A Função Social Do Professor PDF
A Função Social Do Professor PDF
A Função Social Do Professor PDF
ABSTRACT: This paper intends to investigate the conceptions about the social
function of teachers, namely, their role in our society. We understand that there
are two conflicting conceptions, each one connected to a different means to
organize teachers work and training: one that is present in public policies for
education, and another one present in social movements of education. After
investigating both conceptions, we conclude that in the public policies prevails the
conception of the task teacher, one with no autonomy, who only fulfills pre1
1. Introduo
Pensar a funo social do professor pensar qual o seu papel dentro da
sociedade, isto , indagar: que papel este profissional desempenha e qual a sua
importncia dentro da sociedade brasileira? Qual o objetivo mais amplo do
trabalho deste profissional? Compreendemos que a concepo de professor e da
sua funo social implicar em uma organizao do trabalho e da formao
docentes correspondente a esta concepo.
Este trabalho um desdobramento da monografia A funo social do
professor em Florestan Fernandes, apresentada pela autora em 2012. Naquele
momento, foi realizado um estudo para compreender como este autor via a
funo social do professor. Percebemos que a viso de Florestan estava sempre
ligada viso dos movimentos sociais de educao, e que esta viso estava em
conflito com a concepo presente na legislao educacional. Assim, este
trabalho tem como objetivo compreender, a partir de um estudo preliminar, estas
duas concepes acerca da funo social do professor.
A motivao para este trabalho a constatao da atual situao de
desvalorizao do professor no Brasil, em especial o professor da educao
bsica que atua na escola pblica, bem como o entendimento de que a esta
desvalorizao acompanha uma concepo da funo do professor na sociedade,
que por sua vez est atrelada a uma concepo de educao e de mundo. Assim,
buscamos compreender o que subjaz a esta desvalorizao, utilizando
principalmente os conceitos de precarizao e proletarizao do trabalho docente,
e, por outro lado, investigando tambm as alternativas a este atual modelo, que
contemplam uma outra condio para a profisso docente e tambm uma outra
concepo de escola e de sociedade.
O objetivo deste trabalho , portanto, investigar as concepes de funo
docente que regem, por um lado, as polticas pblicas voltadas para este
trabalhador; e, por outro, os movimentos sociais do campo da educao e suas
lutas pela organizao da profisso docente, entendendo que estas concepes
esto em conflito. Buscamos compreender as estas concepes em conflito,
evidenciando a disputa ideolgica que envolve, de um lado, o Estado
particularista burgus, que defende os interesses desta classe, e, de outro, os
movimentos sociais de educao, que buscam defender os interesses da classe
trabalhadora. Compreendemos, portanto, que estes momentos de embate so
representativos da luta de classes que ocorre na sociedade capitalista.
criao do consenso em torno desta nova ordem, bem como transmitir uma nova
sociabilidade correspondente ao novo paradigma. A educao passa a ter uma
funo econmica, de incluir os trabalhadores no mundo do consumo, ao mesmo
tempo em que torna os mesmos empregveis pelo mercado de trabalho
(MOTTA, 2009). Este tambm foi o perodo em que a escola de ensino
fundamental tornou-se acessvel a todos os brasileiros, o que significa que a
escola universalizada tambm uma escola que v a sua qualidade diminuda.
Segundo Kuenzer (1999), medida que os trabalhadores perdem seus
direitos, incluindo uma grande diminuio do emprego formal, a educao pblica
de qualidade faz-se desnecessria para uma realidade de desemprego e trabalho
informal. Assim, a escola pblica recebe poucos investimentos, o que leva a uma
perda de qualidade no ensino. Cria-se, ento, um abismo entre a educao
recebida pelos trabalhadores e pela burguesia, no qual os primeiros so
educados em uma escola pblica precria, e a segunda, em escolas particulares
de qualidade elevada.
