Exegese 1 - Mateus 5.8
Exegese 1 - Mateus 5.8
Exegese 1 - Mateus 5.8
JEFFERSON ANDRADE
Recife
2016
Sumrio
Contexto Histrico ................................................................................................................... 3
Esboo Geral do Evangelho .................................................................................................. 5
Delimitao de Percope......................................................................................................... 7
Traduo Literal ........................................................................................................................ 8
Anlise Gramatical ................................................................................................................... 8
Anlise Lxica ........................................................................................................................... 9
Anlise Sintica ...................................................................................................................... 21
Contexto Teolgico ............................................................................................................... 21
Comparao de Verses ...................................................................................................... 24
Parfrase................................................................................................................................... 25
Esboo Homiltico ................................................................................................................. 25
Traduo Final ........................................................................................................................ 26
Contexto Histrico
Pano de Fundo Histrico
Quando Jesus nasceu, Herodes o Grande era o monarca da Judia e
Samaria. Herodes morreu no ano 4 d.C., e seu reino passou para o seu filho
Arquelau (Mt 2.19-22). Arquelau foi acusado de mau governo e por isso foi
banido no ano 6 d.C. Como resultado, Judia e Samaria ficam diretamente sob
a administrao romana atravs de uma srie de governadores e prefeitos, que
mais tarde foram conhecidos como procuradores. Pncio Pilatos foi o procurador
da Judia durante o ministrio de Jesus.
A provncia da Galilia, onde Jesus vivia, havia sido dada por Herodes o
Grande para um outro de seus filhos, Herodes Antipas (Mt 14.1-12; Lc 23.6-15).
No ano 39 d.C., a Galilia passou para as mos de Herodes Agripa, um neto de
Herodes o Grande. Um amigo de infncia de Agripa era agora o imperador
romano Cludio. Este declarou Agripa como rei da Judia e de Samaria tambm.
A popularidade de Agripa era grande entre os judeus; mas o seu reinado foi
curto. Ele perseguiu os apstolos e, quando no recusou ser adorado como se
fosse um deus, foi castigado com uma doena e morreu (44 d.C.; At 12.1-4, 1923).
O territrio de Agripa voltou a ser dos governantes romanos, embora uma
pequena poro de terra tenha sido dada a Agripa II (At 25.13-26.32). A tenso
entre judeus e romanos aumentou durante este perodo que levou a uma revolta
no ano 66 d.C. O resultado da guerra foi desastroso para a nao judaica. No
ano 70 d.C. Jerusalm foi destruda depois de terrvel sofrimento.
Autoria
Apesar deste Evangelho no indicar o seu autor, alguns manuscritos
primitivos incluem a inscrio: Segundo Mateus. Eusbio (c. 260-340 d.C.) nos
conta que Papias (c. 60-130 d.C.), um dos Pais da Igreja primitiva, falava de
Mateus como tendo disposto os orculos acerca de Jesus. A tradio posterior
unnime em que o discpulo Mateus, tambm chamado Levi (9.9-13; Mc 2.1317), foi o autor deste Evangelho, e at o sculo XVIII no havia dvidas acerca
dessa tradio.
Data e Ocasio
A referncia mais antiga ao Evangelho de Mateus provavelmente
encontrada na Epstola aos Esmirnneanos, de Incio de Antioquia (c. 110 d.C.).
Dificilmente se poderia datar esse livro como sendo posterior a 100 d.C. Alguns
estudiosos o tm datado at 50 d.C. Mas muitos crticos o datam depois da
destruio de Jerusalm, geralmente entre os anos 80 e 100.
O escritor deste Evangelho provavelmente utilizou o Evangelho de
Marcos. Supondo-se que Marcos tenha sido escrito com a ajuda do apstolo
Pedro em Roma, uma data apropriada para Mateus seria entre 64 e 70 d.C.
O local mais provvel para escrita do Evangelho a Antioquia na Sria,
que tambm o provvel destinatrio dela. Incio, o mais antigo escritor a citar
Mateus, era bispo de Antioquia. A congregao em Antioquia era de origem
mista judaica e gentia (At 15), e isto explicaria os problemas de legalismo e
antinomismo dos quais Mateus trata de maneira especial.
