Series em Biotecnologia Vol I Tecnologia de Bioprocessos
Series em Biotecnologia Vol I Tecnologia de Bioprocessos
Series em Biotecnologia Vol I Tecnologia de Bioprocessos
volume 1
TECNOLOGIA DE BIOPROCESSOS
SRIES EM BIOTECNOLOGIA
volume 1
TECNOLOGIA DE BIOPROCESSOS
APRESENTAO
A Biotecnologia Moderna oferece inovadoras possibilidades para a
produo de substncias qumicas e processos mais limpos. Em seu cerne est o
princpio de se trabalhar em harmonia com o mundo natural. A Biotecnologia tem
solues para atender humanidade em suas mais diferentes necessidades
(alimentos, energia, medicamentos), bem como suplantar tecnologias que
poluem a biosfera ou que contribuam para a depleo de fontes finitas. No
entanto, a indstria, a comunidade cientfica e o governo necessitam trabalhar
em conjunto para que o Brasil possa lanar mo plenamente do potencial da
Biotecnologia, a fim de alcanar sua sustentabilidade industrial/econmica/
ambiental e permitir que o pas siga a sua vocao natural para essa rea.
neste contexto, que lanamos a primeira verso das Sries em
Biotecnologia com a inteno de disponibilizar material instrucional a
estudantes que tencionem atuar profissionalmente nesta importante rea.
Esta primeira edio apresenta conceitos e fundamentos necessrios
para uma melhor compreenso das diferentes etapas que compem a
Tecnologia de Bioprocessos, com o objetivo de fornecer aos estudantes uma
viso global e integrada desta temtica, imprescindvel quando se pretende
transformar conhecimento em realidade produtiva. No entanto, de carter
introdutrio e cunho aplicado, no tem a pretenso de ser uma apresentao
exaustiva sobre o assunto. Na realidade, so notas de aulas que temos a
inteno de transformar em sries didticas, de forma a colocar o estudante em
contato com os problemas e desafios da Biotecnologia, quer seja na rea
acadmica ou no setor industrial. Esperamos que o contedo desta edio
proporcione aos leitores uma viso abrangente da rea para conhecimento e
reflexes.
Estamos convictos da importncia da Biotecnologia para o Brasil, pois ela
concilia o desenvolvimento tecnolgico com a preservao ambiental. Somos
conscientes de que o meio ambiente brasileiro representa um ativo de valor
incalculvel e contribui decisivamente para a representatividade brasileira no
cenrio internacional. Para isto registramos nosso firme propsito e compromisso
de contribuir efetivamente na formao de massa crtica capacitada para atuar
nesta importante rea, permitindo a insero desses profissionais em um
mercado cada vez mais competitivo e regulador em termos de produtos e
processos.
Os Autores
5
NDICE
Tpico
1. A Biotecnologia Microbiana: Conceitos e Aplicaes
Pgina
7
Biotecnologia de Bactrias
10
12
14
2. Bioprocessos
18
21
23
Fontes de Energia
23
Fontes de Carbono
23
Fontes de Nitrognio
24
Fontes de Minerais
24
Fatores de crescimento
25
5. Matrias-Primas Glicdicas
25
6. Meio de Cultivo
27
29
31
centesimal de microrganismos
7. Esterilizao de Meios e Equipamentos
33
8. Biorreator
35
41
Quanto conduo
41
45
47
50
50
53
57
58
TECNOLOGIA DE BIOPROCESSOS
Nei Pereira Jr.; Elba Pinto da Silva Bon & Maria Antonieta Ferrara
REFERNCIA
Stenesh (1989)
Glazer & Nikaido (1995)
Marx (1989)
agropecurio
qumico
veterinrio
txtil
BIOTECNOLOGIA
alimentcio
ambiental
energtico
mdico-farmacutico
Biotecnologia de Bactrias
Embora as bactrias sejam mais conhecidas como microrganismos
patognicos, a grande maioria inofensiva e inclusive benfica a outros seres
vivos. Como exemplo, a tarefa fundamental da fixao do nitrognio atmosfrico
molecular levada a efeito por bactrias dos gneros Rhizobium, Bradyrhizobium
e Frankia, que vivem em associaes simbiticas com plantas leguminosas, como
o feijo e a soja. Estas bactrias, que so encontradas no solo, infectam
naturalmente plantas hospedeiras formando ndulos nas razes onde proliferam.
