Linhagens Da Umbanda - Caboclos I
Linhagens Da Umbanda - Caboclos I
Linhagens Da Umbanda - Caboclos I
indgenas era a designao dada aos filhos de pais brancos e mes ndias,
estendendo-se aos indivduos de certa forma indesejveis em seu meio e no aos
nativos considerados puros.
Existem algumas controvrsias a respeito do significado preciso do termo
caboclo, uma vez que as razes que o compe apresentam diferentes tradues e os
prprios
indgenas
no
se
referiam
inicialmente
si
ou
se
reconheciam
concretos para apoiar essa traduo. Ka de fato traduzido como mato, ao passo
que a traduo mais aceita para bk cova, buraco, furado, como em t-boka, o
tronco furado ou oco. O que corrobora para essa teoria que em algumas
tradues bok tambm aparece como tirado. Seja como for, e embora kaboka
parea ser o mais correto, o termo caboco, depois alterado para caboclo, designava
os descendentes de ndio e branco, passando em seguida a designar na Umbanda as
Linhagens em que atuariam, a princpio, Espritos revestidos de roupagem astral
indgena.3
Assim, no somente o termo kariboka, que vem ou procede do branco, mas
tambm todas as possveis tradues para caboclo deixam entrever claramente essa
relao de desprezo que havia inicialmente para com aqueles que eram considerados
diferentes ou estranhos ao interno do seu grupo especfico. Mesmo a expresso mais
aceita e usada, kaboc, o que vem da floresta, tende a denotar a criatura ento
considerada selvagem.
O tupi era a principal lngua dos indgenas que habitavam o litoral Norte e
Nordeste do pas, dentre os quais destacavam-se os Potiguaras (do tupi potim-guara,
comedor de camaro), os Tabajaras (de taba-yara, donos da aldeia), Tupinambs
(de tupi-n-mb, que descendem dos tupis), Tamoios (de tamuy, ancios), Cariris
(de quiriri, silencioso), Aymors (de hi-mbor, dentes pretos), Tremembs (de
tirimemb, lugar alagado), Caets (de ca-it, mato verde), Tupiniquins (de
tupinki, que est ao lado dos tupis) e outros.
Pela forte concentrao populacional ao longo da faixa litornea, o tupi foi o
idioma mais falado em todo o Brasil (mais que o portugus) ao longo dos sculos XVI
e XVII, no se restringindo apenas aos ndios como erroneamente suposto e ensinado,
tendo mais tarde se fundido com o guarani. Aprendido pelos colonizadores e
especialmente disseminado pelos descendentes de brancos e ndios, o tupi foi
denominada lngua braslica ou lngua geral por muito tempo. 4
brbaros. Sentido similar pode ser encontrado nos termos Goitacaz (do tupi
guayatac, errante), Carcar (de cari, o que arranha), Timbira (de ty-mbir,
condenado), todos largamente utilizados pelos Guias, especialmente Boiadeiros,
Exus e Mestres Juremeiros ainda nos dias de hoje.
Como sabem os historiadores, os Tapuias no constituam de incio uma etnia,
sendo esse um termo
largamente
usado para
expressar
posteriormente
os
caridade e tudo se justifique a partir dela, mesmo quando estando errado porque
assim conveniente, a situao assim caminha. As Foras Espirituais desejaram algo
diferente, nico, organizado aos moldes das antigas tradies e que deveria abarcar
um aspecto esotrico rico de smbolos e conhecimentos, estando acessvel tambm s
minorias. No conseguiram at o momento, onde a Umbanda continua em fase de
construo.
