ABRASCO - Dossiê - Agrotóxicos
ABRASCO - Dossiê - Agrotóxicos
ABRASCO - Dossiê - Agrotóxicos
Um alerta
sobre os impactos
dos agrotxicos
na Sade
| parte 2
agrotxicos, sade,
ambiente e sustentabilidade
ABRASCO, 2012
Grupo Inter Gts de Dilogos e Convergncias
Dossi ABRASCO - Um alerta sobre os impactos dos agrotxicos na sade
Parte 2 - Agrotxicos, sade, ambiente e sustentabilidade
Produo editorial:
Aic Culturas: www.aicoculturas.com
Coordenao: Bernardo Vaz
Reviso de texto: Joana Tavares
Projeto grfico e editorao: Bernardo Vaz
Programao do menu do CD: Rodrigo Simes
Estagiria: Brbara Santos
Apresentao
Luiz Augusto Facchini
O processo de construo
Presidente da ABRASCO
A direo da Abrasco aprovou a composio de um grupo executivo composto por membros de GTs e
associados que manifestaram interesse em contribuir com a elaborao do dossi, aps ampla convocatria da entidade. Indicaes de associados da Abrasco para compor o grupo executivo:
GTs e Comisses
Nomes
Instituies
Sade e Ambiente
Fernando Carneiro
Raquel Rigotto
Lia Giraldo
UnB
UFC
UEP e CPqAM/ FIOCRUZ
Sade do Trabalhador
Wanderlei Pignati
UFMT
Promoo da Sade
UFG
SMS-BG/UFPEL
Karen Friedrich
INCQS/FIOCRUZ
INCA / UNIRIO
Aps a constituio do grupo e dos debates iniciais, decidiu-se pela organizao do dossi em trs partes com focos distintos, de forma a possibilitar uma melhor apreciao de cada um, ao passo que amplia
a divulgao no meio cientfico e para a sociedade:
Parte 1 | Agrotxicos, Segurana Alimentar e Nutricional e Sade
Lanado no World Nutrition, em abril de 2012.
Parte 2 | Agrotxicos, Sade e Sustentabilidade
Lanado na Cpula dos Povos por Justia Social e Ambiental, junho 2012.
Parte 3 | Agrotxicos, Conhecimento e Cidadania
Lnado no X Congresso Brasileiro de Sade Coletiva, novembro de 2012
| parte 2
Este dossi um alerta da Associao Brasileira de Sade Coletiva (Abrascp) sociedade e ao Estado brasileiro. Registra e difunde a preocupao de pesquisadores, professores e
profissionais com a escalada ascendente de uso de agrotxicos no pas e a contaminao do
ambiente e das pessoas dela resultante, com severos impactos sobre a sade pblica e a segurana alimentar e nutricional da populao.
Expressa, assim, o compromisso da Abrasco com a sade da populao e o enfrentamento
da insegurana alimentar e nutricional, no contexto de reprimarizao da economia, da expanso das fronteiras agrcolas para a exportao de commodities, da afirmao do modelo
da modernizao agrcola conservadora e da monocultura qumico-dependente. Soja, canade-acar, algodo, tabaco e eucalipto so exemplos de cultivos que vm ocupando cada vez
mais terras agricultveis, com o objetivo de alimentar o ciclo dos agrocombustveis, da celulose ou do ferro-ao, e no as pessoas. Esses cultivos avanam sobre biomas como o cerrado
e Amaznia, impondo limites ao modo de vida e produo camponesa de alimentos. Eles
consumem cerca de metade dos mais de um bilho de litros de agrotxicos anualmente despejados em nossa Terra.
A identificao de numerosos estudos que comprovam os graves e diversificados danos
sade provocados por estes biocidas impulsiona o lanamento deste dossi. A amplitude da
populao qual o risco imposto, dado j muito evidenciado em dados oficiais, refora a relevncia deste documento: so trabalhadores das fbricas de agrotxicos, da agricultura, da sade
pblica e outros setores; populao do entorno das fbricas e das reas agrcolas; alm dos
consumidores de alimentos contaminados o que representa praticamente toda a sociedade,
que tem seu direito humano alimentao saudvel e adequada violado.
A iniciativa do dossi nasce dos dilogos da Abrasco com os desafios contemporneos,
amadurecido em pesquisas, Congressos, Seminrios e nos Grupos de Trabalho, especialmente
de Sade e Ambiente, Nutrio, Sade do Trabalhador e Promoo da Sade. Alimenta-se no
intuito de contribuir para o efetivo exerccio do direito sade e para a consolidao de polticas pblicas responsveis por esta garantia.
Ao mesmo tempo em que nos instigou a um inovador trabalho interdisciplinar em busca
de compreender as diversas e complexas facetas da questo dos agrotxicos, a elaborao do
dossi nos colocou diante da enormidade do problema e da tarefa de abord-lo adequadamente. Reconhecendo nossos limites, assumimos abrir mo de preparar um documento exaustivo e
completo, para no postergar a urgente tarefa de trazer a pblico o problema.
A expectativa mobilizar positivamente os diferentes atores sociais para a questo, prosseguindo na tarefa de descrev-la de forma cada vez mais completa, caracterizar sua determinao estrutural, identificar as lacunas de conhecimento e, muito especialmente, as lacunas de
ao voltada para a promoo e a proteo da sade da populao e do planeta.
Alerta!
apresentao | V
ix
Insustentabilidade socioambiental
do modelo do agronegcio brasileiro | 15
O dossi no contexto da Rio+20 | 15
As implicaes socioambientais e
econmicas do desenvolvimento agrrio brasileiro | 19
O consumo de agrotxicos no Brasil | 32
A agricultura transgnica requer agrotxico
e produz outros impactos socioambientais | 36
preciso desconstruir os mitos do agronegcio | 38
| parte 2
| 40
| 48
Introduo | 48
O caso dos organofosforados | 55
O caso dos organoclorados | 66
A questo das embalagens dos agrotxicos | 75
Estudos envolvendo a contaminao de mananciais | 78
sumrio | VII
| parte 2
sumrio | IX
Lista de
abreviaturas
e siglas
| parte 2
MS Ministrio da Sade
MT Mato Grosso
DDT - Diclorodifeniltricloroetano
PRL - Prolactina
GH - Hormnio do Crescimento
IA Ingrediente Ativo
T3 - Triiodotironina
T4 - Tiroxina
IgG Imunoglobulina G
HCH - Hexaclorociclohexano
LH Hormnio Luteinizante
listas | XI
| parte 2
agrotxicos, sade,
ambiente e sustentabilidade
Lutas, resistncias,
(re)construo dos
territrios e sutentabilidade / pg. 98
| parte 2
Insustentabilidade socioambiental do
modelo do
agronegcio
brasileiro
No incio da dcada de 1950, apesar de tragdias humanas e ambientais, como a morte de pescadores e moradores contaminados por efluentes
lquidos industriais contendo mercrio, na Baa
de Minamata/Japo, a proteo contra os impactos
qumicos do crescimento industrial desenfreado
no estava includa entre as prioridades internacionais.
No incio da dcada de 1960, quando a questo
ambiental ainda no estava reconhecida e nomeada como problema na agenda poltica internacional, Rachel Carson lanou o livro Primavera Silenciosa, um alerta agudo e profundo ao mostrar
a complexidade e a delicadeza das inter-relaes
ecolgicas feridas pelos agrotxicos, levantando
fortes indagaes sobre os impactos da acelerada
expanso dos sistemas scio-tcnicos do desenvolvimento capitalista sobre a vida (CARSON,
2010).
Dez anos depois, sob o eco do relatrio Limites do Crescimento, realiza-se em Estocolmo a I
Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. A formulao da noo de desenvolvimento sustentvel ocorreu em
resposta necessidade de acomodar problemas
sociais e ambientais e os conflitos com os interesses econmicos hegemnicos. Isso resultou numa
retrica que supe esquecer que a civilizao do
capital estruturalmente avessa a limites sua
permanente expanso e historicamente produtora
de desigualdades.
16
Este parece ser um forte indicativo das diretivas que esto sendo formuladas pelos
representantes mundiais para o futuro do planeta Terra, explicitando a contradio em
processo do modelo capitalista que transforma a crise civilizacional em nicho de mercado global, como nos alerta Leroy (2012).
Em contrapartida, movimentos sociais, organizaes no governamentais e demais
segmentos da sociedade civil se renem em evento paralelo denominado Cpula dos
Povos na Rio+20 por Justia Social e Ambiental. O ttulo explicita a centralidade que a
luta por justia socioambiental ocupa nas agendas polticas de grande parcela dos povos
que se coloca diametralmente oposta ao atual modelo de produo e consumo capitalistas. Nesse sentido, a Cpula dos Povos no pretende ser apenas mais um evento em
grande escala, mas, sim, a materializao de um constructo scio-histrico que rene
nas convergncias das resistncias locais, regionais e globais, a fora para engendrar a
luta anticapitalista, classista, antirracista, antipatriarcal e anti-homofbica.
O debate da construo da Cpula dos Povos parte de uma avaliao de que na Rio+20
no seria realizado um balano profundo do que aconteceu nos ltimos 20 anos (desde
a Eco 92), procurando avaliar os impactos do desenvolvimento nesse perodo, e, a partir
da, de forma democrtica, traar as estratgias de futuro para a humanidade. Diante desta avaliao, a Cpula dos Povos se organiza sob trs eixos: avaliar as causas estruturais da
crise civilizatria, denunciar as falsas solues apresentadas pelo capital e apresentar as
solues construdas pelos povos dos diferentes territrios do planeta.
No contexto desse Dossi fundamental ressaltar que a Rio+20 acontece justamente 50 anos aps o lanamento do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson. Para
denunciar a poluio ambiental provocada pelo uso indiscriminado de pesticidas nos
campos americanos, Carson realizou extensa pesquisa cientfica. Em seu trabalho, soube mostrar ao pblico que no estava acostumado aos termos tcnicos a relao de
causa e efeito entre o uso indiscriminado de pesticidas, em especial o DDT, e o impacto
nas plantas, guas, animais e homens.
Atravs de um debate a partir dos princpios ecolgicos, explorando de que forma
a vida na Terra est conectada a cada elemento, a autora defendeu que a definio mais
apropriada para os pesticidas biocidas.
H muitas [substncias qumicas] que so usadas na guerra da humanidade contra
a natureza. Desde meados da dcada de 1940 mais de duzentos produtos qumicos
bsicos foram criados para serem usados na matana de insetos, ervas daninhas,
roedores e outros organismos descritos no linguajar moderno como pestes, e
17
18
Para mais informaes, consultar Primeira Parte do Dossi sobre os Impactos dos Agrotxicos na Sade
dos Brasileiros www.abrasco.org.br.
b As implicaes socioambientais
19
20
Nos dias 04 e 05 de junho de 2012, realizou-se, na Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) - Rio de Janeiro, o Seminrio de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotxicos na Sade Humana e no Ambiente. O rico debate
nda primeira mesa deste seminrio levou a equipe de formulao deste dossi a transcrever as falas dos
professores-pesquisadores Guilherme Delgado e Horcio Martins, submetendo o texto aos autores para
validao e complementos, e, com suas autorizaes, destacamos os principais aspectos debatidos nesse
primeiro tpico no Dossi 2.
tornou muito mais complicada aps a crise cambial de 1999. A sada dessa crise articulada pelo Brasil como nova forma de insero na diviso internacional do trabalho
(DELGADO, 2012).
Assim ingressamos como provedores de bens primrios no comrcio mundial. O
Brasil passou a gozar de um fluxo contnuo de capitais externos, a fazer reservas e isto
vem se apresentando como a salvao da ptria pela via conservadora, sem mudanas
estruturais. O pas ingressa no modelo primrio e exportador, dentro de um ciclo econmico mundial liderado pela China.
No segundo governo FHC, rearticula-se o processo de modernizao tcnica da
agropecuria, iniciado pelos militares no perodo de 1960-70. Reestrutura-se a aliana
das cadeias agroindustriais, da grande propriedade fundiria e do Estado, promovendo
um estilo de expanso agrcola, sem reforma social. Agora esse pacto se d com uma
nova insero externa e com um projeto de hegemonia poltica, que se inicia no segundo governo FHC, se amplia e se intensifica no primeiro e segundo governos Lula e
continua no governo Dilma (DELGADO, 2012).
Esse pacto de economia poltica nesta fase recente da histria trouxe um poder sem
par no perodo republicano ao setor rural, acompanhado de grande poder miditico,
parlamentar e acadmico, que enreda o Estado brasileiro em um conjunto de polticas
de acumulao de capital pelo setor primrio, que captura recursos primrios e renda
fundiria ligada ao setor externo. Um processo de carter altamente concentrador da
propriedade e da renda fundiria, para responder a uma presso externa por ajustamento das transaes de mercadorias e servios.
No atual estgio de nossa dependncia externa, esse modelo apela para a super-explorao de recursos naturais, concentrao fundiria e descarte de populaes campesinas.Mobiliza para suprir, com produtos primrios exportveis, o dficit da indstria e de servios e responder ao enorme desequilbrio externo gestado pela prpria
especializao (DELGADO, 2012).
Foram eleitos alguns segmentos das cadeias agroindustriais (agronegcios) e minerais relacionadas com as commodities: a soja, o algodo, as carnes/ raes, celulose/
papel, etanol/acar, ferro, caf, laranja, tabaco, alumnio, mangans e bauxita. O petrleo, que tambm uma commodity, tem outra dinmica de crescimento industrial,
mas tambm fica sujeito superexplorao e aos riscos ambientais.
A agropecuria capturada pelo comrcio mundial e sua expanso se d de duas
maneiras: 1) pela expanso horizontal das reas de lavoura, especialmente nos ltimos
10 anos, que vem crescendo em mdia 5% ao ano; e, 2) pela intensificao do pacote
agrotxicos, sade, ambiente e sustentabilidade
21
tecnolgico da Revoluo Verde. Isto explica a duplicao do consumo interno de agrotxicos no perodo de 2003-2009. As vendas cresceram 130% sem nenhum componente de inovao tcnico-industrial ou de pesquisa de ponta. So elevados e insustentveis
os custos sociais desse modelo de expanso agrria, assim como na extrao do petrleo, que tem como caracterstica a superexplorao da natureza (DELGADO, 2012).
A soluo imediata para o dficit de conta corrente e para a sada da crise com que
nos defrontamos em 1999, buscada em emprstimos do FMI, levou a uma acelerao
das exportaes primrias, principalmente de componentes agrcolas, minerais e de
produtos de leve beneficiamento industrial. Isto levou gerao imediata de supervits
nas transaes externas durante o perodo de 2003 a 2007, criando certa euforia passageira. Mas j em 2008 recrudesce o dficit externo (na conta corrente com o exterior),
que vem sendo relativizado pelo ingresso de capitais externos e ainda no apareceu
como um grave problema na economia. No entanto, a gravidade de tudo isto se expressa de duas maneiras: a dependncia de capital estrangeiro por um lado; e por outro lado
a ampliao dos custos sociais desse estilo de crescimento. Os custos sociais da especializao econmica do setor primrio ainda no esto suficientemente percebidos pela
sociedade (DELGADO, 2012).
