A Ciência Simbólica
A Ciência Simbólica
A Ciência Simbólica
A CINCIA SIMBLICA
APRENDIZ MAOM
Edio
1/2011
ndice
Para uso e guarda do Ir.:
__________________________________________
Loja: _____________________________________
12
13
23
27
31
34
36
39
- Eplogo ......................................................................
42
44
CONVITE REFLEXO
Irmo Aprendiz:
Supomos que ainda estejam bem vivas em vossa memria as imagens do cerimonial da Iniciao e a partir do momento
em que a luz vos foi dada.
J na Cmara de Reflexes haveis estado em contato
com certas figuras e objetos que, por certo, devero ter aguado
a vossa ateno, quando no a prpria curiosidade.
No interior do Templo, quando foi tirada a venda, pudestes, pouco a pouco e at com alguma surpresa, olhar outros objetos e desenhos com os quais vossos olhos nunca estiveram anteriormente habituados a v-los. Ao mesmo tempo, devereis ter
sentido que era impossvel, naqueles momentos, formar um juzo,
sequer uma idia, ainda que vaga, a respeito no apenas da finalidade em nome da qual ali estariam eles, e tambm como haveriam de ser entendidos.
Pois bem.
Antes de mergulhar na matria que ir compor esta Introduo Geral ao Simbolismo Manico, a Loja a que j pertenceis vos convida a uma reflexo, embora diferenciada daquela l
na Cmara onde vos entregastes meditao sobre o galo, a
ampulheta, a caveira sobre tbias, etc.
sumamente importante que vs, antes de preocuparvos em estudar com o devido afinco os smbolos de nossa Ordem
e inerentes ao vosso Grau, estudeis seriamente, para dominar
com segurana bem alicerada os princpios e regras bsicas estruturais da Cincia Simblica, tal como resumidamente expostas
nas pginas que viro a seguir, pois deles e delas havereis de valer-vos na longa caminhada Inicitica, semelhana do marinheiro que, antes de singrar os mares, prepara-se conveniente e prudentemente no cais do porto.
Nunca, nunca vos havereis de esquecer que toda a estrutura ideolgica da Maonaria est baseada no Simbolismo, mesmo porque, como dizem vrios autores a ele dedicados, nos smbolos que se encontram as chaves que abrem o
conhecimento do mundo espiritual existente em cada um de ns.
10
Mesmo aqueles outros smbolos denominados autnticos tm linguagens diversas, embora qualquer delas seja proeminente, de grande valor. A diversidade ficar por conta do enfoque que se empresta a uma ou outra dessas linguagens.
No raras vezes a interpretao da linguagem de um determinado smbolo estar relacionada ao prprio homem, quando
ele tenta compreender e explicar o cosmos divinizado.
MANFRED LURKER, citado por HANS BIEDERMANN2, argumenta: O significado do smbolo no se encontra nele mesmo,
um fenmeno concreto, no qual o pensamento do divino e do absoluto se torna imanente3, de tal modo que expresso de maneira mais clara do que por palavras... Do ponto de vista da Teologia, o smbolo a expresso da unio nunca rompida entre o criador e sua criatura... Se cada uma das imagens deriva da plenitude do arqutipo4 divino, essas so, em sentido restrito, symbolon, ponto de encontro entre tempo e eternidade... O smbolo esconde e revela ao mesmo tempo 5.
E o prprio BIEDERMANN muito provectamente acrescenta: Precisamos aceitar o fato de que smbolos consolidados
nas camadas profundas da personalidade tm o poder de desenvolver vida prpria e influenciar seu criador atravs de um tipo de
efeito retroativo. A responsabilidade do ser humano consciente
desse fato consiste em ele ter a possibilidade de selecionar do
patrimnio simblico aquilo que autntico e vlido.
_____________________________
2. Dicionrio Ilustrado de Smbolos, ed. Melhoramentos, 1993.
3. Em Filosofia, aquilo que est contido em, ou que provm de um ou mais
seres, independente de ao exterior. o oposto de transcendente.
