Hobbes e Locke: Entre diferenas e semelhanas

Hobbes and Locke: Between differences and similarities

Lucimar Leandro
Luc-leandro@otmail.com
tica e Filosofia Poltica
RESUMO

Esse trabalho tem por objetivo discutir algumas diferenas e semelhanas entre
dois grandes pensadores clssicos da poltica, ou melhor, da filosofia poltica, John
Locke e Thomas Hobbes, primeiro apresentando o pensamento de Locke, em seguida de
Hobbes e por ltimo uma anlise entre suas principais ideias. Considerando a realidade
histrica e objetiva de cada autor, no que seja relevante para entendermos de forma mais
global suas ideias e o legado de cada pensador.
Palavras-chaves: Locke, Hobbes, Politica, diferenas.

ABSTRACT

This work aims to discuss some differences and similarities betwen two great
classical thinkers of politics, or rather, of political philosophy, John Locke and Thomas
Hobbes, first presenting the thought of Lock, than the thought of Hobbes, and finally an
analysis of their main ideas. Considering the historical and objective reality of each
author, in relevance to understand more global ideas and legacy of each author form.
Keywords: Locke, Hobbes, politics, differences.

Lucimar leandro graduado em cincias sociais pela Unicamp.

Ps graduado em tica e filosofia poltica.
Ps graduado em literatura brasileira.

INTRODUO

Em primeiro lugar, importante apresentarmos um resumo histrico no qual

estava Locke inserido na Inglaterra. O mdico, filsofo e poltico Locke viveu em um
momento da histria poltica inglesa de muita efervescncia poltica e social no sculo
XVII, entre 1603 e 1689.
So muitos os fatos que levam a mudanas drsticas no cenrio poltico desse
pas. Em 1603 faleceu a rainha Elizabeth I e a coroa foi transferida para Jaime Stuart,
dinastia que por um longo perodo imps uma instabilidade poltica na Inglaterra. Os
Stuart, que se seguiram aps Jaime I, no tinham a mesma habilidade de organizar o
poder como fez o primeiro e, concomitante a isso, a burguesia encontrava-se mais
fortalecida para impor um governo que correspondesse com suas necessidades
econmicas e sociais. nesse contexto que chega ao poder Guilherme de Orange.
Depois de tantos conflitos e uma guerra civil, o absolutismo vencido com a Revoluo
Gloriosa e a burguesia estrutura seu poder.
Locke nasceu em 29 de agosto de 1632, filho de famlia burguesa, formou-se em
medicina, porm, seus estudos so muitos diversificados, indo da meteorologia, qumica
e teologia. Amigo de Robert Boyle e Thomas Sydenham, o primeiro um qumico cujas
teorias perduram at nossos dias, o segundo um mdico que revolucionou a medicina.
Locke cresce em um ambiente que fomenta os pensamentos inovadores, e as novas
ideias que no mais aceitavam um governo absoluto, mas sim, um representante do
povo. Ou melhor, da burguesia.