Recentemente, na tramitao legislativa do novo Cdigo Florestal, ficou evidenciada a imposio dos conceitos ruralistas, que enxerga os recursos naturais como matria-prima disposio do capital, em contraposio ao pensamento contra-hegemnico, que estabelece limites de interesse pblico. A bancada ruralista e governo federal
brasileiros esto associados de forma contraditria ao capital externo, evidenciando
que uma parte do setor industrial tende a diminuir substancialmente sua importncia
como plo dinmico da economia brasileira se permanecer este padro de acumulao pelo setor primrio. Este explora vantagens comparativas naturais e se beneficia de
custos sociais e ambientais exacerbados, perante uma sociedade sem capacidade de colocar limites a esse padro. Isto tem sido viabilizado nos ltimos trs governos. Trouxe
de volta a modernizao tcnica sem reforma, uma engenharia poltica que convence
a sociedade de uma sada exitosa, no sentido da hegemonia poltica segundo Gramsci
(DELGADO, 2012).
O pacto do agronegcio foi introduzido com a conquista de mentes e coraes pela
mdia, pela academia e pela poltica com representao no Congresso (Bancada Ruralista), como salvao da ptria, um modo mais ardiloso e difcil de ser combatido
(DELGADO, 2012). Por outro lado, h o Brasil real, com uma populao ativa de 105
milhes de pessoas.
22
Esse padro no tem condies de resolver os problemas de emprego, da urbanizao complexa da sociedade e ainda manter a indstria como um plo dinmico de inovao. Esse plo se desloca para a propriedade das terras e para a apropriao da renda
fundiria, os grandes files da acumulao de capital. Isto conservador e depredador
sob vrios aspectos. Denunciar as consequncias ambientais e sanitrias desse estilo de
crescimento til e necessrio para esclarecer a sociedade e criar condies de mudana estratgica (DELGADO, 2012).
No processo de aprovao do recente Cdigo Florestal ficou evidente mais uma vez
a aliana do poder federal com o setor agrrio. Refm da bancada ruralista e do pacto
de acumulao de capital primrio, o que resta sociedade brasileira? Tentar a desarticulao desse pacto, criando novas alianas e posies. As vantagens com prticas
naturais de produtos primrios so um campo a ser explorado para essa contraposio.
Complementando sua fala, Delgado (2012) acrescenta textualmente:
Em tais condies, para viabilizar, no plano externo, o volume e o ritmo de
crescimento dos saldos comerciais primrios, necessrias solvncia externa da Conta Corrente, haver uma presso endgena desse sistema por super- explorao dos recursos naturais. A isto tambm se soma a presso por
concentrao da propriedade fundiria, que tambm forma peculiar de
captura da renda da terra. Esses so os elementos cruciais que caracterizam
a apropriao da renda fundiria, com consequncias agrrias e ambientais
altamente negativas.
H uma dupla presso por obteno de ganhos de produtividade com
recursos naturais. De um lado a incorporao de novas reas ao espao
econmico explorado, atual e potencialmente. Nestes novos territrios,
a expanso agrcola se inicia adotando pacote tecnolgico pr-existente,
e exercendo um consumo crescente de recursos naturais no produzidos
pelo trabalho humano solos, gua, biodiversidade, florestas nativas, luminosidade, condies climticas, etc. De outro lado, nas zonas de agricultura j consolidadas, haver certamente presso crescente por aumento de
produtividade do trabalho mediante intensificao do pacote tecnolgico
agroqumico, com consequncias ambientais tambm predatrias sobre o
meio ambiente.
Por sua vez, dinmica de crescimento da produtividade fsica da agropecuria nas zonas consolidadas ou nas zonas de nova incorporao fundiagrotxicos, sade, ambiente e sustentabilidade
23
24
Carvalho (2012) traz uma indagao primeira: o que aconteceu neste pas que permitiu se chegar a esse ponto, no qual um bilho de litros de agrotxicos consumido
por ano? Por que se permitiu a prtica de concentrao oligopolista das empresas que
ofertam mundialmente agrotxicos como Syngenta, Bayer, Basf, Dow, DuPont e Monsanto? O que levou a esse processo? Para o pesquisador, a prtica desse oligoplio mundial de agrotxicos na agricultura brasileira se deveu ao modelo econmico e tecnolgico implantado no pas a partir do que se denominou de modernizao conservadora
no campo a partir de 1965 e reforada, porque atualizada, desde 1990 at os dias atuais.
agrotxicos, sade, ambiente e sustentabilidade
25
Para que esse modelo econmico e tecnolgico fosse adotado pelas grandes empresas capitalistas no campo foi necessrio um conjunto articulado de medidas governamentais e legislativas que facilitassem a sua adoo, em particular o crdito rural
subsidiado pelos governos.
Nesse ritmo de consumo de venenos, estamos caminhando para uma sociedade
insana, consumidora de maneira considervel de produtos qumicos que, destinados
a eliminar o que o modelo tcnico-cientfico dominante considera como pragas e doenas das plantas e animais, acabam por contaminar tambm os alimentos e reduzir a
biodiversidade (CARVALHO, 2012).
Esse processo de utilizao de agrotxicos na agricultura, iniciado muito antes de
1965, mas, a partir dessa data, empregado de maneira massiva e indiscriminada, teve
amplo respaldo dos governos, ento no mbito da ditadura civil-militar. E se afirmou e
se reforou ps 1990 na dinmica de privatizao dos organismos governamentais, de
tal maneira que se poderia afirmar estar-se na presena de um Estado mximo para o
capital e mnimo para o povo (CARVALHO, 2012).
Em contrapartida a esse Estado forte para o capital, se ampliaram as polticas pblicas compensatrias, de maneira a suscitar uma conscincia feliz e consumidora das
massas, mesmo as mantendo exploradas e subalternas (CARVALHO, 2012).
deveras improvvel que a ampliao desmesurada do consumo de agrotxicos
na agricultura tivesse ocorrido, por um lado, sem o apoio inconteste do Estado e, por
outro lado, sem que um processo poltico-ideolgico de cooptao popular e de desmobilizao poltica tivesse sido estimulado, de maneira a facilitar o afloramento dos
valores neoliberais, entre os quais o consumo do efmero e a perda da memria histrica. Apesar do clamor dos ambientalistas e de alguns setores populares mais atentos
sanidade dos alimentos, poderia se sugerir que, mantida a atual tendncia dominante,
muito provvel que estejamos no caminho da barbrie (CARVALHO, 2012).
Constata-se uma forte concentrao entre as empresas capitalistas no campo, ou a
elas relacionadas, atravs da disputa e de acordos para fuses e aquisies de empresas
da agroindstria, assim como para a aquisio privada da terra agricultvel (CARVALHO, 2012).
Em 2003, 112 mil imveis concentravam 215 milhes de hectares, e em 2010, 130
mil imveis concentravam 318 milhes de hectares. Portanto, em sete anos, mais de
100 milhes de hectares passaram para o controle de grandes empresas, de latifundirios. Todavia, apenas 1/5 das posses de imveis rurais tem documentos legais que
permitem dizer que so de fato propriedade privada de algum (CARVALHO, 2012).
26
27
28
29
A Agricultura Familiar Camponesa tem seu modo de produo fundada em diversidade produtiva, em economia de escopo, em territrios poltica e socialmente estabelecidos e viabilizada pelo encurtamento das cadeias de produo e comercializao.
Muitos setores, inclusive vinculados noo de Agricultura Familiar, se distanciam
dessa identificao camponesa, paradoxalmente, para fazer exatamente o enfrentamento ao agronegcio e sua voracidade por recursos pblicos.
Com esse mundo invisvel para a cincia e para a mdia, a Agricultura Familiar
depara-se com uma realidade emprica na qual existem muito mais camponeses do
que reconhecido. Em todo o mundo, somam algo em torno de 1,2 bilho de pessoas
(PLOEG, 2008. p.25).
A noo de territorialidade central para a agricultura camponesa, definida porCarvalho (2012) como existente em funo do territrio. As relaes sociais se expressam em regras institucionais de uso das disponibilidades naturais (capacidades difusas
internalizadas nas pessoas) e de aparatos infraestruturais (tangveis e intangveis) em
um dado espao geogrfico politicamente delimitado.
A racionalidade econmica pretensamente verde do modelo capitalista passa a
conceber apenas dois espaos possveis onde ou tudo se pode (supresso da vegetao,
contaminao qumica de rios, lagos, solo, ar e pessoas, destruio do solo), desde que
demarcada a posse de um lugar; ou nada se pode (natureza preservada), como compensao destruio causada nos locais onde se desenvolve a agricultura empresarialcapitalista. Est a a noo da agricultura verde colocada no mercado, venda para as
empresas do setor interessadas em adquiri-la (LEROY, 2011).
Caldart et al. (2012) se refere ao territrio campons como espao de vida, local
de residncia da(s) famlia(s), predominantemente agropecurio e que contribui com
a maior parte da produo de alimentos saudveis, consumidos principalmente pelas
populaes urbanas.
No modo campons de fazer agricultura, a lgica a produo de mximo valor
agregado possvel usando, fundamentalmente, recursos autocriados e automanejados,
em que a coproduo entre o homem e a natureza viva torna-se um fator decisivo para
o fortalecimento continuado da base de recursos e consequente reduo da dependncia quanto a insumos externos (PLOEG, 2008, p. 40 a 51). A est a chave para a compreenso da sustentabilidade intrnseca da agricultura familiar camponesa e, porque
no acrescentar, de base agroecolgica.
Como cincia, a agroecologia emerge de uma busca por superar o conhecimento fragmentrio, compartimentalizado, cartesiano, em favor de uma abordagem inte-
30
31
32
Fonte: original do autor, Pignati W. A., 2007, tese doutorado FIOCRUZ, p.18.
33
34
houver necessidade de uso de um agrotxico, isso se d dentro dos critrios agronmicos, ambientais e de sade mais rgidos possveis (o que raramente acontece).
Esses desvios ou erros de alvo so considerados pelos fazendeiros e agrnomos
como derivas, ou acidente na aplicao dos agrotxicos. Justificam a ocorrncia das
derivas falta de treinamento, mudanas repentinas nas condies climticas, ao
descuido ou algum eventual ato inseguro do pulverizador. , Culpabilizam, portanto, o
clima ou o trabalhador (tratorista, piloto). Entretanto, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa) acrescenta que existe normalmente uma deriva tcnica
que acontece com os atuais equipamentos de pulverizao, que mesmo com calibrao,
temperatura e ventos ideais, eles deixam apenas 32% dos agrotxicos pulverizados retidos nas plantas, enquanto 19% so carreados pelo ar para outras reas circunvizinhas
da aplicao e 49% vo para o solo. Parte desse txicos se evapora, parte contamina o
lenol fretico e outra parte se degrada (CHAIM, 2004).
Alm disso, h pulverizaes intencionais nas plantaes cultivadas prximas s
residncias, crregos, criao de animais e reservas florestais e que tambm so classificadas erroneamente pelos fazendeiros como derivas. Os fazendeiros desrespeitam a
proibio de pulverizar nesses espaos, como preconiza o Cdigo Florestal, a Lei dos
agrotxicos 7809/89 (Brasil, 1989), o Decreto 4074/02 (Brasil, 2002), a Instruo Normativa do MAPA n 02/2008 (Brasil, 2008) que, em seu artigo 10 diz: proibido realizar pulverizao area de agrotxicos a uma distncia mnima de 500 metros de
residncias, vilas, crregos e nascentes dgua. O decreto do estado de Mato Grosso
n.2283/2009 (Mato Grosso, 2009) expressa em seu artigo 46 que proibido realizar
pulverizao terrestre (por trator ou costal) de agrotxicos a uma distncia mnima de
300 metros de residncias, vilas, crregos e nascentes dgua.
Indagamos se os fazendeiros no esto praticando um crime dolosoao promover
pulverizaes/poluies intencionais com agrotxicos e outros agroqumicos. Ser que
eles esto se responsabilizando social e economicamente pelos impactos negativos na
sade humana e pelos danos ambientais? Ser que os consumidores de alimentos esto
conscientes e mobilizados para agir e cobrar alimentos, ambientes e vidas saudveis?
Onde vai parar o contedo de agrotxicos que estavam nas embalagens? Nesse processo haver contaminao das guas, do ar, da chuva, dos alimentos, do leite materno, do
sangue e da urina dos humanos e dos outros animais. No existe uso seguro de agrotxicos na agricultura.
35
A introduo de cultivos transgnicos no Brasil deu-se pela poltica do fato consumado e ao arrepio da lei. Sabe-se que a transgenia trouxe mais dependncia econmica,
interferncia cultural, insegurana alimentar e poluio gentica. Estes so alguns dos
impactos apontados por pesquisadores, povos indgenas, agricultores, representantes
do Ministrio do Meio Ambiente (MMA) e por ONGs ambientalistas.
Rubens Nodari (2010) explica que a tecnologia de transgenia na agricultura traz impactos sociais, econmicos e culturais. Nesse tipo de tecnologia so inseridos genes que
dependem de um produto qumico para que voltem a ter funcionalidade. Em ambas as
situaes, os produtores sero obrigados a pagar royalties a cada compra de semente,
o que vai aumentar os custos da produo. Para Nodari, pode haver disseminao de
sementes geneticamente modificadas para outras plantaes, devido polinizao natural (NODARI, 2001).
O conhecimento que dispomos sobre os efeitos e riscos dos transgnicos ainda requerem maiores investimentos. A soja foi lanada nos Estados Unidos em 1996, quando apenas foram feitos estudos de segurana alimentar de curta durao e no se sabe,
por exemplo, o efeito no valor adaptativo dos indivduos, e na reproduo. Os estudos
apresentados pelas empresas so mnimos e de curta durao, com nmero reduzido de
caractersticas avaliadas. A soja foi avaliada sem glifosato, o que impede a avaliao de
efeitos colaterais. Com o milho, a avaliao deu-se da mesma forma, sendo que o milho
Bt tem uma toxina mortal para alguns tipos de insetos, mas pouco se conhece sobre
seus efeitos na alimentao humana. verdade que no temos informaes suficientes
de que ocorrem riscos dimensionados, mas tambm no sabemos se os riscos no existem, at porque isso no foi pesquisado suficientemente. O que podemos assumir de
fato que conhecemos muito pouco sobre o assunto (NODARI, 2001).