4. O mesmo que modelos de seres criados, padro, exemplar, prottipo. Em
Psicologia e de acordo com C. G. Jung, arqutipo o mesmo que imagens
psquicas do consciente coletivo, que so patrimnio comum a toda a humanidade.
5. Symbol, Mythos und Legende in der Kunst (Studien zur deutschen
Kunstgeschichte, Berlim, 1958).
11
12
tar os smbolos atravs da anlise psicolgica, da etnologia comparada, de todos os processos e tcnicas de compreenso,
quando ento ela, a Simblica, se converte em Hermenutica8
dos Smbolos.
O Simbolismo, ao contrrio, ou a definio de uma
Escola Teolgica, Exegtica, Filosfica ou Esttica onde os textos
religiosos e as obras de Arte so expresses simblicas e subjetivas do sentimento e do pensamento, ou tambm uma Cincia
Especulativa que se funda na essncia do smbolo e de suas conseqncias normativas. Quando se fala, por exemplo, do simbolismo hind, do simbolismo cristo ou do simbolismo muulmano, no se estar falando propriamente do conjunto de smbolos inspirados por essas religies, mas sim da concepo geral
que elas tm a respeito do smbolo e de sua utilizao.
Precisamente por ser assim que, quando falamos do
Simbolismo Manico, queremos falar no do conjunto de
smbolos adotados pela Maonaria, mas sim da concepo que a
nossa Instituio tem do smbolo e de como pode ou deve ele ser
utilizado.
________________
6. Cristal de 100 faces.
_________________________________
7. Dicionrio de Smbolos, Chevalier, J. e Gheerbrant, A, Jos Olympio
Editora, 2a ed.
8. Interpretao ou arte de interpretar palavras, leis ou textos sagrados.
14
13
Smbolos e Signos:
Diferenciaes essenciais
Irmo Aprendiz:
Para que possais assimilar com mais segurana de conhecimento as diferenciaes realadas entre smbolo e signo,
muito til que tenhais sempre presente na mente alguns dos
diversos significados dicionarizados 9 de certos verbetes que, por
alguma forma ou modo, acabam estando integrados na complexa
linguagem simblica de que se vale a Maonaria para transmitir
seu iderio filosfico-inicitico aos seus adeptos.
Assim:
Imagem
[Do lat. imagine.]
Aquilo que evoca uma determinada coisa, por ter com
ela semelhana ou relao simblica; smbolo.
Representao mental de um objeto, de uma impresso,
etc.; lembrana, recordao.
Produto da imaginao, consciente ou inconsciente; viso.
Manifestao sensvel do abstrato ou do invisvel.
Imaginao
[Do lat. imaginatione.]
Faculdade que tem o esprito de representar imagens;
fantasia.
Faculdade de evocar imagens de objetos que j foram
percebidos; imaginao reprodutora.
Faculdade de formar imagens de objetos que no foram
percebidos, ou de realizar novas combinaes de imagens:
Faculdade de criar mediante a combinao de idias:
A coisa imaginada.
Criao, inveno.
Inveno ou criao construtiva, organizada (por oposio a fantasia, inveno arbitrria).
_________________________________
9. Novo Dicionrio da Lngua Portuguesa, Aurlio Buarque de Holanda
Ferreira, Editora Nova Fronteira.
Smbolo
[Do gr. symbolon, pelo lat. symbolu.]
Aquilo que, por um princpio de analogia, representa ou
substitui outra coisa (1, infra).
Aquilo que, por sua forma ou sua natureza evoca, representa ou substitui, num determinado contexto, algo abstrato ou
ausente.
Aquilo que tem valor evocativo, mgico ou mstico.
Objeto material que, por conveno arbitrria, representa ou designa uma realidade complexa.
Elemento descritivo ou narrativo suscetvel de dupla interpretao, associada quer ao plano das idias, quer ao plano
real.
Elemento grfico ou objeto que representa e/ou indica
de forma convencional um elemento importante para o esclarecimento ou a realizao de alguma coisa; sinal, signo.
Sinal que substitui o nome de uma coisa ou de uma ao.
Figura convencional elaborada expressamente para representar uma coisa; emblema, insgnia.
Pessoa ou personagem que representa determinado
comportamento ou atividade.
