Linhagens Da Umbanda - Caboclos I

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Sociedade:. Ecumnica:. do Tringulo: e da Rosa:. Dourada:.

Fraternidade:. Espiritualista:. do Cruzeiro:. do Sul:.


Templo Xang Quatro Luas:.

Guias e Linhagens da Umbanda


Caboclos I - Introduo

Caboclo - Etimologia do termo

No contexto comum, caboclo era um termo usado tanto pelos colonizadores


como tambm pelos ndios para fazer referncia no somente aos grupos indgenas
de forma generalizada, mas tambm a todos aqueles que se apresentassem como
uma mistura de diferentes raas, fossem esses mulatos, cafuzos (ndios e negros) e
mais tarde at mesmo os sertanistas.

Contrrio ao suposto, entre os prprios

indgenas era a designao dada aos filhos de pais brancos e mes ndias,
estendendo-se aos indivduos de certa forma indesejveis em seu meio e no aos
nativos considerados puros.
Existem algumas controvrsias a respeito do significado preciso do termo
caboclo, uma vez que as razes que o compe apresentam diferentes tradues e os
prprios

indgenas

no

se

referiam

inicialmente

si

ou

se

reconheciam

genericamente dessa forma, inclusive rechaando essa terminologia a princpio e


considerando-a sinnimo de indivduo excludo e diferente dos demais do seu grupo.
Derivando do tupi,1 a principal lngua falada pelos povos que ocupavam todo o
litoral Norte e Nordeste do Brasil no sculo XVI (que no se confunde com a lngua
Guarani), o termo caboclo procederia, segundo alguns estudiosos, de kariboka,
aquele que vem ou procede do branco, sendo ainda usada a forma , sempre
expressando os mestios nascidos de brancos com ndios. Alguns estudiosos da lngua
defendem que descenderia de kuriboca, filho do ndio com negro, sendo essa
menos aceita. Apesar das etimologias serem de certa forma especulativas, encontra
apoio aquela que diz se originar o termo no tupi kaaboc, aquele que vem da
floresta, tirado dela ou cravado nela.2
Embora para os Umbandistas parea ser a traduo mais adequada por via das
relaes que estabelecemos, muitos pesquisadores dizem no existirem fundamentos
1 De tu-upi, o Pai Supremo. Tambm o Primitivo, o Progenitor, muito provavelmente em
referncia a Divindade arcaica suprema.

concretos para apoiar essa traduo. Ka de fato traduzido como mato, ao passo
que a traduo mais aceita para bk cova, buraco, furado, como em t-boka, o
tronco furado ou oco. O que corrobora para essa teoria que em algumas
tradues bok tambm aparece como tirado. Seja como for, e embora kaboka
parea ser o mais correto, o termo caboco, depois alterado para caboclo, designava
os descendentes de ndio e branco, passando em seguida a designar na Umbanda as
Linhagens em que atuariam, a princpio, Espritos revestidos de roupagem astral
indgena.3
Assim, no somente o termo kariboka, que vem ou procede do branco, mas
tambm todas as possveis tradues para caboclo deixam entrever claramente essa
relao de desprezo que havia inicialmente para com aqueles que eram considerados
diferentes ou estranhos ao interno do seu grupo especfico. Mesmo a expresso mais
aceita e usada, kaboc, o que vem da floresta, tende a denotar a criatura ento
considerada selvagem.
O tupi era a principal lngua dos indgenas que habitavam o litoral Norte e
Nordeste do pas, dentre os quais destacavam-se os Potiguaras (do tupi potim-guara,
comedor de camaro), os Tabajaras (de taba-yara, donos da aldeia), Tupinambs
(de tupi-n-mb, que descendem dos tupis), Tamoios (de tamuy, ancios), Cariris
(de quiriri, silencioso), Aymors (de hi-mbor, dentes pretos), Tremembs (de
tirimemb, lugar alagado), Caets (de ca-it, mato verde), Tupiniquins (de
tupinki, que est ao lado dos tupis) e outros.
Pela forte concentrao populacional ao longo da faixa litornea, o tupi foi o
idioma mais falado em todo o Brasil (mais que o portugus) ao longo dos sculos XVI
e XVII, no se restringindo apenas aos ndios como erroneamente suposto e ensinado,
tendo mais tarde se fundido com o guarani. Aprendido pelos colonizadores e
especialmente disseminado pelos descendentes de brancos e ndios, o tupi foi
denominada lngua braslica ou lngua geral por muito tempo. 4

2 No Tupi no existe a letra C, sendo sua equivalente o K. Como o K no era


reconhecido como letra oficial do nosso alfabeto, todas as palavras com ele
iniciadas foram transliteradas com C.
3 O Tupi ainda fortemente falado pelos Caboclos Autnticos quando manifestos pelos
processos de incorporao. Tive oportunidade de aprender um pouco da lngua tupi por volta
de 2002 e antigamente submetamos os mediadores ao que chamvamos de prova da lngua.
Sempre considerei esses processos vlidos por acreditar que se de fato so autnticas, as
frases proferidas em lngua cifrada pelos Guias devem fazer algum sentido ou passam apenas
por manifestaes ou delrios mentais. As frases formuladas pelos Caboclos ento
incorporados no s eram manifestas em um Tupi claro, como as tradues eram muito
precisas e belas como podem confirmar Rafael, Sonia e Gustavo que dentre os que
participavam do processo ainda permanecem no Templo. Recordo-me perfeitamente de um
Caboclo em especial que disse em Tupi claro: Sou o filho da tribo j, o mensageiro de
Guaracy. Antigamente realizvamos essas dinmicas incorporativas e que eram de grande
valia na certificao do processo dos prprios mediadores.

