Análise Do Conto A Primeira Só
Análise Do Conto A Primeira Só
Análise Do Conto A Primeira Só
de desejo: Ningum deseja aquilo que tem. O sujeito de desejo e o objeto de desejo esto em
disjuno. A narrativa o percurso do objeto desejado.
A seguir a anlise interpretativa do conto A primeira S.
O conto A Primeira S, da Coletnea Uma ideia toda Azul, publicado em 1979,
grafado por Marina Colasanti, escritora conceituada, seus contos de fadas so obras
significativas do gnero literrio. A escritora escreve de maneira original, seus contos no se
iniciam com Era uma vez e nem finalizam-se com Felizes para sempre. Na busca de
adaptaes para modernidade, a escritora trabalha com seu contexto histrico e questes
existenciais em linguagem simblica, proporcionado ao pblico infantil um entendimento,
ainda que de forma do censo comum, o significado de sua existncia. Mesmo no possuindo
fadas, A primeira s um conto de fadas. Pois a escritora trabalha elementos bsicos do
conto tradicional e cria seus contos, centrados em uma temtica existencial e com uma
atmosfera ligada ao maravilhoso.
Segundo Nelly Novaes Coelho (1987) o conto de fadas com ou sem a presena de
fadas (mas sempre com o maravilhoso), seus argumentos desenvolvem-se dentro da
magia ferica (reis, rainhas, prncipes, princesas, fadas, gnios, bruxas, gigantes,
anes, objetos mgicos, metamorfoses, tempo e espao fora da realidade conhecida,
etc.) e tm como eixo gerador uma problemtica existencial (COELHO, 1987, p.
13).
O conto em si, retrata a angstia da protagonista. Uma linda princesa, que fechada em
seu castelo, presa em seu quarto e dentro de si mesma, na situao de filha nica do rei. A solido
da princesa lhe causa uma profunda tristeza e crise existencial, ela queria algum para brincar.
Era linda, era filha, era nica. Filha de rei. Mas de que adiantava ser princesa se no
tinha com quem brincar?
Sozinha, no palcio, chorava e chorava. No queria saber de bonecas, no queria
saber de brinquedos. Queria uma amiga para gostar.
COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. Rio de Janeiro: Nrdica, 1979.
Nota-se no trecho inicial do conto que Marina Colasanti, intensifica filha nica
com uma expresso slida, enumerando predicativos, os termos da expresso filha e nica
so separados, intensificando a singularidade.
O sujeito de desejo a princesa solitria, o objeto de desejo: a princesa deseja algum
para brincar, amar, uma companhia para acabar com sua solido.
O rei o antagonista, quem manipula e impede a princesa de sair do castelo e ter
contato com as outras crianas do reino, que no deixa a menina viver sua infncia. O pai,
tem o poder de mudar a realidade da filha, mas percebe-se que o rei no considerava a razo
da tristeza da filha, pois, ela no queria coisas materiais, somente uma amiga.
No queria saber de bonecas, no queria saber de brinquedos. Queria uma amiga
para gostar.
COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. Rio de Janeiro: Nrdica, 1979.
Porm, alegria da menina passageira, at o momento que ela ganha uma bola de ouro do
rei, e ao lanar para a amiga imaginria, o espelho acaba sendo quebrado. Por um momento a
princesa, sente-se outra vez solitria. De repente a princesa, olhando a seu redor, v nos cacos de
espelho espalhados no cho, no uma, mas vrias amigas refletidas nos vrios pedaos de espelho
e com elas brinca. Cansada das amigas, decide reproduzi-las e vai partindo as lascas de espelho
at se tornarem p brilhante, desfazendo qualquer imagem.
Pegou uma, jogou contra a parede e fez duas. Cansou das duas, pisou com o sapato e
fez quatro. No achou mais graa nas quatro, quebrou com o martelo e fez oito.
Irritou-se com as oito partiu com uma pedra e fez doze.
Mas duas eram menores do que uma, quatro menores do que duas, oito menores do
que quatro, doze menores do que oito.
Menores cada vez menores.
To menores que no cabiam em si, pedaos de amigas com as quais no se podia
brincar. Um olho, um sorriso, um pedao de si. Depois, nem isso, p brilhante de
amigas espalhado pelo cho.
COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. Rio de Janeiro: Nrdica, 1979.
O sentimento de vazio toma conta da princesa. Triste, solitria, sem sonho, sem
fantasia, sem sentido de continuar vivendo. Na busca pelo fim de seu sofrimento, ela vai a
beira do lago, enxerga o reflexo da amiga. Mas, percebe que isso j no lhe basta, queria
aquelas que tinha e novas que encontraria. A princesa se joga no lago ao encontro das amigas,
ao encontro de si mesma.Pois, a princesa no aceitava mais a solido.
Ento a linda filha do rei atirou-se na gua de braos abertos, estilhaando o espelho
em tantos cacos, tantas amigas que foram afundando com ela, sumindo nas pequenas
ondas com que o lago arrumava sua superfcie.
COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. Rio de Janeiro: Nrdica, 1979.
A menina no tem um final feliz. Embora tenha uma morte eufemizada, no deixa de ser
trgica.
Referncias Bibliogrficas:
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: Gostosuras e bobices. So Paulo: Scipione,
1991.
CNDIDO, Antnio. O direito literatura. In: Vrios Escritos. Duas cidades: Ouro sobre
azul. So Paulo; Rio de Janeiro. 4. ed. 2004. p.169-191.
CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dicionrio de smbolos. Rio de Janeiro: Jos
Olympio, 1988.
COELHO, Nelly Novaes. O conto de fadas. So Paulo: tica, 1987.
COLASANTI, Marina. Uma idia toda azul. Rio de Janeiro: Nrdica, 1979.