Alegoria, comparao; metfora.
Lingstica 10: Termo empregado por certos autores para
designar signo. [O smbolo lingstico corresponde a smbolo (1),
ao passo que no signo a representao arbitrria.]
Psicologia: Idia consciente que representa e encerra a
significao de outra inconsciente.
Semiologia 11: Signo que, em oposio simultnea ao cone e ao ndice, fundamenta-se numa conveno social (o signo
lingstico, p. ex.) e mantm uma relao instituda, convencional, com o referente; signo arbitrrio, signo imotivado.
_____________________________________
10. A cincia da linguagem e, em particular, da linguagem articulada.
11. Cincia geral dos signos, que estuda todos os fenmenos culturais como
se fossem sistemas de signos, i. e., sistemas de significao. Em oposio
lingstica, que se restringe ao estudo dos signos lingsticos, ou seja, da
linguagem, a semiologia tem por objeto qualquer sistema de signos (imagens, gestos, vesturios, ritos, etc.); semitica.
15
Signo
[Do lat. signu.]
Sinal, smbolo.
Cada uma das 12 constelaes que se localizam na faixa
do Zodaco, a saber: ries, Touro, Gmeos, Cncer, Leo, Virgem, Libra, Escorpio, Sagitrio, Capricrnio, Aqurio, Peixes (2,
infra).
Astrologia: Cada uma dessas constelaes, as quais, acredita-se, influenciam o destino e o carter daqueles que nascem em cada perodo do ano correspondente a um signo (2):
Lingstica: Entidade constituda pela combinao de um
conceito, denominado significado, e uma imagem acstica, denominada significante. [A imagem acstica de um signo lingstico no a palavra falada (ou seja, o som material) mas a impresso psquica deste som; no uso corrente, contudo, o termo
signo designa freqentemente a palavra.]
Semiologia: Todo objeto, forma ou fenmeno que representa algo distinto de si mesmo: a cruz significando 'cristianismo';
a cor vermelha significando 'pare' (cdigo de trnsito); uma pegada indicando a 'passagem' de algum; as palavras designando
'coisas (ou classe de coisas)' do mundo real; etc.
Signo lingstico: Signo da linguagem falada; palavra.
Signo motivado: (Semiologia) Aquele em que a razo pela qual um significante corresponde a um determinado significado
evidente, natural ou causal, a exemplo do que ocorre nos cones e nos ndices.
Emblema
[Do gr. mblema, 'ornato em relevo', pelo lat. emblema.]
Figura simblica; insgnia, smbolo.
Por extenso: Distintivo ou insgnia de instituio, sociedade, associao, etc., que se usa na roupa, ou em objetos a ela
pertencentes.
Atributo
[Do lat. attributu.]
Aquilo que prprio de um ser.
Emblema distintivo; smbolo.
16
Alegoria
[Do gr. allegora, pelo lat. allegoria.]
Exposio de um pensamento sob forma figurada.
Fico que representa uma coisa para dar idia de outra.
Seqncia de metforas que significam uma coisa nas
palavras e outra no sentido.
Obra de pintura ou de escultura que representa uma idia abstrata por meio de formas que a tornam compreensvel.
Simbolismo concreto que abrange o conjunto de toda
uma narrativa ou quadro, de maneira que a cada elemento do
smbolo corresponda um elemento significado ou simbolizado.
Parbola
[Do gr. parabol.]
Narrao alegrica na qual o conjunto de elementos evoca, por comparao, outras realidades de ordem superior.
Aplogo
[Do gr. aplogos, pelo lat. apologu.]
Historieta mais ou menos longa, que ilustra uma lio de
sabedoria e cuja moralidade expressa como concluso.
Fbula
[Do lat. fabula.]
Historieta de fico, de cunho popular ou artstico.
Narrao breve, de carter alegrico, em verso ou em
prosa, destinada a ilustrar um preceito.
Mitologia, lenda.
Narrao de coisas imaginrias; fico.
Metfora
[Do gr. metaphor, pelo lat. metaphora.]
