6-Antes Que o Galo Cante (Richard Simonetti)
6-Antes Que o Galo Cante (Richard Simonetti)
6-Antes Que o Galo Cante (Richard Simonetti)
revoluo que seus ensinos produziram no mundo, apesar da exigidade dos seus meios de ao.
...Condenado ao suplcio que s aos criminosos era infligido, morre ignorado do mundo, visto que
a Histria daquela poca nada diz a seu respeito.
Nada escreveu; entretanto, ajudado por alguns homens to obscuros quanto ele, sua palavra
bastou para regenerar o mundo; sua doutrina matou o paganismo onipotente e se tornou o facho
da civilizao.
...Se em vez dos princpios sociais e regeneradores, fundados sobre o futuro espiritual do homem,
ele apenas houvesse legado posteridade alguns fatos maravilhosos, hoje mal, talvez, o
conhecessem de nome.
Allan Kardec, em A Gnese, cap. XV, item 63
Sumrio
ALGUNS FOSFOROS
QUANDO ENTRA O ANTAGONISTA
ULTIMAS INSTRUES
NO HORTO
A NEGAO E O JULGAMENTO
DIANTE DE PILATOS
A CRUCIFICAO
O SEPULTAMENTO
PREPARANDO O CENRIO
VENCENDO A MORTE
A PESCA MILAGROSA
APASCENTAR AS OVELHAS
O RETORNO DE JESUS
OS QUINHENTOS DA GALILIA
O DERRADEIRO ENCONTRO
ULTIMAS PALAVRAS
ALGUNS FOSFOROS
A o longo de seis anos, nas reunies pblicas do Centro xlLEsprita Amor e Caridade, em Bauru,
desenvolv estudos sobre a vida de Jesus. Busquei trocar em midos os aspectos mais
importantes de seu apostolado, luz da Doutrina Esprita.
Jesus situa-se como a figura maior da Humanidade. Sua existncia um repositrio de
ensinamentos e exemplos extraordinrios, to importante que os telogos medievais chegaram a
confundi-lo com Deus.
Sabemos, luz da Doutrina Esprita, que o Mestre no Deus, mas se situa como um enviado do
Criador, que nos trouxe a mais bela e pura mensagem jamais oferecida Humanidade.
Sobrepondo-se s limitaes humanas, fez-se uno com o Pai, como exprime o apstolo Joo, uma
comunho s alcanada por Espritos de seu quilate, capazes de refletir o pensamento divino.
As gratificantes experincias na exposio da vida de Jesus renderam seis livros:
Paz na Terra
Do nascimento ao incio do apostolado.
Levanta-te!
Primeiro ano.
Tua F te Salvou!
Segundo ano.
No Peques Mais!
Terceiro ano.
Setenta Vezes Sete Derradeiras experincias.
Por ltimo este livro, que trata do Drama do Calvrio e das ocorrncias envolvendo a
ressurreio .
Para estudiosos e leitores interessados em consultar determinados temas ou passagens, estou
incluindo dois ndices: analtico e de textos evanglicos.
O que ressalta, quando nos dispomos a aplicar a mensagem crist s experincias do cotidiano,
a enorme distncia que medeia entre o que idealizamos e o que fazemos, entre o sonho
maravilhoso e a lamentvel realidade de nossas imperfeies.
Os prprios companheiros, Espritos superiores que vieram para colaborar com o Mestre, no se
furtaram a essa dificuldade. Isso marcante na negao de Pedro. Sempre to efusivo, to firme
em suas convices, disposto a seguir Jesus at a morte, vacilou, no inesquecvel episdio do
galo.
O apstolo representava ali a condio humana. Ao longo destes dois milnios de contatos com o
Evangelho, quantas vezes teremos, ns outros, reafirmado nossos propsitos de testemunhar a
adeso ao Cristo? E quantas vezes teremos negado nossa crena, precipitando-nos no
resvaladouro das iluses?
Parece-me oportuno, portanto, que o ttulo deste ltimo livro da seqncia evoque aquele
episdio.
Recordo velho ditado:
Quem acende uma vela o primeiro a ser iluminado.
No tenho a competncia dos bons iluminadores. Apenas ofereo, amigo leitor, alguns fsforos.
Ficarei plenamente compensado se voc puder aproveit-los para acender o Cristo em seu
corao, em favor de uma existncia tranquila e feliz.
Bauru, junho de 2003.
QUANDO ENTRA O ANTAGONISTA
Mateus, 26:17-30 Marcos, 14:12-26
Lucas, 22:7-30 Joo, 13:1-35
conforme foi determinado e est escrito a seu respeito, mas ai do homem por quem o Filho do
Homem for entregue! Seria melhor para esse homem se no houvesse nascido!
Ao dizer que seria melhor no ter nascido, Jesus evidencia que a traio de Judas no constava do
projeto messinico.
Aconteceu, no por deciso divina, mas por desatino humano, na iniciativa de um discpulo iludido
com as realizaes materiais.
O mal nunca programado.
Situa-se por fruto de nossas aes, quando contrrias vontade de Deus.
Dirigindo-se a Joo, sentado ao seu lado, Jesus, informou que o traidor seria aquele a quem
entregasse o po molhado no vinho.
E o ofereceu a Judas, dizendo:
- O que tens que fazer, faze-o depressa!
Judas tomou o pedao de po e saiu imediatamente.
Diz o texto evanglico que depois do po, entrou em Judas o antagonista, simbolizando as
influncias nefastas que o norteavam.
Ningum, com exceo, talvez, de Joo, compreendeu o que acontecera. Como era Judas quem
guardava a bolsa do grupo, pensaram que sara para comprar o necessrio festa e algo dar aos
pobres.
M Indagar o leitor:
Se a traio de Judas no estava no script, por que Jesus no procurou demov-lo?
A resposta simples:
No adiantaria!
Judas firmara um propsito - promover uma reao popular com a priso de Jesus, iniciando uma
revoluo.
Nada do que o Mestre lhe dissesse havera de modificar sua inteno, mesmo porque, a essa altura,
sentia-se ele prprio um instrumento divino.
Se Judas no aprendera as lies de prudncia e mansutude, exemplificadas por Jesus, em trs anos
de convivncia, no havera de se sensibilizar com reiteradas advertncias.
***
H quem questione a ao dos mentores espirituais quando as pessoas envolvem-se com o mal.
Por que no interferem?
Equivocada dvida!
Eles nunca deixam de nos advertir e orientar pelos condutos da intuio, alm de mobilizarem
variados recursos educativos, envolvendo a religio, o lar, a escola...
Quando a pessoa permite que, a par dessas benesses, entre em seu corao o antagonista,
representando o envolvimento com as tentaes e enganos do mundo, acaba frustrando o empenho do
mundo espiritual.
Resta deixar que a pessoa exercite o livre-arbtrio e quebre a cara, como se costuma dizer,
aprendendo, pela didtica severa da dor, que preciso respeitar as leis divinas.
ULTIMAS INSTRUES
Mateus, 26:26-29 Marcos, 14:22-25 Lucas, 22:15-20 Joo, 13, 14, 15 e 16
Por que, justamente no final de seu apostolado, havera de instituir um processo mgico de
comunho, em que houvesse uma transubstanciao do po em seu corpo e do vinho em seu sangue?
Vemos nessa passagem evanglica simplesmente um gesto de carinho de Jesus com os companheiros,
uma lembrana feliz:
Quando compartilhassem o po e o vinho, recordassem daquele derradeiro encontro e de tudo o que
ali se passara.
Imaginemos emrito professor, venerado por seus alunos, a oferecer-lhes um churrasco, antes de
partir para pas distante.
Em seu discurso de despedida, pede-lhes que se lembrem dele em futuras confraternizaes, como se
estivesse presente.
Nem por isso os alunos haveram de imaginar que a carne do churrasco ou a cerveja se
transubstanciassem no professor.
Infelizmente, aconteceu com Jesus. Uma simples evocao sugerida transformou-se em ritual com
propriedades mgicas.
Est bem de acordo com as tendncias humanas.
O prprio Espiritismo enfrenta esse problema, no obstante a racionalidade de seus princpios e o
empenho de Kardec por evitar que os espritas envolvam-se com fantasias.
Um confrade nos dizia que no Centro Esprita do qual diretor instalaram um busto de Kardec na
biblioteca. Em pouco tempo tiveram que retir-lo, porquanto muitas pessoas que ali entravam
persignavam-se e a ele dirigiam oraes, como se estivessem diante do prprio.
***
Com imensa ternura pelos companheiros, Jesus proclama:
- Filhinhos, por pouco tempo ainda estou convosco. Vs me procurais e assim como disse aos
judeus, tambm vos digo agora: Para onde vou, vs no podeis ir. Um novo mandamento vos dou:
que vos ameis uns aos outros. Assim como eu vos amei, amai-vos tambm uns aos outros. Nisto
todos conhecero que sois meus discpulos, se tiverdes amor uns pelos outros.
Jesus nos oferece aqui a chave da vivncia crist.
No privilegia os aspectos exteriores.
Nem ritos, nem rezas, nem privaes, nem sacrifcios.
Apenas amor.
Embora hoje exaltada e decantada mais do que nunca, essa expresso sublime, essncia do
Cristianismo, est repleta de conotaes infelizes que a desgastam.
H os que confundem amor com sexo, ignorando a lio elementar: sexo apenas parte do amor, e
no a mais importante.