Somente em 2003 foi publicado o primeiro grande estudo de longa durao feito na
Inglaterra, que comeou em 1999. Foram selecionadas trs espcies - milho, beterraba
e canola - e foi estudado o impacto da sua transgenia na biodiversidade. No caso da
beterraba e da canola, os sistemas transgnicos causavam impacto maior na biodiversidade do que o convencional. A Inglaterra fez 60 estaes experimentais, cobrindo todo
o pas. Infelizmente o Brasil, sem essas estaes experimentais para realizar estudos de
impacto ambiental e de segurana alimentar, vem tomando a deciso de liberar transgnicos (NODARI, 2001).
36
37
Os modos de vida e de produo existentes na produo camponesa e familiar passam a ser descritos como arcaicos e vrios mitos vo sendo construdos e replicados
para justificar as diversas intervenes ocasionadas pelo modelo agrcola conservador
que, mesmo carregando as mais atrasadas prticas, se reveste de moderno em seu
discurso.
Barthes (2001) nos adverte que a busca do mito para simplificar o mundo, naturalizando-o. Em outras palavras, a funo do mito retirar a histria das coisas de modo a
38
torn-las naturais. Esta captura da histria das coisas promovida pelo mito mostra-se
til para a legitimao do discurso desenvolvimentista.
Nesse contexto, torna-se importante narrar o processo vivido pelas populaes locais como uma tentativa de devolver a histria das coisas e desnaturalizar os significados dados. Iremos usar como exemplos as reflexes produzidas por Rigotto et al. (2012)
em pesquisa realizada na Chapada do Apodi, no Estado do Cear.
mito 1: No existia vida na Chapada do Apodi antes do agronegcio chegar.
mito 2: O agronegcio moderno e traz o progresso para ns: gera emprego e renda, produz alimentos para acabar com a fome no Brasil e potencializa a riqueza do pas.
mito 3: possvel usar venenos com toda a segurana. Os pequenos agricultores que
so o problema! Nem usam os equipamentos de proteo. O efeito do veneno
s no dia em que se pulveriza.
mito 4: O agronegcio se preocupa com o meio ambiente.
mito 5: O agronegcio promove o desenvolvimento local.
mito 6: No h problemas com o uso de agrotxicos, porque as autoridades esto
cuidando da gente.
mito 7: No existe outra forma de produzir que no seja a do agronegcio.
Uma primeira anlise desses mitos, luz do que j foi discutido nesse Dossi, a
necessidade de desocultar essa complexidade e tirar-lhe o status de natural, revelando
que ali existiam h sculos modos de viver e produzir prprios, que existem na regio
formas de produo agroecolgicas, que o Estado est imbricado com a reproduo do
capital, que os pequenos agricultores tambm so vtimas do discurso da Revoluo
Verde, expor a precarizao das relaes de trabalho e os agravos na sade dos/as trabalhadores/as, os graves impactos ambientais, entre outros.
No exerccio de contar e recontar a histria das coisas - articulando a experincia
daqueles que fazem o territrio com os elementos trazidos pela pesquisa e com a fora
de mobilizao dos movimentos sociais -, que se tornou possvel apontar para a construo de novas falas sobre a realidade. Isso se coloca como relevante na medida em
que conseguimos avanar na perspectiva proposta por Barthes (2001, p. 178) quando
diz que isso que devemos procurar: uma reconciliao entre o real e os homens, a
descrio e a explicao, o objeto e o saber.
39
| parte 2
Povos do campo
e da floresta
antingidos pelo
modelo do
agronegcio
40
180.000.000
160.000.000
140.000.000
120.000.000
100.000.000
Urbana
Urbana
Rural
80.000.000
Rural
60.000.000
40.000.000
20.000.000
0
1950
1960
1970
1980
1991
2000
2010
A modernizao da agricultura no Brasil aprofundou a concentrao de terras, levando tanto migrao de milhares de pequenos proprietrios, parceiros, arrendatrios e colonos para reas de expanso da fronteira agrcola, nas regies centro-oeste
e norte, quanto ao xodo rural para os centros urbanos mais industrializados. Assim,
o incremento do pacote tecnolgico da Revoluo Verde resultou no agravamento de
diversos problemas sociais e ambientais, que a histria do desenvolvimento da agricultura no pas perpetuava, assumindo a forma de modernizao conservadora (HESPANHOL, 2008b).
A intensificao na realizao de grandes obras promovidas pelo Estado brasileiro
tambm tem importncia para a manuteno do xodo rural na ltima dcada. Muitas
dessas obras so de interesse direto de setores do agronegcio, como quelas para irrigao na agricultura e para escoar a produo para exportao.
A mecanizao da produo agrcola no alcanou todas as fases dos ciclos produtivos. Desta forma, tambm como consequncia deste processo, cresceu o contingente
de trabalhadores rurais assalariados temporrios no campo. Esses trabalhadores, que
passam boa parte do ano desempregados, e os trabalhadores rurais que migraram para
41
42
Outra crtica importante metodologia que adota o local de residncia como critrio de classificao diz respeito aos trabalhadores que migram durante o dia para
trabalhar. Desta forma, os trabalhadores temporrios, ou boias-frias, que, segundo a
PNAD de 2008 representavam 43% do total de empregados ocupados no campo, so
considerados como populao urbana. A alta taxa de participao dos temporrios sintetiza algumas das caractersticas ainda dominantes na rea rural: sazonalidade das
ocupaes, relaes de trabalho altamente instveis, baixos salrios, trabalho braal e
extenuante e pssimas condies de trabalho (IPEA, 2010, p. 18).
Os trabalhadores temporrios apresentaram um rendimento mdio mensal de 344
reais (52,92% desses com renda mensal mdia at meio salrio mnimo) e 84,28% no
tinham carteira de trabalho assinada (IPEA, 2010). Esse um grupo populacional importante de exposio aos agrotxicos, pois atuam nas cadeias produtivas do agronegcio em situao de grande vulnerabilidade socioambiental. Apresentamos abaixo dois
estudos que avaliaram os nveis de condies de vida desses trabalhadores rurais.
Um estudo que avaliou as condies de sade de famlias de boias-frias, que residiam em bairro da periferia de Una (MG), demonstrou que a oferta de trabalho limitava-se, em mdia, a apenas seis meses ao ano, de forma inconstante, fazendo com que
as famlias tivessem renda varivel e baixa. As famlias dos boias-frias apresentavam
alto ndice de insegurana alimentar (39,5% enfrentaram falta de comida nos ltimos
trs meses, tendo como referncia a data de realizao da pesquisa); os trabalhadores
temporrios sofriam com a exposio aos agrotxicos e apresentavam baixo nvel de
organizao poltica. Alm disso, para esses trabalhadores rurais, entre o que havia de
pior no trabalho estava a hora de acordar (44,52%), o deslocamento (19,5%), a comida,
os danos sade, o cansao e a explorao (14,3%).
Essas condies chegavam a situaes extremas. Os relatos incluem at
quatro horas de tempo gasto para chegar ao local de trabalho diariamente,
fazendo que muitos iniciassem seu deslocamento no incio da madrugada
Os trabalhadores chegavam a viajar mais de 130 Km para s fazendas onde
vo trabalhar com tempo de deslocamento mdio de trs horas (CARNEIRO, 2007).
A produo de cana-de-acar uma das monoculturas que mais emprega trabalhadores temporrios nos estados onde se concentra sua produo. A expanso da rea
plantada desse cultivo aumenta a demanda por trabalhadores temporrios. Estudo soagrotxicos, sade, ambiente e sustentabilidade
43
44
A Lei n 11.326, de 24 de julho de 2006, define o que agricultura familiar a partir dos seguintes critrios:
a rea do estabelecimento no pode exceder 4 mdulos fiscais, a modeobra deve ser predominantemente
da prpria famlia, a renda deve ser originada predominantemente nas atividades da propriedade e o estabelecimento tem que ser dirigido pela prpria famlia.
Indicador
Urbano
Rural
2003
2008
2003
2008
64,90%
69,30%
51,60%
59,50%
80,70%
82,70%
63,90%
69,50%
86,40%
90%
72%
80%
Em relao a componentes do saneamento bsico, no ano de 2000, 12,15% da populao rural tinha acesso coleta de lixo, 11,78% a esgotamento sanitrio e 17,8% a
abastecimento de gua. Esses mesmos indicadores para a populao urbana eram, respectivamente, 91,13%, 70% e 89,12%. A melhoria de acesso a esses servios, se comparados os dados dos ltimos dois censos do IBGE (1991 e 2000), foi maior na populao
urbana, com exceo do abastecimento de gua, apesar das enormes desigualdades de
acesso entre essas populaes (Grfico 2).
45
1991
2000
100.000
75.000
50.000
25.000
Urbana
Rural
Urbana
Rural
Urbana
Rural
Estudo realizado entre pequenos agricultores demonstrou que nas reas dos produtores rurais que receberam crdito agrcola do governo federal (Pronaf Crdito Rural)
na safra 2000/2001, houve aumento da eroso dos solos e da frequncia do uso de
pesticidas, levantando questes quanto qualidade da assistncia tcnica prestada pelo
programa de crdito agrcola (MIRANDA, et al., 2007). Esse estudo indica que a assistncia tcnica prestada pelo poder pblico para a agricultura familiar estimula a utilizao de agrotxicos e demonstra que o modelo de desenvolvimento do campo continua
envolvendo parte das pequenas propriedades no plantio de monoculturas com a utilizao de agrotxicos. Esse processo resultado da modernizao da agricultura nas
dcadas de 1960 e 1970, tratados no texto anteriormente e corroborado por Carneiro
& Almeida (2007, p. 22):
cabe ressaltar que esta estrutura produtiva [da agricultura familiar], assim
como a da grande propriedade, esto subordinadas ao mesmo modelo conservador. Este tem se imposto historicamente e principalmente por meio
das polticas de crdito rural, da assistncia tcnica e pesquisa.
46
47
| parte 2
a Introduo
Agrotxicos
e sade
ambiental
48
as que adoecem por consequncia da exposio aos venenos no conseguem comprovar a causa das doenas desenvolvidas e os responsveis pela contaminao escapam de
arcar com os custos de tratamentos de sade ou com a adoo de medidas para mitigar
os efeitos da contaminao ambiental.
O Brasil carece de dados sobre a quantidade de intoxicaes, por no possuir ainda
um sistema adequado de registro, capaz de identificar especificamente os agrotxicos
envolvidos nos casos de intoxicaes agudas e crnicas. Existem vrios sistemas oficiais
que registram intoxicaes por agrotxicos no pas, mas nenhum deles tem respondido
adequadamente como instrumento de vigilncia deste tipo de agravo (FARIA, FASSA
e FACCHINI, 2007).
O Ministrio da Sade estima que, no Brasil, anualmente, existam mais de 400 mil
pessoas contaminadas por agrotxicos, com cerca de quatro mil mortes por ano (MOREIRA et al., 2002).
Intoxicaes envolvendo agrotxicos no Brasil foram analisadas mediante dados do
Sistema Nacional de Agravos Notificados Sinan por Benatto (2002). Segundo esse
autor, foi registrado no perodo de 1996 a 2000 um total de 5.654 casos suspeitos de
intoxicao, com 2.931 casos confirmados (51,43%). O nmero de bitos registrado
foi de 227, correspondendo a uma letalidade de 7,73% no perodo. As intoxicaes se
concentraram em indivduos do sexo masculino entre 15 e 49 anos, sendo confirmadas
pelo critrio clnico epidemiolgico em 60% dos casos; 61,74% das intoxicaes receberam atendimento hospitalar; 29,46% atendimento ambulatorial; 7,03% atendimento
domiciliar e 1,77% dos casos no receberam nenhum atendimento. Os acidentes de
trabalho representaram 53,5% das circunstncias de intoxicao, seguidos pelas tentativas de suicdio (28,2%) e intoxicaes acidentais com 12,9%. Dentre os 128 princpios
ativos envolvidos nas intoxicaes, o Glifosato, o Paraquat e o Metamidofs foram os
agentes txicos mais incriminados, correspondendo a 26,2% do total. Todos estes trs
agrotxicos esto sendo tendo seus registros reavaliados pela Anvisa, sendo que o Metamidofs passou a ser proibido no Brasil em 2011.
No Brasil, o Sistema Nacional de Informaes Txico-Farmacolgicas (Sinitox) registrou, no ano de 2009, 5.253 casos de intoxicao por agrotxicos de uso agrcola com
2.868 agrotxicos de uso domstico, 1.014 produtos veterinrios e 2.506 raticidas, com
um total de 188 bitos por estes quatro tipos de intoxicaes registradas nesse ano. Os
agrotxicos de uso agrcola responderam por 41,8% do total. H de se ressaltar que existe um grande sub-registro das intoxicaes por agrotxicos no Brasil. Esta uma das
grandes vulnerabilidades institucionais do pas, entre outras relacionadas ao controle e
agrotxicos, sade, ambiente e sustentabilidade
49
50
51
Masculino
Feminino
Total
0,1
0
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Fonte: Sistema de Informao sobre Mortalidade, SIM/MS 2000-2008 e IBGE, Sistema Contas Nacionais 2000-2008.
52
bitos por intoxicao por agrotxico entre 2000-2009, sendo que 743 (36,2%) no
dispunham de registro da ocupao e 679 (51,9%/1.309) eram acidentes de trabalho
(Figuras 2 e 3), masapenas 38 (5,6%) foram registrados dessa maneira na Declarao de
bito. Destaca-se que somente na regio Nordeste ocorreram 284 bitos (41,8%), o que
sugere um contexto de grave vulnerabilidade socioambiental nessa regio.
Estamos falando de um sistema que notificou em 2009 por volta de 6.000 casos de
intoxicao por agrotxicos para todo o pas (SINITOX, 2009). Segundo a OMS, na
maioria das situaes a subnotificao muito presente, portanto, se estima que para
cada caso notificado outros 50 no o foram. Isso significa que esto provavelmente
ocultos outros 300.000 casos de intoxicaes, que no so identificados por diversos
fatores, que vo desde a falta de acesso aos servios de sade pela populao do campo,
passam pelas dificuldades enfrentadas pelos mdicos em identificar esse tipo de intoxicao, pela falta de preenchimento adequado das fichas, at o medo dos profissionais
de sade em assumir tal notificao, haja vista o poder dos grandes fazendeiros do
agronegcio nesses territrios. Em um estudo da Universidade Federal de Pelotas, no
Rio Grande do Sul (FARIA et al., 2000), estima-se em 91,6% o sub-registro de acidentes
de trabalho entre trabalhadores da agricultura em relao CAT (Comunicao de
Acidentes de Trabalho). Isso sugere que os dados disponveis no SUS ainda so insuFigura Coeficiente de incidncia de acidentes de trabalho por intoxicao
por agrotxico em trabalhadores da agropecuria (CI/1000). Brasil, 2007-2011.