Mensagem
O propsito de Mateus o de transmitir os ensinos autoritativos de Jesus
e de sua pessoa, cuja vinda marca o cumprimento das promessas de Deus e a
presena do reino de Deus.
Mateus faz uso intenso das referncias de cumprimento do Antigo
Testamento.
Delimitao de Percope
Como sabemos que uma percope uma sentena de sentido completo
que, independente do contexto anterior ou posterior tem um sentido em si
mesma, quando olhamos o discurso de Jesus das Bem-Aventuranas ou Os
Ditos de Jesus, percebemos que cada uma delas tem sentido em si mesma,
sem depender das outras.
O versculo 8 maka,rioi oi` kaqaroi. th/| kardi,a|( o[ti auvtoi. to.n qeo.n
o;yontai, portanto, tem sentido completo pois aborda um assunto prprio, sendo
diferenciado do versculo, tanto anterior, quanto posterior.
Nesta percope, o autor trata de uma caracterstica do verdadeiro
discpulo de Jesus, daquele que, de fato, pertence ao Reino de Deus.
Ela est inserida na estrutura de narrativa de Mateus, mas na linguagem
discursiva, j que feita durante o discurso de Jesus.
Traduo Literal
Mateus 5:8
Benditos
Abenoados
Bem-
os
puros
limpos
no
corao
aventurados
Parabns a
porque
eles
Deus
vero
contemplaro
Anlise Gramatical
Morfologia
maka,rioi oi` kaqaroi. th/| kardi,a|( o[ti auvtoi. to.n qeo.n o;yontai
maka,rioi
Adjetivo Nominativo masculino plural sem grau (Felizes; Abenoados; BemAventurados)
oi`
Artigo definido nominativo masculino plural (Os)
kaqaroi
Adjetivo Nominativo masculino plural sem grau (Puros)
th/|
kardi,a
Substantivo Dativo feminino singular comum (Corao)
o[ti
Conjuno subordinada (Pois)
auvtoi.
Pronome pessoal nominativo masculino plural (eles)
to.n
Artigo Definido Acusativo Masculino Singular (o)
qeo.n
Substantivo Acusativo masculino singular comum (Deus)
o;yontai
Verbo no futuro mdio do indicativo 3 Pessoa plural (Vero)
Sintaxe
maka,rioi
Predicativo do Sujeito
Anlise Lxica
Em nossa pesquisa, tencionamos abordar na anlise lxica trs palavras
encontradas no texto de Mt 5:8, a saber: os, e . Essas
palavras por possuir uma riqueza de sentidos, podem nos ajudar a entender
melhor o texto em apreo. Para tanto, veremos seu uso (quando possvel) no
grego clssico, na LXX (Septuaginta) e no NT.
Iniciemos pela palavra os. A princpio, verificamos que a palavra
grega os a traduo da palavra hebraica encontrada no incio do
de quem devem receber o seu galardo ao serem glorificados). Jesus sentavaSe mesa com publicanos e pecadores (Mc 2:13-17). No repelia os leprosos;
pelo contrrio, curava-os (Lc 17:1149). Falava com samaritanos (Lc 17:19c) e
at mesmo com gentios (Mt 8:5-13; 15:21-28; Grego= ).
No se quer dizer com isto que Jesus anulou os regulamentos da Tor a
respeito da pureza (cf. e.g. Lc 17:14-17). Mesmo assim, ao remover as barreiras
divisrias da lei cerimonial, e ao fazer uma reviravolta no conceito farisaico da
pureza, ao exigir a pureza do corao e do carter, irrompeu pela essncia ntima
do judasmo, deixando-a para trs dele.
Nos escritos apostlicos podemos perceber que apstolo Paulo foi o
primeiro a reconhecer claramente que Cristo levou a efeito o fim da Lei, e, que
em decorrncia disto, tornaram-se obsoletas todas as distines rituais e
cerimoniais.na ocasio da controvrsia entre os irmos fortes e fracos que
eram distinguidos pela atitude para o comer de carne que haveria sido usada em
ocasies de sacrifcios pagos, Paulo fica de modo resoluto do lado dos fortes:
Todas as coisas so limpas (Rm 4l: 20. Tambm Tt 1:15 se pode ler: Todas
as coisas so puras para os puros (mediante a f). Para o apstolo Paulo, a
nica razo para observar qualquer tipo de regra legalstica a considerao
pelo irmo mais fraco. J no h questo de elas terem validez absoluta.