H os que fazem do amor um exerccio de exclu-sivismo, sufocando o ser amado com exigncias
descabidas.
H os que amam como quem aprecia um doce.
Gostam dele porque agradvel ao paladar. Por isso, cansam logo de amar, por estarem saciados, ou
empolgados pelo desejo de experimentar novos sabores.
H os que vem no amor a promessa de um cu particular, em bases de egosmo a dois.
O amor no nada disso! muito mais que isso!
Em sua grandeza essencial, o amor a realizao da fraternidade entre os homens, inspirando a
derrubada das barreiras de nacionalidade, raa e crena, para que sejamos na Terra uma grande
famlia, feliz e ajustada.
Essa a lio fundamental que Jesus veio nos ensinar, ainda no assimilada pela Humanidade.
Simo Pedro, com a iniciativa de sempre, mas sem perceber a gravidade do momento, indagou:
- Senhor, para onde vais?
- Para onde vo, no me podes seguir agora, mas me seguirs mais tarde.
- Senhor, por que no posso seguir-te agora? Por ti darei a minha vida.
- Tu dars a vida por mim?
E acentuou:
- Todos vos escandalizareis por minha causa nesta noite, pois est escrito: Ferirei o pastor, e as
ovelhas do rebanho se dispersaro Mas, depois que eu ressurgir, irei adiante de vs para a
Galilia.
perfeita a noo que Jesus tem dos acontecimentos futuros, e se reporta, inclusive, expresso do
profeta Zacarias (13:7), o pastor ser ferido e dispersas as ovelhas... Mas depois ele as reunir.
Rebateu Pedro:
- Ainda que todos se escandalizem por tua causa, eu nunca me escandalizarei.
- Simo, eis que Satans vos procurou para vos peneirar como se faz com o trigo. Mas eu roguei
por ti, para que a tua f no desfalea; e tu, quando retomares para mim, apia os teus irmos.
Pedro no tinha idia de que sucumbira s suas prprias fraquezas, envolvido pelos agentes das
sombras.
O Mestre usa uma expresso interessante. Ele seria peneirado por Satans. Digamos que Espritos
que assediavam os apstolos haveram de test-los como quem peneira farinha.
Ficariam expostas as mazelas.
Simo Pedro, quando chamado ao testemunho, revelaria uma fraqueza fatal - o medo.
No apenas ele. Seria a partir de temores insuperveis, exacerbados por influncias espirituais
inferiores, que todos os membros do colgio apostlico fugiram dos testemunhos a que seriam
convocados.
Sem idia do que o esperava, o pescador afirmou, resoluto:
- Senhor, estou pronto a ir contigo, tanto para o crcere quanto para a morte.
-Pedro, em verdade, em verdade, te digo: nesta noite, antes que o galo cante, trs vezes negars
que me conheces.
O apstolo reiterou, veemente:
- Ainda que me seja necessrio morrer contigo, de modo algum te negarei.
Os companheiros o acompanharam naquele rompante.
No tinham noo da prpria fragilidade.
O Evangelista Joo reporta-se a longo discurso de Jesus, incluindo revelaes, oraes e exortaes.
Como s registrou suas lembranas vrios decnios depois, provavelmente boa parte ficou por conta
de suas prprias lucubraes.
No obstante, h aspectos relevantes que bem exprimem o pensamento de Jesus.
Alguns deles:
X A nova revelao:
- Se me amais, observareis meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dar outro
Consolador, para que permanea convosco para sempre, o Esprito de Verdade, que o mundo no
pode receber, porque no o v nem o conhece...
Tenho ainda muito que vos dizer, mas no podeis suportar agora. Quando vier aquele Esprito de
Verdade, ele vos conduzir verdade completa, pois no falar de si mesmo, mas dir tudo o que
tiver ouvido e vos anunciar o que est por vir. Ele me glorificam porque receber do que meu e
vos anunciar.
A ortodoxia religiosa situa o Consolador, o Esprito de Verdade, na festa de Pentecostes, quarenta
dias aps as materializaes de Jesus, quando os discpulos, sob influncia do Esprito Santo,
falaram e profetizaram em lnguas estrangeiras.
Idia equivocada. No vemos o Consolador naquelas manifestaes. A morte de Jesus era recente.
Nada havia para recordar, porquanto nada fora esquecido.
Houve o mero registro do acontecimento, sem nenhum desdobramento doutrinrio.
A Doutrina Esprita apresentada pelos mentores espirituais que orientavam Allan Kardec como o
Consolador.
E o Esprito de Verdade que vem alargar os horizontes de nosso entendimento, oferecendo-nos luzes
novas sobre os ensinamentos de Jesus.
O Espiritismo ajuda-nos a compreender bem o significado de suas palavras, mesmo aquelas que nos
parecem difceis e enigmticas.
E h um desdobramento, complementando os princpios evanglicos com uma gloriosa viso do
mundo espiritual e dos mecanismos que regem a evoluo do lisprito. Jr
A ligao fundamental.
- Eu sou a videira, vs os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse produz muito fruto,
porque sem mim nada podeis fazer.
Jesus o supremo guia.
As noes mais claras e objetivas quanto aos caminhos que devemos trilhar para nos comportarmos
como filhos de Deus esto devidamente registradas em suas orientaes.
O Evangelho, portanto, a seiva sagrada que sustenta nosso ideal. Se nos afastarmos de suas
diretrizes faltar o nctar divino que nos d vitalidade e fora para superarmos nossas imperfeies.
A paz desejvel.
-Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; no vo-la dou como o mundo a d. No se turbe o vosso
corao, nem se atemorize.
A paz , talvez, a maior aspirao humana, nossa maior necessidade.
Sem paz a vida perde a graa, a felicidade perde o sabor.
H diferenas fundamentais entre a paz do Mundo e a paz que Jesus nos oferece.
A paz do mundo exige que:
Tenhamos muito dinheiro.
No levemos desaforo para casa.
Satisfaamos nossas ambies.
Cultivemos muitos lazeres.
E uma paz efmera, enganosa, um misto de inquietao e frustrao, porque, por mais que a pessoa se
empenhe, nunca se satisfaz inteiramente.
A paz de Jesus diferente...
Nascida do empenho de servir, do exerccio do perdo, do desprendimento dos bens materiais, do
cultivo da orao, coloca-nos em harmonia com a Vida e nos realiza como filhos de Deus,
sustentando-nos a alegria e o bem-estar, em todas as situaes, mesmo quando enfrentando as
vicissitudes da Terra. *
A sorte estava lanada.
A partir dali os acontecimentos se precipitariam e viriam os grandes testemunhos de Jesus, os
exemplos finais.
NO HORTO
Mateus, 26:36-56
Marcos, 14:32-52
Lucas, 22:39-53
Joo, 18:1-12
Segundo a narrativa, Jesus sentiu imensa angstia, verdadeira agonia. Falou aos trs companheiros:
- Minha alma est triste at a morte. Ficai aqui e velai comigo.
Afastou-se, distncia de um arremesso de pedra, uns trinta ou quarenta metros.
E orou:
- Meu Pai, se possvel, afasta de mim este clice; todavia, no seja como eu quero, mas como Tu
queres. Faa-se no a minha, mas a Tua vontade.
Voltou e encontrou os discpulos adormecidos.
Dirigiu-se a Pedro:
- Simo, tu dormes? No pudeste vigiar uma hora comigo!? Por que dormis? Levantai-vos! Vigiai
e orai, para que no entreis em tentao; pois o Esprito, na verdade, est pronto, mas a carne
fraca.
Afastando-se, reiterou, em orao:
- Meu Pai, se no possvel passar de mim esse clice, sem que eu o beba, faa-se a Tua vontade.
Tomou a encontrar os discpulos adormecidos.
Afastou-se pela terceira vez. Repetiu a rogativa.
Novamente diante dos companheiros, que ainda dormiam, despertou-os:
- Dormis agora e descansais? Basta! Eis que chegou a hora e o Filho do Homem ser entregue nas
mos dos pecadores. Levantai-vos! Vamos! Eis que chegou o que me entrega.
Sempre encarei com perplexidade a agonia de Jesus no Getsmani.
Figura maior da Humanidade, nosso grande mentor, o Esprito mais puro que j transitou pela Terra,
podera Jesus ter fraquejado justamente no momento do grande testemunho?
Entendo hoje que em sua atitude no havia temores ou dvidas. Estava perfeitamente consciente do
que aconteceria e do que lhe competia fazer.
Apenas exprimia a compaixo por todos aqueles que estariam envolvidos em sua morte, e tambm
pelos que desertariam, fugindo ao testemunho.
No lamentava o mal que lhe fariam.
Sofria pelo comprometimento dos maldosos.
como a me que v o filho a desrespeit-la.
- Eu era egosta, frio com os pacientes, preocupado apenas em ganhar dinheiro, comerciante da
Medicina. O cncer deu-me humanidade. Hoje sou sensvel ao sofrimento alheio. Envolvo-me com
os pacientes. Vejo neles no mais cifres, mas seres humanos que precisam de minha solicitude, de
meu carinho. Sei, agora, como isso importante.
***
Outro aspecto relevante desta passagem evanglica diz respeito ao incontrolvel sono dos
discpulos.
Por trs vezes Jesus pediu que orassem, e eles dormiram.
O Esprito forte, mas a carne fraca, explicou o Mestre.
Temos aqui o embate entre a condio humana e o ser imortal, sem dvida, o grande desafio que
enfrentamos na Terra.