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
Masculino
Feminino
Total
0,5
0
2007
2008
2009
2010
2011
53
54
55
56
57
58
59
dutos comerciais - inseticidas, fungicidas e acaricidas; 4 da classe I (extremamente txico), 6 da classe II (altamente txico), 2 da classe III (medianamente txico) e 2 da classe
IV (pouco txico), segundo a classificao toxicolgica do Ministrio da Agricultura/
Ministrio da Sade.
Os resultados evidenciaram que o solo encontrava-se mais impactado no perodo
em que ocorreu o plantio. Indicaram tambm que nesse perodo o solo apresentava
alteraes em suas propriedades biolgicas, possuindo um menor potencial produtivo
decorrente do manejo ao qual submetido, gerando estresse ao ecossistema, repercutindo na queda de produtividade do solo pelo uso desses agrotxicos. Ficou evidenciado que h uma situao de estresse no solo estudado em Paty do Alferes. Essa situao
traduzida em perda de fertilidade do solo, perda de produtividade das plantaes
e aumento do problema com pragas, com aumento na utilizao de agrotxicos com
mais frequncia e em maior quantidade (FERREIRA, 2006).
A maior parte dos agrotxicos utilizados acaba atingindo o solo e as guas, principalmente pela deriva na aplicao no controle de ervas invasoras, lavagem das folhas
tratadas, pela lixiviao, eroso, aplicao direta em guas para controles de vetores de
doenas, pelos resduos de embalagens vazias, lavagens de equipamentos de aplicao e
efluentes de indstrias de agrotxicos. Ressalta-se a importncia da conservao da diversidade de microrganismos do solo, pelo papel que desempenham no funcionamento
dos ecossistemas (atividades microbianas de decomposio, degradao e desintoxicao de muitos contaminantes ambientais) (FERREIRA, 2006).
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - EMBRAPA realizou anlise de risco de contaminao de guas superficiais e subterrneas pelas caractersticas dos agrotxicos aplicados em manga e uva, na regio do Vale do rio So Francisco, no perodo
de 1997-2001. Em uma primeira anlise, o risco foi avaliado em funo das caractersticas prprias dos agrotxicos utilizados na regio. Considerando-se as caractersticas
do clima e do solo da regio do submdio do Rio So Francisco e por se tratar de rea
irrigada, os riscos de contaminao de guas superficiais e subterrneas no podem ser
desprezados. Soma-se a este fator de risco o fato de que os solos da regio so predominantemente arenosos, com limitaes para o uso agrcola, em funo da escassez de
gua e com probabilidades de fendilhamentos e ressecamentos.
Os resultados levam concluso que, dentre os agrotxicos usados, os que possuem maior mobilidade no ambiente so: acefato, dimetoato, diuron, fenarimol, fosetil,
metalaxil, metamidofs, metidation, metomil, monocrotofs, tebuconazole, triclorfon,
paclobutrazol, plocloraz e glifosato. Considerando que o metamidofs o principal
60
produto de degradao e metabolito do acefato, sua importncia cresce no rol dos agrotxicos para a contaminao das guas no contexto do estudo (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECURIA, 2009). Ressalta-se a importncia das guas do
Rio So Francisco para a dessedentao da populao humana e de animais da regio
semi-rida do Nordeste brasileiro, demonstrando um grande problema de sade ambiental relacionado com a qualidade da gua para abastecimento humano.
Para o metamidofs so adotados como limites mximos permitidos de resduos
no solo 0,1 mg/Kg (Concentrao Mxima Permitida) (ASIA-PACIFIC CENTRE FOR
ENVIRONMENTAL LAW, 1995).
Os metablitos da transformao ou produtos de degradao dos organofosforados podem ser ingeridos junto com os alimentos ou com a gua. A transformao ocorre com os
organofosforados que tm suas ligaes tiofosfato (P=S) oxidadas a ortofosfato (P=O). Sob
esta ltima forma, so potentes inibidores da acetilcolinesterase (COCKER et al., 2002).
Assim, para melhor compreenso dos efeitos dos organofosforados sobre os sistemas biolgicos necessrio o conhecimento das relaes entre o agrotxico e seus
metablitos ou derivados e os complexos enzimticos dos seres vivos (HASSAL, 1990).
interessante ilustrar com o caso da China, que vivenciou o auge das importaes
de agrotxicos em 2004, com reduo progressiva at 2008. Em 2007, esse pas proibiu
cinco OP: metamidofs, parationa etlica; parationa metlica, monocrotofs e fosfamidon. (SISCCOMEX, 2008) Na sequncia a Anvisa identificou que houve um aumento
da importao do metamidofs. Grande parte dos estoques da China teria sido enviada
para o Brasil. Em 2008, produtores brasileiros importaram US$ 15,8 milhes em metamidof, (ver a Figura 5).
A partir do uso disseminado dos organofosforados, vrios efeitos adversos foram
descritos em populaes humanas e em outras espcies animais (GALLOWAY; HANDY, 2003). Dentre os efeitos txicos associados aos organofosforados encontram-se a
neurotoxicidade, a imunotoxicidade, a carcinogenicidade, a desregulao endcrina e
alteraes no desenvolvimento do indivduo.
Algumas condies como idade, gnero, via e dose de exposio contribuem para
uma maior susceptibilidade individual, de maneira que crianas, idosos e mulheres em
idade frtil constituem grupos populacionais de especial risco aos agrotxicos (WOODRUFF et al., 2008).
Regies onde no existe infraestrutura suficiente para regular e controlar eficazmente o uso de agrotxicos, como a Amrica Latina, frica e sia, problemas decorrentes
do uso de agrotxicos na agricultura so ainda mais graves (NUNES; RIBEIRO, 1999).
agrotxicos, sade, ambiente e sustentabilidade
61
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
2000
2001
2002
China
2003
Taiwan
2004
Israel
2005
2006
2007
2008
Frana
Garcia (2001) encontrou uma relao direta entre as curvas de crescimento de registro de intoxicaes e as vendas de agrotxicos. Alves Filho (2002) corrobora estes dados
de relao entre a quantidade de agrotxicos utilizada com os valores das vendas dos
produtos e os ndices de intoxicao.
Em relao ao contexto de vulnerabilidades quanto exposio, h grande subnotificao de intoxicaes por agrotxicos no Brasil. Estima-se que para cada caso
registrado de intoxicao por agrotxico ocorrem outros 50 sem notificao, ou com
notificao errnea (OPAS, 1996; SOBREIRA; ADISSI, 2003). Segundo estimativas da
Organizao Mundial da Sade, 70% das intoxicaes por agrotxicos ocorridas no
mundo so devidas a exposies ocupacionais (OLIVEIRA-SILVA, 2003).
Segundo dados do IBGE (2004), das 84.596.294 pessoas com mais de 10 anos ocupadas no Brasil, 17.733.835 (cerca de 20%) tinham o trabalho agrcola como principal
ramo de atividade, revelando o grande potencial de exposio a substncias txicas na
populao brasileira do campo.
Com relao aos bitos registrados no Sinitox - Sistema Nacional de Informaes
Txico-Farmacolgicas, do Ministrio da Sade e da Anvisa, (disponibilizado pela Fiocruz desde 1996 e uma das fontes de informao sobre notificao de casos de intoxicaes por agentes qumicos), os trs principais agentes qumicos responsveis por intoxicaes so agrotxicos de uso agrcola, raticidas e medicamentos. O percentual de
62
Tipo de problema
Sujeio a ms condies de trabalho
Autores
Etges, 2001
Baixa escolaridade
Oliveira-Silva, 2001
Soares, 2003
Castro, 2005
Delgado, 2004
Faria, 2004
Faria, 2004
Fonte: Faria et al. (2007).
63
64
No Rio Grande do Sul, um estudo de base populacional descreveu o perfil scio-demogrfico e a prevalncia de algumas morbidades. Entre os resultados obtidos destacase que 75% dos trabalhadores utilizavam agrotxicos, sendo a maioria organofosforados
(FARIA et al., 2000). A utilizao de agrotxicos caracterizou-se como intensa durante
sete meses do ano (em 85% dos estabelecimentos); o tipo de agrotxico utilizado variou
conforme a cultura, 12% dos trabalhadores que utilizavam estes produtos referiram
intoxicao pelo menos uma vez na vida e a prevalncia de transtornos psiquitricos
foi de 36%. Nas propriedades maiores (25 a 100 ha), onde se utilizavam mais agrotxicos, observou-se um aumento do risco para intoxicaes. Nesse mesmo estado, um
estudo transversal sobre sade mental de agricultores da Serra Gacha mostrou uma
forte associao entre intoxicaes por agrotxicos e o desenvolvimento de transtornos
psiquitricos menores (FARIA et al., 1999).
Pires, Caldas e Recena (2005b) estudaram, no Mato Grosso do Sul, no perodo de
1992 a 2002, as intoxicaes provocadas por agrotxicos na microrregio de Dourados.
Foi observada correlao entre a prevalncia de intoxicaes e de tentativas de suicdio
pela exposio a agrotxicos, principalmente nas culturas de algodo e feijo. Os municpios de Dourados, Ftima do Sul e Vicentina se apresentaram como mais crticos
na microrregio de Dourados. Os inseticidas foram a principal classe de agrotxicos
envolvidos nas ocorrncias, principalmente organofosforados e carbamatos, corroborando outros estudos (SENANAYAKE; PEIRES, 1995; SAADEH et al., 1996; SOTH;
HOSOKAWA, 2000; SOARES; ALMEIDA; MORO, 2003).
Um estudo realizado no Ncleo Rural de Vargem Bonita DF, rea de produo
intensiva de hortalias, revelou que a intoxicao por metamidofs foi encontrada em
cinco (62,5%) dos oito trabalhadores que aplicavam o produto. Eles revelaram que logo
aps a aplicao do inseticida, e por cerca de 24h aps esta, sentiam dores de cabea,
tontura e enjoo (CASTELO BRANCO, 2003). Estas mesmas queixas foram reveladas
por agricultores de Nova Friburgo - RJ (BULL; HATHWAY, 1986) e do Vale do So
Francisco PE (ARAJO et al., 2000).
65
66
67
68
69
- PIC foi aditado em 1989 com a finalidade de controlar as importaes de produtos qumicos indesejados j proibidos ou severamente restringidos. A Conveno de
Roterd, sobre o Procedimento de Consentimento Fundamentado Prvio Aplicvel a
Certos Pesticidas e Produtos Qumicos, foi instituda e assinada pelo Brasil em 11 de
setembro de 1998. O procedimento PIC vem funcionando numa base voluntria desde
o ano de 1989, sendo atualmente aplicado por cerca de 150 pases. Est em vigor desde
24 de fevereiro de 2004, contando com 77 apoiadores, entre os quais o Brasil.
Em Estocolmo, entre 21 e 23 de maio de 2001, foi assinada por cem pases, entre os
quais o Brasil, a Conveno de Estocolmo sobre Poluentes Orgnicos Persistentes, que
tem como princpios a proteo da sade humana e do ambiente frente os poluentes
orgnicos persistentes. A Conveno de Estocolmo levou trs anos para ser ratificada
pelo Senado Federal brasileiro, que o fez em 2004.
Pela importncia histrica e pelo fato de ainda estar em vigncia o fase out de dois anos
do endossulfan para concluir o seu banimento no Brasil, e por haver uma tenso permanente quanto reintroduo de organoclorados no pas para utilizao em sade pblica,
especialmente no controle vetorial da malria (reintroduzido na frica por orientao da
quinquagsima sexta sesso do Comit Regional Africano da OMS (WHO, 2006) que se
centrou na situao da malria nesse continente) faz-se com que ainda hoje seja necessrio debater as implicaes dos organoclorados para o ambiente e a sade humana.
No Brasil ainda existem hoje em torno de 10 produtos formulados registrados,
segundo dados do Sistema de Agrotxicos Fitossanitrios (Agrofit) do Ministrio da
Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA) que esto para ser reavaliados, sendo
que o endossulfam foi proibido em 2010 com um fase out at 2013.
Reviso publicada em 2007 sobre Substncias Txicas Persistentes (STP) no Brasil,
entre as quais est o endossulfam, mostra que, apesar de parcialmente proibidas no
pas, nveis dessas substncias esto presentes em diferentes matrizes ambientais (solo,
sedimento, gua, ar, biota), atingindo valores muito acima dos limites legislados, em
reas consideradas crticas, ocasionando srios problemas ambientais e riscos sade
humana, envolvendo sua dinmica, transformao e biomagnificao no ambiente. Em
tecidos humanos so detectados no leite, sangue, cabelo (ALMEIDA et al., 2007 ). Entre as substncias txicas persistentes esto os organoclorados.
O endossulfam ingrediente ativo (IA) de vrios inseticidas / formicidas / acaricidas. Trata-se de um veneno muito perigoso, que teve sua proibio mediante um procedimento denominado banimento faseado que decidiu a proibio da importao a
partir de 2011, proibio da fabricao em territrio nacional a partir de 31 de julho de
70
71
72
Para ler a ntegra desse caso de conflito envolvendo Injustia Ambiental e Sade no Brasil acessar: hyperlink
73
degradado a endossulfam diol e no solo a endossulfam sulfato. A degradao do endossulfam na gua um processo complexo e depende dos tipos de sedimentos presentes,
microorganismos, pH e quantidade de oxignio. (NAQVI e VAISHNAVI, 1993; GUPTA e GUPTA, 1979).
Dados disponveis sugerem que o endossulfam sulfato mais persistente do que
o composto parental. A meia vida estimada para a combinao dos resduos txicos
(endossulfam e endossulfam sulfato) varia de nove meses a seis anos (ERMA, 2007).
O endossulfam muito txico para quase todos os organismos. O seu metabolismo
ocorre rapidamente, mas o endossulfam sulfato apresenta uma toxidade aguda semelhante aquela do composto parental. J o endossulfam diol substancialmente menos
txico para peixes em aproximadamente trs ordens de magnitude (GERMAN FEDERAL ENVIRONMENT AGENCY, 2007).
Animais marinhos tm mostrado acumular quantidades considerveis de endossulfam (NAQVI e VAISHNAVI, 1993).
Diferentemente de seus ismeros, o endossulfato acumula-se no tecido adiposo dos
animais e o principal resduo detectado no tecido animal aps exposio. Consequentemente, a contaminao de pastos pode resultar em quantidades muito elevadas de resduos
de endossulfato em animais que se desenvolvem no local (SUTHERLAND et al., 2004).
Os resduos do endossulfam no meio ambiente so problemticos, pois ele txico
para peixes em baixas quantidades, com concentraes entre 0,01 e 10 g L-1 causando
mortalidade de 50% da maioria das espcies em 24h em condies laboratoriais (SUTHERLAND et al., 2004). Alm do que o endossulfam bioacumula em peixes na ordem
de 1.000 vezes em um curto espao de tempo (96 horas) (ERMA, 2007). Esse um importante aspecto para a segurana alimentar e gera implicaes para a cadeia alimentar.