Ao contrrio do que se supe, no era apenas uma lngua dita de ndio ou


primitiva, sendo largamente falada em suas diferentes ramificaes tanto entre os
indgenas, quanto pelos escravos, europeus e brasileiros legitimamente aqui
nascidos, sendo utilizada naturalmente no dia a dia em contraste com o portugus
adotado por conta das relaes com a Coroa Portuguesa. Seja como for, o tupi hoje
considerado uma lngua morta (ao contrrio do Guarani), ainda que sua descendente,
o nheengatu (do tupi nheengatu, lngua boa), fixada somente a partir do sculo
XIX, seja falada pelas comunidades indgenas do Amazonas at os dias atuais.

fato que os jesutas estudaram a fundo o tupi e desenvolveram sua gramtica,


tendo sido os primeiros a criarem uma representao escrita para a mesma. Embora
os crditos recaiam sobre o padre Jos de Anchieta, esse no foi nem o primeiro, nem
o maior responsvel pela gramatizao do tupi. O modelo de um povo brasileiro que
desde o incio falava somente o idioma portugus, relegando o tupi ao odre das
lnguas primitivas no procede de fato. Historicamente, somente em 1758, aps uma
proibio acirrada pelo Marqus de Pombal e motivada por questes pessoais que
envolviam os jesutas, sobretudo, o tupi deixou de ser a lngua mais falada no Brasil,
sendo sacrificada em funo do Portugus e do velho padro europeu, o qual
impunha sua conduta fortemente destrutiva disfarada de colonizadora e visando
interesses pessoais.5
Inicialmente, contudo, e por mais que possa soar estranho, o termo caboclo era
usado pelos prprios ndios tambm como sinnimo de tapuio (do tupi tapyya,
indivduo hostil, inimigo, escravo), sendo essa uma forma generalizada e coloquial de
certa repulsa com que os indgenas se referiam aos indivduos pertencentes a outros
grupos que no o seu, mas tambm aos ndios mais atrasados e dotados de costumes
4 Os Guaranis (do tupi guariri, guerreiro), ocupavam por sua vez no somente o interior,
mas principalmente a extensa faixa litornea do Sul e Sudeste do Brasil, tendo sido com eles
os primeiros contatos realizados pelos colonizadores. Os guaranis eram tambm conhecidos
como Carijs (do tupi cari-y, galinha pintada), sendo curioso observar que esse termo (carij)
tambm era usado pelos tupis para designar aqueles que no pertenciam ao seu grupo. Com o
passar do tempo e tendo transcorrido mais de cento e cinquenta anos desde a colonizao, os
nativos que se agrupavam em aldeamentos especficos e falavam enfim uma mistura do tupiguarani foram sendo reconhecidos genericamente por Guaranis.

5 O Marqus de Pombal, Sebastio Jos de Carvalho e Melo, ministro da Coroa Portuguesa de


1750 a 1777 foi responsvel pela expulso dos jesutas do Brasil em 1759, por conta das
dissidncias e diferenas de objetivos entre ambos. Em 1758 proibiu o uso e o ensino da
lngua tupi, instituindo o portugus como nica lngua autorizada e aceitvel, na tentativa de
diminuir e enfraquecer a autoridade da Igreja, chegando mesmo a enviar emissrios para
alterar os nomes indgenas das cidades ento existentes. O Marqus de Pombal entendia que
a manuteno da lngua indgena e sua forte disseminao entre os povos do Brasil (chegando
ao ponto da Coroa ter que se valer de intrpretes em algumas provncias) contribuam para
que os costumes ditos tribais e primitivos fossem reforados, sobretudo com a forte adeso e
simpatizao de alguns jesutas com os ndios. Ao proibir o tupi o Marqus entendia civilizar
a populao, submetendo todos aos mandos da Coroa portuguesa, sendo inadmissvel em sua
colossal arrogncia que o idioma oficial de uma Colnia fosse uma lngua de ndios.

brbaros. Sentido similar pode ser encontrado nos termos Goitacaz (do tupi
guayatac, errante), Carcar (de cari, o que arranha), Timbira (de ty-mbir,
condenado), todos largamente utilizados pelos Guias, especialmente Boiadeiros,
Exus e Mestres Juremeiros ainda nos dias de hoje.
Como sabem os historiadores, os Tapuias no constituam de incio uma etnia,
sendo esse um termo