Pensamento de Locke
E nesse contexto de ascendncia da burguesia liberal, Locke vai propor um
modelo terico de formao do estado contrapondo a teoria de Hobbes, por exemplo.
Estruturando-se o trabalho de forma a legitimar a propriedade e a liberdade antes da
formao do estado nacional, ou seja, no estado natural j havia um germe de aquisio
da propriedade.
O estado natural para Locke um momento na histria no qual o homem vivia
livre, com ausncia de um poder centralizado nas mos de um homem ou de um
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conjunto de homens. Sua liberdade no lhe d o direito de tirar sua prpria vida ou de
outras pessoas, ele governado por uma nica lei natural, a razo. Essa lei a que
governa o homem no estado natural, no lhe dando o direito de tirar a vida de outro
mesmo quando este lhe prejudica. A preservao da humanidade est assim diretamente
vinculada a esta lei, se por menor motivo os homens passassem a destruir-se, colocaria
em risco a prpria humanidade. Locke insere uma regra importante que impede o
homem de destruir-se, se um indivduo tem todo o poder e liberdade, o outro tambm,
assim, todos ficam presos prpria liberdade, sabendo que se todos dispem desta
vantagem logo importante manter a paz para no acarretar uma guerra de todos contra
todos, e desta forma mantem os indivduos na maior parte do tempo em harmonia. A
razo passa a ser desde o estado natural uma faculdade que orienta os seres humanos.
Mas como na civilizao existem indivduos que no respeitam as leis positivas,
no estado natural isso tambm possvel, neste caso ele deixa de respeitar a razo e
torna-se um inimigo e, como no h um poder arbitrrio e imparcial para julgar a ao
desse homem, e como todos os homens so executores da lei, aquele que foi ofendido
tem o direito de mat-lo, pois faz disso uma defesa de sua propriedade e de sua prpria
vida e das demais pessoas que esto prximas a ele. Estas consideraes tornam
legtimo matar um ladro que no nos fez mal nem manifestou qualquer desgnio contra
a nossa vida mais do que, pelo emprego da fora, apoderar-se de ns de sorte a
arrebatar-nos dinheiro o que mais lhe convier; porque, fazendo uso da fora quando
no tem o direito de se apoderar de ns, seja qual for a pretenso que o anime, no
temos motivo para supor que aquele que nos tira a liberdade no nos arrebatasse tudo
o mais, logo que nos tivesse em seu poder. Portanto, -nos legitimo trata-lo como quem
se colocou em estado de guerra contra ns, isto , mata-lo se pudermos, porquanto a
tanto se arrisca ele ao introduzir um estado de guerra na qual figura como agressor.
(LOCKE, p. 41)
O estado de guerra de Locke no semelhante ao de Hobbes. Para Hobbes, o
estado de guerra constante, porm, para Locke ele momentneo, e no se generaliza
entre todos contra todos como afirma Hobbes.
Note-se que Locke est sempre dialogando com indivduos, ele no est dizendo
que a sociedade entra nesse estado, e normalmente um acontecimento em que coloca
em afrontamento um homem contra outro, em um momento especfico, quando um
agressor atenta contra seus bens ou sua prpria vida. Locke acredita que o estado natural
um fato histrico, pelo qual muitos passaram e ainda alguns esto passando, para ele
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os povos da Amrica ainda esto nesse estado. Rompendo com a doutrina aristotlica,
segundo a qual a sociedade precede o indivduo, Locke, com seu individualismo, vai
afirmar que o indivduo precede a sociedade. Isso importante entendermos, pois ele
est inserido em um momento de transformao poltica e social em seu tempo, onde
fundamental para o liberalismo e para o novo contexto poltico do qual Locke adepto.
Locke desenvolve uma importante vinculao entre o estado natural e a
propriedade. Se o homem proprietrio de si mesmo, tambm de seu trabalho e do
fruto de seu trabalho. Ao incorporar o trabalho na matria bruta que existia na natureza,
estava assim tornando-a propriedade sua, ou seja, a propriedade privada, tendo direito
de usufru-la, no podendo outro tomar-lhe o que foi includo por ele, pelo seu prprio
suor. Assim, o trabalho para Locke o fundamento que originou e legitimou a
propriedade privada.
Aquele que se alimenta das bolotas colhidas debaixo de um carvalho ou das
mas apanhadas nas rvores da floresta, com toda certeza delas se apropriou para si.
Ningum pode negar que lhe pertena o alimento. Portanto ento: quando comearam
a pertencer-lhe? Quando as digeriu? Quando as comeu? Quando as cozinhou? Quando
as trouxe para casa? Quando as colheu? E evidente que, se a colheita, de incio, no
as fez dele, nada mais poderia t-lo feito. (LOCKE, p. 46)
Como o trecho acima demonstra, a propriedade para o autor se inicia desde
aquilo que necessrio para sua sobrevivncia, como, por exemplo, o ato de colher
frutos em determinados ambientes. A partir do momento em que o indivduo colhe os
frutos de uma rvore com seu trabalho, est assim tornando-os seus. Ele diz que nesse
estado o homem poderia apenas tomar da natureza aquilo que realmente seria de seu
sustento, no haveria razo para que se apropriasse daquilo que no iria usufruir.
O trabalho no sentido da proposta de Locke no estado natural o fator de
aquisio e ao mesmo tempo de limitao, a quantidade de trabalho de que dispe o
indivduo que molda, em determinadas circunstncias, sua propriedade, como, por
exemplo, no que se refere terra.
Sendo agora, contudo, a principal matria da propriedade no os frutos da
terra e os animais que sobre ela subsistem, mas a prpria terra, como aquilo que
abrange e consigo leva tudo o mais, penso ser evidente que a tambm a propriedade se
adquire como nos outros casos. A extenso de terra que um homem lavra, planta,
melhora, cultiva, cujos produtos usa, constitui sua propriedade. Pelo trabalho, por
assim dizer, separa-a do comum. (LOCKE, p. 47) Neste pargrafo, Locke no mais
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discute apenas os objetos ou os alimentos provenientes da natureza, como aquisio por