No Drama do Calvrio, Jesus exemplificou a vitria do Esprito sobre a came.
Os discpulos frustraram-se com a vitria da came sobre o Esprito.
No mesmo contexto, a advertncia:
Os grandes testemunhos da existncia envolvem solido.
como o doente preso ao leito, diante do clice de amarguras.
A famlia a cerc-lo de solicitude, no recesso do lar.
Ele a sorv-lo em soledade, na intimidade do ser.
Pouco depois, uma multido invadiu o Jardim das Oliveiras.
Eram guardas, desordeiros e curiosos.
Traziam lanternas, archotes, espadas, paus e armas. Vinham dispostos luta, se preciso, a mando do
judasmo dominante.
frente de todos, Judas.
A senha para identificar Jesus - um beijo. Era costume que os aprendizes beijassem seus mestres.
Naquele momento, suposta manifestao de respeito transvestia-se em sinistra senha de priso.
Aps o sculo da traio, Jesus adiantou-se diante dos guardas:
-A quem procurais?
- A Jesus, o nazareno.
- Sou eu.
Ao impacto de sua fora magntica, os soldados perdem a iniciativa.
Jesus reitera:
- A quem procurais?
- A Jesus, o nazareno.
- J vos disse que sou eu. Mas, se a mim que procurais, deixai ento estes irem.
Os discpulos e acompanhantes de Jesus ensaiam uma reao. Simo Pedro toma uma espada e fere
um dos servos do sumo-sacerdote, de nome Malco, cortando-lhe a orelha direita.
Questiona-se o uso da espada. Seria totalmente fora de propsito tal arma nas mos de um discpulo
de Jesus. Provavelmente era um faco, que se presta a muitas utilidades no campo.
Embora todos os evangelistas tenham se reportado agresso, somente no Evangelho de Joo h a
citao nominal do agressor.
Seria Pedro, realmente?
Jesus contm o grupo:
- Basta! Embainha a tua espada, pois todos os que lanarem mo da espada morrero pela espada.
Ou pensais que no posso rogar a meu Pai, e Ele me enviaria e colocaria minha disposio,
neste momento, mais de doze legies de anjos? No beberei o clice que o Pai me deu? Como,
pois, se cumpriro as Escrituras, segundo as quais assim deve acontecer?
A expresso quem com ferro fere, com ferro ser ferido tem sua origem nas palavras de Jesus,
enunciando um dos princpios bsicos da Doutrina Esprita - a Lei de Causa e Efeito. A vida sempre
nos cobrar por nossas defeces, trazendo-nos de volta as conseqncias de nossos desatinos.
Jesus raciocina com propriedade ao dizer que, se quisesse, como j o fizera tantas vezes, escaparia
sanha de seus adversrios. Mas tinha conscincia de que o momento era de testemunho.
Num gesto de compaixo, bem tpico dele, restaurou a orelha do soldado. E reiterou sua vocao
para a brandura, dizendo queles que o prendiam:
- Viestes como a um ladro, com espadas e paus, para prender-me? Cada dia, estando convosco,
eu me sentava no templo ensinando, e no me prendestes. Mas esta a vossa hora e o poder das
trevas para que se cumpram as Escrituras dos profetas.
Enquanto os discpulos debandavam, um jovem desconhecido, envolto num lenol, disps-se a
acompanhar Jesus.
Apavorando-se diante dos guardas que o agarraram, largou em suas mos a vestimenta singela e fugiu
nu.
Essa fuga pattica deixa um simbolismo.
O lenol representa a crena religiosa que nos agasalha.
Todavia, quando somos chamados a beber o clice, quando surgem os grandes desafios e testes da
existncia, deixamos, no raro, a cobertura precria de nossas convices e fugimos na nudez de
nossas inferioridades.
A NEGAO E O JULGAMENTO
Mateus, 26:57-75
Marcos, 14:53-72
Lucas, 22:54-71
Joo, 18:13-27
Aps a priso, no Horto, dispersos os discpulos, Jesus foi levado ao palcio de Ans, que, tendo
sido sumo pontfice do judasmo, ainda era figura influente e respeitada.
Aps breve encontro, Ans o encaminhou casa de Caifs, seu genro, que o substituira. Ali estava
reunido o Sindrio, o tribunal judeu, composto por sacerdotes, escribas e ancios.
Provavelmente no se faziam presentes todos os setenta membros, mas havia nmero suficiente.
Afinal, tratava-se de decidir no o que, mas como seria feito. Era um jogo de cartas marcadas,
porquanto j fora resolvido que Jesus deveria morrer.
A idia era elimin-lo de forma conveniente, sem criar embaraos com o povo e, particularmente,
com os dominadores romanos.
Dois discpulos acompanhavam de longe o desenrolar dos acontecimentos.
Um era Simo Pedro; o outro, provavelmente, Joo.
Ambos chegaram casa de Caifs.
Joo partiu, talvez para dar cincia aos companheiros do que estava acontecendo.
Simo Pedro conseguiu entrar.
Permaneceu no amplo ptio externo, prximo a Jesus, que aguardava a deciso do Sindrio.
Madrugada fria...
O apstolo situou-se junto a uma fogueira, procurando aquecer-se.
Ento, uma criada da casa, fixando-o atentamente, disse:
- Este homem estava com ele.
Instintivamente Pedro negou:
Pouco depois, algum afirmou:
- Tu s, tambm, um deles.
E Pedro, enftico:
- Homem, no sou!
Passada quase uma hora, outro circunstante denunciou:
- Tambm este verdadeiramente estava com ele, pois galileu.
E Pedro:
- Homem, no sei o que dizes!
Ao pronunciar a terceira negativa, ouviu o galo cantar. Voltando-se, viu Jesus a contempl-lo
serenamente. No havia censura em seu olhar.
Apenas, certamente, a melancolia de quem v confirmadas suas previses.
Saindo dali, o apstolo chorou amargamente.
Protagonizava um dos momentos mais significativos do Evangelho, dando-nos conta do abismo que
h entre o que idealizamos e o que fazemos.
Ele, que se mostrara disposto a enfrentar todos os martrios por Jesus, sucumbira vergonhosamente
aos prprios temores, no vacilando em mentir, reiteradamente, para no ser preso.
Aqueles acontecimentos agitaram sua alma. Sempre to cheio de iniciativa, a alardear uma coragem
que no possua, uma fora que estava longe de deter, comeava a entender a fragilidade da condio
humana.
Para sua felicidade, a lio foi bem assimilada. A partir dali Pedro atentaria s suas limitaes de
homem rude e impetuoso para, no desdobramento de ingentes esforos, converter-se no indmito
lder cristo.
Mais tarde, aps decnios de dedicao causa, ele prprio daria o grande testemunho.
Conduzido cruz, proclamou no ser digno de morrer como Jesus, pedindo que o crucificassem de
cabea para baixo, -v
Convocado ao interrogatrio, Jesus enfrentou a arbitrariedade de seus julgadores.
Segundo os dispositivos legais, em qualquer acusao havia necessidade de testemunhas.
Apresentaram-se duas, alegando textualmente:
- Ns o ouvimos dizer: Posso destruir o templo de Deus e reedific-lo em trs dias.
Acusao tola, pueril, que se reporta a mera afirmao, no a uma ameaa.
Ressalte-se que, segundo o registro evanglico, Jesus no disse destruirei e, sim, se destrures.
Detalhe importante: Jesus no se referia ao templo, que nenhum judeu, dotado de juzo, pensaria em
demolir, mas capacidade de ressurgir da morte, se o matassem, o que aconteceria nos episdios das
gloriosas materializaes.
***
Caifs, que o interrogava, ordenou-lhe que respondesse acusao.
O Mestre permaneceu em silncio.
O sumo sacerdote provocou:
- Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu s o Cristo, o Filho de Deus.
Respondeu Jesus:
- Se eu disser que sim, no acreditareis, e se vos interrogar no me respondereis.
Todos exclamam:
- Logo, tus o Filho de Deus?
E Jesus:
- Vs dizeis que eu sou.
Ento, Caifs rasgou suas vestes sacerdotais, um gesto teatral, adotado freqentemente pelas
autoridades religiosas quando pretendiam exibir grande indignao, e gritou:
- Blasfemou! Que necessidade temos ainda de testemunhas? Vedes que agora ouvistes a blasfmia!
Pois ns mesmos ouvimos de sua boca! Que vos parece?
Ouve-se a gritaria:
Alguns comearam a cuspir-lhe no rosto, dando-lhe socos. Outros lhe vendaram os olhos e o
agrediam, dizendo-lhe:
- Profetiza-nos, Cristo, quem te bateu?
E os guardas o retiraram a bofetadas.
Jesus no roubara, no matara, no cometera nada passvel de priso, e muito menos de condenao
morte.
Quando confirmou que era filho de Deus apenas exprimiu a condio humana. Somos todos seus
filhos.
Portanto, no havia base legtima para qualquer acusao.
Mas os senhores do judasmo estavam pouco interessados na legalidade.
As provas eram mais que suficientes.
S havia um problema.
A Palestina permanecia sob domnio de Roma.
A sentena, portanto, deveria ser ratificada por Pncio Pilatos, o procurador romano.
DIANTE DE PILATOS
Mateus, 27:1-26
Marcos, 15:1-15
Lucas, 23:1-25
Joo, 18:28-40,19:1-16
E disse-lhes:
- Pequei, entregando sangue inocente.
- Que nos importa, isso contigo!