largamente

usado para

expressar

posteriormente

os

agrupamentos de ndios que no falavam a lngua tupi, donde ento se confundiu


como uma etnia especfica. Dessa forma, com o passar do tempo findou-se por
classificar e dividir genericamente os ndios em dois grupos distintos: os Tupinambs,
agora constitudos por diferentes povos que habitavam toda a faixa litornea acima e
falavam a lngua tupi; e os Tapuias, grupos indgenas que habitavam o interior do
Pas e que no usavam o tupi como lngua principal (dentre os quais estavam os
Guaranis). Somente a partir do incio do sculo XVII, aps o processo colonizador
influir diretamente na proximidade e mistura com as diferentes etnias que tupis e
guaranis se aproximam de fato e comeam a se misturar.
V-se ento que o termo caboclo foi considerado de incio pejorativo entre os
prprios ndios, tendo levado muito tempo para que a ideia fosse aceita e mais tarde
se tornasse uma denominao comum para os ndios em geral, como nos fazem saber
muitos estudiosos do assunto. Tapuia, com o tempo, tornou-se inclusive a
denominao dada a alguns Guias de Umbanda, sobretudo Caboclas, sendo curioso
observar que a terminao feminina do termo contribuiu mais para essa associao
do que a sua prpria traduo, aparentemente ento desconhecida.
Abrindo um pargrafo, essa questo dos nomes dos Caboclos em lngua tupi,
inclusive, bastante interessante de ser analisada rapidamente. No incio da
Umbanda e por cerca de duas dcadas, os nomes de Caboclos que derivavam
claramente da lngua tupi e guarani eram muitos. Na verdade, compunham quase que
a maioria e no estavam ainda presos s inmeras Linhagens e falanges que logo em
seguida seriam criadas muito mais pelas mos dos homens que dos prprios
Espritos. Convm acrescentar que alguns autores de Umbanda seguindo a fase da
codificao das Linhagens e Falanges, simplesmente escolheram nomes indgenas e
os agruparam aleatoriamente determinaram a constituio de grupamentos astrais a
partir dos mesmos sem sequer terem qualquer certificao espiritual a respeito de tal
fato ou mesmo t-los visto incorporados.
De incio os nomes de Caboclos que descendiam da lngua tupi-guarani eram
bastante evidentes na Umbanda. Grajana, Iamari, Araribia, Ararangu, Pery, Arer,
Tupaba, Japia, Uarub, Arapoti, Arana, Urubato, Ubirajara, Guaracy, Ubiraci,
Tupinamb, eram nomes carregados de fora e que faziam referncia a Entidades
srias e de carter marcante. Com o passar do tempo os mediadores foram de fato
perdendo a sintonia original da Umbanda. Assim, mesclaram-se diferentes
informaes, alteraram fundamentos, desviaram do contexto original em razo da
forte e acirrada influncia Catlica e Esprita, tendo ento os Guias de se adequarem
a realidade da prpria limitao dos mdiuns de Umbanda em seus mais diferentes
aspectos. Como a nica palavra que parece importar no mbito da Umbanda

caridade e tudo se justifique a partir dela, mesmo quando estando errado porque
assim conveniente, a situao assim caminha. As Foras Espirituais desejaram algo
diferente, nico, organizado aos moldes das antigas tradies e que deveria abarcar
um aspecto esotrico rico de smbolos e conhecimentos, estando acessvel tambm s
minorias. No conseguiram at o momento, onde a Umbanda continua em fase de
construo.
Em seguida, sabe-se l o porqu, com uma maior expressividade da Umbanda,
inicia a fase em que tudo muda e comea a virar de cabea para baixo com a criao
de tantas Linhas e Falanges, no chegando os autores e Dirigentes a um consenso
nico. Aps o primeiro Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda realizado
em 1941, delineou-se desastrosamente o destino de alguns argumentos. Um deles foi
o abandono e rechaamento do termo Umbanda como advindo do banto africano,
de onde de fato se origina, insistindo-se na teoria que o mesmo sobreveio do
snscrito, dando incio perturbadora saga de uma Umbanda com razes e
inclinaes na ndia e que se afastava cada vez mais de suas origens indgenas e
africanas. Rituais com forte inclinao indgena so ento polidos, limitando-se a
manifestao dos Caboclos ao uso de charutos, preservao de suas nomenclaturas
e s referncias presentes em suas Curimbas.
Estudiosos desconhecedores dos principais argumentos que se prestavam a tratar
(sobretudo em relao rica mstica africana e aos prprios rituais de descendncia
indgena) e tendo em vista apenas as prprias convices pautadas em sua
mentalidade crist e esprita, ento formularam teorias, determinaram fundamentos,
estabeleceram regras e relaes que mais confundiram do que esclareceram e a
situao comeou a sair do prumo gradualmente. No mesmo perodo misturam-se os
Santos com os Orixs de forma desordenada em sem um critrio acertado. As
obrigaes que tendiam ao aspecto mais africanista so condenadas e suprimidas
rigorosamente, chegando-se mesmo a Unio Esprita de Umbanda a proibir o Tambor
nas Giras e determinar o uso somente de palmas, o que poca fora seguido por uns
e no acatado por outros.
Mais uma vez, Loureno Braga, Matta e Silva, e como no poderia deixar de ser,
Aluisio Fontenelle (que iria contribuir largamente com sua adaptao absurda do
Grimorium Verum, convertendo e associando os nomes dos Demnios queles dos
Exus), se apresentam como os pais das primeiras confuses em relao aos Caboclos
e as tais Linhas da Umbanda. Matta e Silva quem insiste na afirmao de que
Jesus o nico regente direto e planetrio da Umbanda e de todas as suas Linhas,
colocando Oxal sob sua gide, invertendo as relaes e confundido Avatar e
Divindade. Mestre Yokaanam:., de longe o mais focado numa cristianizao da
Umbanda, incline ao mesmo pensamento estabelece relaes ainda mais complexas
entre Cristo, Maria, os Santos e os Guias, instaurando o primeiro Santurio Essnio e
a sua Umbanda Crist Ecltica Maior, uma mistura de igreja, comunidade samaritana
e kardecista com poucos traos genunos daquilo que seria a Umbanda, de fato.
Aluisio Fontenelle mistura Orixs com Santos e os primeiros ora se subordinam
aos segundos, numa convenincia bastante crist e espiritista para a poca. Matta e