meio do trabalho, mas a terra, o bem mais importante.
Aps o aparecimento do dinheiro e pelas trocas caracterizadas por ele, o homem
passou a no mais trocar apenas materiais perecveis, mas sim, coisas duradouras, como
ouro e prata, e pelo comrcio e trocas proporcionadas, descaracterizou o trabalho como
forma apenas de aquisio de riquezas, levando a concentrao da mesma e a
distribuio desigual entre os homens.
Se no estado de natureza, a propriedade j existe e o trabalho fundamenta sua
aquisio, ser em grande medida a propriedade a base para que os homens construam
um pacto social. Mas perguntamos, para que formar um pacto se viviam em liberdade?
Isso acontece devido instabilidade das regras e leis, se a propriedade o centro de sua
sobrevivncia, a preservao da mesma no tem um carter positivo e muitos, pela
ignorncia, podem tir-las pela fora de outro indivduo. Assim, os homens so levados
a fazer um pacto para preserv-la, constituindo um juiz conhecido, indiferente e neutro
para julgar as inequidades. Assim os homens, apesar de todos os privilgios do estado
de natureza, mantendo-se em ms condies enquanto nele permanecem, so
rapidamente levados sociedade. Da resulta que raramente encontramos qualquer
grupo de homens vivendo dessa maneira. Os inconvenientes que esto expostos pelo
exerccio irregular e incerto do poder que todo homem tem de castigar as transgresses
dos outros obrigam-nos a se refugiarem sobre as leis estabelecidas de governo e nele
procurarem a preservao da propriedade.(LOCKE, p. 83)
O aspecto fundamental de uma sociedade poltica est embasado na formao de
uma comunidade poltica legislativa, na qual se expressam as leis para governar a
sociedade. Essas leis devero estar de acordo com as necessidades da sociedade,
devero representar a sociedade e, em hiptese alguma, ir contra os princpios da
liberdade e da propriedade. Liberdade essa, diferente daquela experimentada no estado
natural, mas onde o corpo poltico se restringe ao bem pblico. Ela a preservao
dos homens.
O contrato social visa o bem comum, um pacto de todos para preservar a
liberdade. Sendo o estado natural constitudo no geral de paz, ele no est isento de
guerras e violncia que pem em risco o conjunto da sociedade. Fica necessrio um
pacto onde os homens livremente estabelecem uma fora coercitiva capaz de proteglos contra ataques estrangeiros e preservar a vida, liberdade e suas propriedades. Esse
contrato a passagem do homem do estado natural para o estado civil, no para negar o
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que existia anteriormente, mas sim, para consolidar. Assim, as idias do liberalismo,
propriedade e liberdade esto para Locke protegidas, pois tratam-se de um corpo
poltico e jurdico que passa neste momento a configurar a sociedade civil. importante
analisarmos que Locke, nesse momento, transforma o ideal liberal em algo natural e por
isso legtimo.
Formado o estado civil cabe maioria estabelecer um governo, uma forma com
a qual todos estejam de acordo, ou que a maioria esteja. Nessa circunstncia a unicidade
que formou o pacto substituda pela maioria. O principal nesta situao que esse
governo preserve os princpios designados ao seu poder que emanado do povo. A
forma de governo caracterizada por Locke como sendo constituda de poder
legislativo, federativo e executivo.
O poder legislativo superior tanto ao executivo quanto ao federativo, porm,
separando-os. importante analisarmos que para Locke, nas designaes da forma de
governo, o executivo est controlado pelo legislativo, e o controle do governo no geral
est nas leis escritas e na Sociedade. importante atentarmos para a atualidade das
idias de Locke, pois, at os dias atuais ainda, apresentado para sociedade que o
governo o representante legal do estado e submetido ao povo.
O executivo se incumbe de executar as leis elaboradas pelo legislativo, esse,
deve estar trabalhando todo o tempo, pois sempre existiro, em uma sociedade,
problemas, havendo a necessidade de execuo de todo tipo de lei. O federativo deve
ser separado, porm, pode ser comandado pelo mesmo indivduo do executivo. Esse
poder fundamental, pois quando o homem sai do estado de natureza e forma uma
sociedade civil, esse povo com um corpo governamental est no estado de natureza com
outro povo e com outro governo.
Um governo nas mos de um nico homem, para Locke, fundamenta-se na
noo de famlia, no necessariamente em um pacto entre os homens, no sentido de
resguardar a propriedade privada moderna. admissvel na experincia familiar na qual
o poder centralizava-se em um membro da famlia, para que este orientasse um conjunto
pequeno que estava vinculado ora por parentesco ora por ligaes de amizade.
Em que momento para Locke possvel ao povo resistir a um governo? Quando
um governo no cumpre o que foi estabelecido, deixa assim de defender a propriedade
privada, tornando-se ilegal, transformando-se em tirano, visando apenas o bem prprio e
no mais o bem comum. A violao desse governo, deixando de defender a propriedade,
a liberdade e a vida, sem a legitimao jurdica, o coloca em guerra contra o povo, ou
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seja, uma guerra entre governo e governados, podendo o povo rebelar-se, o direito de
resistncia.
Discutindo-se novamente o estado natural, onde tinha o povo como governo
somente Deus, nico juiz na terra, pois se ele tudo criou tem o direito de governar e
tambm o direito sobre tudo e todos, importante analisarmos que o poder de
resistncia do povo est vinculado nica e somente na hiptese de um governo tirano,
pois assim este rompeu com o pacto e no mais possvel sua manuteno no governo.
O objetivo do governo civil proteger a liberdade devido instabilidade do estado de
natureza. Tornando-se um tirano, ele devolve para a sociedade o estado de natureza,
estando a sociedade, agora, contra esse governo. Porm, somente momentos como esse,
de um governo tirano e uma invaso estrangeira, do direito ao povo de lutar e entrar
em um estado de guerra.