Tropo que consiste na transferncia de uma palavra para
um mbito semntico12 que no o do objeto que ela designa, e
que se fundamenta numa relao de semelhana subentendida
entre o sentido prprio e o figurado [por metfora, chama-se raposa a uma pessoa astuta, ou se designa a juventude primavera da vida].
____________________________________
12. Do gr. semantiks, 'que assinala, que indica'; relativo significao;
significativo.
17
18
Note-se, entretanto, que todos os smbolos esto permanentemente situados no plano dos seres humanos, malgrado o
embasamento deles sempre seja objetivo, isto , esto lastreados
em objetos, tanto os materiais ou concretos, quanto os imateriais
ou abstratos.
E por objeto entenda-se - segundo PIERRE EMMANUEL15 - no apenas um ser ou uma coisa real, mas tambm uma
_________________________
13. Apud Jean C.M.Travers, em Valeur sociale de la liturgie daprs Saint
Thomas dAquin, referido por Jules Boucher, em A Simblica Manica, Ed. Pensamento.
14. Tratado de Histria das Religies, Martins Fontes Editora Ltda,
1998.
_____________________________
15. Polarit du Symbole, apud J. Chevalier-A Gheerbrant, ob.cit.
16. Vocabulaire de la Psychanalyse, apud J. Chevalier-A Gheerbrant, ob.
cit.
17. Les machinations de la nuit, apud auts. ob. cit., nota supra.
19
20
Naturais, aqueles que no so apenas os inerentes Natureza, mas tambm englobam as idias e conceitos relacionados
a eles pela experincia adquirida. Assim, por exemplo, o raio na
tempestade para simbolizar uma extraordinria e mortfera descarga eletrosttica.
Artificiais, aqueles outros criados ou construdos pelo
homem para significar suas prprias experincias, como os smbolos qumicos, por exemplo.
Dependendo do sentido particular de cada smbolo, so
eles tambm divididos em literais, alegricos, tropolgicos ou morais, e anaggicos ou msticos19.
Isto fora a que os smbolos passem a adquirir uma terminologia ou nomenclatura, isto , sejam identificados por certos
termos ou expresses bem precisas, conforme for a imagem particular que possam transmitir.
Tem-se, assim, o emblema, a alegoria, o atributo, o
aplogo, a parbola e a metfora - dentre os principais e que
mais de perto interessam Simblica e ao Simbolismo da Maonaria Universal.
O emblema uma figura ou objeto distintivo, e tambm um ente fsico ou moral, mas sempre visvel, ostentvel, com
a destinao de significar uma idia ou conceito, assim como a
bandeira de um pas (idia de ptria) e a coroa de louros (idia
de glria).
A alegoria (do grego allgoria = outro falar ou falar
de outro modo) pode apresentar-se sob a figura humana ou de
outro animal, at mesmo de um vegetal; mas, igualmente, poder estar figurando meramente um evento herico, ou uma virtude, como a pintura ou escultura de uma mulher com asas, uma
cornucpia, valendo como alegorias, respectivamente, da vitria
e da riqueza. HENRI CORBIN20 mostra a diferena fundamental
entre a alegoria e o smbolo, propriamente dito: A alegoria
Vale a pena, ao encerrar os vrios significados do smbolo para poder compar-lo com os do signo, engastar aqui estas
duas prolas de concepo - uma, de THOMAS CARLYLE, e a outra de VALDIVAR, citado por RALPH LEWIS18: O smbolo, propri-
uma operao racional que no implica passagem a um novo plano do ser nem a uma nova profundidade de conscincia; a figu_______________________
19. Padre Auber, em Histoire et thorie du symbolisme religieux, apud J.
Boucher, ob. cit.
20. Limagination cratice dans le soufisme dIbn Arabi, apud J. Chevalier-AGheerbrant, ob.cit.
21
22
(1) no conseguem eles ultrapassar o nvel dos prprios e respectivos significados, ou seja, so meios de comunicao, no plano
23
24
Acabou-se de ver que o smbolo imagem... pensamento, e por isso mesmo, uma espcie de revelao atravs
da qual o homem descobre a si mesmo como tal e toma conscincia de sua posio no Universo, onde e quando descobre as
mais nobres expresses de sua vida espiritual.