Este mecanismo natural de infeco tem sido utilizado, h quase cem anos, para
aumentar a fertilidade do solo atravs da sua inoculao com bactrias fixadoras
de nitrognio produzidas industrialmente por processos fermentativos (Glazer &
Nikaido, 1995).
So tambm de grande importncia biotecnolgica cepas selvagens ou
modificadas geneticamente de bactrias dos gneros Corynebacterium, Bacillus e
Microbacterium pela capacidade de excretar produtos do seu metabolismo
primrio, como aminocidos. A constatao de que Corynebacterium glutamicum
era capaz de produzir grandes quantidades de cido glutmico, quando crescida
em glicose, reportada em 1957, resultou na seleo e desenvolvimento de
bactrias para a produo de acido L-glutmico, L-arginina, L-isoleucina, Lhistidina, L-leucina, L-lisina, L-ornitina, L-fenilalanina, L-prolina, L-treonina, Ltriptofano e L-tirosina, alm de vitaminas e nucleotdeos. Fermentaes com
concentraes de L-tirosina e L-fenilalanina em torno de 25g/L esto descritas na
literatura (Piepersberg, 1993). A produo anual de aminocidos utilizados na
indstria de alimentos estimada em 530 toneladas (Madigan et al., 2000).
10
Microrganismo
Streptomyces rimosus
Streptomyces griseus
Streptomyces orchidaceus
Streptomyces venezuelae
Streptomyces erithreus
Streptomyces spectabilis
Streptomyces griseus
Streptomyces kanamyceticus
Streptomyces lincolnnensis
Streptomyces fradiae
Streptomyces noursei
Streptomyces ribosidificus
Streptomyces rimosus
13
Antibacteriano
Antifngico
Controlador da sntese de
Colesterol
Antitumoral
PRODUTO
FUNGO
Paxisterol
Crisospermina
Cefalosporina
Penicilina
Sorrentanona
Equinocandina
Penicillium sp.
Apiocrea chrysosperma
Cephalosporium
Penicillium, Aspergillus
Penicillium chrysogenun
Aspergillus nidulans
cido zaragzico
Esqualestatinas
Griseofulvina
Penicillium griseofurvum
Compactina
Penicilium brevicompactum
Mevilonina
Penicillium citrinum
Dihidromevilonina
Aspergillus terreus
Taxol
Pestalotiopsis microspora
Calfostina C
Cladosporium cladosporioides
KS 501, KS 502
Sporothrix sp
Antiviral
Isocromofilonas
Penicillium multicolor
Estimulador da contrao
uterina
Imunomodulador
Alcalides Ergo
Claviceps purprea
FR-901235
Paecilomyces carneus
Imunossupressor
Ciclosporina A
Tratamento de problemas
cardiovasculares
Profiltico em odontologia
Estachibocinas
RES 1214-1/2
Mutastena
Tolypocladium inflatum
Trichoderma polysporum
Stachybotrys sp.
Pestalotiopsis sp.
Aspergillus terreus
Tratamento de diabetes
Salfredinas
Crucibilum sp.
16
Bacillus brevis
Bacillus licheniformis
Bacillus polymyxa
Rhizopus nigricans
Arthrobacter simplex
Escherichia coli recombinante
Saccharomyces cerevisiae
recombinante
penicilinas
cefalosporinas
anfotericina B; kanamicinas; neomicinas,
estreptomicinas,
tetraciclinas;
cido
clavulnico etc.
gramicidina S
bacitracina
polimixina B
transformao de esterides
transformao de esterides
insulina;
hormnios
de
crescimento,
interferons
insulina
17
2. Bioprocessos
Os processos levados a cabo por agentes biolgicos so denominados de
Bioprocessos e definidos como um conjunto de operaes que efetuam o
tratamento da matria-prima/resduo, o preparo dos meios, a esterilizao
(quando o processo demandar) e a transformao do substrato em produto(s)
por rota bioqumica, seguida de processos de separao e purificao de
produto(s).
So consideradas expresses sinonmias: processos fermentativos com
microrganismos naturalmente ocorrentes ou recombinantes,
processos
biotecnolgicos, processos com clulas animais ou vegetais, processos
enzimticos ou os tratamentos biolgicos de resduos e efluentes.