Hobbes
Hobbes est entre os autores considerados contratualistas. Nasceu em 1588 na
Inglaterra, e morreu em 1679. Como ele considerou em sua autobiografia, sua me teria
dado luz a gmeos, Hobbes e o medo. Isso porque sua me entrou em trabalho de parto
devido ao possvel ataque da Invencvel Armada Espanhola, fato que no veio a ocorrer
devido derrota da mesma. Os ingleses impediram o embarque de soldados no canal na
mancha, a Armada se retirou e devido a tempestades retornou para a Espanha derrotada.
Isso proporcionou Inglaterra o incio do poderio naval que perdurou at a segunda
guerra mundial do sculo XX. Hobbes viveu em uma Inglaterra em que o absolutismo
fez parte de quase todo o perodo de sua vida, mas tambm presenciou as mudanas que
estavam ocorrendo, inclusive a guerra civil.
O estado natural de Hobbes caracterizado pela guerra de todos contra todos,
em um ambiente onde predominam a desconfiana e as paixes humanas. Os homens
vivem livres e esto equilibrados em igualdade, caso um se apresente com maior fora,
o outro mais audaz e suas atitudes mais perspicazes, a experincia de um
confrontada com a dos outros em igual escala. Como cada homem no sabe o que o
outro deseja, est sempre desconfiado e imaginando como ser prudente em todas as
situaes.

