Especifico 2 PDF
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Interruptor Fusvel
Resistncia R Ampermetro,
A V O
Voltmetro,
Ohmmetro
Lmpada Resistncia Rv
varivel (restato,
potencimetro)
Rv
Condensador C Condensador Cv
(capacidade) varivel
(capacidade
varivel)
Bobina Transformador
L
(indutncia)
E I
U
Exemplo:
Uma bateria de 12 V fornece uma corrente de 1 A a uma lmpada. Qual a resistncia dessa
lmpada?
Resposta:
R = U / I = 12 / 1 = 12
Apesar das unidades fundamentais de corrente, tenso e resistncia serem o Ampre (A), Volt
(V) e o Ohm (), frequente a utilizao de mltiplos e submltiplos destas unidades. Os mais
utilizados so:
Mltiplo/Submltiplo Smbolo Valor
Giga G 109
Mega M 106
Kilo K 103
Mili m 10-3
Micro 10-6
Nano 10-9
R1 R2 R3
E U1 U2 U3 I
Se duas ou mais resistncias se ligam em srie (Figura 2), isto , a corrente que sai de uma
resistncia entra directamente na seguinte, a sua resistncia equivalente a soma de todas as
resistncias:
Re = R1 + R2 + R3
Porqu?
Dado que a mesma corrente I atravessa as trs resistncias, as quedas de tenso em cada uma
delas ser IR1, IR2 e IR3, respectivamente. Claramente, a soma das trs quedas de tenso deve
ser igual tenso E aplicada, que em termos de uma nica resistncia equivalente seria Ire.
Ento
IRe = IR1 + IR2 + IR3
ou
Re = R1 + R2 + R3
Estendendo-se este resultado a qualquer nmero de resistncias ligadas em srie.
Exemplo:
O circuito ilustrado na Figura consiste em trs resistncias de valor 84 , 68 e 48 ,
respectivamente, interligadas em srie com uma bateria de 12 V. Determine:
a) Resistncia equivalente
b) Corrente que percorre o circuito
c) Tenso aos terminais de cada resistncia
Resoluo:
Re = 44 + 28 + 48 = 120
I = U / Re = 12 / 120 = 0.10 A
U1 = IR1 = 0.1 x 44 = 4.4 V Total = 12 V
R1
E R2 Uo
I
Figura 3: Divisor de tenso
Uo
S
A B
Rv
R1 R2
E
I
Figura 4: Divisor de tenso com restato
E R1 R2 R3
I1 I2 I3
I
Figura 5: Associao de resistncias em paralelo
Na Figura 5, a corrente total I deve ser a soma das corrente parcelares I1, I2 e I3, isto
I = I1 + I2 + I3
Se assumirmos que cada resistncia tem uma tenso U (E) aos seus terminais, as correntes so
I1 = U / R1, I2 = U / R2, I3 = U / R3
Portanto, se Re for a resistncia equivalente, ento I = U / Re e
U / Re = U / R1 + U / R2 + U / R3 1 / Re = 1 / R1 + 1 / R2 + 1 / R3
Estendendo-se este resultado a qualquer nmero de resistncias ligadas em paralelo.
Para o caso de duas (e apenas duas) resistncias em paralelo,
Re = R1R2 / (R1 + R2)
Exemplo:
Determine a resistncia equivalente de duas resistncias ligadas em paralelo, de valores 3.5 e
5.4 .
Resoluo:
Re = 3.5 x 5.4 / (3.5 + 5.4) = 2.1
Refira-se ainda que a resistncia equivalente de um paralelo sempre menor ou igual menor
resistncia desse paralelo.
7. DIVISOR DE CORRENTE
Nos circuitos srie notamos que a tenso aplicada (pela fonte) era dividida por tantas partes
quantas as resistncias. Num circuito paralelo a corrente dividida por tantas partes quantas as
resistncias.
importante compreender como se divide a corrente, quando encontra resistncias em
paralelo. de esperar que a resistncia mais pequena fique com a maior parte da corrente e a
resistncia maior fique com a menor parte dessa corrente. o que se chama uma relao
inversa. As resistncias intermdias ficam com correntes intermdias.
Consideremos o caso de uma resistncia de 3 em paralelo com uma de 8 , ligadas a uma
fonte de 24 V. A corrente na resistncia de 3 ser 24 / 3 = 8 A e a corrente na resistncia
de 8 ser 24 / 8 = 3 A. Portanto, quando a relao de resistncias de 3:8, a relao de
correntes de 8:3.
Exemplo:
Trs resistncias de 3, 9 e 12 esto ligadas em paralelo e a corrente total do circuito de 38
A. Determine a corrente em cada uma das resistncias.
Resoluo:
Primeiro calcular a resistncia equivalente
1 / Re = 1 / 3 + 1 / 9 + 1 / 12 Re = 36 /19
A tenso aplicada que provoca que uma corrente de 38 A percorra esta resistncia de
U = IRe = 38 x 36 /19 = 72 V
Aplicando a Lei de Ohm a cada ramo (derivao), fica
Corrente na resistncia de 3 = 72 / 3 = 24 A Total = 38 A
Corrente na resistncia de 9 = 72 / 9 = 8 A
Corrente na resistncia de 3 = 72 / 12 = 6 A
8. ASSOCIAO DE RESISTNCIAS EM SRIE-PARALELO
A resoluo de problemas envolvendo circuitos constitudos por resistncias em srie e em
paralelo pode ser efectuada substituindo todos os grupos de resistncias em paralelo pela sua
resistncia equivalente. O circuito pode ento ser reduzido a uma associao srie (ou
paralelo) simples que , por sua vez, pode ser reduzida sua resistncia equivalente Re.
Exemplo:
Determine a resistncia equivalente do circuito da Figura 6, bem como o valor da corrente em
cada uma das resistncias.
R1
E R2 R3 R4
I2 I3 I4
I1
Figura 6: Circuito com resistncias em srie-paralelo
Sabe-se que
E = 10 V, R1 = 1.5 , R2 = 4 , R3 = 10 e R4 = 20 .
Resoluo:
Primeiro calcular a resistncia equivalente do grupo em paralelo
1 / Rep = 1 / 4 + 1 / 10 + 1 / 20 Rep = 20 / 8 = 2.5
Ento, a resistncia equivalente total
Re = 2.5 + 1.5 = 4
e a corrente total (que passa em R1)
I1 = 10 /4 = 2.5 A
Ento, a tenso aos terminais de R1
U1 = 1.5 x 2.5 = 3.75 V
sobrando 10 - 3.75 = 6.25 V para o grupo em paralelo.
As correntes em cada resistncia do paralelo so:
I2 = 6.25 / 4 = 1.56 A Total = 2.5 A
I3 = 6.25 / 10 = 0.625 A
I4 = 6.25 / 20 = 0.313 A
9. RESISTNCIA INTERNA DE UMA FONTE DE TENSO
Qualquer fonte de tenso, nomeadamente as pilhas, as baterias ou os geradores, tem uma
resistncia interna cujo valor depende do tipo construtivo. A existncia desta resistncia
interna provoca que o valor da fora electromotriz fornecida pela fonte no seja igual tenso
aos seus terminais, isto , provoca uma perda de energia indesejvel.
Uma fonte de tenso (real) pode ser representada, esquematicamente, por uma fonte de
tenso ideal (sem resistncia interna) em srie com uma resistncia. Isto pode ser observado
na figura seguinte:
Ri +
E U
A tenso U aos terminais da fonte vai depender da carga que vai alimentar, isto , da
resistncia que a fonte alimenta:
Ri +
E R U
-
I
Figura 8: Fonte tenso real em carga
Quanto maior for a corrente I, maior ser a queda de tenso dentro da fonte de tenso (IRi),
sobrando para o exterior a tenso:
U = E - IRi
Nota: A fora electromotriz (E) de uma bateria pode ser medida utilizando um voltmetro com alta resistncia
interna, sem a esta ter aplicada qualquer carga. Temos pois uma situao em a bateria est praticamente sem
carga, implicando que a corrente I seja praticamente nula, logo com IRi quase nulo pois. Se medirmos a tenso
aos terminais da mesma bateria, mas agora em carga, o valor medido dever ser inferior ao anterior, pois agora
existe uma queda de tenso interna (IRi) que poder ser no desprezvel, dependendo do valor da resistncia
interna da bateria e da corrente que ela est a fornecer ao circuito.
Exemplo:
A tenso em vazio (sem carga) de uma bateria 6 V. Quando se alimenta uma resistncia de
10 , a tenso aos seus terminais passa para 5 V. Qual o valor da resistncia interna da
bateria?
Resoluo:
Sendo a fora electromotriz da bateria
E=6V
e, quando se liga a resistncia de 10 a queda de tenso aos seus terminais passa para 5 V,
que dizer que cai 1 V na resistncia interna da bateria. Podemos ento dizer:
IRi = 1 V
Como,
I = 5 / 10 = 0.5 A
ento,
Ri = 1 / 0.5 = 2
10. ASSOCIAO DE BATERIAS
As baterias (ou pilhas) podem associar-se em srie ou em paralelo, consoante o objectivo que
se pretende atingir.
Se ligarmos, sucessivamente, o polo negativo de uma bateria ao polo positivo de outra,
consegue-se um agrupamento com uma f.e.m. superior de cada bateria e igual soma de
todas as f.e.m:
E1 E2 E3
Ficando,
Ee = E1 + E2 + E3 +
Chama-se a este agrupamento a srie de baterias. Uma bateria de automvel, por exemplo,
feita custa da associao em srie de vrios elementos de menor f.e.m. A resistncia
equivalente da srie de baterias igual soma de todas as resistncias internas:
Rie = Ri1 + Ri2 + Ri3 +
Se pretendermos uma fonte CC que debite correntes mais elevadas do que uma s bateria,
agrupamos vrias baterias em paralelo (note-se que as baterias tm de ter f.e.m. iguais):
E1 E2 E3
Ficando,
Iemax = I1max + I2max + I3max +
O inverso da resistncia equivalente do paralelo de baterias igual soma de todos os inversos
das resistncias internas:
1 / Rie = 1 / Ri1 + 1 / Ri2 + 1 / Ri3 +
Para produzir tanto f.e.m. como correntes elevadas, faz-se o agrupamento misto das baterias
11. POTNCIA E ENERGIA
Potncia (P) , em termos genricos, a energia (ou trabalho) produzida ou consumida por
unidade de tempo, medindo-se em Joule / segundo (J/s). Em electrotecnia utiliza-se o Watt
(W) para simbolizar a potncia elctrica unitria e o Watt-Hora (Wh) como unidade de energia
(unidade que vulgarmente aparece referenciada nas nossas facturas de electricidade).
frequente utilizarmos termos como: esta lmpada mais potente que aquela; este motor
mais potente que aquele, etc. De facto, quanto maior a potncia de um receptor elctrico,
maior capacidade de produzir trabalho ele ter, mas tambm maior quantidade de energia
elctrica ele consumir. Por exemplo uma lmpada de maior potncia que outra do mesmo
tipo d mais luz, mas tambm consome mais energia.
Em electricidade, a potncia de um receptor est relacionada com a sua resistncia, a corrente
que o percorre e a tenso aos seus terminais, da seguinte forma:
P = RI2 = UI = U2 / R
Estas relaes so teis, por exemplo, para saber qual a corrente que consumida por um
receptor de uma dada potncia e uma dada tenso nominais, ou para saber que potncia
consumida por uma resistncia, quando se aplica uma dada tenso, etc.
Exemplo:
Qual a corrente consumida por uma lmpada de 60 W, sabendo que para a alimentar se utiliza
uma bateria de 12 V?
Resoluo:
I = P / U = 60 / 12 = 5 A
12. CAPACIDADE DE UMA BATERIA
Por exemplo, um acumulador de chumbo de 100 Ah descarregado em 10 h com uma
corrente de 10 A e pode ser descarregado em apenas 1 h com uma corrente de 50 A. Neste
caso, a capacidade da bateria de 50 Ah (metade da anterior). Portanto, a capacidade de um
acumulador deve ser acompanhada do tempo da descarga, em horas. Se assim no acontecer,
o valor da capacidade refere-se aos perodos normais de descarga (10 h para os acumuladores
de chumbo).
As possibilidades de utilizao de uma bateria (acumulador) so caracterizadas,
principalmente, pela sua capacidade [[Mor, 87]]. Esta representa a quantidade de electricidade
em Ah que o acumulador pode fornecer durante a descarga. A capacidade de um acumulador
varia com o regime de descarga e com a temperatura do electrlito. Quando a temperatura
no citada, porque se considera 20C.
Em termos energticos, uma bateria de 12 V e 100 Ah tem uma energia de:
12 x 100 = 1.2 kWh (= 4320000 J)
13. CONSERVAO DE ENERGIA (LEIS DE KIRCHOFF)
Tal como em qualquer sistema fechado, a energia elctrica, num dado circuito, tambm se
conserva. De facto, a energia que produzida (fontes de energia: bateria, dnamo, etc.) igual
energia que consumida, tanto pelos receptores propriamente ditos (lmpada, aquecedor,
etc.) como por perdas nas resistncias dos fios e contactos necessrios ligao do prprio
circuito.
As Leis de Kirchoff mais no so do que leis de conservao de energia aplicadas aos circuitos
elctricos. J atrs se utilizaram estas leis para determinar a resistncia equivalente da
associao de resistncias em srie e em paralelo e para calcular divisores de tenso e corrente.
Para enunciar estas leis, convm ter presentes os seguintes conceitos:
Elemento Elctrico Dispositivo capaz de transformar energia, sendo a energia
elctrica uma das formas de energia postas em jogo.
Activo Dispositivo que transforma outra forma de energia em energia
elctrica (pilhas, baterias, dnamos, alternadores). Tambm chamados de
fontes, so activos pois fornecem energia elctrica aos circuitos a eles ligados.
Passivo Dispositivo que transforma energia elctrica noutra forma de
energia (motor: mecnica, lmpada: luminosa, aquecedor: calorfica). Tambm
chamados de receptores, so passivos pois absorvem energia elctrica.
Ramo Conjunto de elementos elctricos em srie, percorridos pela mesma corrente
(pode ser apenas um elemento).
R1
R1
R2
E R2 R3 R4
U1
R1
E R2 U2 R4
R1
E R2 R3 R4
I2 I3 I4
I1
R E
Re
Ee
Define-se bipolo como qualquer circuito elctrico acessvel ao exterior por dois terminais.
extremamente importante perceber que um circuito equivalente apenas o para um dado
bipolo (dois pontos). O mesmo circuito, visto de outros dois pontos tem, obviamente, um
circuito equivalente diferente.
Repare-se que este mtodo de simplificao mostra-se extremamente adequado quando temos
variao de carga aos terminais do bipolo, ou quando queremos verificar como que
variaes de resistncia (ou outra grandeza elctrica) influem na carga.
A determinao de Ee e Re pode ser feita recorrendo ao Teorema de Thvenin:
Qualquer bipolo equivalente, para o exterior, a uma fonte ideal de tenso (f.e.m.
igual tenso em circuito aberto do bipolo) em srie com uma resistncia (vista dos
terminais do bipolo, substituindo as fontes pelas suas resistncias internas).
Daqui se tira que:
Ee = Uca e Re = Ee / Icc
Mtodos para determinar Ee e Re
Analiticamente
Ee igual tenso em circuito aberto no bipolo (determina-se recorrendo s
Leis de Kirchoff)
Re substituem-se as fontes pelas suas resistncias internas e calcula-se a
resistncia equivalente (calculando a resistncia equivalente de associaes
srie e/ou paralelo)
Experimentalmente
Ee Mede-se com um voltmetro a tenso aos terminais do bipolo (tenso
em circuito aberto). O voltmetro dever ter uma elevada resistncia interna.
Re Substituem-se as fontes pelas suas resistncias internas (se a resistncia
interna da fonte de tenso for pequena, substitui-se por um fio) e determina-se
a resistncia equivalente ligando um ohmmetro aos terminais do bipolo. Outra
possibilidade medir a corrente de curto-circuito ligando um ampermetro (de
baixa resistncia interna) aos terminais do bipolo, obtendo-se Re a partir de Re
= Ee / Icc
Exemplo:
Determine o equivalente de Thvenin do circuito da figura seguinte, visto do bipolo SB.
Uo
S
A B
Rv
R1 R2
E
I
Figura 18: Circuito inicial
Considera-se que Rv = R1 + R2
e que
R2 = d.Rv e R1 = (1-d).Rv
em que d representa o deslocamento do restato e est compreendido entre 0 e 1.
d = 1 corresponde a ter uma tenso de sada (U0) mxima
d = 0 corresponde a ter uma tenso de sada (U0) nula
Resoluo:
Primeiro, calcular a resistncia equivalente vista do bipolo SB. Tendo em conta que a fonte
no tem resistncia interna:
Re = R1 // R2 = R1 R2 / (R1 + R2) = d.(1-d).Rv
A f.e.m. equivalente
Ee = U0 = ER2 / (R1 + R2) = E.d
O circuito equivalente de Thvenin ento:
d.(1-d).Rv
S
E.d
Armadura
+Q Linhas de fora do
Campo Elctrico
d -Q
A carga elctrica Q que pode ser armazenada por um condensador varia em proporo
tenso U que aplicada (na carga do condensador), podendo ser expressa da seguinte maneira:
Q = C.U
Na expresso anterior, C uma constante que representa a capacidade (capacitncia) do
condensador. Esta apresenta as seguintes caractersticas:
proporcional rea total das armaduras do condensador
proporcional capacidade isoladora do elemento que separa as armaduras
(dielctrico)
inversamente proporcional distncia entre as armaduras do condensador
A capacitncia medida em Farads, representados pela letra F. Na prtica, a maior parte dos
condensadores tm uma capacidade muito inferior unidade, sendo normalmente utilizados o
F (1 x 10-12 F) e o F (1 x 10-6 F).
C1 C2 C3
Como os condensadores esto ligados em paralelo, as tenses aos seus terminais so todas
iguais e a carga total do conjunto a soma de cada uma das cargas, isto :
U = U1 = U2 = U3
Q = Q1 + Q 2 + Q 3
Considerando as cargas dos condensadores
Q1 = C1.U, Q2 = C2.U, Q3 = C3.U
Definindo a capacidade do conjunto como
C=Q/U
fica,
Q = C.U = C1.U + C2.U + C3.U
C = C1 + C2 + C3
Isto , a capacidade de um conjunto de condensadores ligados em paralelo igual `a soma das
capacidades individuais ( equivalente srie de resistncias).
Se interligarmos condensadores em srie:
C1 C2 C3
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* "#
U !
U9415513458
534 15
58
5
4915 "$
U
WU[]YU\^ZYY\*
* %&
* -DF,D-6*5*R-D56*A E+95*3*3/9F-L*+3*,A -*
50+-*637-08,D-6*E*63D-79R-A 3073*/HF9D*C59.* ' *
+3C30+3*-C30-.*+5*R-D56*+3*C9F5*C*3*+-* 9+415,5- .8154
/1.+2145
63D-145*30763*-*D-68,6-*+5*C,D.5*7C*3*5*C36j5G
+5*P**63D-145*7Cn*E*+305A 90-+5*F9FD5*+3*
76-J-Dm5*5,*63D-145*A -6F-n3.C-15*M+,7*FG
FD3N*+*5,*P*
*
0
10 10 0
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23250 2366780 tu no s kl
2340 2374860 0
2360 2399:60
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2350 23:2:40 0
2380 23::980 0
23:0 23;78:0 y30x0R000RQ 0MJIOJHTK0MJI0
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CORRENTES E TENSES ALTERNADAS SENOIDAIS
1- DEFINIES:
Forma de onda: representao grfica de uma funo num sistema de
coordenadas. Por exemplo, tenso ou corrente em funo do tempo, ngulo,
temperatura.
a R b Z1 Z2
Figura 1.1. Exemplos de circuitos de corrente alternada. Z1, Z2 e Z3 indicam elementos como resistores,
capacitores ou indutores.
Um Gerador de c.a. gera uma voltagem senoidal (t) que em geral caracterizada pela frequncia
angular , a amplitude 0 (tambm chamada valor pico ou de crista) e a fase inicial 0:
(t) = 0 cos(t + 0). [1.1]
Para que a amplitude e a fase sejam univocamente definidas, impomos que a amplitude seja positiva e
que a fase esteja entre - e .
Exerccio 1.1: Escreva as funes abaixo na forma da eq. 1 com 0 positivo e - < 0 :
1. (t) = -100V cos(t) [Resposta: 100V cos(t + )]
2. (t) = 10V sin(t) [Resposta: 10V cos(t - /2)]
Muitos osciloscpios modernos possuem recursos para medir automaticamente a amplitude pico-a-
pico pp = 20 e o perodo T = 2/ ou a frequncia f = 1/T. Outros instrumentos, como voltmetros de c.a.
e multmetros, medem o valor eficaz pp = 0 / 2. Assim, por exemplo, 110 Volts eficazes correspondem
a uma amplitude de 155.6 V e uma amplitude pico-a-pico de 311 V. O aluno pode medir a voltagem de
linha com um multmetro. A maioria dos osciloscpios medem voltagens at 80 V. Para medir voltagens
maiores que 80 V se utilizam pontas de prova atenuadoras, mas mesmo com uma ponta atenuadora o/a
aluno/a nunca deve intentar medir a voltagem de linha com um osciloscpio (leia antes a seo 1.1
sobre a linha de alimentao).
1.1 A linha de alimentao
Antes de fazer experimentos importante que o/a aluno/a tenha conhecimentos bsicos do que h por
trs de uma tomada de alimentao eltrica. Vou discutir aqui a linha de alimentao dos laboratrios de
ensino do Instituto de Fsica da Unicamp, que uma linha de 127 V. O professor de outra regio deve
adaptar esta discusso para o caso da sua sala de aula.
A energia eltrica produzida em alguma usina hidroeltrica, nuclear o de outro tipo, geralmente
muito remota. A energia transportada atravs de linhas de transmisso de muito alta voltagem (centenas
de quilovolts, pudendo chegar at megavolts). A razo disto obvia: a perda nos cabos proporcional ao
quadrado da corrente e resistncia do cabo e, para uma dada potncia de consumo, diminuir a corrente
significa aumentar a voltagem. Estas linhas terminam em alguma estao distribuidora, onde a voltagem
reduzida para algo entorno de algumas dezenas de quilovolts e alimenta redes locais, do tamanho de uma
cidade. Subestaes distribuidoras reduzem a voltagem ainda mais (3 a 11 kV) e alimentam redes
menores, do tamanho de bairros ou de um campus universitrio. Transformadores espalhados no bairro
reduzem a alta voltagem para alimentar com a tenso de linha (entre 110 e 220 V eficazes) prdios
individuais ou um conjunto de poucas casas. Destes transformadores saem geralmente dois ou trs fios
vivos e um fio de retorno ou neutro que geralmente aterrado perto do transformador.
Aterrado significa exatamente isto: o fio neutro ligado a uma lana condutora que est enterrada a
alguns metros de profundidade na terra, onde a condutividade alta. Os fios vivos so tambm
chamados fases. Em alguns casos (Estados Unidos, por exemplo) h duas fases de 110 V eficazes e a
diferena de potencial entre elas de 220 V. Assim, uma casa pode ter 110 V para as tomadas e 220 V
para alguns eletrodomsticos que consomem muito, tais como chuveiro eltrico, fogo eltrico, lavadoras,
etc. (lembre sempre que a corrente deve ser baixa, menor que 40 A; caso contrrio haver que instalar fios
mais grossos). Em outros casos (Campinas, por exemplo) h duas ou trs fases de 127 V, com uma
diferena de fase entre elas de 120. A diferena de potencial entre dois fios vivos quaisquer novamente
220 V.
Na Europa e alguns pases latino-americanos (Argentina, por exemplo) o vivo de 220 V e a
diferena entre dois vivos (que esto defasados em 120) de 381 V. Isto barateia o custo das instalaes
das redes eltricas, pois os fios so mais finos do que em pases com linhas de 110 V, mas encarece as
instalaes dentro das casas pois necessrio um melhor isolamento e mais cuidados com a segurana.
Outra diferena que a frequncia de linha nos pases com 220 V de 50 Hz e nos pases com 110 V de
60 Hz.
No Brasil a voltagem de linha depende da cidade e at da casa! Por exemplo, em Braslia uma casa
pode estar ligada em 220 V e outra em 110 V (independentemente da ideologia poltica do proprietrio,
no tem lgica mesmo!). Em Campinas 127 V/ 60 Hz. Note que a voltagem pico-a-pico de uma linha de
127 V de 359 V.
Nas viagens bom perguntar qual a tenso de linha local antes de ligar o seu secador de cabelos ou
o barbeador eltrico. E antes de comprar um aparelho motorizado na Europa, verifique se este no tem um
motor sncrono, que funciona em sincronismo com a frequncia da linha (50 Hz na Europa, mas 60 Hz no
Brasil).
Nos laboratrios existe outra lana aterrada, bem perto do prdio, ligada a um fio chamado terra ou
terra de segurana. A voltagem do neutro em relao ao terra depende da corrente (ou seja, do
consumo) e da resistncia do fio neutro at o ponto onde ele est aterrado, e no deve ser maior que uns 5
a 10 V (mesmo assim, o fio neutro no deve ser tocado!). Normalmente no passa corrente pelo fio terra.
Na tomada do laboratrio temos ento (Figura 1.2) um vivo, um neutro e um terra. O gabinete metlico de
todo instrumento, eletrodomstico ou computador deve estar conectado a terra, de modo que possa ser
tocado com segurana.
Prdio de laboratrios
Terra
Figura 1.2. Esquema da linha de alimentao eltrica do laboratrio. Vrias tomadas so alimentadas por
cada fase. No detalhe, uma tomada com ponto de terra. Uma conveno que o neutro deve ficar direita do
vivo e a terra embaixo. Outra conveno que o fio vivo deve ser preto (cor da morte) o neutro branco e a
terra verde. (Estas convenes no so muito respeitadas no Brasil).
Alguns instrumentos (como voltmetros, eletrmetros e alguns tipos de fontes) podem ter entrada ou
sada flutuante, que significa que nenhum dos contatos de entrada ou sada est ligado terra. Este no o
caso dos osciloscpios, que sempre medem em relao terra; por isso, nunca ligue a entrada do
osciloscpio linha (voc poder estar ligando o terra do osciloscpio ao vivo ou ao neutro, mas voc
saber se ligou ao vivo s depois de ouvir a exploso!).
Se no suporta a curiosidade e quiser mesmo ver a forma de onda da linha, faa o seguinte na
presena do professor: utilize uma ponta de prova atenuadora de pelo menos 10 (verifique que a
impedncia da ponta de prova alta, maior que 1 M) e no ligue o terra da ponta de prova (geralmente
um conector tipo jacar) a nenhum dos pontos da tomada. Assim pelo menos voc poder medir as
voltagens (em relao ao terra do osciloscpio) de cada ponto da tomada e descobrir qual o vivo e qual
o neutro.
Se quiser medir a diferena de potencial entre vivo e neutro, voc deve utilizar um osciloscpio de
dois canais e subtrair os sinais no osciloscpio. Faa o seguinte na presena do professor: utilize um
osciloscpio de pelo menos dois canais que tenha modo de soma (ADD) e de inverso (INVERT); utilize
tambm duas pontas de prova (no ligue as terras das pontas), uma em cada canal do osciloscpio; ligue
uma ponta (CH1) no vivo e a outra (CH2) no neutro, e faa a subtrao no osciloscpio (ou seja, CH1
CH2. Se no entendeu porque ainda no deve intent-lo).
Note que sempre que for medir voltagens de linha dever utilizar pontas de prova atenuadoras para
que a senide caiba na tela do osciloscpio (onde geralmente cabem 80 volts). Se a tenso eficaz de 127
V, a voltagem pico-a-pico 359.2 Volts!
3.76 m
s
m
3.76 s
m m
.2V 20mV 2s .1V 10mV 2s
t
T
Figura 1.3. Medida da diferena de fase entre duas senides (V1 e V2) com um osciloscpio de dois canais.
Tela da esquerda: Primeiramente medimos o perodo, que neste exemplo T = 8.6 ms. A seguir medimos a
diferena de tempo t em que as senides cruzam, subindo (ou descendo), a linha horizontal de V = 0. Neste
exemplo, t = 3.76 ms (alguns osciloscpios, como o ilustrado aqui, dispem de cursores verticais para medir
diferenas de tempo, a leitura indicada no canto superior direito da tela). Finalmente, a fase dada por =
2t/T = 2.75 rad ou = 360t/T = 157. Tela da direita: Para diminuir a incerteza da medida, podemos
expandir a escala vertical (duas vezes neste exemplo) de modo que apenas a regio central das senides
mostrada no osciloscpio. Na regio central as senides so aproximadamente retas e os pontos de
cruzamento com o eixo V = 0 so mais evidentes (expandindo ainda mais a escala vertical, a retas viram
quase verticais e a incerteza a mnima possvel).
Vejamos qual a relao entre voltagem e corrente nos trs elementos bsicos: resistor, capacitor e
indutor. Em um resistor vale sempre a lei de Ohm
v(t) = Ri(t), [1.4]
onde R a resistncia e, no caso de corrente alternada (isto , com i(t) na forma da eq. 1.1) obtemos
v(t) = RI0 cos(t). [1.5]
v( t ) = Ldi / dt , [1.6]
onde C a capacitncia (unidade: farad, F) e, dado que i = dq/dt, a relao geral entre v e i
Vemos ento que, no caso do capacitor, a amplitude da voltagem vale V0 = I0/C e a fase = /2.
A Tabela 1-I resume o que acabamos de falar.
Elemento Voltagem real Amplitude Fase
Resistor v = Ri V0 = RI0 =0
Indutor v = Ldi/dt V0 = LI0 = /2
Capacitor v = q/C V0 = I0/C = /2
Tabela 1-I. Relao entre voltagens e correntes reais em elementos de circuito de corrente alternada.
Voltagem e corrente complexas 7
di d 2i i d
R +L 2 + = . [2.2]
dt dt C dt
Em circuitos com N malhas, teremos N equaes diferenciais ordinrias de segunda ordem acopladas.
Para resolver este tipo de equaes que aparecem frequentemente em circuitos de corrente alternada
utilizaremos o formalismo de impedncia complexa. Apesar do nome, este formalismo no tem nada de
complexo, muito pelo contrrio, como veremos, simplifica muitos problemas de circuitos de corrente
alternada, j que as equaes diferenciais se transformam em equaes algbricas no diferenciais.
As equaes de malha do tipo da 2.1 e 2.2 podem ser escritas como a parte real de uma equao entre
nmeros complexos. Utilizamos para isto a frmula de Euler (vide Apndice A)
e jx = cos x + j sin x ,
V (t ) = V0 e j (t +)
[2.3]
I (t ) = I 0 e jt
de modo que as voltagens e correntes reais, v(t) e i(t), podem ser recuperadas atravs das relaes
1
R.P. Feynman, R.B. Leighton, and M. Sands, The Feynman Lectures on Physics, Vol. 2: Mainly Electromagnetism
and Matter, Addison-Wesley, Reading, 1964.
2
H.M. Nussenzveig, Curso de Fsica Bsica, Vol 3: Eletromagnetismo, Edgar Blcher, So Paulo, 1997.
3
F.N.H. Robinson, Electricity, in The New Encyclopdia Britannica (Macropdia Knowledge in Depth), Vol. 6,
pp 537-610, 15th Ed., H. Hemingway Benton, Publisher (London, 1974).
8 Circuitos de Corrente Alternada
Por exemplo, a equao diferencial 2.11 vira a equao ordinria (no diferencial)
jRI 2 LI + I / C = jV ,
j ( t +o )
onde V = 0 e . Resolvendo para I obtemos
I = jV / ( jR 2 L + 1/ C ) .
a) b)
eixo imaginrio
I
V
V0
t
I
I0 eixo real v(t)
i(t)
3. Impedncia complexa
A voltagem entre os terminais de um resistor, indutor ou capacitor pode ser escrita na forma
complexa
V = ZI , [3.1]
Z=R
Z = j L = L e j 2 [3.2]
1 1 j 2
Z= = e
j C C
Trabalhar com o formalismo de impedncias complexas tem a enorme vantagem de que podemos
aplicar quase tudo que aprendemos da teoria de circuitos de corrente contnua. Por exemplo, a associao
de elementos em srie ou em paralelo se trata com as mesmas relaes que se utilizam para resistores em
circuitos de corrente contnua e as leis de Kirchoff se aplicam diretamente para as correntes e voltagens
complexas em cada n ou cada malha. Devemos ter presente apenas duas coisas:
1- O formalismo de impedncia complexa til para tratar relaes lineares (como, por exemplo,
uma equao de malha), mas no para relaes no lineares, como a potncia (que uma funo
quadrtica da corrente).
2- Este formalismo pode ser aplicado diretamente a circuitos com geradores de onda realmente
senoidais (e no, por exemplo, se o gerador de onda quadrada). Para correntes de forma arbitrria
devemos utilizar, em princpio, as voltagens e correntes reais. Esta condio e menos restritiva que a
primeira. Como veremos na seo 7, se o circuito linear ento vale o princpio de superposio e ainda
podemos aplicar o formalismo de impedncia complexa, mas combinado com sries de Fourier para
expressar as voltagens como soma de funes senoidais.
Do mesmo modo que uma combinao de resistores em srie e em paralelo pode ser representada por
um nico resistor equivalente, um circuito contendo uma combinao arbitrria de resistores, indutores e
capacitores pode ser representado por uma impedncia total Z.
Z
eixo imaginrio
|Z|
X
eixo real
Figura 3.1. Representao da impedncia no plano complexo. Z um ponto neste plano.
onde = Re{Z} a parte real da impedncia complexa; X = Im{Z}, a parte imaginria de Z chamada
Reatncia; |Z| o mdulo de Z (s vezes tambm chamada de impedncia) e a fase de Z. Para passar
da forma cartesiana polar podemos utilizar as relaes
| Z |= 2 + X 2 [3.4]
= tan 1 ( X / ) . [3.5]
Podemos ver que coincide com a diferena de fase entre a voltagem sobre Z e a corrente, sejam
estas complexas (como na eq. 3.1) ou reais (como na eq. 2.2). Se X > 0 dizemos que a reatncia do tipo
indutiva e se X < 0 dizemos que a reatncia capacitiva. Mostraremos na seo 5 que em circuitos
passivos sempre 0. A parte real da impedncia pode ser uma funo da frequncia (veja Exerccio
4.1).
A recproca da impedncia complexa chamada de admitncia complexa e denotada com o smbolo
Y:
Y = 1/Z = G + jB : Admitncia complexa [3.6]
A parte imaginria, B, chamada Susceptncia, e a parte real, G, chamada Condutncia. 4 Esta ltima
deve ser positiva (ou nula) em circuitos passivos.
A impedncia equivalente de duas associadas em srie simplesmente a soma das impedncias. A
admitncia equivalente de duas impedncias associadas em paralelo a soma das admitncias (Tabela
3-I). As demonstraes destas afirmaes so idnticas ao caso de resistores e corrente contnua e vamos
deix-las como exerccio para o aluno.
comum abreviar a impedncia de uma associao em paralelo como
Z1 // Z2 = Z1Z2 /(Z1 + Z2). [3.7]
s vezes podemos at achar abreviaes como R // C, L // C, R // L. O significado obvio.
Z1
Z1 Z2
Z2
4
A unidade de admitncia, condutncia e susceptncia o Siemen (1 S = 1 -1). Antigamente se utilizava o mho,
que no um mili-ho mas apenas a palavra ohm escrita ao contrrio.
Impedncia complexa 11
B
B B
Figura 3.2. Um circuito de corrente alternada (a) e seu equivalente Thvenin (c). O circuito intermedirio (b)
serve para calcular a corrente de curto-circuito Icc.
A Figura 3.2 mostra um exemplo de circuito e seu equivalente Thvenin entre os pontos A e B. Neste
exemplo, a voltagem entre os pontos A e B vale
Z2
VAB = eq = ,
Z1 + Z 2
e a impedncia equivalente
Zeq = Z2 // Z1 = Z1 Z2 /( Z1 + Z2).
A impedncia equivalente tambm pode ser calculada achando primeiro a corrente de curto-circuito
(Figura 3.2-b),
Icc = /Z1,
e depois utilizando
Zeq = VAB /Icc.
O aluno deve ter muito cuidado, pois neste ponto os circuitos de corrente alternada so diferentes dos
circuitos de corrente contnua. Por exemplo, se medimos voltagens com um osciloscpio de Zint = 1 M
sobre um resistor de 47 em um circuito de corrente contnua no precisamos nos preocupar com o resto
do circuito, j que o resto est em paralelo com este resistor e a resistncia equivalente ser sempre
menor ou igual que os 47 . Por outro lado, um indutor L = 50 mH a uma frequncia = 950 rad/s, tem
uma impedncia de mdulo |Z| = 47.5 , mas se este estiver em paralelo com um capacitor C = 22 F,
ento |Zeq| = 655 k que comparvel ao mdulo |Zint| da impedncia de entrada do osciloscpio. Em
circuitos de corrente alternada no verdade que a impedncia de dois elementos em paralelo seja menor,
em mdulo, que a de cada elemento. Isto verdade, porm, sempre que um dos elementos seja um
resistor (vide Exerccio 3.2). Finalmente, sobre este assunto, o fato de ser |Zint| >> |Zeq| garante apenas que
a amplitude da voltagem ser medida fielmente, mas no necessariamente a fase.
3.2.1 Impedncia interna de voltmetros
Muitos voltmetros de c.a. de agulha so na realidade galvanmetros de DArsonval em srie com
uma resistncia (para transform-lo em voltmetro) e um retificador (para transformar c.a. em corrente
contnua); a impedncia depende da escala e se especifica em k/V (por exemplo, 10 k/V significa que
na escala de 3 volts de fundo de escala a impedncia interna de 30 k). Estes instrumentos so
utilizados para frequncias baixas (< 1 kHz), pois a impedncia interna depende muito da frequncia. A
leitura diretamente em volts eficazes mas precisa somente se a forma de onda for senoidal. Outro tipo
de instrumento bastante utilizado o voltmetro eletrnico de preciso, que pode ter impedncia interna
de 100 M e pode medir volts eficazes de formas de onda arbitrrias (em alguns modelos), mas ainda de
baixa frequncia.
3.2.2 Impedncia interna de osciloscpios
O instrumento mais utilizado para medir voltagens em circuitos de c.a. o osciloscpio. 5 Os
osciloscpios tm uma impedncia interna geralmente Rint = 1 M e uma capacitncia parasita em
paralelo Cint de uns 20 pF (em osciloscpios de alta frequncia, > 100 MHz, os valores tpicos so Rint =
50 e Cint = 7 pF).
Para poder medir sinais alternos pequenos com um nvel de corrente contnua grande, os
osciloscpios possuem um recurso que bloquear o nvel contnuo. Este recurso chama-se acoplamento
ac (ac = alternate current) e consiste em intercalar, na entrada, um capacitor em srie Cs relativamente
grande (10 a 15 nF). O acoplamento ac no deve ser utilizado em medidas precisas. O modo normal de
5
Para uma introduo aos princpios de funcionamento do osciloscpio visite o site
http://www.if.ufrj.br/teaching/oscilo/intro.html .
Impedncia complexa 13
operao de um osciloscpio com acoplamento dc. 6 Vamos comentar sobre alguns cuidados que devem
ser observados no modo normal.
Cs
ac Osciloscpio
dc
Rint Cint
Figura 3.3. Impedncia interna de um osciloscpio. O osciloscpio mede sempre a voltagem que aparece
sobre Rint. No modo de acoplamento dc o sinal a medir aplicado diretamente sobre Rint, mas h sempre um
capacitor em paralelo Cint. No acoplamento ac o sinal a medir passa primeiro por um capacitor em srie, Cs,
que bloqueia frequncias baixas (< 10 Hz).
e cai em valor absoluto de 1 M ( = 0) a menos de 500 k para frequncias > 7.96 kHz (isto para um
osciloscpio com Rint = 1 M e Cint = 20 pF). Alm disso, para medir precisamos ligar o osciloscpio ao
circuito teste atravs de algum cabo. Este cabo faz parte do instrumento e devemos incluir a sua
capacitncia Cc. 7 A capacitncia do cabo ligado entrada do osciloscpio est em paralelo com Cint
(Figura 3.3) e geralmente maior (a capacitncia do cabo coaxial normalmente utilizado em
instrumentao, o RG-58U, de uns 100 pF por cada metro de cabo). A impedncia interna do
instrumento (osciloscpio + cabo) Zint = Rint //(Cc + Cint). Com 1 metro de cabo coaxial, esta impedncia
interna do osciloscpio cai de 1 M a frequncia zero para menos de 500 k a frequncias acima de 1
kHz, aproximadamente.