A distino entre Bioprocessos e Processos Qumicos est calcada na natureza
dos catalisadores utilizados em suas reaes. Os Bioprocessos so conduzidos
mediante ao de agentes biolgicos, sendo, portanto, as transformaes
catalisadas enzimaticamente. A Tabela 5 mostra as principais caractersticas de
Bioprocessos e as compara com as dos Processos Qumicos.
Bioprocessos conduzidos por microrganismos, tradicionalmente conhecidos como
processos fermentativos, so importantes fontes de produtos biolgicos usados
nas indstrias farmacutica, qumica e alimentcia. Na ltima dcada observou-se
um aumento expressivo na quantidade de bioprodutos comerciais, especialmente
metablitos secundrios e protenas teraputicas produzidas com tecnologia de
DNA recombinante. Verificaram-se, ainda, significativas mudanas na
configurao de biorreatores, visando melhoria de seu desempenho e assegurar
operaes com maior segurana.
Tabela 5: Bioprocessos versus Processos Qumicos.
Bioprocessos
Processos Qumicos
Catalisadores no especficos
Condies brandas de T, P e pH
Condies drsticas de T, P e pH
Maiores volumes
Menores volumes
No requerem esterilidade
Tratamento da matria-prima
Preparo de meio; Esterilizao
upstream process
BIORREATOR
Meio de cultivo
Fenmenos
fsicos
Fenmenos
qumicos
Agente biolgico:
clulas microbianas,
animais, vegetais ou
enzimas
Fenmenos
biolgicos
Separao de clulas
Separao/purificao de produto
downstream process
Figura 2: Etapas fundamentais de um tpico Bioprocesso.
A Figura 3 apresenta um esquema geral de um Bioprocesso tpico, ressaltando
que a forma de conduo do bioprocesso, a configurao do biorreator, assim
como a definio das etapas de recuperao do produto tambm se constituem
em aspectos importantes para se garantir sucesso na operao destes processos.
Estas etapas sero descritas posteriormente com maiores detalhes.
Atualmente, nfase dada ao desenvolvimento de Bioprocessos que no sejam
apenas cost/effective, mas que tambm atendam s exigncias crescentes de
confiabilidade e reprodutibilidade, o que vem aumentando a necessidade de
melhoria no monitoramento e controle de tais processos.
Algumas transformaes microbianas, analogamente s reaes qumicas,
atingem rendimentos prximos ao mximo estequiomtrico (produtos do
metabolismo primrio), embora apresentando taxas globais de produo baixas.
Outras, como as do metabolismo secundrio, resultam em baixos valores de
rendimento e produtividade, havendo um enorme campo para avanos em ambos
os casos. Os progressos sero alcanados atravs de uma maior compreenso
sobre a fisiologia celular e da interao da clula com o ambiente qumico e fsico
no biorreator. esta combinao, este binmio: clula (ou enzima)/meio
ambiente (ou condies reacionais), que define o xito de um Bioprocesso.
19
TRATAMENTO DA
MATRIA PRIMA
PREPARO DO
MEIO
ESTERILIZAO
EFLUENTE/
RESDUO
BIORREATOR
DE
PRODUO
BIORREATOR
DE
PROPAGAO
INOCULAO
TRATAMENTO/
APROVEITAMENTO
SEPARAO
DE CLULAS
FILTRAO
DO AR
BIOMASSA
BANCO DE
CLULAS
MEIO
ISENTO DE
CLULAS
PURIFICAO
DA
BIOMOLCULA
EXTRACELULAR
AERAO
ROMPIMENTO
CELULAR
BIOMOLCULA
COM ALTO GRAU
DE PUREZA
EFLUENTE/
RESDUO
PURIFICAO DA
BIOMOLCULA
INTRACELULAR
TRATAMENTO /
APROVEITAMENTO
BIOMOLCULA
COM ALTO GRAU
DE PUREZA
EFLUENTE/
RESDUO
1
Biologia Molecular aplicada: Ramo da Biologia que estuda a origem, transformao e interao dos
genes e seus produtos de expresso no indivduo, populao ou espcie, possibilitando o controle a
nvel gentico, a construo de agentes biolgicos timos e combinaes timas clula-biorreator.
