido teria negado e suspendido
indevidamente a aplicao do art. 3, inciso IV da Lei 8.009/1990. Sustenta que na hiptese
sub examine a impenhorabilidade no poderia ser argida em proveito do devedor, uma vez
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que a cobrana do tributo se deu em razo do prprio imvel familiar. Aponta, ainda, que o
Estatuto do Idoso no serviria de escusa para o inadimplemento da dvida tributria,
principalmente porque os valores devidos teriam sido empregados em favor de toda a
coletividade (fls. 82/83). Colaciona, tambm, precedentes de Cortes Estaduais para corroborar
seus argumentos.
O recorrido no apresentou contra-razes, conforme certido (fls. 90).
Considerando versar a controvrsia sobre penhora de bem de famlia, os autos
foram remetidos, por despacho, ao Ministrio Pblico Federal (fls. 98), que opinou, em seu
arrazoado (fls. 100), pelo desprovimento do recurso especial e manuteno do acrdo
recorrido. Entendeu o rgo Ministerial que "a impenhorabilidade determinada pela Lei
8.009/90 objetiva resguardar a entidade familiar e abrange tambm o nico imvel do
devedor no qual residem seus familiares. "
o relatrio.

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RECURSO ESPECIAL N 873.224 - RS (2006/0169438-3)
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. EXECUO FISCAL. BEM DE
FAMLIA. IMPENHORABILIDADE. LEI N 8.009/90.
ESTATUTO DO IDOSO. LEI N 10.741/2003. EXEGESE.
DIGNIDADE HUMANA DO IDOSO.
1. A impenhorabilidade do bem de famlia, prevista na Lei 8.009/80,
visa a preservar o devedor do constrangimento do despejo que o
relegue ao desabrigo.
2. Deveras, a lei deve ser aplicada tendo em vista os fins sociais a que
ela se destina, por isso que impenhorvel o imvel residencial
caracterizado como bem de famlia, bem como os mveis que
guarnecem a casa, nos termos do artigo 1 e pargrafo nico da Lei n
8.009, de 25 de maro de 1990. Precedentes: AgRg no AG n
822.465/RJ, Rel. Min. JOS DELGADO , DJU de 10.05.2007; REsp
n 277.976/RJ, Rel. Min. HUMBERTO GOMES DE BARROS , DJU
de 08.03.2005; REsp n 691.729/SC, Rel. Min. FRANCIULLI
NETTO , DJU de 25.04.2005; e REsp n 300.411/MG, Rel. Min.
ELIANA CALMON , DJU de 06.10.2003.
3. As excees impenhorabilidade do bem de famlia, previstos no
art. 3 da Lei n 8.009/1990, devem ser interpretadas restritivamente,
considerando a sistemtica estabelecida pela lei, sendo certo que a
ressalva da lei decorre de dvida do imvel por contribuio de cota
condominial e no contribuio de melhoria.
4. que "o vocbulo contribuies a que alude o inciso IV, art. 3, da
Lei n. 8.009/90 no se reveste de qualquer conotao fiscal, mas
representa, in casu, a cota-parte de cada condmino no rateio das
despesas condominiais. Nesta circunstncia, a obrigao devida em
decorrncia da m conservao do imvel da recorrente h de ser
includa na ressalva do mencionado dispositivo. " (RSTJ 140/344).
5. A penhorabilidade por despesas condominiais tem assento
exatamente no referido dispositivo, como se colhe nos seguintes
precedentes: no STF, RE 439.003/SP, Rel. Min. EROS GRAU ,
06.02.2007; no STJ, REsp. 160.928/SP, Rel. Min. ARI
PARGENDLER , DJU 25.06.01 e REsp. 203.629/SP, Rel. Min.
CESAR ROCHA , DJU 21.06.1999.
6. A exegese proposta coaduna-se com a dignidade humana que tutela
o idoso, nos termos do art. 37 da lei 10.741/03.
7. Recurso especial a que se nega provimento.

VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX (Relator): Preliminarmente,
impe-se o conhecimento do presente recurso, posto atendido o requisito do
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prequestionamento da matria federal suscitada.
Cinge-se a atual controvrsia a saber se a penhora decorrente de ao de
execuo fiscal de contribuio de melhoria pode recair sobre nico imvel do recorrido,
onde mora com seus familiares, ainda que a pavimentao da rua onde se localiza o bem
tenha originado a cobrana da exao, em decorrncia da obra pblica realizada e da
valorizao do imvel.
No assiste razo ao recorrente.
Com efeito, o inciso IV do art. 3 da Lei 8.009/1990 foi redigido nos seguintes
termos:
"Art. 3 A impenhorabilidade oponvel em qualquer processo de
execuo civil, fiscal, previdenciria, trabalhista ou de outra
natureza, salvo se movido:
IV - para cobrana de impostos, predial ou territorial, taxas e
contribuies devidas em funo do imvel familiar; "
Entretanto, no se pode admitir, como bem observou o acrdo do Tribunal a
quo, em homenagem ao princpio da dignidade humana, que se extraia o nico bem do
recorrido, ainda que seja para a cobrana de tributo devido em razo do imvel. A norma
jurdica no comporta essa interpretao, pois a sujeio passiva tributria decorrente da
propriedade do bem no pode ser o mvel autorizador de sua constrio, fato que denotaria
uma contradio em seus prprios termos.
Analisando a hiptese dos autos, depreende-se que a pavimentao da rua do
contribuinte, em vista da obra pblica realizada e da valorizao econmica produzida nos
imveis da regio, deflagrou a competncia do Municpio de cobrar a contribuio de
melhoria. O fenmeno tributrio, assim observado, no tem o condo de, a partir do fato
gerador da obrigao exacional, tolher o direito propriedade do bem imvel beneficiado
com a obra pblica. Nesse caso, verificar-se-ia um caso de confisco, hiptese desautorizada
nos termos do art. 150, IV da Constituio Federal.
De outra forma, impenhorabilidade do bem de famlia, prevista na Lei
8.009/80, visa a preservar o devedor do constrangimento do despejo que o relegue ao
desabrigo. Logo, a mencionada lei tutela o executado, na medida em que, a despeito do dever
de solver suas dvidas, no pode restar ao desamparo do nico bem que possui, onde habita
com seus familiares.
Deveras, a lei deve ser aplicada tendo em vista os fins sociais a que ela se
destina, por isso que impenhorvel o imvel residencial caracterizado como bem de famlia,
bem como os mveis que guarnecem a casa, nos termos do artigo 1 e pargrafo nico da Lei
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n 8.009, de 25 de maro de 1990. Precedentes: AgRg no AG n 822.465/RJ, Rel. Min.
JOS DELGADO , DJU de 10.05.2007; REsp n 277.976/RJ, Rel. Min. HUMBERTO
GOMES DE BARROS , DJU de 08.03.2005; REsp n 691.729/SC, Rel. Min. FRANCIULLI
NETTO , DJU de 25.04.2005; e REsp n 300.411/MG, Rel. Min. ELIANA CALMON , DJU de
06.10.2003.
Ocorre que as excees impenhorabilidade do bem de famlia, previstos no
art. 3 da Lei n 8.009/1990, devem ser interpretadas restritivamente, considerando a
sistemtica estabelecida pela lei, sendo certo que a ressalva da lei decorre de dvida do imvel
por contribuio de cota condominial e no contribuio de melhoria. que "o vocbulo
contribuies a que alude o inciso IV, art. 3, da Lei n. 8.009/90 no se reveste de qualquer
conotao fiscal, mas representa, in casu, a cota-parte de cada condmino no rateio das
despesas condominiais. Nesta circunstncia, a obrigao devida em decorrncia da m
conservao do imvel da recorrente h de ser includa na ressalva do mencionado
