Não Toqueis Nos Meus Ungidos

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TICA

No toqueis nos
Meus ungidos

A difamao
tem destrudo
muitas vidas

por Joel Sarli

o toqueis nos Meus ungidos, nem maltrateis os


Meus profetas. I Crn.
16:22.
Vivemos num tempo em que respeito mercadoria rara. Os pais nos lares, os professores nas escolas, os dirigentes das naes nas casas governamentais,
os militares nos quartis e os pastores nas
igrejas, esto experimentando as temperaturas elevadas dessa crise.
O Pastor Robert Pierson, que viveu e morreu pregando o evangelho
como fiel e leal pastor da Igreja Adventista do Stimo Dia, contou o fato
que passo a narrar:
O dicono Anselmo, que era um
bondoso, circunspecto, fiel e gentil
cavalheiro, estava sendo esperado por
um membro insatisfeito e belicoso,
que estava trabalhando para criar tumulto na igreja e, especialmente, para
tornar mais difcil a vida do pastor.
Anselmo voltou mais cedo para
casa para encontrar o seu visitante
que, logo depois das formalidades iniciais, comeou a expressar sua grande
preocupao com o baixo nvel espiritual da igreja e inquirir sobre quais seriam as razes de no ter havido muitos batismos, nenhum reavivamento
espiritual e pouca ao missionria na
igreja, nos ltimos anos. Qual a causa desse estado de coisas? O irmo
tem, por acaso, alguma idia? ele
persistiu em perguntar.
O dicono no estava preparado
para opinar. Depois de uma breve reflexo, respondeu francamente: No,
eu no tenho nenhuma opinio.
Nos olhos do perturbador de Sio

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de

faiscou um brilho de sagacidade, e tomou coragem para perguntar: O irmo no pensa que os sermes de
nosso pastor so uma mistura pobre
de gua com acar? O dicono respondeu: No, eu no penso assim.
Assumindo um tom apologtico
e destacando cada slaba das palavras,
o visitante chegou ao ponto desejado,
perguntando: Ento, o meu irmo
em Cristo Jesus no pensa que seria
melhor, a esta altura, e para o bem de
todos, afastar esse pastor de nossa
igreja e procurar um outro melhor?
O dicono comeou a falar como
se tivesse sido atingido por uma bala
de revlver. Numa tonalidade mais alta
do que costumeiramente falava, respondeu: No, eu no penso assim.
O visitante guerrilheiro retrucou:
Como lder da igreja, o irmo fala
muito pouco. E demonstrando que
estava meio irritado, acrescentou:
Desse modo, ningum jamais saber
o que o irmo pensa.
Olhando bem nos olhos do visitante, o dicono Anselmo replicou:
Uma vez eu falei demais para seis irmos que estavam juntos numa reunio administrativa, onde se faziam
oraes. Trinta anos atrs, o meu corao aprendeu a suprema lio de
humildade e, desde aquela ocasio, tenho procurado andar suavemente
diante de meu Deus. Fiz um voto solene, que espero manter pela eternidade. E no tente fazer com que eu
quebre esse voto agora.
O visitante ficou assustado com a
firmeza do dicono, que era conhecidamente um homem de poucas palavras.
Ento perguntou: O que aconteceu