A natureza do smbolo
Irmo Aprendiz:
_______________________________________
25. Religio antiga dos iranianos (persas e medos), caracterizada pela divinizao das foras naturais e pela admisso de dois princpios em luta, aura-masda e arim (Aurlio).
26. Religio sincrtica, derivada do hindusmo, do budismo e de cultos populares, e que se cristalizou por volta do sc. XV, caracterizada pela magia
e ocultismo, associado a complexo simbolismo, iconolatria e prtica iogue (Aurlio).
27. Ensinamento filosfico-religioso desenvolvido sobretudo por Lao-tse
(sc. VI a.C.) e Tchuang-tseu (sc. IV a.C.), filsofos chineses, cuja noo
fundamental o Tao - o Caminho - que nomeia o grande princpio de ordem universal, sintetizador e harmonizador do Yin e do Yang , e ao qual se
tem acesso por meio da meditao e da prtica de exerccios fsicos e respiratrios (Aurlio).
28. 'Sagrado', 'divino' (Aurlio)
29. Manifestao de Deus em algum lugar, acontecimento ou pessoa (Aurlio).
30. Apud A .J. Chevalier-A Gheerbrant, ob.cit.
25
26
para designar, da melhor maneira possvel, a natureza obscuramente pressentida do esprito, ou seja, do consciente e do inconsciente, e por isso mesmo - citando J.JACOBI -, concentra as
produes religiosas e ticas, criadoras e estticas do homem, colore todas as atividades intelectuais, imaginativas e emotivas do
indivduo, ope-se, enquanto princpio formador, natureza biolgica e mantm constantemente desperta essa tenso dos contrrios que est na base de nossa vida psquica. E nessa linha de
pensamento, acrescenta: O smbolo nada encerra, nada explica remete para alm de si prprio, em direo a um significado tambm nesse alm, inatingvel, obscuramente pressentido, e que
nenhum vocbulo da linguagem que ns falamos poderia expressar de maneira satisfatria.34 E os prprios CHEVALIERGHEERBRANT concluem: na ultrapassagem do conhecido em
Ainda com JUNG, atente-se para esta verdade incontornvel: S vivo o smbolo que, para o espectador, for a expres-
so suprema daquilo que pressentido, mas no ainda reconhecido. Ento ele incita o inconsciente participao: gera a vida e
estimula seu desenvolvimento. Recordemos as palavras de Fausto: De que modo to diferente esse signo agiu sobre mim....
o mesmo R. DE BECKER36 quem, sufragando o entendimento aqui transcrito, assim observa quanto ao smbolo: Pode-
se ainda dizer que ele um ser vivo, uma parcela de nosso ser
em movimento e em transformao. De modo que, ao contempllo e apreend-lo como objeto de meditao, contempla-se tambm a prpria trajetria que se pretende seguir, apreende-se a
direo do movimento em que levado o ser.
HUGO VON HOFMANNSTAL, citado por CHEVALIERGHEERBRANT, d a sntese perfeita da natureza do smbolo: A-
_____________________________________
__________________________________
35. Que no se pode exprimir por palavras; indizvel. Encantador, inebriante (Aurlio).
36. Ob. cit. em nota 9, Smbolos e Signos, retro.
27
28
maior parte das afeces em causa so doenas lunares (melancolia, epilepsia, hemorragia...). As suas propriedades antitxicas
no tm outra explicao: a Lua era o remdio para todas as espcies de envenenamento. Mas o valor da prola no Oriente est
sobretudo na sua qualidade afrodisaca, fecundante e talismnica.
E quando posta no tmulo, no prprio cadver, ela solidariza o
morto com o seu princpio cosmolgico: a Luz, a gua, a mulher.
Por outras palavras, ela regenera o morto, inserindo-o num ritmo
csmico que por excelncia cclico, e pressupe - imagem das
fases da Lua - nascimento, vida, morte, renascimento. O morto
coberto de prolas adquire um destino lunar, pode ter esperana
de entrar no circuito csmico, visto que o penetram todas as virtudes criadoras de formas vivas, da Lua.