dispositivo. " (RSTJ 140/344).
Por sua vez, a penhorabilidade por despesas condominiais tem assento
exatamente no referido dispositivo, como se colhe nos seguintes precedentes: no STF, RE
439.003/SP, Rel. Min. EROS GRAU , 06.02.2007; no STJ, REsp. 160.928/SP, Rel. Min. ARI
PARGENDLER , DJU 25.06.01 e REsp. 203.629/SP, Rel. Min. CESAR ROCHA , DJU
21.06.1999.
Ademais, o caso traz a peculiaridade da incidncia da Lei n 10.741/2003.
Consoante ventilado, o contribuinte recorrido est encoberto pelo manto do Estatuto do Idoso,
que lhe garante:
"Art. 37. O idoso tem direito a moradia digna, no seio da famlia
natural ou substituta, ou desacompanhado de seus familiares, quando
assim o desejar, ou, ainda, em instituio pblica ou privada. "
Destarte, alm da correta interpretao que deve ser aplicada Lei 8.009/1990,
ainda pende a Lei n 10.741/2003 sobre o caso, com comando expresso no sentido de que ao
idoso deve ser garantida a moradia digna. O princpio da dignidade da pessoa humana, em
especial ao idoso, deve ser aqui aplicado no sentido de impedir qualquer restrio ao direito
de moradia do recorrido. Assim, a exegese proposta coaduna-se com a dignidade humana que
tutela o idoso, nos termos do art. 37 da lei 10.741/03.
A propsito, em outra oportunidade, esta relatoria j se manifestou sobre
hiptese anloga ora debatida, para afastar exceo impenhorabilidade, previstasno art. 3
da lei 8.009/1990; in verbis :
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PROCESSUAL CIVIL. BEM IMPENHORVEL. ARTIGO 3, INCISO
I DA LEI 8.009/90. MO DE OBRA EMPREGADA NA
CONSTRUO DE OBRA. INTERPRETAO EXTENSIVA.
IMPOSSIBILIDADE.
1. A impenhorabilidade do bem de famlia, oponvel na forma da lei
execuo fiscal previdenciria, consectrio do direito social
moradia.
2. Consignada a sua eminncia constitucional, h de ser restrita a
exegese da exceo legal.
3. Consectariamente, no se confundem os serviais da residncia,
com empregados eventuais que trabalham na construo ou reforma
do imvel, sem vnculo empregatcio, como o exercido pelo diarista,
pedreiro, eletricista, pintor, vale dizer, trabalhadores em geral.
4. A exceo prevista no artigo 3, inciso I, da Lei 8.009, de 1990,
deve ser interpretada restritivamente.
5. Em conseqncia, na exceo legal da "penhorabilidade" do bem
de famlia no se incluem os dbitos previdencirios que o
proprietrio do imvel possa ter, estranhos s relaes trabalhistas
domsticas.
6. cedio em sede doutrinria que: "Os trabalhadores a que a Lei
se refere so aqueles que exercem atividade profissional na
residncia do devedor, includos nessa categoria os considerados
empregados domsticos - empregados mensalistas, governantas,
copeiros, mordomos, cozinheiros, jardineiros e mesmo faxineiras
diaristas se caracterizado o vnculo empregatcio, bem como os
motoristas particulares dos membros da famlia. No se enquadram
nessa categoria pessoas que, embora realizem atividade profissional
na residncia do devedor, no so seus empregados, exercendo
trabalho autnomo ou vinculado a empregador. Nesse contexto esto
os pedreiros, pintores, marceneiros, eletricistas, encanadores, e
outros profissionais que trabalham no mbito da residncia apenas
em carter eventual. Tambm no esto abrangidos pela exceo do
inc. I, os empregados dos condomnios residenciais - entre os quais,
porteiros, zeladores, manobristas - por no trabalharem
propriamente no mbito das residncias, e, principalmente, porque
so contratados pelo prprio condomnio, representado pelo sndico
ou por empresas administradoras."(comentrios de Rita de Cssia
Corra de Vasconscelos em artigo de revista intitulado "A
