100 Anos de Mcluhan Ideias Que Se Consolidam
100 Anos de Mcluhan Ideias Que Se Consolidam
100 Anos de Mcluhan Ideias Que Se Consolidam
RESUMO: Marshall McLuhan nunca esteve mais atual. Conceitos criados pelo
canadense em estudos dos meios de massa dos anos 1960 e 1970 sempre foram
considerados deslocados da cultura massiva moderna. Porm, na era da internet,
cibercultura e sociedade em rede, termos como tecnologias so extenses do corpo
humano, o meio a mensagem e a aldeia global, ao invs de envelhecer, esto se
tornando cada vez mais jovens.
PALAVRAS-CHAVE: Marshall McLuhan. Meios de comunicao. Comunicao em
massa. Cibercultura. Tecnologia.
ABSTRACT: Marshall McLuhan has never been so brand new. His greatest mass media
conceptions, created between 1960 and 1970, has been quite apart from modern mass
culture. But, at internet, ciberculture and network society age, terms such media as
extensions of man, the medium is the message and Global Village are getting
younger and younger, instead of growing old.
KEYWORDS: Marshall McLuhan. Ciberculture. Mass culture. Technology.
1. INTRODUO
gerou uma de suas frases famosas, em crtica a outros autores da rea: Eu posso estar
errado. Mas nunca em dvida.
McLuhan nunca posicionou sua teoria esquerda ou direita poltica, ficando
longe da discusso marxista que domina setores da teoria comunicativa. E, tampouco
considera os meios de comunicao fatores polticos, pois como veremos, ele os
compreende como objetos exclusivamente sociais. Esse enfoque apoltico de seu
estudo pode ser considerado um grande diferencial, por propor uma viso dos meios de
comunicao no contexto de estrutura social e no como um aparato ideolgico. Tal
proposta, porm, afasta-se da questo mais usual nos estudos da comunicao, que sua
funo poltica, sempre pensada como algo que determina a estrutura social imposta por
protagonistas da cultura de massa.
Por fim, o pensador de fato equivocou-se quanto estrutura social que os ento
recm popularizados meios de comunicao em massa, no caso rdio e especificamente
a televiso, originariam. Com base em suas compreenses de meio, mensagem e
tecnologia, o terico canadense apostou em uma estrutura social tribal, que ele chamaria
de aldeia global, essa configurao, no entanto no se realizou. Pelo menos no na era
da TV. Estudiosos da comunicao social contemporneos, dentre eles Stille (2000),
percebem a criao de uma estrutura social e cultural em rede, que talvez seja a aldeia
global prevista, que teria acontecido alguns anos atrasada. Dessa forma, McLuhan
poderia ser enxergado no como um profeta equivocado da cultura de massa, mas um
terico que deu incio aos estudos da cibercultura.
H pontos em favor de McLuhan: estudos como o de Walter Benjamin (1994) no
ensaio A obra de arte na era de sua reprodutibilidade tcnica apontam como certas
revolues tcnicas determinaram as condies para mudanas estticas e sociais. Nem
sempre tais alteraes so previsveis nos momentos iniciais das inovaes, como o
provam atualmente inmeros desdobramentos das novas tecnologias em comunicao.
E seguramente seus pressupostos de interao entre o homem e a tecnologia vo sendo
comprovados.
2. CONCEITOS DE MCLUHAN
de meios, vivendo assim em um mundo virtual. Outro aspecto foi inspirado nas
comunidades tribais, em que o conhecimento era passado oralmente, sem a
pressuposio inerente da escrita de racionalizaes e linearidades. Com esse
entendimento de que a sociedade ocidental voltaria a ter aspectos de uma aldeia, mas
escala mundial, surge o conceito da Aldeia global.