Nos escritos joaninos, a pureza se coloca em relacionamento estreitocom
a morte salvfica de Jesus. Em outras palavras, tal enfoque recebe um
fundamento cristolgico explcito: O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de
todo o pecado (1 Jo 1:7; 1:9). A narrativa da lavagem dos ps dos discpulos
demonstra que aqueles que permitem que sejam servidos por Jesus (como no
batismo) so limpos (Jo 13:10; Ef 5:26). A pureza intermediada pela palavra
de Jesus (Jo 15:3) no pensamento de Joo. Portanto, a pureza no uma
qualidade tica em prol da qual o homem deve labutar, mas sim, a operao e
concretizao do fato de a igreja pertencer a Cristo
A Epstola aos Hebreus interpreta a morte de Jesus com a ajuda de
conceitos rituais do AT, a fim de demonstrar a qualidade superior da nova aliana
sobre a antiga (Hb 9:13-14). Em contraste com a purificao do templo vterotestamentrio mediante o sacrifcio, repetido ano aps ano, que o escritor
interpreta como lembrana anual do pecado (10:1-4), a purificao feita pelo
sangue de Cristo vlida de uma vez por todas. Alm disto, serve no somente
vida espiritual, mago da madeira, semente das plantas. Num sentido mais geral
falava: do centro (a parte interior do homem).
Em Homero, o termo tambm recebeu alguns sentidos: sede das
emoes, centro intelectual, sede dos instintos/paixes, centro da vontade. Ou
seja, ao todo, Homero atribuiu pelo menos 4 sentidos ao termo .
na LXX/Antigo Testamento Massortico
Da
expresso aquilo que tambm e o ponto de vista do NT. Ningum pode entender
seu prprio corao, muito menos muda-lo. homem sem Deus vive sob o poder
do pecado, que fez sua habitao no seu corao, posio favorvel, escraviza
o homem inteiro.
Somente Deus pode revelar as coisas escondidas no coracao do homem
(1 Co 4:5), examina-las (Rm 8:27) e testa-las (1 Ts 2:4). E porque a corrupo
brota do corao que comea ali Sua obra de renovao, kardia e o lugar onde
Deus trata com o homem ... parte do homem ... onde, em primeira instancia, se
decide a questo pro ou contra Deus". Assim como o corao e a sede da
fidelidade, tambm e a sede da f 10:6-10). A converso ocorre no coraoe ,
portanto, questo do homem inteiro. A palavra de Deus no prende
simplesmente o entendimento ou as emoes, como tambm penetra no
corao (At 2:37; 5:33; 7:54).
Diante dessas observaes, podemos ponderar que o corao do homem,
no entanto, no somente e o lugar onde Deus desperta e cria a f. Aqui, a f
comprova a sua realidade mediante a obedincia e a pacincia (Rm 6:17;2 Ts
3:5). Aqui, guarda-se a palavra de Deus (Lc 8:15). aqui que a paz de Cristo
comea seu imprio (Cl 3:15). A graa de Deus fortalece e estabelece o corao
(Hb 13:9). 0 NT descreve um corao que se dirige sem reservas a Deus como
corao puro (Mt 5:8;1 Tm 1:5). Esta pureza de corao se baseia
exclusivamente no fato de que o sangue de o purifica (Hb 10:22; cf. 1 Jo 1:7), e
Cristo nele habita mediante a f (Ef 3:17).
Devem-se mencionar aqui duas palavras correlatas que ocorrem no Novo
Testamento. Podemos observar kardiognostes e desconhecido no Gr. secular e
na LXX, e ocorre no Novo Testamento somente At 1:24 e 15:8, e, mais tarde,
nos escritos patrsticos. Descreve Deus como Conhecedor coraes. O fato de
que Deus testa e sonda as profundidades escondidas do corao humano se
declara comumente tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento
(1Sm 16:7; Jr 11:20; 17:9-10; 16:15; Rm 8:27; 1 Ts 2:4; Ap 2:23).