Silva generaliza, colocando os Caboclos todos sob a gide de Oxssi, Orix das matas
por pura correlao, ainda que existam outras Legies com nomes de Orixs, porm
chefiadas agora por Santos. Matta e Silva converte Nan, Oxum e Yans em
Caboclas, dando-lhes a chefia de Legies dentro daquela que designa Maior de
Yemanj. Em seus devaneios (muitos, a propsito), converte Xang Agod e Xang
Aganj em So Pedro e So Paulo, dando-lhes por chefia a Legio de Xang.
Estabelece um nmero de Falanges que na verdade no condiz com a realidade
dos fatos e chega a determinar o nmero de Guias que ocupam cada posio. Tudo
aceito at os dias de hoje e pouco contestvel. Na Umbanda quase sempre assim: a
preocupao mais com o sarav que com aquilo que deve ser conhecido.
Ter existido por parte dos Guias Dirigentes da Corrente Sagrada da Umbanda,
seus responsveis diretos, uma tentativa em se preservar as razes indgenas o mais
estreito possvel atravs dos nomes em sua lngua original ou seria essa somente uma
coincidncia? Por que a identidade espiritual e toda a bagagem cultural dos antigos
Deuses indgenas foram sacrificadas e esquecidas em detrimento dos Santos e at
mesmo dos Orixs? Esquecemos que esses eram os Deuses Originais encarregados
de velarem por essas terras e meramente os destitumos.
Se pudssemos falar em Deuses Brasileiros esses certamente seriam aqueles
pertencentes ao Panteo indgena. Mundera, Tup, Guaracy, Aymor, Yac, Aruan,
Anhangu e tantos outros, esses eram os Deuses tutelares desse Pas. Ao observar o
conjunto por inteiro, vemos que a Umbanda se construiu a partir de fragmentos e que
muitos deles permaneceram dispersos ou se esfacelaram por inteiro. Poderia ter sido
mais organizado? Toda essa mistura fragmentada com pinceladas de uma possvel
vertente universalista ter sido de fato estabelecida pelas Esferas ou manipulada
desordenadamente pelos prprios mediadores e Dirigentes? Para qualquer direo
que olhemos, iremos encontrar fragmentos dispersos de supostas verdades e
heranas de culturas preciosas, detentoras de uma sabedoria nica. Acostumados aos
fragmentos, findamos por no conhecer quase nada ou mesmo nada a respeito das
Foras com as quais dizemos comungar e compactuar espiritualmente.
Quadro Geral

Numa exposio sincera, o termo Caboclo equivale de fato a uma roupagem de


manifestao Astral e no necessariamente a antigos Espritos de ndios agrupados
em Linhagens afins. Se o seu pensamento em relao Umbanda linear e admite
apenas as velhas teorias adequadas ao tempo em que foram promulgadas, voc
necessita ajustar sua forma de pensar, ouvir, analisar e extrair suas prprias
concluses a respeito das roupagens de manifestao dos Guias que a constituem,
compreendendo-os luz do que realmente so.
As roupagens astrais escondem bem mais do que aparentam. Expressam uma
maneira de recordar, de preservar, codificar e compreender culturas e compartilhar
saberes. Remetem-nos a uma percepo de tempo, de contrastes, de experincias, de
ferramentas estruturais, espirituais e psicolgicas que se apresentam de modo a
ampliar nossa compreenso e a desenvolver aspectos encerrados em nosso esprito e