impenhorabilidade do Bem de Famlia e as novas entidades
familiares)
Destaque-se ainda a posio do professor Rainer Czajkowski, no
sentido que "quanto aos dbitos previdencirios, previstos na
segunda parte do inc. I, a referncia s contribuies devidas para
a Previdncia Social, pblica, no tocante aos dbitos daquelas
relaes trabalhistas domsticas. No se incluem na exceo
cobranas de empresas de previdncia privada, e nem outros dbitos
previdencirios que o proprietrio do imvel possa ter estranhos s
relaes trabalhistas domsticas.(in "A Impenhorabilidade do Bem de
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Famlia - Comentrios Lei 8.009/90", 4 edio, Editora Juru,
pgina 153).
Sobre o thema confira-se o recente posicionamento monocrtico do
ilustre Ministro Carlos Mrio Velloso, no RE 352.940-4/SP, deciso
julgada em 25/04/2005, que se transcreve, in litteris:
"A Lei 8.009, de 1990, art. 1, estabelece a
impenhorabilidade do imvel residencial do casal ou da entidade
familiar e determina que no responde o referido imvel por
qualquer tipo de dvida, salvo nas hipteses previstas na mesma
lei, art. 3, inciso I a VI. Acontece que a Lei 8.245, de 18.10.91,
acrescentou o inciso VII, a ressalvar a penhora "por obrigao
decorrente de fiana concedida em contrato de locao.'
dizer, o bem de famlia de um fiador em contrato de
locao teria sido excludo da impenhorabilidade. Acontece que o
art. 6 da C.F., com a redao da EC n 26, de 2000, ficou assim
redigido:
"Art. 6. So direitos sociais a educao, a sade, o
trabalho, a moradia, a segurana a previdncia social, a proteo
maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados, na
forma desta Constituio."
Em trabalho doutrinrio que escrevi - "Dos Direitos
Sociais na Constituio do Brasil", texto bsico de palestra que
proferi na Universidade de Carlos III, em Madri, Espanha, no
Congresso Internacional de Direito do Trabalho, sob o patrocnio
da Universidade Carlos III e da ANAMATRA, em 10.3.2003,
registrei que o direito moradia, estabelecido no art. 6, C.F.,
um direito fundamental de 2 gerao e o direito social, que veio a
ser reconhecido pela EC 26, de 2000.
O bem de famlia,a moradia do homem e sua famlia
justifica a existncia de sua impenhorabilidade: Lei 8.009/90, art.
1. Essa impenhorabilidade decorre de constituir a moradia um
direito fundamental. Posto isso, veja-se a contradio: a Lei 8.245,
de 1991, excepcionando o bem de famlia do fiador, sujeitou o seu
imvel residencial, imvel residencial prprio do casal, ou da
entidade familiar penhora. No h dvida que a ressalva trazida
pela Lei 8.245, de 1991. no inciso VII do art. 3 feriu de morte o
princpio isonmico, tratando desigualmente situaes iguais,
esquecendo-se do velho brocardo latino: ubi eadem ratio, ibi
eadem legis dispositio, ou em vernculo: onde existe a mesma
razo fundamental, prevalece a mesma regra de Direito. Isto quer
dizer que, tendo em vista o princpio isonmico, o citado
dispositivo, inciso VII do art. 3, acrescentado pela Lei 8.245/91,
no foi recebido pela EC 26, de 2000. Essa no recepo mais se
acentua diante do fato de a EC 26, de 2000, ter estampado,
expressamente, no art. 6, C.F., o direito moradia como direito
fundamental de 2 gerao, direito social. Ora, o bem de famlia
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da Lei 8.009/90, art. 1 encontra justificativa, foi dito linha atrs,
no constituir o direito moradia um direito fundamental que deve
ser protegido e por isso mesmo encontra garantia na Constituio.
Em sntese, o inciso VII do art. 3 da Lei 8.009, de 1990,