Atormentado, Judas lanou as trinta moedas de prata no cho, o preo da traio.
Num gesto de desespero, enforcou-se, pretendendo penitenciar-se de seu crime.
Os sacerdotes no quiseram as moedas. No podiam ser guardadas no templo, porque constituam
preo de sangue.
Segundo o relato evanglico, teriam comprado com elas o campo de um oleiro para sepultura dos
peregrinos estrangeiros. Evocando a origem do dinheiro usado, ficaria conhecido como campo de
sangue.
Enquanto isso, Caifs reuniu novamente o Sindrio para a providncia final. Jesus foi levado ao
pretrio, residncia oficial do governador.
Conforme as complicadas prescries judaicas, os judeus ficavam impuros entrando em casa de
gentio.
Como estavam s vsperas da Pscoa, os acusadores no queriam essa contaminao. Pediram,
portanto, a audincia fora do recinto.
^ Diante da multido, perguntou Pilatos:
- Que acusao trazeis contra esse homem?
Impertinentes, retrucam os senhores do templo:
Desde o princpio Pilatos revelou-se pouco vontade. Aqela era uma questo de carter religioso,
que dizia respeito aos judeus. Preferia no interferir.
- Tomai-o vs mesmos e julgai-o segundo a vossa lei.
Seus interlocutores alegaram que no detinham a prerrogativa de condenar morte.
E acusaram, procurando justificar a pena mxima:
- Encontramos este homem corrompendo nossa nao, proibindo de pagar tributo a Csar e
dizendo ser ele o Cristo, o rei.
Ardilosamente, mudavam o enfoque.
Em princpio, era uma questo religiosa:
- Ele subleva o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galilia, onde comeou, at aqui.
Pilatos admirava o silncio do prisioneiro, que sequer se defendia das acusaes. que ele estava
consciente da inutilidade de qualquer empenho nesse sentido. Sabia o que o esperava.
O governador no via culpa no acusado, mas vacilava. No pretendia contrariar o judasmo
dominante.
Ouvindo a referncia Galilia, quis saber se Jesus era galileu. Ante a resposta afirmativa,
encontrou soluo para o impasse.
Herodes Antipas, prncipe judeu, nomeado por Roma para governar a Galilia, estava em Jerusalm.
Viera para as celebraes da Pscoa.
Decidiu, portanto, submeter a questo ao seu arbtrio.
***
O tetrarca recebeu Jesus com satisfao. Ouvira falar dos prodgios que operava, das curas
milagrosas, de sua marcante sabedoria.
Fez-lhe muitas perguntas.
Jesus permaneceu em silncio.
Herodes irritou-se. Dando ouvidos aos sacerdotes e escribas que o acusavam, veementes, passou a
trat-lo com desprezo.
Pretendendo ridiculariz-lo, determinou que o vestissem com um manto alvo, usado pelos prncipes,
e o enviou de retomo a Pilatos. Este reiterou aos sacerdotes:
- Vs me apresentastes este homem como agitador do povo, mas, interrogando-o diante de vs, no
encontrei nele nenhum dos delitos de que o acusais. Nem mesmo Herodes, pois o enviou novamente
a ns. Como vedes, ele nada fez que merea a morte. Portanto, aps castig-lo, eu o soltarei.
Boa sada.
Algumas chibatadas haveram de satisfazer a multido e evitar a agitao.
Havia, ainda, outra possibilidade.
Segundo os costumes judeus, por ocasio da Pscoa, o governador libertava um condenado escolhido
pelo povo.
A opo ficava entre Jesus e perigoso salteador, Barrabs, acusado de matar um homem.
Pilatos dirigiu-se ao povo:
- E costume entre vs1 que eu vos solte um condenado na Pscoa. Quereis, portanto, que vos solte
o rei dos judeus?
A escolha lhe parecia bvia.
Jesus era um doador de bnos.
Barrabs, um bandido.
Jamais podera ser superado na escolha popular por aquele criminoso.
Ocorre que a multido ali presente no inclua os amigos e admiradores de Jesus. No estavam ali
aqueles que haviam aclamado a entrada triunfal em Jerusalm.
Apenas serviais e pessoas instigadas pelos senhores do templo, com o propsito de promover sua
condenao.
A preferncia, portanto, pendeu para Barrabs.
Nesse nterim, Pilatos recebeu recado de sua mulher. Cludia Prcula seria o seu nome, segundo a
tradio. Reportava-se a uma experincia onrica. Supe-se que tomou conscincia durante as horas
de sono da inocncia de Jesus e do crime que estava sendo cometido, o que a afligira bastante.
Dizia:
Nada haja entre ti e esse justo, porque muito sofri ontem em sonho, por causa dele.
Era um bom motivo para Pilatos acabar com as maquinaes sinistras dos senhores do templo.
Mas, vacilante, limitou-se a confirmar, junto multido:
- Qual dos dois quereis que vos solte?
- Barrabs!
- Que farei, ento, de Jesus, chamado Cristo?
- Crucifica-o!
Nessa altura era impossvel conter os clamores que cresciam.
Decidiu tentar um ltimo recurso.
Mandou submeter Jesus ao flagcio.
O prisioneiro foi despido. Jogaram sobre ele um manto de purpura. Improvisada uma coroa de
espinhos, puseram-na sobre sua cabea e lhe deram um canio, guisa de cetro. Foi esbofeteado.
Cuspiram nele...
O governador voltou a falar multido:
- Vede, eu v-lo trago para que saibais que no encontro nele nenhum crime.
Jesus foi apresentado em situao ridcula e vexatria, ferido, coroado de espinhos, sangue a
escorrer por suas faces, manto de prpura a cobrir sua nudez.
A idia era situ-lo de forma caricata, como se fosse um dbil mental que se arvorara em rei.
Podiam rir dele, mas no havia por que conden-lo.
- Eis o homem.
De nada adiantou.
Os sacerdotes instigavam:
- Crucifica-o! Se o soltas, no s amigo de Csar. Todo aquele que se faz rei se declara contra
Csar!
A multido gritava, a plenos pulmes:
- Crucifica-o!
- Hei de crucificar o vosso rei?
- No temos rei seno Csar.
Vacilante e omisso, incapaz de exercer sua autoridade, Pilatos decidiu isentar-se.
Mandou vir gua e lavou as mos diante do povo, num gesto teatral:
- Estou inocente do sangue deste justo. Fique o caso convosco.
Barrabs, solto.
Jesus, entregue sanha da multido.
***
Consumava-se o crime inominvel contra o mais puro, o mais sbio de todos os Espritos que
transitaram pela Terra.
No obstante, Jesus transformaria a cruz, at ento algo execrvel, destinada aos criminosos, em
smbolo da redeno humana.
Olavo Bilac, o prncipe dos poetas brasileiros, exprime com rara beleza esse momento glorioso, pela
psicografia maravilhosa de Francisco Cndido Xavier:
Sobre a fronte da turba h um sussurro abafado.
A multido inteira, ansiosa se congrega,
Surda lio do amor, implacvel e cega,
Para a consumao dos festins do pecado.
- Crucificai-o! - exclama... Um lamento lhe chega Da Terra que solua e do Cu desprezado.
- Jesus ou Barrabs? - pergunta, inquire o brado Da justia sem Deus, que trmula se entrega.
-Jesus!... Jesus!... Jesus!... - e a resposta perpassa Como um sopro cruel do Aquilo da desgraa,
Sem que o Anjo da Paz amaldioe ou gema...
E debaixo do apodo e ensanguentada a face,
Toma da cruz da dor para que a dor ficasse Como a glria da vida e a vitria suprema.
A CRUCIFICAO
Mateus, 27:32-56
Marcos, 15:20-41
Lucas, 23:26-49
Joo, 19:17-30
Havia um supedneo, assim chamada a base que ficava sob os ps. Servia de apoio, evitando que o
peso do corpo o fizesse despregar-se, rasgando suas cames.
Obviamente, era muito doloroso. A cruz era o pior tipo de execuo, o mais humilhante, em
tormentosa lentido. O crucificado chegava a ficar dias exaurindo-se, sofrendo dores lancinantes.
Segundo a cronologia evanglica, seriam nove horas da manh quando Jesus foi crucificado,
juntamente com os dois ladres.
Os crucificados ficavam nus. Aparentemente, por deferncia especial, permitiram que Jesus tivesse
uma toalha cingindo seu ventre.
Quanto aos demais pertences de uso pessoal, foram divididos pelos soldados, enquanto sua tnica
era sorteada, ficando com um deles.
Pilatos mandou escrever na cruz, em hebraico, romano e grego:
Jesus, o nazareno, o rei dos judeus.
Pediram os sacerdotes que escrevesse uele disse, sou rei dos judeus, mas o governador romano,
irritado, farto daquela histria, confirmou:
- O que escrevi est escrito.
Ficou assim mesmo.
A multido cercava de improprios a cruz:
- Tu que destris o santurio e em trs dias o reconstris, salva a ti mesmo, se s filho de Deus, e
desce da cruz.
Um dos ladres fazia coro com a multido.
- No s tu o ungido? Salva a ti mesmo e a ns.
O outro censurava sua atitude:
- No temes tu a Deus, por estares no mesmo julgamento? Padecemos com justia, porque
recebemos o digno castigo s nossas obras, mas este nada fez de mal.
Acima daquelas vozes desvairadas, ouviram Jesus dirigir-se a Deus:
- Pai, perdoa-lhes, no sabem o que fazem!