que remetem nossa carga ancestral, ampliando nossa compreenso de diferentes


maneiras.
Ainda que seja muito admirvel poder lidar com a ideia de milhares de Espritos
ndios reunidos sob um nico desgnio e reunindo-se astralmente numa Colnia
Espiritual designada unicamente para os mesmos (o Jurem), a realidade dos fatos
bem menos fantasiosa e mais intrigante, esbarrando nos mesmos processos pelos
quais passa toda e qualquer Entidade Espiritual que adentre ao ciclo evolutivo da
Corrente Astral da Umbanda.
A princpio, pela fora da roupagem que endossam, vemos os Caboclos de fato
como ndios (muitos o so ou foram de fato) e creio que essa viso no deve ser
dissolvida por parte dos mediadores, ainda que sejamos conhecedores dos diferentes
aspectos que a circundam, da mesma forma que no deixamos de ver os PretosVelhos da forma como os consideramos apenas por tambm se tratar essa de uma
roupagem astral.
Independente de terem sido ndios ou no, os Caboclos so os herdeiros,
depositrios e custodes diretos de uma tradio arcaica e ancestral, os quais, tendo
em vista os alicerces estabelecidos pela Corrente Astral da Umbanda, bem como pela
fora da natureza que os abarcam, necessitam revestir uma roupagem astral indgena
para se manifestarem e atestarem suas relaes diretas com os princpios que
expressam. No so necessariamente antigos Espritos de ndios como largamente
exposto e afirmado insistentemente por algumas vertentes que no se abrem para a
realidade dos fatos de natureza espiritual que permeiam a Umbanda, preferindo
permanecer atadas s mesmas elucidaes e convices que esto sendo aos poucos
superadas.
Alis, essa questo de no se considerar a todos como ndios bastante
interessante de ser analisada, ainda que inadmissvel por alguns crculos de
Umbanda, os quais assim o creem veementemente, esbarrando nas mesmas
argumentaes que envolvem os Pretos-Velhos, por muitos tidos todos como Espritos
de velhos escravos, o que sabemos no condizer com a realidade dos fatos espirituais
que os permeiam.
O primeiro ponto para se compreender os Caboclos na Umbanda admitir a
questo das suas roupagens, bem como conhecer o sentido Raiz, Autntico e
Estacionrio que os abarcam, o que ocorre com qualquer Linhagem, a propsito.
Entendido essas relaes, saberemos distinguir quem o ndio de fato, quem o fora
em existncias precedentes e quem no nem o foi, mas que endossa a roupagem e
assim se manifesta com toda a beleza que o ritual da Umbanda possui.
Como os Pretos-Velhos, Crianas, Boiadeiros e Marinheiros, a figura do Caboclo
constitui uma roupagem, uma capa de manifestao, uma expresso mental, uma
forma auxiliar de manifestao consolidada em meio aos princpios em que se
fundamentam a herana de que se fazem responsveis. A questo dos Caboclos
esbarra na mesma dos Pretos-Velhos em termos de herana cultural e ancestral.
Ambos os povos que representam em sua totalidade sofreram um processo de
desmoralizao e destituio de todos os seus valores, tendo sido expulsos de suas

terras, sacrificados em suas crenas, execrados em seus costumes, destitudos de


seus direitos, obrigados a abandonarem suas convices religiosas, sua herana
ancestral,

perturbados

em

suas

memrias,

diminudos

em

sua

linguagem,

desmoralizados em suas identidades e massacrados em relao sua cultura como


um todo.
Aqui abrindo uma pequena observao, considero bastante curioso o processo de
monoteizao que a Umbanda infunde em si mesma, mesmo contrariando sua
natureza, negando o aspecto politesta que a circunda pela pura necessidade em se
adequar aos moldes vigentes e j batidos, herdados dos padres religiosos ento
vigentes. Os adeptos da Umbanda sempre tiveram medo de no serem aceitos e de
serem excludos pelos demais. A Umbanda no lhes domina o corao como ocorre
com outras religies. Curiosamente, para no dizer estranho, as Foras que se
manifestam como pilares essenciais da prpria Doutrina da Umbanda so todas
fundamentadas em sistemas profundamente politestas. Orixs so Deuses. E como
sabido, no se encontravam a princpio sob a gide de uma nica Divindade, tendo
sido essa uma manobra adotada para diminuir as represlias por conta do seu
politesmo acirrado, ainda que Olodunmar figurasse como representao do
Absoluto. Os africanos, representados na figura dos Pretos-Velhos, os quais agora se
apresentam

cristianizados

eram

politestas.

Quanto

aos

povos

indgenas,

representados pelos Caboclos, no necessitamos fazer referncia ao seu rico panteo


de Deuses e criaturas espirituais que cultuavam.
Embora faamos vista grossa para o fato, continuamos a tentar evangelizar e
doutrinar ndios e negros na Umbanda pela imposio de nossas convices e ritos
herdados da tradio crist e moldes espritas. Chamamos de ecumenismo e
universalismo, mas esses no deixam de conter muito sutilmente os traos da antiga
cristianizao. Caboclos e Pretos-Velhos no esto ainda livres das amarras
religiosas impostas e continuam sendo rejeitados e tratados de certa forma como
inferiores. No esto ainda libertos para darem prosseguimento ao processo
depurador da Umbanda e ao novo direcionamento que essa dever tomar.
A questo analisada a fundo nos leva a outros questionamentos a respeito de
quais teriam sido de fato os verdadeiros caminhos a serem adotados pela Umbanda
numa tentativa de recriao do sentido politesta, absolutamente libertador, diga-se
de passagem, ao invs de ter se deixado converter e ser batizada nas guas que a
condenaram a uma cristianizao s vezes excessiva e na qual seus prprios Guias
foram obrigados a mergulhar e a se adaptarem, ao passo que os Exus, rebeldes de
todas as causas, negando-se a esse batismo profano, foram execrados e receberam
por castigo o simbolismo pertinente ao inferno e seus ocupantes.
A expresso do termo Caboclo, embora aparentemente simples, se manifesta de
modo conceitual e muito abrangente, fazendo referncia a diferentes grupos de
Entidades Espirituais que por afinidade, necessidade, impulso evolutivo ou seja l o
que for, se agrupam com propsitos semelhantes, nem sempre muito bem explicados
em suas reais necessidades e modos de ao, porm dentro de um conceito sempre