3.2.3 Osciloscpio com ponta de prova
A presena de capacitncia na impedncia interna do instrumento faz que a voltagem medida dependa
da frequncia. Portanto, a forma de onda mostrada na tela do osciloscpio deformada (no caso de um
sinal no senoidal) e imprecisa (ou seja, de amplitude diferente daquela que teramos se o circuito no
estivesse ligado ao osciloscpio). Utiliza-se ento uma ponta de prova que consiste de um cabo de 1 a 2
metros com um resistor de preciso R e um capacitor varivel C em paralelo com R. Ajustando o valor de
C podemos conseguir que a forma de onda no osciloscpio seja pouco distorcida. Os osciloscpios srios
tm um gerador interno que uma onda quadrada de 1 kHz de alta preciso. Para o ajuste, ligamos a
ponta de prova na sada do sinal de calibrao e variamos C at que a forma de onda observada seja
quadrada (Figura 3.2-c). Uma ponta de prova ajustada deste modo chamada uma ponta compensada.
Se a ponta de prova no est devidamente ajustada, a onda quadrada aparecer deformada, como nos
traos da Figura 3.2-a e -b.
O sinal na entrada do osciloscpio idntico ao sinal visto pela ponta de prova compensada e
atenuado por um fator 1 + R/Rint que no depende da frequncia (Exerccio 3.3). Porm, isto no significa
que o sinal visto pela ponta seja igual ao que queremos medir (ou seja, o sinal que temos no circuito sem
6
dc abreviatura de direct current. Em portugus utilizado cc (corrente contnua), mas se confunde com curto-
circuito e complexo conjugado. Nestas notas utilizaremos as abreviaturas ac e dc.
7
Em princpio, devemos considerar tambm a indutncia do cabo Lc; mas na imensa maioria dos casos esta
indutncia to pequena (por exemplo, uns 250 nH por metro para o cabo RG-58U) que no afeta medidas para
frequncias de at 10 MHz.
14 Circuitos de Corrente Alternada
estar ligado ao osciloscpio). Para isto necessrio sempre que o mdulo da impedncia do instrumento
incluindo o cabo ou a ponta de prova (Zint = R//C + Rint//(Cc + Cint)) seja muito maior que a do circuito
(Exerccio 3.4).
C Cc Osciloscpio (a)
(b)
1M 20 pF
R
(c)
Figura 3.4. Ponta de prova atenuadora ligada a um osciloscpio. Na prtica a capacitncia parasita do
osciloscpio varia de um instrumento a outro. C ento um capacitor varivel e se ajusta para dar um fator de
atenuao independente da frequncia. Este procedimento se chama compensao.
A ponta de prova tambm facilita medidas em baixa frequncia com acoplamento ac como, por
exemplo, quando queremos medir o ripple de uma fonte de corrente contnua. Se Rint = 1 M, uma
ponta de prova de 10 tem um resistor R = 9 M. No acoplamento de entrada ac, os sinais lentos so
fortemente deformados. A frequncia de corte (seo 6) sem ponta de prova de 10 Hz tipicamente, mas
com a ponta de prova de 10 a frequncia de corte cai para 1 Hz.
Os osciloscpios podem medir at frequncias especificadas pela largura de banda dele, geralmente
escrita no painel. Valores tpicos para osciloscpios de 1 M so 10 ou 20 MHz, podendo chegar a 100
MHz nos modelos mais caros. Osciloscpios de 50 podem chegar at uns 50 GHz. Uma pergunta
natural que muitos alunos se fazem a seguinte: se o osciloscpio do laboratrio de ensino (que
geralmente tm 1 M // 20 pF) atenua sinais de frequncias acima de uns 8 kHz, como que a largura de
banda do osciloscpio muito maior? A resposta que a largura de banda determinada pelo
amplificador da entrada vertical, que vem logo aps a impedncia de entrada. Qualquer sinal eltrico que
aparecer na entrada do amplificador vertical ser amplificado sem deformao at a frequncia
especificada pela largura de banda. Note bem que isto no significa que esse sinal de entrada seja igual ao
que h no circuito que queremos medir. responsabilidade do operador garantir que isto acontea: para
isto ele deve se assegurar de que a impedncia equivalente do circuito teste vista desde a ponta do cabo
(ou da ponta de prova) seja |Zeq| << |Zint| para todas as frequncias dentro da largura de banda do
osciloscpio. Por exemplo, se medimos sobre um capacitor de 1 F (e no estiver em paralelo com um
indutor), ento a capacitncia do cabo e a interna do osciloscpio so irrelevantes j que 1 F em paralelo
com 100 ou 200 pF continua sendo 1 F. Neste caso a voltagem medida pelo osciloscpio igual do
capacitor a qualquer frequncia alta (exceto talvez a frequncia 0 ou muito baixa se o capacitor estiver em
srie com um resistor de valor > 1 M).
Exerccio 3.1: Mostre que a impedncia equivalente de um resistor R em paralelo com um indutor L
Z = ( R2 L2 + jLR 2 ) / ( R 2 + 2 L2 ) . Este um exemplo onde depende de .
Exerccio 3.2: A resistncia equivalente de dois resistores em paralelo sempre menor que cada uma das resistncias: R1//R2 < R1
e R1//R2 < R2. No caso de impedncias complexas o mdulo de Z1//Z2 no sempre menor que o mdulo de Z1 ou de Z2. Por
exemplo, um indutor e um capacitor em paralelo tem uma impedncia cujo mdulo, L/|2LC 1|, pode ser muito maior que L
ou maior que 1/C, ou maior que ambas, dependendo do valor . No obstante isso, se uma das impedncias um resistor R,
ento mostre que |R//Z| min{R, |Z|}, onde o igual acontece s se uma das impedncias nula. (Nota: na demonstrao
necessrio usar o fato que a parte real de qualquer impedncia sempre 0. Este fato ser provado na seo 3.3).
Exerccio 3.3: (resolvido) Compensao da ponta de prova de osciloscpios: A impedncia de entrada de um osciloscpio de
1 M e tm uma capacitncia parasita de 20 pF. Uma ponta de prova que atenua por um fator 10 vezes ligado a este
osciloscpio atravs de um cabo coaxial de capacitncia Cc = 250 pF. O circuito da ponta de prova mostrado na Figura 3.4.
Quanto devem ser R e C para que atenue por um fator 10 independentemente da frequncia?
Soluo: Suponhamos que queremos medir uma voltagem a uma frequncia e amplitude Ve. A voltagem medida pelo
osciloscpio a voltagem Vo sobre a sua resistncia interna Ro = 1 M, e queremos que seja Vo = Ve /10 independentemente de
Impedncia complexa 15
. Para simplificar o problema notemos que a capacitncia do cabo est em paralelo com a capacitncia interna do osciloscpio
de modo que podemos esquematizar o circuito como na Figura 3.5, onde substitumos o cabo e o capacitor parasita do
osciloscpio por um nico capacitor de capacitncia Co = Cc + 20 pF = 270 pF.
C
Z1
Ve
R
Vo 1M 20 pF + Cc = Ve Z2 Vo
R / j C R
Z1 = =
R + 1/ jC 1 + jRC
Ro / jCo Ro
Z2 = =
Ro + 1/ jCo 1 + jRoCo
( Z1 + Z 2 ) / Z 2 = 1 + R / Ro = 10 .
Substituindo pelo valor de Ro obtemos R = 9 M. O valor de C que satisfaz a condio RC = RoCo ento C = (1 M)(270 pF)
/(9 M) = 30 pF.
Exerccio 3.4 - Influncia da impedncia interna do osciloscpio em medidas de voltagem: Com ilustrado na Figura 3.3, a
impedncia de entrada de um osciloscpio formada por um resistor R0 de 1 M em paralelo com um capacitor C0 de 20 pF.
Este osciloscpio utilizado para medir a voltagem de sada de um gerador com impedncia interna de Zint = 50 (real e
independente da frequncia) atravs de um cabo coaxial RG-58 (100 pF/m) de 30 cm. Para baixas frequncias o osciloscpio
mede corretamente a fem, j que R0 >> Zint (se diz que o instrumento de medio no carrega o gerador), porm, medida que
aumentamos a frequncia acima de uns poucos kHz a impedncia interna do osciloscpio comea a cair devido a C0 (1/C0 = R0
para f = 7.96 kHz). A preciso de um osciloscpio tipicamente de 1%. At que frequncia a voltagem medida no osciloscpio
igual fem do gerador dentro de um erro de 1 %? Quanto se (no lugar do cabo de 30 cm) utilizarmos um ponta de prova
(devidamente compensada) de 10? [Resposta: 80 kHz sem, 800 kHz com ponta de prova].
e deve ser calculada utilizando as correntes e voltagens reais. No caso de corrente alternada a potncia
instantnea varia periodicamente com o tempo. A potncia mdia dissipada em um perodo T = 2/
T
P = T1 0 v(t )i (t )dt = 12 V0 I 0 cos . [3.9]
Vef = V0 2 e
[3.10]
I ef = I 0 2,
obtemos
Na eq. 3.11 escrevemos a potncia mdia dissipada em uma impedncia Z de trs formas equivalentes
e que destacam similaridades e discrepncias em relao s frmulas anlogas dos circuitos de corrente
contnua:
A primeira forma na eq. 3.11 se parece com a expresso P = VI do caso contnuo, exceto pelo
importante fator cos, tambm chamado fator de potncia.
A segunda forma na eq. 3.11 idntica potncia dissipada em um resistor P = RI2 no caso contnuo
e mostra que a parte real de Z responsvel pela dissipao de potncia.
A terceira forma na eq. 3.11 mostra uma assimetria em relao ao caso de corrente contnua, onde P =
V2/R. No caso de c.a. a potncia GVef2 (e no Vef2 / ).
A eq. 3.11 nos leva a concluses gerais ainda mais importantes: Dado que um elemento passivo s
pode dissipar potncia (i.e., no pode ser P < 0, em cujo caso estaria gerando energia), as duas ltimas
formas da eq. 3.11 nos mostram que sempre deve ser
0 e G 0. [3.12]
Ou seja, a parte real da impedncia e a parte real da admitncia de um circuito passivo devem ser
sempre positivas (ou nulas).
Notemos que indutores e capacitores ideais no dissipam potncia (nos dois casos o fator de potncia
nulo). A potncia dissipada sempre nos resistores e pode ser calculada como a soma dos valores de
RIef2 mas onde Ief a corrente que passa por cada resistor R. Na prtica, tanto capacitores como indutores
possuem resistncia interna e portanto dissipam potncia.
interessante notar que a mxima transferncia de potncia de um gerador de c.a. para uma
impedncia de carga ocorre quando a impedncia interna do gerador coincide com o complexo conjugado
da impedncia de carga. Isto o anlogo do Teorema de mxima transferncia de potncia da teoria de
circuitos de corrente contnua e est demonstrado no Exerccio 3.5.
Exerccio 3.5 (resolvido): Um gerador de c.a. possui uma impedncia interna z e alimenta um circuito com impedncia total Z.
Mostre que a potncia dissipada em Z mxima se Z = z* (* indica o complexo conjugado) e que neste caso metade da potncia
total gerada dissipada no gerador. Este resultado o anlogo do teorema de mxima transferncia de potncia de circuitos de
corrente contnua.
Soluo: O gerador produz uma fem mas devido queda de tenso em z, a tenso aplicada sobre Z V = zI (Figura 3.6).
z
I Z
V
Figura 3.6. Gerador com impedncia interna alimentando um circuito externo de impedncia Z.
Impedncia complexa 17
A corrente no circuito I = /(z + Z). Portanto, se escrevermos z = r + jx e Z = + jX, a potncia dissipada em Z ser
ef
2
ef
2
.
P = I ef2 = =
| z + Z |2 (r + ) 2 + ( x + X ) 2
Esta expresso mxima para x = -X e r = , ou seja Z = z* (note que no podemos fazer r = - pois a parte real da impedncia
de um elemento passivo sempre positiva ou nula). Neste caso I = /2r, P = Pmax = ef
2
/ 4r , e a potncia total fornecida pelo
gerador vale
Ptotal = ef I ef = ef
2
/ 2 r = 2 Pmax .
Portanto, na condio de mxima transferncia de potncia, metade da potncia total dissipada na impedncia interna do
gerador e metade no circuito externo.
Filtros 19
4. Filtros
Os filtros eltricos so muito utilizados em instalaes eltricas e equipamentos eletrnicos para
rejeitar rudo e para proteger, por exemplo, contra transientes induzidos pela queda de raios durante as
tormentas. De modo geral um filtro pode ser representado como um circuito com dois terminais de
entrada e dois de sada (Figura 4.1).
Ve Vs
Figura 4.1. Representao geral de um filtro. Na porta de entrada aplicamos uma voltagem Ve e na sada
obtemos uma voltagem Vs que depende da frequncia.
V () Vs () j()
H () = s = e . [4.1]
Ve () Ve ()
A funo de transferncia pode ser definida para frequncia zero como o quociente entre as voltagens
de corrente contnua. Neste caso um indutor atua como um curto-circuito e um capacitor como um
circuito aberto. Como consequncia, H(0) real e a fase (0) s pode ser 0 (H(0) positivo) ou (H(0)
negativo).
A importncia do estudo das propriedades gerais de filtros que todo circuito pode ser pensado como
um filtro no qual a voltagem de entrada a do gerador () e a de sada a voltagem sobre um elemento do
circuito. Se o gerador no senoidal ainda podemos escrever (t) como uma superposio de funes
harmnicas atravs da decomposio em srie de Fourier (ou atravs da transformada de Fourier no caso
pulsos e sinais no peridicos). A voltagem de sada se obtm multiplicando cada componente de Fourier
pela funo de transferncia calculada na frequncia correspondente e somando sobre todas frequncias.
Na seo 7 mostraremos como isto feito.
Na maioria das situaes de interesse prtico estamos mais interessados na amplitude e menos na
fase. O quadrado do mdulo de H,
2
T () = H () [4.2]
1 jC 1
H () = =
R + 1 jC 1 + jRC
e [4.4]
1
T () =
1 + (RC )2
Este filtro possui transmitncia mxima Tmax = 1 para = 0 e cai para zero como 1/(RC)2 na medida em
que . Para = 0 1/RC a transmitncia cai metade do mximo. Este comportamento mais
fcil de visualizar em um diagrama log-log (tambm chamado diagrama de Bode 8) como o da direita na
Figura 4.2. Para << 0 a resposta do filtro praticamente plana e a transmitncia de 0 dB; para =
0 a transmitncia 3 dB (10 log() = 3.0103) e para >> 0 a transmitncia cai a uma taxa de
20 dB/dec (decibis por dcada) (10 log[1/(RC)2] = 20 log() + const.). 0 chamada frequncia de
corte ou de cotovelo e a faixa de frequncias entre 0 e 0 chamada largura de banda do filtro. Note que
no diagrama de Bode a dependncia com 1/2 em alta frequncia muito mais evidente do que no grfico
em escala linear.
1.00 0
Frequencia de corte:
0 = 1/RC
0.75 R -20
Inclinao:
T(), dB
Ve C Vs
-20 dB/dec
T()
0.50 -40
Filtro RC passa-baixos:
Diagrama de Bode
0.25 -60
0.00 -80
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 -1 0 1 2 3 4
RC log(RC)
Figura 4.2. Filtro RC passa-baixos e Transmitncia como funo da frequncia em escala linear (esquerda) e
logartmica (direita).
8
Em memria de Hendrick Bode (1905-1982) pesquisador da Bell Laboratories (USA) e primeiro a utilizar estes
diagramas nos anos 1930.
Filtros 21
Tmax 3 dB 3 dB 3 dB
f
T, dB
1.00
0
-3dB
0.75
-10 Frequncia de corte: 0 = 1/RC
T()
C
T(), dB
Filtro RC passa-altos
0.25 -30
0.00 -40
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
-2 0 2 4
RC
log(RC)
Figura 4.4. Filtro RC passa-altos e sua Transmitncia em escala linear (esquerda) e diagrama de Bode
(direita). A transmitncia -3 dB (em relao Tmax = 0 dB) para = 0.
Dicas experimentais:
1) Fazendo bons diagramas de Bode: Para que os pontos experimentais em um grfico em escala logartmica
fiquem aproximadamente eqidistantes no eixo horizontal (logf), bvio que medindo para 10 Hz, 100 Hz, 1 kHz,
10 kHz, etc., os pontos estaro eqidistantes no eixo horizontal. Mas com esta escolha teremos apenas um ponto por
dcada. s vezes queremos mais pontos por dcada. Em geral, se queremos N pontos por dcada e eqidistantes na
escala logartmica, devemos medir para valores de f na seqncia 100, 101/N, 102/N, etc. Na prtica, raramente
precisamos medir mais do que dois ou trs pontos por dcada. Os valores exatos para dividir uma dcada em trs
partes iguais seriam 101/3 ( 2.15) e 102/3 ( 4.64) [ou seja, a seqncia 12.154.6410] e, para dividir em duas
partes iguais 101/2 ( 3.16) [ou seja, 13.1610]. Isto, porm difcil de lembrar. Se quiser 2 pontos por dcada siga
a seqncia 1310 [j que log(3) 0.48] (Por exemplo, 10, 30, 100 Hz, 1 kHz, 3, 10, 30 kHz, etc.). Se quiser 3
pontos por dcada siga a seqncia 12510 [j que log(2) 0.30 e log(5) 0.70]. Estas seqncias, se bem
aproximadas, so fceis de lembrar.
2) Barras de erro nos diagramas de Bode: Nos grficos de TdB versus log f, a barra de erro vertical
22 Circuitos de Corrente Alternada
d log(T ) d ln(T ) T
TdB = 10 T = 10 log(e) T = 10 log(e)
dT dT T
Experimentalmente T determinada como o quociente entre duas voltagens V2 e V1 medidas com erros V2 e
V1, respectivamente: T = |V2/V1|2 e
2 2
T 2V1 2V2
= + .
T V1 V2
Geralmente acontece que as voltagens so medidas com o mesmo erro relativo, i.e., V1/V1 = V2/V2 = V/V, e
temos ento
T V
2 2
T V
e
V V
TdB 20log(e) 2 12 .
V V
Por exemplo, se o erro em V for de 4% (tpico de osciloscpios), ento a barra de erro ser de TdB = 0.5 dB para
todos os pontos do grfico.
Por outro lado, a barra de erro na horizontal
f f
log f = log(e) ln f = log(e) 0.43 .
f f
Geralmente, tambm, as freqncias so medidas sempre com o mesmo erro relativo. Se f / f = 0.2% (um valor
tpico em osciloscpios digitais), a barra de erro horizontal de log f = 0.0009 para todos os pontos do grfico.
Note que esta barra de erro (menos de um milsimo de uma dcada) no pode ser representada (seria menor que a
espessura do trao do lpis ou caneta) se o grfico abarcar 1 ou mais dcadas.
Resumindo, para medidas com osciloscpio digital, a barra de erro horizontal desprezvel e a vertical de
0.5 dB para todos os pontos (se as voltagens foram medidas com erro de 4%).
Circuitos ressonantes 23
5. Circuitos ressonantes
Circuitos contendo indutores e capacitores podem exibir o fenmeno de ressonncia. Os circuitos
ressonantes mais simples contm apenas um indutor e um capacitor, alm de resistores. A ressonncia
diferente se o indutor e o capacitor esto ligados em srie ou em paralelo. A ressonncia coberta em
todos os livros texto e at na Internet 9. Vamos rever as propriedades gerais destes circuitos utilizando o
formalismo de impedncia complexa.
V0e j (t )
I =V / Z = , [5.2]
2 2
R + (L 1/ C )
0.10
C L 0 = 150 rad/s
R = 10 (Q = 10)
0L = 100
0.08
P()
0.06
V(t) I(t) R = R/L
0.04 R = 20 (Q = 5)
R = 100 (Q = 1)
0.02
R = 200 (Q = 0.5)
0.00
0 50 100 150 200 250 300
(rad/s)
Figura 5.1. Circuito ressonante srie e potncia transferida por um gerador de Vef = 1 V para vrios valores de
R.
9
Para ver uma animao grfica do circuito RLC srie, brincando com os parmetros do circuito, visite o stio da
Internet http://jersey.uoregon.edu/vlab/ntnujava/rlc/rlc.html.
24 Circuitos de Corrente Alternada
1 RV02
P = I ef Vef cos = RI ef2 = 2 . [5.4]
R + ( L 1 C )
2 2
A condio de ressonncia
= 0 = 1/ LC . [5.5]
V0e j (t )
I =V / Z = , [5.9]
( )
2
R + L 1 2 LC
2
1.0
0.9 Q = 100
Q = 10
C 0.8
Q=5
0.7
P() / P(0)
0.6
L 0.5
V(t)
R 0.4
I(t) 0.3
0.2 Q=1
0.1
Q = 0.5
0.0
0 1 2 3 4
/0
= 0 = 1/ LC . [5.12]
a) Q = 0.1
-10
Transmitncia, dB
-20
0.5
-30
C L
1
-40
-50
R 5
100 10
-60
0.01 0.1 1 10 100
/o
20
10 b) Q=5
1
Transmitncia, dB
0
0.5
-10
RC
-20 L R ( - 20
dB
/de
-30 c )
RL
C
-40
( -4
C
0
dB
-50
/d
e
c)
-60
0.1 1 10 100
/0
Figura 5.3. Dois filtros ressonantes srie com as suas curvas de transmitncia. a) passa-banda; b) passa-
baixos. Note que o circuito b) um amplificador de voltagem se Q > 1.
A Figura 5.3 mostra dois filtros ressonantes srie com as suas respectivas curvas de transmitncia.
Quando a sada no resistor (Figura 5.3a) temos um filtro passa-banda. Longe da ressonncia a
transmitncia cai a 20 dB por dcada. Quando a sada (Figura 5.3b) no capacitor temos um filtro passa
baixos. Este filtro rejeita as altas frequncias melhor que o filtro RC passabaixos. Para uma melhor
comparao entre os filtros passabaixos RLC e o RC, na linha tracejada de Figura 5.3b representamos
Circuitos ressonantes 27
tambm a transmitncia do um filtro RC com a mesma frequncia de corte. No filtro RLC a transmitncia
cai com o logaritmo da frequncia a uma taxa de 40 dB/dec, enquanto que no RC a queda de 20
dB/dec.
Note finalmente que no circuito ressonante srie, em um faixa estreita de frequncias em torno da
ressonncia e dependendo do valor de Q, a amplitude da voltagem no capacitor ou no indutor pode ser
maior que a de entrada. Isto ilustrado pelo pico de ressonncia que aparece na Figura 5.3b no caso Q =
5. Nesse pico a voltagem de sada maior que a de entrada. De fato, fcil mostrar que, na ressonncia,
a voltagem no capacitor Q vezes maior que a de entrada. primeira vista pode parecer que h algo
esquisito pois esse circuito passivo, no entanto apresenta ganho. No h nenhum princpio fsico
violado, porm. Circuitos passivos podem ser amplificadores de voltagem, embora no de potncia.
Na prtica, o comportamento de um filtro real se afasta do previsto no modelo com elementos de
circuito ideais devido s indutncias, capacitncias e resistncias parasitas presentes nos elementos e
circuitos de c.a. (seo 6)
Exerccio 5.1: Mostre que a transmitncia do filtro ressonante RLC srie com sada no capacitor (Figura 5.3-b)
Q2
T () =
[
( / 0 ) 2 + Q 2 1 ( / 0 ) 2 ]
2
e que na ressonncia vale T(0) = Q2. Qual o comportamento do filtro para / 0 << 1 e / 0 >> 1?
Resistores, capacitores e indutores reais 29
rs cp rs C
rp C rs
L L
ls
Figura 6.1. Circuitos equivalentes de (a) indutor a baixa frequncia, (b) indutor a alta frequncia, (c) capacitor
a baixa frequncia, e (d) capacitor a alta frequncia.
Exerccio 6.1: Escreva a impedncia complexa para cada caso da Figura 6.1.
6.1 Resistores
Nas frequncias que nos interessam, a maioria dos resistores podem ser considerados ideais, exceto
talvez alguns resistores de pequeno valor nominal, R, nas frequncias mais altas. Os resistores mais
comuns para circuitos de baixa potncia (< 5 W) so feitos de filme de carbono depositado em forma
helicoidal sobre um cilindro cermico (Figura 6.2). A corrente ento passa por um solenide de
comprimento d e rea A = r2. Se N o nmero de voltas, a indutncia parasita , aproximadamente,
ls 0 N 2 A/d. [6.1]
10
Veja por exemplo, B.M. Oliver and J.M. Cage, Electronic Measurements and Instrumentation, Mc-Graw-Hill,
New York, 1971.
30 Circuitos de Corrente Alternada
Para termos uma idia concreta, suponha d = 12 mm, 2r = 4.5 mm e N = 7 (valores tpicos para alguns
resistores de W). A indutncia ser ento de 82 nH, que representa uma reatncia X = 5 a 10 MHz.
Portanto, se R for pequeno (neste exemplo, menor que 100 , e, em geral, se R for comparvel ou menor
que X), a indutncia deste tipo de resistor dever ser levada em considerao. O valor preciso de ls
depende de N2, sendo que N varia muito entre resistores de diferentes valores de R e entre resistores de
diferentes fabricantes.
2r
Filme de helicoidal de
carbono depositado
R
d
ls
Tampa metlica
Figura 6.2. Resistor de filme de carbono. O circuito equivalente para alta frequncia um resistor ideal em
srie com um indutor.
Alguns resistores de alta potncia (> 5 W) so feitos de arame metlico enrolado sobre uma cermica;
estes so altamente indutivos e no devem ser utilizados em frequncias acima de 1 kHz. Se precisar de
um resistor de baixo valor de R, baixa indutncia e alta potncia, voc mesmo pode fazer um a partir de
arame. O truque para diminuir a indutncia dobrar o arame na metade do comprimento e enrolar o fio
duplo sobre a cermica (tomando cuidado para que o arame no se toque). Deste modo, o campo
magntico devido corrente nas espiras tem um sentido at a metade do arame e sentido oposto na
segunda metade.
6.1.1 Efeito pelicular
Para frequncias acima de algumas dezenas de kHz se observa que a resistncia dos fios metlicos
aumenta com a frequncia devido a que quase toda a corrente passa apenas por uma camada fina perto da
superfcie. Este fenmeno se conhece como efeito pelicular. 11,12 A amplitude da densidade de corrente no
interior dos condutores reais (resistividade no nula) cai exponencialmente a partir da superfcie. A
distncia dentro do condutor para a qual densidade de corrente vale 1/e do valor na superfcie dada por
2 / , [6.2]
11
Veja por exemplo, The Feynman Lectures on Physics, op. cit., vol. 2, sect. 32-11.
12
S. Ramo and J.R. Whinnery, Fields and Waves in Modern Radio, 2nd Ed., Wiley, New York, 1960.
Resistores, capacitores e indutores reais 31
f << / a 2 f >> / a 2
2a
Figura 6.3. Efeito pelicular. A baixas frequncias (esquerda) a corrente passa por toda a seo transversal de
um fio condutor, e a altas frequncias (direita) passa apenas por uma camada de espessura .
O efeito pelicular importante se << a, o que acontece para frequncias acima de certo valor
f / a 2 , que depende da condutividade do metal e do dimetro do fio. Por exemplo, para o cobre (
= 1.810-8 -m) temos, de [6.2],
(m) 0.07 / f (Hz) ,
6.2 Indutores
Os indutores so confeccionados enrolando um fio de cobre envernizado sobre um objeto de seo
cilndrica ou retangular. A resistncia do enrolamento representa uma resistncia srie que relativamente
mais importante a baixas frequncias (Figura 6.1a). Esta resistncia srie depende essencialmente do
comprimento total (ltot) e dimetro (D) do fio.
Consideremos o seguinte exemplo: Um indutor com ncleo de ar, na forma de um solenide de
comprimento d = 3 cm, rea mdia A = r2 = 12 cm2 e com N = 1000 voltas, tem uma indutncia
L = 0 N 2 A/d = 50 mH.
O permetro mdio de cada espira 2r = 12.3 cm, o que d um comprimento total ltot = 123 metros. Se o
fio de cobre (resistividade = 1.810-6 cm), de dimetro D = 0.25 mm (rea da seo transversal S =
D2/4), ento a resistncia srie desse indutor rs = ltot /S = 45 . Para uma frequncia de 100 Hz, a
reatncia XL = 2fL = 32 , que menor que a sua resistncia interna. Por outro lado, para uma
frequncia de 10 MHz, XL = 3.2 M >> rs (mesmo considerando o efeito pelicular, que daria rs = 132 ).
32 Circuitos de Corrente Alternada
Apesar disto, em certos casos, principalmente em circuitos ressonantes, rs no poder ser ignorada,
mesmo que a frequncia seja alta. A frequncias mais altas necessrio considerar a capacitncia parasita
entre as espiras da bobina, cp, em paralelo com o indutor (Figura 6.1b).
A relao entre a reatncia a uma dada frequncia de trabalho e a resistncia srie chama-se fator de
mrito ou Q da bobina:
QB = L/rs . [6.3]
Note que a fase da impedncia complexa de um indutor ideal = /2, enquanto que para um indutor
real = tan-1QB.
Indutores com ncleo de ferro possuem uma resistncia parasita em paralelo que representa as perdas
por correntes de Foucault 13 e por histerese. O efeito das correntes de Foucault depende pouco da
frequncia, mas depende muito do material, sendo mnima em materiais de gros sinterizados ou
laminados. J o efeito de histerese diminui com a frequncia, mas depende da corrente (e portanto um
efeito no linear).
6.2.1 Indutncia interna de fios e indutncias parasitas em circuitos
Para frequncias acima de 1 MHz frequentemente necessrio levar em considerao a indutncia
parasita dos circuitos. Todo fio de seo circular possui uma indutncia interna, L0 que a baixa frequncia
vale 50 nH/m vezes o comprimento do fio, independentemente do seu dimetro, e diminui com a
frequncia devido ao efeito pelicular. A indutncia interna de um objeto condutor obtida utilizando a
igualdade para a energia do campo magntico
1 L i2
2 0
= 1
2 z H 2 dV ,
onde a integral sobre o volume interno do objeto e H o campo magntico produzido pela corrente i.
No caso de um fio de seo circular, com a corrente uniformemente distribuda no seu volume e
comprimento l, o resultado
l
L0 = .
8
Se o fio for de metal magntico (ferro, ao, etc) ento a indutncia interna poder ser grande, a
baixas frequncias, devido ao alto valor de .
A malha de todo circuito em si mesma uma espira e, portanto possui uma auto-indutncia. Esta
indutncia pode ser estimada assumindo uma espira circular 14:
L L0 + r ln(8r / e 2 a) ,
vlida se o quociente entre o raio da espira e o raio do fio r/a >> 1. Assim, por exemplo, uma espira sem
ncleo ( = 0), de dimetro 2r = 10 cm e feita de um fio de dimetro 2a = 0.5 mm tem uma indutncia de
uns 0.35 H.
6.3 Capacitores
Os capacitores so confeccionados geralmente com filmes de alumnio separados por filmes
dieltricos (isolantes), e enrolados para fazer um pacote compacto. A resistividade do Al e a resistncia
das soldas (entre os filmes de Al e os fios de cobre que fazem os contatos externos) contribuem
13
Na literatura inglesa as correntes de Foucault so denominadas eddy currents.
14
Veja por exemplo a seo. 6-18 do livro de Ramo e Whinnery (ref. 12).
Resistores, capacitores e indutores reais 33
resistncia srie, rs (Figura 6.1d). Quanto mais finas so as lminas de Al, maior a resistncia srie.
Valores tpicos de rs esto entre 0.1 e 1 . A resistncia srie mais importante a altas frequncias, j que
a reatncia XC = 1/C pode ser muito pequena.
Para baixas frequncias a resistncia srie tem pouca ou nenhuma importncia, mas agora a
resistncia paralelo, rp, entra no jogo (Figura 6.1c). O filme dieltrico geralmente um plstico, mas pode
ser um papel impregnado em leo (capacitores para alta tenso) ou em soluo de eletrlitos (capacitores
de alto valor C, mas com polaridade). Os capacitores reais apresentam fugas de corrente pela superfcie
do isolante (no caso de isolantes plsticos) ou pelo volume (no caso de papel impregnado). A fuga total
pode ser caracterizada por uma condutncia g = 1/rp ou pela assim chamada tangente de perdas a uma
dada frequncia (geralmente 60 Hz):
tan = gXC = 1/rpC. [6.4]
Note que a fase da impedncia complexa de um capacitor ideal = -/2, enquanto que para um
capacitor real = - tan-1(1/tan) = -/2 + . Valores tpicos so rp > 100 M e < 10-3 rad @ 60 Hz.
Outro tipo de capacitor muito utilizado pelo seu baixo custo o capacitor cermico, feitos de uma
cermica de alta constante dieltrica na forma de disco. Estes capacitores so pouco indutivos mas a alta
constante dieltrica devida a que o material est perto de uma transio fase, pelo que a capacitncia
varia muito com a temperatura. So utilizados em alta frequncia e alta tenso, mas no em circuitos de
preciso. A constante dieltrica elevada implica tambm em alta condutividade, que resulta em tangentes
de perdas altas a baixas frequncias.
Finalmente, os capacitores apresentam sempre uma indutncia parasita. Esta preocupante apenas
nos circuitos de alta frequncia ou nos circuitos de pulsos de curta durao. A indutncia de um capacitor
de placas paralelas pode ser estimada como
ls 0ld/w, [6.5]
onde d a espessura do isolante e l e w so, respectivamente, o comprimento e a largura das placas.
Exerccio 6.4: Estime a capacitncia, C, a indutncia, ls, e resistncias srie, rs, e paralelo, rp, de um capacitor de fitas de alumnio
( = 2.810-6 cm) com w = 2 cm de largura, t = 5 m de espessura e l = 2 m de comprimento separadas por um filme plstico (
= 30 pF/m, = 1.21018 cm) de espessura d = 10 m. Note que a indutncia parasita e resistncia srie dependem de se os
contatos forem soldados s fitas de alumnio pelos extremos ou pelos lados (aps enroladas); calcule ls e rs nos dois casos.
15
Nas frequncias que estamos considerando, o efeito pelicular faz com que a indutncia interna do fio possa ser
desprezada comparada com a indutncia externa.
34 Circuitos de Corrente Alternada
0
L
l cosh(b / 2a ) 170 nH,
e a ressonncia espria ocorrer em 390 kHz. Vemos que esmagando a espira diminumos a indutncia
parasita e levamos o problema para frequncias mais altas. Mas no ganhamos muito: as coisas continuam
da mesma ordem de grandeza. Mesmo utilizando um cabo coaxial do mesmo comprimento, a indutncia
do cabo 16 ser da ordem de 250 nH/m15.7cm = 40 nH, levando a ressonncia espria para uns 800 kHz.
Por mais cuidados que tenhamos, ressonncias esprias so inevitveis. Afortunadamente, na maioria
dos casos de interesse neste curso elas no so um grande problema porque geralmente temos um resistor
em srie que faz o Q da ressonncia espria ser << 1. Para ilustrar isto suponhamos que a resistncia do
circuito R = 50 , ento no caso da espira com L = 0.35 H e f0 = 270 kHz, temos Q = 2f 0 L / R
0.012, e no caso L = 40 nH e f0 = 800 kHz, temos Q = 0.004.
Circuitos reais esto cheios de efeitos esprios em altas frequncias. Projetar circuitos de alta
frequncia que funcionem bem uma arte dominada por poucos.
16
O cabo coaxial que se utiliza geralmente no laboratrio, RG-58U, tem 250 nH/m e 100 pF/m. Veja a seo 10.2.
Circuitos de c.a. com gerador de funo arbitrria 35
v(t)
vpp
vdc
0
t
T
Figura 7.1. Forma de onda peridica genrica.
ou seja, o que veramos num osciloscpio no modo de acoplamento de entrada ac. A parte alternada
caracterizada pela amplitude pico-a-pico
v pp = vmax vmin , [7.3]
onde vmax e vmin so, respectivamente, os valores mximo e mnimo de v(t). Outra forma de caracterizar a
variao da parte alternada de v atravs do seu valor eficaz (ou valor rms, de root-mean-square)
definido como
vef = vrms = 1 T 2
T 0 v (t )dt . [7.4]
O valor eficaz til para calcular potncias: A potncia mdia dissipada em um resistor R com uma
2
voltagem arbitrria (mas peridica) P = vef /R.
O aluno no deve confundir os valores eficazes com os valores medidos com um voltmetro de
corrente alternada. A maioria destes instrumentos (principalmente os de agulha) medem um valor Vvac
proporcional mdia do valor absoluto de v(t): Vvac = | v | / 2 2 , onde
T
| v | = T1 0 |v(t )|dt . [7.5]
a) onda quadrada
pp dc
( t ) = dc + pp n2 cos( n t 2 )
n =1,impar
0 T/2 T
b) onda triangular
pp dc
( t ) = dc + pp 4 cos( n t )
2n2
n =1,impar
0 T/2 T
c) onda retangular
pp
dc ( t ) = dc + pp 2 sin(nn / T ) cos nt
n =1
0 /2 T
e) onda rampa
pp dc
( t ) = dc + pp 1
n
cos( n t +
2
)
n =1
0 T
Figura 7.2. Formas de onda no senoidais bsicas de um gerador de funes e sries de Fourier
correspondentes.
A Figura 7.2 mostra as sries de Fourier das formas de onda de um gerador de funes tpico 17. Um
gerador de funes produz (alm de ondas senoidais) vrias formas de onda peridicas no senoidais tais
como a onda quadrada, triangular, dente de serra, rampa e retangular ilustradas na Figura 7.2. Geralmente
podemos controlar o perodo T, a amplitude pp, e o nvel dc dc. A onda retangular e til para estudar o
comportamento de circuitos para pulsos eltricos. Nos geradores de onda retangular podemos controlar a
durao do pulso , atravs de um boto indicado no painel do instrumento como asymmetry ou como
duty-cycle (que a frao /T em percentagem: um duty-cycle de 20% significa = 0.2T ).
17
D. Buchla and W. McLachlan, Applied Electronic Instrumentation and Measurement, Macmillan, New York,
1992. Chapter 1.
Circuitos de c.a. com gerador de funo arbitrria 37
Idealmente, a onda quadrada e a rampa so funes descontnuas, e a onda triangular tem derivada
descontnua (a derivada da onda triangular uma onda quadrada). Os geradores de funo reais, porm,
produzem sempre uma funo contnua e com derivada contnua. Os geradores tm uma impedncia
interna baixa, tipicamente 50 , e segundo as especificaes dos fabricantes, em toda a faixa de
frequncias de operao do gerador a impedncia interna real e do mesmo valor (dentro de 10%
tipicamente). Sabemos porm que alguma indutncia parasita sempre existe e, por menor que ela seja,
produziria uma voltagem infinita (que nenhum isolante suportaria) se a corrente sofresse uma
descontinuidade. Do mesmo modo, a capacitncia parasita torna impossvel uma descontinuidade na
voltagem.
A eq. (7.6) nos diz que a voltagem no gerador uma soma de voltagens produzidas por geradores
senoidais de diferentes frequncias, amplitudes e fases, todos ligados em srie. Em virtude do princpio de
superposio, a resposta de um circuito a soma das respostas a cada um dos termos da srie. A resposta
a cada termo da srie pode ser calculada utilizando o formalismo de correntes complexas da seo 2 e a
funo de transferncia da seo 4.1. Para isto, escrevemos as sries de Fourier do gerador (voltagem de
entrada) e de v (voltagem de sada) da seguinte forma
{
(t ) = dc + Re n e jnt
n =1
}
[7.7]
{
v(t ) = vdc + Re Vn e jnt ,
n =1
}
j
onde Vn = vn e n a amplitude complexa da componente de frequncia n = n. Lembrando o que
falamos na seo 4.1, a razo entre as amplitudes das voltagens de sada e de entrada a uma frequncia
a funo de transferncia do circuito, H(); portanto Vn = H (n )n e vdc = H (0)dc . Temos ento
que
v(t ) = H (0)dc + Re{H (n )n e jnt } . [7.8]
n =1
Como exemplo deste tipo de anlise, consideremos o filtro RC passa baixos (Figura 4.2) excitado por
uma onda quadrada, cuja expanso em srie de Fourier est apresentada na Figura 7.2-a. A funo de
transferncia deste circuito H () = 1/ (1 + j) , onde = RC. Portanto, a voltagem no capacitor ser
2 pp e jnt j/2
v(t ) = dc + Re [7.9]
n=1,impar (1 + jn )n
O anlise utilizando sries de Fourier pode decepcionar alguns alunos pois difcil intuir qual o
resultado da soma infinita. Por exemplo, no caso particular da eq. 7.9, se T << ento para todos os
harmnicos e a fundamental temos n >> 1 e como consequncia
ppT cos(nt )
v(t ) dc 2 . [7.10]
n =1,impar n2
que no diz muito alm do que j sabemos: os termos da srie da voltagem de sada caem mais
rapidamente com n do que a os termos da funo de entrada, como cabe esperar de um filtro passa baixos.
Mas se olharmos s sries de Fourier da Figura 7.2 e notarmos que cos(nt) = cos(nt ),
perceberemos que a eq. 7.10 coincide com a expanso da uma onda triangular de amplitude pico-a-pico
38 Circuitos de Corrente Alternada
v pp = ppT / 4 . Note que a onda triangular proporcional a integral da onda quadrada. Como veremos
na seo 7.1, o filtro RC passa baixos um circuito integrador para frequncias altas ( >> 1/).