Anlise Sintica
Os estudiosos do Novo Testamento tm sugerido que toda leitura dos
evangelhos seja feita de forma horizontal para fins de maiores esclarecimentos
no que diz respeito a nuances do texto bblico. Em se tratando das bemaventuranas, o leitor deve observar que conquanto dois dos evangelhos
sinticos (Mateus 5:3-11 e Lucas6:20-23) as incluam em suas narrativas, apenas
Mateus registra a bem-aventurana referente aos puros de corao.
Alm do mais, a narrativa de Mateus inclui 9 bem-aventuranas, enquanto
que Lucas registra apenas 4. Isso demonstra que em termos quantitativos, a
narrativa de Mateus mais abrangente em contedo. No evangelho de Mateus,
a bem-aventurana dos puros de corao a 6 bem-aventurana. Ela vem logo
aps a bem-aventurana dos misericordiosos, e antes da bem-aventurana dos
pacificadores.
Contexto Teolgico
Do ponto de vista teolgico estamos em pleno acordo com a conhecida
afirmao de Rudolf Bultmnan: No possvel uma exegese destituda de
premissas. Com isso queremos expressar nossa anuncia com os pressupostos
(Mtodo Histrico/Gramatical) da tradio reformada, e a luz deles iremos buscar
o sentido teolgico do texto em apreo (Mt 5:8).
A fim de empreender tal tarefa, teremos que situar a percope em apreo
(Mt 5:8) no seu contexto maior. Uma rpida olhada nos 7 primeiros captulo de
Mateus nos do o seguinte vislumbre:
Cap.1: A genealogia e o nascimento de Jesus.
Cap.2: Temos a visita dos magos, a fuga para o Egito, e o retorno para Nazar.
Cap.3: A pregao de Joo Batista, seu testemunho acerca de Jesus, e o
batismo de Jesus.
Cap.4: A tentao no deserto, a ida a Galilia, e a vocao dos discpulos.
Cap.5-7: Sermo da Montanha.
Feito isso, podemos prosseguir na nossa tarefa. Em Mt 4:22 lemos que
aps Jesus vocacionar alguns discpulos, estes o seguiram. O versculo 23 diz
que Jesus percorria a regio da Galilia. No versculo 25 fica claro que, a partir
Salmo 15:1-2
Salmo 24:3-4
Mateus 5:8
teu
no
de
os
corao,
que
no
nem
jura
dolosamente.
Como se depreende do quadro, as expresses: habitar, morar, subir
e permanecer, todas so sinnimos de ver ou contemplar a Deus
emanava deles, mas do prprio Cristo. Isso nos induz a responder a pergunta
anteriormente levantada: quem so os limpos de corao? Os regenerados.
Aqui cabe levantar a seguinte observao: o sentido primordial de tal
pureza de corao consiste em ela ser de natureza interior. No se requer mais
apenas a pureza ritualstica. Agora, a pureza deve emanar do centro do ser, do
mais ntimo do homem. Entretanto, isso no invalida a necessidade da
santificao. Is 59:2 diz que o pecado separa Deus do homem. E tal separao
s pode ser rompida pela remoo do pecado na vida do homem. A luz da
teologia reformada entendemos que isso s pode ser desfrutado por aqueles que
foram regenerados, passaram pelo chamado eficaz, foram justificados,
redimidos e por fim adotados como filhos de Deus.
Embora essa temtica tenha recebido pouqussima ateno, bem
verdade que as Escrituras a salientem com grande nfase. O Sl 73:1 exalta a
pureza de corao e diz que Deus trata com fidelidade os que assim procedem.
Em 1Tm 1:5 Paulo diz que o amor (o supremo dom) procede de um corao
puro. Em 2Tm 2:22 Paulo diz que aqueles que seguem o Senhor possuem um
corao puro. E por fim, em 1Pd 1:22 Pedro fala que a pureza da alma (cognato
Comparao de Verses
Comentrio da Comparao
No h nenhuma diferena significativa entre nenhuma das verses,
tanto as em portugus, quanto as em ingls, concordam com a traduo de
todos os termos da percope.
Parfrase
Adotamos como parfrase a traduo suferida por William Barclay em seu
comentrio ao evangelho de Mateus. O texto de Mt 5:8 assim parafraseado no
referido comentrio:
Mt 5:8
integras e sem mescla de mal algum, porque este o homem que ver a
Deus..
Esboo Homiltico
Traduo Final
Sugerimos a seguinte traduo como traduo final para o texto de Mt 5:8:
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