Ele, que durante o apostolado exaltara a indulgncia como condio indispensvel s bemaventuranas celestes, acendeu naquele momento o divino facho do perdo, que havera de iluminar
para sempre os caminhos do Reino.
Se o amor a base da ao crist pela edificao de um mundo melhor, o perdo o seu escudo, a
sua proteo.
Impossvel exercitar aquele amor glorioso, que se exprime no sacrifcio dos interesses pessoais em
favor do bem comum, sem o exerccio do perdo irrestrito.
Jesus via naqueles que o condenavam, que zombavam dele, homens frgeis e falveis, que no tinham
a mnima noo do que estavam fazendo.
Realmente, todo aquele que pratica o mal digno de compaixo. No imagina os sofrimentos a que
se candidata, no cumprimento da Lei de Causa e Efeito, que rege a evoluo humana.
O perdo nos isenta de angstias e desajustes gerados pelo rancor, o dio, o ressentimento,
permitindo-nos viver em tranqilidade, mesmo quando perseguidos e vilipendiados.
E to importante que podemos afirmar, categoricamente:
Os que no perdoam tambm no sabem o que fazem.
O condenado que censurou o companheiro, fixado pela tradio como Dimas, o bom ladro, dirigiuse a Jesus:
- Senhor, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino.
Jesus respondeu:
- Em verdade, eu te digo, hoje estars comigo no paraso.
Os telogos medievais situam essas palavras de Jesus como um atestado de que o arrependimento
sincero nos exime de culpas.
Da a tradio de se oferecer a algum que se avizinha da morte a extrema uno ou, como hoje
denominada, a uno dos doentes, um sacramento que habilitaria o moribundo, desde que
arrependido, a galgar as estncias do paraso.
A Doutrina Esprita nos ensina que o arrependimento importante, na medida em que muda os rumos
de nossa vida, mas no nos isenta do esforo por reparar o mal praticado.
Admitindo, portanto, que realmente isso tenha acontecido e que Jesus o tenha levado consigo para
uma regio alcandorada, haveria de ser por mero estgio reparador, com retomo obrigatrio s lides
humanas, para o acerto de suas contas.
Discpulos e simpatizantes observavam de longe os acontecimentos.
Junto cruz estavam:
Maria, sua me.
Ocorre que a crucificao era o supremo testemunho, dando a consistncia s suas lies.
No havia, portanto, por que lamentar suposta negligncia divina.
***
Jesus pediu gua.
Molharam uma esponja, em beberagem ordinria, misto de vinagre e gua, levando-a aos seus lbios.
Ento, o Mestre disse, num ltimo alento.
-Est tudo consumado. Em Tuas mos, Pai, entrego o meu Esprito.
Era o ato final do Drama do Calvrio.
0 momento culminante.
Tivessem os homens ali presentes o dom da vidncia e observariam Jesus deixando tranqilo a veste
carnal, recebido por pliades de Espritos superiores que vinham dar-lhe as boas vindas.
Era o governador da Terra, o supremo senhor de nossos destinos, preposto de Deus, que retomava
vitorioso s paragens celestes.
Deixava um rastro de luzes, marcado por lies e exemplos, onde a manjedoura e a cruz ficavam
como smbolos da redeno humana.
Humildade, na manjedoura.
Sacrifcio, na cruz.
Constituiram a bandeira de todos os seus seguidores, inspirando-os na divina edificao do Reino.
Diz Andr Luiz, em psicografia de Chico Xavier:
A multido aplaudia, em delrio, a causa triunfante dos crucificadores.
Mas o Cristo, sereno e resignado, pregado no madeiro da infmia, era a Causa de Deus.
Por isso, a multido passou, mas Jesus ficou para sempre.
O SEPULTAMENTO
Mateus, 27:57-66, 28:1-8
Marcos, 15:42-47,16:1-8
Lucas, 23:50-56, 24:1-12
- Senhor, lembramo-nos do que o impostor disse em vida: Depois de trs dias ressuscitarei!
Manda, pois, que o sepulcro seja guardado com segurana at o terceiro dia, para que no
acontea que os discpulos venham jurt-lo e depois digam ao povo: Ele ressuscitou dos
mortos! Esse embuste seria pior que o primeiro.
Pilatos concordou:
- Vs tendes a guarda. Ide e guardai-o como entendeis.
Rapidamente o sepulcro foi selado e soldados foram mobilizados para vigi-lo.
Passado o sbado, ao raiar do domingo, fez-se sentir um tremor de terra, resultante da ao de um
anjo, a remover a pedra que fechava o sepulcro.
Sentou-se depois sobre ela. Era luminoso como um relmpago e brancas como a neve suas vestes.
Os guardas, apavorados, quedaram-se inertes, como se estivessem mortos.
***
Nesse nterim, Maria Madalena, a outra Maria, me de Tiago, e Salom, decidiram levar aromas
para ungir Jesus.
Como foi explicado, o alo e a mirra que Jos de Arimatia e Nicodemos aplicaram, retardavam a
decomposio. Por isso seria possvel ainda contempl-lo, dois dias aps a morte.
E diziam entre si:
- Quem afastar para ns a pedra de entrada no sepulcro?
Chegando, observaram que fora removida.
Entrando, a grande surpresa:
O corpo de Jesus ali no estava!
Perplexas, viram dois anjos que se apresentaram em vestes resplandecentes.
Um deles lhes disse:
- No tenhais medo. Sei que procurais Jesus Nazareno, que foi crucificado. Por que procurais
entre os mortos aquele que est vivo? Ele no est aqui, porque j ressuscitou, como havia dito.
Lembrai-vos de como vos falou, quando estava ainda na Galilia: preciso que o Filho do
Homem seja entregue nas mos dos pecadores, seja crucificado, e ressuscite Vinde ver o lugar
onde o Senhor jazia. Ide prontamente e dizei a seus discpulos e a Pedro que ele ressuscitou dos
mortos...
despojos carnais.
Assim, eliminou os traos materiais de sua passagem pela Terra.
PREPARANDO O CENRIO
Mateus, 28:9-15
Marcos, 16:9-13
Lucas, 24:13-35
Joo, 20:10-18
Pouco depois, Simo Pedro e Joo partiram. Ficou apenas Maria Madalena, a chorar, saudosa.
Onde estaria Jesus? Que teriam feito do Mestre amado?
Voltando-se para o sepulcro, experimentou celeste viso.
Ali estavam dois anjos, um cabeceira, outro aos ps do local onde estivera o corpo de Jesus.
Um deles lhe perguntou:
- Mulher, por que choras?
- que levaram o meu senhor e no sei onde o puseram.
Algum se aproximava.
Voltando-se, perguntou:
- Senhor, se foste tu que o tiraste, dize-me onde o puseste, eeuo levarei comigo.
- Maria - balbuciou, brandamente, o recm-chegado. ..
Reconhecendo-o, Maria exclamou, feliz:
- Mestre!
Podemos imaginar a emoo da jovem. Certamente quis beijar-lhe as mos, demonstrar seu carinho e
apreo, mas Jesus a manteve afastada:
- No me toques, Maria, porque ainda no fui ter com meu Pai, mas vai a meus irmos e dize-lhes
que subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus.
A jovem o enxergava com os olhos da alma. Uma vidncia. Como tal, Jesus era intangvel. Um
Nesse mesmo dia, dois discpulos iam em direo a Emas, aldeia nas proximidades de Jemsalm.
Um homem aproximou-se e caminhou com eles.
Vendo que comentavam os momentosos acontecimentos, perguntou-lhes a respeito.
Um deles, chamado Clofas, respondeu-lhe:
-Tus o nico peregrino em Jerusalm que no sabe o que aconteceu nestes dias?
- O que foi?
- O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, um profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e
de todo o povo. Os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser
condenado morte e o crucificaram.
Espervamos fosse ele quem iria redimir Israel. Agora, porm, alm de tudo isso, hoje o terceiro
dia desde que essas coisas aconteceram.
E verdade que algumas mulheres, as quais estavam conosco, nos assustaram, porque indo de
madrugada ao sepulcro, e no tendo encontrado o corpo de Jesus, voltaram dizendo que tinham
visto uma apario de anjos que lhes afirmaram estar ele vivo.
Foram alguns dos nossos ao sepulcro e encontraram as coisas tais, como as mulheres haviam dito;
mas no o viram!
Assim como acontecera com os apstolos, os dois viajantes no davam crdito ao relato feminino.
Ficaram surpresos quando o peregrino disse-lhes, peremptrio:
- insensatos, coraes lentos para crer tudo o que os profetas anunciaram! Pois no era
necessrio que o Cristo sofresse todas essas coisas e entrasse na sua glria?
Comeando por Moiss e percorrendo todos os profetas, interpretou, nas escrituras, o que dizia
respeito ao mensageiro divino. Tudo o que acontecera apenas confirmava as profecias.
Na entrada de Emas os discpulos convidaram:
- Fica conosco, porque tarde e o dia j declina.
mesa, na hospedaria, o peregrino tomou o po e o abenoou; depois o partiu e dividiu com eles,
exatamente como Jesus fizera na ltima ceia.
Ento, como se lhe abrissem os olhos, at ento, velados, reconheceram estar diante do prprio
Messias.
E disseram um ao outro:
- Porventura no ardia em ns o nosso corao, quando ele nos falava pelo caminho e quando nos
explicava as Escrituras?