Para as funes tpicas de um gerador de funes (ondas quadrada, retangular, rampa e triangular) as
equaes de Kirchoff de circuitos simples de uma malha podem ser resolvidas facilmente integrando uma
equao diferencial. Este procedimento leva a solues analticas mais fceis de analisar do que uma srie
de Fourier. Como exemplos, vamos resolver a seguir alguns problemas simples, mas de grande
importncia prtica.
Integrador RC
<< T ( = T/40)
R pp dc
(t) C v(t)
= RC T ( = T)
pp tanh(T/4) dc
Integrador RL
L
>> T ( = 40T)
pp T/4 dc
(t) R v(t)
= L/R 0 T/2 T
Figura 7.3. Circuitos integradores RC e RL e resposta destes circuitos a uma onda quadrada de amplitude
pico-a-pico pp para os casos em que muito menor, comparvel ou muito maior que T (as relaes exatas
entre e T para as quais as formas de onda foram calculadas esto indicados entre parntesis. Note, portanto,
que as escalas verticais no so as mesmas). (Veja o Exerccio 7.1)
Mostraremos aqui que para frequncias altas (ou seja quando a voltagem de sada pequena
comparada com a de entrada) os circuitos da Figura 7.3 se comportam como integradores no seguinte
sentido: em qualquer intervalo de tempo de durao |t - t0| << , a voltagem de sada
1 t (t )dt + v(t )
v(t )
t0 0 . ( | t t0 |<< ) [7.11]
Vamos demonstrar a eq. 7.11 explicitamente para o circuito integrador RC, no caso do integrador RL
os passos da deduo so diferentes mas o resultado final o mesmo. A equao de malha do circuito RC
dv dv
Como v(t ) = q(t ) / C e i = dq / dt , temos que i = C ou Ri = . Portanto, a eq. 7.12 pode ser
dt dt
escrita como
dv
= +v. (exato) [7.13]
dt
Mas notemos que o circuito um filtro passabaixos. Portanto, para frequncias angulares 2/T muito
maiores que 0 = 1/ a voltagem de sada, v, muito menor que a de entrada, . Da eq. 7.12 vemos que
dv
esta condio implica Ri >> v. Assim, se T << 2 a eq. 7.13 aproximadamente Ri = , ou seja
dt
dv
. ( T << 2 ) [7.14]
dt
Integrando a eq. 7.7 entre os instantes t0 e t obtemos a eq. 7.11.
A eq. 7.13 vlida no caso geral, mesmo se a condio T << no satisfeita, e para os dois
circuitos da Figura 7.3. Essa equao pode ser integrada facilmente. O resultado exato
t ( t t0 )/
v(t ) = 1 t (t )e (t t)/ dt + v(t0 )e . (exato) [7.15]
0
A eq. 7.15 se transforma na eq. 7.11 se |t - t0| << , j que nesse caso podemos aproximar por 1 as
duas exponenciais que aparecem na 7.15.
A Figura 7.3 ilustra a soluo exata 7.15, vlida tanto para o integrador RC como para o integrador
RL, no caso de uma onda de entrada quadrada. Note como medida que o perodo diminui em relao a
a soluo se aproxima da integral 7.11.
Exerccio 7.1: Mostre por integrao direta da eq. 7.15 que para uma onda quadrada de perodo T,
min se 0 t < T / 2 ,
(t ) =
max se T / 2 t < T
onde vmax = vdc + vpp/2, vmin = vdc - vpp/2, sendo vdc = dc e vpp = pp tanh(T/4) com pp = max min. Note que o valor de dc de
sada igual ao de entrada pois os circuitos da Figura 7.3 so filtros passa baixos. Note tambm que se >> T (ou seja, quando os
circuitos integram) a voltagem de sada uma onda triangular com amplitude pico-a-pico vpp = ppT/4. Esta relao entre as
amplitudes pode ser utilizada para medir L ou C conhecendo R.
Exerccio 7.2: Utilizando a srie de Fourier de uma funo peridica demonstre a eq. 7.11. Sugesto: utilize o fato que
t
e jn t = jn t 0
e jn t dt + e jn t0 .
tanto que para o circuito RL = L/R. Ao igual que no caso do integrador, o diferenciador RL pouco
utilizado, exceto a frequncias muito altas.
Os circuitos da Figura 7.4 se comportam como diferenciadores se << T no seguinte sentido: se (t)
varia pouco em qualquer intervalo de tempo de durao menor que T, ento a voltagem de sada
d (t )
v(t ) . ( << T , (t) lentamente varivel) [7.16]
dt
Diferenciador RC
C
<< T ( = T/40)
2pp 0
(t) R v(t)
= RC
2 pp T ( = T)
0
Diferenciador RL 1 + eT / 2
R
(t) L v(t)
pp
>> T ( = 40T)
0
= L/R
0 T/2 T
Figura 7.4. Circuitos diferenciadores RC e RL e resposta destes circuitos a uma onda quadrada de amplitude
pico-a-pico pp para os casos em que muito menor, comparvel ou muito maior que T (as relaes exatas
entre e T para as quais as formas de onda foram calculadas esto indicados entre parntesis). (Veja o
Exerccio 7.3)
Vamos demonstrar a eq. 7.16 explicitamente para o circuito integrador RC, no caso do integrador RL
os passos da deduo so diferentes mas o resultado final o mesmo. A equao de malha do circuito RC
Notando que o circuito um filtro passa altos, para frequncias 2/T muito menores que 0 = 1/, a
voltagem de sada, v, muito menor que a de entrada, . Portanto, se T << 2 a eq. 7.17 pode ser escrita
aproximadamente como
q/C . ( T << 2 ) [7.18]
d
v RC . ( T << 2 ) [7.20]
dt
Dado que = RC, a eq. 7.20 idntica 7.16.
No caso geral, mesmo no sendo lentamente varivel, a equao 7.17 ainda pode ser resolvida em
forma exata: derivando em ambos os membros da eq. 7.17 e usando v = Rdq / dt obtemos
d d v v
= + , (exato) [7.21]
dt dt
que vlida tanto para o diferenciador RC como RL. A soluo exata da 7.21
t d (t ) (t t )/ t /
v(t ) = 0 e dt + v(0)e . (exato) [7.22]
dt
A eq. 7.21 nos permite entender melhor as condies sob as quais a 7.16 vlida e, em particular,
especificar melhor o que queremos dizer com lentamente varivel. Para que a 7.16 seja vlida
necessrio que
dv v
<< ,
dt
ou, usando a 7.16,
d 2 1 d
<< . [7.23]
dt 2 dt
Podemos entender este resultado lembrando novamente que o circuito diferenciador um filtro passa
altos e que qualquer variao brusca tem um espectro de frequncias muito altas. Portanto, as variaes
bruscas passam pelo filtro sem serem atenuadas.
Utilizando este tipo de argumento o aluno pode mostrar que para um circuito diferenciador temos
sempre
vdc = 0 , [7.25]
42 Circuitos de Corrente Alternada
Exerccio 7.3: Mostre por integrao direta da eq. 7.22 que para uma onda quadrada de perodo T,
max se 0 t < T / 2 ,
(t ) =
min se T / 2 t < T
onde vmax = pp /(1 + eT/2 ) e pp = max min. Verifique tambm que a descontinuidade em t = T/2 satisfaz a eq. 7.24. Note que
a amplitude pico-a-pico de sada vpp = 2vmax tende ao valor 2pp quando /T 0 e ao valor pp quando /T .
Exerccio 7.4: Determine a voltagem de sada de um circuito diferenciador no caso de uma onda de entrada triangular.
Transientes no circuito ressonante srie 43
d 2q dq
L 2
+R + q / C = ppu . [8.2]
dt dt
onde q = q(t) a carga instantnea no capacitor. A 8.2 uma equao diferencial de segundo grau e
portanto a soluo depende de duas condies iniciais. No caso da funo degrau, onde a voltagem na
posio do gerador zero para todo t < 0, o capacitor no poderia estar carregado nem poderia estar
passando corrente em t = 0. Portanto, as condies iniciais so
dq
q(0) = 0 e i (0) = = 0. [8.3]
dt t =0
A eq. 8.2 a equao de um oscilador harmnico amortecido, onde a forma da soluo depende do
fator de mrito do circuito Q (definido na seo 5, eq. 5.7). Se Q > (oscilador subamortecido) a
soluo, com as condies 8.3,
q(t ) = C pp [1 e t / (cos t +
1 sin t )] , (Q > ) [8.4]
onde
= 0 1 1/ 4Q 2 , [8.5]
44 Circuitos de Corrente Alternada
= 2 L / R = 2Q / 0 , [8.6]
0 = 1 / LC , Q = 0 L / R . [8.7]
Se o fator de mrito Q > ento o circuito oscila com a frequncia natural de oscilao . Note que
sempre menor que a frequncia de ressonncia 0. As oscilaes so amortecidas exponencialmente
com constante de tempo .
Se o fator de mrito Q < (oscilador sobreamortecido) ento imaginrio puro: = j, onde
1
= 0 1 , [8.8]
4Q 2
q(t ) = C pp [1 e t / (cosh t +
1 sinh t )]
. (Q < ) [8.9]
Exerccio 8.1: Mostre que a [8.4] representa a soluo geral, ou seja, vlida para qualquer valor de Q. (Sugesto: para chegar
[8.9] a partir da [8.4] utilize cos(jx) = cosh(x) e sinjx = jsinhx (vide apndice A); para chegar [8.10] ache o limite da eq. 8.4 para
0 utilizando a regra de LHospital).
Uma vez determinada a carga, as voltagens sobre o resistor (VR), o capacitor (VC) e indutor (VL) so
dadas por
VC = q / C ,
dq
VR = R e [8.11]
dt
d 2q
VL = L .
dt 2
A Tabela 8-I mostra explicitamente o resultado das expresses [8.11] nos trs casos de
amortecimento.
Transientes no circuito ressonante srie 45
Tabela 8-I. Voltagens transientes no capacitor, resistor e indutor para o circuito RLC srie.
A Figura 8.1 mostra as voltagens sobre o resistor, capacitor e indutor nos trs casos de amortecimento
(sub-, sobreamortecido e amortecimento crtico). interessante notar que no caso de amortecimento
subcrtico, o nmero de oscilaes dentro de uma constante de tempo (ou seja /T0, onde T0 = 2/0) , de
acordo com [8.6], Q/. Ou seja, Q vezes o nmero de oscilaes contadas dentro de uma constante de
tempo. Este fato muitas vezes utilizado no laboratrio para estimar rapidamente o Q do circuito.
2
1.0
Q=5 Q = 0.5
Capacitor
VC / pp
1 0.5 Capacitor
Q = 0.3
0 0.0
0.2 1.0
VR / pp
Q = 0.5
-0.2 0.0
1.0
1.0
VL / pp
0.5 Indutor
Indutor Q = 0.3
0.5
0.0 Q = 0.5
-0.5 0.0
0 2 4 6 8 0 5 10 15 20 25
tempo, t/ tempo, t/
Figura 8.1. Transientes no circuito RLC srie para os casos de amortecimento subcrtico (esquerda) e
amortecimentos crtico (direita, Q = 0.5) e sobreamortecido (direita, Q = 0.3).
d 2i di du
L +R + i / C = pp . [8.12]
dt 2 dt dt
A derivada da funo degrau vale zero em qualquer instante de tempo exceto em t = 0, onde tem um
valor muito grande. Esta funo 18, denotada com (t),
du
(t ) = , [8.13]
dt
aparece em muitos problemas de Fsica e chamada funo impulso ou delta de Dirac. No Apndice
C discutimos algumas propriedades desta importante funo. Utilizando as definies 8.5 a 8.7 podemos
reescrever a 8.12 como
d 2i 2 di pp
+ + 02i = (t ) . [8.14]
dt 2 dt L
Os circuitos eltricos so muito utilizados para modelar outros sistemas fsicos lineares, tais como
molas, tomos, lasers e pontes. Na maioria das vezes mais fcil montar circuitos eltricos e medir
voltagens no laboratrio do que montar molas, medir a posio do eltron em um tomo, ou medir
oscilaes de uma ponte. Os sistemas lineares so descritos por equaes diferenciais como a 8.14. O
termo inomogneo da equao que descreve o sistema se denomina excitao, e a soluo da equao a
resposta a essa excitao.
Comparando a eq. 8.2 com a eq. 8.14 vemos que a voltagem sobre o capacitor, proporcional carga,
representa a resposta a uma funo degrau, entanto que a voltagem no resistor, proporcional corrente,
18
Matematicamente falando, a delta de Dirac no realmente uma funo pois o seu valor no est definido em t =
0. Nesse instante o seu valor um infinito muito especial e tal que a integral sobre qualquer intervalo de tempo que
contenha t = 0 1. (Veja mais sobre isto no apndice C).
Transientes no circuito ressonante srie 47
representa a resposta a uma funo impulso 19. Se utilizarmos um osciloscpio para observar a voltagem
sobre o capacitor, estaremos visualizando a resposta a um degrau, e se observamos a voltagem sobre o
resistor estaremos vendo a reposta a um impulso. A Figura 8.1 mostra o que observaramos na tela do
osciloscpio em cada caso.
A resposta a um impulso e a resposta a um degrau so obviamente equivalentes pois a corrente a
derivada da carga. Esta relao vale para qualquer sistema linear: a resposta a um impulso proporcional
derivada da resposta a um degrau. Qualquer uma delas pode ser utilizada para descrever completamente
as propriedades de um sistema linear e so, portanto, de grande importncia em fsica e engenharia.
Vimos na seo 4.1 que um circuito eltrico (e, mais geralmente falando, qualquer sistema linear)
completamente caracterizado pela sua funo de transferncia, ou resposta espectral. Agora estamos
afirmando que tambm completamente caracterizado pela resposta a um impulso. A resposta espectral
referida como uma descrio no domnio da frequncia e a resposta a um impulso uma descrio no
domnio do tempo. As duas descries so completamente equivalentes (demonstramos formalmente na
seo 8.1.2 que a resposta em frequncia a transformada de Fourier da resposta a um impulso), o que
razovel j que o espectro de um impulso contm todas as frequncias. Em circuitos eltricos (e em
muitos outros casos de sistemas lineares) mais fcil medir a resposta a um impulso do que a resposta
espectral.
8.1.2 Anlise de transientes utilizando a Transformada de Fourier
Vimos na seo 7 que os transientes repetitivos podem ser analisados utilizando sries de Fourier. As
desvantagens desse mtodo so que (a) somente se aplica a funes peridicas e (b) geralmente conduz a
expresses que so sries de difcil interpretao. No caso de um gerador de funo arbitrria, mesmo se a
funo no peridica, podemos utilizar o mtodo da transformada de Fourier.
A transformada de Fourier uma ferramenta poderosa de anlise de circuitos e, em geral, de sistemas
lineares. muito til em particular para analisar transientes no repetitivos em circuitos excitados com
geradores de pulsos.
Funes no necessariamente peridicas podem ser representadas no domnio da frequncia atravs
da integral de Fourier (vide Apndice B)
v(t ) = 1 V ()e jt d
2
[8.15]
A funo V() chamado espectro contnuo da funo v(t), e v(t) chamada a antitransformada de
Fourier de V(). Note que se v(t) tem unidades de volts, a transformada tem unidades de V/Hz.
Para qualquer circuito linear de impedncia Z = Z() excitado por um gerador de voltagem (t) a
transformada de Fourier da corrente i(t) simplesmente
I () = E () / Z () = Y () E () , [8.17]
onde E() a transformada de Fourier de (t) e Y() = 1/Z() a admitncia. Vemos ento que o
formalismo da impedncia complexa pode ser empregado diretamente a qualquer circuito linear com
geradores de funes arbitrrias. Isto mostra o poder da transformada de Fourier.
19
A resposta a um impulso tambm chamada, em muitos problemas de Fsica, funo de Green.
48 Circuitos de Corrente Alternada
A corrente real como funo de tempo pode ser determinada pela antitransformada de Fourier da
8.17, que da o produto de convoluo (Apndice B)
i (t ) = (t ) y (t t )dt ,
h(t ) = 1 H ()e jt d .
2 [8.21]
ou seja, o seu espectro ser uma constante. Portanto, da 8.20, teremos que vs ( t ) = 21 Ah( t ) , o que
demonstra que a resposta a um impulso proporcional antitransformada de Fourier da funo de
transferncia. Isto significa o seguinte: se excitamos o circuito com um pulso eltrico de durao
infinitesimal (ou seja, excitamos com uma delta) ento na tela do osciloscpio teremos uma funo do
tempo que a resposta a um impulso. A transformada de Fourier dessa funo ser a funo de
transferncia.
Como j dizemos, no laboratrio mais fcil medir a resposta a um impulso do que a resposta
espectral e por isto que os transientes so to importantes. Mas convenhamos que medir a resposta
Transientes no circuito ressonante srie 49
espectral no demasiado difcil. Os circuitos eltricos so privilegiados no sentido que fcil medir as
coisas tanto no domnio do tempo como no domnio da frequncia. Em contraposio, em ptica mais
fcil medir o espectro do que medir a reposta impulsiva. A dificuldade experimental que o tempo que
caracteriza a relaxao extremamente pequeno (femtossegundos) e deveramos, ento, utilizar pulsos de
luz de durao menor que esse tempo e algum instrumento (o equivalente do osciloscpio) capaz de medir
a resposta temporal com resoluo de femtossegundos. Como consequncia, quase tudo que sabemos das
propriedades pticas de materiais vm da espectroscopia.
Transformadores 51
9. Transformadores
9.1 Generalidades
A corrente que circula pelo enrolamento primrio, Ip, produz um campo magntico na regio do
enrolamento secundrio e, se o fluxo deste campo atravs do enrolamento secundrio varia no tempo, se
induz uma fora eletromotriz (fem) proporcional variao de corrente no primrio (Figura 9.1)
dI p
s = M , [9.1]
dt
onde M a indutncia mtua.
M = k L p Ls , [9.2]
Em baixas frequncias (< 1kHz) o material mais utilizado para ncleo de transformadores o ferro
laminado. O formato laminado serve para minimizar as perdas por correntes de Foucault (as lminas so
envernizadas ou propositadamente oxidadas para isol-las eletricamente uma das outras). Para altas
frequncias se utilizam ferrites ou outros materiais especiais.
Na eq. 9.1, o sinal da fem induzida no secundrio vem determinado pelo sentido dos enrolamentos.
Quando necessrio, esse sentido indicado com um ponto grosso (Figura 9.3): Se as correntes no
secundrio e no primrio saem ou entram ambas pelo ponto, o sinal positivo, caso contrrio o sinal
negativo.
52 Circuitos de Corrente Alternada
dI p dI p
Ip
s = M Ip s = + M
dt dt
V(t) Ip Is
Vp Vs Zs
Vp
12 V
Vs (varivel)
Ip
na forma de campo eltrico em um capacitor. A Figura 9.6 mostra um esquema possvel de ignio
eletrnica. Voc pode explicar como funciona?
-V p Vela de ignio
12 V
Chave a transistores
Figura 9.7. a) Um transformador ideal com corrente passando no secundrio; b) circuito equivalente com
impedncia do secundrio refletida no primrio Z's = Zs/a2; c) circuito equivalente com uma fem = a e
com a impedncia do primrio refletida no secundrio Z'p = a2 Zp.
Transformadores 55
Figura 9.8. a) Fluxo magntico em um transformador com perda de acoplamento. Algumas linhas de campo
no so concatenadas pelo enrolamento secundrio. b) Circuito equivalente com um transformador ideal,
indutncias em srie representando os vazamentos de fluxo magntico e uma indutncia kLp em paralelo no
circuito primrio, por onde passa a corrente de magnetizao, Im , quando o secundrio est em circuito
aberto (Is = 0).
Note que com Is = 0, a indutncia medida entre os terminais de entrada do transformador Lp. Se
fizermos um curto-circuito no secundrio (Vs = 0), a indutncia (1k)Ls aparecer refletida, no primrio
do transformador ideal, em paralelo com kLp e, de acordo com a eq. [9.5], com valor (1k)Ls/a2. A
indutncia medida entre os terminais de entrada neste caso
kL p (1 k ) Ls / a2
Lp = (1 k ) L p + .
kL p + (1 k ) Ls / a2
Esta ento a indutncia medida no primrio com um curto-circuito no secundrio. Assim, com duas
medidas da indutncia no primrio (isto , com o secundrio em aberto e em curto) podemos determinar
experimentalmente o coeficiente de acoplamento k.
Perdas hmicas: Notemos que a corrente de magnetizao est 90 fora de fase em relao
voltagem e, portanto, no dissipa potncia. Se tocarmos um transformador ligado na tomada, com o
secundrio em aberto, perceberemos, porm, que o transformador esquenta.
Isto devido a trs fatores: (1) ao aquecimento do fio do enrolamento primrio, que tem uma
resistividade no nula; (2) s correntes de Foucault (o material do ncleo tambm tem uma resistividade
no nula) e (3) histerese da magnetizao. Os dois ltimos efeitos aquecem o ncleo. Alm do calor, ao
tocar no transformador, muitas vezes percebemos tambm uma pequena vibrao mecnica (e em certos
casos percebemos tambm um som de 60 Hz). Isto devido ao efeito de magnetostrio, que tende a
contrair as espiras do enrolamento (e as lminas do ncleo) quando o campo magntico aumenta. Chapas
de ferro ou outro material magntico nas proximidades do transformador tambm podem vibrar pela ao
do campo que vaza do ncleo. Todos esses efeitos produzem perdas de energia que podem ser
representadas por resistores.
Podemos representar a perda hmica no fio de cada enrolamento como uma resistncia, rp e rs,
respectivamente em srie com Lp e Ls. As outras perdas (correntes de Foucault, histerese, etc.) so
geralmente pequenas e so representadas por um resistor grande, Rn, em paralelo com o transformador
ideal, como ilustrado na Figura 9.9. Geralmente, frequncia de operao, Rn pode ser ignorado.
Zp (1k)L p aI s (1k)L s
N p:N s Vs
rp rs
Ip Rn kL p Is Zs
ideal
Figura 9.9. Circuito equivalente, similar ao da Figura 9.8, mas com resistncias em srie representando as
resistncias dos enrolamentos primrio e secundrio e uma resistncia em paralelo, Rn, representando a perda
de energia no ncleo. A corrente no circuito primrio Ip, porm a corrente no primrio do transformador
ideal aIs.
Geralmente rp << Lp e temos que P V p I m rp L p . Vemos, ento, que quanto maior Lp,
menor ser a perda hmica. Para uma dada frequncia, a forma de diminuir as perdas aumentar o valor
da indutncia. Esta a razo pela qual os transformadores tm muitas voltas nos seus enrolamentos. Isto
explica tambm porque os transformadores das fontes de potncia so volumosos.
As fontes de potncia modernas (como as utilizadas nos microcomputadores), chamadas fontes
chaveadas, tem transformadores relativamente pequenos. O truque que primeiro transformam os 60 Hz
da linha em uma frequncia de 10 kHz ou mais (utilizando para isto um circuito de chaveamento... da o
nome de fonte chaveada) e o transformador agora trabalha em alta frequncia, onde Lp pode ser pequeno
mantendo o produto Lp grande.
Em frequncias muito altas (VHF, UHF, radiofreqncias, etc.), a resistncia do fio dos enrolamentos
aumenta (efeito pelicular) e a indutncia diminui, pois a permeabilidade magntica diminui. Porm, as
perdas no ncleo diminuem, pois o campo magntico menor e no h histerese. O efeito global que em
frequncias muito altas as perdas diminuem. Por exemplo, um material de Ferro pode ter = 1000 0 a
baixa frequncia e, para uma frequncia de 60 MHz, o mesmo material tem = 0 , ou seja, mil vezes
menor que a 60 Hz (de fato, a 60 MHz tanto faz um ncleo de ferro como de ar). Porm, a frequncia
um milho de vezes maior e, se o coeficiente acoplamento for o mesmo, o produto Lp ser mil vezes
maior a 60 MHz. Os transformadores de frequncia muito alta so relativamente pequenos.
Histerese: A histerese do ncleo de um transformador pode ser observada experimentalmente com
ajuda do circuito da Figura 9.10a. Aqui a voltagem sobre R1 proporcional corrente no primrio (Ip =
Vx/ R1) que, por sua vez, proporcional a campo magntico aplicado, H. No circuito secundrio, R e C
formam um integrador (para frequncias f << 1/2RC), de modo que a voltagem Vy sobre o capacitor,
t
Vy (t ) = Vs (t )dt / RC [9.8]
a) Ip Vs R Vy b)
Vr
f Np Ns
C
Vx
R1
Vc
CH1 200mV CH2 200mV XY
Figura 9.10. a) Circuito para observar a curva de histerese de um transformador utilizando um osciloscpio
operando no modo XY. A voltagem sobre R1, proporcional corrente no primrio Ip (e portanto ao campo
magntico aplicado H) ligada entrada X do osciloscpio. R e C formam um integrador para frequncias f
<< 1/2RC. A voltagem sobre C (ligada entrada Y) ento proporcional integral da fem induzida no
secundrio (portanto proporcional ao campo de induo magntica B). b) Curva de histerese tpica observada
para f = 15 Hz. Neste exemplo a rea da curva de histerese aproximadamente = (11 quadrinhos 200 mV
200 mV) = 0.44 V2.
Vejamos quais so os fatores de proporcionalidade, pelo menos de forma aproximada, assumindo que
esses campos so uniformes no ncleo do transformador.
O campo H devido corrente no primrio pode ser estimado utilizando a lei de Ampere
G G
N p I p = v H dl H,
onde o comprimento mdio das linhas de campo no ncleo (Figura 9.11). Temos, ento,
H (Np /R1) Vx. [9.9]
Na aproximao de campo uniforme, o fluxo pode ser escrito simplesmente como = BS, onde S a
rea da seo reta do ncleo (Figura 9.11), de modo que a voltagem no secundrio
d dB
Vs (t ) = N s Ns S ,
dt dt
e, substituindo na eq. [9.8], obtemos Vy (t ) = Ns B(t )S / RC ou, finalmente, ignorando o sinal (que pode
ser escolhido trocando os terminais do primrio ou do secundrio),
B(t ) ( RC / SNs )Vy (t ) , [9.10]
A curva de histerese define duas grandezas importantes que caracterizam ncleos de transformadores:
o campo remanente Br e a fora coercitiva Hc. Se no h corrente aplicada (Ip = 0) o ncleo pode ficar
com um capo permanente Br, tal como um im. Para zerar esse campo magntico necessrio aplicar um
campo Hc no sentido oposto. Estas grandezas podem ser determinadas a partir de seus equivalentes Vr e
Vc, na curva de histerese medida da Figura 9.10b.
A energia dissipada por ciclo de histerese para alinhar, desalinhar e realinhar os domnios magnticos
do material do ncleo, pode ser escrita como
U hist / Vol = v BdH .
Multiplicando pela frequncia e pelo volume do ncleo (Vol = S) obtemos a potncia mdia dissipada,
Phist = fS v BdH .
Transformadores 59
Utilizando as relaes [9.9] e [9.10] podemos expressar v BdH em termos da rea = v V y dVx da figura
de histerese observada na tela do osciloscpio. O resultado
fRCN P
Phist = . [9.11]
R1 N S
Note que nesta expresso a potncia no depende (explicitamente) das dimenses do ncleo.
Linhas de Transmisso 61
20
O autor agradece a colaborao de Guilherme Rios (aluno de Engenharia de Computao, Unicamp, turma de
1997) na elaborao deste captulo.
21
A redes locais esto evoluindo rapidamente. No novo padro Fast Ethernet a taxa de bits de 100 Mb/s. Para
taxas mais elevadas, como no padro Gigabit Ethernet (1.25 Gb/s), necessrio utilizar fibras pticas.
62 Circuitos de Corrente Alternada
linha de transmisso tm associado a ele uma capacitncia e uma indutncia (Figura 10.1). A impedncia
srie desse comprimento
dZs = jLdx, [10.1]
Ldx
Cdx
dx
Figura 10.1. Linha de transmisso formada por indutores e capacitores uniformemente distribudos ao longo
do comprimento da linha.
Podemos calcular Z0 com ajuda do circuito equivalente da Figura 10.2. Nessa figura substitumos a
linha menos um elemento de comprimento infinitesimal dx pela sua impedncia equivalente, Z0. A
impedncia vista quando inclumos o elemento dx novamente Z0. Temos, portanto, que
Z0 = dZs + (dYp + 1/Z0)-1, [10.3]
cuja soluo
Z 0 = 12 dZ s (dZ s ) 2 +4 dZ s / dY p . [10.4]
dZs
Z0 dYp Z0
dx
Figura 10.2. Circuito equivalente para o clculo da impedncia de uma linha de transmisso. dZs e dYp so,
respectivamente, a impedncia srie e admitncia paralela de um elemento da linha de comprimento
infinitesimal dx.
dZ s L
Z0 = = . [10.5]
dY p C
Linhas de Transmisso 63
Note que, na aproximao de linha sem perdas, a impedncia caracterstica no depende da frequncia.
Se incluirmos resistncias srie e paralelo para levar em considerao a atenuao de sinais ao longo da
linha (vide seo 10.5), veremos que a impedncia caracterstica depende ligeiramente da frequncia.
a
b
Figura 10.3. Cabo coaxial. O condutor central (dimetro a) rodeado por um isolante de constante dieltrica
e dimetro b. Sobre o dieltrico tem um segundo condutor de blindagem de espessura fina (geralmente uma
malha) e, sobre este, uma camada plstica isolante para proteo.
No caso do cabo RG-58U as dimenses do fio condutor interno e da malha so, respectivamente, a =
0.9 mm e b = 2.9 mm; o isolante polietileno, com constante dieltrica = 2.1, e, substituindo em (10.6-
10.8), obtemos L = 250 nH/m, C = 100 pF/m e Z0 = 50 . O cabo RG-58 o mais utilizado em
instrumentao e redes de computadores. 22
Exerccio 10.1: O cabo coaxial RG-59U (utilizado em TV a cabo) idntico ao RG-58U exceto pelo dimetro da malha externa,
b = 4.5 mm. Determine L, C e Z0.
22
Embora o cabo RG-58 pode ser utilizado em redes Ethernet, ele no recomendado. Os cabos coaxiais de 50
especiais para Ethernet possuem blindagem dupla e capa plstica com baixa produo de fumo durante um incndio.
Geralmente o dieltrico de polietileno celular (/0 = 1.64) e a capacitncia de 82 a 86 pF/m. O cabo Ethernet
fino, com atenuao de 4.6 dB/100m @ 10 MHz, usado para distncias de at 100m. O cabo Ethernet grosso, com
1.7 dB/100m @ 10 MHz, pode ser usado at 500 m.
64 Circuitos de Corrente Alternada
I+ I-
V+ V- Z
Figura 10.4. Linha de transmisso terminada em uma impedncia ZT e sinais eltricos viajando em direes
opostas.
Consideremos ento o caso em que enviamos um sinal na direo +x. Aps um tempo teremos
tambm um sinal viajando na direo -x. Em geral, em qualquer ponto da linha, temos que a voltagem e a
corrente so dadas pela soma algbrica de duas ondas viajando em direes opostas:
V =V + + V e I = I + I , [10.9]
V- /V + . [10.10]
Z 0 =V + / I + = V / I , [10.11]
de modo que o coeficiente de reflexo pode ser escrito alternativamente como = I - / I + , j que
I- I V V+ 1
= = Z0 = .
+ + + Z0
I V V I
V V + +V 1+
ZT = = = Z0 . [10.12]
I + 1
I I
Podemos ver da eq. 10.13 que, para uma linha terminada em um curto circuito (ZT = 0) temos = 1.
Isto pode ser entendido se pensamos que o sinal passa do fio vivo para o neutro e retorna,
efetivamente invertendo-se. No caso de circuito aberto (ZT = ) temos = 1: o sinal volta pelo mesmo
fio, sem inverso. Quando ZT = Z0 temos = 0, ou seja, no h sinal refletido. Neste caso a linha se diz
terminada. Podemos pensar que quando ZT = Z0, a impedncia ZT se comporta como uma continuao
da linha; ou seja, equivalente a terminar a linha com outra linha idntica e de comprimento infinito.
Neste caso tudo acontece como se o sinal nunca encontrasse o fim da linha de transmisso.
seguinte modo: no elemento diferencial dx (Figura 10.1), a queda de voltagem no indutor jLdxI,
portanto, escrevendo a voltagem em x + dx como V(x + dx) = V(x) + dV, temos que dV = jLdxI ou
dV
= jLI . [10.14]
dx
d 2V
+ 2 LCV = 0 . [10.16]
2
dx
A corrente I(x) tambm satisfaz a eq. 10.16. Esta equao mostra diretamente que V viaja como uma
onda. A soluo geral de 10.16 uma superposio de duas ondas contrapropagantes, da forma
V ( x, t ) = V + e j ( t kx ) + V e j (t + kx ) [10.17]
onde
k = LC [10.18]
No caso do cabo coaxial, substituindo as eqs. 10.6 e 10.7 em 10.18, obtemos que v = 1 / 0 = c / n ,
onde c a velocidade da luz no vcuo e n = / 0 o ndice de refrao do isolante.
interessante notar que a velocidade de propagao independente da frequncia (uma linha de
transmisso com esta propriedade se denomina linha no dispersiva) 23. Dado que um pulso uma
superposio de ondas de diferentes frequncias (transformada de Fourier), conclumos que, em linhas
no dispersivas, os pulsos eltricos se propagam sem deformao.
10.5 Atenuao
No caso de linhas muito compridas ou frequncias muito elevadas, a atenuao da linha deve ser
considerada. Se a linha tem uma resistncia srie r e condutncia g por unidade de comprimento, ento a
impedncia srie e a admitncia paralela de um elemento de linha de comprimento dx so dadas por
dZs = (r + jL)dx [10.20]
e
dYp = ( g + jC )dx . [10.21]
23
Em rigor, o ndice de refrao depende da frequncia. Mesmo assim, o conceito de linha no dispersiva no uma
utopia j que, na prtica, a variao do ndice de refrao dos dieltricos utilizados em linhas de transmisso, na
faixa de frequncias necessria para descrever pulsos eltricos de durao razovel, desprezvel.
66 Circuitos de Corrente Alternada
Neste caso, seguindo o mesmo argumento que nos levou a deduzir a eq. 10.5, obtemos que a impedncia
caracterstica complexa e depende da frequncia segundo
r + j L
Z0 = . [10.22]
g + j C
Por outro lado, seguindo o mesmo argumento da seo 10.4, obtemos uma constante de propagao
complexa
k = 2 LC rg j( Lg + rC ) , [10.23]
24
comum em engenharia eltrica expressar o coeficiente de atenuao para a voltagem, /2, em neppers/metro
(Np/m).
Linhas de Transmisso 67
ordem de 0.2 dB/km e possuem pouca disperso, permitindo enlaces de mais de 100 km a taxas de
dezenas de Gb/s por laser (centenas de lasers em diferentes comprimentos de onda podem ser
transmitidos simultaneamente em uma nica fibra ptica, provendo assim uma taxa agregada de dezenas
de Tb/s). O aproveitamento da imensa largura de banda fornecida pelas fibra pticas motivo de intensas
pesquisas em Fsica e Engenharia.
Apndice A A Frmula de Euler 69
APNDICES
A. A Frmula de Euler
A frmula de Euler
A derivada de f
df
= sin x + j cos x = j ( j sin x + cos x) = jf ( x)
dx
e portanto
df
= jf (A.3)
dx
ou
df
= jdx .
f
ln[ f ( x )] = jx f ( x ) = e jx ,
Se na (A.1) trocarmos x por x, teremos e jx = cos x j sin x e, combinando este resultado com
(A.1) temos as frmulas
e jx + e jx
cos x = (A.4)
2
e jx e jx
sin x = . (A.5)
2j
Note que na deduo no falamos nada sobre x ser real ou no. Portanto, as frmulas A.1, A.4 e A.5
so vlidas tambm para x complexo. Em particular, se escrevemos x = ju, ento obtemos
70 Circuitos de Corrente Alternada
e u + eu
cos ju = = cosh u (A.10)
2
e u eu
sin ju = = j sinh u . (A.11)
2j
Apndice B Srie e Transformada de Fourier 71
Uma funo peridica com um nmero finito de descontinuidades no intervalo (-T/2,T/2) pode ser
representada como uma srie de Fourier
v(t ) = 12 a0 + an cos(2f nt ) + bn sin(2f nt ) (B.1)
n =1
onde fn = nf = n/T e
T /2
an = T2 v(t ) cos(2f nt )dt
T /2
(B.2)
T /2
bn = T2 v(t ) cos(2f nt )dt
T /2
onde n = 2fn.
Se a funo impar [v(t) = -v(-t)] ento os coeficientes an se anulam e a srie vira uma srie de senos.
Se a funo par [v(t) = v(-t)] ento os coeficientes bn se anulam e temos uma srie de co-senos. A parte
ac de algumas funes pode ser par ou impar dependendo da escolha da origem dos tempos. As ondas
triangular e quadrada so exemplos deste tipo de funes.
No caso geral (mesmo se a parte ac da funo no mpar nem par) ainda podemos representar v(t)
como uma srie de co-senos defasados:
v(t ) = v0 + vn cos(nt + n ) (B.3)
n =1
vn = an2 + bn2
(B.4)
n = tan 1 (bn / an )
Esta forma (B.3) de representar a srie de Fourier tem a vantagem de que as amplitudes vn no
dependem da origem dos tempos. O conjunto dos coeficientes vn2 como funo de fn (n = 0, 1, 2..)
chamado espectro de potncia (discreto) da funo v.
Ainda outra forma de representar a srie de Fourier atravs de coeficientes e exponenciais
complexas
72 Circuitos de Corrente Alternada
v(t ) = cn e jnt (B.5)
n =
onde
T /2
cn = T1
T /2
v(t )e jnt dt . (B.6)
c0 = v0 = vdc (B.7)
cn = 12 vn e jn . (B.8)
O anlise espectral tal vez a ferramenta de anlise de funes mais poderosa que existe. A maioria
dos grandes avanos cientficos dos ltimos dois sculos foram devidos s vrias formas de
espectroscopia experimental.
Relacionar funes do tempo aos espectros correspondentes era antigamente uma tarefa rdua e
demorada mas se transformou em uma tarefa simples e corriqueira com a ajuda dos computadores. Os
programas de clculo cientfico para computadores incluem sempre um algoritmo muito eficiente de
clculo do espectro discreto de uma funo qualquer, chamado FFT (Fast Fourier Transform).
Um instrumento muito til em laboratrio de eletrnica o Analisador de Espectros, parecido a um
osciloscpio, mas que mostra na tela diretamente o espectro do sinal de entrada. Atualmente a maioria dos
osciloscpios digitais so tambm analisadores de espectro, j que estes possuem um computador interno
que utilizam rotinas de FFT para calcular rapidamente o espectro discreto do sinal de entrada.
interessante mostrar para o aluno como o espectro de duas funes particulares: uma funo
constante e uma co-senide pura. No caso de uma funo constante,
v(t) = vdc,
temos
cn = vdc n0, (B.9)
nn = 1.
Ou seja, o espectro discreto de uma constante uma delta de Kroenecher na frequncia zero (n = 0).
No caso de uma funo co-seno,
v(t) = V0 cos(t),
temos
Apndice B Srie e Transformada de Fourier 73
Ou seja, o espectro discreto de uma funo co-seno puro tem duas deltas de Kroenecher, uma em (n =
1) e outra em (n = 1).
O interessante destes espectros contendo deltas de Kroenecher que eles facilitam o entendimento de
uma das funes mais teis em fsica e engenharia: a delta de Dirac, discutida no Apndice C.
As sries de Fourier no fazem sentido para funes no peridicas. Funes no peridicas podem
ser representadas no domnio da frequncia atravs da integral de Fourier
v(t ) = 21 V ()e jt d (B.11)
A funo V() o espectro contnuo e |V()|2 o espectro de potncia da funo v(t). A funo v(t)
a Transformada de Fourier Inversa ou Antitransformada de V(). Um espectrmetro ptico mede o
espectro de potncia de uma fonte de luz.
Note que a transformada de Fourier se define para frequncias positivas e negativas. Se v(t) real,
ento
onde (), que definimos (veja o Apndice C para uma definio rigorosa) como
() = 21 e jt dt , (B.14)
a assim chamada delta de Dirac. A eq. B.13 o anlogo contnuo do resultado (B.9) para o espectro
discreto.
Do mesmo modo, a transformada de Fourier de v(t) = V0 cos(0t) parece no existir. Mas se notamos
que cos(0t ) = (e j0t + e j0t ) / 2 , ento
V () = V0 [( 0 ) + ( + 0 )] . (B.15)
Ou seja, o espectro de um co-seno puro com frequncia 0 contm uma delta em = 0 e outra em =
0. Isto se deve a que a transformada de Fourier definida para frequncias positivas e negativas.
25
G.B. Arfken and H.J. Weber, Mathematical Methods for Physicists, 4th ed., Academic Press, San Diego, 1995.
74 Circuitos de Corrente Alternada
Comparando a (B.15) com a (B.10), vemos que a delta de Dirac de certo modo anloga a delta de
Kroenecher no caso discreto.