Em seguida, sabe-se l o porqu, com uma maior expressividade da Umbanda,
inicia a fase em que tudo muda e comea a virar de cabea para baixo com a criao
de tantas Linhas e Falanges, no chegando os autores e Dirigentes a um consenso
nico. Aps o primeiro Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda realizado
em 1941, delineou-se desastrosamente o destino de alguns argumentos. Um deles foi
o abandono e rechaamento do termo Umbanda como advindo do banto africano,
de onde de fato se origina, insistindo-se na teoria que o mesmo sobreveio do
snscrito, dando incio perturbadora saga de uma Umbanda com razes e
inclinaes na ndia e que se afastava cada vez mais de suas origens indgenas e
africanas. Rituais com forte inclinao indgena so ento polidos, limitando-se a
manifestao dos Caboclos ao uso de charutos, preservao de suas nomenclaturas
e s referncias presentes em suas Curimbas.
Estudiosos desconhecedores dos principais argumentos que se prestavam a tratar
(sobretudo em relao rica mstica africana e aos prprios rituais de descendncia
indgena) e tendo em vista apenas as prprias convices pautadas em sua
mentalidade crist e esprita, ento formularam teorias, determinaram fundamentos,
estabeleceram regras e relaes que mais confundiram do que esclareceram e a
situao comeou a sair do prumo gradualmente. No mesmo perodo misturam-se os
Santos com os Orixs de forma desordenada em sem um critrio acertado. As
obrigaes que tendiam ao aspecto mais africanista so condenadas e suprimidas
rigorosamente, chegando-se mesmo a Unio Esprita de Umbanda a proibir o Tambor
nas Giras e determinar o uso somente de palmas, o que poca fora seguido por uns
e no acatado por outros.
Mais uma vez, Loureno Braga, Matta e Silva, e como no poderia deixar de ser,
Aluisio Fontenelle (que iria contribuir largamente com sua adaptao absurda do
Grimorium Verum, convertendo e associando os nomes dos Demnios queles dos
Exus), se apresentam como os pais das primeiras confuses em relao aos Caboclos
e as tais Linhas da Umbanda. Matta e Silva quem insiste na afirmao de que
Jesus o nico regente direto e planetrio da Umbanda e de todas as suas Linhas,
colocando Oxal sob sua gide, invertendo as relaes e confundido Avatar e
Divindade. Mestre Yokaanam:., de longe o mais focado numa cristianizao da
Umbanda, incline ao mesmo pensamento estabelece relaes ainda mais complexas
entre Cristo, Maria, os Santos e os Guias, instaurando o primeiro Santurio Essnio e
a sua Umbanda Crist Ecltica Maior, uma mistura de igreja, comunidade samaritana
e kardecista com poucos traos genunos daquilo que seria a Umbanda, de fato.
Aluisio Fontenelle mistura Orixs com Santos e os primeiros ora se subordinam
aos segundos, numa convenincia bastante crist e espiritista para a poca. Matta e
Silva generaliza, colocando os Caboclos todos sob a gide de Oxssi, Orix das matas
por pura correlao, ainda que existam outras Legies com nomes de Orixs, porm
chefiadas agora por Santos. Matta e Silva converte Nan, Oxum e Yans em
Caboclas, dando-lhes a chefia de Legies dentro daquela que designa Maior de
Yemanj. Em seus devaneios (muitos, a propsito), converte Xang Agod e Xang
Aganj em So Pedro e So Paulo, dando-lhes por chefia a Legio de Xang.
Estabelece um nmero de Falanges que na verdade no condiz com a realidade
dos fatos e chega a determinar o nmero de Guias que ocupam cada posio. Tudo
aceito at os dias de hoje e pouco contestvel. Na Umbanda quase sempre assim: a
preocupao mais com o sarav que com aquilo que deve ser conhecido.
Ter existido por parte dos Guias Dirigentes da Corrente Sagrada da Umbanda,
seus responsveis diretos, uma tentativa em se preservar as razes indgenas o mais
estreito possvel atravs dos nomes em sua lngua original ou seria essa somente uma
coincidncia? Por que a identidade espiritual e toda a bagagem cultural dos antigos
Deuses indgenas foram sacrificadas e esquecidas em detrimento dos Santos e at
mesmo dos Orixs? Esquecemos que esses eram os Deuses Originais encarregados
de velarem por essas terras e meramente os destitumos.