2
21
Produtos
Energia
Crescimento
ANABOLISMO
(Biossntese)
CATABOLISMO
(Degradao)
Energia
Movimento,
Transporte,
etc.
Componentes
Celulares
Fonte de
Energia
Figura 4: Esquema simplificado do metabolismo celular.
Muitas clulas vivas necessitam de oxignio para manuteno de seu
metabolismo. Em Bioprocessos conduzidos com microrganismos aerbios, o
oxignio suprido ao biorreator, via de regra, com bolhas de ar, atravs de um
compressor, como ser visto mais adiante. J em Bioprocessos anaerbicos, os
microrganismos obtm o oxignio metablico atravs de substncias que contm
22
5. Matrias-Primas Glicdicas
A viabilidade tcnica, os balanos mssicos e energticos e a
economicidade so aspectos relevantes que devem ser considerados na escolha
da matria-prima. Em geral, esta deve apresentar as seguintes caractersticas:
Uma grande variedade de matrias-primas, geralmente provenientes da agroindstria, utilizada como fonte(s) de substrato/carbono/energia e outros
nutrientes. De uma forma geral, as matrias-primas para Bioprocessos podem
ser agrupadas em funo da estrutura e complexidade molecular dos substratos 3 .
Em algumas, os substratos encontram-se na forma polimrica, e sua hidrlise
prvia ser necessria, caso o agente biolgico no seja capaz de sintetizar
enzimas que catalisam a despolimerizao desses substratos. Assim, estas
matrias-primas podem conter:
polissacardeos insolveis altamente resistentes, que necessitam de prtratamento fsico, seguido de hidrlise qumica ou enzimtica para produzir
25
LACTOSE
SACAROSE
GALACTOSE
FRUTOSE
AMILCEAS
AMIDO
LIGNOCELULSICAS
CELULOSE
HEMICELULOSE
XILOSE
GLICOSE
MANOSE
GALACTOSE
ARABINOSE
6. Meios de Cultivo
Os meios de propagao e produo devem conter os nutrientes (fonte
de carbono/energia/substrato, fonte de nitrognio, co-fatores 4 , precursores 5 e
elementos traos) em concentraes tais que resultem em atividade mxima do
agente biolgico, no sendo as condies timas para o crescimento celular,
necessariamente, as mesmas para o processo produtivo.
A escolha dos nutrientes adequados gerao do produto de interesse est
relacionada atividade metablica desenvolvida pelo agente biolgico. Nesse
ponto destaca-se, ento, a importncia das informaes obtidas sobre as
exigncias nutricionais da populao microbiana envolvida no processo. Buscamse, ento, as fontes adequadas que possuam os componentes necessrios ao
bom desempenho da clula. Assim, h que se fortificar a matria-prima com
componentes que faltam, retirar aqueles que inibem, de modo a permitir uma
rpida e eficiente converso do substrato em produto com o rendimento
desejado.
evidente que quanto maior o atendimento s exigncias nutricionais, mais apta
estar o clula viva a responder aos estmulos externos. Conseqentemente,
mais eficiente ser a converso do produto de interesse e maior a produtividade.
Satisfazer as exigncias nutricionais das clulas ou compor adequadamente o
meio de cultivo em laboratrio, cujas dimenses dos biorreatores so pequenas,
pode ser fcil, empregando-se nutrientes puros e caros. No entanto, para compor
o meio industrial do Bioprocesso, alguns nutrientes devero ser selecionados de
acordo com suas caractersticas no s nutricionais, mas tambm econmicas,
no podendo ser esquecidas as particularidades inerentes ao agente da
transformao, quanto ao que ser aproveitado para suas reaes metablicas ou
a algum efeito de inibio sobre essas reaes ou mesmo sobre a sntese do
produto final.
A escolha da fonte de carbono muito importante devido ao fato de a sntese de
diversas biomolculas estar sujeita represso catablica 6 . A glicose, por
exemplo, apesar de ser, em geral, excelente fonte para o crescimento celular,
tem sido reportada como repressora para a sntese de diversas substncias, em
particular na produo de enzimas e antibiticos (Lambert & Meers, 1983).