O homem enxerga a si de forma a exagerar suas faculdades, mas essa atitude

inerente a todos, a natureza proveu todos com as mesmas capacidades. No estado de
natureza ningum suficientemente forte para dominar uma multido, no teria fora
para tal, pois, mesmo se tivesse, outros se juntariam e se rebelariam contra o domnio.
Dessa desconfiana surge a possibilidade de todos estarem dispostos a atacar uns aos
outros, surgindo uma possibilidade de guerra de todos contra todos. Isso no faz do
homem um ser anormal, mas justificado pela circunstancias na qual se encontra. No
estado de natureza isso um meio racional de sobrevivncia.
Se dois homens desejam algo semelhante, e impossvel satisfazer os dois,
entraro em conflito, tero de disputar aquilo desejado por ambos. Da mesma forma, se
um homem habita um espao e ali esto seus afazeres e suas plantaes, provavelmente,
se no h uma lei para ditar as regras e protege-los, algum vir no apenas para
saquear, mas provavelmente colocar sua vida em jogo. Portanto, necessrio que
estejam sempre atentos, na defesa e no ataque, pois, aquele que apenas se defende, no
est predisposto sobrevivncia.
Para Hobbes, existem trs causas fundamentais que colocam os homens no
estado de natureza em possibilidade de guerra: a competio, a desconfiana e a glria.
A primeira responsvel pelos ataques que visam o lucro, a segunda leva os homens a
estarem sempre preocupados com sua segurana, se no sabem o que o outro est
tramando, leva-os a estarem em alerta em relao sua segurana e a terceira
caracterizada pela glria, ou seja, relaciona-se ao status do indivduo na sociedade.
Hobbes no diz que os homens viviam em constantes batalhas, mas existia um potencial
para que isso viesse ocorrer. Se no estado de natureza esto todos em alerta, ento temos
um estado potencial de guerra sendo possvel a qualquer momento surgir realmente um
estado de violncia.
Poder parecer estranho a algum que no tenha considerado bem essas
coisas que a natureza tenha assim dissociado os homens, tornando-os capazes de
atacar-se e destruir-se uns aos outros. E poder, portanto talvez desejar, no confiando
nessa inferncia, feita a partir das paixes, que a mesma seja confirmada pela
experincia. Que seja, portanto ele a considerar-se a si mesmo, que quando empreende
uma viagem se arma e procura ir bem acompanhado; que quando vai dormir fecha
suas portas; que mesmo quando est em casa tranca seus cofres; e isto mesmo sabendo
que tem leis e funcionrios pblicos armados prontos a vingar qualquer injria que lhe
possa ser feita. Que opinio tem ele de seus compatriotas, ao viajar armado; de seus
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concidados, ao fechar suas portas; a de seus filhos e servidores, quando tranca seus
cofres (WEFORT, p. 57)
Hobbes, para argumentar sobre sua suposio de que os homens esto sempre
em estado de alerta com outros homens, usa exemplos da realidade objetiva, nos
mostrando como fechamos as portas de nossas casas, trancando cofres e nos guardando
em viagens. Ele chama para um exame de conscincia, para conhecermos a ns
mesmos, como salienta Weffort, o que Hobbes pede um exame de conscincia:
conhece-te a ti mesmo. Estamos carregados de preconceitos, acha Hobbes, que vem
basicamente de Aristteles e da filosofia escolstica medieval. (WEFORT, p. 57)
Assim, a melhor maneira de entender o gnero humano conhecer a si mesmos, pois
todos tm paixes, medos e dissimulaes anlogas.
No estado natural, o homem no procura sua honra nas mesmas bases do
indivduo econmico do mundo capitalista, ele procura respeito em seus feitos, imagina
toda uma circunstncia de fatos. O homem natural imagina ser respeitado, poderoso,
perseguido, trado, configura assim um estado de desconfiana capaz de gerar conflitos.
A lei de natureza a forma como os homens so proibidos pela razo de fazer qualquer
coisa necessria para preservao de sua vida. O direito natural infere ao homem
liberdade ilimitada.
Por mais sbio e forte que seja o homem no estado de natureza, ele no poder
viver todo o tempo que a natureza lhe permite devido ao estado de guerra, pois sempre
estar em conflito com outro e no h uma lei maior capaz de defend-lo, por mais que
deseje a paz, ou que isso seja sua premissa. Mas caso no consiga, poder usar de todas
as possibilidades para defender-se, ou seja, sua inteno no conveniente com a
realidade da qual faz parte.
Enquanto todos os homens tiverem liberdade para satisfazer seus desejos todos
vivero em um estado de guerra. necessrio que haja um pacto entre os homens,
renunciando parcialmente seus direitos, para que haja paz, mas o pacto deve ser entre
todos os homens, caso contrrio estar esse homem em poder de outro, pois deixou de
lutar e assim se tornar presa de outro homem. Instituir um acordo de paz que no
contenha uma fora capaz de impor as regras, so apenas palavras, necessrio uma
fora suficiente para fazer val-las.
A nica maneira para Hobbes de colocar fim ao estado de guerra de todos contra
todos um pacto de todos os homens, conferindo o poder que continha todos em apenas
um homem ou assemblia de homens. O pacto transforma todos em autores, e o homem
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no qual todos depositaro esse poder o ator com poderes ilimitados, o soberano, onde
est a essncia do estado, e todo poder cedido a este homem gera uma grande fora. O
terror proporcionado forar as pessoas a conformar suas vontades e desejos, tornando
assim uma sociedade coesa. A nica maneira de instituir um tal poder comum, capaz
de defend-los das invases dos estrangeiros e das injrias uns dos outros, garantindolhe assim uma segurana suficiente para que, mediante seu prprio labor e graas ao
fruto da terra, possam alimentar-se e viver satisfeitos, conferir toda sua fora e poder
a um homem, ou assemblia de homens, que possa reduzir sua diversas vontades, por
pluralidade de votos, a uma s vontade. (WEFORT, p. 62)
Com o pacto, o soberano no assina o contrato, podendo usar a fora em todos
os sentidos para manter a ordem. Ningum poder julgar o soberano. Esse ponto
importante, tirando o dever do soberano de respeitar o contrato, ele tem poder absoluto
