Análise Do Discurso Crítica Barros
Análise Do Discurso Crítica Barros
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criada pelas pessoas, o que permite compreend-la com base no senso comum
compartilhado.
A importncia da Teoria Social do Discurso para a pesquisa lingstica consiste
na viso tridimensional da proposta, que permite enfocar a gramtica na arquitetura do
texto, associando-a a um enfoque crtico de prticas lingsticas que, em condies
propcias, podem levar a mudanas discursivas e sociais. O propsito de unir a anlise
lingstica com a teoria social respalda-se, tambm aqui, no sentido scio-histrico do
discurso, conjugado com o sentido de interao, dimenses que fazem da lngua um
contrato social.
Embuda de carter multidisciplinar, a Anlise de Discurso Crtica, enquanto
teoria social da linguagem, coloca-se a servio do entendimento das relaes e
identidades sociais retratadas ou reproduzidas explicitamente ou implicitamente nas
marcas textuais. Atravs dela, pode-se empreender um estudo de natureza scioideolgica no descompromissado ou alheio s determinantes lingsticas. Fairclough
(2003) sugere a anlise textual como parte da cincia social. justamente por isso que o
fundamento de sua anlise textual/lingstica assenta-se mais especificamente na
Gramtica Sistmica Funcional (SFL) de Halliday (1994). Partidrios da vertente crtica
da Lingstica, como Roger Fowler e Guther Kress, tomam como base de suas reflexes
a assero funcionalista de que a capacidade lingstica de produo de significado
um produto da estrutura social. Seguindo Halliday (1976), tais estudiosos sugerem que
os significados sociais e as suas realizaes textuais devem ser includos no escopo de
uma descrio gramatical.
O analista de discurso, ao assumir uma perspectiva crtica, coleta material para a
teorizao sobre a sociedade a partir dos textos, dos enunciados efetivamente
produzidos, enquanto os no-crticos teorizam a prtica da linguagem a partir das
relaes sociais, polticas e ideolgicas sem considerar que o enunciado construdo
luz desses aspectos.
Significado lingstico e ideologia, numa perspectiva crtica, compreendem
entidades mutuamente inseparveis. Mais do que isso, ambos dependem da estrutura
social. nesse sentido que para Fowler & Kress (1979:186) a anlise lingstica se nos
revela como um instrumento precioso para o estudo dos processos ideolgicos que
servem de intermediadores das relaes de poder e controle. a concepo de
linguagem como parte constitutiva da sociedade, como prtica social, como um dos
mecanismos pelos quais a sociedade se reproduz e auto-regula que possibilita o estudo
da linguagem e sociedade enquanto fenmenos interdependentes.
2. Discurso como prtica lingstica
A anlise de discurso proposta por Fairclough e seguidores toma partido das
prticas sociais reais e dos textos concretamente produzidos. A anlise de discurso,
nesse sentido, no se faz independentemente da anlise textual. Esse estudioso sugere
que a ADTO (Anlise de Discurso Textualmente Orientada) reforar a anlise social,
essencialmente por incidir sobre exemplos concretos de prtica e formas textuais e sobre
processos de interpretao associados a elas (Fairclough, 2001:87). Em consonncia
com esse ponto de vista, na dimenso da prtica lingstica, o discurso abordado
enquanto texto. No entanto, preciso que se reforce a idia de que, nesse enquadre
terico, analisar texto significa contemplar simultaneamente questes de forma e
sentido na linguagem. Um texto para Fairclough corresponde a instncias atualizadas da
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linguagem em uso. Isso quer dizer que uma abordagem da linguagem em sua
concretude, caracterizada pelo envolvimento de sujeitos reais, que tm uma histria e
esto envolvidos de forma a interagirem socialmente, sobrepe-se a uma reflexo da
natureza abstrata e homognea da linguagem, recuperando-se, portanto, o fundamento
bsico do processo lingstico: a significao.
A Teoria Social do Discurso, conforme realado acima, no concebe o uso da
linguagem como atividade puramente individual. luz dessa perspectiva, nega-se a
existncia de um subjetivismo idealista na atividade de linguagem bem como a
concepo de que a mesma se nos apresente como mero reflexo das variveis sociais.
Portanto, a enunciao da expresso lingstica concebida como estando situada no
meio social de produo dos enunciados. A ADC aponta para a relao dialtica que se
estabelece entre prtica discursiva e estrutura social. Os estudos em ADC, ainda que
contemplem as estruturas lingsticas, no as concebem como um fim em si mesmas.