4
Cofatores: so componentes essenciais, orgnicos ou inorgnicos, necessrios em pequenas
quantidades para a atividade mxima dos sistemas enzimticos. Ex: metais, vitaminas e substncias
qumicas complexas.
5
Precursor: um reagente especfico, cuja adio ao meio resulta na incorporao de um
determinado grupo estrutural molcula do produto. No obtenvel pela reao de fermentao,
tendo que ser fornecido pr-formado. Ex: cido fenil-actico (produo de penicilina) e on cobalto
na produo de cianocobalamina (vitamina B12).
6
Represso catablica: sistema coordenado que determina preferncia por glicose, inibindo a
expresso de perons que codificam enzimas de rotas metablicas alternativas. A represso
catablica resulta da reduo nos nveis de cAMP na clula pela presena de glicose, ocasionando na
inatividade de CAP (catabolic activator protein).
27
Da mesma forma, a fonte de nitrognio deve ser escolhida com bastante critrio.
conhecido que fontes de nitrognio chamadas de preferenciais, ricas ou de fcil
metabolismo, como o on amnio, a glutamina, a asparagina e a mistura de
aminocidos e peptdeos presentes na peptona e outros concentrados proticos
comerciais, so repressoras da produo de diversas enzimas. Ao contrrio,
prolina e uria, ornitina e alantoina, entre outros, denominadas fontes no
preferenciais, pobres ou de assimilao mais lenta, so fontes de nitrognio no
repressoras e, portanto, o seu uso em geral favorece a produo de biomolculas
sensveis represso por nitrognio (Adrio, 2003; Walker, 1998; Magasanik &
Kaiser, 2002).
Entre as fontes de nitrognio inorgnicas, o sulfato de amnio o sal mais
utilizado devido ao seu baixo custo, sendo tambm empregado o nitrato de sdio.
Adicionalmente, existe uma grande disponibilidade de fontes de nitrognio
orgnico de grande aplicao em Bioprocessos industriais, como a uria. As
principais fontes de nitrognio complexas empregadas so: extrato de levedura
(rico em vitaminas do complexo B e aminocidos); licor da macerao do milho
(subproduto da industrializao do milho, fonte bem balanceada em carbono,
nitrognio, enxofre e sais minerais, contendo ainda vitaminas, como riboflavina,
niacina, cido pantotnico, biotina e piridoxina); farinha de soja (resduo da
indstria de produo de leo de soja, rico em nitrognio, o qual , entretanto,
mais complexo e de mais difcil assimilao do que o nitrognio do licor da
macerao do milho) (European Comission, 2002).
O valor do pH do meio de cultura parmetro de fundamental importncia e
tambm deve ser otimizado, de forma a proporcionar um bom crescimento
celular e elevados rendimentos em produto. H que se ressaltar que quando o
agente biolgico for enzimas, ou mesmo quando estas biomolculas so os
produtos do Bioprocesso, a atividade e a estabilidade enzimticas so fortemente
dependentes da fora inica do meio, temperatura, pH e da relao entre a
concentrao de substrato e de enzima. Estas variveis bsicas influenciam o
desempenho cataltico das enzimas por afetarem suas conformaes, estejam
elas livres ou imobilizadas. Estudos devem ser conduzidos previamente a fim de
se eleger as condies timas para a catlise enzimtica.
Os meios de cultivo podem ser complexos ou quimicamente definidos. Os meios
complexos so formulados com base em subprodutos industriais e extratos
naturais, tais como: melao, milhocina, extrato de levedura e outros. Sua
composio complexa e varivel e contm vrias fontes de cada elemento.
Estes meios podem requerer suplementao com compostos que proporcionem
quantidades adicionais de alguns elementos, tais como: N, Mg e P. Os meios
complexos so extensamente utilizados em Microbiologia bsica (taxionomia,
fiosiologia e gentica), Microbiologia de guas e de alimentos e em Fermentaes
industriais. Exemplos de componentes de meios complexos encontram-se na
Tabela 6.
Os meios quimicamente definidos so formulados com compostos puros, tais
como: glicose, sulfato de amnio, fosfato mono ou di cido de potssio etc. Sua
composio qumica conhecida e reproduzvel, contendo fontes de cada
elemento e dos nutrientes essenciais requeridos. Estes meios so usados
preferencialmente em pesquisa e desenvolvimento de Bioprocessos. Uma classe
especial de meio quimicamente definido o meio mnimo, que se pode definir
como aquele formado por uma fonte nica de cada elemento ou componente.