Por serem extremamente sensveis ao inseticida, a morte de peixes tem sido relatada
em vrias ocasies como resultado do escoamento do endossulfam para rios. A aplicao de endossulfam em reas alagadias, mesmo nos nveis recomendados, tambm
pode resultar em mortalidade de peixes. (NAQVI e VAISHNAVI, 1993).
Os fatores que afetam a toxidade do endossulfam para organismos aquticos incluem: temperatura, salinidade e estgio da vida (jovem/adulto). A toxidade do endossulfam geralmente aumenta com a elevao da temperatura e organismos marinhos so
geralmente mais sensveis ao endossulfam do que organismos de gua doce. Existem
vrios estudos descritos acerca da toxidade aguda do endossulfam para peixes e invertebrados aquticos. H variao considervel nos valores de LC50 e relatos de efeitos
no crescimento e reproduo e parmetros fisiolgicos (NAQVI e VAISHNAVI, 1993).
74
A literatura recente indica que o endossulfam tem potencial de causar desregulao endcrina tanto em espcies terrestres quanto em aquticas. Os efeitos observados
foram desenvolvimento alterado em anfbios, secreo de cortisol reduzida em peixes,
alterao em nveis hormonais e desenvolvimento do trato genital em pssaros, atrofia
testicular e produo reduzida de esperma em mamferos (GERMAN FEDERAL ENVIRONMENT AGENCY, 2007).
O endossulfam deve ter uma importante participao nos casos de intoxicao por
agrotxicos no Brasil, tendo-se em vista a sua grande utilizao e toxicidade. Infelizmente o sub-registro e insuficincia dos sistemas de notificao ainda no permitem
uma estimativa no cenrio brasileiro atual, situao que pode se reverter se as normas
do Sistema Nacional de Vigilncia Epidemiolgica forem implementadas no SUS.
75
Existe um considervel nmero de pesquisas que no aborda o tema das embalagens de agrotxicos como importante fonte de exposio humana e ambiental a esses
biocidas. H necessidade de um diagnstico situacional da problemtica ambiental, em
especial relacionado contaminao do solo pela quantidade de embalagens descartadas (BEDOR et al., 2009).
Desde a Leicitada acima,, vrios aspectos do uso de agrotxicos foram normatizados, inclusive o destino de resduos e embalagens destes produtos. Os resduos incluem
restos de agrotxicos, embalagens vazias e produtos contaminados.Embora a questo
das embalagens tenha impacto mais reconhecido no trabalho da agricultura, importante lembrar das embalagens de produtos de uso veterinrio e das embalagens de produtos usados em desinsetizaes urbanas. Em relao a este ltimo grupo, a Anvisa
publicou uma Resoluo de Diretoria Colegiada (RDC) especfica (), a RDC n 52, de
22/10/2009, que, entre vrios outros itens, estabelece a responsabilidade das empresas
de desinsetizao, do comrcio e das indstrias de inseticidas. Segundo esta RDC, os
procedimentos e a responsabilidades em relao a embalagens seriam equivalentes ao
decreto que regulamenta as embalagens de agrotxicos.
Existem diversos estudos realizados entre populaes rurais (Tabela 2) a respeito do
destino final das embalagens de agrotxicos.
Uma reviso de estudos brasileiros confirma que ainda existem muitos problemas
em relao s embalagens de agrotxicos no meio rural brasileiro. Destaca-se no mbito deste dossi que esta poltica onera o setor pblico e a sociedade pelo recolhimento
e transporte das embalagens vazias. Tambm no garante que os procedimentos de
lavagem, transporte e destino final sejam realizados sem danos sade e ao meio ambiente. Por exemplo, a reciclagem do material plstico como matria= prima para a
fabricao de outros produtos, se for realizada sem controle de emisso de dioxinas
e furanos, pode estar provocando males ainda maiores. No h notcias de que essa
cadeia produtiva esteja sendo desenvolvida com monitoramento ambiental e da sade
dos trabalhadores nela envolvidos.
H necessidade de um diagnstico situacional da problemtica ambiental, em especial relacionado contaminao do solo pela quantidade de embalagens descartadas,
recolhidas e processadas de maneira no segura (BEDOR et al., 2009).
76
Tabela
No.
495 propriedades
(1.479 entrevistados)
235 propriedades
(290 entrevistados)
86,3% entregavam para coleta seletiva, 9,8% queimavam, 11,1% queimavam ou enterravam, 3,8%
armazenavam na prop.
Jacobson et al.,
Alto Sta Maria/ES,
2009
134 propriedades
Cachoeira
de Macacu/RJ, 2005
40 entrevistados
Lima et al.,
Pelotas/RS, 2008
135 entrevistados
Araujo et al.,
duas regies de
Pernambuco, 2007
Entrevistados: 27 no
distrito de Irrigao e
159 no Camocim de
So Felix
300 entrevistados
Recena et al.,
Culturama/MS, 2008
40 agricultores
(grupo focal)
77
78
79
Classe toxicolgica
Classe ambiental
Difenoconazol / Triazol
Score
I - Extremamente Txico
Epoxiconazol e Piraclostrobina /
Triazol e Strobilurina Opera
II - Muito Txico
Piraclostrobina / Comet
II - Muito Txico
80
Mesmo diante destas evidncias, Teixeira (2010) ressalta que os empresrios apresentam este procedimento como sendo seguro, pois utilizam tecnologias avanadas,
incluindo o uso de GPS, monitoramento constante e fiscalizao.
O problema da pulverizao area torna-se ainda mais grave devido grande quantidade de veneno que penetra no ambiente por diferentes vias. Estudo realizado pela
Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria) demonstra que mesmo em
condies ideais e com total controle sobre fatores como temperatura, calibrao e ventos, existe normalmenFigura Contiguidade existente entre
te uma deriva tcnica.
as reas de plantio e as residncias
Segundo os autores,
apenas 32% dos agrotxicos pulverizados
permanecem nas plantas. O restante vai para
o solo (49%) ou para
reas circunvizinhas
atravs do ar (19%)
(RIGOTTO, 2011).
Em relao contaminao do ambiente de trabalho, Pignati
(2007) alerta para a
intencionalidade inerente ao manuseio e
aplicao dos agrotxicos nas plantaes.
Segundo o autor (op. cit.), este processo est intrinsecamente relacionado ao efeito
destas substncias, pois com a finalidade de combater as pragas da lavoura, o homem
contamina intencionalmente o local de trabalho, que o prprio ambiente agrcola,
atingindo em maior ou menor intensidade os trabalhadores, a produo e o ambiente
(Pignati et al., 2007, p. 106).
A preocupao e o incmodo da populao residente na Chapada do Apodi levaram
a uma srie de lutas, inclusive pela proibio da pulverizao area. Fruto desse processo, no dia 8 de outubro de 2009 foi aprovada a Lei Municipal de nmero 1.478/09, proibindo a pulverizao area. Porm, apesar da intensa organizao popular, a legislao
agrotxicos, sade, ambiente e sustentabilidade
81
vigente no foi suficiente para conter a fora do capital. Apenas trs meses aps a aprovao da Lei , o prefeito de Limoeiro do Norte props Cmara Municipal sua revogao.
Conclui-se que a contaminao ambiental uma decorrncia da estratgia de expropriao das terras adotada pelo agronegcio como forma de expulsar os camponeses de suas terras. Este foi o caso da Comunidade do KM 69, apresentado por Lima,
Vasconcelos e Freitas (2011). De acordo com os autores (op cit.), essa comunidade quase foi destruda por meio do artifcio cruel das empresas de espalhar enxofre na direo das comunidades. Como corolrio, grande parte das famlias foi obrigada a vender
suas terras por um preo irrisrio ao agronegcio, ou mesmo abandon-las, devido
aos frequentes problemas de sade ocasionados pelo desconforto do contato com essa
substncia txica (MARINHO, 2010).
82
Ectromelia do Tibulare-fibulare
em Rhinella schneideri.
Esta situao scio-sanitria crtica foi apresentada s autoridades da sade, agricultura, educao, cmara municipal, sindicato rural patronal, sindicato dos trabalhadores
rurais e em duas audincias pblicas do Ministrio Pblico Estadual (MPE) do municpio, durante os anos de 2010 e 2011. Nesses eventos foram sugeridas vrias medidas de
mitigao dos danos ambientais e de sade e preveno contra os riscos dos processos
produtivos do agronegcio.
Nesse processo de pesquisa-ao, lideranas populares e alguns pesquisadores foram pressionados por gestores pblicos e por fazendeiros do agronegcio para recuarem com as pesquisas, denncias e aes populares. Porm vrios afetados resolveram caminhar com apoio na academia e nos movimentos organizados na busca do
desenvolvimento sustentvel, obtendo vrios apoios de instituies acadmicas e de
pesquisa, inclusive da Abrasco (CARNEIRO et al. 2012, p. 92).
agrotxicos, sade, ambiente e sustentabilidade
83
O movimento continua e neste ano de 2012 se avaliou que existem poucos avanos na mitigao/preveno dos danos/riscos como o no recuo de 300 metros das
pulverizaes em torno das residncias e crregos, explicitados em Termo de Ajuste
de Conduta (TAC/MPE) que os fazendeiros do agronegcio de Lucas do Rio Verde se
recusam a assinar e cumprir. Ainda existem vrios processos na Justia Criminal, onde
os chacareiros cobram indenizaes pelos danos s hortalias e poluio de suas guas
por agrotxicos.
Segundo levantamento de Nasrala Neto (2012) e Ferreira (2012), at julho de 2011
a Secretaria de Sade de Lucas do Rio Verde ainda no havia implantado a vigilncia
sade dos trabalhadores rurais e urbanos e a vigilncia sade ambiental se resumia
ao controle de vetores de doenas endmicas (dengue, malria e leishmaniose) e de
coliformes na gua potvel. Esses autores relatam tambm que a vigilncia ambiental e
de qualidade dos alimentos da Secretaria de Agricultura e INDEA do municpio continuam se resumindo ao treinamento do uso seguro de agrotxicos, recolhimento
de embalagens vazias e que h pouca fiscalizao do cumprimento das Leis e Normas
sobre as prevenes dos riscos dos agrotxicos sade, alimentos e ambiente.
Este tipo de processo produtivo ou a mxima explorao da natureza a curto prazo
para se produzir cereais, algodo, cana, commodities ou mercadorias agropecurias que
impacta negativamente na sade e no ambiente, executado em Lucas do Rio Verde, est
presente em 62 dos 141 municpios do Mato Grosso e em milhares de municpios do interior do Brasil. Nestes espaos necessrio que a sociedade organizada faa reflexes na
busca de modelo sustentvel de desenvolvimento (democracia, equidade, sade e preservao ambiental), passando pela transio agroecolgica da agropecuria brasileira.
84
do rio Paraguai. Tambm foram coletadas em 25 pontos das reas midas de plancie,
em remansos e em canais de irrigao de lavouras de arroz da bacia do rio Miranda
(afluente do Paraguai) (DORES et al., 2008; MIRANDA et al., 2008).
As amostras coletadas, acondicionadas em frascos de alumnio, foram congeladas
at o momento da anlise no Laboratrio de Anlise de Resduos de Biocidas da UFMT.
As coletas ocorreram durante o ano de 2005 na fase de seca (maio) e no incio do perodo de chuvas (dezembro), quando os agrotxicos, nutrientes e solos so escoados
para dentro dos rios com as primeiras enxurradas. Ao todo 32 princpios ativos foram
analisados, sendo 09 herbicidas e 23 inseticidas, por apresentarem uso mais frequente
nessa bacia e por serem passveis de anlise por cromatografia gasosa e espectrometria
de massa, incluindo os organoclorados persistentes (Dores et al., 2008; Miranda et al.,
2008).
Os compostos detectados nos sedimentos da bacia o rio Miranda, nas reas midas
de produo de arroz, foram: piretride (l-cialotrina), de baixa persistncia, mas de alta
toxicidade para peixes e invertebrados aquticos (encontrado no crrego Cachoeiro,
nos rios Aquidauana e Miranda); dieldrin e p,p DDE (metablito do DDT) em 100%
das amostras (1,2 a 14,4 mg/ kg); e o p,p DDT (1,0 mg/kg), persistente e de uso proibido, encontrado no rio Miranda e em um canal de irrigao de rizicultura em valor
elevado. Os trs ltimos foram detectados em valores acima dos limites da Resoluo
344/04 do Conama, implicando em alto potencial de efeitos adversos biota (Dores et
al., 2008; Miranda et al., 2008).
Os compostos detectados nos sedimentos da bacia do rio Paraguai, nas desembocaduras de seus afluentes que nascem no planalto dentro das culturas de soja, milho,
algodo e cana, foram: Piretroides (permitrina de 1,0 a 7,0 g /Kg, em cinco pontos e
l-Cialotrina de 1,0 a 5,0 g /Kg em trs pontos, Deltametrina de 20,0 g /Kg em um
ponto) e pp-DDT de 3,2 g /Kg em um ponto, persistente e de uso proibido. Os piretroides foram detectados em valores acima dos limites da Resoluo 344/04 do Conama, e o DDT proibido na agricultura desde 1985. Como a concentrao do DDT est
muito abaixo do DDE, isto pode representar contaminao persistente antiga. Esses
dados implicam em alto potencial de efeitos adversos biota pantaneira (Dores et Al.,
2008; Miranda et al., 2008).
A deteco de resduos de agrotxicos no planalto mato-grossense, onde nascem
os afluentes do rio Paraguai, e na plancie pantaneira (pantanal) preocupante. Em
termos ecolgicos o efeito crnico da contaminao, mesmo sob baixas concentraes,
implica em efeitos na sade e ambiente a mdio e longo prazo, como a diminuio do
agrotxicos, sade, ambiente e sustentabilidade
85
86
mercado externo, e suas exigncias comerciais, traz efeitos relevantes para a produo
local e, consequentemente, para as condies de sade dos trabalhadores.
Com a inteno de atender a estas demandas comerciais, produtores independentes
se organizam em cooperativas e outras associaes, para utilizar os servios de packing
house (local especfico de processamento - classificao, embalagem e expedio - das
frutas) ou para vender suas culturas aos grandes grupos produtores. Estes ltimos tambm possuem sua prpria produo, que, mesmo visando o mercado externo, ainda
abastecem os mercados nacional e local.
Aos colonos (agricultores que cultivam suas prprias culturas) restam negociar sua
produo com os atravessadores (comerciantes responsveis pela compra e venda de
produtos) que mantm o mercado local e alguma parcela do mercado nacional.
Para a anlise das condies de vida dos trabalhadores rurais da regio, consideramos que o agronegcio em Petrolina o vetor do desenvolvimento econmico e o
responsvel pelos diversos condicionantes de risco para a sade do trabalhador local.