A antitransformada de uma funo espectral constante proporcional delta de Dirac no domnio do
tempo:
(t ) = 21 e jt d . (B.16)
onde A a rea do pulso de excitao. s vezes a delta de Dirac como funo do tempo chamada
tambm funo impulsiva. A transformada de Fourier do pulso B.17 V() = A. Ou seja, o espectro da
delta uma constante: O espectro de um pulso muito curto contm todas as componentes de Fourier.
A antitransformada de Fourier de um produto de funes de
H () = F ()G () , (B.18)
onde F() e G() so, respectivamente, a transformada de Fourier de f(t) e g(t), dada por
h(t ) = f (t ) g (t t )dt . (B.19)
Esta integral se conhece como produto de convoluo de f e g. O contrrio tambm verdade: se uma
funo h(t) o produto de convoluo de f(t) com g(t), ento vale a B.18. Este resultado se conhece como
Teorema da Convoluo ou Teorema de Faltung (que no o nome de nenhum matemtico famoso;
apenas uma palavra do alemo, que significa dobra).
Este teorema tem muitas aplicaes. Em particular, a lei de Ohm generalizada para uma impedncia
Z() tem a forma V () = Z () I () e, portanto,
v(t ) = z (t )i (t t )dt , ( V () = Z () I () ) (B.20)
onde z(t) a antitransformada da impedncia. A B.20 nos d a voltagem sobre Z para uma corrente i(t)
arbitrria (no necessariamente senoidal).
Outro exemplo a determinao da voltagem de sada de um filtro eltrico com funo de
transferncia H() para um sinal de entrada arbitrrio ve(t): dado que Vs () = H ()Ve () , temos que
vs (t ) = v (t ) h(t t )dt ,
e
onde f(x) qualquer funo bem comportada e o intervalo de integrao inclui a origem.
Como caso especial de C.2,
( x )dx = 1 . (C.3)
Note que em C.1 no definimos o valor da delta em x = 0, mas em C.2 definimos o que (x) faz
dentro de uma integral. No sentido matematicamente estrito da palavra, a delta de Dirac no realmente
uma funo porque no est definido o seu valor numrico em x = 0. No correto dizer (0) = , j
que um infinito muito especial: tal que a C.2 deve valer.
A delta de Dirac utilizada para expressar matematicamente uma excitao impulsiva, tal como a
fora de uma raquetada sobre uma bola de tnis, uma fonte pontual de luz, ou a densidade de carga de
uma partcula pontual. A fora de uma raquetada aplicada no instante t = 0 F(t) = (t)p, onde p a
variao de quantidade movimento da bola de tnis, e a densidade de carga de um eltron na posio
(vetor) r = 0 (r) = e(r) = e(x)(y)(z).
Como funo do tempo, a delta de Dirac muito conveniente para descrever a resposta de um sistema
a interaes que acontecem em uma escala de tempo grande comparada com a durao da interao. Por
exemplo, em uma tacada numa bola de bilhar ou uma raquetada em uma bola tnis, a fora pode ser
representada como uma delta de Dirac j que geralmente estamos interessados nos efeitos dessa fora
aps a interao. Se olharmos a interao em cmara lenta, veremos deformaes tanto na bola como no
taco de bilhar ou na raquete, responsveis pela transferncia de momento e energia, e constataremos que
em nenhum instante a fora infinita ou descontnua. A delta de Dirac um artifcio muito til para
descrever matematicamente a resposta impulsiva, seja porque no estamos interessados nos detalhes da
interao ou porque no dispomos de instrumentos com a resoluo temporal necessria para ver a forma
do pulso.
Do mesmo modo, uma estrela distante pode ser pensada como uma fonte de luz pontual, e
representada como uma delta, mesmo que, na realidade, a estrela em questo possa ser muito maior que o
nosso Sol.
A delta de Dirac pode ser introduzida rigorosamente como o limite de uma sequncia de funes (os
matemticos chamam uma sucesso de funes como uma distribuio). Consideremos por exemplo
pulsos de durao T/n e amplitude n/T:
0 se | t |> T / 2n
n (t ) = . (n = 1, 2,) (C.4)
n / T se | t |< T / 2n
Estes pulsos esto mostrados na Fig. C-1 para n = 1, 5 e 20. Quando n a durao tende a zero e a
amplitude tende a infinito mantendo a rea dos pulsos constante: n (t )dt = 1 .
76 Circuitos de Corrente Alternada
16
14
12
10
n(t)
8
n = 20
6
n=5
4
n=1
2
0
-0.5 0 0.5
t/T
Fig. C-1.Pulsos definidos na eq. C.4 para n = 1, 5 e 20. Para n muito grande teremos uma representao da
delta de Dirac.
A sucesso de funes 1(t), 2(t), tende delta de Dirac, no sentido que, para qualquer funo
f(t) bem comportada,
lim n (t ) f (t ) dt = f (0) . (C.5)
n
A sequncia (C.4) no a nica que se comporta como uma delta no limite. Outras sequncias de
funes que tendem delta de Dirac so:
2 2
n ( x) = n e n x ; (gaussiana) (C.7)
n
n ( x) = ; (lorentziana) (C.8)
(1 + n2 x 2 )
sin nx
n ( x) = ; (sinc) (C.10)
x
n
n ( x ) = 21 e jxt dt ; (C.11)
n
0 ( x < 0)
n ( x) = nx ; (exponencial de um lado s) (C.12)
ne ( x > 0)
Apndice C Funo Delta de Dirac 77
Ao longo de sua carreira, o/a aluno/a de fsica ou engenharia ver que estas funes aparecem em
muitos problemas. A gaussiana (C.7) e a lorentziana (C.8) aparecem, por exemplo, na espectroscopia
atmica. A funo sinc (sinc x = sin x/x) aparece na difrao por uma fenda e no espectro de um pulso
quadrado. A secante hiperblica ao quadrado (C.9) utilizada para representar um pulso curto realista, j
que como funo do tempo (x = t) contnua e decai exponencialmente com |t| (e h boas razes para
esperar que isto acontea no sinal eltrico produzido por um gerador de pulsos realista ou um pulso de luz
emitido por um laser).
interessante notar que a transformada de Fourier do pulso quadrado (C.4) proporcional funo
sinc (C.10) e que a transformada da exponencial de um lado s (C.12) proporcional lorentziana (C.9).
Isto no casualidade: se uma sequncia de funes representa a delta, ento a sequncia formada pelas
transformadas de Fourier tambm representa uma delta. A gaussiana e a sech (secante hiperblica) no
fogem desta regra (a transformada de Fourier de uma gaussiana uma gaussiana e a de uma sech uma
sech).
A C.11 essencialmente a transformada de Fourier de um sinal contnuo:
() = 21 e jt dt , (C.13)
Muitas funes descontnuas podem ser representadas como limite de uma sequncia de funes
contnuas. Um exemplo importante a funo degrau ou funo de Heaviside
0 se t < 0
u (t ) = , (C.15)
1 se t > 0
un (t ) = 12 [1 + tanh(nt )] . (C.16)
A C.17 empregada na anlise de circuitos excitados por um degrau realista, j que impossvel no
laboratrio gerar uma forma de onda idealmente descontnua. A derivada de un ,
dun n
= 2 sech 2 nt = n (t ) . (C.17)
dt
uma representao da delta de Dirac (veja a C.9) e escrevemos ento
du (t )
(t ) = . (C.18)
dt
Ou seja, a derivada da funo degrau a delta de Dirac. A Fig. C-2 mostra as sequncias C.16 e C.17.
78 Circuitos de Corrente Alternada
a) b)
10
1
1 9
un ( x ) = 2
1 + tanh nx
n
8n ( x ) =
0.8 2 cosh 2 nx
7
0.6 n = 20 6
5
n=5 n = 20
0.4 4
n=1 3 n=5
0.2 2
n=1
1
0 0
-2.0 -1.0 0.0 1.0 2.0 -2.0 -1.0 0.0 1.0 1.0
x x
Fig. C-2. a) Representao da funo degrau como sucesso tangentes hiperblicas (eq. C.16) e b) da delta de
Dirac como sucesso de secantes hiperblicas ao quadrado (eq. C.17). Para cada valor de n =1, 5 e 20, a
funo em b) a derivada da funo correspondente em a).
( x ) f ( x) dx = f (0) . (C.20)
onde f(x) qualquer funo bem comportada, contnua e derivvel em x = 0, e a integral inclui a origem.
Como caso particular de C.20,
( x )dx = 0 . (C.21)
z (t ) 21 j1C e jt d = 21C
t
(
jt
) t
e d dt = C1 (t )dt = C1 u (t ) .
(C.24)
Nos trs casos (R, L e C) temos que z(t) = 0 para t < 0. Esta uma propriedade geral de um tipo
importante de sistemas lineares que representam sistemas fsicos: obedecem ao princpio de causalidade.
Na lei de Ohm generalizada (eq. B.20) a voltagem no instante t depende em geral da corrente i(t) em
todos os instantes anteriores a t, mas no pode depender dos valores da corrente em tempos futuros: na eq.
B.20, deve ser z(tt) = 0 para t > t. Portanto,
z(t) = 0 para t < 0. (C.25)
Funes que satisfazem C.25 so chamadas funes causais.
0
abcdebfghifcbjkhbdgh
1
2
3405678976
407
40906
487440909967
0967
04676
8007
0040090777
8990
947
8490947
8990
045678909047498
4090787
03077
09494047498
405
6
00
7
8909086940967409080 90
40!85
7
4090!04906
468
44980980!85
7
40
906
090!0"494047498
40596
80980#
7
09409098066990$
0906
806
57
8990
4#47$405607
408%47
4098066990
96
0&9690408740 9056577
6
80944
0
8
0598407
6'0(7)0040406
468
6940 905447#770
06
487440909967
0967
0
980$9740909408708
769400 90
994077
40
096
090
0
6
06970
40596
400
47498
05968770
06
487440980
4074*7
4+090(77)004678904096
69409086940980
66990
96
0467
89908
7404785940908
740#
6
40 90
408% 7
4098066990$
0
&96904047498
4098066990
96
0067%470649008
740979905606
,9407
4090
9-87
40(80
06
487440905.7
08089604090
077
040869409070
67%474)00905
440
0496005
605
6
0
096
06
487440907467#70909967
098066990
96
0/6060
0
40
6
407
40
4047498
4067%47405980496067%47
4008%47
40340
6
4067%47
4068
8990409 77#6
400490
04047$
405606.407859*7
407
7407
40
9809469
0098067*0340
6
408%47
408056099850
40
6
409074
,940694797
740
5604
090598076760949 7$#6740047498
0694
0980
6
4067%47
409 7
9940
949 77#6
4000000
0
1949090
840977604047498
4057%47409094
609805
67
604047498
4067%4740
77
8990
840
56949
60
8
40977,9407856
940 90496077
40
009000
90"80497
0769840
56949
6084090%05
6
0
0
%7490907674067%4740
789
0
6
4067%47
409 77#6
407
40
6
40
40
4068
40544$97409809469
09098067*0"80
7
076984094
605.7
098047498
4067%4740&97769840409740905.7
0
7
0
69
7
090
5
6990908405
6
0
04
0897090
%7490
0
0
23456789:9;<7=5>7?@9=5
0
&97784080A47498
09094,94057%4709047867B0(
0C0
494)08047498
09094,940075'0
0
0 DG H E F IJKLM0
P GS
0 DN H E F IJKRLM O NV U0
Q CT
P NS
0 DW H E F IJKRLM O NV U0 (GG)
Q CT
0 0XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX 0
0 P C O GS 0
DC H E F IJKRLM O NV U
Q C T
0 0 0 0 0 0 0 0
90C0080Y896079760
96008960 906.40"805
67
60
0CZW79840 90047498
0
067%470
0
&
097709047498
057%470#496
840 90
74047498
404047$40560800090C0
449[79409089480
608%780E F 0090808
09
4
98090\V]C^6
09690
4094,940
49447
40
74 960
0
34094,940906699404047498
4067%4740406956949
40560
4694_`400598406956949
600
47498
067%47'0
0
0 0
0
1
5
6 8 7 5 6 8 5972
5 6 8 37 4 516 8 2
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CIRCUITOS DE CORRENTE
CONTNUA
Apesar da maioria das instalaes eltricas, hoje em dia, no serem em corrente contnua,
a teoria a ser vista neste captulo constitui uma base para as demais aplicaes que so
utilizadas em eletricidade.
q1q 2
F= (2.1)
4r 2
onde:
F - fora em N (Newton);
q1, q2 - cargas eltricas em C (Coulomb);
r - distncia entre as cargas em m;
- constante que depende do meio, em F/m (Faraday/m). Para o vcuo = o = 8,85
x 10-12 F/m.
q1
F= q 2 = E 1 .q 2
4 r2
q1
onde E 1 = constitui o campo eltrico provocado pela carga q 1 , e dado em V/m
4r 2
(Volt/m). Na realidade, tanto o campo eltrico E1 como a fora F so grandezas vetoriais,
conforme apresentado na Fig. 2.1, para cargas positivas e negativas.
v
v q2 v F v
dr + E F P+v q2
1p - E1
+q1 + r
-q1
a) Carga positiva b) Carga negativa
Pode-se definir, tambm, o trabalho, W, realizado pela carga q2 ao ser deslocada desde
um ponto muito distante () at a distncia r de q1 como sendo:
r r r
vv r v v v
W = Fdr = q 2 E1dr = q 2 E1dr
(2.2)
O potencial eltrico, Vr, uma grandeza escalar, definida como sendo o trabalho W por
unidade de carga (q2), ou seja:
r
v r
W
Vr = = E1 d r V (2.3)
q2
Nota-se que o potencial eltrico independe da carga q2 . Pode-se, a partir deste conceito,
calcular o trabalho para deslocar a carga q2 de A at B, como sendo:
v v B v v B
v v
WAB
A
= q 2 E1dr q 2 E1dr = q 2 E1dr
A
(2.4)
WAB = q 2 VA (q 2 VB ) = q 2 (VB VA )
Define-se a intensidade de corrente eltrica (i ) que atravessa uma superfcie, Fig. 2.2,
como a quantidade de carga eltrica que atravessa a superfcie por unidade de tempo.
Assim a corrente ser dada por:
q dq C
i = lim = em = A (Ampre) (2.5)
t 0 t dt s
q l
onde:
W - a energia dissipada no condutor em J (Joule);
I - a corrente eltrica em A;
R - a resistncia eltrica do condutor em (Ohm).
W
Assim, a potncia dissipada por efeito Joule pode ser dada por P = = RI 2 e medida
t
em J/s ou W (Watt). Se a corrente for funo do tempo i = i(t), ento a potncia
instantnea ser p( t ) = R i 2 ( t ) e, para um tempo t, a energia dissipada ser
W = R i 2 ( t ) dt .
0
l
R = (2.7)
S
onde:
l o comprimento do condutor em m;
S a rea da seco transversal em m2;
a resistividade eltrica do material em m
Quando a rea do condutor medida em mm2 a resistividade passa a ser medida em
mm2 / m.
1 1
G= (em mho ou S = Siemens) e = (em mho/m ou S/m)
R
Pela Lei de Joule, eq. (2.5), a energia dissipada num condutor percorrido por uma
corrente constante I dada por W = RI 2 t = RI I t . Sendo I t = q , tem-se W = RIq . Ora, a
ELETROTCNICA GERAL 13
energia pode ser tambm avaliada como sendo o trabalho para levar a carga q entre os
dois pontos extremos do condutor, que pode ser dada por W = Vq onde V a diferena de
potencial entre esses pontos. Igualando as expresses para clculo da energia dissipada no
condutor:
W = RIq = Vq
V=RI (2.8)
onde V a d.d.p. (ou tenso) entre os extremos do condutor; a expresso ser vlida
sempre que a resistncia R for constante.
Resistividade
T=0 T Temperatura oC
Sabe-se que um gerador eltrico converte energia de alguma forma para energia eltrica;
uma pilha, por exemplo, converte energia qumica em energia eltrica. A fora
eletromotriz E nos terminais do gerador, constitui a tenso ou d.d.p. necessria
circulao de corrente, suprindo a energia que o circuito requerer. A potncia fornecida
pelo gerador ao circuito pode ser calculada por:
dW dW dq
P= = = E.i
dt dq dt
2.3 BIPOLOS
Bipolo eltrico qualquer dispositivo eltrico com dois terminais acessveis, mediante os
quais pode ser feita a sua ligao a um circuito.
Um resistor com resistncia constante, por exemplo, um bipolo passivo linear pois sua
funo V=RI representada por uma reta passando pela origem, com coeficiente angular
R.
Uma bateria pode ser representada pela associao de um gerador ideal com f.e.m. E, em
srie com uma resistncia, que representa a resistncia interna da bateria. A diferena de
ELETROTCNICA GERAL 15
potencial entre os terminais da bateria (A e B) igual soma das d.d.ps. entre os pontos
A e B e, entre os pontos C e B, que dada por:
Conforme Fig. 2.4.b, a reta cruza os eixos nos pontos de coordenadas (0,E) e (Icc,0), e
representa um bipolo ativo linear.
O valor de Icc, tambm chamado de corrente de curto circuito do bipolo ativo, representa
o valor da corrente quando a tenso no terminais do bipolo nula, ou seja, quando os
terminais do bipolo esto ligados em curto circuito.
I
V +
V=RI
V
R
(tg=R)
I -
a - bipolo passivo
V A I +
+ I
E VAC=E
C
V= E - rI E V
V r
VCB=-RI I
E
ICC =
r r
- -
E I B
ICC =
r
b - bipolos ativos
A f.e.m. E chamada de tenso em vazio, pois representa o valor da tenso nos terminais
do bipolo quando a corrente nula, isto , quando seus terminais esto em circuito aberto.
16 2. CIRCUITOS DE CORRENTE CONTNUA
Exemplo 2.1
Para o circuito da Fig. 2.5 pede-se determinar a tenso nos terminais do bipolo ativo e a
corrente eltrica que circula no circuito.
+ E=6V V=RI
+
I
5.4V
E=6V
V V R=0,18
r=0,02 V=E-rI
- -
30A ICC=300A
Resoluo analtica: Como se pode notar na Fig 2.5a, os valores de tenso nos terminais
e corrente, para os dois bipolos, so iguais. Sendo:
6
6 0,02I = 0,18I I = = 30A
0,2
e
V = 0,18 30 = 5,4 V
ELETROTCNICA GERAL 17
Um gerador de corrente ideal aquele que mantm uma dada corrente, G , independente
do valor da tenso nos seus terminais. representado conforme a Fig. 2.6 a.
I=IG I
Ir
IG IG r V
V
V
I = IG Ir = IG ou V = r IG r I (2.9)
r
Note-se que a curva caracterstica de um gerador de corrente real, eq. (2.9), idntica
de um gerador de tenso (ou bateria) que tenha resistncia interna r e corrente de curto
circuito dada por G = E / r. Assim, um gerador de corrente real pode ser substitudo por
um gerador de tenso equivalente e vice-versa. comum, para geradores de corrente,
utilizar-se a condutncia ao invs da resistncia. Sendo g = 1/r, a equao do bipolo
torna-se:
I = IG g V ou V = ( IG I ) / g
18 2. CIRCUITOS DE CORRENTE CONTNUA
A - Associao em srie
I
I
+
I1 + I I1 In
I2
V1 Bipolo 1 V +
Req
Vn V
V2
I2 Bipolo V V1
V2 Bipolo 2 equivalente Bipolo 1
Bipolo 2 Bipolo n
Veq
I3 -
V3 Bipolo N -
I
- +
a - em srie b- em paralelo V
Observa-se que bipolos associados em srie so percorridos pela mesma corrente e sua
tenso resultante dada pela soma das tenses individuais, Fig. 2.7.a. Formalmente
resulta:
I1 = I 2 = ... = I n = I
V1 + V2 + ... + Vn = V
Para o caso de bipolos ativos e lineares (o caso de bipolo passivo um caso particular de
bipolo ativo com f.e.m. nula), resulta:
V = V1 + V2 + ... + Vn = [E 1 R 1 I1 ] + [E 2 R 2 I 2 ] + ... + [E n R n I n ] =
= E
i =1, n
i R
i =1, n
i I= E
i =1, n
i I R
i =1, n
i = E eq R eq I (2.10)
ELETROTCNICA GERAL 19
Ou seja, da eq. (2.10) obtm-se que a f.e.m. do bipolo equivalente dada pela soma das
f.e.m.s. individuais de cada um dos bipolos e a resistncia equivalente dada pela soma
das resistncias individuais.
B - Associao em paralelo
Na associao em paralelo de bipolos, Figura. 2.7.b, a tenso terminal dos bipolos igual
e a corrente total dada pela soma das correntes individuais. A determinao do bipolo
equivalente levada a efeito com maior simplicidade pela substituio dos bipolos
individuais de tenso por bipolos de corrente real. Resultam as seguintes relaes:
V1 = V2 = ... = Vn = V
I1 + I 2 + ... + I n = I
Para cada bipolo tem-se i = cci - giVi, logo para a associao resulta:
I = I1 + I 2 + ... + I n = I
i = 1, n
CC,i g
i = 1, n
i Vi = I
i = 1, n
CC,i V g
i = 1, n
i (2.11)
V = E eq R eq I
onde:
I
i =1, n
CC,i
1
E eq = e R eq =
g i =1, n
i g
i =1, n
i
Exemplo 2.2
Para o circuito da Figura. 2.8, em que se tem dois bipolos ativos e um passivo, sendo
R1=0,02 ; R2=0,08 , R3= 0,20 , E1= 5 V e E2= 10 V. Pede-se:
a) O bipolo equivalente da associao srie-paralelo dos trs bipolos.
b) A corrente e a tenso nos terminais V, do bipolo equivalente quando alimentar, entre
seus terminais A e B, uma resistncia R de 10.
20 2. CIRCUITOS DE CORRENTE CONTNUA
+ A
Bipolo 1 + A
R1
I
E1
req(1,2,3)
R3 V V
Eeq(1,2,3)
R2 Bipolo2 Bipolo 3
E2 B
B
Figura 2.8 - Associao de bipolos do exemplo 2.2
E eq (1+ 2) = E 1 + E 2 = 5 + 10 = 15 V
R eq (1+ 2) = R 1 + R 2 = 0,02 + 0,08 = 0,10
15 1
I CCeq (1+ 2) = = 150 A e g eq (1+ 2) = = 10 S
0,10 0,10
logo
1
E eq (1,2,3) = 150 = 10 V
15
1
req (1, 2,3) = = 0,0667
15
ELETROTCNICA GERAL 21
E eq (1, 2,3) 10
I= = = 0,9934A
req (1, 2,3) + R AB 0,0667 + 10
V = R AB I = 10 0,9934 = 9,934V
A resoluo analtica de redes que contam com bipolos no lineares geralmente obtida
atravs de processo iterativo. Por outro lado, a resoluo bastante simplificada
utilizando-se procedimentos grficos.
Na Figura 2.9 apresenta-se um bipolo ativo linear, bipolo 1, que supre um bipolo passivo
no linear, bipolo 2, caracterizado por caracterstica externa V=f(). A soluo analtica
dessa rede poderia ser feita fixando-se um valor arbitrrio I(0) da corrente impressa no
bipolo passivo. A partir dessa corrente determina-se, atravs da curva V(1) = f(I(0)), a
tenso em seus terminais. A partir dessa tenso calcula-se a corrente fornecida pelo
bipolo ativo:
E V (1)
I (1) = .
r
I E
V = f (I)
Ponto
r Bipolo
V V de operao
no linear
E V=E-r I
I IC C
a) Circuito b) Resoluo Grfica
Figura 2.9 - Bipolos No Lineares
22 2. CIRCUITOS DE CORRENTE CONTNUA
Para a soluo grfica destaca-se que, em operao em regime permanente, as tenses nos
terminais dos dois bipolos e suas correntes devem ser iguais. Logo, o ponto de operao
ser dado pela interseo das duas curvas. Na Figura 2.9.a apresenta-se o mtodo de
resoluo grfica deste circuito.
Uma rede de bipolos um conjunto de bipolos ligados entre si. Pode-se definir, ainda,
para uma rede :
1 2 3
10 5
1 2 4 6 7
4 3 8 6
5
A rede de bipolos da Figura. 2.10 um exemplo que conta com 6 ns, 10 ramos e vrias malhas
(por exemplo: ramos 1-2-3, ramos 4-5-7-8, ramos 1-10-5-7-9, etc.).
I2
2 1 I1
Ii=0
j I1 - I2 - I3 + I4 +...+In = 0
I3 In
3 n
4
I4
2 Lei de Kirchhoff: A soma algbrica das tenses, medidas ordenadamente nos ramos de
uma malha, nula (conforme a Figura. 2.12).
Vi=0
V1 Vn
V1 - V2 - V3 +...Vn = 0
V2
V3
A aplicao da 1 Lei de Kirchhoff numa rede de bipolos com n ns, resulta num sistema
com n-1 equaes independentes, de vez que, ao aplic-la ao ensimo n, determinar-se-
uma equao que combinao linear das demais equaes.
Para o caso geral de um circuito com r ramos e n ns, deve-se determinar r correntes e r
tenses, isto , tem-se 2r incgnitas. Da aplicao da Lei de Ohm aos ramos da rede
obtem-se r equaes independentes. Da aplicao da 1 Lei de Kirchhoff obtem-se mais
n-1 equaes. Portanto devemos aplicar a 2 Lei de Kirchhoff a um nmero m de malhas
dado por:
m = 2r (n 1) r = r n + 1
Qualquer circuito eltrico CC composto por bipolos lineares, pode ser resolvido pelo
emprego das leis de Ohm e de Kirchhoff, resultando em sistemas de 2r equaes e 2r
incgnitas. Neste texto veremos outros mtodos mais simples de resoluo de circuitos.
Exemplo 2.3
I1 I4
1
0,02 I3
V1
5V
I
V3 II 10 V4
2
0,2
0,08
V2
10V
A rede conta com 4 ramos e 3 ns e tem-se 8 incgnitas (V1, V2, V3, V4 e 1, 2, 3, 4):
V1 = 5 - 0,02 I1
V2 = 10 - 0,08 I2
V3 = 0,2 I3
V4 = 10 I4
ELETROTCNICA GERAL 25
I1 - I3 - I4 = 0 (n 1)
I1 - I2 = 0 (n 2)
V1 + V2 - V3 = 0 (malha I)
V3 - V4 = 0 (malha II)
I1 - I3 - I4 = 0
I1 - I2 = 0
5 - 0,02 I1 + 10 - 0,08 I2 - 0,2 I3 = 0
0,2 I3 - 10 I4 = 0
Destaca-se que 4 e V4 so os mesmos valores obtidos para o exemplo 2.2 resolvido por
associao de bipolos.
malha correspondente. A corrente em cada ramo a soma algbrica das correntes fictcias
que o percorrem. Aplicando-se a 2 Lei de Kirchhoff para as m malhas, determina-se um
sistema com m equaes e m incgnitas, que so as correntes fictcias para cada malha.
Exemplo 2.4
Resolver a rede da Figura. 2.14 pelo mtodo das correntes fictcias de Maxwell.
Adotam-se as correntes fictcias e para as malhas independentes I e II,
respectivamente.
I1 I4
1
0,02 I3
V1
5V
V3 10 V4
2
0,2
0,08
V2
10V
0,3 - 0,2 = 15
- 0,2 + 10,2 = 0
ELETROTCNICA GERAL 27
Exemplo 2.5
r2=8
ICC1 = 50A g1=0,5S -
R=3,4
E2 = 150V
+
B I
I1 I
A A
a) Clculo de I
b) Clculo de I
150
I2 = = 16,2A e V2 = 150 + 16,2 8 = 20,4V .
8 + 1,25926
Logo
ELETROTCNICA GERAL 29
V2 20,4
I" = = = 6A
R 3,4
c) Clculo de I = I + I
Logo a rede pode ser substituda por um gerador linear de f.e.m. E = V0 e resistncia
interna r = V0 / 0. Tal gerador denominado gerador equivalente de Thvenin,
Figura.2.17.d
A rede tambm pode ser substituda por um gerador de corrente, com corrente de curto
CC = 0 e condutncia interna g = 1/r = 0 /V0. Nesse caso, denominar-se o gerador de
gerador equivalente de Norton, conforme a figura 1.14e.
A A
A
Z Io
Vo
B B
B
A A
Vo
r=
Io
Io
Z g= Z
Vo Io Vo
B B
Exemplo 2.6
Para a rede do Exemplo 2.5 determinar o gerador equivalente de Thvenin, visto dos
pontos A e B, que fornecer a corrente para a resistncia R.
B
a.Tenso de vazio b. Resistncia equivalente c.Ger.eq.
Figura 2.18 - Circuito do exemplo 2.6
ELETROTCNICA GERAL 31
100 + 150
I1 = = 25 A e V0 = 8 25 150 = 50 V
8+2
2 8
r0 = = 1,6
2+8
50
I= = 10 A
1,6 + 3,4
que o mesmo valor obtido no exemplo anterior, onde foi aplicado o princpio da
superposio de efeitos.
Eletricidade Bsica
Princpios de
Eletromagnetismo
Passaremos agora discusso dos fen-
2
menos necessrios para a compreenso do fun-
cionamento de geradores e circuitos de cor-
rente alternada, que so os fenmenos que en-
volvem a juno de eletricidade com magne-
tismo. Faremos uma breve exposio dos fe-
nmenos magnticos mais simples, para de-
pois abordarmos o eletromagnetismo propria-
mente dito. FIGURA 23
FIGURA 28
o Ni
H=
l
Fm = H oil sen
FIGURA 30.2
FIGURA 30.3
20
Considerando o solenide com um com-
primento bem maior que o seu dimetro (tipi-
camente 10 ou mais vezes maior), podemos
simplificar que o campo magntico constan- FIGURA 31
Eletricidade Bsica
2.4 Campos Magnticos na Matria
Comentamos de maneira rapida, anterior-
mente acima que as propriedades magnti-
cas so fruto da distribuio eletrnica dos
FIGURA 31a eltrons ao redor do ncleo. De fato, uma
concluso fundamental da seo anterior
Foras entre dois fios condutores paralelos que cargas eltricas em movimento (corren-
O resultado descrito a seguir uma conse- te eltrica) geram ao redor de si um campo
qncia do tpico anterior. Como cada corren- magntico. No tomo, o que temos so os
te gera um campo ao seu redor, se colocarmos eltrons, cargas negativas, circulando ao re-
dois fios condutores, um ao lado do outro, cada dor do ncleo. Assim, para idealizarmos o
um sentir o campo criado pelo seu vizinho, que acontece, eles atuam como correntes em
sofrendo ento uma fora devido presena do circuitos fechados, como no caso da espira
campo gerado pelo fio que est ao seu lado. de corrente que comentamos. Assim, a com-
binao dos campos gerados por cada um
dos eltrons que pode determinar se o to-
mo como um todo que vai ter proprieda-
des magnticas ou no, conforme esquema
da figura abaixo. Este modelo foi proposto
por Ampre, e ficou conhecido por corren-
tes amperianas, pode ser encarado como
boa aproximao em casos mais simples.
FIGURA 32 Hoje em dia a explicao fechada para o
magnetismo vem da Fsica Quntica, que
Se aplicarmos as regras da mo direita nas recorre a conceitos novos como spin dos
ilustraes acima, podemos verificar que fios
eltrons, dentre outros conhecimentos.
percorridos por correntes paralelas de mesmo
sentido sofrem atrao. J fios percorridos por
correntes paralelas, mas de sentido contrrio,
sofrem repulso. A intensidade da fora trocada
pelos dois fios dada pela frmula seguinte:
o i1i2l
Fm =
2 r
FIGURA 33
Aqui i1 e i2 so as intensidades de corrente
de cada um dos fios, l o comprimento dos fios As expresses que passamos anteriormen-
e r a distncia entre eles. te para clculos de campos magnticos so para
clculo de campos no vcuo, ou, aproximada-
Nota: A definio de Ampre. mente, no ar. Quando um corpo material en-
A definio que passamos de Ampre an- contra-se na presena de um campo magntico,
teriormente (A = C/s) foi utilizada durante ele pode responder de vrias maneiras a este
muito tempo. Contudo, por questes prti- campo. O ferro, por exemplo, torna-se magne-
cas, de facilidade de medio para definir- tizado. J o plstico no sofre nenhuma altera-
se um padro, em 1946 foi dada uma nova o aparente. Assim, vamos definir a Induo
definio de Ampre: Magntica, B, cuja unidade no sistema interna-
Um ampre a corrente que mantida em cional (SI) o Tesla (T).
dois condutores retilneos e paralelos, sepa-
rados por uma distncia de um metro no [B] = T
vcuo, produz entre esses condutores uma
fora de 2,0 x 10-7N por metro de compri- 21
Este campo que vai surgir dentro dos
mento de fio. materiais quando sujeitos a um campo exter-
Assim, o Ampre passa a ser uma gran- no. Portanto, a Induo Magntica o campo
deza bsica do SI e o Coulomb, sua deriva- magntico efetivo em um determinado meio
da (C = A.s).
Eletricidade Bsica
material. Podemos imaginar a relao entre te neutros, como o ar e o vcuo. O co-
os dois campos, B e H, com base nas figuras bre aproximadamente amagntico.
abaixo: Diamagnticos: r < 1. Materiais que
exibem magnetizao contrria a do
campo externo aplicado.
Paramagnticos: r > 1. A permeabili-
dade no depende do campo externo,
constante, e o aumento do campo in-
terno no material no muito grande.
FIGURA 34.1 Ferromagnticos: r >>1. So os ma-
teriais que exibem maior magnetizao,
sendo, portanto, os mais aplicados em
escala industrial. Sua permeabilidade
magntica depende do campo aplica-
FIGURA 34.2
do, em um fenmeno denominado
Se mergulharmos um pedao de ferro doce histerese magntica.
em um campo magntico, os campos gerados
pelos eltrons (lembre-se das correntes ampe- 2.5 Fluxo Magntico
rianas!) dentro do ferro orientam-se a favor do Quando representamos as linhas de campo
campo externo H. Assim, o campo efetivo (B) magntico de um solenide nos pargrafos aci-
dentro do ferro aumenta, ao passo que o cam- ma, notamos que elas so linhas de campo fe-
po nas imediaes do lado de fora do ferro di- chadas. Isso significa que o nmero de linhas de
minui. A relao matemtica entre B e H dada campo dentro e fora do solenide o mesmo,
pela permeabilidade magntica, : embora as linhas estejam mais concentradas no
interior do solenide (campo mais intenso) do
B que no exterior. Um parmetro para medir a con-
= centrao das linhas em uma determinada regio
H o fluxo magntico. Ele definido em termos
da intensidade de um campo magntico atraves-
A permeabilidade magntica uma gran- sando uma superfcie, bem como a orientao
deza caracterstica de cada material e indica a do campo em relao a esta superfcie. A ex-
aptido deste material em reforar um campo presso para calcular o fluxo magntico :
magntico externo. O valor de m para o vcuo
(e como boa aproximao, o ar) dado por: = B.A.cos
r =
o
FIGURA 35
22 Assim, de acordo com o seu valor de per- No sistema internacional, medimos fluxo
meabilidade relativa, os materiais podem ser magntico por Weber:
classificados como:
Amagnticos: r = 1. Materiais que no []= Wb
so magnetizados, so magneticamen-
Eletricidade Bsica
2.6 Induo Eletromagntica , em que a variao do fluxo magntico
Os Fsicos so movidos vrias vezes pela em um certo intervalo de tempo t e N o
busca de simetrias na natureza. Um exemplo nmero de espiras atravs das quais o fluxo
disto foi a descoberta da induo eletromagn- est variando. Na nossa discusso acima, N =
tica pelo ingls Michael Faraday em 1831. Ao 1. Quanto maior for o nmero de espiras, mai-
observar a experincia de Oersted, em que uma or o valor da fem induzida.
corrente eltrica conseguia gerar um campo Uma aplicao elementar da Lei de
magntico, desvia no o ponteiro da bssola, Faraday o gerador linear ilustrado abaixo:
Faraday questionava se o inverso poderia acon-
tecer, ou seja, um campo magntico gerar uma
corrente eltrica. Vrios experimentos foram
feitos, sem se obter provas da deduo anteri-
or. Foi que Faraday, ao realizar o experimento
descrito abaixo, terminou por corroborar suas
idias.
FIGURA 36
FIGURA 37
Faraday observou que o galvanmetro (ins-
trumento para medir correntes pequenas) s acu- Os dois fios condutores que fecham o cir-
sava a passagem de corrente no circuito do lado cuito com a barra AB, tambm condutora, que
direito no momento em que ele ligava ou desli- est sendo puxada com velocidade V em uma
gava a chave do circuito do lado esquerdo da regio com campo magntico constante. Ao
figura. Contudo, no era medida corrente pela puxarmos a barra, obviamente, o valor do cam-
direita quando a chave permanecia ligada. Re- po magntico permanece constante. Ser ento
cordando o que j comentamos em outra seo, que no mediremos corrente no ampermetro
na esquerda da figura, quando a chave perma- colocado entre os condutores? A Lei de Faraday
nece ligada, passa corrente pelo solenide da nos diz que a variao do fluxo que causa o
esquerda, que gera dentro do solenide (e no surgimento de uma fem induzida. Quando pu-
pedao de ferro dentro dele) um campo magn- xamos a barra, a rea retangular dentro do cir-
tico constante. Do outro lado, devido ao ncleo cuito que est sendo atravessada pelo campo
de ferro comum, aparece tambm um campo est aumentando, logo, o fluxo do campo mag-
magntico no solenide direita da figura. A ntico tambm est aumentando, o que provo-
concluso de Faraday foi que no a presena ca o surgimento de uma fem no circuito, pro-
do campo magntico que provoca corrente, vocando a circulao de uma corrente. Vamos
e sim a variao do fluxo do campo magnti- encontrar uma expresso para a fem induzida.
co! Ao ligarmos ou desligarmos a chave do cir- O fluxo magntico ser:
cuito, o campo est variando at o seu valor
mximo ou diminuindo do mximo at zero.
= B . A . cos
Enquanto h variao do fluxo do campo mag-
ntico no ferro, h corrente induzida no outro
lado. Lembremos que para mantermos uma Aqui A a rea onde est passando cam-
corrente em um condutor, precisamos de uma po magntico dentro da espira, A = l . x. O
fem no circuito. Com isso, o enunciado da Lei ngulo formado pela direo perpendicu-
de Faraday pode ser escrito como: lar ao plano da espira e o campo B, logo = 0o
e cos = 1. Como o fluxo inicial era nulo (no
Toda vez que um condutor estiver sujeito havia rea na espira), pela Lei de Faraday, te-
a uma variao de fluxo magntico, nele mos para o mdulo da fem induzida:
aparece uma fem induzida, enquanto o
fluxo estiver variando.
Blx 23
Matematicamente, a expresso da Lei de =1 . = Blv
Faraday : t
= N , sendo x/t nada mais do que a velocidade
t mdia do condutor que est sendo puxado.
Eletricidade Bsica
Sentido da corrente induzida: Lei de Lenz paradas de equipamentos crticos para o pro-
Precisamos agora explicar o porqu do cesso produtivo de uma refinaria. No pode-
sinal negativo na Lei de Faraday. Tal interpre- mos nos esquecer, ainda, que equipamentos
tao dada pela Lei de Lenz, enunciada pela que contm baterias, como os j citados, po-
primeira vez pelo fsico russo Heinrich Lenz: dem provocar pequenas fascas entre os con-
tatos das baterias e dos aparelhos, o que pode
Os efeitos da fem induzida opem-se ser extremamente perigoso na presena de ga-
s causas que a originaram ses inflamveis!
Eletromagnetismo:
Aplicaes
Nos captulos anteriores, vimos de forma
3
Na verdade, so vrias as espiras que constitu-
simplificada os fenmenos eltricos, magn- em um enrolamento chamado de armadura. Os
ticos e os dois combinados no eletromagnetis- terminais da armadura so soldados aos anis
mo, para que pudssemos entender o funcio- chamados de coletores. Encostadas nos anis
namento e as caractersticas de instrumentos, coletores esto as escovas (feitas geralmente de
equipamentos e mquinas presentes no nosso grafita), que fazem o contato eltrico, entregan-
cotidiano. Nesta parte de aplicaes do curso, do ento a fem e corrente induzidas a um cir-
vamos ver como os fenmenos eletromagn- cuito. Embora tenhamos colocado plos de ims
ticos levaram ao funcionamento e as caracte- para simplificar a figura, na prtica, o campo
rsticas de geradores, motores eltricos, trans- magntico em que est imersa a armadura pro-
formadores, dentre outros que so to comuns duzido por eletroms dispostos na carcaa do
em nossos trabalhos. motor, o chamado estator. O enrolamento no
estator chamado de bobina de excitao de
3.1 O Gerador de Corrente Alternada campo, a qual alimentada por uma fonte de
corrente contnua (CC). Um corte mais deta-
Logo aps o desenvolvimento da Lei da
lhado deste motor pode ser visto na figura 40:
Induo, o prprio Faraday idealizou um mo-
delo de gerador que produzisse energia eltri-
ca de uma maneira mais eficiente e duradoura
do que as pilhas e baterias eletrolticas de at
ento. O modelo original de gerador de Faraday
tem em grande parte as caractersticas de um
gerador moderno como o que ilustramos es-
quematicamente abaixo.