Diferente da apario a Maria Madalena, Jesus ali se manifestava materializado, tangvel, tanto que
cortou o po e o distribuiu. Pouco depois, aos olhos atnitos dos discpulos, desmaterializou-se.
Emocionados e eufricos, os dois homens retomaram, apressados, a Jerusalm.
Um dos apstolos, ao ouvir seu relato, confirmou:
- tudo verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simo.
Esse encontro com Simo Pedro aparece apenas nessa citao. Paulo, na Primeira Epstola aos
Corntios, 15:5, tambm escreve, laconicamente, a respeito.
Estranho que no haja detalhes. Afinal, envolve a figura mais proeminente do cristianismo primitivo.
Mais provvel tenhamos aqui mero folclore. No era razovel que as aparies exclussem o
apstolo. Assim, preencheu-se a lacuna com a sumria referncia.
***
. Por que as primeiras manifestaes de Jesus ocorreram na periferia do movimento, diante de
humildes mulheres e obscuros seguidores?
Podemos entender, considerando que o colgio apostlico desagregara-se. Os discpulos estavam
dispersos, derrotados em sua escassa f.
Ao impacto daquelas manifestaes viram-se na contingncia de reunir-se, a fim de discutir o
assunto.
Era o que Jesus desejava. Completava-se o cenrio para suas decisivas intervenes.
VENCENDO A MORTE
Marcos, 16:14-18
Lucas, 24:36-49
Joo, 20:19-29
A ortodoxia religiosa, por sua vez, nada faz para mudar esse quadro, situando tais fenmenos como
manifestaes do demnio.
Diriamos manifestaes dos Espritos maus, j que para o Espiritismo no h seres demonacos. So
apenas filhos de Deus transviados, submetidos a leis inexorveis, que mais cedo ou mais tarde os
reconduziro aos roteiros do Bem.
E por que apenas o Esprito mau havera de ter poderes para superar as barreiras que separam o
plano fsico do espiritual?
Seria atribuir-lhe poderes que escapariam aos Espritos bons. Absurdo! O Bem inmitamente mais
poderoso!
Ante o susto dos companheiros, Jesus os tranqilizou:
- Por que estais perturbados? Por que se levantam essas dvidas em vossos coraes? Vede
minhas mos e meus ps, sou eu mesmo. Apalpai-me e vede, pois, um Esprito no tem carne, nem
ossos, como vedes que eu tenho.
Para que no pairasse dvida de que ele ali estava, visvel, tangvel, algo mais que um simples
fantasma, pediu:
- Tendes algo para comer?
Ento lhe serviram um pedao de peixe assado e um favo de mel, que Jesus tomou e comeu, diante
deles.
***
O Espiritismo nos apresenta dois tipos de fenmenos medinicos: efeitos fsicos e efeitos
inteligentes.
Se, num recinto pblico, apenas eu vejo um Esprito ao meu lado, um fenmeno subjetivo, de efeito
inteligente, uma experincia eminentemente pessoal, que se desdobra na intimidade de minha
conscincia.
Se todos os presentes o veem, estamos diante de um fenmeno de efeitos fsicos. como se o
Esprito se revestisse de matria, o ectoplasma, exteriorizado pelos mdiuns dotados dessa
faculdade. Foi assim que Jesus apresentou-se diante do colgio apostlico.
***
Para os telogos, a ressurreio do corpo.
Para o Espiritismo, a materializao da alma.
Qualquer seja a nossa interpretao, todos reconhecemos a grandiosidade daquele momento, seu
recomendando:
- Lanai a rede direita do barco.
Os pescadores firmaram a vista. Aquele vulto parecia familiar. Mas, que estranha recomendao, to
enftica! Decidiram obedecer. Lanaram a rede como lhes fora recomendado. Momentos depois,
surpresos, verificaram que quase no a podiam puxar, to grande era a quantidade de peixes presos
em suas malhas.
Nesse momento, Joo, comovido, identificou o homem da praia:
- E o Senhor!
Com a impetuosidade que o caracterizava, Pedro cin-giu-se com uma tnica e lanou-se nas guas do
Tiberades. Estavam a cerca de duzentos cvados, equivalente a uma quadra, perto de noventa
metros.
Nadava com. vigor, aproximando-se rapidamente da praia, seguido pelos companheiros no barco.
Este avanava mais lento, rede sobrecarregada. Minutos depois, a euforia do reencontro.
Viram um peixe, num braseiro. O Mestre preparava a refeio. Pediu-lhes mais alguns.
Pedro arrastou a rede. Contou cento e cinqenta e trs peixes grandes. Constatou, admirado, que,
apesar do peso, as malhas estavam intactas.
Vrios foram entregues ao Mestre, que terminou de prepar-los. Depois os convidou a comer.
***
Pela terceira vez Jesus apresentava-se diante do colgio apostlico. Tambm o fizera, anteriormente,
a Maria Madalena, a um grupo de mulheres, a dois simpatizantes no caminho de Emas...
Segundo a exegese bblica, houve ao todo onze aparies.
Observe, leitor amigo - elas trabalham contra a concepo teolgica da ressurreio. Por que
havera Jesus de visitar os companheiros, se, ressuscitado, teria permanecido com eles?
Mais lgico conceber que o Mestre materializava-se em ocasies oportunas, buscando sedimentar no
grupo a convico de que a morte no os separaria.
Ele no se refugiara em regies siderais, distncia das misrias humanas. Continuaria com seus
seguidores, em todas as situaes, amparando-os nos mais difceis testemunhos.
O estoicismo dos cristos, ante as dificuldades e perseguies, tinha muito dessa certeza.
Por maiores fossem as lutas e as dores; por mais rduos os testemunhos; por maiores os sofrimentos,
valia a pena tudo enfrentar por aquele Mestre generoso, que os amparava em todos os caminhos, e
acenava com uma eternidade de bnos queles que guardassem fidelidade aos seus princpios.
***
Se Jesus atravessava, tranqilo, as fronteiras que separam o mundo fsico do espiritual, a Terra do
Alm; se afirmava que tudo o que fazia podemos fazer, por que no haveram de exercitar esse
mesmo trnsito os nossos amados que partem, oferecendo-nos gloriosa mensagem de imortalidade?
Um dos grandes erros do dogmatismo religioso medieval foi negar a possibilidade desse
intercmbio, a ameaar com a fogueira aqueles que o tentassem.
A Doutrina Esprita o reinstituiu, mostrando que nossos amados no esto em compartimentos
estanques, distncia das cogitaes humanas.
Eles nos vem, nos acompanham, nos ajudam, torcem por ns, comunicam-se conosco,
principalmente durante as horas de sono, quando nos afastamos do corpo. Encontros maravilhosos,
que registramos palidamente, na forma de sonhos.
Embora disso no tenhamos conscincia, o contato com aqueles que partiram, nesse mergulho no
Alm facultado pelo sono fsico, valioso alento, ajudando-nos a enfrentar os desafios existenciais.
***
Exemplo tpico das bnos prodigalizadas pelo conhecimento esprita est no velrio em famlia
esprita. O ambiente de serenidade, sem manifestaes de desespero, inconformao ou revolta,
mesmo quando se trata da morte em circunstncias trgicas.
No que haja iseno de sofrimento. sempre dolorosa a separao, porm ameniza-se a dor pela
submisso ao inexorvel, vontade de Deus, em face da viso das realidades espirituais que o
Espiritismo nos oferece.
A Doutrina, como diz o ditado, mata a cobra e mostra o pau.
Mata a cobra - a morte.
Mostra o pau - o contato com os mortos, que comprova a sobrevivncia.
***
O encontro de Jesus com os discpulos, s margens do Tiberades, oferece precioso simbolismo.
Figuradamente, somos pescadores no mar da vida, a jogar, diariamente, a rede de nossos interesses e
iniciativas, buscando alimento que sacie nossa fome de conforto e paz.
Geralmente, mal orientados pelo egosmo, que o mvel das aes humanas, lanamos a rede do
lado errado, envolvendo iluses, vcios, ambies... Talvez colhamos pedras reluzentes de vida
mundana, cujo brilho nos atrai em alegre expectativa.
uma questo de sensibilidade. Para quem tem estH pessoas que vivem relativamente bem, assim.
mago de avestruz, pedra ajuda na digesto.
Mas sempre chega o momento de mudar. O ime-diatismo, as ambies, os vcios, acabam por cansar.
As pedras j no fazem sentido. Difcil digeri-las.
O corpo reclama, ficamos doentes...
O Esprito reclama, ficamos infelizes...
Cuidados mdicos especializados amenizam nossos males, mas fica o vazio, a sensao de crnica
insatisfao.
preciso, segundo Jesus, jogar a rede do lado certo. Buscar alimento para o Esprito, envolvendo o
aprendizado dos valores morais, o esforo de renovao, o empenho por definir as razes da
existncia humana, considerando que no estamos aqui em jornada de frias.
H finalidades especficas, que nos compete descobrir.
A Doutrina Esprita vem numa vanguarda de esclarecimento nesse sentido. Ensina que somos
viajores da eternidade em trnsito pela Terra, e que tanto mais felizes seremos quanto maior o nosso
empenho por cumprir as leis divinas, enunciadas no Evangelho.
O Espiritismo Jesus de volta, na praia de nossos anseios existenciais, sugerindo:
- Jogai a rede do lado certo!
APASCENTAR AS OVELHAS
Joo, 21:15-17
Os segundos empenham-se, tm imaginao, desenvolvem as tarefas, aprimoram os servios, doamse em boa vontade, dedicao, carinho pelo servio.