28
Origem
Indstria aucareira
Subproduto do processamento de milho
Efluente da indstria de polpa e papel
Subproduto do processamento de queijo
Subproduto da produo de etanol
Industrializao da soja e pescado
Indstria de levedura de panificao
Concentrao (g/L)
18,0
3,2
0,39
0,68
0,008
0,002
0,001
0,003
0,028
0,0002
Fator
Temperatura de cultivo
Concentrao de nutriente
Superior
37C
5%
Nvel
Central
35C
3%
Inferior
33C
1%
30
Temperatura de
crescimento
Concentrao de
nutrientes
+1 (37C)
+1 (37C)
+1 (37C)
0 (35C)
0 (35C)
0 (35C)
-1 (33C)
-1 (33C)
-1 (33C)
+1 (5%)
0 (3%)
-1 (1%)
+1 (5%)
0 (3%)
-1 (1%)
+1 (5%)
0 (3%)
-1 (1%)
Observe que nessa matriz um importante fator foi ignorado: o tempo de cultivo
do microrganismo. Caso utilizssemos tambm este fator, teramos uma nova
matriz com 33 experimentos, compreendendo 27 condies experimentais
diferentes.
importante ressaltar que rplicas so muito importantes para o Planejamento
experimental, pois permitem que analisemos o erro intrnseco ao Bioprocesso,
chamado de erro experimental. O tipo de rplica mais importante a do ponto
central de experimentos, marcado com (C) na Tabela 9. Anlises estatsticas
demonstram que a utilizao de um nmero superior a 5 rplicas para o ponto
central dispensa duplicatas dos outros pontos experimentais.
6.2.
CLULA
matria
energia
CLULA
produto
informao
BACTRIA
46-52
8-12
18-24
10-14
0,1-0,5
2,0-3,0
0,1-1,0
0,01-1,0
1,0-4,5
0,02-0,2
<0,01
LEVEDURA
46-52
8-12
18-24
5-9
0,1-0,5
0,8-2,5
0,01-0,25
0,1-0,3
1,0-4,0
0,01-0,5
<0,01
BOLORES
45-55
8-12
18-24
3-7
0,1-0,3
0,4-4,5
0,1-0,5
0,1-1,4
0,2-2,5
0,1-0,2
<0,01
50-60
6-15
5-10
15-25
4-10
35-45
30-45
5-10
5-15
4-10
25-40
40-55
5-10
2-10
4-10
SUBSTRATO
FONTE DE
NITROGNIO
CLULAS
PRODUTO
ou (CHO)
Aquecimento com
vapor direto
Aquecimento
eltrico
Aquecimento com
vapor indireto
Resfriamento
indireto
Ti: temperatura inicial; Tf: temperatura de fermentao; Tm: temperatura mnima letal; Te:
temperatura de esterilizao; : tempo de esterilizao; I: seo de aquecimento; II: seo de
esterilizao propriamente dita; III: seo de resfriamento.
8. Biorreator
A mistura reacional, constituda de meio (de cultivo ou para converso
enzimtica) e agente biolgico, ser ento processada em biorreatores 7 , onde
devero ser mantidas as condies timas para o agente biolgico expressar o
mximo de sua atividade cataltica, seja atravs do metabolismo da clula ou de
simples reao enzimtica. Quando se tratar de um processo puramente
enzimtico, o meio reacional adicionado de unidades de atividade enzimtica e
a catlise realizada tambm em biorreatores para mximo de converso e
produtividade.
No biorreator, vrios fenmenos qumicos, fsicos e, naturalmente, biolgicos
ocorrem. Por essa razo, o desenvolvimento de Bioprocessos constitui-se em
uma das mais complexas e fascinantes reas de atuao da Engenharia
Bioqumica. Por exemplo, no projeto de um biorreator, devem ser levados em
considerao os seguintes aspectos: a cintica do Bioprocesso, o clculo das
tubulaes e equipamentos necessrios para manuteno de esterilidade, as
caractersticas hidrodinmicas do meio reacional, a transferncia de massa de
nutrientes na clula, a transferncia de massa de oxignio da fase gasosa para o
seio do lquido e, posteriormente, para as clulas (em processos aerados), a
transferncia de massa de produtos e subprodutos das vizinhanas das clulas
para o seio do meio de cultivo, a transferncia de calor metablico e o controle
da fisiologia microbiana.