FIGURA 40
1. Estator
2. Bobina de excitao de campo
3. Ranhuras que acomodam as bobinas de
excitao no estator
4. Eixo da armadura
5. Armadura
Alguns geradores (e motores) tm esta
montagem invertida: as bobinas de excitao
de campo esto no lugar da armadura e estas
FIGURA 39 que so postas para girar. As espiras que com-
Este tipo de gerador, tambm chamado de pem a armadura esto no estator, e sentem a
alternador, produz uma tenso alternada, ge- variao de fluxo magntico devido ao movi-
rando portanto uma corrente alternada, que mento de rotao das bobinas de excitao. 25
discutiremos posteriormente. Na figura 39, Fisicamente, os dois sistemas so equivalen-
temos uma bobina colocada entre os plos de tes. Esta montagem invertida utilizada em
um im, ou seja, ela est imersa no campo geradores trifsicos, dos quais falaremos pos-
magntico compreendido entre os dois plos. teriormente.
Eletricidade Bsica
O funcionamento do alternador pode ser Na figura 43 vamos acompanhar uma re-
explicado assim: um eixo est ligado s arma- voluo completa de uma espira para compre-
duras, colocando o conjunto a girar. Quando as endermos porque a fem induzida (e por con-
espiras da armadura comeam a girar dentro do seqncia a corrente) so geradas de forma
campo magntico, h uma variao de fluxo alternada.
magntico atravs das espiras, j que a orienta-
o destas em relao ao campo magntico est
mudando continuamente. Pelas Leis de Faraday
e Lenz, uma corrente induzida na armadura,
com os coletores jogando esta corrente no cir- = 0o sen = 0 = 0
cuito eltrico onde elas sero utilizadas. Isso Posio 1
nada mais que a converso de energia mec-
nica em eltrica. Nas hidreltricas, uma roda
de ps acoplada ao eixo do alternador, gira com = 90o sen = 1 = Vm
a passagem da gua e gera eletricidade. Nas
termoeltricas, a gua aquecida em caldeiras, Posio 2
o vapor resultante passa por uma turbina. O eixo
da turbina est acoplado ao alternador, gerando
= 180o sen = 0 = 0
eletricidade tambm.
Posio 3
= 270o sen = 1 = Vm
Posio 4
= 360o sen = 0 = 0
Posio 5
= 2f = 2/T
27
FIGURA 44 FIGURA 46
Eletricidade Bsica
Os pontos A+, B+ e C+ das bobinas so atravs do controle da corrente de exci-
os terminais ativos, onde as tenses geradas tao (a que percorre a bobina do eletrom
so fornecidas a condutores. Os pontos A, B que vai gerar o campo estacionrio), que se
e C so os pontos que representam o incio controla a tenso nos terminais da mquina e,
das bobinas. Estes pontos podem ser dispos- portanto, a potncia que ela pode fornecer.
tos de duas maneiras: Assim, precisamos de uma fonte de corrente
contnua que fornea a corrente de excitao.
Ligao Delta: Unem-se os seguintes ter- Esta fonte pode ser:
minais: A+ com B; B+ com C; C+ com A. Um gerador de corrente contnua inde-
pendente;
Um sistema que retifique tenso alter-
nada fornecida pela concessionria;
Uma excitatriz (gerador de corrente
contnua), montada sobre o prprio
eixo da mquina;
Um sistema que tome a prpria tenso
gerada pela mquina, retifique-a e apli-
que no enrolamento de campo.
FIGURA 50
A substituo do par de anis por um computador permite
obter corrente no mesmo sentido.
FIGURA 51
Vpip = Vsis
Transformador e, ao lado, seu smbolo convencional.
Na figura abaixo, temos um esquema sim-
O funcionamento dos transformadores plificado de um sistema de distribuio de
assenta no fenmeno de induo eletromag- energia eltrica.
ntica, que pressupe a variao do fluxo do
campo magntico como causa de uma corren-
te e tenso induzida em uma espira. No nosso
caso, como estamos com corrente alternada no
primrio, o campo gerado neste enrolamento,
um campo de solenide que j estudamos.
Porm, no caso CA, a intensidade da corrente
varia, logo, o valor do campo magntico acom-
panha esta variao, e esta variao de fluxo
magntico do primrio transportada pelo
ncleo de ao at o secundrio. A variao de
fluxo que chega ao secundrio, provoca, de
acordo com a Lei de Faraday, uma tenso FIGURA 52
induzida neste enrolamento. Note que, se a Esquema de um transporte de energia eltrica da usina at o
consumo. Os transformadores esto representados pelos seus
intensidade de corrente fosse constante, no smbolos convencionais.
teramos variao do campo magntico, e,
portanto, do fluxo, no primrio ou secund- 3.6 Capacitores
rio. Devido a isto, correntes contnuas no so Quando falamos de trabalho e potencial
convenientes para as concessionrias de ener- eltrico, discutimos a capacidade do campo
gia, j que os mais diversos valores de tenso eltrico de armazenar energia. Seria interes-
so necessrios em uma operao de transmis- sante ter uma maneira de armazenar esta ener-
so e gerao de energia eltrica. Tais mudan- gia e torn-la disponvel sempre que preciss-
as de tenso so feitas bem mais simplesmen- semos. O dispositivo capaz de fazer isto
te com corrente alternada. chamado de capacitor. Ele consiste de duas pla-
Sendo Np o nmero de espiras do prim- cas condutoras separadas entre si, ligadas e sub-
rio e Ns do secundrio e Vs e Vp os valores das metidas a uma ddp. Antes de ser carregado para
30 respectivas tenses, podemos chegar a seguinte utilizao, o capacitor est neutro (fig 53.1). Po-
relao: demos carregar um capacitor estabelecendo
Vp Np uma ddp entre as placas, ligando cada uma
= delas aos plos de uma bateria, por exemplo
Vs Ns (fig 53.2). Ao fecharmos a chave do circuito,
Eletricidade Bsica
as cargas positivas so atradas pelo plo ne- A constante C, que faz a proporo entre
gativo da bateria, enquanto que as cargas ne- a carga Q adquirida e a tenso V aplicada,
gativas, pelo plo positivo, o que acarreta chamada de capacitncia. No SI, a unidade
em uma diviso de cargas positivas e nega- de capacitncia o Farad, em homenagem ao
tivas entre as duas placas. Este processo con- prprio Faraday, que idealizou os primeiros ca-
tinua at que a ddp entre as placas carrega- pacitores.
das iguale-se a ddp fornecida pela bateria
(fig 53.3). Assim, o capacitor est carrega- [C] = F F = C/V (Coulomb/Volt)
do, surgindo um campo eltrico uniforme
entre suas placas. Quanto maior for a capacitncia de um
dispositivo, mais carga ele pode acumular com
a mesma tenso a que ele submetido.
Um outro fato que foi descoberto pelo pr-
prio Faraday que preenchendo o espao vazio
entre as placas com um material dieltrico (iso-
lante), o valor da capacitncia aumentava. Note
Fig 53.1 Neutro que um dieltrico, porque obviamente se pre-
enchermos com material condutor o espao
Fig 53.2 Capacitor neutro entre as placas, as cargas poderiam usar o con-
dutor para novamente restabelecer o equilbrio
de cargas. A relao que temos para este fato :
C = kCo
FIGURA 55
FIGURA 58
Anotaes
M M
1~ 3~
V = 380 V
V = 220 V
FIGURA 59.1
Complementos
Ampermetros
4
4.1 Medidas Eltricas
A escala de um ampermetro pode ser
Todos os fenmenos e processos que comen-
calibrada em ampres, miliampres ou mi-
tamos aqui no fazem sentido sem interao com
croampres. O maior valor de corrente que
a nossa realidade prtica. Uma dificuldade inicial
um ampermetro pode medir chamado de
que ningum "v" um campo magntico, tudo
fundo de escala. Para medir o valor da cor-
o que fazemos, por exemplo, so medies in-
rente que circula por um circuito, o amper-
diretas dos seus efeitos. Alm dos que citamos
metro deve estar ligado em srie neste cir-
ao longo do curso (bssolas, ims, condutores),
cuito (figura 61).
existem outros instrumentos que so fundamen-
tais porque fornecem nmeros como resultados
de medies, o que facilita o clculo e o estudo
dos fenmenos eletromagnticos.
Ampermetros, voltmetros, ohmmetros e
wattmetros so os aparelhos mais utilizados para
medir corrente, tenso, resistncia e potncia,
respectivamente. Os tipos mais utilizados na
medio de tenso e corrente so os medidores
eletromecnicos CC ou CA. O mecanismo sensor a) Io corrente verdadeira, sem o ampermetro no circuito.
Uma leitura que est 100% exata aquela Medidores de Corrente Alternada
em que o erro , obviamente, 0%. Uma leitura Estes medidores medem valores de cor-
de 95% de exatido indica um erro de carga rente e tenso que variam periodicamente no
de 5% e assim por diante. tempo, como j estudamos. Em baixas freqn-
O segundo erro que pode ocorrer em um cias, abaixo de 1000 Hz, o conjunto funciona
ampermetro real o erro de calibrao, que bem e no diferente daqueles que j comen-
surge do fato da escala do medidor no ter sido tamos acima. Contudo, se estivermos traba-
marcada (calibrada) de forma exata. A lhando em uma faixa de freqncia mais alta,
especificao deste tipo de erro dada em ter- o conjunto da bobina mvel pode no seguir
mos de fundo de escala. Tipicamente, estes as rpidas variaes de corrente devido inr-
valores esto por volta de 3% do fundo de es- cia. Assim, os valores CA tm que ser primei-
cala correspondente. ro convertidos em CC e depois aplicados em
um galvanmetro de DArsonval.
Voltmetro A escala dos medidores CA pode ser cali-
Para medirmos corretamente uma tenso, brada tanto em funo dos valores mdios
temos que construir um voltmetro. Note que como dos RMS (eficazes), embora estes lti-
no podemos utilizar simplesmente o amper- mos sejam mais utilizados.
metro para fazer tal medida, j que quando a O tipo mais simples de voltmetro CA
corrente passar pela resistncia interna RM do aquele com circuito retificador de meia onda.
medidor, ocorre uma queda de tenso V=RMI. Na figura 63, a tenso entre os terminais ab
Assim, a tenso indicada em um trecho do cir- medida, lembrando que este sinal uma onda
cuito no teria o valor correto indicado na lei- senoidal com valor de pico VP.
tura. Assim, o voltmetro construdo de uma
grande resistncia RS em srie com o amper-
metro de resistncia interna RM (figura 62).
Unidades derivadas:
Grandeza Unidade Smbolo
Energia Joule J
Fora Newton N
Potncia Watt W
Carga eltrica Coulomb C
Potencial eltrico Volt V
Resistncia eltrica Ohm
Indutncia eltrica Henry H
Conduntncia eltrica Siemens S
Capacidade eltrica Farad F
Freqncia Hertz Hz
Fluxo magntico Weber Wb
(c) Valor RMS lido na escala Induo magntica (B) Tesla T
FIGURA 63
Campo eltrico Volt/metro V/m
O elemento novo adicionado no circuito,
o diodo, um dispositivo que permite que a
Prefixos mtricos utilizados em eletrici-
corrente flua normalmente durante o semiciclo
dade:
positivo e apresenta uma alta resistncia cor-
rente no outro sentido, durante o semi-ciclo Prefixo Smbolo Valor
negativo. A corrente resultante atravessa o mega M 1 000 000 (106)
galvanmetro, que pode estar calibrado para quilo k 1 000 (103)
mostrar o valor mdio, Iav: mili m 0,001 (103)
micro 0,000 001 (106)
Iav = 0,318IP
nano n 0,000 000 001 (109)
Ou mostrar o valor RMS (eficaz): pico p 0,000 000 000 001 (1012)
Irms = 0,707IP
O valor mdio indicado sempre est corre- Exemplos:
to, para os tipos de onda mais usuais. Contudo, 1. 53000 V = 53.1000 V = 53 kV
o valor RMS indicado s o correto para ten-
ses e correntes que variem de forma senoidal. 2. 3400000 C = 3,4.1 000 000 = 3,4 MC
Para o circuito simples mostrado na figu-
ra 63, pela Lei de Ohm, temos que: 3. 0,007 F = 7.0,001 = 7 mF
VP = (RS + RM)IP 4. 0,000 0063 T = 6,3.0,000 001 = 6,3 T
Vrms = 0,707(RS + RM)IP 39
Vrms = 2,22(RS + RM)Iav
Assim, conseguimos relacionar o valor
eficaz da tenso com os valores mdio e de
pico da corrente CA no circuito.
Eletricidade Bsica
31. Uma bobina chata formada de 200 espiras a) Projete transformadores que faam as
de 4 cm de raio e est colocada em um campo redues de tenso necessrias para o 45
magntico uniforme. Determine a fem induzida funcionamento da refinaria. Utilize tan-
nesta bobina quando a intensidade do campo to a tenso dos turbo geradores da re-
magntico, que perpendicular ao plano da bo- finaria, como a fornecida pela conces-
bina, varia numa taxa de 0,01 T/s. sionria local.
Eletricidade Bsica
b) Projete um alternador que produza a 48. Conceitue: Impedncia, Reatncia, Capa-
voltagem fornecida pelos turbo gerado- citncia e Relutncia.
res. Dimensione a armadura (dimen-
ses, nmero de espiras) e tambm o 49. Com relao a equipamentos eltricos per-
campo magntico estacionrio no qual gunta-se:
a armadura vai rotacionar. Por que na especificao de um transfor-
c) Estime qual o valor de pico da corrente mador, normalmente especifica-se a potncia
fornecida por cada turbo gerador. aparente (MVA ou KVA), ao invs de especi-
ficar-se a potncia ativa(MW ou KW)?
37. Um gerador eltrico consiste em 100
espiras de fio formando uma bobina retangu- 50. Quais as vantagens do aterramento do neu-
lar de 50 cm por 30 cm, imersa em um campo tro num sistema eltrico?
magntico uniforme de 3,5 T.
a) Qual ser o valor mximo da fem 51. Qual a inconvenincia de se colocar dois
induzida no gerador quando a bobina transformadores em paralelo, quando a nica
comear a girar a 1000 rpm? diferena entre eles for as impedncias?
38. Para que serve a tenso contnua que se apli- 52. Que condies devem ser observadas para
ca no enrolamento do rotor do gerador? se colocar duas fontes de energia eltrica em
paralelo?
39. Qual a influncia da corrente de excita-
o no valor da tenso gerada? 53. A respeito do fator de potncia pergunta-se:
a) Quais as causas do baixo fator de po-
tncia em um sistema eltrico?
40. O que significa "Sistema Trifsico Equi-
b) Quais as desvantagens do baixo fator
librado"?
de potncia?
41. Qual a relao que existe entre o nmero 54. Um fato que pode facilmente ser observa-
de espiras e a tenso em um transformador? do que caminhes que transportam combus-
tveis sempre tm um cabo ou fita metlica li-
42. Por que, ao abrirmos o secundrio de um gando um ponto do chassis ao cho. Utlizando
transformador de corrente, aparecem em seus seus conhecimentos de eletrizao, explique a
terminais uma sobretenso e aquecimento? necessidade desta ligao.
43. Qual a influncia da poeira e umidade so- 55. Por que no aparece tenso no secundrio
bre a isolao de equipamentos eltricos? de um transformador, quando aplicada uma
tenso contnua no primrio?
44. Quais so os danos que um mau contato
pode causar para um sistema , quando este es- 56. Marque (V) para verdadeiro e (F) para fal-
tiver em circuito de fora? E quando estiver so nas afirmativas abaixo:
em circuito de proteo e controle? ( ) A resistncia eltrica de um condutor
depende do material que o constitui.
45. Qual o comportamento de um capacitor, ( ) A resistncia eltrica de um condu-
no instante em que ligada uma fonte de cor- tor diretamente proporcional sua
rente contnua? E aps intervalo superior a 4 seo transversal (bitola).
(quatro) constantes de tempo? ( ) A temperatura no exerce influncia na
resistncia eltrica de um condutor.
46. O que caracteriza o cobre como melhor ( ) Quanto maior a tenso, maior a re-
condutor de eletricidade que o alumnio? sistncia eltrica de um condutor.
69 kV
TG 1 TG 2
13,8 kV
02 01 04 06 07 15 16 19
Anotaes
47
Transformadores
Energia Energia
elctrica mecnica
Figura 2.1
1. Introduo
Um transformador um dispositivo que transforma uma corrente alternada sinusoidal (ver cap.
Electromagnetismo Lei de Lenz-Faraday), com uma determinada tenso, numa corrente elctrica
sinusoidal, com uma tenso eventualmente diferente, sendo esta transformao realizada atravs da
aco de um fluxo magntico. portanto algo que transforma energia elctrica em energia elctrica
(com caractersticas diferentes), mantendo uma independncia elctrica no h qualquer ponto de
ligao elctrica entre as duas tenses do transformador. Dado, ainda, o princpio de conservao de
energia, bvio que se mantm a potncia (P = W/t) igual, dum lado e doutro do transformador, o que
faz com que alteraes em termos de tenso, provoquem alteraes em termos de corrente, mantendo-
se a energia que entra igual energia que sai.
A criao do fluxo magntico realizada com uma bobine de fio (ver captulo Electromagnetismo ),
atravs da qual se faz passar uma corrente elctrica varivel no tempo (lei de Lenz-Faraday). O valor de
tenso diferente, obtido colocando uma segunda bobine de fio enrolada em torno da mesma pea de
ferro, bobine que vai ser influenciada pelo fluxo magntico criado pela primeira bobine. A primeira
bobine, onde se liga a fonte de tenso, chamada de primrio (ou enrolamento primrio) e a segunda
primrio secundrio
i (t)
Figura 2.2
bobine, onde se vai buscar a tenso diferente, chamada de secundrio (ou enrolamento secundrio).
Este tipo de mquina elctrica reversvel. Isto , se se obtm um valor de tenso X no
5V
230 V
5V
230 V
Figura 2.3
secundrio custa da presena de uma tenso Y no primrio, ento aplicando uma tenso X ao
secundrio obter-se- uma tenso Y no primrio figura 1.2.
2. Necessidade de transformadores
Por exemplo, uma central hidroelctrica tem um gerador de 300 MVA, a 60 kV. A energia
elctrica produzida abastece uma cidade a 50 km de distncia, atravs de um cabo com resistncia de
0,2 /km. Teremos, portanto, uma corrente de 300.000.000/60.000 = 5.000 A, a transportar por um
cabo com resistncia 50x0,2 = 10 , o que introduziria perdas de Joule de 10x(5.000)2 = 250x106 W
(250.000.000 W). evidente que, este valor de potncia dissipada incomportvel dos 300 MVA
iniciais (considerando um factor de potncia unitrio para facilidade de entendimento), apenas
chegariam 50 MVA, ou seja 17%, servindo os restantes 83% para aquecer a atmosfera.
Sendo a energia dissipada por efeito de Joule, funo do quadrado da intensidade, podemos
baixar drasticamente esse valor, se se conseguir reduzir o valor da corrente. De facto, tendo o
transformador capacidade de transformar tenses e mantendo-se o princpio de conservao de energia
(Pprimrio = Psecundrio ), deduz-se que elevando a tenso se abaixar a corrente (P = VI), que o efeito
pretendido. Assim, na central hidroelctrica, sada do gerador, coloca-se um transformador elevador
(Vsecundrio > Vprimrio ) obtendo-se uma corrente, no secundrio, mais baixa (Isecundrio < Iprimrio ) o que
provocar perdas de Joule menos elevadas. No destino, como a tenso foi elevada para valores muito
altos (na origem), coloca-se um transformador abaixador (ou redutor), agora com o efeito contrrio
baixar a tenso e elevar a corrente.
Existem outras utilizaes para os transformadores, que sero mencionadas adiante, tais como
isolamento elctrico e medio de correntes.
3. Tipos de transformadores
Potncia
O objectivo transformar potncia V1 , I1 num lado, em potncia V2 , I2 no outro
lado, mantendo-se a frequncia.
A relao entre a tenso presente num lado e a tenso presente no outro, chamada a
relao de transformao rt . Por exemplo, no caso da figura 1.3 a), a relao de transformao
no 1 caso de
rt = V1 V = 2305 = 46
2
Corrente
O objectivo que uma corrente induza, no enrolamento do transformador, uma fem. Essa
femi proporcional corrente que a criou, donde, medindo a fem, saber-se- a corrente.
femi
Figura 2.5
Isolamento
um caso particular do transformador de potncia, no qual a tenso no secundrio igual
tenso no primrio rt = 1. O objectivo obter um isolamento elctrico entre o circuito ligado ao
primrio e o circuito ligado ao secundrio.
Autotransformador
um caso particular de transformador de potncia, com um
nico enrolamento, dividido em dois. A tenso de sada obtida
custa da diviso de tenso do enrolamento, como se pode ver na
figura.
N1
Este tipo de transformador mais barato (um nico
enrolamento), no entanto no isola o circuito elctrico primrio do VP
circuito elctrico secundrio. Havendo, por exemplo uma quebra nas
espiras N2 , a tenso VS torna-se igual tenso VP .
Para este tipo de transformador a relao entre as tenses N2 VS
dada por:
N2
VS = V
N1 + N 2 P
Figura 2.6
4. Representao esquemtica do transformador
vP vS
5. Modelizao do transformador
Transformador ideal
vP (t ) N P Figura 2.8
rt = =
v S (t ) N S
SP = SS
v P iP = v S iS
v P iS
=
vS i P
N P v P (t ) is (t )
rt = = =
N S v S (t) iP (t )
Transformao de impedncias
V
Z=
I
como o transformador altera os valores de tenso e de corrente, altera tambm a razo entre
eles e, consequentemente, o valor das impedncias.
i i
P S
Considerando a figura 1.7, em que uma tenso
aplicada ao primrio de um transformador e a tenso do vP vS Z
secundrio alimenta uma carga de impedncia Z, cujo valor
dado por:
v
Z= S Figura 2.9
iS
vP
Z' =
iP
vP rt vS v
Z' = = = rt2 S
iP is iS vP Z
rt
Tendo qualquer transformador, real, perdas, estas tero que ser consideradas, mesmo quando
apenas ao nvel de utilizao da mquina determinao do rendimento, que relaciona a energia
fornecida e a energia utilizada. s perdas j referidas no electromagnetismo (perdas por correntes
induzidas, perdas por histerese e perdas por disperso magntica) vm adicionar-se as perdas de Joule
nos enrolamentos primrio e secundrio, visto que tm resistncia e por elas passam as correntes do
primrio e do secundrio.
RC
Xm
Transformador ideal
Figura 2.11
Em que:
fugas de fluxo XP e XS
Efeito de Joule RP e RS
NP
vP vS
NS
(t)
(t)
i i
i i
Figura 2.12
Estas imperfeies dos circuitos elctrico e magntico, que permitiram idealizar o circuito
elctrico equivalente, indicam-nos as perdas no transformador, mas no nos do qualquer
indicao sobre a forma de onda da corrente, obtida no secundrio. A no linearidade da curva de
magnetizao do ferro utilizado no ncleo, permite mostrar qual a forma da tenso obtida no
secundrio de um transformador figura 2.13 onde se pode constatar que, embora a onda de
entrada seja sinusoidal, j a onda de sada apresenta distoro, isto , no rigorosamente
sinusoidal.
curva de magnetizao
semi-ciclo do ncleo de ferro
de fluxo
femi resultante
Figura 2.13
A determinao dos valores analticos relacionados com as referidas perdas, pode ser
realizada atravs de testes ao transformador ensaio em curto circuito e ensaio em vazio.
7. Testes ao transformador
Ensaio em vazio
P0 = Vn I 0 cos 0
isto , que:
P0
cos 0 =
Vn I 0
Ensaio em curto-circuito
I W
O secundrio curto I
i
circuitado e aumenta-se a v
(t)
V~ In
Como neste ensaio a tenso no primrio reduzida, ento a corrente que flui no
enrolamento (IP ) tambm reduzida.
Este ensaio permite conhecer, tambm, o valor da corrente de curto circuito do secundrio
(e, atravs da relao de transformao, a corrente de curto circuito do primrio), fazendo uma
regra de trs simples se com uma tenso VPcc se obtm a corrente nominal no secundrio, ento
com a tenso nominal no primrio (e um curto circuito no secundrio) obter-se- a corrente de
curto circuito. O conhecimento deste valor de fundamental importncia para a determinao de
algumas grandezas relacionadas com dispositivos de proteco na instalao elctrica, qual o
transformador pertence.
1
Se a tenso no primrio fosse a nominal, a corrente no secundrio seria extremamente elevada, danificando esse
enrolamento (IS = VS / ZS)
2
Estamos a supor um transformador abaixador
V1cc
I 2 n V1n
I 2cc = I 2n
V1n
I 2 cc V1cc
V1n
I 2CC = I 2n
VCC %
8. Rendimento
Define-se o factor de carga (C), como sendo a relao entre a corrente do secundrio do
transformador, num determinado momento, e a sua corrente nominal, isto :
I2
C=
I 2n
PCu = R P I P2 + RS I S2
Psada PS PS VS I S cos
= = = =
Pentrada PP PS + Perdas VS I S cos + PCu + PFe
que tem o seu valor mximo, quando PFe = PCu, ou seja quando o factor de carga C
PCu
PFe
Figura 2.16
9. Arrefecimento de transformadores
Dada a existncia de perdas por efeito de Joule, haver aquecimento dos enrolamentos do
transformador, aquecimento esse, que dever ser dissipadoi. Dependendo da potncia em jogo, essa
dissipao poder revestir-se de maior ou menor importncia. Para transformadores de pequena
potncia (I ( Ejoule () essa dissipao processa-se por conveco natural. Para transformadores de
mdia potncia essa dissipao realizada mergulhando os enrolamentos em leo mineral que, para
alm de melhorarem o factor de dissipao, aumentam o isolamento elctrico3 . Para transformadores
de elevada potncia adiciona-se a conveco forada do leo.
J o respeito pelo ndice horrio (ndice que indica de que forma a tenso no secundrio se
relaciona com a tenso no primrio, em termos de desfasamento), menos evidente, embora
igualmente importante para o bom funcionamento dos equipamentos.
De facto tambm necessrio, para alm dos nveis de tenso iguais, que as tenses do
secundrio do novo transformador estejam em fase com as tenses do secundrio do transformador
existente, dado que se no estiverem vamos ter diferentes valores de amplitude, num e noutro
transformador, o que implica uma diferena de potencial entre os dois situao anloga anterior.
ddp
V
VS2
VS1
Figura 2.18
3
melhoram o isolamento entre os elevados potenciais, presentes nos enrolamentos, e a terra (potencial nulo)
4
Por exemplo porque se aumentou a capacidade de produo, com mais mquinas
transformador
suplementar
12 kV
A B C A B C
A B C A B C
a b c a b c
400
V
Figura 2.19
.
V V
A A 12 Tenso mais elevada
V Vb Vc
a
Vb 9 3
Vc VB
VB VC Va
VC
Tenso menos
6 elevada
Yy0 Yy6
Figura 2.20
Na figura anterior, temos a referncia Yy0 e Yy6. Esta simbologia tem a seguinte interpretao:
as duas primeiros letras dizem como esto ligados os enrolamentos do lado de tenso mais elevada
(letra maiscula) e do lado da tenso menos elevada (letra minscula) e o dgito que se lhes segue
significa o quanto a tenso secundria aparecer desfasada, relativamente tenso primria que
alimentar o transformador.
O valor do dgito corresponde ao valor das horas de um relgio, isto 12 horas correspondem a
360, ou seja cada hora corresponde a 30. Portanto Yy6 significa que o desfasamento corresponde s
seis horas, isto o desfasamento de 180
VS
VP
Figura 2.21
11. Queda de tenso em carga
i=0 i0
~ ~
Figura 2.22
Esta diferena decorre do facto de que, no primeiro caso, a corrente no circuito secundrio
ser nula, j que no tem nenhuma carga ligada. Ao ligarem-se cargas ao secundrio (2 caso), vai
fluir uma corrente elctrica no circuito secundrio, que, tendo em conta que o enrolamento do
secundrio tem uma certa resistncia, vai provocar uma queda de tenso no prprio enrolamento.
Esta queda de tenso vai subtrar-se queda de tenso induzida, sendo o resultado prtico uma
tenso em carga, inferior tenso em vazio.
Note-se que, em transformadores de reduzida potncia, a corrente no secundrio pequena,
bem como pequena a resistncia do seu enrolamento, o que leva a que a queda de tenso, para
este caso, muito reduzida isto , no h grande diferena entre uma e outra. J o contrrio se
passa em transformadores de elevada potncia. Da que a especificao da tenso do secundrio
diferente, consoante se trate de um transformador de reduzida ou de elevada potncia no
primeiro caso (S < 16 kVA), a tenso especificada para o secundrio a da tenso em carga; no
segundo caso (S > 16 kVA), a tenso especificada a da tenso em vazio
dYn : lado da tenso mais elevada ligado em estrela, com neutro acessvel; lado
da tenso menos elevada ligado em tringulo
13. Formas de ligao de transformadores trifsicos
1 1
V fase = V I fase = I
3 linha 3 linha
Menor isolamento Menor seco (condutores) Fluxos c sentidos contrrios (mesma coluna)
Neutro 2 tenses Pode manter 2 fases Permite desiquilibrio de cargas
Figura 2.23
As duas primeiras formas j so conhecidas (ver captulo Bases de corrente alternada). J a terceira
forma ligao em zig-zag nova. Esta forma pressupe a partio de cada um dos trs
enrolamentos em dois semi-enrolamentos, interligados da maneira apresentada na figura uma
espcie de estrela desmembrada.
i
A questo da necessidade de dissipao da energia calorfica, prende-se com o encurtamento da durao de vida do
isolante dos enrolamentos.
Circuitos eltricos de corrente alternada
a R b Z1 Z2
Figura 1.1. Exemplos de circuitos de corrente alternada. Z1, Z2 e Z3 indicam elementos como resistores,
capacitores ou indutores.
Um Gerador de c.a. gera uma voltagem senoidal (t) que em geral caracterizada pela frequncia
angular , a amplitude 0 (tambm chamada valor pico ou de crista) e a fase inicial 0:
(t) = 0 cos(t + 0). [1.1]
Para que a amplitude e a fase sejam univocamente definidas, impomos que a amplitude seja positiva e
que a fase esteja entre - e .
Exerccio 1.1: Escreva as funes abaixo na forma da eq. 1 com 0 positivo e - < 0 :
1. (t) = -100V cos(t) [Resposta: 100V cos(t + )]
2. (t) = 10V sin(t) [Resposta: 10V cos(t - /2)]
Muitos osciloscpios modernos possuem recursos para medir automaticamente a amplitude pico-a-
pico pp = 20 e o perodo T = 2/ ou a frequncia f = 1/T. Outros instrumentos, como voltmetros de c.a.
e multmetros, medem o valor eficaz pp = 0 / 2. Assim, por exemplo, 110 Volts eficazes correspondem
a uma amplitude de 155.6 V e uma amplitude pico-a-pico de 311 V. O aluno pode medir a voltagem de
linha com um multmetro. A maioria dos osciloscpios medem voltagens at 80 V. Para medir voltagens
maiores que 80 V se utilizam pontas de prova atenuadoras, mas mesmo com uma ponta atenuadora o/a
aluno/a nunca deve intentar medir a voltagem de linha com um osciloscpio (leia antes a seo 1.1
sobre a linha de alimentao).
1.1 A linha de alimentao
Antes de fazer experimentos importante que o/a aluno/a tenha conhecimentos bsicos do que h por
trs de uma tomada de alimentao eltrica. Vou discutir aqui a linha de alimentao dos laboratrios de
ensino do Instituto de Fsica da Unicamp, que uma linha de 127 V. O professor de outra regio deve
adaptar esta discusso para o caso da sua sala de aula.
A energia eltrica produzida em alguma usina hidroeltrica, nuclear o de outro tipo, geralmente
muito remota. A energia transportada atravs de linhas de transmisso de muito alta voltagem (centenas
de quilovolts, pudendo chegar at megavolts). A razo disto obvia: a perda nos cabos proporcional ao
quadrado da corrente e resistncia do cabo e, para uma dada potncia de consumo, diminuir a corrente
significa aumentar a voltagem. Estas linhas terminam em alguma estao distribuidora, onde a voltagem
reduzida para algo entorno de algumas dezenas de quilovolts e alimenta redes locais, do tamanho de uma
cidade. Subestaes distribuidoras reduzem a voltagem ainda mais (3 a 11 kV) e alimentam redes
menores, do tamanho de bairros ou de um campus universitrio. Transformadores espalhados no bairro
reduzem a alta voltagem para alimentar com a tenso de linha (entre 110 e 220 V eficazes) prdios
individuais ou um conjunto de poucas casas. Destes transformadores saem geralmente dois ou trs fios
vivos e um fio de retorno ou neutro que geralmente aterrado perto do transformador.
Aterrado significa exatamente isto: o fio neutro ligado a uma lana condutora que est enterrada a
alguns metros de profundidade na terra, onde a condutividade alta. Os fios vivos so tambm
chamados fases. Em alguns casos (Estados Unidos, por exemplo) h duas fases de 110 V eficazes e a
diferena de potencial entre elas de 220 V. Assim, uma casa pode ter 110 V para as tomadas e 220 V
para alguns eletrodomsticos que consomem muito, tais como chuveiro eltrico, fogo eltrico, lavadoras,
etc. (lembre sempre que a corrente deve ser baixa, menor que 40 A; caso contrrio haver que instalar fios
mais grossos). Em outros casos (Campinas, por exemplo) h duas ou trs fases de 127 V, com uma
diferena de fase entre elas de 120. A diferena de potencial entre dois fios vivos quaisquer novamente
220 V.
Na Europa e alguns pases latino-americanos (Argentina, por exemplo) o vivo de 220 V e a
diferena entre dois vivos (que esto defasados em 120) de 381 V. Isto barateia o custo das instalaes
das redes eltricas, pois os fios so mais finos do que em pases com linhas de 110 V, mas encarece as
instalaes dentro das casas pois necessrio um melhor isolamento e mais cuidados com a segurana.
Outra diferena que a frequncia de linha nos pases com 220 V de 50 Hz e nos pases com 110 V de
60 Hz.
No Brasil a voltagem de linha depende da cidade e at da casa! Por exemplo, em Braslia uma casa
pode estar ligada em 220 V e outra em 110 V (independentemente da ideologia poltica do proprietrio,
no tem lgica mesmo!). Em Campinas 127 V/ 60 Hz. Note que a voltagem pico-a-pico de uma linha de
127 V de 359 V.
Nas viagens bom perguntar qual a tenso de linha local antes de ligar o seu secador de cabelos ou
o barbeador eltrico. E antes de comprar um aparelho motorizado na Europa, verifique se este no tem um
motor sncrono, que funciona em sincronismo com a frequncia da linha (50 Hz na Europa, mas 60 Hz no
Brasil).
Nos laboratrios existe outra lana aterrada, bem perto do prdio, ligada a um fio chamado terra ou
terra de segurana. A voltagem do neutro em relao ao terra depende da corrente (ou seja, do
consumo) e da resistncia do fio neutro at o ponto onde ele est aterrado, e no deve ser maior que uns 5
a 10 V (mesmo assim, o fio neutro no deve ser tocado!). Normalmente no passa corrente pelo fio terra.
Na tomada do laboratrio temos ento (Figura 1.2) um vivo, um neutro e um terra. O gabinete metlico de
todo instrumento, eletrodomstico ou computador deve estar conectado a terra, de modo que possa ser
tocado com segurana.
Conceitos bsicos 3
Prdio de laboratrios
Terra
Figura 1.2. Esquema da linha de alimentao eltrica do laboratrio. Vrias tomadas so alimentadas por
cada fase. No detalhe, uma tomada com ponto de terra. Uma conveno que o neutro deve ficar direita do
vivo e a terra embaixo. Outra conveno que o fio vivo deve ser preto (cor da morte) o neutro branco e a
terra verde. (Estas convenes no so muito respeitadas no Brasil).
Alguns instrumentos (como voltmetros, eletrmetros e alguns tipos de fontes) podem ter entrada ou
sada flutuante, que significa que nenhum dos contatos de entrada ou sada est ligado terra. Este no o
caso dos osciloscpios, que sempre medem em relao terra; por isso, nunca ligue a entrada do
osciloscpio linha (voc poder estar ligando o terra do osciloscpio ao vivo ou ao neutro, mas voc
saber se ligou ao vivo s depois de ouvir a exploso!).
Se no suporta a curiosidade e quiser mesmo ver a forma de onda da linha, faa o seguinte na
presena do professor: utilize uma ponta de prova atenuadora de pelo menos 10 (verifique que a
impedncia da ponta de prova alta, maior que 1 M) e no ligue o terra da ponta de prova (geralmente
um conector tipo jacar) a nenhum dos pontos da tomada. Assim pelo menos voc poder medir as
voltagens (em relao ao terra do osciloscpio) de cada ponto da tomada e descobrir qual o vivo e qual
o neutro.
Se quiser medir a diferena de potencial entre vivo e neutro, voc deve utilizar um osciloscpio de
dois canais e subtrair os sinais no osciloscpio. Faa o seguinte na presena do professor: utilize um
osciloscpio de pelo menos dois canais que tenha modo de soma (ADD) e de inverso (INVERT); utilize
tambm duas pontas de prova (no ligue as terras das pontas), uma em cada canal do osciloscpio; ligue
uma ponta (CH1) no vivo e a outra (CH2) no neutro, e faa a subtrao no osciloscpio (ou seja, CH1
CH2. Se no entendeu porque ainda no deve intent-lo).
Note que sempre que for medir voltagens de linha dever utilizar pontas de prova atenuadoras para
que a senide caiba na tela do osciloscpio (onde geralmente cabem 80 volts). Se a tenso eficaz de 127
V, a voltagem pico-a-pico 359.2 Volts!
3.76 m
s
m
3.76 s
m m
.2V 20mV 2s .1V 10mV 2s
t
T
Figura 1.3. Medida da diferena de fase entre duas senides (V1 e V2) com um osciloscpio de dois canais.
Tela da esquerda: Primeiramente medimos o perodo, que neste exemplo T = 8.6 ms. A seguir medimos a
diferena de tempo t em que as senides cruzam, subindo (ou descendo), a linha horizontal de V = 0. Neste
exemplo, t = 3.76 ms (alguns osciloscpios, como o ilustrado aqui, dispem de cursores verticais para medir
diferenas de tempo, a leitura indicada no canto superior direito da tela). Finalmente, a fase dada por =
2t/T = 2.75 rad ou = 360t/T = 157. Tela da direita: Para diminuir a incerteza da medida, podemos
expandir a escala vertical (duas vezes neste exemplo) de modo que apenas a regio central das senides
mostrada no osciloscpio. Na regio central as senides so aproximadamente retas e os pontos de
cruzamento com o eixo V = 0 so mais evidentes (expandindo ainda mais a escala vertical, a retas viram
quase verticais e a incerteza a mnima possvel).
Vejamos qual a relao entre voltagem e corrente nos trs elementos bsicos: resistor, capacitor e
indutor. Em um resistor vale sempre a lei de Ohm
v(t) = Ri(t), [1.4]
onde R a resistncia e, no caso de corrente alternada (isto , com i(t) na forma da eq. 1.1) obtemos
v(t) = RI0 cos(t). [1.5]
v( t ) = Ldi / dt , [1.6]
onde C a capacitncia (unidade: farad, F) e, dado que i = dq/dt, a relao geral entre v e i
Vemos ento que, no caso do capacitor, a amplitude da voltagem vale V0 = I0/C e a fase = /2.
A Tabela 1-I resume o que acabamos de falar.
Elemento Voltagem real Amplitude Fase
Resistor v = Ri V0 = RI0 =0
Indutor v = Ldi/dt V0 = LI0 = /2
Capacitor v = q/C V0 = I0/C = /2
Tabela 1-I. Relao entre voltagens e correntes reais em elementos de circuito de corrente alternada.
Voltagem e corrente complexas 7
di d 2i i d
R +L 2 + = . [2.2]
dt dt C dt
Em circuitos com N malhas, teremos N equaes diferenciais ordinrias de segunda ordem acopladas.
Para resolver este tipo de equaes que aparecem frequentemente em circuitos de corrente alternada
utilizaremos o formalismo de impedncia complexa. Apesar do nome, este formalismo no tem nada de
complexo, muito pelo contrrio, como veremos, simplifica muitos problemas de circuitos de corrente
alternada, j que as equaes diferenciais se transformam em equaes algbricas no diferenciais.
As equaes de malha do tipo da 2.1 e 2.2 podem ser escritas como a parte real de uma equao entre
nmeros complexos. Utilizamos para isto a frmula de Euler (vide Apndice A)
e jx = cos x + j sin x ,
V (t ) = V0 e j (t +)
[2.3]
I (t ) = I 0 e jt
de modo que as voltagens e correntes reais, v(t) e i(t), podem ser recuperadas atravs das relaes
1
R.P. Feynman, R.B. Leighton, and M. Sands, The Feynman Lectures on Physics, Vol. 2: Mainly Electromagnetism
and Matter, Addison-Wesley, Reading, 1964.