No CEAC, em Bauru, h mltiplos departamentos, envolvendo evangelizao, mocidade, creche,
biblioteca, livraria, clube do livro esprita, albergue, centro de triagem de migrantes, casa de
passagem, ncleos de periferia, orientao s gestantes, assistncia hospitalar, assistncia s
prises...
Embora sejam servios diversificados, tm um ponto em comum: cada um deles foi montado e
sustentado por idealistas, que amam o que fazem!
H uma histria interessante a esse respeito, envolvendo excelente me de famlia.
Cozinheira de mo cheia, fazia quitutes de dar gua na boca. Seus bolos eram uma tentao,
verdadeiro manjar dos deuses.
Seu segredo: uma caixa metlica. Havia ali um ingrediente mgico que sua me lhe dera. Dava sabor
especial a qualquer alimento que preparasse.
No deixava ningum pegar na caixa. Seu contedo, dizia, era extremamente voltil, podera perderse e no havia como repor.
Submetendo-se a uma cirurgia, esteve alguns dias hospitalizada. O marido ficou perdido. A esposa
era a luz que iluminava sua existncia, isso sem falar nos manjares dos deuses que preparava.
A noite, sozinho em casa, imaginou o que comer.
Abriu a geladeira e pegou um pedao de bolo feito pela cara-metade. A delcia de sempre!
Enquanto comia, abriu um armrio e viu a misteriosa caixa.
Baixou nele o esprito feminino - a curiosidade.
Se voc, leitora amiga, no gostou desse esprito feminino, lembre-se de que, segundo a fantasia
bblica, perdemos o paraso por causa da curiosidade de Eva.
Bem, essa outra histria.
Com infinito cuidado, abriu a caixa. Para sua surpresa, estava praticamente vazia. Tinha apenas um
pedao de papel dobrado.
Abriu. Era um bilhete singelo de sua sogra.
Minha filha, em tudo o que fizer, acrescente uma pitada de amor.
Era esse o seu segredo.
***
Obviamente, a vivncia da doutrina implica, tambm, no empenho de apascentar as ovelhas, como
ensina Jesus.
Apascentar, no sentido evanglico, seria cuidar.
Quem so as ovelhas?
A tradio religiosa pretende sejam os que aceitam Jesus e passam a fazer parte de seu rebanho.
Diversas seitas crists consideram ovelhas apenas os irmos de f.
J ouvimos de pregadores evanglicos a inacreditvel afirmao de que so filhos de Deus os que
foram batizados em suas crenas.
Os de fora so apenas criaturas.
Considerando que somente trinta por cento dos habitantes da Terra so cristos, chegamos
espantosa idia de que setenta por cento esto margem da paternidade divina e de suas graas.
E como, segundo essas doutrinas, Jesus o caminho para o Cu, dois teros da Humanidade jamais
tero acesso, porque sequer o conhecem.
Isso discriminao, algo inconcebvel no cristo.
***
A Doutrina Esprita nos oferece uma viso mais racional e lgica. Todos somos filhos de Deus, seja
qual for a nossa raa, nacionalidade ou crena.
o governador de nosso planeta, que assumiu perante Deus o compromisso de nos conduzir pelas
sendas do progresso, rumo perfeio.
E Jesus no o pastor de algumas ovelhas. o pastor de todas as ovelhas.
Ento, o catlico, o evanglico, o esprita, tanto quanto o budista, o muulmano, o judeu, o hindusta,
o xintosta, ou o prprio materialista, somos todos filhos de Deus, orientados pelo Cristo.
Mesmo os que no o conhecem ou no o aceitam como guia, pertencem ao seu rebanho, da mesma
forma que algum que desconhece ou renega o pai no deixa de ser seu filho.
Seja qual for a nossa nacionalidade, raa ou crena, permanecemos todos sob a gide de Jesus,
conduzidos por suas mos compassivas. Ainda que demande o concurso dos milnios, terminaremos
em seus caminhos.
O que o Mestre espera de ns, que j o conhecemos, que estejamos dispostos a colaborar em sua
Seara.
Quando chegar a nossa hora, quando retomarmos vida espiritual, a avaliao bsica, como cristos,
ser:
Quantas ovelhas apascentamos, quanto amor demos ao semelhante, no esforo do Bem?
O RETORNO DE JESUS
Joo, 21:18-23
Imaginou-se que ele no morrera enquanto Jesus no voltasse para suposto juzo final.
Quando o apstolo morreu, em idade avanada, houve grande decepo na comunidade crist.
Jesus no viera.
No obstante, permaneceu a convico de seu retomo em remoto futuro.
O tempo passou e ele no chegou, contrariando dataes que se sucediam.
Na virada do primeiro sculo...
Ao completar-se o primeiro milnio...
Ao final do segundo, a expectativa era grande. Havia at um vaticnio supostamente contido nos
Evangelhos:
De mil passou, a dois mil no chegar.
Algumas seitas pretenderam definir datas, frustrando-se quando elas chegaram e nada aconteceu.
Apesar desse fracasso, ainda hoje se cultiva, intensamente, a idia de que o Mestre est para chegar.
Em fachadas de casas, em decalques em automveis, em pra-choques de caminhes, frases
enfatizam:
Jesus est chegando!
E alguns, no af de se dizerem merecedores do Mestre, adotam afirmativas assim:
E tudo passa a ser de Jesus.
Em alguns automveis, a expresso:
Propriedade de Jesus.
Um ladro preso aps roubar um carro que estampava essa frase, justificou:
- Ganhei de Jesus!
***
Jesus vir, realmente?
Fazer o qu?
A mensagem maior, j nos ensinou: o amor.
a essncia do Universo, o hausto criador de Deus, a fora suprema que preside o equilbrio dos
astros.
Dizem alguns:
Haver o julgamento!
Danao eterna para os maus!
Eternas benesses para os bons!
E onde fica a infinita misericrdia de Deus, que pressupe oportunidades infinitas de reabilitao
para os transgressores das leis divinas?!
Pior - estaria comprometida a Justia perfeita de Deus, j que no h crimes, por mais tenebrosos,
que justifiquem o castigo sem fim, partindo de elementar princpio: a extenso da pena no pode
ultrapassar a natureza do crime.
Seria o mesmo que condenar algum priso perptua pelo roubo de um po.
Uma vida de crimes, muitas vidas de crimes, representam mera gota-dgua no oceano da eternidade!
***
No h por que esperar pelo Cristo.
Compete-nos ir at ele no Reino de Deus, que, conforme ensina o Mestre, est dentro de ns.
Ento, esse encontro sagrado ocorrer, na intimidade de nosso prprio corao, quando nos
dispusermos, com todas as foras de nossa alma, a atender quele segue-me, com que o Mestre nos
convoca desde sempre.
OS QUINHENTOS DA GALILIA
ICorntios, 15:6-7
Curioso que episdio de tal magnitude tenha passado batido, ensejando apenas a lacnica referncia
de Paulo. Qual o objetivo do Mestre? O que teria exposto aos discpulos?
Aqui, leitor amigo, seria oportuno apelar para a historiografia esprita.
H O Evangelho segundo o Espiritismo, em que Allan Kardec comenta a moral evanglica.
Dia vir em que teremos um Evangelho segundo a Espiritualidade, um relato minucioso de
acontecimentos importantes, a partir de informaes colhidas nos arquivos de alm-tmulo,
preenchendo lacunas histricas.
o que temos no livro Boa Nova, psicografado por Francisco Cndido Xavier. Nele, o Esprito
Humberto de Campos demonstra que aquele encontro na Galilia foi extremamente importante. Teria
ocorrido no mesmo stio aprazvel que foi palco do inesquecvel Sermo da Montanha.
Ali, juntamente com os apstolos, estavam reunidos os discpulos que participariam do movimento
inicial do Cristianismo e que dariam os grandes testemunhos de dedicao causa, a fim de que o
Evangelho se fixasse na Terra.
Humberto de Campos reporta-se ao discurso de Jesus aos companheiros presentes, oferecendo-nos
farto material para reflexo.
Alguns tpicos:
Amados... eis que retomo a vida em meu Pai para regressar luz do meu Reino!... Enviei meus
discpulos como ovelhas ao meio de lobos e vos recomendo que lhes sigais os passos no escabroso
caminho. Depois deles, a vs que confio a tarefa sublime da redeno pelas verdades do
Evangelho. Eles sero os semeadores, vs sereis o fermento divino. Instituo-vos os primeiros
trabalhadores, os herdeiros iniciais dos bens divinos.
Jesus sabia das dificuldades para fixar seus princpios no Mundo. A luz do Evangelho fatalmente
incomodaria multides atreladas ao imediatismo terrestre, dominadas por vcios e ambies. Havia o
risco de perderem-se suas lies.
Da a convocao daqueles Espritos indmitos, habitantes das Esferas Superiores, que compuseram
a primitiva comunidade, preparados pelo Mestre para sustentar o ideal cristo e sediment-lo no solo
precrio das mazelas humanas.
... Para entrardes na posse do tesouro celestial, muita vez experimentareis o martrio da cruz e o
fel da ingratido... Em conflito permanente com o mundo, estareis na Terra, fora de suas leis
implacveis e egostas, at que as bases do meu Reino de concrdia e justia se estabeleam no
esprito das criaturas...
No seria fcil a tarefa de fincar as bases da fraternidade humana num mundo dominado pelo
egosmo. Havera perseguies e dores, como de fato ocorreu.