O estudo de Bedor (2008) observou expressivo nmero de casos de intoxicao por
agrotxicos na regio da fruticultura em Petrolina-PE (RAMOS; SANTOS; BEDOR;
2007; RIBEIRO, 2006; PETROLINA, 2007; BRASIL, 2007; COSTA; NEVES, 2006),
alm do uso abusivo de lcool e de outras drogas (BRASIL, 2007). Foram observados
tambm casos de LER e DORT (RAMOS et al., 2007; BEDOR et al., 2007), relacionados
com as precrias condies de trabalho, com casos de desrespeito aos direitos humanos e trabalhistas (COSTA; NEVES, 2006; BEDOR et al., 2007), exposio a condies
inseguras no trabalho (BEDOR et al., 2007) exposio aos agrotxicos (BEDOR et al.,
2007; CAVALCANTI; BENDINI; PETROLINA, 2007); discriminao de gnero; falta
de segurana (PEREIRA; NAIR, 2006) e precrias condies salariais (BEDOR et al.,
2007; CAVALCANTI; BENDINI; PEREIRA; NAIR, 2006).
Ao mesmo tempo, pode-se observar como condies de vida, na zona rural de Petrolina, baixo acesso ao sistema de sade (AUGUSTO, 2005; PETROLINA, 2007; XAVIER, 2006), baixo acesso a tratamento e abastecimento da gua e precrio destino do
lixo (AUGUSTO, 2005), apesar do expressivo acesso ao esgotamento sanitrio (Petrolina, 2007). Tem-se, ainda, exposio ao abuso e explorao sexual (BEDOR et al., 2007)
e alto ndice de analfabetismo (CAVALCANTI; BENDINI; GRAZIANO, 2006). Por
outro lado, observa-se que boa parte da populao tem casa de tijolo e acesso energia
eltrica (AUGUSTO, 2005).
Segundo Pereira e Nair (2006), a cidade de Petrolina est inserida na regio demarcada pelo IBGE com baixo IDH, fator que, associado falta de oportunidades de
agrotxicos, sade, ambiente e sustentabilidade
87
88
89
90
preveno precoce, mediante o controle na exposio e em evidncias de efeito epigenticos, anteriores aos quadros de doena.
Foram levantados 108 diferentes nomes de agrotxicos comercializados na regio,
classificados em 71 ingredientes ativos e oito misturas. A classificao quanto a classe,
grupo qumico, toxicolgica e ambiental dos agrotxicos pode ser vista no Quadro 3.
Caracterizao
Classe de
agrotxicos
Grupo qumico
Classificao
toxicolgica
Classificao
Ambiental
Classificao
Quant.
Inseticida
56%
Fungicidas
30%
Herbicidas
7%
Reguladores de Crescimento
4%
Acaricidas
2%
Formicidas
1%
Organofosforados
25%
Piretride
9%
Benzimidazol
6%
Triazol
6%
Neocotinides
5%
Outros
49%
Extremamente txico
18%
Altamente txico
25%
Medianamente txico
38%
Pouco txico
19%
Altamente perigoso
9%
Muito perigoso
44%
perigoso
30%
Pouco perigoso
3%
Sem classificao
14%
91
92
transposio do Rio So Francisco quepode ser interpretado sob duas lentes: como
um projeto fantasia e outro real (COSTA E NEVES, 2006). O projeto fantasia (da
retrica) prev que 12 milhes de pessoas seriam beneficiadas; 300 mil hectares seriam
irrigados; 1 milho de empregos seriam gerados e que a transposio seria a soluo
definitiva para o problema da seca. Ele contraposto pelo projeto real (o que est escrito no licenciamento ambiental), no qual apenas 5% do territrio semirido brasileiro e 0,3 % da populao sero beneficiados; apenas 4% da gua sero destinados
chamada populao difusa; 26% sero para uso urbano e industrial e 70% sero para
irrigao da agricultura.
Deve-se considerar ainda que, nos usos econmicos, esto previstos: irrigao, carcinicultura, floricultura, polo industrial de Pecm-CE (siderurgia e metalurgia para
exportao). Todos esses fins esto sobrepostos ao uso preferencial para abastecimento
humano e animal, conforme a legislao. Os descaminhos e equvocos deste projeto,
aliados ao seu alto custo, inclusive com denncias de superfaturamento, mais um empreendimento do governo para atender aos interesses principalmente do agronegcio e
da bancada ruralista, entre outros.
93
para baratas, remdios para mosquitos, remdios para ratos etc. Alm disto, diversos produtos esto venda livremente nos supermercados para uso domstico. Muitos
so maquiados em engenhocas eltricas, sem odor, e propagandeados como produtos
ecolgicos ou que fazem bem sade.
Segundo dados da Associao Brasileira de Controle de Vetores e Pragas (ABCVP),
o setor de desinsetizao no Brasil movimenta em mdia mais de um bilho de reais
por ano e tem uma previso de crescimento anual de 10% nos prximos anos. Outro
dado de destaque que so atualmente 3.589 empresas atuantes em todo o pas, sendo que cerca de 50% esto na informalidade (ASSOCIAO BRASILEIRA DE CONTROLE DE VETORES E PRAGAS, 2012). O fato de movimentar um valor to grande
de capital acaba sendo um estmulo abertura de novas empresas, formalizadas ou no,
dificultando ainda mais as j precrias aes de fiscalizao.
Orgnicos vegetais
Orgnicos minerais
leos minerais
Fosforados: ( no sintticos )
Carbamatos: ( no Sistmicos )
Piretrides
Fermnios
Vegetal Precocenos
e Microrganismos Lactonas ( Avermectin)
Fonte: Disponvel em: http://www.encoppragas.com.br/inseticidas_92.html
94
A informalidade pode ser um agravante a mais, pois se coloca como um condicionante de vulnerabilidade do ponto de vista ambiental e ocupacional nas reas urbanas.
As empresas especializadas em controle de vetores e pragas urbanas prestam servio
em diversos ambientes, como reas hospitalares, clnicas, clubes, centros comerciais,
escolas, universidades, residncias, locais de entretenimento, condomnios residenciais
e comerciais, veculos de transporte coletivo, dentre outros (ANVISA, 2010a).
Essas empresas so responsveis pela manipulao, transporte, inutilizao e descarte de embalagens, aps o licenciamento ambiental e sanitrio concedidos pelas autoridades competentes (ANVISA, 2009b). Empresas atuantes de maneira informal muito
provavelmente no garantem a segurana da populao humana e do ambiente que a
cerca no processo de aplicao desses venenos.
Os inseticidas podem ser caracterizados cronologicamente, segundo o seu aparecimento e desenvolvimento (Quadro 4). Quase todos os inseticidas de primeira gerao
j no mais usados. Entre as excees, temos o enxofre, o cido brico e o arsnico, cujo
uso como formicida foi relatado por 20% das propriedades com produo de frutas na
Serra Gacha (FARIA et al., 2009). Os de segunda gerao so ainda os mais usados. Os
clorados foram proibidos, devido a seu elevado efeito residual no ambiente. Os demais
so largamente empregados. Dentre os inseticidas de terceira gerao, existem algumas
formulaes microbianas. Os ferormnios so os mais especficos, apesar de no serem
classificados como inseticidas. Os inseticidas de quarta gerao, como os juvenoides,
atuam no processo de formao da cutcula do inseto (quitina), inibindo o seu crescimento. Por fim, os inseticidas de quinta gerao esto ainda em processo de desenvolvimento, na sua maior parte.
Um caso emblemtico para ilustrar essa carga qumica a que est submetida principalmente a populao urbana o controle vetorial do mosquito da dengue, em que
esto envolvidos mais 40.000 agendes de sade (antigos guardas sanitrios). Este tema
foi tratado no livro Abordagem ecossistmica em sade - ensaios para o controle da dengue, organizado por Augusto et al. (2004).
Os autores, depois de estudarem a operao de controle vetorial do programa nacional do Ministrio da Sade, concluram que a poltica executada perdulria, perigosa e incua pelo fato de centrar no vetor as aes de controle da doena, mediante
venenos nocivos para a sade humana, e sem obter os resultados esperados. Pelo contrrio, o mosquito tornou-se resistente ao inseticida de eleio, o pas passou da condio epidmica para endmica / epidmica; os casos passaram a ter maior letalidade e as
crianas ficaram mais suscetveis (AUGUSTO, 1998).
agrotxicos, sade, ambiente e sustentabilidade
95
Fracasso geral do modelo, segundo Augusto (1998), mas mesmo assim ele permanece. Diante da resistncia do Aedes aegypti (vetor da dengue), o Ministrio da Sade introduziu outro larvicida: o diflubenzuron. A Secretaria Municipal de Recife teve
oportunidade de verificar o rpido aparecimento de metahemoglobinemia em trabalhadores da sade expostos a esse produto. Felizmente a deciso do Secretrio Municipal de Sade dessa cidade foi comprar, custa do errio local, o biocida orgnico,
mesmo sob presso do Ministrio da Sade para manter o uso do veneno nocivo.
Como vemos, o mesmo modelo qumico-dependente observado na lavoura aplicado sade pblica. O que grave, pois se espera das aes sanitrias proteo da
sade e no submisso a situaes de potenciais danos sade.
96
Outro grande problema invisibilizado a realizao de capina qumica com agrotxicos nas reas urbanas, que, embora seja proibida pela Anvisa (2010), continua sendo
realizada pela maioria dos municpios brasileiros. Este tema ser retomado na terceira e ltima parte do dossi a ser lanado em novembro de 2012, especialmente para
apresentar a perspectiva ecossistmica para o controle da dengue, malria, doena de
chagas e outras.
97
uma distribuio socialmente desigual dos riscos. Um estudo avaliou cerca de 2.000
domiclios em rea urbana de Pelotas-RS e confirmou que em 89% deles houve uso de
inseticidas nos dozes meses anteriores (DIEL et al., 2003). No momento da entrevista,
em 79% dos domiclios foram verificados quais inseticidas foram usados. Os piretroides e organofosforados foram os grupos qumicos encontrados com maior frequncia.
Alm das telas nas janelas serem mais comuns em domiclios de melhor condio econmica, observou-se uma ntida influncia da renda em relao ao tipo qumico, sendo
os piretroides mais utilizados nos domiclios de melhor renda (em pastilhas e aerosis)
e os organofosforados predominantes em domiclios mais pobres (menor custo?).
Assim as desigualdades sociais se manifestam at na escolha de tipos qumicos de
inseticidas com predomnio dos tipos de maior toxidade (organofosforados) entre as
pessoas mais vulnerveis.
Uma questo que tem chamado a ateno dos profissionais e pesquisadores da rea,
bem como representantes de organizaes sociais e ambientais, o fato dos produtos
veterinrios estarem submetidos a uma legislao diferente dos demais agrotxicos,
embora tenham funes equivalentes (inseticidas, por exemplo) e muitas vezes apresentarem o mesmo ingrediente ativo de outros agrotxicos de uso agrcola.
Uma publicao recente (SILVA et al., 2012) informa que, atualmente, existem 7.222
produtos de uso veterinrio autorizados para comercializao no pas, com destaque
para os antibiticos e os produtos de combate aos ectoparasitas (em particular os carrapaticidas). Esses produtos so regulados exclusivamente pelo Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA).
Com relao aos carrapaticidas e a outros produtos de controle de ectoparasitas,
uma importante questo se coloca como tema de grande relevncia para a sade coletiva no pas: esses produtos so formulados base de princpios ativos considerados
agrotxicos, agentes qumicos reconhecidamente prejudiciais para a sade humana e
para o ambiente.
No Brasil, a Lei 7.802, de 11 de Julho de 1989, prev que o registro de agrotxicos
deve se dar mediante aprovao por comit, que inclui os Ministrios da Agricultura,
Pecuria e Abastecimento (que avalia a eficincia agronmica dos produtos), da Sade
(que avalia o potencial txico dos produtos sade humana) e do Meio Ambiente (que
98
avalia o potencial txico dos produtos para o ambiente e a biota). Isso leva a uma anlise mais abrangente dos riscos relacionados ao uso desses agentes qumicos nas diversas
atividades a que se destinam.
J os agrotxicos de uso veterinrio so analisados exclusivamente pelo MAPA,
conforme estabelecido pelo decreto 5.053 de 22/04/2004 e atualizado no decreto 6.296
de 11/12/2007. Assim, produtos formulados com o mesmo princpio ativo, numa mesma concentrao, podem ter avaliaes distintas, para fins de registro, dependendo de
sua utilizao na agricultura ou na pecuria. Esse fato coloca algumas questes para
anlise:
a) estaro os trabalhadores da pecuria mais vulnerveis aos efeitos nocivos desses
pesticidas que os trabalhadores da agricultura?;
b) haver influncia desse processo de registro e controle diferenciado sobre a percepo de riscos dos trabalhadores da pecuria?;
c) haveria diferena sobre as prticas de utilizao de pesticidas de uso veterinrio,
levando tanto a uma maior exposio ocupacional e ambiental a estes agentes txicos?
Os autores conduziram um estudo para avaliar a percepo de riscos de trabalhadores sobre agrotxicos de uso veterinrio. No que diz respeito aos trabalhadores da
pecuria leiteira, a invisibilidade de riscos associados ao manejo de agrotxicos de uso
veterinrio aumenta sua exposio a esses agentes qumicos, e pode acarretar em graves
problemas de sade - muito dos quais com sintomas tardios e consequncias srias.
Esta mesma invisibilidade de riscos acaba por levar a um negligenciamento (nem sempre intencional) do respeito ao perodo de carncia entre a aplicao de agrotxicos de
uso veterinrio no gado e a retirada do leite para consumo humano. E, assim, acaba
por colocar em situao de risco outro - e muito mais numeroso - grupo populacional,
representado pela populao consumidora de leite (SOARES et al., 2012).
99
| parte 2
Lutas,
resistncias,
(re)construo
dos territrios e
sustentabilidade
100
Imveis
rea Total
Estratos de
rea total (ha)
N de imveis
Em %
Em ha
Em %
At 10
1.744.540
33,7
8.215.337
1,4
4,7
De 10 a 25
1.316.237
25,4
21.345.232
3,7
16,2
De 25 a 50
814.138
15,7
28.563.707
35,1
De 50 a 100
578.783
11,2
40.096.597
69,3
De 100 a 500
563.346
10,9
116.156.530
20,3
206,2
De 500 a 1000
85.305
1,6
59.299.370
10,4
695,1
De 1000 a 2000
40.046
0,8
55.269.002
9,7
1.380,10
Mais de 2000
39.250
0,8
242.795.145
42,5
6.185,90
Total
5.181.645
100
571.740.919
100
110,3
processo, segundo o autor, inerente ao capitalismo e, portanto, insupervel: ou convive-se com ele, administrando-o politicamente, procurando minimizar os seus efeitos
devastadores, produtores de pobreza e misria, ou supera-se o capitalismo (p. 03-04).