2
H.M. Nussenzveig, Curso de Fsica Bsica, Vol 3: Eletromagnetismo, Edgar Blcher, So Paulo, 1997.
3
F.N.H. Robinson, Electricity, in The New Encyclopdia Britannica (Macropdia Knowledge in Depth), Vol. 6,
pp 537-610, 15th Ed., H. Hemingway Benton, Publisher (London, 1974).
8 Circuitos de Corrente Alternada
Por exemplo, a equao diferencial 2.11 vira a equao ordinria (no diferencial)
jRI 2 LI + I / C = jV ,
j ( t +o )
onde V = 0 e . Resolvendo para I obtemos
I = jV / ( jR 2 L + 1/ C ) .
a) b)
eixo imaginrio
I
V
V0
t
I
I0 eixo real v(t)
i(t)
3. Impedncia complexa
A voltagem entre os terminais de um resistor, indutor ou capacitor pode ser escrita na forma
complexa
V = ZI , [3.1]
Z=R
Z = j L = L e j 2 [3.2]
1 1 j 2
Z= = e
j C C
Trabalhar com o formalismo de impedncias complexas tem a enorme vantagem de que podemos
aplicar quase tudo que aprendemos da teoria de circuitos de corrente contnua. Por exemplo, a associao
de elementos em srie ou em paralelo se trata com as mesmas relaes que se utilizam para resistores em
circuitos de corrente contnua e as leis de Kirchoff se aplicam diretamente para as correntes e voltagens
complexas em cada n ou cada malha. Devemos ter presente apenas duas coisas:
1- O formalismo de impedncia complexa til para tratar relaes lineares (como, por exemplo,
uma equao de malha), mas no para relaes no lineares, como a potncia (que uma funo
quadrtica da corrente).
2- Este formalismo pode ser aplicado diretamente a circuitos com geradores de onda realmente
senoidais (e no, por exemplo, se o gerador de onda quadrada). Para correntes de forma arbitrria
devemos utilizar, em princpio, as voltagens e correntes reais. Esta condio e menos restritiva que a
primeira. Como veremos na seo 7, se o circuito linear ento vale o princpio de superposio e ainda
podemos aplicar o formalismo de impedncia complexa, mas combinado com sries de Fourier para
expressar as voltagens como soma de funes senoidais.
Do mesmo modo que uma combinao de resistores em srie e em paralelo pode ser representada por
um nico resistor equivalente, um circuito contendo uma combinao arbitrria de resistores, indutores e
capacitores pode ser representado por uma impedncia total Z.
eixo imaginrio
Z
|Z|
X
eixo real
Figura 3.1. Representao da impedncia no plano complexo. Z um ponto neste plano.
onde = Re{Z} a parte real da impedncia complexa; X = Im{Z}, a parte imaginria de Z chamada
Reatncia; |Z| o mdulo de Z (s vezes tambm chamada de impedncia) e a fase de Z. Para passar
da forma cartesiana polar podemos utilizar as relaes
| Z |= 2 + X 2 [3.4]
= tan 1 ( X / ) . [3.5]
Podemos ver que coincide com a diferena de fase entre a voltagem sobre Z e a corrente, sejam
estas complexas (como na eq. 3.1) ou reais (como na eq. 2.2). Se X > 0 dizemos que a reatncia do tipo
indutiva e se X < 0 dizemos que a reatncia capacitiva. Mostraremos na seo 5 que em circuitos
passivos sempre 0. A parte real da impedncia pode ser uma funo da frequncia (veja Exerccio
4.1).
A recproca da impedncia complexa chamada de admitncia complexa e denotada com o smbolo
Y:
Y = 1/Z = G + jB : Admitncia complexa [3.6]
A parte imaginria, B, chamada Susceptncia, e a parte real, G, chamada Condutncia. 4 Esta ltima
deve ser positiva (ou nula) em circuitos passivos.
A impedncia equivalente de duas associadas em srie simplesmente a soma das impedncias. A
admitncia equivalente de duas impedncias associadas em paralelo a soma das admitncias (Tabela
3-I). As demonstraes destas afirmaes so idnticas ao caso de resistores e corrente contnua e vamos
deix-las como exerccio para o aluno.
comum abreviar a impedncia de uma associao em paralelo como
Z1 // Z2 = Z1Z2 /(Z1 + Z2). [3.7]
s vezes podemos at achar abreviaes como R // C, L // C, R // L. O significado obvio.
Z1
Z1 Z2
Z2
4
A unidade de admitncia, condutncia e susceptncia o Siemen (1 S = 1 -1). Antigamente se utilizava o mho,
que no um mili-ho mas apenas a palavra ohm escrita ao contrrio.
Impedncia complexa 11
B
B B
Figura 3.2. Um circuito de corrente alternada (a) e seu equivalente Thvenin (c). O circuito intermedirio (b)
serve para calcular a corrente de curto-circuito Icc.
A Figura 3.2 mostra um exemplo de circuito e seu equivalente Thvenin entre os pontos A e B. Neste
exemplo, a voltagem entre os pontos A e B vale
Z2
VAB = eq = ,
Z1 + Z 2
e a impedncia equivalente
Zeq = Z2 // Z1 = Z1 Z2 /( Z1 + Z2).
A impedncia equivalente tambm pode ser calculada achando primeiro a corrente de curto-circuito
(Figura 3.2-b),
Icc = /Z1,
e depois utilizando
Zeq = VAB /Icc.
O aluno deve ter muito cuidado, pois neste ponto os circuitos de corrente alternada so diferentes dos
circuitos de corrente contnua. Por exemplo, se medimos voltagens com um osciloscpio de Zint = 1 M
sobre um resistor de 47 em um circuito de corrente contnua no precisamos nos preocupar com o resto
do circuito, j que o resto est em paralelo com este resistor e a resistncia equivalente ser sempre
menor ou igual que os 47 . Por outro lado, um indutor L = 50 mH a uma frequncia = 950 rad/s, tem
uma impedncia de mdulo |Z| = 47.5 , mas se este estiver em paralelo com um capacitor C = 22 F,
ento |Zeq| = 655 k que comparvel ao mdulo |Zint| da impedncia de entrada do osciloscpio. Em
circuitos de corrente alternada no verdade que a impedncia de dois elementos em paralelo seja menor,
em mdulo, que a de cada elemento. Isto verdade, porm, sempre que um dos elementos seja um
resistor (vide Exerccio 3.2). Finalmente, sobre este assunto, o fato de ser |Zint| >> |Zeq| garante apenas que
a amplitude da voltagem ser medida fielmente, mas no necessariamente a fase.
3.2.1 Impedncia interna de voltmetros
Muitos voltmetros de c.a. de agulha so na realidade galvanmetros de DArsonval em srie com
uma resistncia (para transform-lo em voltmetro) e um retificador (para transformar c.a. em corrente
contnua); a impedncia depende da escala e se especifica em k/V (por exemplo, 10 k/V significa que
na escala de 3 volts de fundo de escala a impedncia interna de 30 k). Estes instrumentos so
utilizados para frequncias baixas (< 1 kHz), pois a impedncia interna depende muito da frequncia. A
leitura diretamente em volts eficazes mas precisa somente se a forma de onda for senoidal. Outro tipo
de instrumento bastante utilizado o voltmetro eletrnico de preciso, que pode ter impedncia interna
de 100 M e pode medir volts eficazes de formas de onda arbitrrias (em alguns modelos), mas ainda de
baixa frequncia.
3.2.2 Impedncia interna de osciloscpios
O instrumento mais utilizado para medir voltagens em circuitos de c.a. o osciloscpio. 5 Os
osciloscpios tm uma impedncia interna geralmente Rint = 1 M e uma capacitncia parasita em
paralelo Cint de uns 20 pF (em osciloscpios de alta frequncia, > 100 MHz, os valores tpicos so Rint =
50 e Cint = 7 pF).
Para poder medir sinais alternos pequenos com um nvel de corrente contnua grande, os
osciloscpios possuem um recurso que bloquear o nvel contnuo. Este recurso chama-se acoplamento
ac (ac = alternate current) e consiste em intercalar, na entrada, um capacitor em srie Cs relativamente
grande (10 a 15 nF). O acoplamento ac no deve ser utilizado em medidas precisas. O modo normal de
5
Para uma introduo aos princpios de funcionamento do osciloscpio visite o site
http://www.if.ufrj.br/teaching/oscilo/intro.html .
Impedncia complexa 13
operao de um osciloscpio com acoplamento dc. 6 Vamos comentar sobre alguns cuidados que devem
ser observados no modo normal.
Cs
ac Osciloscpio
dc
Rint Cint
Figura 3.3. Impedncia interna de um osciloscpio. O osciloscpio mede sempre a voltagem que aparece
sobre Rint. No modo de acoplamento dc o sinal a medir aplicado diretamente sobre Rint, mas h sempre um
capacitor em paralelo Cint. No acoplamento ac o sinal a medir passa primeiro por um capacitor em srie, Cs,
que bloqueia frequncias baixas (< 10 Hz).
e cai em valor absoluto de 1 M ( = 0) a menos de 500 k para frequncias > 7.96 kHz (isto para um
osciloscpio com Rint = 1 M e Cint = 20 pF). Alm disso, para medir precisamos ligar o osciloscpio ao
circuito teste atravs de algum cabo. Este cabo faz parte do instrumento e devemos incluir a sua
capacitncia Cc. 7 A capacitncia do cabo ligado entrada do osciloscpio est em paralelo com Cint
(Figura 3.3) e geralmente maior (a capacitncia do cabo coaxial normalmente utilizado em
instrumentao, o RG-58U, de uns 100 pF por cada metro de cabo). A impedncia interna do
instrumento (osciloscpio + cabo) Zint = Rint //(Cc + Cint). Com 1 metro de cabo coaxial, esta impedncia
interna do osciloscpio cai de 1 M a frequncia zero para menos de 500 k a frequncias acima de 1
kHz, aproximadamente.
3.2.3 Osciloscpio com ponta de prova
A presena de capacitncia na impedncia interna do instrumento faz que a voltagem medida dependa
da frequncia. Portanto, a forma de onda mostrada na tela do osciloscpio deformada (no caso de um
sinal no senoidal) e imprecisa (ou seja, de amplitude diferente daquela que teramos se o circuito no
estivesse ligado ao osciloscpio). Utiliza-se ento uma ponta de prova que consiste de um cabo de 1 a 2
metros com um resistor de preciso R e um capacitor varivel C em paralelo com R. Ajustando o valor de
C podemos conseguir que a forma de onda no osciloscpio seja pouco distorcida. Os osciloscpios srios
tm um gerador interno que uma onda quadrada de 1 kHz de alta preciso. Para o ajuste, ligamos a
ponta de prova na sada do sinal de calibrao e variamos C at que a forma de onda observada seja
quadrada (Figura 3.2-c). Uma ponta de prova ajustada deste modo chamada uma ponta compensada.
Se a ponta de prova no est devidamente ajustada, a onda quadrada aparecer deformada, como nos
traos da Figura 3.2-a e -b.
O sinal na entrada do osciloscpio idntico ao sinal visto pela ponta de prova compensada e
atenuado por um fator 1 + R/Rint que no depende da frequncia (Exerccio 3.3). Porm, isto no significa
que o sinal visto pela ponta seja igual ao que queremos medir (ou seja, o sinal que temos no circuito sem
6
dc abreviatura de direct current. Em portugus utilizado cc (corrente contnua), mas se confunde com curto-
circuito e complexo conjugado. Nestas notas utilizaremos as abreviaturas ac e dc.
7
Em princpio, devemos considerar tambm a indutncia do cabo Lc; mas na imensa maioria dos casos esta
indutncia to pequena (por exemplo, uns 250 nH por metro para o cabo RG-58U) que no afeta medidas para
frequncias de at 10 MHz.
14 Circuitos de Corrente Alternada
estar ligado ao osciloscpio). Para isto necessrio sempre que o mdulo da impedncia do instrumento
incluindo o cabo ou a ponta de prova (Zint = R//C + Rint//(Cc + Cint)) seja muito maior que a do circuito
(Exerccio 3.4).
C Cc Osciloscpio (a)
(b)
1M 20 pF
R
(c)
Figura 3.4. Ponta de prova atenuadora ligada a um osciloscpio. Na prtica a capacitncia parasita do
osciloscpio varia de um instrumento a outro. C ento um capacitor varivel e se ajusta para dar um fator de
atenuao independente da frequncia. Este procedimento se chama compensao.
A ponta de prova tambm facilita medidas em baixa frequncia com acoplamento ac como, por
exemplo, quando queremos medir o ripple de uma fonte de corrente contnua. Se Rint = 1 M, uma
ponta de prova de 10 tem um resistor R = 9 M. No acoplamento de entrada ac, os sinais lentos so
fortemente deformados. A frequncia de corte (seo 6) sem ponta de prova de 10 Hz tipicamente, mas
com a ponta de prova de 10 a frequncia de corte cai para 1 Hz.
Os osciloscpios podem medir at frequncias especificadas pela largura de banda dele, geralmente
escrita no painel. Valores tpicos para osciloscpios de 1 M so 10 ou 20 MHz, podendo chegar a 100
MHz nos modelos mais caros. Osciloscpios de 50 podem chegar at uns 50 GHz. Uma pergunta
natural que muitos alunos se fazem a seguinte: se o osciloscpio do laboratrio de ensino (que
geralmente tm 1 M // 20 pF) atenua sinais de frequncias acima de uns 8 kHz, como que a largura de
banda do osciloscpio muito maior? A resposta que a largura de banda determinada pelo
amplificador da entrada vertical, que vem logo aps a impedncia de entrada. Qualquer sinal eltrico que
aparecer na entrada do amplificador vertical ser amplificado sem deformao at a frequncia
especificada pela largura de banda. Note bem que isto no significa que esse sinal de entrada seja igual ao
que h no circuito que queremos medir. responsabilidade do operador garantir que isto acontea: para
isto ele deve se assegurar de que a impedncia equivalente do circuito teste vista desde a ponta do cabo
(ou da ponta de prova) seja |Zeq| << |Zint| para todas as frequncias dentro da largura de banda do
osciloscpio. Por exemplo, se medimos sobre um capacitor de 1 F (e no estiver em paralelo com um
indutor), ento a capacitncia do cabo e a interna do osciloscpio so irrelevantes j que 1 F em paralelo
com 100 ou 200 pF continua sendo 1 F. Neste caso a voltagem medida pelo osciloscpio igual do
capacitor a qualquer frequncia alta (exceto talvez a frequncia 0 ou muito baixa se o capacitor estiver em
srie com um resistor de valor > 1 M).
Exerccio 3.1: Mostre que a impedncia equivalente de um resistor R em paralelo com um indutor L
Z = ( R2 L2 + jLR 2 ) / ( R 2 + 2 L2 ) . Este um exemplo onde depende de .
Exerccio 3.2: A resistncia equivalente de dois resistores em paralelo sempre menor que cada uma das resistncias: R1//R2 < R1
e R1//R2 < R2. No caso de impedncias complexas o mdulo de Z1//Z2 no sempre menor que o mdulo de Z1 ou de Z2. Por
exemplo, um indutor e um capacitor em paralelo tem uma impedncia cujo mdulo, L/|2LC 1|, pode ser muito maior que L
ou maior que 1/C, ou maior que ambas, dependendo do valor . No obstante isso, se uma das impedncias um resistor R,
ento mostre que |R//Z| min{R, |Z|}, onde o igual acontece s se uma das impedncias nula. (Nota: na demonstrao
necessrio usar o fato que a parte real de qualquer impedncia sempre 0. Este fato ser provado na seo 3.3).
Exerccio 3.3: (resolvido) Compensao da ponta de prova de osciloscpios: A impedncia de entrada de um osciloscpio de
1 M e tm uma capacitncia parasita de 20 pF. Uma ponta de prova que atenua por um fator 10 vezes ligado a este
osciloscpio atravs de um cabo coaxial de capacitncia Cc = 250 pF. O circuito da ponta de prova mostrado na Figura 3.4.
Quanto devem ser R e C para que atenue por um fator 10 independentemente da frequncia?
Soluo: Suponhamos que queremos medir uma voltagem a uma frequncia e amplitude Ve. A voltagem medida pelo
osciloscpio a voltagem Vo sobre a sua resistncia interna Ro = 1 M, e queremos que seja Vo = Ve /10 independentemente de
Impedncia complexa 15
. Para simplificar o problema notemos que a capacitncia do cabo est em paralelo com a capacitncia interna do osciloscpio
de modo que podemos esquematizar o circuito como na Figura 3.5, onde substitumos o cabo e o capacitor parasita do
osciloscpio por um nico capacitor de capacitncia Co = Cc + 20 pF = 270 pF.
C
Z1
Ve
R
Vo 1M 20 pF + Cc = Ve Z2 Vo
R / j C R
Z1 = =
R + 1/ jC 1 + jRC
Ro / jCo Ro
Z2 = =
Ro + 1/ jCo 1 + jRoCo
( Z1 + Z 2 ) / Z 2 = 1 + R / Ro = 10 .
Substituindo pelo valor de Ro obtemos R = 9 M. O valor de C que satisfaz a condio RC = RoCo ento C = (1 M)(270 pF)
/(9 M) = 30 pF.
Exerccio 3.4 - Influncia da impedncia interna do osciloscpio em medidas de voltagem: Com ilustrado na Figura 3.3, a
impedncia de entrada de um osciloscpio formada por um resistor R0 de 1 M em paralelo com um capacitor C0 de 20 pF.
Este osciloscpio utilizado para medir a voltagem de sada de um gerador com impedncia interna de Zint = 50 (real e
independente da frequncia) atravs de um cabo coaxial RG-58 (100 pF/m) de 30 cm. Para baixas frequncias o osciloscpio
mede corretamente a fem, j que R0 >> Zint (se diz que o instrumento de medio no carrega o gerador), porm, medida que
aumentamos a frequncia acima de uns poucos kHz a impedncia interna do osciloscpio comea a cair devido a C0 (1/C0 = R0
para f = 7.96 kHz). A preciso de um osciloscpio tipicamente de 1%. At que frequncia a voltagem medida no osciloscpio
igual fem do gerador dentro de um erro de 1 %? Quanto se (no lugar do cabo de 30 cm) utilizarmos um ponta de prova
(devidamente compensada) de 10? [Resposta: 80 kHz sem, 800 kHz com ponta de prova].
e deve ser calculada utilizando as correntes e voltagens reais. No caso de corrente alternada a potncia
instantnea varia periodicamente com o tempo. A potncia mdia dissipada em um perodo T = 2/
T
P = T1 0 v(t )i (t )dt = 12 V0 I 0 cos . [3.9]
Vef = V0 2 e
[3.10]
I ef = I 0 2,
obtemos
Na eq. 3.11 escrevemos a potncia mdia dissipada em uma impedncia Z de trs formas equivalentes
e que destacam similaridades e discrepncias em relao s frmulas anlogas dos circuitos de corrente
contnua:
A primeira forma na eq. 3.11 se parece com a expresso P = VI do caso contnuo, exceto pelo
importante fator cos, tambm chamado fator de potncia.
A segunda forma na eq. 3.11 idntica potncia dissipada em um resistor P = RI2 no caso contnuo
e mostra que a parte real de Z responsvel pela dissipao de potncia.
A terceira forma na eq. 3.11 mostra uma assimetria em relao ao caso de corrente contnua, onde P =
V2/R. No caso de c.a. a potncia GVef2 (e no Vef2 / ).
A eq. 3.11 nos leva a concluses gerais ainda mais importantes: Dado que um elemento passivo s
pode dissipar potncia (i.e., no pode ser P < 0, em cujo caso estaria gerando energia), as duas ltimas
formas da eq. 3.11 nos mostram que sempre deve ser
0 e G 0. [3.12]
Ou seja, a parte real da impedncia e a parte real da admitncia de um circuito passivo devem ser
sempre positivas (ou nulas).
Notemos que indutores e capacitores ideais no dissipam potncia (nos dois casos o fator de potncia
nulo). A potncia dissipada sempre nos resistores e pode ser calculada como a soma dos valores de
RIef2 mas onde Ief a corrente que passa por cada resistor R. Na prtica, tanto capacitores como indutores
possuem resistncia interna e portanto dissipam potncia.
interessante notar que a mxima transferncia de potncia de um gerador de c.a. para uma
impedncia de carga ocorre quando a impedncia interna do gerador coincide com o complexo conjugado
da impedncia de carga. Isto o anlogo do Teorema de mxima transferncia de potncia da teoria de
circuitos de corrente contnua e est demonstrado no Exerccio 3.5.
Exerccio 3.5 (resolvido): Um gerador de c.a. possui uma impedncia interna z e alimenta um circuito com impedncia total Z.
Mostre que a potncia dissipada em Z mxima se Z = z* (* indica o complexo conjugado) e que neste caso metade da potncia
total gerada dissipada no gerador. Este resultado o anlogo do teorema de mxima transferncia de potncia de circuitos de
corrente contnua.
Soluo: O gerador produz uma fem mas devido queda de tenso em z, a tenso aplicada sobre Z V = zI (Figura 3.6).
z
I Z
V
Figura 3.6. Gerador com impedncia interna alimentando um circuito externo de impedncia Z.
Impedncia complexa 17
A corrente no circuito I = /(z + Z). Portanto, se escrevermos z = r + jx e Z = + jX, a potncia dissipada em Z ser
ef
2
ef
2
.
P = I ef2 = =
| z + Z |2 (r + ) 2 + ( x + X ) 2
Esta expresso mxima para x = -X e r = , ou seja Z = z* (note que no podemos fazer r = - pois a parte real da impedncia
de um elemento passivo sempre positiva ou nula). Neste caso I = /2r, P = Pmax = ef
2
/ 4r , e a potncia total fornecida pelo
gerador vale
Ptotal = ef I ef = ef
2
/ 2 r = 2 Pmax .
Portanto, na condio de mxima transferncia de potncia, metade da potncia total dissipada na impedncia interna do
gerador e metade no circuito externo.
Filtros 19
4. Filtros
Os filtros eltricos so muito utilizados em instalaes eltricas e equipamentos eletrnicos para
rejeitar rudo e para proteger, por exemplo, contra transientes induzidos pela queda de raios durante as
tormentas. De modo geral um filtro pode ser representado como um circuito com dois terminais de
entrada e dois de sada (Figura 4.1).
Ve Vs
Figura 4.1. Representao geral de um filtro. Na porta de entrada aplicamos uma voltagem Ve e na sada
obtemos uma voltagem Vs que depende da frequncia.
V () Vs () j()
H () = s = e . [4.1]
Ve () Ve ()
A funo de transferncia pode ser definida para frequncia zero como o quociente entre as voltagens
de corrente contnua. Neste caso um indutor atua como um curto-circuito e um capacitor como um
circuito aberto. Como consequncia, H(0) real e a fase (0) s pode ser 0 (H(0) positivo) ou (H(0)
negativo).
A importncia do estudo das propriedades gerais de filtros que todo circuito pode ser pensado como
um filtro no qual a voltagem de entrada a do gerador () e a de sada a voltagem sobre um elemento do
circuito. Se o gerador no senoidal ainda podemos escrever (t) como uma superposio de funes
harmnicas atravs da decomposio em srie de Fourier (ou atravs da transformada de Fourier no caso
pulsos e sinais no peridicos). A voltagem de sada se obtm multiplicando cada componente de Fourier
pela funo de transferncia calculada na frequncia correspondente e somando sobre todas frequncias.
Na seo 7 mostraremos como isto feito.
Na maioria das situaes de interesse prtico estamos mais interessados na amplitude e menos na
fase. O quadrado do mdulo de H,
2
T () = H () [4.2]
1 jC 1
H () = =
R + 1 jC 1 + jRC
e [4.4]
1
T () =
1 + (RC )2
Este filtro possui transmitncia mxima Tmax = 1 para = 0 e cai para zero como 1/(RC)2 na medida em
que . Para = 0 1/RC a transmitncia cai metade do mximo. Este comportamento mais
fcil de visualizar em um diagrama log-log (tambm chamado diagrama de Bode 8) como o da direita na
Figura 4.2. Para << 0 a resposta do filtro praticamente plana e a transmitncia de 0 dB; para =
0 a transmitncia 3 dB (10 log() = 3.0103) e para >> 0 a transmitncia cai a uma taxa de
20 dB/dec (decibis por dcada) (10 log[1/(RC)2] = 20 log() + const.). 0 chamada frequncia de
corte ou de cotovelo e a faixa de frequncias entre 0 e 0 chamada largura de banda do filtro. Note que
no diagrama de Bode a dependncia com 1/2 em alta frequncia muito mais evidente do que no grfico
em escala linear.
1.00 0
Frequencia de corte:
0 = 1/RC
0.75 R -20
Inclinao:
T(), dB
Ve C Vs
T()
0.25 -60
0.00 -80
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 -1 0 1 2 3 4
RC log(RC)
Figura 4.2. Filtro RC passa-baixos e Transmitncia como funo da frequncia em escala linear (esquerda) e
logartmica (direita).
8
Em memria de Hendrick Bode (1905-1982) pesquisador da Bell Laboratories (USA) e primeiro a utilizar estes
diagramas nos anos 1930.
Filtros 21
Tmax 3 dB 3 dB 3 dB
f
T, dB
1.00
0
-3dB
0.75
-10 Frequncia de corte: 0 = 1/RC
T()
C
T(), dB
Filtro RC passa-altos
0.25 -30
0.00 -40
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
-2 0 2 4
RC
log(RC)
Figura 4.4. Filtro RC passa-altos e sua Transmitncia em escala linear (esquerda) e diagrama de Bode
(direita). A transmitncia -3 dB (em relao Tmax = 0 dB) para = 0.
Dicas experimentais:
1) Fazendo bons diagramas de Bode: Para que os pontos experimentais em um grfico em escala logartmica
fiquem aproximadamente eqidistantes no eixo horizontal (logf), bvio que medindo para 10 Hz, 100 Hz, 1 kHz,
10 kHz, etc., os pontos estaro eqidistantes no eixo horizontal. Mas com esta escolha teremos apenas um ponto por
dcada. s vezes queremos mais pontos por dcada. Em geral, se queremos N pontos por dcada e eqidistantes na
escala logartmica, devemos medir para valores de f na seqncia 100, 101/N, 102/N, etc. Na prtica, raramente
precisamos medir mais do que dois ou trs pontos por dcada. Os valores exatos para dividir uma dcada em trs
partes iguais seriam 101/3 ( 2.15) e 102/3 ( 4.64) [ou seja, a seqncia 12.154.6410] e, para dividir em duas
partes iguais 101/2 ( 3.16) [ou seja, 13.1610]. Isto, porm difcil de lembrar. Se quiser 2 pontos por dcada siga
a seqncia 1310 [j que log(3) 0.48] (Por exemplo, 10, 30, 100 Hz, 1 kHz, 3, 10, 30 kHz, etc.). Se quiser 3
pontos por dcada siga a seqncia 12510 [j que log(2) 0.30 e log(5) 0.70]. Estas seqncias, se bem
aproximadas, so fceis de lembrar.
2) Barras de erro nos diagramas de Bode: Nos grficos de TdB versus log f, a barra de erro vertical
22 Circuitos de Corrente Alternada
d log(T ) d ln(T ) T
TdB = 10 T = 10 log(e) T = 10 log(e)
dT dT T
Experimentalmente T determinada como o quociente entre duas voltagens V2 e V1 medidas com erros V2 e
V1, respectivamente: T = |V2/V1|2 e
2 2
T 2V1 2V2
= + .
T V1 V2
Geralmente acontece que as voltagens so medidas com o mesmo erro relativo, i.e., V1/V1 = V2/V2 = V/V, e
temos ento
T V
2 2
T V
e
V V
TdB 20log(e) 2 12 .
V V
Por exemplo, se o erro em V for de 4% (tpico de osciloscpios), ento a barra de erro ser de TdB = 0.5 dB para
todos os pontos do grfico.
Por outro lado, a barra de erro na horizontal
f f
log f = log(e) ln f = log(e) 0.43 .
f f
Geralmente, tambm, as freqncias so medidas sempre com o mesmo erro relativo. Se f / f = 0.2% (um valor
tpico em osciloscpios digitais), a barra de erro horizontal de log f = 0.0009 para todos os pontos do grfico.
Note que esta barra de erro (menos de um milsimo de uma dcada) no pode ser representada (seria menor que a
espessura do trao do lpis ou caneta) se o grfico abarcar 1 ou mais dcadas.
Resumindo, para medidas com osciloscpio digital, a barra de erro horizontal desprezvel e a vertical de
0.5 dB para todos os pontos (se as voltagens foram medidas com erro de 4%).
Circuitos ressonantes 23
5. Circuitos ressonantes
Circuitos contendo indutores e capacitores podem exibir o fenmeno de ressonncia. Os circuitos
ressonantes mais simples contm apenas um indutor e um capacitor, alm de resistores. A ressonncia
diferente se o indutor e o capacitor esto ligados em srie ou em paralelo. A ressonncia coberta em
todos os livros texto e at na Internet 9. Vamos rever as propriedades gerais destes circuitos utilizando o
formalismo de impedncia complexa.
V0e j (t )
I =V / Z = , [5.2]
R + (L 1/ C )
2 2
0.10
C L 0 = 150 rad/s
R = 10 (Q = 10)
0L = 100
0.08
P()
0.06
V(t) I(t) R = R/L
0.04 R = 20 (Q = 5)
R = 100 (Q = 1)
0.02
R = 200 (Q = 0.5)
0.00
0 50 100 150 200 250 300
(rad/s)
Figura 5.1. Circuito ressonante srie e potncia transferida por um gerador de Vef = 1 V para vrios valores de
R.
9
Para ver uma animao grfica do circuito RLC srie, brincando com os parmetros do circuito, visite o stio da
Internet http://jersey.uoregon.edu/vlab/ntnujava/rlc/rlc.html.
24 Circuitos de Corrente Alternada
1 RV02
P = I ef Vef cos = RI ef2 = 2 . [5.4]
R + ( L 1 C )
2 2
A condio de ressonncia
= 0 = 1/ LC . [5.5]
V0e j (t )
I =V / Z = , [5.9]
( )
2
R + L 1 2 LC
2
1.0
0.9 Q = 100
Q = 10
C 0.8
Q=5
0.7
P() / P(0)
0.6
L 0.5
V(t)
R 0.4
I(t) 0.3
0.2 Q=1
0.1
Q = 0.5
0.0
0 1 2 3 4
/0
= 0 = 1/ LC . [5.12]
a) Q = 0.1
-10
Transmitncia, dB
-20
0.5
-30
C L
1
-40
-50
R 5
100 10
-60
0.01 0.1 1 10 100
/o
20
10 b) Q=5
1
Transmitncia, dB
0
0.5
-10
RC
-20 L R ( - 20
dB
/de
-30 c )
RL
C
-40
( -4
C
0
dB
-50
/d
e
c)
-60
0.1 1 10 100
/0
Figura 5.3. Dois filtros ressonantes srie com as suas curvas de transmitncia. a) passa-banda; b) passa-
baixos. Note que o circuito b) um amplificador de voltagem se Q > 1.
A Figura 5.3 mostra dois filtros ressonantes srie com as suas respectivas curvas de transmitncia.
Quando a sada no resistor (Figura 5.3a) temos um filtro passa-banda. Longe da ressonncia a
transmitncia cai a 20 dB por dcada. Quando a sada (Figura 5.3b) no capacitor temos um filtro passa
baixos. Este filtro rejeita as altas frequncias melhor que o filtro RC passabaixos. Para uma melhor
comparao entre os filtros passabaixos RLC e o RC, na linha tracejada de Figura 5.3b representamos
Circuitos ressonantes 27
tambm a transmitncia do um filtro RC com a mesma frequncia de corte. No filtro RLC a transmitncia
cai com o logaritmo da frequncia a uma taxa de 40 dB/dec, enquanto que no RC a queda de 20
dB/dec.
Note finalmente que no circuito ressonante srie, em um faixa estreita de frequncias em torno da
ressonncia e dependendo do valor de Q, a amplitude da voltagem no capacitor ou no indutor pode ser
maior que a de entrada. Isto ilustrado pelo pico de ressonncia que aparece na Figura 5.3b no caso Q =
5. Nesse pico a voltagem de sada maior que a de entrada. De fato, fcil mostrar que, na ressonncia,
a voltagem no capacitor Q vezes maior que a de entrada. primeira vista pode parecer que h algo
esquisito pois esse circuito passivo, no entanto apresenta ganho. No h nenhum princpio fsico
violado, porm. Circuitos passivos podem ser amplificadores de voltagem, embora no de potncia.
Na prtica, o comportamento de um filtro real se afasta do previsto no modelo com elementos de
circuito ideais devido s indutncias, capacitncias e resistncias parasitas presentes nos elementos e
circuitos de c.a. (seo 6)
Exerccio 5.1: Mostre que a transmitncia do filtro ressonante RLC srie com sada no capacitor (Figura 5.3-b)
Q2
T () =
[
( / 0 ) 2 + Q 2 1 ( / 0 ) 2 ]
2
e que na ressonncia vale T(0) = Q2. Qual o comportamento do filtro para / 0 << 1 e / 0 >> 1?
Resistores, capacitores e indutores reais 29
rs cp rs C
rp C rs
L L
ls
Figura 6.1. Circuitos equivalentes de (a) indutor a baixa frequncia, (b) indutor a alta frequncia, (c) capacitor
a baixa frequncia, e (d) capacitor a alta frequncia.
Exerccio 6.1: Escreva a impedncia complexa para cada caso da Figura 6.1.
6.1 Resistores
Nas frequncias que nos interessam, a maioria dos resistores podem ser considerados ideais, exceto
talvez alguns resistores de pequeno valor nominal, R, nas frequncias mais altas. Os resistores mais
comuns para circuitos de baixa potncia (< 5 W) so feitos de filme de carbono depositado em forma
helicoidal sobre um cilindro cermico (Figura 6.2). A corrente ento passa por um solenide de
comprimento d e rea A = r2. Se N o nmero de voltas, a indutncia parasita , aproximadamente,
ls 0 N 2 A/d. [6.1]
10
Veja por exemplo, B.M. Oliver and J.M. Cage, Electronic Measurements and Instrumentation, Mc-Graw-Hill,
New York, 1971.
30 Circuitos de Corrente Alternada
Para termos uma idia concreta, suponha d = 12 mm, 2r = 4.5 mm e N = 7 (valores tpicos para alguns
resistores de W). A indutncia ser ento de 82 nH, que representa uma reatncia X = 5 a 10 MHz.
Portanto, se R for pequeno (neste exemplo, menor que 100 , e, em geral, se R for comparvel ou menor
que X), a indutncia deste tipo de resistor dever ser levada em considerao. O valor preciso de ls
depende de N2, sendo que N varia muito entre resistores de diferentes valores de R e entre resistores de
diferentes fabricantes.
2r
Filme de helicoidal de
carbono depositado
R
d
ls
Tampa metlica
Figura 6.2. Resistor de filme de carbono. O circuito equivalente para alta frequncia um resistor ideal em
srie com um indutor.
Alguns resistores de alta potncia (> 5 W) so feitos de arame metlico enrolado sobre uma cermica;
estes so altamente indutivos e no devem ser utilizados em frequncias acima de 1 kHz. Se precisar de
um resistor de baixo valor de R, baixa indutncia e alta potncia, voc mesmo pode fazer um a partir de
arame. O truque para diminuir a indutncia dobrar o arame na metade do comprimento e enrolar o fio
duplo sobre a cermica (tomando cuidado para que o arame no se toque). Deste modo, o campo
magntico devido corrente nas espiras tem um sentido at a metade do arame e sentido oposto na
segunda metade.
6.1.1 Efeito pelicular
Para frequncias acima de algumas dezenas de kHz se observa que a resistncia dos fios metlicos
aumenta com a frequncia devido a que quase toda a corrente passa apenas por uma camada fina perto da
superfcie. Este fenmeno se conhece como efeito pelicular. 11,12 A amplitude da densidade de corrente no
interior dos condutores reais (resistividade no nula) cai exponencialmente a partir da superfcie. A
distncia dentro do condutor para a qual densidade de corrente vale 1/e do valor na superfcie dada por
2 / , [6.2]
11
Veja por exemplo, The Feynman Lectures on Physics, op. cit., vol. 2, sect. 32-11.
12
S. Ramo and J.R. Whinnery, Fields and Waves in Modern Radio, 2nd Ed., Wiley, New York, 1960.
Resistores, capacitores e indutores reais 31
f << / a 2 f >> / a 2
2a
Figura 6.3. Efeito pelicular. A baixas frequncias (esquerda) a corrente passa por toda a seo transversal de
um fio condutor, e a altas frequncias (direita) passa apenas por uma camada de espessura .
O efeito pelicular importante se << a, o que acontece para frequncias acima de certo valor
f / a 2 , que depende da condutividade do metal e do dimetro do fio. Por exemplo, para o cobre (
= 1.810-8 -m) temos, de [6.2],
(m) 0.07 / f (Hz) ,
6.2 Indutores
Os indutores so confeccionados enrolando um fio de cobre envernizado sobre um objeto de seo
cilndrica ou retangular. A resistncia do enrolamento representa uma resistncia srie que relativamente
mais importante a baixas frequncias (Figura 6.1a). Esta resistncia srie depende essencialmente do
comprimento total (ltot) e dimetro (D) do fio.
Consideremos o seguinte exemplo: Um indutor com ncleo de ar, na forma de um solenide de
comprimento d = 3 cm, rea mdia A = r2 = 12 cm2 e com N = 1000 voltas, tem uma indutncia
L = 0 N 2 A/d = 50 mH.
O permetro mdio de cada espira 2r = 12.3 cm, o que d um comprimento total ltot = 123 metros. Se o
fio de cobre (resistividade = 1.810-6 cm), de dimetro D = 0.25 mm (rea da seo transversal S =
D2/4), ento a resistncia srie desse indutor rs = ltot /S = 45 . Para uma frequncia de 100 Hz, a
reatncia XL = 2fL = 32 , que menor que a sua resistncia interna. Por outro lado, para uma
frequncia de 10 MHz, XL = 3.2 M >> rs (mesmo considerando o efeito pelicular, que daria rs = 132 ).
32 Circuitos de Corrente Alternada
Apesar disto, em certos casos, principalmente em circuitos ressonantes, rs no poder ser ignorada,
mesmo que a frequncia seja alta. A frequncias mais altas necessrio considerar a capacitncia parasita
entre as espiras da bobina, cp, em paralelo com o indutor (Figura 6.1b).
A relao entre a reatncia a uma dada frequncia de trabalho e a resistncia srie chama-se fator de
mrito ou Q da bobina:
QB = L/rs . [6.3]
Note que a fase da impedncia complexa de um indutor ideal = /2, enquanto que para um indutor
real = tan-1QB.
Indutores com ncleo de ferro possuem uma resistncia parasita em paralelo que representa as perdas
por correntes de Foucault 13 e por histerese. O efeito das correntes de Foucault depende pouco da
frequncia, mas depende muito do material, sendo mnima em materiais de gros sinterizados ou
laminados. J o efeito de histerese diminui com a frequncia, mas depende da corrente (e portanto um
efeito no linear).
6.2.1 Indutncia interna de fios e indutncias parasitas em circuitos
Para frequncias acima de 1 MHz frequentemente necessrio levar em considerao a indutncia
parasita dos circuitos. Todo fio de seo circular possui uma indutncia interna, L0 que a baixa frequncia
vale 50 nH/m vezes o comprimento do fio, independentemente do seu dimetro, e diminui com a
frequncia devido ao efeito pelicular. A indutncia interna de um objeto condutor obtida utilizando a
igualdade para a energia do campo magntico
1 L i2
2 0
= 1
2 z H 2 dV ,
onde a integral sobre o volume interno do objeto e H o campo magntico produzido pela corrente i.
No caso de um fio de seo circular, com a corrente uniformemente distribuda no seu volume e
comprimento l, o resultado
l
L0 = .
8
Se o fio for de metal magntico (ferro, ao, etc) ento a indutncia interna poder ser grande, a
baixas frequncias, devido ao alto valor de .
A malha de todo circuito em si mesma uma espira e, portanto possui uma auto-indutncia. Esta
indutncia pode ser estimada assumindo uma espira circular 14:
L L0 + r ln(8r / e 2 a) ,
vlida se o quociente entre o raio da espira e o raio do fio r/a >> 1. Assim, por exemplo, uma espira sem
ncleo ( = 0), de dimetro 2r = 10 cm e feita de um fio de dimetro 2a = 0.5 mm tem uma indutncia de
uns 0.35 H.
6.3 Capacitores
Os capacitores so confeccionados geralmente com filmes de alumnio separados por filmes
dieltricos (isolantes), e enrolados para fazer um pacote compacto. A resistividade do Al e a resistncia
das soldas (entre os filmes de Al e os fios de cobre que fazem os contatos externos) contribuem
13
Na literatura inglesa as correntes de Foucault so denominadas eddy currents.