para agir em todos os sentidos e tudo o que fizer ser de responsabilidade de todos, pois
todos so autores, assim, o soberano est simplesmente usando do poder que lhe foi
transferido.
Depois de instaurado o pacto de todos os homens, conferindo poder ao soberano,
esses no estaro possibilitados de quebrar o pacto e fazer qualquer outro. Caso um
homem venha a sofrer um castigo ou mesmo ser morto devido a sua desobedincia com
o monarca, ser ele mesmo culpado pela sua morte, pois autor de tudo que acontece, o
soberano o ator, seus atos esto de acordo com o pacto com todos os autores. Hobbes
segue analisando que mesmo um pacto com Deus, nessas condies, est fora de
questo, deve ser mediado pelo monarca, o representante divino do mesmo aqui na
terra.
O soberano para Hobbes no pode ter um pacto com cada um dos homens e,
mesmo que alguns pretendam questionar o poder do monarca, no podero, pois eles
no fizeram pacto e todos os seus atos esto livre de censura. Caso isso fosse possvel,
se o soberano tivesse condies reais de realizar um pacto com todos, em alguns
momentos um ou muitos, homens poderiam achar que o mesmo foi rompido ou no
correspondido, assim sendo, a guerra de todos contra todos voltaria a controlar os
homens.
O poder do monarca no pode ser restringido por ningum, pois se assim fosse
ele estaria preso a um pacto e no poderia agir para defender aqueles que depositaram
em um s homem o poder de governar e manter a paz. Aqui, Hobbes tambm salienta a
necessidade de coagular um pacto no apenas com palavras, mas sim com um poder
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embutido no estado e com fora pblica. Os homens, como so movidos pelas paixes,
so desconfiados e esto sempre procurando glria, jamais se poderia fazer um pacto
apenas embasado em palavras.
Hobbes questiona o poder constitudo de uma assemblia de homens, pois,
quando sendo esta escolhida possibilita a participao de outros homens participarem no
poder, e no poder nico do soberano isso se torna impossvel. importante entendermos
que para Hobbes, mesmo diante a uma eleio na qual escolhido um conjunto de
homens para governar, o poder do soberano continua sendo o ponto de equilbrio, e se
algum membro do grupo do governo questionar os decretos do monarca estar
colocando o pacto em risco e esse homem pode ser destrudo justamente.
E ento porque o homem deixa o estado de liberdade do estado natural para ser
governado por um soberano com poderes plenos? Hobbes descreve a liberdade de forma
a no ter o mesmo valor ao qual estamos habituados. importante como Hobbes
questiona a liberdade escrita por Aristteles e outros autores romanos, salientando de
forma concisa como essa liberdade custou sangue. A liberdade que todos os homens
tinham no estado de natureza gerava uma constante guerra de todos contra todos, e
partir do momento em que o pacto aceito, no tem mais o sdito o direito de exigir tal
coisa. Em algumas situaes o sdito tem esse direito, caso o soberano no mais
consista em um ponto de proteo da vida, no h mais sentido a obedincia a este, no
porque o soberano no cumpriu o prometido, pois esse no prometeu nada. A liberdade
ento se resume em no mais aceitar o soberano porque a razo do pacto no existe
mais. Outra liberdade do sdito est na possibilidade de o soberano pedir-lhe que tire
sua prpria vida, que deixe de usufruir da respirao ou ainda que se mutile ou se
abstenha de alimentos, assim ele tem o direito de negar, pois ningum obrigado a
atentar-se contra a prpria vida. Se o soberano interrogar-lhe devido a um crime, ele
tem o direito de no confessar, pois isso tambm atenta contra sua prpria vida, a no
ser sobre promessa de perdo. A partir do momento em que os sditos assumem o pacto
e so autores dos atos do soberano, sua liberdade est implcita nos atos deste, e em
hiptese alguma, poder ter liberdade para por o pacto em risco.
Hobbes relativiza em dado momento, se a forma de governo proposto por ele, o
absolutismo, a nica na qual se estende o terror aos sditos. As diversas formas podem
em determinados momentos causar terror a seus sditos, no caracterstica nica de
uma forma de governo. As coeres existentes so menos prejudiciais sociedade e ao
indivduo do que quando estes vivem em estado de desordem, sem uma fora capaz de
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impedir as paixes dos homens. importante que Hobbes nessa passagem diz serem os
seres humanos dotados de lentes de aumento, e no possurem uma forma correta de
analisar como um pequeno ato de fora para manter a paz, como a cincia moral e civil,
so importantes para manter a ordem. Nesse caso, a fora adotada pelo governante para
coagir a sociedade importante, e o prejuzo causado a determinados seres humanos so
pequenos diante a superioridade de manter a paz.
Devido violncia no estado natural a propriedade no existe. Segundo Hobbes,
como todos vivem em guerra, a propriedade passa a ser algo impossvel aos seres
humanos que somente conseguem objetos e alimentos e os mantm consigo pela fora.
Se o soberano causa terror atravs dele que se torna possvel a aquisio da
propriedade. Aps o pacto, na existncia do estado governado por um soberano,
possvel distribuir e manter a propriedade pela fora. O estado a instituio capaz de
distribuir as terras, por exemplo, e assim pode tambm desapropriar quando achar
necessrio. Pode distribuir da forma como achar melhor, no respeitando a igualdade,
pois, quem decide quem vai ser proprietrio e a quantidade a receber o estado.
Quando um sdito torna-se proprietrio de uma quantidade de terra, ele exclui
qualquer outra pessoa da posse da mesma, s no exclui evidentemente o prprio
soberano, o responsvel por essa distribuio. Em determinados momentos, pode o
soberano no agir corretamente na distribuio das propriedades, causando insatisfao,
mas mesmo nesse caso, ningum tem o direito de pegar em armas para lutar contra o
poder, porque se todos no pacto autorizaram o soberano a ser o seu representante, todos,
na mesma medida, so responsveis por seus atos, e como poderia algum ir contra
aquilo pelo qual responsvel?