Se pudssemos falar em Deuses Brasileiros esses certamente seriam aqueles
pertencentes ao Panteo indgena. Mundera, Tup, Guaracy, Aymor, Yac, Aruan,
Anhangu e tantos outros, esses eram os Deuses tutelares desse Pas. Ao observar o
conjunto por inteiro, vemos que a Umbanda se construiu a partir de fragmentos e que
muitos deles permaneceram dispersos ou se esfacelaram por inteiro. Poderia ter sido
mais organizado? Toda essa mistura fragmentada com pinceladas de uma possvel
vertente universalista ter sido de fato estabelecida pelas Esferas ou manipulada
desordenadamente pelos prprios mediadores e Dirigentes? Para qualquer direo
que olhemos, iremos encontrar fragmentos dispersos de supostas verdades e
heranas de culturas preciosas, detentoras de uma sabedoria nica. Acostumados aos
fragmentos, findamos por no conhecer quase nada ou mesmo nada a respeito das
Foras com as quais dizemos comungar e compactuar espiritualmente.
Quadro Geral
perturbados
em
suas
memrias,
diminudos
em
sua
linguagem,
cristianizados
eram
politestas.
Quanto
aos
povos
indgenas,
umas
sobre
as
outras
sem
que
respostas
satisfatrias
sejam
mais aos conceitos expressados pela Umbanda, apesar de que tal filiao no
represente uma pertena direta mesma ou s suas Linhagens.
Seguindo nossa estrutura de pensamento, vale considerar que o termo caboclo
tambm era usado por alguns indgenas para se referir com certo desprezo aos
indivduos que no pertenciam a um grupo especfico puro, ou seja, que no fossem
nascidos de pai e me ndios, nem sempre sendo vistos com bons olhos e designando
uma diferena clara entre indivduos. Bem mais tarde, quando o termo se tornou
comum e aceito entre os ndios, os caboclos ento se estendiam por toda a regio
Norte e litoral Nordestino, o que refora a teoria de que os Guias homnimos teriam
surgido primeiro ao interno dos antigos cultos da Jurema e da Pajelana, estando
pautada com grande fundo de autenticidade essa afirmao.
O termo caboclo se origina e se tornou muito comum nessas regies (Norte e
Nordeste) at os dias atuais, tanto que devemos recordar que o mesmo fora
largamente usado mais tarde para tambm se referir ao sertanejo, ao roceiro e ao
homem considerado bronco e grosseiro, desprovido de certa cultura. Uma
expresso bastante evidente dessa relao sertanista pode ser observada nos
prprios Caboclos Boiadeiros. Aqui, inclusive, no devemos esquecer serem essas
Entidades denominadas Caboclos antes de tudo, ainda que a forte tendncia atual
da Umbanda seja aquela de dissoci-los do seu grupo especifico e original. Todavia,
no Nordeste a figura do Boiadeiro como Caboclo ainda bastante forte, sobretudo ao
interno da Jurema, onde no se apresentam dissociados.
A Umbanda mais antiga apresentava inclusive Pontos Riscados desses Guias
inseridos dentro de um contexto mnemnico que se valia dos mesmos smbolos que o
restante dos Caboclos e nas regies Norte, Nordeste e Sudeste os Caboclos
Boiadeiros sempre gozaram de grande prestgio nos crculos religiosos afins. Ainda
na Jurema, em meio a sua Encantaria, vamos encontrar Entidades ditas mestias,
como as Caboclas Mariana (uma Yara), Herondina e Tereza Lgua (considerada uma
Cabocla), assim tambm como o Caboclo Venncio, por exemplo, sem que sejam
considerados ndios, o que ressalta a forma abrangente e original com que o termo
era inicialmente conhecido.
Umbanda
Jurema
apresentam
marcantes
influncias
indgenas,
antes,
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11
12
Continua
Flvio Juliano:.
Dirigente
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