introduzido pela Lei 8.245, de 1991, no foi recebido pela CF, art.
6, redao da EC 26/2000. Do exposto, conheo do recurso e
dou-lhe provimento, invertidos os nus da sucumbncia.
Publique-se. Braslia, 25 de abril de 2005. Ministro CARLOS
VELLOSO - Relator."
7. A Corte j assentou que "a exceo prevista no artigo 3, inciso I
da Lei 8.009, de 1990, deve ser interpretada risca" (Resp n
187052/SP, Relator Ministro Ari Pargendler, publicado no DJ
22.10.2001).
8. A hermenutica e a aplicao do Direito, impe obedincia a
certas regras, no dizer do maior exegeta brasileiro que foi Carlos
Maximiliano. Consoante as suas insuperveis lies, expressas em
seu livro "Hermenutica e Aplicao do Direito", publicado pela
Editora Forense, 19 Edio, s pginas 191/193, in litteris "(...) 271
- O Cdigo Civil explicitamente consolidou o preceito clssico 'Exceptiones sunt strictissimoe interpretationis' ("interpretam-se as
excees estritissimamente") no art. 6 da antiga Introduo, assim
concebido: "A lei que abre exceo a regras gerais, ou restringe
direitos, s abrange os casos que especifica,,265 O).
O princpio entronca nos institutos jurdicos de Roma, que proibiam
estender disposies excepcionais, e assim denominavam as do
Direito exorbitante, anormal ou anmalo, isto , os prceitos
estabelecidos contra a razo de Direito; limitava-Ihes o alcance, por
serem um mal, embora mal necessrio (2).
Eis os mais prestigiosos brocardos relativos ao assunto:'Quod vero
contra rationem, juris receptum est, non est producendum ad
consequentias' (Paulo, no Digesto, liv. 1, tt. 3, frag. 14) - "o que,
em verdade, admitido contra as regras gerais de Direito, no se
estende a espcies congneres".
'In his quoe contra rationem, juris constituta sunt, non possumus
sequi regulam juris' (Juliano, em o Digesto, liv. 1 , t. 3, frag. 15) "no tocante ao que estabelecido contra as normas comuns de
Direito, aplicar no podemos regra geral".
'Quoe propter necessitatem recepta sunt, non debent in argumentum
trahi' (Paulo, no Digesto, liv. 50, tt. 17, frag. 162) -"o que admitido
sob o imprio da necessidade, no deve estender-se aos casos
semelhantes".
Os trs apotegmas faziam saber que as regras adotadas contra a
razo de Direito, sob o imprio de necessidade inelutvel,no se
deviam generalizar: no firmavam precedente, no se aplicavam a
hipteses anlogas, no se estendiam alm dos casos expressos, no
se dilatavam de modo que abrangessem as conseqncias lgicas dos
mesmos.
Os sbios elaboradores do Codex Juris Canonici (Cdigo de Direito
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Cannico) prestigiaram a doutrina do brocardo, com inserir no Livro
I, ttulo I, cnon 19, este preceito translcido:
"Leges quoe poenam statuunt, aut liberum jurium exercitium crctant,
aut exceptionem a lege continent, strictae subsunt interpretation" ("As
normas positivas que estabelecem pena restringem o livre exerccio
dos direitos, ou contm exceo a lei, submetem-se a interpretao
estrita").
Menos vetusta a parmia - Permittitur quod non, prohibetur:
"presume-se permitido tudo aquilo que a lei no probe".
Hoje se no confunde a lei excepcional com a exorbitante, a contrria
razo de Direito (contra rationem, juris), aquela cujo fundamento
jurdico se no pode dar ('cujus, fatia reddi non potest'). O Direito
Excepcional subordinado a uma razo tambm, sua, prpria,
original, porm reconhecvel, s vezes, at evidente, embora diversa
da razo mais geral sobre a ual se baseia o Direito comum (3).A
fonte mediata do art. 6 da antiga Lei de Introduo, do repositrio
brasileiro, deve ser o art. 4 do Titulo Prelimina do Cdigo italiano