14
Veja por exemplo a seo. 6-18 do livro de Ramo e Whinnery (ref. 12).
Resistores, capacitores e indutores reais 33
resistncia srie, rs (Figura 6.1d). Quanto mais finas so as lminas de Al, maior a resistncia srie.
Valores tpicos de rs esto entre 0.1 e 1 . A resistncia srie mais importante a altas frequncias, j que
a reatncia XC = 1/C pode ser muito pequena.
Para baixas frequncias a resistncia srie tem pouca ou nenhuma importncia, mas agora a
resistncia paralelo, rp, entra no jogo (Figura 6.1c). O filme dieltrico geralmente um plstico, mas pode
ser um papel impregnado em leo (capacitores para alta tenso) ou em soluo de eletrlitos (capacitores
de alto valor C, mas com polaridade). Os capacitores reais apresentam fugas de corrente pela superfcie
do isolante (no caso de isolantes plsticos) ou pelo volume (no caso de papel impregnado). A fuga total
pode ser caracterizada por uma condutncia g = 1/rp ou pela assim chamada tangente de perdas a uma
dada frequncia (geralmente 60 Hz):
tan = gXC = 1/rpC. [6.4]
Note que a fase da impedncia complexa de um capacitor ideal = -/2, enquanto que para um
capacitor real = - tan-1(1/tan) = -/2 + . Valores tpicos so rp > 100 M e < 10-3 rad @ 60 Hz.
Outro tipo de capacitor muito utilizado pelo seu baixo custo o capacitor cermico, feitos de uma
cermica de alta constante dieltrica na forma de disco. Estes capacitores so pouco indutivos mas a alta
constante dieltrica devida a que o material est perto de uma transio fase, pelo que a capacitncia
varia muito com a temperatura. So utilizados em alta frequncia e alta tenso, mas no em circuitos de
preciso. A constante dieltrica elevada implica tambm em alta condutividade, que resulta em tangentes
de perdas altas a baixas frequncias.
Finalmente, os capacitores apresentam sempre uma indutncia parasita. Esta preocupante apenas
nos circuitos de alta frequncia ou nos circuitos de pulsos de curta durao. A indutncia de um capacitor
de placas paralelas pode ser estimada como
ls 0ld/w, [6.5]
onde d a espessura do isolante e l e w so, respectivamente, o comprimento e a largura das placas.
Exerccio 6.4: Estime a capacitncia, C, a indutncia, ls, e resistncias srie, rs, e paralelo, rp, de um capacitor de fitas de alumnio
( = 2.810-6 cm) com w = 2 cm de largura, t = 5 m de espessura e l = 2 m de comprimento separadas por um filme plstico (
= 30 pF/m, = 1.21018 cm) de espessura d = 10 m. Note que a indutncia parasita e resistncia srie dependem de se os
contatos forem soldados s fitas de alumnio pelos extremos ou pelos lados (aps enroladas); calcule ls e rs nos dois casos.
15
Nas frequncias que estamos considerando, o efeito pelicular faz com que a indutncia interna do fio possa ser
desprezada comparada com a indutncia externa.
34 Circuitos de Corrente Alternada
0
L
l cosh(b / 2a ) 170 nH,
e a ressonncia espria ocorrer em 390 kHz. Vemos que esmagando a espira diminumos a indutncia
parasita e levamos o problema para frequncias mais altas. Mas no ganhamos muito: as coisas continuam
da mesma ordem de grandeza. Mesmo utilizando um cabo coaxial do mesmo comprimento, a indutncia
do cabo 16 ser da ordem de 250 nH/m15.7cm = 40 nH, levando a ressonncia espria para uns 800 kHz.
Por mais cuidados que tenhamos, ressonncias esprias so inevitveis. Afortunadamente, na maioria
dos casos de interesse neste curso elas no so um grande problema porque geralmente temos um resistor
em srie que faz o Q da ressonncia espria ser << 1. Para ilustrar isto suponhamos que a resistncia do
circuito R = 50 , ento no caso da espira com L = 0.35 H e f0 = 270 kHz, temos Q = 2f 0 L / R
0.012, e no caso L = 40 nH e f0 = 800 kHz, temos Q = 0.004.
Circuitos reais esto cheios de efeitos esprios em altas frequncias. Projetar circuitos de alta
frequncia que funcionem bem uma arte dominada por poucos.
16
O cabo coaxial que se utiliza geralmente no laboratrio, RG-58U, tem 250 nH/m e 100 pF/m. Veja a seo 10.2.
Circuitos de c.a. com gerador de funo arbitrria 35
v(t)
vpp
vdc
0
t
T
Figura 7.1. Forma de onda peridica genrica.
ou seja, o que veramos num osciloscpio no modo de acoplamento de entrada ac. A parte alternada
caracterizada pela amplitude pico-a-pico
v pp = vmax vmin , [7.3]
onde vmax e vmin so, respectivamente, os valores mximo e mnimo de v(t). Outra forma de caracterizar a
variao da parte alternada de v atravs do seu valor eficaz (ou valor rms, de root-mean-square)
definido como
vef = vrms = 1 T
v (t )dt .
2
T 0
[7.4]
O valor eficaz til para calcular potncias: A potncia mdia dissipada em um resistor R com uma
voltagem arbitrria (mas peridica) P = vef
2
/R.
O aluno no deve confundir os valores eficazes com os valores medidos com um voltmetro de
corrente alternada. A maioria destes instrumentos (principalmente os de agulha) medem um valor Vvac
proporcional mdia do valor absoluto de v(t): Vvac = | v | / 2 2 , onde
T
| v | = T1 0 |v(t )|dt . [7.5]
a) onda quadrada
pp dc
( t ) = dc + pp n2 cos( n t 2 )
n =1,impar
0 T/2 T
b) onda triangular
pp dc
( t ) = dc + pp 4 cos( n t )
2n2
n =1,impar
0 T/2 T
c) onda retangular
pp
dc ( t ) = dc + pp 2 sin(nn / T ) cos nt
n =1
0 /2 T
e) onda rampa
pp dc
( t ) = dc + pp 1
n
cos( n t +
2
)
n =1
0 T
Figura 7.2. Formas de onda no senoidais bsicas de um gerador de funes e sries de Fourier
correspondentes.
A Figura 7.2 mostra as sries de Fourier das formas de onda de um gerador de funes tpico 17. Um
gerador de funes produz (alm de ondas senoidais) vrias formas de onda peridicas no senoidais tais
como a onda quadrada, triangular, dente de serra, rampa e retangular ilustradas na Figura 7.2. Geralmente
podemos controlar o perodo T, a amplitude pp, e o nvel dc dc. A onda retangular e til para estudar o
comportamento de circuitos para pulsos eltricos. Nos geradores de onda retangular podemos controlar a
durao do pulso , atravs de um boto indicado no painel do instrumento como asymmetry ou como
duty-cycle (que a frao /T em percentagem: um duty-cycle de 20% significa = 0.2T ).
17
D. Buchla and W. McLachlan, Applied Electronic Instrumentation and Measurement, Macmillan, New York,
1992. Chapter 1.
Circuitos de c.a. com gerador de funo arbitrria 37
Idealmente, a onda quadrada e a rampa so funes descontnuas, e a onda triangular tem derivada
descontnua (a derivada da onda triangular uma onda quadrada). Os geradores de funo reais, porm,
produzem sempre uma funo contnua e com derivada contnua. Os geradores tm uma impedncia
interna baixa, tipicamente 50 , e segundo as especificaes dos fabricantes, em toda a faixa de
frequncias de operao do gerador a impedncia interna real e do mesmo valor (dentro de 10%
tipicamente). Sabemos porm que alguma indutncia parasita sempre existe e, por menor que ela seja,
produziria uma voltagem infinita (que nenhum isolante suportaria) se a corrente sofresse uma
descontinuidade. Do mesmo modo, a capacitncia parasita torna impossvel uma descontinuidade na
voltagem.
A eq. (7.6) nos diz que a voltagem no gerador uma soma de voltagens produzidas por geradores
senoidais de diferentes frequncias, amplitudes e fases, todos ligados em srie. Em virtude do princpio de
superposio, a resposta de um circuito a soma das respostas a cada um dos termos da srie. A resposta
a cada termo da srie pode ser calculada utilizando o formalismo de correntes complexas da seo 2 e a
funo de transferncia da seo 4.1. Para isto, escrevemos as sries de Fourier do gerador (voltagem de
entrada) e de v (voltagem de sada) da seguinte forma
{
(t ) = dc + Re n e jnt
n =1
}
[7.7]
{
v(t ) = vdc + Re Vn e jnt ,
n =1
}
j
onde Vn = vn e n a amplitude complexa da componente de frequncia n = n. Lembrando o que
falamos na seo 4.1, a razo entre as amplitudes das voltagens de sada e de entrada a uma frequncia
a funo de transferncia do circuito, H(); portanto Vn = H (n )n e vdc = H (0)dc . Temos ento
que
v(t ) = H (0)dc + Re{H (n )n e jnt } . [7.8]
n =1
Como exemplo deste tipo de anlise, consideremos o filtro RC passa baixos (Figura 4.2) excitado por
uma onda quadrada, cuja expanso em srie de Fourier est apresentada na Figura 7.2-a. A funo de
transferncia deste circuito H () = 1/ (1 + j) , onde = RC. Portanto, a voltagem no capacitor ser
2 pp e jnt j/2
v(t ) = dc + Re [7.9]
n=1,impar (1 + jn )n
O anlise utilizando sries de Fourier pode decepcionar alguns alunos pois difcil intuir qual o
resultado da soma infinita. Por exemplo, no caso particular da eq. 7.9, se T << ento para todos os
harmnicos e a fundamental temos n >> 1 e como consequncia
ppT cos(nt )
v(t ) dc . [7.10]
2
n =1,impar n2
que no diz muito alm do que j sabemos: os termos da srie da voltagem de sada caem mais
rapidamente com n do que a os termos da funo de entrada, como cabe esperar de um filtro passa baixos.
Mas se olharmos s sries de Fourier da Figura 7.2 e notarmos que cos(nt) = cos(nt ),
perceberemos que a eq. 7.10 coincide com a expanso da uma onda triangular de amplitude pico-a-pico
38 Circuitos de Corrente Alternada
v pp = ppT / 4 . Note que a onda triangular proporcional a integral da onda quadrada. Como veremos
na seo 7.1, o filtro RC passa baixos um circuito integrador para frequncias altas ( >> 1/).
Para as funes tpicas de um gerador de funes (ondas quadrada, retangular, rampa e triangular) as
equaes de Kirchoff de circuitos simples de uma malha podem ser resolvidas facilmente integrando uma
equao diferencial. Este procedimento leva a solues analticas mais fceis de analisar do que uma srie
de Fourier. Como exemplos, vamos resolver a seguir alguns problemas simples, mas de grande
importncia prtica.
Integrador RC
<< T ( = T/40)
R pp dc
(t) C v(t)
= RC T ( = T)
pp tanh(T/4) dc
Integrador RL
L
>> T ( = 40T)
pp T/4 dc
(t) R v(t)
= L/R 0 T/2 T
Figura 7.3. Circuitos integradores RC e RL e resposta destes circuitos a uma onda quadrada de amplitude
pico-a-pico pp para os casos em que muito menor, comparvel ou muito maior que T (as relaes exatas
entre e T para as quais as formas de onda foram calculadas esto indicados entre parntesis. Note, portanto,
que as escalas verticais no so as mesmas). (Veja o Exerccio 7.1)
Mostraremos aqui que para frequncias altas (ou seja quando a voltagem de sada pequena
comparada com a de entrada) os circuitos da Figura 7.3 se comportam como integradores no seguinte
sentido: em qualquer intervalo de tempo de durao |t - t0| << , a voltagem de sada
1 t (t )dt + v(t )
v(t )
t0 0 . ( | t t0 |<< ) [7.11]
Vamos demonstrar a eq. 7.11 explicitamente para o circuito integrador RC, no caso do integrador RL
os passos da deduo so diferentes mas o resultado final o mesmo. A equao de malha do circuito RC
dv dv
Como v(t ) = q(t ) / C e i = dq / dt , temos que i = C ou Ri = . Portanto, a eq. 7.12 pode ser
dt dt
escrita como
dv
= +v. (exato) [7.13]
dt
Mas notemos que o circuito um filtro passabaixos. Portanto, para frequncias angulares 2/T muito
maiores que 0 = 1/ a voltagem de sada, v, muito menor que a de entrada, . Da eq. 7.12 vemos que
dv
esta condio implica Ri >> v. Assim, se T << 2 a eq. 7.13 aproximadamente Ri = , ou seja
dt
dv
. ( T << 2 ) [7.14]
dt
Integrando a eq. 7.7 entre os instantes t0 e t obtemos a eq. 7.11.
A eq. 7.13 vlida no caso geral, mesmo se a condio T << no satisfeita, e para os dois
circuitos da Figura 7.3. Essa equao pode ser integrada facilmente. O resultado exato
( t t0 )/
v(t ) = 1 t (t )e (t t)/ dt + v(t0 )e
t
. (exato) [7.15]
0
A eq. 7.15 se transforma na eq. 7.11 se |t - t0| << , j que nesse caso podemos aproximar por 1 as
duas exponenciais que aparecem na 7.15.
A Figura 7.3 ilustra a soluo exata 7.15, vlida tanto para o integrador RC como para o integrador
RL, no caso de uma onda de entrada quadrada. Note como medida que o perodo diminui em relao a
a soluo se aproxima da integral 7.11.
Exerccio 7.1: Mostre por integrao direta da eq. 7.15 que para uma onda quadrada de perodo T,
min se 0 t < T / 2 ,
(t ) =
max se T / 2 t < T
onde vmax = vdc + vpp/2, vmin = vdc - vpp/2, sendo vdc = dc e vpp = pp tanh(T/4) com pp = max min. Note que o valor de dc de
sada igual ao de entrada pois os circuitos da Figura 7.3 so filtros passa baixos. Note tambm que se >> T (ou seja, quando os
circuitos integram) a voltagem de sada uma onda triangular com amplitude pico-a-pico vpp = ppT/4. Esta relao entre as
amplitudes pode ser utilizada para medir L ou C conhecendo R.
Exerccio 7.2: Utilizando a srie de Fourier de uma funo peridica demonstre a eq. 7.11. Sugesto: utilize o fato que
t
e jn t = jn t 0
e jn t dt + e jn t0 .
tanto que para o circuito RL = L/R. Ao igual que no caso do integrador, o diferenciador RL pouco
utilizado, exceto a frequncias muito altas.
Os circuitos da Figura 7.4 se comportam como diferenciadores se << T no seguinte sentido: se (t)
varia pouco em qualquer intervalo de tempo de durao menor que T, ento a voltagem de sada
d (t )
v(t ) . ( << T , (t) lentamente varivel) [7.16]
dt
Diferenciador RC
C
<< T ( = T/40)
2pp 0
(t) R v(t)
= RC
2 pp T ( = T)
0
Diferenciador RL 1 + eT / 2
R
(t) L v(t)
pp
>> T ( = 40T)
0
= L/R
0 T/2 T
Figura 7.4. Circuitos diferenciadores RC e RL e resposta destes circuitos a uma onda quadrada de amplitude
pico-a-pico pp para os casos em que muito menor, comparvel ou muito maior que T (as relaes exatas
entre e T para as quais as formas de onda foram calculadas esto indicados entre parntesis). (Veja o
Exerccio 7.3)
Vamos demonstrar a eq. 7.16 explicitamente para o circuito integrador RC, no caso do integrador RL
os passos da deduo so diferentes mas o resultado final o mesmo. A equao de malha do circuito RC
Notando que o circuito um filtro passa altos, para frequncias 2/T muito menores que 0 = 1/, a
voltagem de sada, v, muito menor que a de entrada, . Portanto, se T << 2 a eq. 7.17 pode ser escrita
aproximadamente como
q/C . ( T << 2 ) [7.18]
d
v RC . ( T << 2 ) [7.20]
dt
Dado que = RC, a eq. 7.20 idntica 7.16.
No caso geral, mesmo no sendo lentamente varivel, a equao 7.17 ainda pode ser resolvida em
forma exata: derivando em ambos os membros da eq. 7.17 e usando v = Rdq / dt obtemos
d d v v
= + , (exato) [7.21]
dt dt
que vlida tanto para o diferenciador RC como RL. A soluo exata da 7.21
t d (t ) (t t )/ t /
v(t ) = 0 e dt + v(0)e . (exato) [7.22]
dt
A eq. 7.21 nos permite entender melhor as condies sob as quais a 7.16 vlida e, em particular,
especificar melhor o que queremos dizer com lentamente varivel. Para que a 7.16 seja vlida
necessrio que
dv v
<< ,
dt
ou, usando a 7.16,
d 2 1 d
<< . [7.23]
dt 2 dt
Podemos entender este resultado lembrando novamente que o circuito diferenciador um filtro passa
altos e que qualquer variao brusca tem um espectro de frequncias muito altas. Portanto, as variaes
bruscas passam pelo filtro sem serem atenuadas.
Utilizando este tipo de argumento o aluno pode mostrar que para um circuito diferenciador temos
sempre
vdc = 0 , [7.25]
42 Circuitos de Corrente Alternada
Exerccio 7.3: Mostre por integrao direta da eq. 7.22 que para uma onda quadrada de perodo T,
max se 0 t < T / 2 ,
(t ) =
min se T / 2 t < T
onde vmax = pp /(1 + eT/2 ) e pp = max min. Verifique tambm que a descontinuidade em t = T/2 satisfaz a eq. 7.24. Note que
a amplitude pico-a-pico de sada vpp = 2vmax tende ao valor 2pp quando /T 0 e ao valor pp quando /T .
Exerccio 7.4: Determine a voltagem de sada de um circuito diferenciador no caso de uma onda de entrada triangular.
Transientes no circuito ressonante srie 43
d 2q dq
L 2
+R + q / C = ppu . [8.2]
dt dt
onde q = q(t) a carga instantnea no capacitor. A 8.2 uma equao diferencial de segundo grau e
portanto a soluo depende de duas condies iniciais. No caso da funo degrau, onde a voltagem na
posio do gerador zero para todo t < 0, o capacitor no poderia estar carregado nem poderia estar
passando corrente em t = 0. Portanto, as condies iniciais so
dq
q(0) = 0 e i (0) = = 0. [8.3]
dt t =0
A eq. 8.2 a equao de um oscilador harmnico amortecido, onde a forma da soluo depende do
fator de mrito do circuito Q (definido na seo 5, eq. 5.7). Se Q > (oscilador subamortecido) a
soluo, com as condies 8.3,
q(t ) = C pp [1 e t / (cos t +
1 sin t )] , (Q > ) [8.4]
onde
= 0 1 1/ 4Q 2 , [8.5]
44 Circuitos de Corrente Alternada
= 2 L / R = 2Q / 0 , [8.6]
0 = 1 / LC , Q = 0 L / R . [8.7]
Se o fator de mrito Q > ento o circuito oscila com a frequncia natural de oscilao . Note que
sempre menor que a frequncia de ressonncia 0. As oscilaes so amortecidas exponencialmente
com constante de tempo .
Se o fator de mrito Q < (oscilador sobreamortecido) ento imaginrio puro: = j, onde
1
= 0 1 , [8.8]
4Q 2
q(t ) = C pp [1 e t / (cosh t +
1 sinh t )]
. (Q < ) [8.9]
Exerccio 8.1: Mostre que a [8.4] representa a soluo geral, ou seja, vlida para qualquer valor de Q. (Sugesto: para chegar
[8.9] a partir da [8.4] utilize cos(jx) = cosh(x) e sinjx = jsinhx (vide apndice A); para chegar [8.10] ache o limite da eq. 8.4 para
0 utilizando a regra de LHospital).
Uma vez determinada a carga, as voltagens sobre o resistor (VR), o capacitor (VC) e indutor (VL) so
dadas por
VC = q / C ,
dq
VR = R e [8.11]
dt
d 2q
VL = L .
dt 2
A Tabela 8-I mostra explicitamente o resultado das expresses [8.11] nos trs casos de
amortecimento.
Transientes no circuito ressonante srie 45
Tabela 8-I. Voltagens transientes no capacitor, resistor e indutor para o circuito RLC srie.
A Figura 8.1 mostra as voltagens sobre o resistor, capacitor e indutor nos trs casos de amortecimento
(sub-, sobreamortecido e amortecimento crtico). interessante notar que no caso de amortecimento
subcrtico, o nmero de oscilaes dentro de uma constante de tempo (ou seja /T0, onde T0 = 2/0) , de
acordo com [8.6], Q/. Ou seja, Q vezes o nmero de oscilaes contadas dentro de uma constante de
tempo. Este fato muitas vezes utilizado no laboratrio para estimar rapidamente o Q do circuito.
2
1.0
Q=5 Q = 0.5
Capacitor
VC / pp
1 0.5 Capacitor
Q = 0.3
0 0.0
0.2 1.0
VR / pp
Q = 0.5
-0.2 0.0
1.0
1.0
VL / pp
0.5 Indutor
Indutor Q = 0.3
0.5
0.0 Q = 0.5
-0.5 0.0
0 2 4 6 8 0 5 10 15 20 25
tempo, t/ tempo, t/
Figura 8.1. Transientes no circuito RLC srie para os casos de amortecimento subcrtico (esquerda) e
amortecimentos crtico (direita, Q = 0.5) e sobreamortecido (direita, Q = 0.3).
d 2i di du
L +R + i / C = pp . [8.12]
dt 2 dt dt
A derivada da funo degrau vale zero em qualquer instante de tempo exceto em t = 0, onde tem um
valor muito grande. Esta funo 18, denotada com (t),
du
(t ) = , [8.13]
dt
aparece em muitos problemas de Fsica e chamada funo impulso ou delta de Dirac. No Apndice
C discutimos algumas propriedades desta importante funo. Utilizando as definies 8.5 a 8.7 podemos
reescrever a 8.12 como
d 2i 2 di pp
+ + 02i = (t ) . [8.14]
dt 2 dt L
Os circuitos eltricos so muito utilizados para modelar outros sistemas fsicos lineares, tais como
molas, tomos, lasers e pontes. Na maioria das vezes mais fcil montar circuitos eltricos e medir
voltagens no laboratrio do que montar molas, medir a posio do eltron em um tomo, ou medir
oscilaes de uma ponte. Os sistemas lineares so descritos por equaes diferenciais como a 8.14. O
termo inomogneo da equao que descreve o sistema se denomina excitao, e a soluo da equao a
resposta a essa excitao.
Comparando a eq. 8.2 com a eq. 8.14 vemos que a voltagem sobre o capacitor, proporcional carga,
representa a resposta a uma funo degrau, entanto que a voltagem no resistor, proporcional corrente,
18
Matematicamente falando, a delta de Dirac no realmente uma funo pois o seu valor no est definido em t =
0. Nesse instante o seu valor um infinito muito especial e tal que a integral sobre qualquer intervalo de tempo que
contenha t = 0 1. (Veja mais sobre isto no apndice C).
Transientes no circuito ressonante srie 47
representa a resposta a uma funo impulso 19. Se utilizarmos um osciloscpio para observar a voltagem
sobre o capacitor, estaremos visualizando a resposta a um degrau, e se observamos a voltagem sobre o
resistor estaremos vendo a reposta a um impulso. A Figura 8.1 mostra o que observaramos na tela do
osciloscpio em cada caso.
A resposta a um impulso e a resposta a um degrau so obviamente equivalentes pois a corrente a
derivada da carga. Esta relao vale para qualquer sistema linear: a resposta a um impulso proporcional
derivada da resposta a um degrau. Qualquer uma delas pode ser utilizada para descrever completamente
as propriedades de um sistema linear e so, portanto, de grande importncia em fsica e engenharia.
Vimos na seo 4.1 que um circuito eltrico (e, mais geralmente falando, qualquer sistema linear)
completamente caracterizado pela sua funo de transferncia, ou resposta espectral. Agora estamos
afirmando que tambm completamente caracterizado pela resposta a um impulso. A resposta espectral
referida como uma descrio no domnio da frequncia e a resposta a um impulso uma descrio no
domnio do tempo. As duas descries so completamente equivalentes (demonstramos formalmente na
seo 8.1.2 que a resposta em frequncia a transformada de Fourier da resposta a um impulso), o que
razovel j que o espectro de um impulso contm todas as frequncias. Em circuitos eltricos (e em
muitos outros casos de sistemas lineares) mais fcil medir a resposta a um impulso do que a resposta
espectral.
8.1.2 Anlise de transientes utilizando a Transformada de Fourier
Vimos na seo 7 que os transientes repetitivos podem ser analisados utilizando sries de Fourier. As
desvantagens desse mtodo so que (a) somente se aplica a funes peridicas e (b) geralmente conduz a
expresses que so sries de difcil interpretao. No caso de um gerador de funo arbitrria, mesmo se a
funo no peridica, podemos utilizar o mtodo da transformada de Fourier.
A transformada de Fourier uma ferramenta poderosa de anlise de circuitos e, em geral, de sistemas
lineares. muito til em particular para analisar transientes no repetitivos em circuitos excitados com
geradores de pulsos.
Funes no necessariamente peridicas podem ser representadas no domnio da frequncia atravs
da integral de Fourier (vide Apndice B)
v(t ) = 1 V ()e jt d
2
[8.15]
A funo V() chamado espectro contnuo da funo v(t), e v(t) chamada a antitransformada de
Fourier de V(). Note que se v(t) tem unidades de volts, a transformada tem unidades de V/Hz.
Para qualquer circuito linear de impedncia Z = Z() excitado por um gerador de voltagem (t) a
transformada de Fourier da corrente i(t) simplesmente
I () = E () / Z () = Y () E () , [8.17]
onde E() a transformada de Fourier de (t) e Y() = 1/Z() a admitncia. Vemos ento que o
formalismo da impedncia complexa pode ser empregado diretamente a qualquer circuito linear com
geradores de funes arbitrrias. Isto mostra o poder da transformada de Fourier.
19
A resposta a um impulso tambm chamada, em muitos problemas de Fsica, funo de Green.
48 Circuitos de Corrente Alternada
A corrente real como funo de tempo pode ser determinada pela antitransformada de Fourier da
8.17, que da o produto de convoluo (Apndice B)
i (t ) = (t ) y (t t )dt ,
h(t ) = 1 H ()e jt d .
2 [8.21]
ou seja, o seu espectro ser uma constante. Portanto, da 8.20, teremos que vs ( t ) = 21 Ah( t ) , o que
demonstra que a resposta a um impulso proporcional antitransformada de Fourier da funo de
transferncia. Isto significa o seguinte: se excitamos o circuito com um pulso eltrico de durao
infinitesimal (ou seja, excitamos com uma delta) ento na tela do osciloscpio teremos uma funo do
tempo que a resposta a um impulso. A transformada de Fourier dessa funo ser a funo de
transferncia.
Como j dizemos, no laboratrio mais fcil medir a resposta a um impulso do que a resposta
espectral e por isto que os transientes so to importantes. Mas convenhamos que medir a resposta
Transientes no circuito ressonante srie 49
espectral no demasiado difcil. Os circuitos eltricos so privilegiados no sentido que fcil medir as
coisas tanto no domnio do tempo como no domnio da frequncia. Em contraposio, em ptica mais
fcil medir o espectro do que medir a reposta impulsiva. A dificuldade experimental que o tempo que
caracteriza a relaxao extremamente pequeno (femtossegundos) e deveramos, ento, utilizar pulsos de
luz de durao menor que esse tempo e algum instrumento (o equivalente do osciloscpio) capaz de medir
a resposta temporal com resoluo de femtossegundos. Como consequncia, quase tudo que sabemos das
propriedades pticas de materiais vm da espectroscopia.
Transformadores 51
9. Transformadores
9.1 Generalidades
A corrente que circula pelo enrolamento primrio, Ip, produz um campo magntico na regio do
enrolamento secundrio e, se o fluxo deste campo atravs do enrolamento secundrio varia no tempo, se
induz uma fora eletromotriz (fem) proporcional variao de corrente no primrio (Figura 9.1)
dI p
s = M , [9.1]
dt
onde M a indutncia mtua.
M = k L p Ls , [9.2]
Em baixas frequncias (< 1kHz) o material mais utilizado para ncleo de transformadores o ferro
laminado. O formato laminado serve para minimizar as perdas por correntes de Foucault (as lminas so
envernizadas ou propositadamente oxidadas para isol-las eletricamente uma das outras). Para altas
frequncias se utilizam ferrites ou outros materiais especiais.
Na eq. 9.1, o sinal da fem induzida no secundrio vem determinado pelo sentido dos enrolamentos.
Quando necessrio, esse sentido indicado com um ponto grosso (Figura 9.3): Se as correntes no
secundrio e no primrio saem ou entram ambas pelo ponto, o sinal positivo, caso contrrio o sinal
negativo.
52 Circuitos de Corrente Alternada
dI p dI p
Ip
s = M Ip s = + M
dt dt
V(t) Ip Is
Vp Vs Zs
Vp
12 V
Vs (varivel)
Ip
na forma de campo eltrico em um capacitor. A Figura 9.6 mostra um esquema possvel de ignio
eletrnica. Voc pode explicar como funciona?
-V p Vela de ignio
12 V
Chave a transistores
Figura 9.7. a) Um transformador ideal com corrente passando no secundrio; b) circuito equivalente com
impedncia do secundrio refletida no primrio Z's = Zs/a2; c) circuito equivalente com uma fem = a e
com a impedncia do primrio refletida no secundrio Z'p = a2 Zp.
Transformadores 55
Figura 9.8. a) Fluxo magntico em um transformador com perda de acoplamento. Algumas linhas de campo
no so concatenadas pelo enrolamento secundrio. b) Circuito equivalente com um transformador ideal,
indutncias em srie representando os vazamentos de fluxo magntico e uma indutncia kLp em paralelo no
circuito primrio, por onde passa a corrente de magnetizao, Im , quando o secundrio est em circuito
aberto (Is = 0).
Note que com Is = 0, a indutncia medida entre os terminais de entrada do transformador Lp. Se
fizermos um curto-circuito no secundrio (Vs = 0), a indutncia (1k)Ls aparecer refletida, no primrio
do transformador ideal, em paralelo com kLp e, de acordo com a eq. [9.5], com valor (1k)Ls/a2. A
indutncia medida entre os terminais de entrada neste caso
kL p (1 k ) Ls / a2
Lp = (1 k ) L p + .
kL p + (1 k ) Ls / a2
Esta ento a indutncia medida no primrio com um curto-circuito no secundrio. Assim, com duas
medidas da indutncia no primrio (isto , com o secundrio em aberto e em curto) podemos determinar
experimentalmente o coeficiente de acoplamento k.
Perdas hmicas: Notemos que a corrente de magnetizao est 90 fora de fase em relao
voltagem e, portanto, no dissipa potncia. Se tocarmos um transformador ligado na tomada, com o
secundrio em aberto, perceberemos, porm, que o transformador esquenta.
Isto devido a trs fatores: (1) ao aquecimento do fio do enrolamento primrio, que tem uma
resistividade no nula; (2) s correntes de Foucault (o material do ncleo tambm tem uma resistividade
no nula) e (3) histerese da magnetizao. Os dois ltimos efeitos aquecem o ncleo. Alm do calor, ao
tocar no transformador, muitas vezes percebemos tambm uma pequena vibrao mecnica (e em certos
casos percebemos tambm um som de 60 Hz). Isto devido ao efeito de magnetostrio, que tende a
contrair as espiras do enrolamento (e as lminas do ncleo) quando o campo magntico aumenta. Chapas
de ferro ou outro material magntico nas proximidades do transformador tambm podem vibrar pela ao
do campo que vaza do ncleo. Todos esses efeitos produzem perdas de energia que podem ser
representadas por resistores.
Podemos representar a perda hmica no fio de cada enrolamento como uma resistncia, rp e rs,
respectivamente em srie com Lp e Ls. As outras perdas (correntes de Foucault, histerese, etc.) so
geralmente pequenas e so representadas por um resistor grande, Rn, em paralelo com o transformador
ideal, como ilustrado na Figura 9.9. Geralmente, frequncia de operao, Rn pode ser ignorado.
Zp (1k)L p aI s (1k)L s
N p:N s Vs
rp rs
Ip Rn kL p Is Zs
ideal
Figura 9.9. Circuito equivalente, similar ao da Figura 9.8, mas com resistncias em srie representando as
resistncias dos enrolamentos primrio e secundrio e uma resistncia em paralelo, Rn, representando a perda
de energia no ncleo. A corrente no circuito primrio Ip, porm a corrente no primrio do transformador
ideal aIs.
Geralmente rp << Lp e temos que P V p I m rp L p . Vemos, ento, que quanto maior Lp,
menor ser a perda hmica. Para uma dada frequncia, a forma de diminuir as perdas aumentar o valor
da indutncia. Esta a razo pela qual os transformadores tm muitas voltas nos seus enrolamentos. Isto
explica tambm porque os transformadores das fontes de potncia so volumosos.
As fontes de potncia modernas (como as utilizadas nos microcomputadores), chamadas fontes
chaveadas, tem transformadores relativamente pequenos. O truque que primeiro transformam os 60 Hz
da linha em uma frequncia de 10 kHz ou mais (utilizando para isto um circuito de chaveamento... da o
nome de fonte chaveada) e o transformador agora trabalha em alta frequncia, onde Lp pode ser pequeno
mantendo o produto Lp grande.
Em frequncias muito altas (VHF, UHF, radiofreqncias, etc.), a resistncia do fio dos enrolamentos
aumenta (efeito pelicular) e a indutncia diminui, pois a permeabilidade magntica diminui. Porm, as
perdas no ncleo diminuem, pois o campo magntico menor e no h histerese. O efeito global que em
frequncias muito altas as perdas diminuem. Por exemplo, um material de Ferro pode ter = 1000 0 a
baixa frequncia e, para uma frequncia de 60 MHz, o mesmo material tem = 0 , ou seja, mil vezes
menor que a 60 Hz (de fato, a 60 MHz tanto faz um ncleo de ferro como de ar). Porm, a frequncia
um milho de vezes maior e, se o coeficiente acoplamento for o mesmo, o produto Lp ser mil vezes
maior a 60 MHz. Os transformadores de frequncia muito alta so relativamente pequenos.
Histerese: A histerese do ncleo de um transformador pode ser observada experimentalmente com
ajuda do circuito da Figura 9.10a. Aqui a voltagem sobre R1 proporcional corrente no primrio (Ip =
Vx/ R1) que, por sua vez, proporcional a campo magntico aplicado, H. No circuito secundrio, R e C
formam um integrador (para frequncias f << 1/2RC), de modo que a voltagem Vy sobre o capacitor,
t
Vy (t ) = Vs (t )dt / RC [9.8]
a) Ip Vs R Vy b)
Vr
f Np Ns
C
Vx
R1
Vc
CH1 200mV CH2 200mV XY
Figura 9.10. a) Circuito para observar a curva de histerese de um transformador utilizando um osciloscpio
operando no modo XY. A voltagem sobre R1, proporcional corrente no primrio Ip (e portanto ao campo
magntico aplicado H) ligada entrada X do osciloscpio. R e C formam um integrador para frequncias f
<< 1/2RC. A voltagem sobre C (ligada entrada Y) ento proporcional integral da fem induzida no
secundrio (portanto proporcional ao campo de induo magntica B). b) Curva de histerese tpica observada
para f = 15 Hz. Neste exemplo a rea da curva de histerese aproximadamente = (11 quadrinhos 200 mV
200 mV) = 0.44 V2.
Vejamos quais so os fatores de proporcionalidade, pelo menos de forma aproximada, assumindo que
esses campos so uniformes no ncleo do transformador.
O campo H devido corrente no primrio pode ser estimado utilizando a lei de Ampere
G G
N p I p = v H dl H,
onde o comprimento mdio das linhas de campo no ncleo (Figura 9.11). Temos, ento,
H (Np /R1) Vx. [9.9]
Na aproximao de campo uniforme, o fluxo pode ser escrito simplesmente como = BS, onde S a
rea da seo reta do ncleo (Figura 9.11), de modo que a voltagem no secundrio
d dB
Vs (t ) = N s Ns S ,
dt dt
e, substituindo na eq. [9.8], obtemos Vy (t ) = Ns B(t )S / RC ou, finalmente, ignorando o sinal (que pode
ser escolhido trocando os terminais do primrio ou do secundrio),
B(t ) ( RC / SNs )Vy (t ) , [9.10]
A curva de histerese define duas grandezas importantes que caracterizam ncleos de transformadores:
o campo remanente Br e a fora coercitiva Hc. Se no h corrente aplicada (Ip = 0) o ncleo pode ficar
com um capo permanente Br, tal como um im. Para zerar esse campo magntico necessrio aplicar um
campo Hc no sentido oposto. Estas grandezas podem ser determinadas a partir de seus equivalentes Vr e
Vc, na curva de histerese medida da Figura 9.10b.
A energia dissipada por ciclo de histerese para alinhar, desalinhar e realinhar os domnios magnticos
do material do ncleo, pode ser escrita como
U hist / Vol = v BdH .
Multiplicando pela frequncia e pelo volume do ncleo (Vol = S) obtemos a potncia mdia dissipada,
Phist = fS v BdH .
Transformadores 59
Utilizando as relaes [9.9] e [9.10] podemos expressar v BdH em termos da rea = v V y dVx da figura
de histerese observada na tela do osciloscpio. O resultado
fRCN P
Phist = . [9.11]
R1 N S
Note que nesta expresso a potncia no depende (explicitamente) das dimenses do ncleo.
Linhas de Transmisso 61
20
O autor agradece a colaborao de Guilherme Rios (aluno de Engenharia de Computao, Unicamp, turma de
1997) na elaborao deste captulo.
21
A redes locais esto evoluindo rapidamente. No novo padro Fast Ethernet a taxa de bits de 100 Mb/s. Para
taxas mais elevadas, como no padro Gigabit Ethernet (1.25 Gb/s), necessrio utilizar fibras pticas.
62 Circuitos de Corrente Alternada
linha de transmisso tm associado a ele uma capacitncia e uma indutncia (Figura 10.1). A impedncia
srie desse comprimento
dZs = jLdx, [10.1]
Ldx
Cdx
dx
Figura 10.1. Linha de transmisso formada por indutores e capacitores uniformemente distribudos ao longo
do comprimento da linha.
Podemos calcular Z0 com ajuda do circuito equivalente da Figura 10.2. Nessa figura substitumos a
linha menos um elemento de comprimento infinitesimal dx pela sua impedncia equivalente, Z0. A
impedncia vista quando inclumos o elemento dx novamente Z0. Temos, portanto, que
Z0 = dZs + (dYp + 1/Z0)-1, [10.3]
cuja soluo
Z 0 = 12 dZ s (dZ s ) 2 +4 dZ s / dY p . [10.4]
dZs
Z0 dYp Z0
dx
Figura 10.2. Circuito equivalente para o clculo da impedncia de uma linha de transmisso. dZs e dYp so,
respectivamente, a impedncia srie e admitncia paralela de um elemento da linha de comprimento
infinitesimal dx.
dZ s L
Z0 = = . [10.5]
dY p C
Linhas de Transmisso 63
Note que, na aproximao de linha sem perdas, a impedncia caracterstica no depende da frequncia.
Se incluirmos resistncias srie e paralelo para levar em considerao a atenuao de sinais ao longo da
linha (vide seo 10.5), veremos que a impedncia caracterstica depende ligeiramente da frequncia.
a
b
Figura 10.3. Cabo coaxial. O condutor central (dimetro a) rodeado por um isolante de constante dieltrica
e dimetro b. Sobre o dieltrico tem um segundo condutor de blindagem de espessura fina (geralmente uma
malha) e, sobre este, uma camada plstica isolante para proteo.
No caso do cabo RG-58U as dimenses do fio condutor interno e da malha so, respectivamente, a =
0.9 mm e b = 2.9 mm; o isolante polietileno, com constante dieltrica = 2.1, e, substituindo em (10.6-
10.8), obtemos L = 250 nH/m, C = 100 pF/m e Z0 = 50 . O cabo RG-58 o mais utilizado em
instrumentao e redes de computadores. 22
Exerccio 10.1: O cabo coaxial RG-59U (utilizado em TV a cabo) idntico ao RG-58U exceto pelo dimetro da malha externa,
b = 4.5 mm. Determine L, C e Z0.
22
Embora o cabo RG-58 pode ser utilizado em redes Ethernet, ele no recomendado. Os cabos coaxiais de 50
especiais para Ethernet possuem blindagem dupla e capa plstica com baixa produo de fumo durante um incndio.
Geralmente o dieltrico de polietileno celular (/0 = 1.64) e a capacitncia de 82 a 86 pF/m. O cabo Ethernet
fino, com atenuao de 4.6 dB/100m @ 10 MHz, usado para distncias de at 100m. O cabo Ethernet grosso, com
1.7 dB/100m @ 10 MHz, pode ser usado at 500 m.
64 Circuitos de Corrente Alternada
I+ I-
V+ V- Z
Figura 10.4. Linha de transmisso terminada em uma impedncia ZT e sinais eltricos viajando em direes
opostas.