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Consideraes finais
Hobbes E Locke

As obras dos dois autores, Leviat, de Hobbes, escrita em 1651, e o Segundo

Tratado Sobre o Governo, de Locke, escrita em 1690, so contratualistas, discutem a
passagem do homem do estado natural para a sociedade civil atravs de um contrato
entre a sociedade e um governo. Talvez o ponto semelhante entre os autores seja
somente o fato de serem contratualistas e discutirem a formao do estado a partir de
um contrato, de um pacto, no qual ambos os autores dizem que os homens viviam em
estado de natureza.
O estado de natureza Hobbesiano caracterizado pela desconfiana, pelo estado
de guerra de todos contra todos. importante considerarmos que o homem no est em
guerra a todo o momento, no est lutando um contra o outro a todo instante, mas pelo
fato de sempre estarem desconfiados e imaginando o que o outro pode fazer-lhe, ele
vive, podemos dizer, em um estado potencial de guerra e isso os torna violentos por
qualquer motivo no qual sua imaginao pode gerar uma situao de medo. Os homens
so livres, fisicamente e espiritualmente iguais, podem a qualquer momento desejarem a
mesma coisa e assim tornarem-se inimigos. So movidos pela paixo, desejo e
desconfiana.
Para Locke, no estado de natureza os homens vivem numa relativa paz, no so
movidos por paixes como descreve Hobbes, mas sim pela razo, essa, uma lei natural
que organiza e mantem a humanidade existindo. A violncia pode existir, mas somente
para castigar o ofensor, que deixou de usar a razo e cometeu um delito no estado de
natureza. Locke descreve o estado de natureza, sendo os homens iguais, fisicamente e
espiritualmente e usufruindo da razo.
Hobbes pessimista em relao a natureza humana, so egostas e competitivos.
Locke, otimista, entende a natureza humana de forma mais cooperativa e mais
socivel. As semelhanas so pontuais entre os dois autores. Por exemplo, os homens
buscam preservar a paz e garantir sua sobrevivncia. Os homens so de certa forma,
egostas tanto para Hobbes, pois os homens agem por paixes, quanto para Locke, em
que todos querem seus direitos.

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Para Hobbes, o que leva os homens a formar um pacto justamente o estado de

