Lídia Jorge Costa Dos Murmúrios
Lídia Jorge Costa Dos Murmúrios
Lídia Jorge Costa Dos Murmúrios
Algumas pessoas sentiram-se ofendidas, no conseguiram transpor isso como uma metfora.
Entenderam letra."
Durante muito tempo ns gerimos um imprio com uma noo muito mais metafsica
do que propriamente fsica do imprio. Tnhamos a ideia de que a nossa colonizao era feita
na base das trocas comerciais, mas a componente religiosa e catlica era muito forte.
Tnhamos a ideia de que salvvamos gente. O que acontece que comemos a achar que
tnhamos uma misso evangelizadora no mundo, que tnhamos um imprio transcendental. E
com isso acabamos por recusar a nossa verdade. Tnhamos um imprio mal gerido, com
dificuldade de fazer crescer o outro e at de ns prprios nos gerirmos. Tnhamos um conceito
de explorao imediata, rpida, sem criar estruturas. (...) Temos de nos ver ao espelho.
Enquanto no olharmos para ns, no saberemos a dimenso real que temos. Estaremos
sempre a oscilar entre momentos de depresso absoluta, em que achamos que no valemos
nada, e momentos de extrema euforia, que evocam noes exageradas de quinto imprio.
A ideia de predestinao, de que falta cumprir Portugal continua a haver em muitos
stios, sobretudo em lugares afastados de Portugal, onde se tem uma viso mtica de Portugal.
S que ns aqui dentro sabemos bem que Portugal falta cumprir - sim, pois falta, falta ser
mais srio, mais honesto, mais trabalhador, mais pragmtico! natural que a distncia
mitifique a ptria.
Entrevista de Andreia Azevedo Soares , in suplemento
Mil Folhas, Pblico, 24.06.2002 (excertos).