de 1865, cujo preceito decorria das leis civis de Npoles (4) e era
assim formulado: "As leis penais as que restringem o livre exerccio
dos direitos, ou formam excees a regras gerais ou a outras leis, no
se estendem alm dos casos e tempos que especificam".
(...)
272 - As disposies excepcionais so estabelecidas por motivos ou
consideraes particulares, contra outras normas jurdicas, ou
contra o Direito comum; por isso no se estendem alm dos casos e
tempos que designam expressamente. Os contemporneos preferem
encontrar o fundamento desse preceito no fato de se acharem
preponderantemente do lado do princpio geral as foras sociais que
influem na aplicao de toda regra positiva, como sejam os fatores
sociolgicos, a Werturteil dos tedescos, e outras.
O art. 6 da antiga Lei de Introduo abrange, em seu conjuntos, as
disposies derrogatrias do Direito comum; as que confinam a sua
operao a determinada pessoas, ou a um grupo dehomens parte;
atuam excepcionalmente, em proveito, ou prejuzo, do menor nmero.
No se confunda com as de alcance geral, aplicveis a todos, porm
suscetveis de afetar duramente alguns indivduos por causa da sua
condio particular. Refere-se o preceito quela que, executadas na
ntegra, s atingem a poucos, ao passo que o resto da comunidade
fica isenta (3).
Impe-se tambm a exegese estrita norma que estabelece uma
incapacidade qualquer, ou comina a decadncia de um direito: esta
designada pelas expresses legais - "ou restringe direitos" (4) .
286 - Parece oportuna a generalizao da regra exposta acerca de
determinadas espcies de preceitos, esclarecer como se entende e
aplica uma norma excepcional. de Direito estrito; reduz-se
hiptese expressa: na dvida, segue-se a regra geral. Eis porque se
diz que a exceo confirma a regra nos casos no excetuados.
287 - O processo de exegese das leis de tal natureza sintetizado na
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parmia clebre, que seria imprudncia eliminar sem maior exame 'interpretam-se restritamente as disposies derrogatrias do Direito
comum'. No h efeito sem causa: a predileo tradicional pelos
brocardos provm da manifesta utilidade dos mesmos. Constituem
snteses esclarecedoras,
admirveis smulas de doutrinas
consolidadas. Os males que lhes atribuem so os de todas as regras
concisas: decorrem no do uso, e sim do abuso dos dizeres lacnicos.
O exagero encontra-se antes na deficincia de cultura ou no
temperamento do aplicador do que no mago do apotegma. Bem
compreendido este, conciliados os seus termos e a evoluo do
Direito, a letra antiga e as idias modernas, ressaltar ainda a
vantagem atual desses comprimidos de idias jurdicas, auxiliares da
memria, amparos do hermeneuta, fanais do julgador vacilante em
um labirinto de regras positivas.
Quanta dvida resolve, num relmpago, aquela sntese expressiva interpretam-se restritivamente as disposies derrogatrias do
Direito comum!
Responde, em sentido negativo, primeira interrogao: o Direito
Excepcional comporta o recurso analogia? (2). Ainda enfrenta, e
com vantagem, a segunda: ele compatvel com a exegese extensiva?
Neste ltimo caso, persiste o adgio em amparar a recusa;
acompanham-no reputados mestres (3); outros divergem (4),porm
mais na aparncia do que na realidade: esboam um sim
acompanhado de reservas que o aproximam do no. Quando se
pronunciam pelo efeito extensivo, fazem-no com o intuito de excluir o
restritivo, tomado este na acepo tradicional. Timbram em evitar
que se aplique menos do que a norma admite; porm no pretendem o
oposto - ir alm do que o texto prescreve. O seu intento tirar da
regra tudo o que na mesma se contm, nem mais, nem menos. Essa