Os discpulos deveram estar bem conscientes disso, dispostos a seguir os passos de Jesus nos mais
***
Diz Humberto de Campos que naquela noite foi confiado aos quinhentos da Galilia o servio
glorioso de Evangelizao das coletividades terrestres.
No difcil identific-los, ao longo dos sculos, nas lides crists. So aqueles que pontificam nos
valores da retido moral, da simplicidade, da disposio de servir.
Somos na Terra dois bilhes de pessoas ligadas s vrias correntes do Cristianismo, envolvendo
catlicos, evanglicos, protestantes, espritas...
Cresce o nmero de cristos, mas o Reino de Deus demora em instalar-se, porque lenta, muito
lenta, a multiplicao de coraes afinados com os quinhentos da Galilia.
E que os homens vem em Jesus o protetor que atende, que socorre, que ajuda, que ampara...
Raros enxergam o mestre que orienta, que corrige, que retifica, que espera por nossa adeso aos seus
ensinos.
Os templos esto repletos de crentes, mas poucos so os cristos autnticos.
***
Vivemos tempos de desinteresse pelos valores espirituais, em que a preocupao fundamental das
pessoas com o imediatismo terrestre, envolvendo negcios, prazeres, sexo, vcios, dinheiro... Os
que tentam seguir os passos de Jesus tendem a ser rotulados de fanticos e ingnuos.
Mesmo dentre os que se dispem a freqentar os crculos religiosos, a preocupao maior com
aspectos do culto exterior, sem o cuidado essencial: fazer o Cristo repercutir no cotidiano.
Noutro dia a mdia deu grande destaque a um homem que, encontrando razovel importncia perdida
num trem, empenhou-se em devolver o dinheiro ao legtimo dono.
Incrvel! Num pas como o nosso, de populao ligada ao Cristianismo, em variados crculos
religiosos, tanto barulho por mero exerccio de honestidade, elementar na vivncia crist! Isso
porque a maioria simplesmente ficaria com o dinheiro, a proclamar que achado no roubado.
Dizia Bertolt Brecht:
Infeliz o povo que precisa de heris.
Neste contexto, heri seria o indivduo empenhado em combater uma estrutura social inqua, honrosa
exceo no seio de um povo acomodado.
Parafraseando o dramaturgo alemo, diriamos: infeliz a sociedade em que o cumprimento de
elementares deveres, como o de restituir bens que algum perdeu, exaltado como virtude rara.
Fundamental, se esperamos alcanar as esferas mais altas, que nos unamos aos quinhentos da
Galilia, dispostos a arregaar as mangas para os esforos do Bem, e a agitar os neurnios, no
empenho de renovao.
No nos pede o Espiritismo que morramos pelo Cristo, mas que vivamos como espritas cristos,
conscientes de nossas responsabilidades e deveres diante do prximo.
Somente assim deixaremos o marca-passo evolutivo, que caracteriza o homem comum,
habilitando-nos a caminhar ao encontro de Deus, meta suprema de nossas almas.
O DERRADEIRO ENCONTRO
Lucas, 24:50-53 Joo, 21:24-25
Atos, 1:9-11 Atos, 7:59-60 Atos, 9:1-18
No prprio meio esprita, dirigentes mal orientados, quando conversam com Espritos perturbados
presos s impresses da vida material, ordenam,
- Sobe, irmo, sobe!
Idia equivocada.
O plano espiritual, a morada dos Espritos, to somente uma projeo do plano fsico.
Comea exatamente aqui, onde estamos.
E uma outra dimenso, que interpenetra a nossa.
Portanto, o Esprito no sobe para assumir sua condio de desencarnado, nem Jesus precisaria
buscar as nuvens.
Simplesmente desfez a cobertura ectoplasmtica, como um homem invisvel que retirasse o traje que
lhe emprestava visibilidade.
***
Alm das materializaes, aconteceram as vises, um fenmeno diferente, do qual apenas a pessoa
envolvida participa.
O primeiro mrtir do Cristianismo, Estvo, que morreu apedrejado em Jerusalm, teve uma
experincia dessa natureza.
Agonizante, viu Jesus:
- Senhor Jesus, recebe o meu Esprito.
E, de joelhos, pediu:
- Senhor, no lhes imputes este pecado.
Pedia perdo aos seus algozes, revelando-se aluno uplicado de suas lies.
***
Posteriormente, foi o prprio Saulo, o perseguidor implacvel dos cristos, e o maior responsvel
pela morte de Estvo, quem teve a experincia inesquecvel com Jesus, num dos episdios mais
emocionantes do Novo Testamento.
Dirigia-se a Damasco, a fim de prender Ananias, dedicado membro da comunidade crist. Nas
imediaes da cidade, estarrecido, viu Jesus, a lhe perguntar:
- Saulo, Saulo, por que me persegues?
aqueles que, dando o testemunho de sua crena, morreram para que o Evangelho vivesse.
O prprio Chico Xavier, segundo alguns relatos, por intermdio de respeitveis mdiuns, teria sido
recebido por Jesus, ao desencarnar.
Espritos superiores em misso na Terra tm encontros decisivos com o Mestre, na espiritualidade.
Tal ocorreu com Eurpides Barsanulfo.
Relata o Esprito Hilrio Silva, no livro A Vida Escreve, em psicografia de Francisco Cndido
Xavier, que o grande apstolo do Espiritismo em Minas foi levado, durante as horas de sono, a uma
regio da espiritualidade, onde passou pela inesquecvel experincia de um contato com Jesus.
Observando-o triste, perguntou se era por causa dos descrentes.
O Mestre lhe respondeu que era por causa dos que conhecem o Evangelho mas no o praticam.
Conclui Hilrio Silva:
E desde aquele dia, sem comunicar a ningum a divina revelao que lhe vibrava na conscincia,
entregou-se aos necessitados e aos doentes, sem repouso sequer de um dia, servindo at a morte.
***
Joo termina o seu relato com consideraes que certamente seriam avalizadas pelos demais
evangelistas:
Este o discpulo que d testemunho dessas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho
verdadeiro.
H, porm, ainda muitas outras coisas que Jesus fez e que, se fossem escritas uma por uma, creio
que nem o mundo inteiro podera conter os livros que seriam escritos.
Evidente o exagero de Joo, mas razovel conceber que o relato fragmentrio dos Evangelhos est
longe de exprimir tudo o que se passou durante aqueles trs maravilhosos anos.
No obstante, os registros efetuados foram suficientes para promover uma revoluo na sociedade
humana, a partir de dois princpios bsicos:
Deus Nosso Pai. Justo e misericordioso, trabalha incessantemente por nossa felicidade.
Tudo que o Onipotente espera que nos amemos uns aos outros, fazendo pelo semelhante o bem que
desejamos dele receber.
Exemplos e lies de Jesus apontam nessa direo, preparando-nos para as glrias do porvir.
O grande desafio internalizar isso tudo, superando a inrcia, o acomodamento, os vcios, a
indiferena...
Com o Espiritismo temos o grande impulso nesse sentido, conscientizando-nos de que preciso
tomar a iniciativa de caminhar, a fim de no sermos constrangidos a faz-lo, atendendo dinmica da
evoluo, que costuma empregar uma mestra severa e infalvel - a Dor.
ULTIMAS PALAVRAS
Bem, meu caro leitor, chega ao fim a tarefa a que me propus: escrever
um relato linear da vida de Jesus, acompanhando, em seqncia, os
episdios mais marcantes, do nascimento aos derradeiros contatos com
os discpulos.
H incontveis livros sobre o Grande Mensageiro. Rareiam obras que o tragam para o cotidiano, o
nosso dia-a-dia, j que foi para nos orientar, ajudando-nos a superar nossas ffagilidades que veio at
ns.
Foi o que tentei fazer.
Se voc se motivar nesse sentido, inspirando-se na leitura dos seis livros que compem esta srie,
estarei recompensado.
De qualquer forma, agradeo a Deus a maravilhosa oportunidade de realizar este trabalho, que tem
iluminado meus dias.
gratificante e inefvel o contato com Jesus, a rocha dos sculos, sobre a qual podemos assentar
com segurana nossas mais nobres aspiraes.
Exercitando suas lies, imitando seus exemplos, a vida flui sorridente e feliz, mesmo quando
enfrentamos os dissabores e sofrimentos, prprios da Terra, este edu-candrio divino, onde purgamos
o passado e construmos o futuro de bnos.
Com extraordinria sensibilidade, C armem Cinira, em psicografia de Chico Xavier, sintetiza e
ilustra com perfeio estes exerccios de literatura evanglica, ressaltando a importncia de
buscarmos a orientao da f crist na jornada humana:
- Donde vens, viajor triste e cansado?
- Venho da terra estril da iluso.
- Que trazes?
- A misria do pecado,
De alma ferida e morto o corao.
Table of Contents
Sumrio
ALGUNS FOSFOROS
QUANDO ENTRA O ANTAGONISTA
ULTIMAS INSTRUES
NO HORTO
A NEGAO E O JULGAMENTO
DIANTE DE PILATOS
A CRUCIFICAO
O SEPULTAMENTO
PREPARANDO O CENRIO
VENCENDO A MORTE
A PESCA MILAGROSA
APASCENTAR AS OVELHAS
O RETORNO DE JESUS
OS QUINHENTOS DA GALILIA
O DERRADEIRO ENCONTRO
ULTIMAS PALAVRAS