Por outro lado, esta deteriorao tambm legitima uma lgica privatista, pois a
baixa qualidade do ensino pblico serve para justificar a incurso da iniciativa
privada, que passa a oferecer servios educacionais e materiais didticos na
escola pblica, atravs de parcerias com as secretarias de educao.
Kuenzer (idem) ainda nos aponta que, para esta educao pblica,
necessrio um novo tipo de professor, o qual a autora denomina professor
tarefeiro. Para ela, este professor necessita apenas cumprir tarefas e
procedimentos preestabelecidos, correspondentes a uma educao de pouca
deste
desvalorizao
processo
social
de
proletarizao
intelectual
do
docente,
professor,
que
tambm
leva
uma
ocorre
uma
10
11
E ainda:
O ser humano concebido como ser ativo, crtico, construtor de sua prpria cultura, da
histria e da sociedade em que vive; para tanto imprescindvel seu acesso a uma
escola que, alm de formao ampla, desenvolva valores e atributos inerentes
cidadania. Tal escola se ope quela que vincula a educao a prerrogativas
mercadolgicas globalizantes, com o intuito de formar indivduos pretensamente
consumidores e competitivos (Idem, p. 11).
12
projeto pedaggico com o qual todos se comprometem, desempenhando seu papel com
competncia e responsabilidade (PNE: Proposta da sociedade brasileira, 1997, p. 11).
Este substitutivo, bem como todos os outros projetos de lei e substitutivos que antecederam promulgao
da Lei n 9394/96 encontram-se no livro A nova lei da educao: LDB trajetrias, limites e perspectivas,
de Dermeval Saviani (1997).
13
Para que seja possvel esta escola construda coletivamente por alunos,
professores e funcionrios, faz-se necessrio um professor capaz de construir
conhecimento e elaborar seu trabalho, e no apenas reproduzir conhecimentos
elaborados por outros.
Segundo Antonio Gramsci (1989), todos os seres humanos desempenham
atividades intelectuais. Entretanto, h aqueles cuja funo social de um
intelectual, j que em sua profisso prevalecem as atividades intelectuais sobre
as atividades mecnicas. Consideramos, portanto, que um professor tarefeiro no
pode ser considerado uma profisso intelectual, j que a maioria de suas
atividades de natureza mecnica reproduzir, realizar tarefas. Um intelectual
TrabalhoNecessrio www.uff.br/trabalhonecessario; Ano 10, N 15/2012.
14
15
16
17
4. Consideraes finais
A partir das anlises realizadas acima, acerca da concepo da funo
social do professor e de educao presente nas polticas pblicas do Estado
brasileiro e nas proposies dos movimentos sociais de educao, podemos
afirmar que existe um abismo entre as duas concepes.
Na primeira, vemos uma educao cuja funo na sociedade de
reproduzir as condies materiais do capitalismo, a partir da formao de mo de
obra para este sistema, dentro de uma perspectiva aonde o trabalhador deve ter
apenas a educao que baste ao mercado. Consequentemente, a aparece um
professor precarizado e proletarizado, que no necessita ser um intelectual, j
que no elabora seu trabalho ou constri conhecimentos, mas apenas segue
planos e metas impostos de cima para baixo, com um contedo elaborado
justamente por aqueles que tm interesse neste tipo de educao: o setor
privado.
Na segunda, a educao vista como um direito dos trabalhadores e um
fator em prol da sua emancipao: a formao no deve ter como fim o mercado
de trabalho, mas sim o pleno desenvolvimento humano. Este profissional deve ser
capaz de levar o conhecimento a todos, e para assumir tal tarefa no basta
somente reproduzir contedos prontos ou cumprir tarefas, sendo necessria uma
atividade intelectual, na qual o professor produz, seleciona e organiza os
conhecimentos necessrios aos seus alunos. Portanto, nesta perspectiva faz-se
TrabalhoNecessrio www.uff.br/trabalhonecessario; Ano 10, N 15/2012.
18
19
5. Referncias
20