No que diz respeito aos trabalhadores(as) rurais organizados em sindicatos e movimentos sociais, os dois Planos Nacionais de Reforma Agrria (1985 e 2003) at hoje
formulados no foram implementados. A Reforma Agrria continua alimentando o
sonho das populaes rurais que se recusam a migrar para a cidade, esperana de
mudana de modelo de desenvolvimento agrcola.
A ocupao de terras uma das principais estratgias dos movimentos socioterritoriais do campo no Brasil e representa um dos momentos de luta pela terra, pois
com a ocupao e conquista de assentamentos rurais se inicia uma nova etapa: ainda
necessrio conquistar condies de vida e de produo na terra, um outro tipo de
desenvolvimento que possibilite o estabelecimento da agricultura camponesa. Dados
sobre as lutas no campo e a realizao da Reforma Agrria tm demonstrado que esta,
no Brasil, s avana com presso dos movimentos sociais (GIRARDI, 2008).
Com o objetivo de sistematizar os dados de ocupaes de terra e assentamentos
rurais foi criado em 1999 o projeto Dataluta (banco de dados da luta pela terra). No
perodo compreendido entre 2000 e 2007, foram registrados 89 movimentos socioterritoriais atuantes no campo (que organizaram e realizaram pelo menos uma ocupao)
agrotxicos, sade, ambiente e sustentabilidade
101
e seis movimentos estiveram presentes com maior intensidade na luta pela terra: MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), CONTAG (Confederao Nacional
dos Trabalhadores na Agricultura), MLST (Movimento de Libertao dos Sem Terra),
CPT (Comisso Pastoral da Terra), FETRAF (Federao da Agricultura Familiar) e
OLC (Organizao da Luta no Campo). Territorializado em quase todo o pas (com
exceo dos estados do Amazonas, Acre e Amap), o MST foi o movimento que mais
realizou ocupaes de terra nesse perodo: responsvel por 2.188 ocupaes, das quais
estavam participando 376.229 famlias (SOUZA & FERNANDES, 2009).
Os dados de conflitos entre latifundirios e movimentos sociais no campo e o grau
de explorao violenta a que os trabalhadores rurais esto expostos nas fazendas pelo
interior do Brasil oferecem um retrato do que significa o desenvolvimento da agricultura capitalista nos ltimas dcadas, em mais uma faceta conservadora da modernizao. Entre 1985 a 2007, a CPT registrou 1.117 ocorrncias de conflitos no campo com
morte, sendo que 1.493 trabalhadores rurais foram assassinados. Em 2008 e 2009 foram
registrados 53 assassinatos. Do total de conflitos, s 85 haviam sido julgados at 2010,
tendo sido condenados 71 executores dos crimes, absolvidos 49 e condenados somente
19 mandantes, dos quais nenhum se encontrava preso naquele ano. Mais que uma face
conservadora da questo agrria no Brasil, esses dados denunciam de forma clara o
poder e o domnio dos grandes proprietrios de terras sobre o judicirio. Alm disso,
em 2007, 2008 e 2009, foram apuradas, respectivamente, 152, 216 e 169 denncias de
trabalho escravo e 5.973, 5.266 e 4.283 trabalhadores foram libertados. Foram fiscalizados, nesses anos, respectivamente, 57,36%, 77,14% e 70,42% dos casos registrados.
Os casos no apurados pelo Ministrio do Trabalho se concentram nas regies Norte e
Nordeste e o trabalho escravo se concentra nas regies Norte, Nordeste e Sudeste, mas
ocorre em todo o pas (CPT, 2010).
A palavra agronegcio tem origem na dcada de 1990 e representa uma construo
ideolgica na tentativa de consolidar uma imagem de novo modelo de desenvolvimento da agricultura: sofisticado, eficiente, produtivo, em contraposio imagem da
agricultura capitalista vinculada ao latifndio, que carrega a identidade da explorao, do trabalho escravo, da extrema concentrao da terra, do coronelismo, do clientelismo, da improdutividade e do desmatamento. Na verdade, os dois representam
o mesmo modelo, que domina historicamente a produo agrcola no pas: grandes
propriedades de terras que produzem para exportao, mas que sofre modificaes e
adaptaes em suas diferentes fases, intensificando a explorao da terra e do homem
(FERNANDES, 2004).
102
Fonte: www.conflitoambiental.icict.fiocruz.br,
pesquisa realizada em 30 de maio de 2012.
103
104
105
plo, que o projeto trar baixo impacto ao meio antrpico, pois a populao local rarefeita e vive de uma economia pouco significativa devido escassez de recursos hdricos,
no sendo to afetada com a desapropriao (BRAGA, 2010).
A negao e desqualificao do modo de vida tradicional em relao ao modelo da
modernizao agrcola aproximam-se do que vem sendo conceituado como racismo
ambiental (RIGOTTO et al., 2012). Os argumentos apresentados no EIA sobre os benefcios para a populao trazidos pelo projeto de irrigao s podem ser compreendidos
enquanto retrica, face s evidncias contrrias j fartamente divulgadas.
Discutindo o tema da construo de alternativas ao modelo de desenvolvimento
hegemnico, em sua fragilidade e potencialidades, Santos e Rodrigues afirmam:
A insistncia na viabilidade das alternativas no implica, contudo, uma
aceitao do que existe. A afirmao fundamental do pensamento crtico
consiste na assero de que a realidade no se reduz ao que existe. A realidade um campo de possibilidades em que tm cabimento alternativas que
foram marginalizadas ou que nem sequer foram tentadas. Neste sentido, a
funo das prticas e do pensamento emancipadores consiste em ampliar
o espectro do possvel atravs da experimentao e da reflexo acerca de
alternativas que representem formas de sociedades mais justas. Ao apontar
para alm daquilo que existe, as referidas formas de pensamento e de prtica pem em causa a separao entre realidade e utopia e formulam alternativas que so suficientemente reais para no serem facilmente descartadas
por serem inviveis (SANTOS e RODRIGUES, 2005, p. 25).
106
107
108
Em 2011, foi realizado, em Salvador, o Encontro Nacional de Dilogos e Convergncias: um espao para unir experincias em defesa de um modelo soberano e
justo para a vida no planeta11, organizado pela Articulao Nacional de Agroecologia
(ANA), Frum Brasileiro de Economia Solidria (FBES), Rede Brasileira de Justia
Ambiental (RBJA), Rede Alerta contra o Deserto Verde (RADV), Associao Brasileira de Sade Coletiva (Abrasco), Associao Brasileira de Agroecologia (ABA), Frum
Brasileiro de Soberania e de Segurana Alimentar e Nutricional (FBSSAN), Marcha
Mundial de Mulheres (MMM) e Articulao de Mulheres Brasileiras (AMB).
Este encontro buscou a relao entre os temas Agroecologia, Sade e Justia Ambiental, Soberania Alimentar, Economia Solidria e Feminismo, atravs de dilogos,
trocas de ideias, conhecimento, e tambm deconvergncias,porque teve como objetivo estimular que experincias e pensamentos que levem construo de um modelo de
desenvolvimento justo com o meio ambiente e os seres humanos se encontrem e unam
foras para enfrentar a forma predatria e exploratria em curso hoje, apontando, coletivamente, caminhos concretos de prticas diferenciadas.
Como expresso das convergncias, no Encontro foi lanado o Intermapas12, entendido enquanto ferramenta dos movimentos sociais, redes e organizaes para apoiar
lutas nos territrios, que rene informaes de quatro iniciativas: Agroecologia em
Rede, Farejador da Economia Solidria, Mapa da Injustia Ambiental e Sadee Mapa
dos projetos financiados pelo BNDES.
O Farejador da Economia Solidria disponibiliza os dados do Mapeamento da Economia Solidria, realizado entre 2005 e 2007, realizado pela Secretaria Nacional de Economia Solidria do Ministrio do Trabalho e Emprego (SENAES/MTE), em parceria
com o Frum Brasileiro de Economia Solidria. Foram registradas 21.579 experincias
em todo o Brasil; destas, 139 so empreendimentos solidrios possveis de rastrear com
a palavra-chave agricultura (Figura 11). So cooperativas, associao de mulheres,
grupos de pequenos agricultores, centros de agroecologia, feiras da agricultura familiar,
entre outras experincias. Todas elas tambm expressam a fora e viabilidade do desenvolvimento econmico em outros marcos, opostos queles dos oligoplios concentradores de renda e produtores de desigualdades sociais e iniquidades em sade.
Por fim, o Mapa dos Projetos Financiados pelo BNDES, organizado por um conjunto
de organizaes e movimentos sociais em torno da Plataforma BNDES, democratiza as
informaes sobre os investimentos desse Banco, que tem determinado o rumo do desen11
12
www.dialogoseconvergencias.org
www.fbes.org.br/intermapas
109
volvimento do pas. H atualmente 1.359 registros disponveis para consulta nesse mapa.
Os financiamentos do BNDES tanto indstria qumica como indstria de agrotxicos,
entre 2001 e 2010, somaram 879 milhes e 463 mil reais (SILVA & COSTA, 2012).
Figura
110
111
Atravs do Intermapas possvel verificar, por exemplo, que regies onde h investimentos do BNDES coincidem com algumas regies de intensificao de conflitos por
injustia ambiental no Brasil. Com tamanha concentrao de terras, renda e poder no
pas, com a induo do modelo do agronegcio da agricultura pelo Estado brasileiro e
ausncia de polticas pblicas que promovam a agroecologia, as perspectivas em torno
da Economia Verde, proposta pela ONU, trazem grandes preocupaes, pois no h
indicativos de que durante a Rio+20 se far um balano dos ltimos 20 anos onde se
avalie as causas estruturais para a crise ecolgica, social e econmica por que passa o
modelo de sociedade atual.
112
A Carta de Salvador guarda convergncia com o relatrio da 1 Conferncia Nacional de Sade Ambiental, realizada em 2009, com o tema A sade ambiental na cidade,
no campo e na floresta: construindo cidadania, qualidade de vida e territrios sustentveis. Em suas diferentes etapas a Conferncia mobilizou dezenas de milhares de pessoas, onde foi aprovada, com o maior nmero de votos, a diretriz:
Mudana no modelo de desenvolvimento econmico de modo a promover a
qualidade de vida e a preservao do ambiente, e a sade desta e das futuras geraes com a proteo da agrobiodiversidade e da biodiversidade urbana e rural,
visando sustentabilidade socioambiental responsvel. (CNSA, 2010, p. 52)
113
114
115
| parte 2
Lacunas de
conhecimento
e de poltica:
aes que o
Estado deveria
fazer e no faz
116
desencadeiam os mesmos efeitos e que possuem modos de ao semelhantes pode potencializar ou atuar de forma sinrgica para o aparecimento da toxicidade, mesmo que
os limites mximos de exposio de cada tipo sejam obedecidos, segundo as legislaes
pertinentes,. Existem enormes lacunas sobre os efeitos acumulados de diferentes agrotxicos para a sade humana e os ecossistemas.
A avaliao do contexto de vulnerabilidade e situaes de risco das populaes expostas deve deveria considerar a exposio aos agrotxicos e outras substncias qumicas, agentes biolgicos, fsicos e psicolgicos e tambm os de ordem poltica e econmica que impactam nos perfis de morbi-mortalidade de modo a avaliar e fundamentar
aes para injustias ambientais.
H necessidade de uma profunda reviso dos conceitos utilizados em toxicologia
que ainda seguem a linearidade entre dose-efeito desde Paracelso. Quando esto envolvidas no processo substncias cancergenas e imunotxicas, por exemplo, no possvel aceitar limites seguros de exposio. Esta questo que foi uma verdade cientfica,
hoje no mais se sustenta.
So enormes os desafios contemporneos produo do conhecimento e ao campo
cientfico. A cincia moderna, nascida nas sociedades ocidentais e datada na emergncia histrica do projeto burgus de mundo, vem cumprindo o papel imprescindvel de
subsidiar o desenvolvimento da civilizao do capital. Se muitos benefcios so frutos
do sistema tcnico-cientfico, reconhecemos que a revoluo tecnolgica no externa
s relaes sociais e de poder e que vivemos um mundo em que os maiores perigos
j no mais advm da peste ou da fome, mas, sim, das prprias intervenes feitas por
meio deste mesmo sistema tcnico-cientfico (HAESBAERT e PORTO-GONALVES,
2006, p. 106; 122-3).
Diante de uma crise histrica sem precedentes, estrutural, profunda, do prprio
sistema do capital (MSZROS, 2009, p.42), constatamos o desenvolvimento do
novo modelo de acumulao de capital, que no s trabalha mediante a extrao de
mais-valia e os tradicionais mecanismos de mercado, mas desenvolve prticas predatrias, a fraude e a extrao violenta, aproveitando as desigualdades e assimetrias entre os grupos sociais, para pilhar os recursos dos mais frgeis, produzindo injustias e
racismo ambiental (ACSELRAD, HERCULANO E PDUA, 2004). Vivenciamos ainda a industrializao da cincia: a priorizao de objetos de estudo que interessam ao
mercado e so financiados por grandes grupos econmicos, a despeito das demandas
de conhecimento de grupos sociais mais vulnerveis; a elaborao de pareceres com
resultados previamente encomendados e acordados; a omisso da dvida e da ignornagrotxicos, sade, ambiente e sustentabilidade
117
O SUS no tem contado com estmulos polticos, tcnicos e financeiros para implantar a vigilncia da sade de populaes expostas aos agrotxicos. O Ministrio da
Sade discute h cinco anos um Plano de Vigilncia e Ateno Sade para populaes Expostas a Agrotxicos e, at o momento, no conseguiu pactuar com estados e
municpios a forma e os recursos a serem direcionados para implement-lo O suporte
laboratorial e tecnolgico, seja para monitorar resduos nos alimentos e no meio ambiente,seja para monitoramento biolgico dos trabalhadores expostos, permanece bastante limitado (h dcadas), apesar da necessidade crescente. Ser que essa questo no
mereceria prioridade? Ou a educao relacionada aos agrotxicos deve continuar sendo realizada pelos representantes das empresas do setor? Consideramos que o MS no
118
tem sido equitativo na priorizao de recursos para questes como a dos agrotxicos.
Hoje existe no Brasil um pacto poltico/econmico em que predominam os interesses da bancada ruralista para uma maior liberalizao do uso de agrotxicos no mbito
do legislativo (mais de 40 projetos de lei nessa direo), no executivo (presses sobre os
rgos reguladores como a Anvisa), no judicirio (impunidade nas mortes no campo),
na pesquisa (mais de 95% dos recursos da Embrapa esto voltados para o agronegcio)
e na mdia (o agronegcio possui at canais de televiso).
A novidade, em termos de uma reao organizada da sociedade civil frente a essa situao, foi o lanamento da Campanha Permanente Contra os Agrotxicos e Pela Vida,
no dia Mundial de Sade em abril de 2011, com a formao de Comits Populares em
quase todos os estados brasileiros, tendo como principal bandeira de luta para 2012 o
banimento dos agrotxicos j proibidos em outros pases.