Pode-se encontrar uma grande variedade de configuraes de biorreatores.
Dentre elas, os biorreatores agitados mecanicamente (STB-stirred tank
bioreactor) so, sem dvida, os mais estudados e utilizados industrialmente
(Figura 9). Embora no necessariamente ideais, os tanques agitados apresentam
versatilidade e fornecem bons resultados para uma grande gama de
Bioprocessos. Isto particularmente importante para as companhias
farmacuticas, pois diferentes substncias podem ser produzidas no mesmo
biorreator durante o seu tempo de vida. Adicionalmente, os investimentos em
capital para a construo destes equipamentos so normalmente recuperados na
comercializao do primeiro produto.
Apesar de sua flexibilidade, pois podem ser empregados para uma grande gama
de bioconverses, os biorreatores do tipo STB apresentam certas desvantagens,
como por exemplo: demandam grande aporte de energia para a agitao
mecnica, tendem a afetar a morfologia celular, so de difcil escalonamento e
tm de ser cuidadosamente projetados para produzir adequada mistura e
aerao.
Nos biorreatores agitados pneumaticamente (Figura 10), a potncia
necessria para se atingir o grau de mistura desejvel no sistema reacional, a fim
de se produzirem altas taxas de transferncia de massa e calor, suprida pela
energia cintica do lquido, atravs de sua circulao pelo movimento das bolhas
gasosas, isto , pneumaticamente. Este tipo de biorreator, conhecido na
literatura inglesa como airlifit (com circulao interna ou externa) ou coluna de
bolhas (bubble column), aplicado a sistemas biolgicos suscetveis s foras
cisalhantes, to intensas em biorreatores agitados mecanicamente. Alm da sua
elevada relao altura:dimetro (6:1 H/DT 20:1), quando comparado com os
7
35
Mtodos de Imobilizao
Imobilizao ativa
Ligao cruzada
Ligao covalente
Envolvimento
Imobilizao passiva
Adsoro
Colonizao
Floculao
Os
de
biorreatores
para
clulas/enzimas
imobilizadas
mais
38
comumente utilizados em so: CSTB, leito fixo e leito fluidizado, sendo os dois
ltimos mais indicados por minimizarem a exposio da biopartcula (agente
biolgico imobilizado) a elevados graus de cisalhamento e colises (Figura 12).
Para se aplicar esta tcnica em processos industriais, estudos devem ser
realizados para elucidar algumas caractersticas dos sistemas imobilizados,
principalmente no tocante fisiologia celular ou conformao da enzima
imobilizada e aos problemas de transferncia de massa intra-particular e no
prprio biorreator. No entanto, esses sistemas vm sendo utilizados
industrialmente, em pases avanados, com sucesso na produo de etanol
(combustvel e champanhe), acrilamida, alanina e dos cidos orgnicos:
asprtico, mlico e fumrico.
(A)
(B)
B1
Inculo
recentemente
preparado
B2
Inculo
recentemente
preparado
......
B1
Seo de
recuperao
de produto
Meio fermentado
sem clulas
Inculo
recentemente
preparado
Separao
de clulas
Tratamento
das clulas
seguido de
inoculao
B2
Suspenso concentrada
de clulas
Seo de
recuperao
de produto
Meio fermentado
sem clulas
Separao
de clulas
Suspenso concentrada
de clulas
......
Inculo recentemente
preparado
B1i
MN
B1f
B2i
B2f
B3i
B3f
MT
Com alimentao
intermintente
Estendida
F=cte
F=F(f linear)
F=F(f exponencial)
Vf
Vi
Figura 16: Batelada alimentada com diferentes formas de alimentao.
Vi: volume inicial; Vf: volume final.
F (L/h)
S1
X1
P1
F (L/h)
So
Xo=0
Po=0
F (L/h)
So
Xo=0
Po=0
F+F (L/h)
S1; X1; P1
F (L/h)
S1
X2
P1
F
CfX1
Figura 18: Processo Contnuo com um nico biorreator e com reciclo de clulas.