Por este belo exemplo se v que a prola, como significante, um smbolo composto por vrios compartimentos que
se interpenetram e com os respectivos significados, os quais, ao
serem aglutinados, mostram o significado estrutural, bsico, desse objeto, ou seja, o lunar. Mais simplificadamente: a prola
um smbolo lunar.
Esta a propriedade da interpenetrao.
Todo smbolo est sempre exprimindo uma relao, ainda que sob as mais variadas formas e matizes, do tipo terracu, espao-tempo e imanncia-transcendncia, servindo de
exemplos, para o primeiro tipo, a montanha e a taa invertida.
Segundo LVY-BRUHL 39, entre os indgenas, nunca o
29
30
Eis, pois, um simples exemplo - o do centro totmico para demonstrar a relao espao-tempo como uma das propriedades do smbolo.
No obstante, vai posta uma advertncia: as expresses
espao e tempo, aqui, no tm o significado e nem a extenso vulgar, profanos, mas sim o sentido mstico, ou mgicoreligioso, tambm denominado hierofnico, cuja explicao no
cabe, por enquanto, nos limites desta Introduo Geral destinada
a Aprendizes-Maons, mas em estudos do simbolismo bem mais
adiantados e profundos.
Por fim, como exemplo da relao imanente-transcedente, pode ser citado o da gua da Vida, que um smbolo
cosmognico interpretado como substncia mgica e medicinal
capaz de realizar a cura, o rejuvenescimento e garantir a vida eterna, o que faz com que ela se converta numa forma mtica de
uma s e mesma realidade metafsica e religiosa, ou seja, na gua se concentram a vida, o vigor e a eternidade. Como revela
M.ELIADE43, o caminho para a sua origem e a sua obteno im-
31
32
que o smbolo leva a intuir 45 que o homem, no contexto universal, parte de um conjunto que, ao mesmo tempo, o amedronta
mas o tranqiliza, como tambm o adestra para a vida.
A quinta funo socializante: O smbolo impe que o
homem se relacione com o meio social em que vive, pois eminentemente um ser gregrio 46. No se haver de esquecer que
cada grupo humano tem os seus smbolos em cada poca de sua
evoluo social e religiosa; por isso, conhec-los e esmiu-los
pela interpretao correta, adequada, participar efetivamente
do grupo e da poca em que ele existiu. Um grupo social que no
tenha tido smbolos um grupo a respeito do qual no se ter
outro conhecimento seno o meramente histrico, isto , o de
que ele, nalgum dia e nalgum lugar, esteve presente, mas a cujo
respeito nada se poder saber.
A sexta funo a de ressonncia: Como o smbolo
tem vida, ele consegue levar quem o interpreta para o plano do
psicolgico, provocando na mente um estado vibratrio cuja freqncia ser proporcional influncia ou influncias que ele possa desencadear, levando a que os ritmos se harmonizem, se equilibrem, provocando, ento, um ajuste dele (smbolo) ao estado de
esprito, no apenas da pessoa, mas tambm da prpria sociedade em que ela vive, j que esto ambas intimamente relacionadas; ou at mesmo de toda uma poca.
A stima funo a transcendente, decorrente de outra propriedade que tm os smbolos, qual seja a de estabelecer
uma conexo entre foras entre si opostas, vencendo obstculos
e abrindo caminho para o desenvolvimento e melhoria da conscincia, dentro do constante e total movimento evolutivo do ser
humano.
Por ltimo, a oitava funo a de transformao de
energia psquica: A energia inconsciente, inassimilvel sob
33
___________________
47. Gerhard Adler, em tudes de Psychologie Jungienne, apud J. Chevalier-A Gheerbrant, ob. cit.
48. Ob. cit.
34
35
_____________________________
51. Extrovertido: Que se expande, que desabafa; expansivo, comunicativo,
socivel (Aurlio).
52. Introvertido: 1. Voltado para dentro. 2. Metido consigo. 3. Absorto,
concentrado (Aurlio).
53. Les structures anthropologiques de limaginaire, apud ChevalierGheerbrant, ob. cit.
36
37
38
coletividades humanas no decurso do tempo cronolgico (diferente do tempo sagrado), tanto do ponto-de-vista fsico, como moral, espiritual e psquico.