A sociedade cientfica tambm tem reagido, a exemplo do lanamento do processo
de elaborao da primeira parte do Dossi sobre os Impactos dos Agrotxicos na Sade
dos Brasileiros (www.abrasco.org.br). Uma das principais concluses desse documento
cientfico interdisciplinar, a constatao de que no so mais necessrias evidncias
cientficas para uma ao clara de Estado visando vigiar, proteger e promover a sade
das populaes envolvidas. hora de se garantir espao na agenda poltica e financeira
do SUS para viabilizar a estruturao da Vigilncia, Ateno e Promoo da Sade relacionada questo dos agrotxicos. A articulao intersetorial, a adoo de polticas de
incentivo agroecologia, articulada com a luta pela Reforma Agrria, so as bases da
luta hoje para que o modelo qumico-dependente seja alterado.
So muitas ainda as questes de pesquisa e de falta de informao sobre os agrotxicos e sua circulao no ambiente, decorrentes dos processos produtivos e de consumo,
como vimos acima. As informaes devem estar acessveis a todos os interessados, tanto dos nveis governamentais como da sociedade civil. Focar nos agrotxicos de baixa
dose eorganizar um sistema de informao do cncer em grupos de vulnerabilizados
so prioridades para ontem.
119
1. Quantos e quais os agrotxicos esto no mercado e o que sabemos de sua nocividade? Esta pergunta nos possibilita organizar o sistema de informao intersetorial e disponibiliz-lo para o pblico interessado, alm de contribuir para
estabelecer prioridades nas aes de vigilncia e proteo da sade humana e
do meio ambiente.
2. O que se sabe acerca da forma como, no contexto real da produo e do consumo, os agrotxicos penetram e se acumulam no meio ambiente, bem como
sobre os processos de biotransformao gerados nos organismos, afetando a
sade? Esta questo fundamental para orientar as medidas de ateno sade
e de mitigao ambiental.
3. Quais so os riscos ecolgicos e para a sade humana conhecidos e os presumidos decorrentes da utilizao dos agrotxicos? Com estas indagaes podemos
nos antecipar s situaes geradoras de doenas mediante aes de sade, ambientais, educacionais, de saneamento etc.
4. Quem so os grupos populacionais mais vulnerabilizados? fundamental reconhecer aqueles que potencialmente podem se expor mais aos agrotxicos e
estar em maior perigo, especialmente os trabalhadores, as crianas e as mulheres gestantes.
5. Quais so as iniciativas das polticas atuais em curto prazo para reduzir ou eliminar esses riscos? muito importante que as aes sejam desencadeadas no
curto prazo sem protelaes, especialmente aquelas que visem impedir a exposio.
120
Considerando: a fragmentao dos dados; a diversificao de fontes difusas; a escassa informao sobre a degradao, transformaes, produtos derivados e exposio
humana; que a vigilncia ambiental se concentra principalmente em meios fluidos ambientais (ar, gua) e com frequncia se esquece do solo, dos sedimentos e dos produtos
de consumo humano, faz-se necessrio estabelecer um fluxo dos agrotxicos e seus
indicadores de monitoramento / vigilncia para:
Identificar as lacunas dos dados de ensaio de toxicidade.
Identificar as lacunas nos dados sobre vigilncia/ exposio.
Identificar lacunas na informao sobre as externalidades ambientais.
Identificar a magnitude dos impactos.
Identificar prioritariamente os impactos em grupos sentinelas e em crianas.
A interveno nesse campo deve considerar a insuficincia de conhecimentos dos
efeitos sobre a sade humana e sobre o ambiente, que a tomada de posio tardia frente
algumas substncias extremamente txicas (asbestos, benzeno, DDT) so alertas importantes, bem como as evidncias de associao entre exposio e aumento de cncer,
alergia e desregulao endcrina persistentes.
Os objetivos principais dessa poltica seriam proporcionar um nvel elevado de proteo da sade humana e do meio ambiente para geraes atuais e futuras; proporcionar
justia e soberania ambiental. Os princpios que devem reger as aes so a precauo e
a substituio de necessidades, mediante a revalorizao do natural e do mais saudvel.
121
| parte 2
Doze pontos
prioritrios
contra o uso
dos agrotxicos
e na perspectiva
da vida
122
Proteo da biodiversidade;
123
referencias
Referncias Bibliogrficas
bibliograficas
ABRAMOVAY, R. Diversificao das economias rurais no Nordeste. Braslia; So Paulo: Ministrio do Desenvolvimento Agrrio;
Ncleo de Estudos Agrrios e Desenvolvimento Rural (NEAD), 2002 (Relatrio Final). 45p.
AGUILAR, A.; RAGA, J. A. The Striped Dolphin Epizootic in the Mediterranean Sea.
Ambio, v. 22, n.8, p. 524-528, 1993.
ALBUQUERQUE, L. A. Conveno de Estocolmo sobre Poluentes Orgnicos Persistentes. Santa Catarina. Dissertao (Mestrado em Relaes Internacionais) - Centro de
Cincias Jurdicas da Universidade Federal
de Santa Catarina, 2003.
124
br/index.php/ITF/article/viewFile/92/117>.
Acessado em: 07 mai 2009.
BARTHES, R. Mitologias. 11. ed. Rio de Janeiro, : Bertrand Brasil, 2001.
BATISTA G. C. Curso de Especializao por
tutoria distncia Toxicologia e Impacto Ambiental de inseticidas e acaricidas.
Mdulo 8. Braslia: Universidade Federal
de Viosa/ABEAS, 1999.
BEDOR C. N. G, RAMO L. O, REGO M. A. V,
PAVO A. C, AUGUSTO L. G. S. Avaliao
e reflexos da comercializao e utilizao de
agrotxicos na regio do submdio do Vale
Do So Francisco. Revista Baiana de Sade
Pblica. 69 v.31, n.1, p. 68-76, jan./jun. 2007.
BEDOR, C. N. G.; AUGUSTO, L. G. S. et
al. Vulnerabilidades e situaes de riscos
relacionados ao uso de agrotxicos na fruticultura irrigada.Rev. bras. epidemiol. 2009,
vol.12, n.1, pp. 39-49.
BENATTO, A. Sistemas de informao em
sade nas intoxicaes por agrotxicos e
afins no Brasil: situao atual e perspectivas.
Dissertao (Mestrado). Faculdade de Cincias Mdicas, Unicamp, Campinas. 2002.
BOMFIM, J. D. Movimentos sociais de trabalhadores no rio So Francisco. Revista Eletrnica de Geografia y cincias sociales. N.
45. Agosto de 1999. Disponvel em: <http://
www.ub.es/geocrit/sn-45-30.htm>.
BOURDIEU, P. O Poder Simblico. 11. ed. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
BRASIL, Decreto n. 4.074 de 04 de janeiro de
2002. Regulamenta a Lei n 7.802/89 (lei federal dos agrotxicos). Braslia: Dirio Oficial da Unio, 08/01/2002.
BRASIL, Lei n. 7.802, de 12 de julho de 1989.
(Lei federal dos agrotxicos). Braslia: Dirio
125
Referncias Bibliogrficas
126
127
Referncias Bibliogrficas
CODEVASF (Companhia de desenvolvimento do Vale do So Francisco e Parnaba). Programas e aes: Irrigao: Histrico e vantagem. Disponvel em <http://
www.codevasf.gov.br/programas_acoes/
irrigacao/historico-e-vantagens-1/historico-e-vantagens/?searchterm=combate%20
a%20pragas%20e%20doenas> Acesso em:
02 de junho de 2007.
COSTA, C.; NEVES, C. S. Relatorias nacionais
em direitos humanos, econmicos e sociais,
culturais e ambientais. O projeto de transposio do rio So Francisco e as violaes do
direito humano ao trabalho. Informe 2006,
p.170-174. Disponvel em: <http://cienciasclimaticas.blogspot.com.br/2012/05/transposicao-do-rio-sao-francisco-onde.html>.
Acesso em: 21/05/2012.
COSTA, F. A. Transposio do Rio So Francisco, 2006.. Disponvel em: <http://cienciasclimaticas.blogspot.com.br/2012/05/transposicao-do-rio-sao-francisco-onde.html>.
Acesso em: 8/6/2012.
CPT. Conflitos no Campo Brasil 2009. So
Paulo: Expresso Popular, 2010. 200 p.
CUNHA, M. L. O. N. Mortalidade por cncer e a utilizao de pesticidas no estado
de Mato Grosso. (Dissertao de Mestrado),
So Paulo: Faculdade de Medicina da Santa
Casa de So Paulo, 2010. 78p.
CURVO, H. R. M. Indicadores de sade ambiental relacionados ao uso agrcola de
agrotxicos e cncer no estado de Mato
Grosso Brasil. (Dissertao de mestrado).
Cuiab, : UFMT/ISC, 2012. 132p.
DE GUISE, S.; MARTINEAU, D.; BELAND, P.;
FOURNIER, M. Possible Mechanisms of Action of Environmental Contaminants on St.
Lawrence Beluga Whales (Delphinapterus
128
129
Referncias Bibliogrficas
130
131
Referncias Bibliogrficas
LONDON, L.; BAILIE, R. Challenges for improving surveillance for pesticide poisoning:
policy implications for developing countries.
International journal of epidemiology.
2001;30(3):564-70.
MIRANDA, A. L. C. Bioacumulao de Poluentes Organopersistentes (POPs) em Trara (Hoplias malabaricus) e seus Efeitos In
Vitro em Cluas do Sistema Imune da Carpa (Cyprinus carpio). Dissertao (Mestrado
em Biologia Celular e Molecular) Programa de Ps-Graduao em Biologia Celular e
Molecular da Universidade Federal do Paran. Curitiba, 2006.
132
133
Referncias Bibliogrficas
134
PIGNATI, W. A. Os riscos, agravos e vigilncia em sade no espao de desenvolvimento do agronegcio no Mato Grosso [tese de
doutorado]. Rio de Janeiro: Fiocruz/Ensp,
2007.
PIGNATI, W. A; MACHADO, J. M. H. O agronegcio e seus impactos na sade dos trabalhadores e da populao do Estado de Mato
TERHAUS, A. D. M. E. Contaminant-Related Suppression of Delayed Type Hypersensitivity and Antibody Reesponses in Harbor
Seals Fed Herring from the Baltic Sea. Environrnental Health Perspecctives, v. 103, n.2,
p. 162-167, 1995.
RUEGG, E. F. Impacto dos agrotxicos sobre
o ambiente, a sade e a sociedade. So Paulo: cone, 1986. 94p.
SAADEH, A. M.; ALALY, M. K.; FARSAKH,
N. A.; GHANI, M. A. Clinical and socio demographic future of acute carbamate and
organophosphate poisoning: a study of adult
patients in North Jordan. Journal of toxicology - Clinical toxicology, v. 34, p. 45-51,
1996.
SALAZAR, A. L. Transgnicos: crescimento
sem limites.. In: Rede de Agricultura Sustentvel. Disponvel em: http://www.agrisustentavel.com/trans/artigos/limite.html.
Acessado em: 20 de maio de 2012.
SANTANA, V. et al. Acidente de Trabalho intoxicao por agrotxicos em trabalhadores
da agropecuria 2000 2011. Instituto de
Sade Coletiva. Centro Colaborador de Vigilncia de Acidentes de Trabalho. Salvador,
maro de 2012, Edio 4, ano II.
ROSS, P. S. Seals, Pollution, and Oisease: Environnmental Contaminant-Induced Immunosupression. Dissertation (Ph.D.) - Universiteit Utrecht, Netherlands. Utrecht: 1995.
135
Referncias Bibliogrficas
136
THOMPSON, J. B. Ideologia e Cultura moderna: teoria social crtica na era dos meios
de comunicao de massa. 8. ed. Petrpolis:
Vozes, 2009.
UECKER, M. E. Exposio aos agrotxicos
em Mato Grosso e ocorrncia de malformaes congnitas em crianas menores de
cinco anos de idade atendidas em Hospitais
de Cuiab. [dissertao de mestrado]. Cuiab, MT, UFMT/ISC, 2012, 94p.
UNEP. Workshop to Develop a Global POPs
Monitoring Programme to Support the
Effectiveness Evaluation of the Stockholm
Convention. UNEP, Geneva, 2003.
US EPA ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY. [Registration Eligibility
Decision for Endossulfam], nov. 2002. Disponvel em: <http://www.epa.gov/oppsrrd1/
REDs/endossulfam_red.pdf>. Acesso em:
03/03/ 2009.
VEIGA, J. E. Cidades Imaginrias, o Brasil
menos urbano do que se calcula. Campinas:
Editora Autores Associados, 2002. pp. 59-66.
WEID, J. M. Agricultura Familiar: sustentando
o insustentvel. Agriculturas: experincias
em agroecologia - Financiamento da transio agroecolgica. vol.7, n.2. p 4 7. Jul.
2010.
WHO. World Health Organization. Relatrio Final . Quinquagsima sexta sesso do
Comit Regional Africano da OMS (AFR/
RC56/24). Adis Abeba, Repblica Federal e Democrtica da Etipia 28 de Agosto a 1 de Setembro de 2006.Disponvel em
< http://afrolib.afro.who.int/RC/RC%2056/
RC56_RelFin_Por.pdf> Acessado em 20 de
maio de 2012.
137
Referncias Bibliogrficas
anexo
Lista bibliogrfica
O campesinato na contemporaneidade do atual modelo agrcola
e a relao com os agrotxicos
BELLO, Walden (2007). Os pequenos camponeses lutam contra os paradigmas modernos obsoletos. Quito: Amrica Latina en
Movimiento, 27 julho, 7 p. Disponvel em:
<http://alainet.org/active/18832&lang=es>.
BORRAS, S. Jr (2009). Agrarian change and
peasant studies: changes, continuities and
challenges an introduction. JPS - Journal
of Peasant Studies, 36:1, pp. 5-31.
CALUS,
Mieke
e
HUYLENBROECK
Huylenbroeck, Guido Van. The Persistence
of Family Farming: A Review of Explanatory Socio-economic and Historical Factors. Journal of Comparative Family Studies. Comp Fam Stud 41 n 5 Aut 2010; p.
639-660. Gent, Belgium.
CARVALHO, Horacio Martins . O campesinato contemporneo como modo de produo e como classe social. Curitiba, maro,
mimeo (vrios sites), 43 p, 2012.
______. Sete teses sobre a agricultura camponesa. In: PETERSEN, Paulo (org). Agricultura familiar camponesa na construo do
futuro. Rio de Janeiro: AS-PTA, 2009, p.
17-32.
138
GUZMN, Eduardo Sevilla e MOLINA, Manuel Gonzlez . Sobre a evoluo do conceito de campesinato. Braslia, Via Campesina do Brasil, maro, 2005.
www.abrasco.org.br