te

Revista Adventista, maro 2002

trinta anos atrs? O irmo Anselmo,


com voz trmula, comeou a narrar:
Bem, amigo, vou contar-lhe: Eu
me envolvi num esquema exatamente
como o seu, para afastar um servo de
Deus do campo onde Ele mesmo o havia colocado. Na minha cegueira, pensei que era uma coisa simples mover
uma estrela que Jesus segura na Sua
mo direita. Ah, se meus ouvidos pudessem ouvir palavras mais floreadas e
os bancos vazios da igreja pudessem
ser ocupados por homens e mulheres
dispostos a abandonar a simplicidade
do evangelho que o nosso pastor apresentava! Eu e aqueles homens que me
incitaram (tenho de admitir que fui infantil e permiti que fosse manipulado
pelas suas palavras) nos exaltvamos e
nos justificvamos, afirmando que estvamos conscientes de que fazamos
um servio para Deus, afastando um
homem santo do seu plpito, de seu
trabalho, e considerando que o seu
tempo no ministrio tinha acabado,
que ele nada mais tinha para dar. Reclamvamos que no havia reavivamento espiritual, quando estvamos
gastando o nosso tempo criticando,
fofocando e enfraquecendo as mos do
instrumento de quem exigamos bnos, ao invs de sustent-lo por meio
de oraes, palavras e aes.
Bem, irmo, ele nunca poderia fazer avanar o carro de nossa salvao
com aquele grupo de lderes crticos
azucrinando os seus ouvidos, lembrando-o de suas fraquezas e debilidades.
ramos um peso morto que entravava
suas rodas ministeriais. Desse modo,
ns o perseguimos com presso de todos os tipos, at que, ferido e sangran-

Com relutncia, a esposa de meu


pastor permitiu que eu entrasse no quarto desse leal guerreiro de Deus, cujas armas pesavam em seus ombros vacilantes. Ele abriu os lnguidos olhos e disse:
Irmo Anselmo! Irmo Anselmo! Eu
me encurvei diante dele em prantos e
balbuciei: Meu pastor! Meu pastor!
Ento, erguendo as mos plidas,
aquelas mesmas mos que muitas vezes
vi folheando a Palavra de Deus, sussurrou numa voz trmula, mas impressiva
e profunda: Irmo Anselmo! No toqueis nos Meus ungidos, diz o Senhor;
nem maltrateis os Meus profetas.
Procurei falar suavemente com
ele e disse que tinha vindo para confessar o meu pecado, mostrar-lhe alguns
dos frutos do seu trabalho trazendo
meu filho para contar como por seu
exemplo ele tinha encontrado a Cristo.
Mas ele no tinha total domnio do que
se passava ao redor. Tive a impresso de
que, ao ver o meu rosto, sua mente debilitada se lembrou de coisas tristes que
lhe turbaram o esprito outra vez.
Beijei sua face empalidecida e lhe
falei do quanto eu o apreciava e lhe devia como meu guia espiritual. Implorei seu perdo pela minha falta de fidelidade e lealdade, e prometi cuidar
de sua esposa e dos filhos pequenos
que teriam de viver sem a assistncia
do pai. Ele apenas respondia murmurando palavras que pareciam ser o reflexo de um sonho que tinha sido destrudo: No toqueis nos Meus ungidos, nem maltrateis os Meus profetas.
Permaneci ao seu lado toda a noite e, quando o dia raiou, fechei os olhos
do grande batalhador de Deus. Ofereci
senhora viva uma casa para viver durante o resto de seus dias, mas, como
uma herona que respeitava a memria
de seu esposo, ela disse: Irmo, quero
que saiba que lhe perdo completamente. No meu corao no ficar nenhuma amargura contra o irmo, mas
os meus filhos ficaram profundamente
machucados ao ver a angstia do pai, e
eles nunca mais viro me ver se eu aceitar qualquer coisa daqueles que causaram tanta angstia e frustrao quele
que aprenderam a amar e respeitar. Ele
nos deixou nas mos do Deus a quem
dedicou a vida, e Ele cuidar de ns.
Meu amigo, aquelas palavras
partindo dos lbios de meu pastor en-