Consideremos ento o caso em que enviamos um sinal na direo +x. Aps um tempo teremos
tambm um sinal viajando na direo -x. Em geral, em qualquer ponto da linha, temos que a voltagem e a
corrente so dadas pela soma algbrica de duas ondas viajando em direes opostas:
V =V + + V e I = I + I , [10.9]
V- /V + . [10.10]
Z 0 =V + / I + = V / I , [10.11]
de modo que o coeficiente de reflexo pode ser escrito alternativamente como = I - / I + , j que
I- I V V+ 1
= = Z0 = .
+ + + Z0
I V V I
V V + +V 1+
ZT = = = Z0 . [10.12]
+ 1
I I I
Podemos ver da eq. 10.13 que, para uma linha terminada em um curto circuito (ZT = 0) temos = 1.
Isto pode ser entendido se pensamos que o sinal passa do fio vivo para o neutro e retorna,
efetivamente invertendo-se. No caso de circuito aberto (ZT = ) temos = 1: o sinal volta pelo mesmo
fio, sem inverso. Quando ZT = Z0 temos = 0, ou seja, no h sinal refletido. Neste caso a linha se diz
terminada. Podemos pensar que quando ZT = Z0, a impedncia ZT se comporta como uma continuao
da linha; ou seja, equivalente a terminar a linha com outra linha idntica e de comprimento infinito.
Neste caso tudo acontece como se o sinal nunca encontrasse o fim da linha de transmisso.
seguinte modo: no elemento diferencial dx (Figura 10.1), a queda de voltagem no indutor jLdxI,
portanto, escrevendo a voltagem em x + dx como V(x + dx) = V(x) + dV, temos que dV = jLdxI ou
dV
= jLI . [10.14]
dx
d 2V
+ 2 LCV = 0 . [10.16]
2
dx
A corrente I(x) tambm satisfaz a eq. 10.16. Esta equao mostra diretamente que V viaja como uma
onda. A soluo geral de 10.16 uma superposio de duas ondas contrapropagantes, da forma
V ( x, t ) = V + e j ( t kx ) + V e j (t + kx ) [10.17]
onde
k = LC [10.18]
No caso do cabo coaxial, substituindo as eqs. 10.6 e 10.7 em 10.18, obtemos que v = 1 / 0 = c / n ,
onde c a velocidade da luz no vcuo e n = / 0 o ndice de refrao do isolante.
interessante notar que a velocidade de propagao independente da frequncia (uma linha de
transmisso com esta propriedade se denomina linha no dispersiva) 23. Dado que um pulso uma
superposio de ondas de diferentes frequncias (transformada de Fourier), conclumos que, em linhas
no dispersivas, os pulsos eltricos se propagam sem deformao.
10.5 Atenuao
No caso de linhas muito compridas ou frequncias muito elevadas, a atenuao da linha deve ser
considerada. Se a linha tem uma resistncia srie r e condutncia g por unidade de comprimento, ento a
impedncia srie e a admitncia paralela de um elemento de linha de comprimento dx so dadas por
dZs = (r + jL)dx [10.20]
e
dYp = ( g + jC )dx . [10.21]
23
Em rigor, o ndice de refrao depende da frequncia. Mesmo assim, o conceito de linha no dispersiva no uma
utopia j que, na prtica, a variao do ndice de refrao dos dieltricos utilizados em linhas de transmisso, na
faixa de frequncias necessria para descrever pulsos eltricos de durao razovel, desprezvel.
66 Circuitos de Corrente Alternada
Neste caso, seguindo o mesmo argumento que nos levou a deduzir a eq. 10.5, obtemos que a impedncia
caracterstica complexa e depende da frequncia segundo
r + j L
Z0 = . [10.22]
g + j C
Por outro lado, seguindo o mesmo argumento da seo 10.4, obtemos uma constante de propagao
complexa
k = 2 LC rg j( Lg + rC ) , [10.23]
24
comum em engenharia eltrica expressar o coeficiente de atenuao para a voltagem, /2, em neppers/metro
(Np/m).
Linhas de Transmisso 67
ordem de 0.2 dB/km e possuem pouca disperso, permitindo enlaces de mais de 100 km a taxas de
dezenas de Gb/s por laser (centenas de lasers em diferentes comprimentos de onda podem ser
transmitidos simultaneamente em uma nica fibra ptica, provendo assim uma taxa agregada de dezenas
de Tb/s). O aproveitamento da imensa largura de banda fornecida pelas fibra pticas motivo de intensas
pesquisas em Fsica e Engenharia.
Apndice A A Frmula de Euler 69
APNDICES
A. A Frmula de Euler
A frmula de Euler
A derivada de f
df
= sin x + j cos x = j ( j sin x + cos x) = jf ( x)
dx
e portanto
df
= jf (A.3)
dx
ou
df
= jdx .
f
ln[ f ( x )] = jx f ( x ) = e jx ,
Se na (A.1) trocarmos x por x, teremos e jx = cos x j sin x e, combinando este resultado com
(A.1) temos as frmulas
e jx + e jx
cos x = (A.4)
2
e jx e jx
sin x = . (A.5)
2j
Note que na deduo no falamos nada sobre x ser real ou no. Portanto, as frmulas A.1, A.4 e A.5
so vlidas tambm para x complexo. Em particular, se escrevemos x = ju, ento obtemos
70 Circuitos de Corrente Alternada
e u + eu
cos ju = = cosh u (A.10)
2
e u eu
sin ju = = j sinh u . (A.11)
2j
Apndice B Srie e Transformada de Fourier 71
Uma funo peridica com um nmero finito de descontinuidades no intervalo (-T/2,T/2) pode ser
representada como uma srie de Fourier
v(t ) = 12 a0 + an cos(2f nt ) + bn sin(2f nt ) (B.1)
n =1
onde fn = nf = n/T e
T /2
an = T2 v(t ) cos(2f nt )dt
T /2
(B.2)
T /2
bn = T2 v(t ) cos(2f nt )dt
T /2
onde n = 2fn.
Se a funo impar [v(t) = -v(-t)] ento os coeficientes an se anulam e a srie vira uma srie de senos.
Se a funo par [v(t) = v(-t)] ento os coeficientes bn se anulam e temos uma srie de co-senos. A parte
ac de algumas funes pode ser par ou impar dependendo da escolha da origem dos tempos. As ondas
triangular e quadrada so exemplos deste tipo de funes.
No caso geral (mesmo se a parte ac da funo no mpar nem par) ainda podemos representar v(t)
como uma srie de co-senos defasados:
v(t ) = v0 + vn cos(nt + n ) (B.3)
n =1
vn = an2 + bn2
(B.4)
n = tan 1 (bn / an )
Esta forma (B.3) de representar a srie de Fourier tem a vantagem de que as amplitudes vn no
dependem da origem dos tempos. O conjunto dos coeficientes vn2 como funo de fn (n = 0, 1, 2..)
chamado espectro de potncia (discreto) da funo v.
Ainda outra forma de representar a srie de Fourier atravs de coeficientes e exponenciais
complexas
72 Circuitos de Corrente Alternada
v(t ) = cn e jnt (B.5)
n =
onde
v(t )e jnt dt .
T /2
cn = T1 (B.6)
T /2
c0 = v0 = vdc (B.7)
cn = 12 vn e jn . (B.8)
O anlise espectral tal vez a ferramenta de anlise de funes mais poderosa que existe. A maioria
dos grandes avanos cientficos dos ltimos dois sculos foram devidos s vrias formas de
espectroscopia experimental.
Relacionar funes do tempo aos espectros correspondentes era antigamente uma tarefa rdua e
demorada mas se transformou em uma tarefa simples e corriqueira com a ajuda dos computadores. Os
programas de clculo cientfico para computadores incluem sempre um algoritmo muito eficiente de
clculo do espectro discreto de uma funo qualquer, chamado FFT (Fast Fourier Transform).
Um instrumento muito til em laboratrio de eletrnica o Analisador de Espectros, parecido a um
osciloscpio, mas que mostra na tela diretamente o espectro do sinal de entrada. Atualmente a maioria dos
osciloscpios digitais so tambm analisadores de espectro, j que estes possuem um computador interno
que utilizam rotinas de FFT para calcular rapidamente o espectro discreto do sinal de entrada.
interessante mostrar para o aluno como o espectro de duas funes particulares: uma funo
constante e uma co-senide pura. No caso de uma funo constante,
v(t) = vdc,
temos
cn = vdc n0, (B.9)
nn = 1.
Ou seja, o espectro discreto de uma constante uma delta de Kroenecher na frequncia zero (n = 0).
No caso de uma funo co-seno,
v(t) = V0 cos(t),
temos
Apndice B Srie e Transformada de Fourier 73
Ou seja, o espectro discreto de uma funo co-seno puro tem duas deltas de Kroenecher, uma em (n =
1) e outra em (n = 1).
O interessante destes espectros contendo deltas de Kroenecher que eles facilitam o entendimento de
uma das funes mais teis em fsica e engenharia: a delta de Dirac, discutida no Apndice C.
As sries de Fourier no fazem sentido para funes no peridicas. Funes no peridicas podem
ser representadas no domnio da frequncia atravs da integral de Fourier
v(t ) = 21 V ()e jt d (B.11)
A funo V() o espectro contnuo e |V()|2 o espectro de potncia da funo v(t). A funo v(t)
a Transformada de Fourier Inversa ou Antitransformada de V(). Um espectrmetro ptico mede o
espectro de potncia de uma fonte de luz.
Note que a transformada de Fourier se define para frequncias positivas e negativas. Se v(t) real,
ento
onde (), que definimos (veja o Apndice C para uma definio rigorosa) como
() = 21 e jt dt , (B.14)
a assim chamada delta de Dirac. A eq. B.13 o anlogo contnuo do resultado (B.9) para o espectro
discreto.
Do mesmo modo, a transformada de Fourier de v(t) = V0 cos(0t) parece no existir. Mas se notamos
que cos(0t ) = (e j0t + e j0t ) / 2 , ento
V () = V0 [( 0 ) + ( + 0 )] . (B.15)
Ou seja, o espectro de um co-seno puro com frequncia 0 contm uma delta em = 0 e outra em =
0. Isto se deve a que a transformada de Fourier definida para frequncias positivas e negativas.
25
G.B. Arfken and H.J. Weber, Mathematical Methods for Physicists, 4th ed., Academic Press, San Diego, 1995.
74 Circuitos de Corrente Alternada
Comparando a (B.15) com a (B.10), vemos que a delta de Dirac de certo modo anloga a delta de
Kroenecher no caso discreto.
A antitransformada de uma funo espectral constante proporcional delta de Dirac no domnio do
tempo:
(t ) = 21 e jt d . (B.16)
onde A a rea do pulso de excitao. s vezes a delta de Dirac como funo do tempo chamada
tambm funo impulsiva. A transformada de Fourier do pulso B.17 V() = A. Ou seja, o espectro da
delta uma constante: O espectro de um pulso muito curto contm todas as componentes de Fourier.
A antitransformada de Fourier de um produto de funes de
H () = F ()G () , (B.18)
onde F() e G() so, respectivamente, a transformada de Fourier de f(t) e g(t), dada por
h(t ) = f (t ) g (t t )dt . (B.19)
Esta integral se conhece como produto de convoluo de f e g. O contrrio tambm verdade: se uma
funo h(t) o produto de convoluo de f(t) com g(t), ento vale a B.18. Este resultado se conhece como
Teorema da Convoluo ou Teorema de Faltung (que no o nome de nenhum matemtico famoso;
apenas uma palavra do alemo, que significa dobra).
Este teorema tem muitas aplicaes. Em particular, a lei de Ohm generalizada para uma impedncia
Z() tem a forma V () = Z () I () e, portanto,
v(t ) = z (t )i (t t )dt , ( V () = Z () I () ) (B.20)
onde z(t) a antitransformada da impedncia. A B.20 nos d a voltagem sobre Z para uma corrente i(t)
arbitrria (no necessariamente senoidal).
Outro exemplo a determinao da voltagem de sada de um filtro eltrico com funo de
transferncia H() para um sinal de entrada arbitrrio ve(t): dado que Vs () = H ()Ve () , temos que
vs (t ) = v (t ) h(t t )dt ,
e
onde f(x) qualquer funo bem comportada e o intervalo de integrao inclui a origem.
Como caso especial de C.2,
( x )dx = 1 . (C.3)
Note que em C.1 no definimos o valor da delta em x = 0, mas em C.2 definimos o que (x) faz
dentro de uma integral. No sentido matematicamente estrito da palavra, a delta de Dirac no realmente
uma funo porque no est definido o seu valor numrico em x = 0. No correto dizer (0) = , j
que um infinito muito especial: tal que a C.2 deve valer.
A delta de Dirac utilizada para expressar matematicamente uma excitao impulsiva, tal como a
fora de uma raquetada sobre uma bola de tnis, uma fonte pontual de luz, ou a densidade de carga de
uma partcula pontual. A fora de uma raquetada aplicada no instante t = 0 F(t) = (t)p, onde p a
variao de quantidade movimento da bola de tnis, e a densidade de carga de um eltron na posio
(vetor) r = 0 (r) = e(r) = e(x)(y)(z).
Como funo do tempo, a delta de Dirac muito conveniente para descrever a resposta de um sistema
a interaes que acontecem em uma escala de tempo grande comparada com a durao da interao. Por
exemplo, em uma tacada numa bola de bilhar ou uma raquetada em uma bola tnis, a fora pode ser
representada como uma delta de Dirac j que geralmente estamos interessados nos efeitos dessa fora
aps a interao. Se olharmos a interao em cmara lenta, veremos deformaes tanto na bola como no
taco de bilhar ou na raquete, responsveis pela transferncia de momento e energia, e constataremos que
em nenhum instante a fora infinita ou descontnua. A delta de Dirac um artifcio muito til para
descrever matematicamente a resposta impulsiva, seja porque no estamos interessados nos detalhes da
interao ou porque no dispomos de instrumentos com a resoluo temporal necessria para ver a forma
do pulso.
Do mesmo modo, uma estrela distante pode ser pensada como uma fonte de luz pontual, e
representada como uma delta, mesmo que, na realidade, a estrela em questo possa ser muito maior que o
nosso Sol.
A delta de Dirac pode ser introduzida rigorosamente como o limite de uma sequncia de funes (os
matemticos chamam uma sucesso de funes como uma distribuio). Consideremos por exemplo
pulsos de durao T/n e amplitude n/T:
0 se | t |> T / 2n
n (t ) = . (n = 1, 2,) (C.4)
n / T se | t |< T / 2n
Estes pulsos esto mostrados na Fig. C-1 para n = 1, 5 e 20. Quando n a durao tende a zero e a
amplitude tende a infinito mantendo a rea dos pulsos constante: n (t )dt = 1 .
76 Circuitos de Corrente Alternada
16
14
12
10
n(t)
8
n = 20
6
n=5
4
n=1
2
0
-0.5 0 0.5
t/T
Fig. C-1.Pulsos definidos na eq. C.4 para n = 1, 5 e 20. Para n muito grande teremos uma representao da
delta de Dirac.
A sucesso de funes 1(t), 2(t), tende delta de Dirac, no sentido que, para qualquer funo
f(t) bem comportada,
lim n (t ) f (t ) dt = f (0) . (C.5)
n
A sequncia (C.4) no a nica que se comporta como uma delta no limite. Outras sequncias de
funes que tendem delta de Dirac so:
n ( x) = n e n x ;
2 2
(gaussiana) (C.7)
n
n ( x) = ; (lorentziana) (C.8)
(1 + n2 x 2 )
sin nx
n ( x) = ; (sinc) (C.10)
x
n
n ( x ) = 21 e jxt dt ; (C.11)
n
0 ( x < 0)
n ( x) = nx ; (exponencial de um lado s) (C.12)
ne ( x > 0)
Apndice C Funo Delta de Dirac 77
Ao longo de sua carreira, o/a aluno/a de fsica ou engenharia ver que estas funes aparecem em
muitos problemas. A gaussiana (C.7) e a lorentziana (C.8) aparecem, por exemplo, na espectroscopia
atmica. A funo sinc (sinc x = sin x/x) aparece na difrao por uma fenda e no espectro de um pulso
quadrado. A secante hiperblica ao quadrado (C.9) utilizada para representar um pulso curto realista, j
que como funo do tempo (x = t) contnua e decai exponencialmente com |t| (e h boas razes para
esperar que isto acontea no sinal eltrico produzido por um gerador de pulsos realista ou um pulso de luz
emitido por um laser).
interessante notar que a transformada de Fourier do pulso quadrado (C.4) proporcional funo
sinc (C.10) e que a transformada da exponencial de um lado s (C.12) proporcional lorentziana (C.9).
Isto no casualidade: se uma sequncia de funes representa a delta, ento a sequncia formada pelas
transformadas de Fourier tambm representa uma delta. A gaussiana e a sech (secante hiperblica) no
fogem desta regra (a transformada de Fourier de uma gaussiana uma gaussiana e a de uma sech uma
sech).
A C.11 essencialmente a transformada de Fourier de um sinal contnuo:
() = 21 e jt dt , (C.13)
Muitas funes descontnuas podem ser representadas como limite de uma sequncia de funes
contnuas. Um exemplo importante a funo degrau ou funo de Heaviside
0 se t < 0
u (t ) = , (C.15)
1 se t > 0
un (t ) = 12 [1 + tanh(nt )] . (C.16)
A C.17 empregada na anlise de circuitos excitados por um degrau realista, j que impossvel no
laboratrio gerar uma forma de onda idealmente descontnua. A derivada de un ,
dun n
= 2 sech 2 nt = n (t ) . (C.17)
dt
uma representao da delta de Dirac (veja a C.9) e escrevemos ento
du (t )
(t ) = . (C.18)
dt
Ou seja, a derivada da funo degrau a delta de Dirac. A Fig. C-2 mostra as sequncias C.16 e C.17.
78 Circuitos de Corrente Alternada
a) b)
10
1
9
un ( x ) = 1
2
1 + tanh nx
n
0.8
8n ( x ) =
2 cosh 2 nx
7
0.6 n = 20 6
5
n=5 n = 20
0.4 4
n=1 3 n=5
0.2 2
n=1
1
0 0
-2.0 -1.0 0.0 1.0 2.0 -2.0 -1.0 0.0 1.0 1.0
x x
Fig. C-2. a) Representao da funo degrau como sucesso tangentes hiperblicas (eq. C.16) e b) da delta de
Dirac como sucesso de secantes hiperblicas ao quadrado (eq. C.17). Para cada valor de n =1, 5 e 20, a
funo em b) a derivada da funo correspondente em a).
( x ) f ( x) dx = f (0) . (C.20)
onde f(x) qualquer funo bem comportada, contnua e derivvel em x = 0, e a integral inclui a origem.
Como caso particular de C.20,
( x )dx = 0 . (C.21)
z (t ) 21 j1C e jt d = 21C
t
(
jt
) t
e d dt = C1 (t )dt = C1 u (t ) .
(C.24)
Nos trs casos (R, L e C) temos que z(t) = 0 para t < 0. Esta uma propriedade geral de um tipo
importante de sistemas lineares que representam sistemas fsicos: obedecem ao princpio de causalidade.
Na lei de Ohm generalizada (eq. B.20) a voltagem no instante t depende em geral da corrente i(t) em
todos os instantes anteriores a t, mas no pode depender dos valores da corrente em tempos futuros: na eq.
B.20, deve ser z(tt) = 0 para t > t. Portanto,
z(t) = 0 para t < 0. (C.25)
Funes que satisfazem C.25 so chamadas funes causais.
Sistemas bifsicos e trifsicos
I SEE
e um sistema de controle.
I Exemplo de um SEE moderno
c.a.
~ Distribuio
Transmisso
Gerao
c.a. c.a.
medidor Carga
disjuntor
Conversor (inversor)
c.c.
Conversor (retificador)
transformador
~ gerador
Observar:
Conversao convencional:
I Ideia deste curso: estudar os principais componentes dos SEE e obter seus respectivos
modelos.
Tais modelos colocados juntos formam um circuito eletrico que deve ser resolvido
(calculo de tensoes nos nos, fluxos de corrente e/ou potencia nos ramos).
Serao estudados tambem metodos de resolucao desses circuitos.
1.2
Area de sistemas de energia el
etrica
I Varios problemas relacionados com SEE devem ser enfrentados pelos profissionais da
area, que vao desde a operacao diaria da rede ate estudos de planejamento da sua
expansao, como por exemplo:
difcil para o operador e para o planejador terem a sensibilidade que tinham antes e
E
poderem prever o resultado de manobras ou defeitos.
Exemplo: o SIN (Sistema Interligado Nacional), que tem tem dimensao continental.
Todas as tarefas de operacao devem ser realizadas em tempo real restricao de tempo
severa
I A solucao dos problemas acima requereu e ainda requer muita pesquisa para a obtencao
de metodos eficientes de abordagem dos mesmos.
A area de SEE e muito ativa do ponto de vista de pesquisa e tem havido grande
desenvolvimento nos ultimos anos.
I 1876 nao se sabia ainda qual a melhor maneira de transmitir a energia de uma
queda de agua para um centro distante (tubulacao de ar comprimido? oleo?).
I No caso da transmissao de energia eletrica nao se sabia se seria melhor utilizar corrente
contnua (CC) ou corrente alternada (CA). No caso de CA, nao se sabia com que
frequencia nem com que numero de fases.
Corrente alternada era gerada por maquinas chamadas alternadores. Corrente contnua
era gerada por maquinas chamadas dnamos.
Corrente contnua parecia apresentar algumas vantagens sobre corrente alternada.
Baterias podiam ser usadas como backup em situacoes de emergencia quando os
dnamos falhavam, ou ainda suprir potencia durante perodos de demanda baixa. Alem
disso, dnamos podiam operar em paralelo para atender a demanda crescente. Naquela
epoca, o uso de alternadores em paralelo era considerado muito difcil devido a
problemas de sincronizacao.
No mundo
Ano Fato
1880 Thomas Alva Edison apresenta sua lampada incandescente (em corrente
contnua), a mais eficiente de entao.
Na Europa ha avancos na area de corrente alternada.
Ano Fato
1970 Primeira linha de transmissao HVDC nos EUA 400 kV, 1360 km
interligacao do Pacfico, entre Oregon e California.
Ano Fato
1920 Cerca de 300 empresas servem a 431 localidades com capacidade instalada
de 354.980 kW, sendo 276.100 kW em usinas hidroeletricas e 78.880 kW
em termoeletricas.
1939 Numero de empresas chega a 1176, com 738 hidroeletricas e 637 ter-
moeletricas.
Mais de 70% de toda a capacidade instalada no Brasil pertencia a duas
empresas: a LIGHT (Brazilian Traction Light & Electric Co.) servia a parte
de SP e RJ, e a AMFORP (American & Foreign Power Co.) servia parte
de SP, Curitiba, Porto Alegre, Pelotas, Niteroi, Petropolis, Belo Horizonte,
Natal, Recife, Maceio, Salvador, Vitoria.
70-80 O setor eletrico atingiu seu apice, representado pelo milagre economico,
e experimentou tambem o incio de seu declnio, ou a decada perdida,
passando incolume pela crise do petroleo em 1973, tendo construdo as
maiores obras de geracao hidreletrica do pas, o incio do programa nuclear
brasileiro (usina nuclear Angra I, entrando em fase de testes em 1981,
em operacao experimental em marco de 1982 e em operacao comercial
em janeiro de 1985. Angra II somente entraria em operacao em 2000), os
grandes sistemas de transmissao em 440 e 500 kV, os sofisticados sistemas
de supervisao e controle e o tratado de Itaipu, em 1973, cuja obra iniciou-se
em 1975, sendo concluda somente em 1991.
1996 Atraves da lei n. 9.427, foi criada a Agencia Nacional de Energia Eletrica
ANEEL, autarquia em regime especial, vinculada ao MME, com as atri-
buicoes de regular e fiscalizar a geracao, a transmissao, a distribuicao e
a comercializacao da energia eletrica, atender reclamacoes de agentes e
consumidores, mediar os conflitos de interesses entre os agentes do setor
eletrico e entre estes e os consumidores, conceder, permitir e autorizar ins-
talacoes e servicos de energia, garantir tarifas justas, zelar pela qualidade
do servico, exigir investimentos, estimular a competicao entre os gerado-
res e assegurar a universalizacao dos servicos. A Aneel passou a funcionar,
efetivamente, a partir de 1997, quando foi extinto o DNAEE, do qual e
sucessora.
Ano Fato
1998 O Operador Nacional do Sistema ONS foi institudo pela lei n. 9.648/98,
vindo assumir progressivamente as funcoes ate entao do GCOI. As atri-
buicoes principais do ONS sao operar o Sistema Interligado Nacional (SIN)
e administrar a rede basica de transmissao de energia, por delegacao dos
agentes (empresas de geracao, transmissao e distribuicao de energia), se-
guindo regras, metodologias e criterios codificados nos Procedimentos de
Rede aprovados pelos proprios agentes e homologados pela Aneel.
Foi institudo pela lei n. 9.648/98 o Mercado Atacadista de Energia
Eletrica MAE, para ser o ambiente onde se processam a contabilizacao
e a liquidacao centralizada no mercado de curto prazo.
I Geracao:
O potencial hidraulico do Pas e de 260 GW, dos quais apenas 25% estao sendo
utilizados na producao de energia pelas usinas hidreletricas de medio e grande porte e
as Pequenas Centrais Hidreletricas (PCHs). A Regiao Norte tem o maior potencial para
geracao hidraulica, 114 GW ou 44%, enquanto a Regiao Nordeste tem apenas 10%
deste total, 26 GW.
Ao final de 2003, a capacidade de geracao instalada no SIN alcancou 77.321 MW,
sendo 66.321 MW em usinas hidreletricas e 11.000 MW em usinas termicas. Para se
obter a capacidade de producao total disponvel, deve-se somar a esses valores a
disponibilidade de importacao de 2.178 MW da Argentina e 4.100 MW de Itaipu, parte
contratada `a ANDE/Paraguai.
Empreendimentos em Operacao
Capacidade Instalada Total
Tipo # usinas [kW] % # usinas [kW] %
Hidro 561 68.513.151 70,12 561 68.513.151 70,12
Gas Natural 67 8.779.752 8,99 90 9.678.052 9,90
Processo 23 898.300 0,92
Petroleo
Oleo Diesel 450 3.713.411 3,80 469 4.881.689 5
Oleo Residual 19 1.168.278 1,20
Biomassa Bagaco de Cana 212 2.119.604 2,17 247 3.011.718 3,08
Licor Negro 12 687.052 0,70
Madeira 19 178.632 0,18
Biogas 2 20.030 0,02
Casca de Arroz 2 6.400 0,01
Nuclear 2 2.007.000 2,05 2 2.007.000 2,05
Carvao Mineral Carvao Mineral 7 1.415.000 1,45 7 1.415.000 1,45
Eolica 11 28.625 0,03 11 28.625 0,03
Importacao Paraguai 5.650.000 2,33 8.170.000 8,36
Argentina 2.250.000 5,85
Venezuela 200.000 0,08
Uruguai 70.000 0,20
Total 1.387 97.705.235 100 1.387 97.705.235 100
(*) Dados coletados em 16 dez 2004.
I Transmissao:
O sistema de transmissao nas tensoes de 230 kV a 750 kV representava em dezembro
de 2003 um total de 77.642 km, englobando 780 circuitos de transmissao e 175.916
MVA de capacidade de transformacao, instalados em 316 subestacoes.
I Distribuicao:
O mercado de distribuicao de energia eletrica e atendido por 64 concessionarias, estatais
ou privadas, de servicos publicos que abrangem todo o Pas. As concessionarias estatais
estao sob controle dos governos federal, estaduais e municipais. Em varias
concessionarias privadas verifica-se a presenca, em seus grupos de controle, de diversas
empresas nacionais, norte-americanas, espanholas e portuguesas. Sao atendidos cerca
de 47 milhoes de unidades consumidoras, das quais 85% sao consumidores residenciais,
em mais de 99% dos municpios brasileiros.
MQUINAS SINCRONAS
E =E sen(Wt )
a max
E =E sen(Wt 120 )
b max
E =E sen(Wt + 120 ) 1.1
c max
E = 2 f N
max
120
n= f
p
5.1.3 Caractersticas a vazio
Denomina-se caracterstica a vazio, a curva obtida pelo relacionamento em um
plano cartesiano da fem gerada e a corrente de excitao (If), conforme Fig. 5.1.3.
Fig. 5.1.3
Consideraes:
- A velocidade nas mquinas de plos lisos maior que nas mquinas de plos salientes,
conseqentemente por exigncias mecnicas, o espaamento entreferro maior nas primeiras.
- A relutncia nas mquinas de plos lisos maior que nas mquinas de plo salientes.
- Para uma mesma fem gerada a corrente de excitao maior para as mquinas de plos
lisos.
- A saturao nas M.S. se manifesta mais acentuadamente nas mquinas de plos
salientes.
- A parte retilnea caracteriza a linha do entreferro (ar), da a proporcionalidade entre fem e
corrente.
- Durante o ensaio da curva caracterstica, a velocidade dever ser mantida constante e igual
a nominal, caso contrrio a fem dever sofrer correo (com If cte).
n
E = E 2N n velocidade sncrona do rotor
d 2 n 2N
2
n velocidade de ensaio do rotor
2
E fem para n2 N
d
E fem para n
2 2
OBS: Deve-se ressaltar que a caracterstica Icc = f ( If), normalmente construda por fase do
alternador.
207
If E
r= a = N = 1 e,
If1 E E
cc cc
E
N
Ecc = ZS . IN (M.S. curto-circuitada), ento:
1 1
r= =
Z I Z
S N S
E E
N NZ
I Base
N
1
r= 1.2
Z
Spu
ZS impedncia sncrona da mquina (valor no saturado).
Concluses:
f. Embora os custos sejam mais elevados para mquinas com baixas impedncias,
prefere-se comum ente a utilizao destes em detrimento das mquinas com baixo r.
Zs = Ra + jXs
Xs = Xa + Xra
208
5.1.6 Influncia da freqncia na caracterstica em curto-circuito.
Em qualquer mquina, cada fase do alternador pode ser encarada como um enrolamento
no qual induzida uma fem E. internas, as quais podem ser representadas por uma
impedncia Zs. fig.1.6 apresenta o circuito equivalente simplificado, onde, V a tenso
terminal:
ZS I
E V ZL
Fig.1.6
E = V + Zs.I 1 .6. 1
V=0
E = Ecc
I = Icc
Desse modo,
Sabe-se que Zs = Ra + j Xs, porm, os alternadores normalmente, possuem Xs >> Ra, assim:
Zs JXs
4,44 N. .f = 2 .f.Ls.|Icc|
|Icc| = A1.If
A1 - cte que relaciona Icc e If.
209
A independncia entre a corrente de curto e a velocidade mostrada na fig.1.6.l. Observa-se que
para pequenas velocidades existe uma dependncia entre Icc e a rotao da mquina. A
justificativa prende-se no fato que para baixas freqncias a resistncia Ra aprecivel.
Fig.1.6.1
a
linha da
bobina Q
eixo magntico
do rotor
N = t
f1 (t-)
fz
f eixo da
bobina
a
Fig.2.1
e = Emax.sen(wt)
A bobina sendo conectada a um circuito externo, ocasionar uma corrente dada por:
i = Imax.sem(t - ) 2.1
210
onde, o ngulo de fase interno, que leva em considerao as impedncias internas e externa
mquina sncrona.
Nota-se que a fem atingir seu mximo quando = /2, ou seja, quando o eixo magntico
coincidir com a linha da bobina.
Para uma corrente indutiva, a linha p-q, deslocada de um ngulo do eixo magntico, ser
coincidente com a linha da bobina quando i = Imax.
A corrente i resultar em uma fmm ao longo do eixo da bobina. Esta fmm ser tambm
senoidal (fmm = Ni) e, dada por:
onde,
Fmax = N.Imax 2.3
f1 = 0,5.Fmax.sen[2(t - )] 2.4
e,
O valor mdio dos termos de freqncia dupla ao longo de um ciclo eltrico completo, ser
nulo, logo:
1 2
2 0
F1M = f'1.d'1.= 0
2
1
F2m =
2 f ' z.dwt = 0,5F max = 0,5N . Im ax = Fz
0
Dos resultados acima conclui-se que o efeito magntico da corrente de produzir uma
fmm fz de valor mdio 0, .5N.Imax, agindo em quadratura com a linha pq.
Da geometria da fig.2.1, F2m forma um ngulo com a linha normal ao eixo do rotor.
importante lembrar que constante, pois depende da impedncia do estator e da carga.
211
Se for capacitivo, haver reforo da fmm do campo e, caso seja indutivo, o efeito ser
de desmagnetizao, conforme fig.2.2.
Fig. 2.2 Diagrama fasorial para a mquina sncrona de polos lisos, cargaRL.
A soma das tenses: terminal (V), queda na resistncia prpria da bobina do estator (Ra.I)
e, a queda na reatncia sncrona, fornece a tenso gerada. O exemplo que se segue mostra o
diagrama fasorial desta mquina, operando como gerador.
Exemplo 1:
Traar o
diagrama fasorial para a
mquina sncrona nas
seguintes condies:
Gerador
100 [MVA]
13,8 [kV], 60 [Hz]
Xs = 0,2 [Ohm/fase]
Ra = 0,02 [Ohm/fase]
Soluo:
212
Clculo da corrente.
30
c = tg 1 = 31
50
I = 2439 31 [A]
13800
V = 0 [V ]
3
jXs.I = 0,2.2439 31 + 90
E = V + jXs.I + Ra.I
E = 8270,392,72 [V ]
213
Diagrama fasorial.
Conforme mostrado anteriormente a fmm total pode ser dividida em duas componetes, a
saber:
- uma outra componente perpendicular a de eixo direto, ou seja, ao longo do eixo em quadratura
(eixo q).
214
.
fig.3.1
Fq = Fa.cos
Fd = Fa.sen
215
A reatncia Xa foi mantida a mesma quer para o eixo d como para o
eixo q. A razo disto a similaridade dos circuitos magnticos de
disperso para as bobinas e eixo d e q. J o efeito de reao da armadura
possuir circuitos de diferentes relutncias e da , a substituio de Xra
por Xra(d) e Xra(q), que so respectivamente responsveis pelas
componentes de reao da armadura de eixos d e q.
E para as correntes:
I = Id + Iq
Iq = I Id
e,
216
E = Eq + j(Xd Xq).Id
Eixo d
Eixo q
E
Eq
Iq J (Xd-Xq)Id
RaI
V
I J XqI
Id
Fig.3.4
| Id | = | I |.cos[ 90 (c + )]
| Id | = | I |.sen(c + )
Exemplo 2
217
Xd = 1,0 pu
Xq = 0,5 pu
P = 50 [MW] Ra = 0,1 pu
Q = 20 [Mvar] 100 [MVA]
13,8 [KV], 60 [Hz]
Soluo:
Valores de base
VB = 13800 [V]
NB = 100 [MVA]
Valores pu.
Logo:
Eq = 1,173|11,4 pu
= 11,4
Calculo de Id.
218
Eixo q
E
Eq
J XqI
Iq
V= 1
RgI
Id
Eixo d
- Calculo de Epu.
Epu = [ |Eq| + (xd-xq).|Id| ]
Epu = [ 1,173 + 0,148 ] 11,4
Epu = 1,321 11,4
E = 10,525 11,4
219
c) Carga capacitiva II - ( c< )
Xd = Xq = Xs supor Ra = 0
220
b) Recebendo reativo (carga capacitiva)
5.5.2 - Motores
a) Fornecendo reativo ( motor sobre excitado)
221
b) Recebendo reativo (motor sub-excitado)
Procedimento
Alimenta-se o estator da M.S. atravs de tenso trifsica equilibrada e reduzida. O
campo do rotor dever estar desenergizado. Atravs de uma mquina primria (motor c.c. )
movimenta-se o rotor para uma velocidade bem perto da velocidade sncrona, conforme figura 6.1
222
Considerando-se o referencial como sendo a velocidade do rotor e analisando-se o
comportamento da velocidade reativa, enxerga-se o vetor campo girante cruzar os eixos direto e
em quadratura de maneira lenta. Dessa forma, os parmetros Xd e Xq podem ser calculados da
seguinte forma.
A figura 6.2 mostra o esquema da ligao para o ensaio, sendo que, os instrumentos
devero ser de preferencia analgicos.
e,
Zd = Vmin . [(3).lmax]- ---- relutncia menor
Xd = ( Z2 - Ra2 )
Xq = ( Zq2 - Ra2 )
Obs. Este ensaio tambm chamado de ensaio de escorregamento, que determina os parmetros
Xd e Xq de uma mquina sncrona de plos salientes.
Exemplo 3
223
a) O angulo de potncia.
B) Se a mquina for desconectada da carga e, se for mantida a mesma corrente de
excitao, para quanto ir a tenso terminal da mquina ?
Soluo :
supor Ra = 0
a. =?
- Potncia
N = (2/3).(0,8 - j0,6) = (2/3) -37 pu
- Corrente
I = ( N / V )* = (2/3) 37
Diagrama fasorial
Eq = 1 + 0,433 | 37 + 90
Eq = 0,816 |25.1 pu
Portanto ser igual a 25.1
224
5.7 Torque desenvolvido por fase em uma mquina sncrona de
plos lisos.
Seja uma M. S. operando como motor. A potncia solicitada ao barramento pela armadura e por
fase :
Pf = Vf . If . cos c 7.1
Por outro lado, a potncia desenvolvida pela armadura do motor sncrono por fase ser
expressa pelos produtos de sua f.c.e.m. gerada por fase, corrente de armadura por fase e pelo
cosseno do ngulo entre tenso e corrente.
Pf = |Ecf|.|If|.cos 7.2
7.5 em 7.4
Tdf = 60/(2.120/p1.f1).|Ecf|.|If|.cos
Tdf = p1 / (4.f1).|Ecf|.|If|.cos 7.6
- ngulo de potncia
Egf
= c +
c V
If
225
Substiruindo-se = c + em 7.2 e considerando-se que a M.S. opera como gerador, obten-se:
Pef = |Egf|.|If|.cos(c+)
Pef = |Egf|.|If|.cosc.cos - |Egf|.|If|.senc.sen
Pef = |Egf|.|If|.[ cosc.cos - senc.sen] 7.8
Eixo Imaginrio
If Eixo real
Jcs V
Ecf
V
jxsIf
If c
If
Ecf
Trabalhando-se com a questo 7.2 e lembrando-se que para as condies impostas vale
=c - , obtm-se:
Pdf = Ecf.If.cos(c-)
Pdf = Ecf.If. cosc.cos + Ecf. If.senc.sen
Pdf = Ecf.cos.If.cosc + Ecf.sen.If.senc 7.16
226
Pdf = V. |ecf|.sem /xs 7.17
Pdf,Tdf
Id . xd = E - V cos - Ra . Iq 8.2
e,
Iq . xq = V.sen + Id . Ra 8.3
227
2 2
Z = Ra + xd . xq
Se Ra = 0 ento:
2
Z = xd . xq
Id = (E - Vcos)/xd
8.6
Iq = (Vsen)/xq
8.7
V .E. sen 1 1
Pef = + V 2 . cos . sen
xd xq xd
V .E V2
Pef = . sen + .( xd xq). sen 2 8.8
xd 2 xd .xq
Comparando o resultado mostrado na equao 8.8 com aquele obtido para a mquina de plos
lisos (equao 7.17), observa-se que para o alternador de plos salientes a existncia de xd xq
resulta em um termo de freqncia dupla (2). Se xd = xq a equao 8.8 d o mesmo resultado da
equao 7.17 para a mquina de plos lisos. A fig. 11 mostra a caracterstica de potncia para
uma mquina de plos salientes.
228
EV
P1 =
Xd
( Xd Xq )
P2 = V 2
2 XdXq
" Se a mquina est operando numa dada situao de regime permanente e uma pequena
variao do ngulo acarretada por um distrbio transitrio qualquer, ento a mquina ser
afastada de sua condio de regime permanente. Como decorrncia deste efeito surgir uma
229
potncia de desequilbrio dP que tender a retornar a mquina ao seu estado inicial. Quanto maior
Pr maior ter sido esta potncia sincronizante, para um mesmo valor de . Se o valor de Pr
elevado ento o estado inicial ser restaurado mais rapidamente, entretanto, as custas de rpidas
e perigosas oscilaes mecnicas que poderiam comprometer a estrutura da mquina".
Pelo motivo relatado acima e por outras razes associadas com a operao transitria da mquina
usual construir-se as mquinas com um valor de Pr menos rgido que se usava fazer em tempos
passados.
Analisando-se as expresses 9.3 e 9.4, verifica-se claramente os fatores que controlam o
coeficiente de potncia sincronizante.
Reatncia da mquina, que quanto maior resultar em um menor Pr.
A fcem E, que afeta de maneira proporcional. Em outras palavras, uma mquina nobre-excitada
est mais rigidamente acoplada que uma sub-excitada.
230
Fig. 11.1
e1 - e2 = 0 condio essencial
Sabe-se que as tenses geradas so funes do tempo, ento deve-se ter em cada instante:
e1 = e2
As condies para que duas tenses tenham seus valores instantneos sempre iguais so:
231
Figura 11.2
232