simplificado e reduzido no termo que a Umbanda gosta de usar para explicar e


justificar todas as suas prticas: a caridade.
Embora uma anlise sria e exaustiva dos Espritos que se denominam Caboclos
nos permitisse compreender as estruturas esquemticas que compem, bem como os
diferentes conjuntos de ideias e conceitos que expressam atravs de diferentes
formas de manifestao, a forma quase simplria com que so de certa forma
tratados no permite uma maior elucidao dos diferentes fatores de natureza
espiritual que os permeiam, j que na Umbanda tem sido muito assim: o sarav e
suas inclinaes tem tido mais importncia que o contedo filosfico-espiritual
daquilo que se almeja alcanar.
Comumente na Umbanda, se o Esprito baixa e diz que veio prestar caridade
(o que sabemos no se dar precisamente dessa forma), tudo fica bem. Nada se
investiga e nada se indaga. Incorporaes no so atestadas de modo satisfatrio,
mediadores caem nas malhas do animismo e da mistificao, no sabem o sentido
simblico, energtico, psicolgico ou espiritual que circunda suas manifestaes e
nem sempre esto dispostos a saber. As condies em que se do os fatos em geral,
as incoerncias que se alastram sem freios, a insistente aura de fantasia que gira em
torno dos prprios Guias, o desconhecimento grosseiro a respeito de Entidades
Estacionrias e Autnticas, as carncias espirituais excessivas e as necessidades do
ego medinico que faz com que surjam os mediadores isolados e que gostam de
incorporar em casa, sozinhos, sem que exista de fato uma razo real para se arrastar
um ser das Esferas Espirituais, e tantos outros fatores contribuem para uma
Umbanda que pensa ter tudo ao seu alcance, mas que desconhece quase tudo a
respeito do que de fato lhe toca.
No contexto geral, todos os povos com razes ou descendncia indgena e
independente de seu Pas de origem estariam agrupados sob a denominao de
Caboclos na Umbanda, embora as divergncias conceituais e mesmo espirituais se
sobreponham

umas

sobre

as

outras

sem

que

respostas

satisfatrias

sejam

devidamente elucidadas. A princpio, eram apenas Mestres e Encantados da Jurema.


Em seguida chegaram os ndios das diferentes etnias brasileiras. Pouco a pouco, os
muitos espaos e lacunas foram sendo ocupados paulatinamente por outros povos
indgenas de diferentes etnias e naes.
bem verdade que a Umbanda oferece um campo bastante frtil para milhares
de Espritos em processos retificatrios e com intenes verdadeiras no que diz
respeito aos intentos em auxiliar certos grupos de indivduos. Estando a humanidade
muito difcil de ser alcanada para falarmos em termos globais, nossos intentos no
deixam de se revestir, de certo modo, por uma aura utpica. Essa uma das razes
pela qual sempre insisto que mediadores devem manter os ps cravados no cho
atravs do esclarecimento das realidades que nos circundam. Mesmo que voc no
queria dar crdito ao que digo em termos de Umbanda, ao menos oua e tire suas
prprias concluses sozinho. Em razo do forte apelo medinico existente nas terras
de c, alguns milhares, talvez milhes de Espritos, aderem e tem aderido cada vez

mais aos conceitos expressados pela Umbanda, apesar de que tal filiao no
represente uma pertena direta mesma ou s suas Linhagens.
Seguindo nossa estrutura de pensamento, vale considerar que o termo caboclo
tambm era usado por alguns indgenas para se referir com certo desprezo aos
indivduos que no pertenciam a um grupo especfico puro, ou seja, que no fossem
nascidos de pai e me ndios, nem sempre sendo vistos com bons olhos e designando
uma diferena clara entre indivduos. Bem mais tarde, quando o termo se tornou
comum e aceito entre os ndios, os caboclos ento se estendiam por toda a regio
Norte e litoral Nordestino, o que refora a teoria de que os Guias homnimos teriam
surgido primeiro ao interno dos antigos cultos da Jurema e da Pajelana, estando
pautada com grande fundo de autenticidade essa afirmao.
O termo caboclo se origina e se tornou muito comum nessas regies (Norte e
Nordeste) at os dias atuais, tanto que devemos recordar que o mesmo fora
largamente usado mais tarde para tambm se referir ao sertanejo, ao roceiro e ao
homem considerado bronco e grosseiro, desprovido de certa cultura. Uma
expresso bastante evidente dessa relao sertanista pode ser observada nos
prprios Caboclos Boiadeiros. Aqui, inclusive, no devemos esquecer serem essas
Entidades denominadas Caboclos antes de tudo, ainda que a forte tendncia atual
da Umbanda seja aquela de dissoci-los do seu grupo especifico e original. Todavia,
no Nordeste a figura do Boiadeiro como Caboclo ainda bastante forte, sobretudo ao
interno da Jurema, onde no se apresentam dissociados.
A Umbanda mais antiga apresentava inclusive Pontos Riscados desses Guias
inseridos dentro de um contexto mnemnico que se valia dos mesmos smbolos que o
restante dos Caboclos e nas regies Norte, Nordeste e Sudeste os Caboclos
Boiadeiros sempre gozaram de grande prestgio nos crculos religiosos afins. Ainda
na Jurema, em meio a sua Encantaria, vamos encontrar Entidades ditas mestias,
como as Caboclas Mariana (uma Yara), Herondina e Tereza Lgua (considerada uma
Cabocla), assim tambm como o Caboclo Venncio, por exemplo, sem que sejam
considerados ndios, o que ressalta a forma abrangente e original com que o termo
era inicialmente conhecido.
Umbanda