interpretao bastante se aproximada que os clssicos apelidavam
declarativa; denomina-se estrita: busca o sentido exato; no dilata,
nem restringe (5).
Com as reservas expostas, a parmia ter sempre cabimento e
utilidade. Se fora lcito retocar a forma tradicional, substituir-se-ia
apenas o advrbio: ao invs de restritiva, estritamente. Se prevalecer
o escrpulo em emendar adgios, de leve sequer, bastar que se
entenda a letra de outrora de acordo com as idias de hoje: o
brocardo sintetiza o dever de aplicar o conceito excepcional s
espcie que ele exprime, nada acrescido, nem suprimido ao que a
norma encerra, observada a mesma, portanto, em toda a sua
plenitude (6).
288 - Releva advertir que todo preceito tem valor apenas relativo. A
regra do art. 6 da antiga Lei de Introduo ao Cdigo Civil
consolida o velho adgio - interpretam-se restritivamente as
disposies derrogatrias do Direito comum, brocardo este
correspondente ao dos romanos - exceptiones sunt strictissimoe
interpretationis. Qualquer dos trs conceitos aplica-se com a maior
circunspeo e reserva, e comporta numerosas excees (1): da a
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divergncia na maneira de o entender, at entre pontfices das letras
jurdicas.
289 - As palavras - que especifica, do Cdigo brasileiro, parfrase de
- in esse espressi, do repositrio italiano, no se interpretam no
sentido literal, de exigir individuao precisa, completa, de cada caso
a incluir na exceo. Comporta esta as hipteses todas compatveis
com o esprito do texto. Exclui-se a extenso propriamente dita;
porm no a justa aplicao integral dos dispositivos.
Restries ao uso ou posse de qualquer direito, faculdade ou
prerrogativa no se presumem: isto que o preceito estabelece.
Devem ressaltar dos termos da lei, ato jurdico, ou frase de expositor.
Cumpre opinar pela inexistncia da exceo referida, quando esta se
no impe evidncia, ou dvida razovel paira sobre a sua
aplicabilidade a determinada hiptese .(...)"
9. Voto pelo improvimento do recurso especial interposto pelo
Instituto Nacional de Seguridade Social, divergindo do Relator.
(REsp. 644.733/SC, desta relatoria, DJU de 28.11.2005).
Ante o exposto, no se pode olvidar do direito subjetivo do recorrido em
relao impenhorabilidade do seu nico bem imvel, bem como da garantia de sua moradia
digna, enquanto agente tutelado pelo Estatuto do Idoso.
Ex positis , NEGO PROVIMENTO ao recurso especial.
o voto.

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CERTIDO DE JULGAMENTO
PRIMEIRA TURMA

Nmero Registro: 2006/0169438-3

REsp 873224 / RS

Nmeros Origem: 10200000903 10200010275 70014015010 70015397599 7168199 9156050


PAUTA: 16/10/2008

JULGADO: 16/10/2008

Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIZ FUX
Presidenta da Sesso
Exma. Sra. Ministra DENISE ARRUDA
Subprocurador-Geral da Repblica
Exmo. Sr. Dr. AURLIO VIRGLIO VEIGA RIOS
Secretria
Bela. MARIA DO SOCORRO MELO
AUTUAO
RECORRENTE
PROCURADOR
RECORRIDO
ADVOGADO

:
:
:
:

MUNICIPIO DE SO MARCOS
VANDERLEI JOS RECH E OUTRO(S)
SRGIO PAULO NEVES
ELMAR MICHELON BORGHETTI

ASSUNTO: Tributrio - Contribuio - Social - Melhoria

CERTIDO
Certifico que a egrgia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso
realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso:
A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki, Denise Arruda (Presidenta) e Benedito
Gonalves votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Francisco Falco.
Braslia, 16 de outubro de 2008

MARIA DO SOCORRO MELO


Secretria

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