So esses termos ou sries intervenientes na relao
simblica que emprestam ao smbolo a variao, mais ou menos
acentuada, do seu valor como tal.
exatamente neste passo que se constatar possuir o
smbolo uma lgica original, no entanto, impossvel de ser reduzida dialtica da razo.
Explica-se.
Num primeiro momento, C. G. JUNG56 quem fornece a
explicao. Diz ele: o mundo que fala atravs do smbolo (...)
blico revela uma tendncia que comum ao pensamento racional, se bem que os meios de ambos para satisfazerem tal tendncia se diferenciem entre si. (...) No entanto, imaginar no demonstrar. As dialticas so de ordem diferente. Os critrios do
simbolismo sero, por um lado, a constncia no relativo captada
intuitivamente e, por outro lado, o correlacionamento do incomensurvel; os do racionalismo, a moderao, a evidncia e a
coerncia cientficas. Ambos os procedimentos so incompatveis
dentro de uma mesma pesquisa: a razo esfora-se por eliminar o smbolo de seu campo de viso, para desenvolver-se na univocidade das medidas e das definies; a
simblica coloca o racional entre parnteses, a fim de
dar livre curso s analogias e aos equvocos do imaginrio. (...) Um smbolo pode prefigurar aquilo que, um dia, ser um
fato cientfico, como a terra, esfera entre as esferas, ou como a
doao do corao; um fato cientfico poder vir a ser um smbolo, como o cogumelo de Hiroshima.
________________________________
56. Psychologie und lchemie, apud Chevalier-Gheerbrant, ob. cit.
57. Introduction au monde des Symboles, apud Chevalier-Gheerbrant,
ob. cit.
58. Devenir: Transformao incessante e permanente pela qual as coisas
se constroem e se dissolvem noutras coisas; devir, vir-a-ser (Aurlio).
_________________
59. Ob.cit.
60. Ob.cit.
Num segundo momento, considere-se que a lgica simblica no faz incurses na argumentao racional a que estamos
habituados, mesmo porque, sabidamente, os smbolos intercomunicam-se atravs dos elos e conexes que esto no interior
deles, e para essa intercomunicao so obedecidas certas leis e
tambm uma dialtica que ainda no so bem conhecidas. Como
bem diz G. CHAMPEAUX57, que o simbolismo (...) pulso vital,
39
Variaes de sentido e de
interpretao dos smbolos
Irmo Aprendiz:
Como o ato de perceber e sentir um smbolo qualquer
estritamente pessoal, torna-se bvio que tais percepo e sentimento variam de pessoa a pessoa, j porque os seus respectivos
psiquismos no so iguais, j porque poder ocorrer uma significativa diferena cultural entre elas, fatores esses que iro influenciar sobremodo as interpretaes que elas iro extrair de um
mesmo smbolo.
O pensamento humano, tanto no tempo quanto no espao, criou e desenvolveu certos smbolos custa da imaginao,
representando-os, ora como figuras desenhadas em superfcies
planas, mas tambm em baixo ou alto relevo, ora esculturalmente
em objetos de madeira, cermica, metal, marfim, etc.
So smbolos que conseguiram transpor os sculos, invadir espaos culturais e se perpetuar na imaginao. Por isso,
so chamados smbolos universais, de que so exemplos o
sol, a lua, o leo, o touro, a guia, o corvo, a serpente, o drago, etc.
Todavia, esses smbolos tm sentidos muito variados
porque no decorrer dos tempos e nas mais diversas reas populacionais evoluiu muito e diferentemente a cultura humana.
Tome-se como exemplos o lpis-lazli, o gavio e o
feixe de espigas.
Na Mesopotmia, entre os Sassnidas, o lpis-lazli era o
smbolo csmico da noite estrelada, mas no Oriente muulmano
era o smbolo talismnico contra o mau olhado.
Na Frana, o gavio o smbolo do domnio da mulher
sobre o marido, quando este se deixa subordinar, mas no Brasil
o smbolo do indivduo esperto e propenso a conquistas amorosas; j na China antiga era o emblema do Outono, e no Egito antigo era o smbolo do deus Hrus - e, portanto, um emblema solar. Entre os gregos e romanos, tambm era a imagem do Sol.