Jurema

apresentam

marcantes

influncias

indgenas,

antes,

fundamentam-se sobretudo em suas prticas. de fato na antiga Jurema nordestina


que ocorrem as primeiras manifestaes das Entidades Espirituais que se faro
nominar Caboclos, antes mesmo do surgimento da Umbanda. Cabocla Jurema, Sulto
das Matas, Cobra Coral, Sete Flechas, Araribia, Pena Branca, Arranca Toco e outros
surgem inicialmente ao interno da Jurema Sagrada e somente depois so abarcados
pela Umbanda. a Jurema quem primeiro d vida, nome e espao aos Caboclos,
juntamente com a maioria das prticas posteriormente adotadas pela Umbanda e no
o contrrio, embora a figura do Caboclo seja inegavelmente um dos pilares da prpria
Umbanda. Na realidade, ao se analisar os fatos cautelosamente, a Umbanda, ou
antes, seus autores, foram os responsveis diretos pelas confuses e divergncias ora
existentes, a comear pela infinidade de Linhas e Falanges de trabalhos que foram
criadas.

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Como todas as categorias abarcadas analiticamente pelas Linhagens da


Umbanda, os Caboclos tambm esbarram no sentido de classificao sociocultural,
expressando certa segregao e diferena que tende a inferiorizao, servindo ento
profundamente para os propsitos nos quais se apoia a Umbanda e suas convices
em relao ao fato de no se ignorar as diferenas entre indivduos numa sociedade
em razo de sua posio social ou cultural.
A Umbanda agrega, ou ao menos deveria agregar, j que diferentes segmentos
seus tendem ao contrrio em inmeras ocasies por conta de suas convices
religiosas, sobretudo. o exemplo do modelo adotado pela Umbanda Crist Ecltica,
dita Maior, de Mestre Yokaanam:., a qual chega mesmo a desdenhar qualquer
relao que tenda ao sentido africanista, projetando muitas vezes um cenrio
excessivamente cristo que contribui apenas para a compreenso dela mesma, mas
no do todo. Na mesma direo os segmentos Umbando-kardecistas, que por
agradarem uma boa parcela de adeptos pelos moldes que adota com seu rito branco
ou de mesa, tende a descaracterizar os aspectos mais originais e correlacionados
com essas diferenas gritantes de quadros socioculturais, uma vez comprovado no
desdm ao Exus, Pombas-Giras, Marinheiros e at mesmo Pretos-Velhos em alguns
casos, suscitando questionamentos os mais diferentes possveis.
sobejamente conhecido que um dos motivos da Umbanda estar crescendo tanto
nas Esferas Astrais (mais do que naquela fsica) se encontra na sua forma de agregar
a todos, sem um discurso excessivamente cristo ou dramaticamente criador de
dicotomias e rompimentos entre Luz e Trevas. Alis, as Trevas que permitem a
Umbanda ser o que , ainda que o pensamento de muitos adeptos esteja longe de
compreender esse detalhe. A verdadeira Umbanda (se que podemos escrever
assim) aceita e assimila; encontra formas de conjugar ideais e necessidades
silenciosamente e por diferentes caminhos que escapam aos seus mediadores. H
muito que se descobrir sobre as realidades da Umbanda e suas relaes
verdadeiras com os encarnados.
A Umbanda no divide, no separa e no diferencia drasticamente. Quem age por
esses meios so Dirigentes fortemente educados segundo conceitos ultrapassados ou
cristalizados em suas convices, assim como Guias que no se encontram libertos
de amarras mentais e, sobretudo, de suas convices religiosas. De certo, no basta
apenas estar desencarnado para se considerar um sbio e promulgador de verdades.
Tambm no adianta carregar apenas o epteto de Guia para que todos os crditos
sejam dados. A melhor teoria sempre a mais lgica, retilnea, focada e menos
religiosa, alega sempre Pai Cipriano da Senzala. A que menos fala de Deus e que
mais explica acerca daquilo que se intende compreender. Afirmao controversa.
Contudo, libertadora e carregada com muitos ensinamentos que poderiam suscitar
ponderaes e descobertas interessantes acerca das realidades da existncia
espiritual.
A Umbanda faz questo que seus adeptos se identifiquem com as relaes que
expressa em termos de diferenas, exigindo que compartilhem de seu pensamento de
igualdade e desejando o engajamento de seus mediadores nesse relacionamento que