Dito de outra maneira, as relaes internas que se estabelecem entre formas da lngua
no so vistas como sendo governadas por leis lingsticas especficas de um sistema
fechado, muito pelo contrrio, o que modela e determina a orientao da organizao de
um enunciado a atividade mental ou cognitiva, assim como as relaes sociais,
polticas e ideolgicas. Nesse caso, buscam-se nos sistemas lingsticos pistas que
permitam descrever o processo de significao. Os textos, produto da atividade de
linguagem, ou, como sugere Fairclough (1997:77), produto lingstico de processos
discursivos, so encarados como elementos resultantes da mediao que a linguagem
exerce entre as estruturas sociais e as relaes de poder. Essa mediao se realiza
justamente pelo fato de a linguagem se colocar a servio da manuteno dos estados de
coisas j existentes no mundo da vida, ou, contrariamente, da subverso do status quo.
A figura abaixo, que sugerida por Fairclough (1991), sintetiza o modelo
tridimensional de ADC. Tal modelo foi proposto por Fairclough na obra Language and
Power (1991) e posteriormente aprimorado nas obras Discourse and Social Change
(1992) e Discourse and Late Modernity (1999).
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origem a estruturas hierrquicas. Isso vlido tanto para as formas lingsticas, quanto
para o sentido e a interao.
4. O discurso como prtica social
A viso de discurso como prtica social salta aos olhos na prpria definio de
discurso a que chegam Fairclough e Wodak (1997) ao refletirem a linguagem nos
limites da Anlise de Discurso Crtica (ADC). Para os dois estudiosos, o discurso, ou
linguagem em uso, uma forma de prtica social. Nessa perspectiva, empreender uma
descrio do discurso enquanto prtica social implica considerar a relao dialtica que
se processa entre um evento discursivo particular e a(s) situao(s), instituio(s) e
estrutura(s) social(s) que o emolduramvii. Entender a linguagem em uso como prtica
social significa pr em evidncia que os discursos so estruturados ou constitudos no
seio da sociedade que eles tambm constituem viii . Nessa perspectiva dialtica, os
discursos criam situaes, constroem conhecimentos, moldam identidades e
estabelecem relaes entre pessoas e grupos de pessoas. O discurso , portanto,
instrumento de exerccio do poder.
Estando as prticas sociais relacionadas aos aspectos ideolgicos e hegemnicos,
focaliza-se a instncia discursiva analisada luz dos investimentos ideolgicos feitos
por meio dos sentidos das palavras, das pressuposies, das metforas e do estilo. Na
categoria hegemonia, focalizam-se as orientaes da prtica social, que podem ser
orientaes econmicas, polticas, culturais e ideolgicas.
A abordagem do discurso como prtica social converge diretamente para a
terceira dimenso do modelo tridimensional de anlise de discurso proposto por
Fairclough (1991, 1992) e Chouliaraki e Fairclough (1999). Essa dimenso compreende
o estgio designado por Fairclough de explicativo (explanao).
Enquanto o primeiro estgio de anlise (descrio) se consolida nos traos
textuais e o segundo (interpretao) nos processos discursivos, conforme descrito
anteriormente, o terceiro estgio (explanao) deve contribuir para a elucidao das
imbricaes do discurso nas relaes de poder.
Esse estgio tem por objetivo enquadrar o discurso como parte de processos
sociais, ou seja, retrat-lo como forma de prtica social. O estgio explicativo, nessa
perspectiva, pode conduzir a descobertas tais como: at que ponto o discurso moldado
pelas estruturas sociais e que efeitos reprodutivos podem os discursos acumular,
dissimular ou destituir.
Ao falar do discurso como prtica social dos integrantes de um grupo, van Dijk
(2000:59) posiciona os usurios da lngua (participantes do discurso) no s como
pessoas individuais, mas como membros de diversos grupos, instituies e culturas.
Segundo o referido estudioso, atravs do discurso, os usurios da linguagem podem
realizar, confirmar ou desafiar estruturas e instituies sociais e polticas mais amplas.
Esse ponto de vista reala a pertinncia em considerar o uso da linguagem como
instrumento de ao do homem sobre o mundo, alm de se coadunar com as idias de
Chouliaraki & Fairclough (1999:21) para os quais as prticas sociais so modos
habituais, ligados a perspectivas temporais e espaciais especficas, em que os indivduos
aplicam recursos (materiais ou simblicos) para agir conjuntamente no mundoix. Isso
quer dizer que as pessoas esto envolvidas em atividades por meio das quais a vida
social conduzida e isso se faz em contextos especficos de prticas e, de forma mais
recorrente, por meio do conjunto de textos que produzem. Cumpre salientar, portanto,
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