guerra de todos contra todos, fazendo um pacto com um poder superior, para manter a
paz. Para Locke, o que leva a formao do pacto a preservao da propriedade, ela a
mola fundamental da formao de um poder maior capaz de agir como rbitro na
sociedade civil. Para Locke, a propriedade j existe no estado natural, o fator primrio
de sua aquisio e limitao o trabalho. Enquanto para Hobbes, a propriedade gerada
a partir da existncia do soberano, esse sendo o estado, nele que se concentra o poder
de dividir a terra, distribu-la de acordo seu desejo. A propriedade, nesse sentido
Hobbesiano, poder do estado podendo d-la e ao mesmo tempo tir-la de qualquer um
que o soberano julgue no estar de seu acordo.
A propriedade em Locke nesse sentido totalmente diferente no que se refere ao
poder do estado, se o pacto formalizado para sua preservao, o estado no pode em
momento algum atentar contra esse princpio. Inclusive, o governo civil perde sua
legitimidade quando interfere na propriedade podendo os sditos reivindicar sua sada.
Aqui, Locke cria um sentido poltico e social para a propriedade, vinculando a mesma
com a liberdade e a prpria existncia dos homens.
As formas de governo discutidas pelos dois autores tambm so totalmente
divergentes. Hobbes totalmente defensor de um governo nico, ou seja, sua teoria
embasada na possibilidade da existncia do absolutismo. O governo pode ser entregue a
um nico homem ou a uma assemblia de homens, porm, uma assemblia de homens
deixa a possibilidade de que participantes do governo ajam com paixo e coloquem o
pacto em perigo. No podemos esquecer que a assemblia de homens, para Hobbes, no
tira o poder total do soberano.
Para Locke, em primeiro lugar, o legislativo no tem poder absoluto sobre a
sociedade, no pode atentar contra o indivduo ou contra sua propriedade. A sociedade
transferiu ao governo o poder que a mesma tinha no estado de natureza. Assim o poder
que os indivduos transferiram no pode ser maior do que tinham no estado natural. Se
no estado natural o homem no tinha o poder arbitrrio sobre a vida e a propriedade, na
sociedade poltica o poder do governo est vinculado com o estado de natureza, no
podendo escravizar ou empobrecer qualquer de seus sditos, assim sendo, o poder de
natureza est para sempre assegurado.
Locke afirma no poder o legislativo, em hiptese alguma, governar sem leis
escritas, se as leis da natureza estiverem apenas no esprito de um nico ou alguns
homens estes podem interpret-las de acordo com seus interesses e paixes, portanto as
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leis devem ser promulgadas e escritas por pessoas autorizadas, no cabendo a estas
estipular decretos como meio de editar regras. O legislativo coloca o poder nas mos de
pessoas que julgam serem as mais indicadas depois de leis escritas e declaradas.
O Contrato Social, de Locke, afirma estar o poder absoluto e arbitrrio na mo
de um s governo, sem leis determinadas e claras, no tem sentido de sua existncia. Se
um grupo de indivduos escolhesse apenas um homem para deter o poder esse homem
ainda no comando de milhares de outros homens poderia governar com seus interesses e
paixes. Para Locke essa transferncia seria impossvel, porque o homem sairia do
estado de insegurana, onde sua liberdade de destruir o inimigo era irrestrita, e passaria
no momento do pacto a no poder atacar o inimigo que agora estaria mais forte. Se
antes todo o poder era distribudo de forma igual, com um governo absoluto sem leis
determinadas, ele teria todo poder e poderia atentar sempre que pudesse contra a
propriedade e a liberdade. Se os homens formaram o pacto devido a insegurana e pela
propriedade porque nomeariam algum que a qualquer momento poderia destruir
parcialmente ou totalmente sua propriedade? Sendo assim, o legislativo no poder
passar o direito de elaborar leis para outras pessoas, pois foi a sociedade que escolheu a
comunidade e somente a ela cabe a obrigao e direito de elabor-las e promulg-las.
Para Hobbes, o poder est inserido em um s homem, disposto ou no a impor a
fora e o terror. A partir do momento em que os indivduos decidem fazer um pacto e
colocar todo poder que tinham individualmente nas mos de um soberano, este tem o
direto de agir de acordo com o poder que tem, pois ele no fez o pacto com cada um da
sociedade, ele est no estado de natureza, no deve satisfao a ningum. No pacto,
todos so autores, e o soberano o ator, logo, todos os seus atos no podem ser
questionados, pois suas decises so de todos, e porque algum iria contra uma deciso
da qual ele mesmo autor. Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo
a este homem, ou na assemblia de homens, com a condio de transferires a ele teu
direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas aes. (WEFORT, p. 62)

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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

FRATESCHI, Yara. Virtude e felicidade em Aristteles e Hobbes. Journal of Ancient

Philosophy.

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LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. Coleo Os Pensadores. So Paulo:

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WEFFORT, Francisco. Os clssicos da poltica. Vol. 1. So Paulo: Editora tica; 2001.

Hobbes versus Locke: A contribuio do estado de natureza para as perspectivas realista
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pluralista

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Relaes

Internacionais.

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