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no desdenha nem diferencia de modo exaustivamente classificatrio os indivduos


por conta de sua posio social ou cultural. Tudo existe na Umbanda. Do ladro ao
burgus; da freira prostituta; do travesti aos inquisidores; dos cientistas aos
iletrados; dos Mestres Orientais aos feiticeiros ignorantes; do celibatrio ao libertino;
do Esprito trevoso ao angelical. S ela consegue ser assim, porque talvez no tenha
sido elaborada por Inteligncias que consideram a si mesmas como pinculos
evolutivos, mas que muito provavelmente possuem uma boa parcela de escurido e j
tenham caminhado pelas Trevas exaustivamente.
Ao fundar Roma, Rmulo se cercou de ladres, prostitutas, bandidos de toda
sorte, endividados, escravos, perseguidos e condenados, reunindo-os no que
denominou Asilum, junto Arx no Monte Capitlio. Gosto de pensar numa Umbanda
criada por antigos cados no esprito de toda sorte. Somente eles poderiam
compreender com absoluta clareza a necessidade de uma revoluo espiritual e se
colocarem audaciosamente ao como fora e tem sido feito.
Todos podem fazer parte astral do crculo da Umbanda como Entidades que no
necessitam revelar quem de fato so ou o que so, bastando para tanto que se
revistam por uma roupagem astral. Salvo as Confrarias Evolutivas, notrias por se
assemelharem a uma Ordem e as Hierarquias em que militam os Espritos Autnticos,
qualquer um pode atuar pela Umbanda quando desencarnado. Alis, a perda da
personalidade no sentido de se adotar outra estrutura manifesta, deixando para trs
a roupa e levando consigo apenas as marcas do esprito fantstica na Umbanda. O
se fazer esquecer para ser esquecido envolve apontamentos de estrita relevncia
quando lidamos com a necessidade de purificao e redirecionamento evolutivo.
O que mais importante? Aquilo que de fato o Esprito ou a roupagem que
endossa para se apresentar manifesto em seus aparelhos? E quem saber? Quem
pode provar a ponto de afirmar qualquer coisa e no permitir nenhuma dvida?
Mdiuns raramente so dotados da viso espiritual autntica. Seus Guias podem
falar o que quiser e ser aquilo que bem desejarem. E s por que ningum est vendo
significa que no existem? Somente por se fingirem de bons sendo s vezes o
contrrio, vamos negar sua possvel parcela de angelitude? Quanto ainda por
despertar e fazer entender aos poucos que queiram essa compreenso ainda
enevoada que desprende de amarras, emancipa o esprito e alforria a mente?
Temos muitos lobos em pele de cordeiro e muitos cordeiros em pele de lobo ao
interno da Umbanda, mesmo em meio aos seus Guias, e isso para o nosso xtase e
maravilhamento em face dessa teoria libertadora ainda to pouco incompreendida e
que faz saltar da cadeira os apregoados s suas convices que s enxergam uma
direo. Um dos ensinamentos mais preciosos que aprendi com a Umbanda que no
existe uma verdade nica, um caminho nico, uma possibilidade nica ou uma nica
maneira de se proceder. A Lei existe e a Justia para todos. Todavia, no igual em
seus moldes de ao, o que permite a compreenso de uma autenticidade livre de
dogmas desnecessrios e culpas que nem sempre nos tocam.
Na Umbanda que conheci desde muito cedo pela viso explanatria dos meus
Guias todos so bem vindos, sobretudo os Espritos ditos cados. Esses por sua vez,

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muito mais predilejados certamente que as iluminadas criaturas evoludas que


fingem ocupar postos nas ditas Linhagens Hierrquicas. Se h recintos em que o
sentido da frase vide a mim todos os cados e eu os aliviarei aplicado, esses so os
Terreiros de Umbanda sediados na Esfera Fsica e naquelas Astrais.
A Umbanda existe para os cados, para a transio de milhares de Espritos dos
patamares das Trevas para a Luz. Ns que somos ignorantes e pretensiosos e cremos
que seu papel fundamental em nos ajudar por meio de orientaes, passes e
desobsesses. Por diversas ocasies tenho afirmado que somos apenas instrumentos
bastante convenientes nesse jogo em que interessam muito mais as relaes
espirituais do que humanas. Devemos abrir os olhos, aceitar as realidades que se nos
apresentam e compreend-las luz de explanaes sensatas e desprovidas de
conceituaes excessivamente ultrapassadas e basadas nos velhos moldes cristos e
cercados por um misticismo barato e fraco.
O quadro da Umbanda aquele que consiste em expor muito sutilmente um
processo de agregao que no diferencia, sendo esse definido por interaes
particulares e estreitamente coligadas entre si. Por isso a ideia largamente difundida
de que Exus ocupam a posio mais inferior, Caboclos aquela mediana e PretosVelhos a mais evoluda no corresponde realidade dos fatos, sendo apenas mais
uma expresso que uma afirmao.
Temos a certificao de Exus mais evoludos que Pretos-Velhos, Pretos-Velhos to
Estacionrios quanto Exus e Caboclos que nopassam de Entidades Transitantes e
em misso temporria. Tudo, pois, passa por uma questo de observao e
compreenso das realidades que se descortinam ante os olhos dos prprios adeptos.
Para tanto, basta sair do automtico e das afirmaes sempre iguais em relao a
todos os argumentos que envolvem a Umbanda.

Continua

Flvio Juliano:.
Dirigente

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