O feixe de espigas (gavela) o smbolo da abundncia,
da prosperidade, mas tambm simboliza a reduo do mltiplo
unidade.
40
3.
Dever abster-se de pensar de modo discursivo e de estender os smbolos separados no espao, observando-os
um aps outro; o seu esforo dever consistir em sentir a
substncia mental em processo de plasmar. Ao exercitarnos com os smbolos, no devemos objetiv-los nem projet-los, devemos, ao contrrio, senti-los crescer dentro
de ns, e ento uma idia ocasional pode fulgurar em
nossa mente. por isso que um escritor definiu o smbolo
como a luz branca que se decompe em cada alma numa
cor diferente. 62
O segredo para uma boa interpretao do smbolo consiste em lev-lo na prpria mente e no esta no smbolo; a
mente no deveria sentir-se ligada ao smbolo, nem dei-
____________________________
61. Nicola Aslan, ob. cit.
62. Idem.
41
xar-se atrair por seus sinais e sair de si mesma para cristalizar-se numa forma. Pelo contrrio, o smbolo que se
deve dobrar s exigncias da mente, a qual, depois de
agarr-lo, deve examin-lo por todos os lados a fim de
possu-lo na sua inteireza 63.
4. Quem pensa cientificamente parte da anlise para a sntese,
ou seja, do desintegrado para o integrado, do mltiplo para o uno. Mas quem pensa simbolicamente, parte da sntese para a anlise, do integrado para o desintegrado, do
uno para o mltiplo, do todo para as suas partes componentes.
5.
6.
_____________
63. Ibidem.
64. G. R. S. Mead, Some Mystical Adventures, apud Nicola Aslan, ob. cit.
65. Nicola Aslan, ob.cit
42
EPLOGO
Irmo Aprendiz:
Esta Loja Simblica tem por concluda a sua primeira
misso em relao ao incio de vosso aprendizado manico.
A Introduo Geral ao Simbolismo, tal como acaba de
ser exposta nas pginas anteriores, teve a nica preocupao de
levar ao novel Irmo alguns conhecimentos rudimentares, mas
havidos como fundamentos bsicos e subsidirios ao estudo dos
smbolos manicos de que as futuras Instrues iro se ocupar;
e acrescente-se: no apenas voltadas para o vosso Grau de Aprendiz-Maom, mas igualmente teis e aproveitveis no simbolismo dos Graus posteriores de Companheiro e Mestre e aos quais
havereis de alcanar quando os vossos conhecimentos manicos, devidamente avaliados por esta Loja, recomendarem e autorizarem esse progresso.
O contedo total desta Introduo Geral - fazemos questo de realar e insistir - est longinquamente distante da profundidade que cada um dos ttulos nela mencionados est a merecer.
Precisamente por essa razo, no devereis entender que
estais recebendo uma obra consumada em tema de Simblica,
Simbologia ou Simbolismo. A soma total destas pginas no chega a se igualar s de um s captulo de uma s obra constante da
vastssima bibliografia existente na Europa (Frana, Inglaterra e
Alemanha, principalmente), em matria de smbolos.
Como j dissemos e uma vez mais insistimos, a inteno
desta Loja de par com a sua preocupao, esteve e est voltada
unicamente em vos pr numa posio tal que, ao abrirdes a porta que mostra o caminho por palmilhar e destinado ao vosso aperfeioamento moral e espiritual, pudsseis tambm contemplar
o imenso horizonte no qual repousa o imenso universo do simbolismo.
E essa porta, como vereis, ir ser aberta j na primeira Sesso posterior vossa Iniciao, quando teremos o mximo prazer e a felicidade em vos ministrar a Instruo Preliminar, onde e quando se dar o vosso primeiro contato direto e
imediato com os nossos smbolos.
43
__________________________
66. Se o Irmo transitar na Internet, as obras selecionadas podero ser adquiridas diretamente atravs da busca no site www.booknet.com.br
exceto aquelas que estiverem precedidas de asterisco.
44
BIBLIOGRAFIA BSICA
* 1.