44
F0 (L/h)
S0
X0=0
P0=0
Fn=F0
S1
X1
P1
S2
X2
P2
S3
X3
P3
......
Sn
Xn
Pn
F01 (L/h)
S01
X0=0
P0=0
F01+ F02
S1
X1
P1
F0n
S0n
F03
S03
F02
S02
S2
X2
P2
Fn
F01+F02+...+ F0n-2+F0n-1
S3
X3
P3
......
Sn
Xn
Pn
Porm, existem alguns fatores limitantes nas fermentaes no estado slido, tais
como: menor disponibilidade e acessibilidade ao(s) substrato(s); s podem ser
operadas em batelada; problemas de transferncia de massa (oxignio e
nutrientes), calor e momento; dificuldades no aumento de escala e,
principalmente, no monitoramento e no controle das variveis fsico-qumicas,
tais como: pH, temperatura, oxignio e grau de mistura.
dCL
= K L a (CS CL ) qO2 X
dt
48
onde:
dCL/dt:
KL:
a:
CS:
CL:
qO2:
X:
3.
4.
Scale up
ESCALA
LABORATORIAL
ESCALA
PILOTO
ESCALA
INDUSTRIAL
Scale down
Figura 22: Ampliao e reduo de escala em Bioprocessos.
A extrapolao de escala se constituiu em um dos grandes desafios da
Engenharia Bioqumica. Muitas vezes ao se ampliar a escala de produo, obtmse resultados diferentes e insatisfatrios queles obtidos em escalas reduzidas
(laboratorial e piloto). Isto se deve seguramente ao fato das condies
ambientais no terem sido mantidas constantes, afetando, consequentemente, o
comportamento das clulas do agente biolgico em questo.
A escala industrial depende do tipo de substncia que se esteja produzindo.
Obviamente que o tamanho da escala ser uma funo de fatores econmicos
ligados, principalmente, demanda do produto pelo mercado consumidor, bem
como o seu valor agregado. Via de regra, quanto menor o valor agregado do
produto, maior a escala de produo, a fim de se garantir o xito econmico
(rentabilidade) da empresa em relao ao capital nela investido. Em escala de
produo industrial, podemos encontrar biorreatores de algumas centenas at
alguns milhes de litros (Tabela 9). No entanto, em todos os casos, os
Bioprocessos desenvolvidos em escala laboratorial ou de bancada, requerero,
em maior ou menor grau, uma etapa de escalonamento.
Na ampliao de escala, utiliza-se dados obtidos na otimizao do processo em
escala piloto, ou de laboratrio, para estabelecimento das variveis de operao
na escala industrial. A regra bsica na ampliao de escala em Bioprocessos
procurar manter, nas diferentes escalas, as condies ambientais timas.
Estaremos, assim, fornecendo as condies necessrias para se ter a
reprodutibilidade da atividade fisiolgica do microrganismo (o agente da
transformao qumica do substrato em produto).
51
Tamanho do Biorreator
(m3)
50 a 500
2.000
20.000
algumas centenas de litros
(mx)
Qualquer que seja a soluo adotada para o lanamento dos efluentes oriundos
do processo produtivo ou na limpeza das instalaes, fundamental que a
indstria disponha de sistema para o tratamento ou o condicionamento desses
materiais residuais.
60
LINHAS DE PESQUISA
Biotecnologia de Materiais
Lignocelulsicos
Processos com
Microrganismos
Recombinantes
Gesto
Biotecnolgica
Tecnologia da
Produo de
Antibiticos
Biotecnologia
Ambiental
Desenvolvimento
de Bioprocessos
Biotransformao
Agregao de Clulas:
Fenomenologia e
Aplicao
Novas Bebidas
Fermentadas e Alimentos
Funcionais de Frutos da
Biodiversidade Amaznica
INFRA-ESTRUTURA LABORATORIAL
LADEBIO
Laboratrios de Desenvolvimento de Bioprocessos
Central
Analtica
SINFOBIO
Sistema de Informao
de Biomassas
LABENGBIO
Laboratrio de Engenharia
Bioqumica
LAPROENZ
Laboratrio de Produo
Enzimtica
LABSBIM
Laboratrio de Sistemas
Biolgicos Imobilizados
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