Pag 9 O Impulso Ludico
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O impulso ldico: 11
bre sua forma, mera abstrao, e quando s sentimos sua vida, ele
mera impresso; apenas quando sua forma vive em nossa sensibi-
lidade e sua vida se forma em nosso entendimento o homem forma
viva, e este ser sempre o caso quando o julgamos belo.39 Portanto,
a avaliao esttica de um ser humano como belo implicaria a par-
ticipao do terceiro impulso. Na beleza, haveria uma exigncia da
razo para completar o conceito de humanidade, uma exigncia de
unidade entre forma e realidade.
Retomando em outros termos um tema amplamente trabalha-
do em textos anteriores, como as Kalliasbriefe,40 Graa e dignidade
e Sobre o sublime, Schiller considera a exigncia de beleza como
consumao da humanidade, porque h nessa exigncia uma atu-
ao em conjunto dos dois lados do ser humano. Essa considerao
dialoga abertamente com as teorias estticas sobre o belo estudadas
pelo autor, nas quais ele percebe o privilgio de um ou de outro
impulso.41 A beleza no pode ser mera vida, como quiseram obser-
vadores argutos que se ativeram excessivamente ao testemunho da
experincia, nem mera forma como julgaram sbios especulativos,
demasiado distantes da experincia.42 Em nota, Schiller comenta
que Burke concebe a beleza como mera vida, enquanto os adeptos
do sistema dogmtico fariam dela mera forma. O que est implcito
nessa observao , mais uma vez, a base kantiana das reflexes, j
que a noo do jogo livre entre as faculdades da razo, exposta na
terceira crtica, permitiria uma concepo da beleza que no tende
nem ao sensualismo nem ao racionalismo.
Embora Schiller no indique isso explicitamente, o jogo livre
kantiano certamente est por trs da justificativa do nome impulso
ldico, em alemo Spieltrieb, ou seja, literalmente impulso de jogo.
As reivindicaes dos dois primeiros impulsos (sensvel e formal) so
srias. No conhecimento (em termos kantianos, no uso terico da ra-
zo), um impulso se refere realidade das coisas; o outro, sua neces-
sidade. Na ao (uso prtico), um visa manuteno da vida; o outro,
preservao da dignidade.43 Essa seriedade acarretaria uma objeo
tentativa de definir o belo como mero jogo, como se fosse algo
pejorativo ou desnecessrio. Invertendo o senso comum que sustenta
39
Ibid.
tal objeo, o que pensado a princpio como limitao aparece jus-
40
tamente como ampliao, porque o jogo e somente ele que torna
Cf. SCHILLER. Kallias ou
sobre a beleza. completo e desdobra de uma s vez a natureza dupla do ser humano.
41
Em outras palavras, com o agradvel, com o bem, com a perfeio, o
Cf. a respeito desses estudos:
SCHILLER. Fragmentos das homem apenas srio; com a beleza, no entanto, ele joga.44
prelees sobre Esttica. H, portanto, uma primeira articulao do impulso ldico com
42
SCHILLER. A educao a arte: a criao do belo artstico seria um caso de convergncia
esttica do homem, p. 82. entre o impulso material e o formal, de modo que, numa forma
43
Cf. Ibid., p. 83. viva, fica suspensa a oposio entre ambos. A segunda articulao
44
Ibid. com o prprio juzo sobre a beleza de um homem, como uma
exigncia da razo para a consumao da humanidade, exemplo
que remete noo kantiana do jogo livre entre a imaginao, ou 21
sensibilidade, e o entendimento. Mas Schiller prope tambm uma
terceira articulao, que diz respeito ao prprio jogo como expres-
Referncias bibliogrficas