fermo, soaram aos meus ouvidos desde o momento em que o vi ser colocado no caixo at ser depositado na sua
sepultura. Em meus sonhos, por vezes
contemplo Cristo de p, dizendo:
No toqueis nos Meus ungidos, nem
maltrateis os Meus profetas.
Essas palavras me perseguiram
at que eu pudesse compreender a estima que Cristo tem para com os homens que deixam tudo por Seu amor
e Sua causa, e eu decidi amar cada um
desses homens por amor de Jesus,
mesmo que eles no sejam perfeitos e
errem em algumas das decises que
tomam. Desde aquele dia, amigo, procuro falar menos e apoiar mais meus
pastores, mesmo que eles no sejam
homens extraordinrios.
Que a minha lngua se pregue no
cu de minha boca, e a minha mo direita seque, se eu tentar outra vez separar aqueles que Deus ajuntou.
Quando um ministro de Deus colocado num lugar, quem sou eu para
julgar e questionar Seus intentos?
Creio que Deus tem a Sua mo nesse
negcio. Ele controla Suas coisas.
No vou me unir ao irmo. No
vou participar nesse esquema que o
trouxe aqui. Alm disso, se to-somente ouvir outras palavras vindas de seus
lbios sobre esse assunto, vou pedir aos
membros da minha congregao que o
procurem aconselhar e, se necessrio,
disciplinar o irmo ou qualquer um
que cause diviso. Irei lembr-los do
que alguns fizeram aqui em nossa congregao trinta anos atrs. Meu caro
irmo, pare onde voc est e ore a Deus
para que lhe d perdo a fim de que
seu corao fique outra vez limpo.
Esta resposta colocou um ponto
final naquele insidioso movimento de
prejudicar a reputao e o trabalho do
ministro que estava fazendo o servio
que lhe fora indicado.
Que Deus nos livre da funo de
algozes que manejam o terrvel aoite
da crtica! Que Ele nos ajude, como
membros da igreja de Cristo, a respeitar os que tm deveres e funes que
no so as mais desejveis para muitos.
Que Ele nos ensine a ver mais as boas
coisas e falar e escrever sobre elas.

TICA

do, nosso pastor fugiu para uma caverna para morrer, como Elias, o tesbita.
Ele foi afastado da igreja, mas
Deus Se manifestou entre ns atravs
do Seu Esprito, mostrando-nos que
Ele tinha abenoado o labor de Seu
amado servo. Meu prprio corao foi
quebrado pela experincia de meus filhos convertidos sob o impacto da
vida daquele bom homem, e eu decidi
que teria de visitar o meu ex-pastor e
confessar o meu pecado, e agradecer
por ter sido uma bno para a minha
famlia. A semente escondida tinha
germinado. Deus, porm, me negou
essa alegria e esse alvio de alma. Ele
queria me ensinar a lio que cada um
de Seus filhos deve aprender, ou seja,
aquele que toca em um de Seus servos,
toca na menina de Seus olhos.
Fui informado de que meu pastor estava muito doente. Levando meu
filho mais velho, fiz uma curta viagem
de uma hora de trem para v-lo. Era
noite, quando cheguei. Sua esposa,
com aquele esprito natural de defesa
que qualquer esposa sente ao ver de
novo um homem que procurou arruinar a vida de seu cnjuge, negou-me o
direito de entrar em seu quarto. Ela
disse algumas palavras que foram
como setas na minha alma: Meu marido est morrendo. Ao ver a sua face,
isso ir acrescentar mais angstia nos
momentos finais de sua vida, disse ela.
Meu Deus! Como foi que isso
chegou a tal ponto? eu disse para mim
mesmo. Este era o homem por cujo ministrio eu tinha entrado com minha
famlia no aprisco do Senhor e que me
confortara nas horas mais difceis de
minha vida at o dia em que algumas
pessoas me alienaram da sua amizade.
Eu o considerava mais do que um irmo, e agora apenas a viso de minha
face iria acrescentar angstia na hora de
sua morte! Clamei, com lgrimas, para
que Deus me perdoasse e to-somente
me permitisse ajoelhar-me diante de
Seu servo moribundo e receber seu perdo. O que importava se algumas de
suas palavras no eram to elegantes
quanto as de outros pastores? Se eu no
pude compreender as razes de algumas de suas decises? Eu queria ter sua
famlia em minha prpria casa como
minha prpria famlia. Mas tal felicidade no estava mais reservada para mim.

Ed

Joel Sarli secretrio associado da Associao


Ministerial da Associao Geral.

Revista Adventista, maro 2002

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