Viso semelhante e digna de meno teve o poeta e pesquisador da comunicao
Dcio Pignatari (que tambm se interessava por McLuhan), quando apontou que os
meios de comunicao de massa tornam anacrnicos os mtodos tradicionais de ensino,
j que o aluno pode
[...] com relativa facilidade, estar mais atualizado que o professor, lerdo demais em seu
bizarro e indiscriminado enciclopedismo especializado, resultado de uma
experimentao obsoleta, onde ele no treinado na experimentao seletiva.(2003: 93)
Pignatari props um ensino que fosse criado junto com a coisa ensinada, a partir
de planejamentos mveis e a participao ativa e criativa dos alunos formando equipes
de trabalho onde o professor passaria a ser coordenador. Claro est que Pignatari em
primeiro lugar considerava os potenciais dos novos meios, no apenas este ou aquele de
seus usos. Curiosamente, tambm escreveu em um perodo pr-internet, a partir dos
potenciais que os novos meios desencadearam, apontando caractersticas para o futuro e
igualmente visualizando interao entre global e grupal. McLuhan, como se v, no
esteve sozinho como visionrio.
3. A CIBERCULTURA E MCLUHAN
Assim como Lvy diz que o fator condicionante da tcnica impede-a de ser
neutra, McLuhan lembra que socialmente falando, o meio a mensagem. Em seus
estudos, o terico dos anos 1960 compreendeu que os meios de comunicao so
protagonistas na histria da humanidade, em A Galxia de Gutenberg, ele procura
demonstrar que a inveno da prensa fez a Europa rumar ao secularismo, aos Estados
Nao e ao desenvolvimento da cincia.
Lvy, provavelmente consciente do exemplo dado por McLuhan, contra-
argumenta que a prensa de Gutenberg no determinou a crise da Reforma, nem o
desenvolvimento da moderna cincia europia, [...] apenas condicionou-as. (LVY,
DILOGO E INTERAO
Volume 5 (2011) - ISSN 2175-3687
http://www.faccrei.edu.br/dialogoeinteracao/
1999: 26) Isso porque alm da inveno da prensa, outros fatores culturais e sociais
foram necessrios para que essas mudanas acontecessem. E se ele acredita que essas
trs condicionantes so indissociveis, no h como pensar que a inveno de
Gutenberg foi quem originou o secularismo, estado moderno ou as grandes navegaes.
Trazendo para os dias atuais, implicaria que a internet no deve ser analisada por
reproduzir contedos fteis e mentirosos, assim como tambm, disseminar cultura e
oportunidades, pois no se tratam de caractersticas da internet. Por outro lado, o
surgimento de um novo paradigma de comunicao em massa sim um ponto de
anlise e julgamento que se refere cibercultura. A pergunta, portanto, que mudana
social a cibercultura traz em si?. E essa questo ser respondida com a tendncia
organizao em rede, o surgimento de uma estrutura hierrquica diferente da vertical.
A anlise do progresso tecnolgico publicada em 1963 demonstrou o rumo ao
que McLuhan chamaria de Aldeia Global, um mundo globalizado, com diminuio das
distncias e tempo, tornando as aes e associaes humanas cada vez mais amplas. As
fronteiras geogrficas esto diludas, o mundo atual est interligado (plugado) no aqui-
agora pela simultaneidade da mdia (ALMEIDA, 2005). E as caractersticas culturais
desse mundo globalizado so interpretadas com bastante propriedade no Brasil por
Massimo Di Felice.
Na organizao social da comunicao, a internet muda o tradicional paradigma
Lasswell, em que receptor e emissor so diferentes e estticos, ou seja, um esquema
unidirecional da comunicao em massa. Para Baldessar (2008), aldeia global
preconizada por Marshall McLuhan est em pleno funcionamento. Felice considera a
nova formatao mais que um fluxo unidirecional, a comunicao em rede apresenta-
se como um conjunto de teias nas quais impossvel reconstruir uma nica fonte de
emisso, um nico sentido e direo. (FELICE, 2008: 45) E essa mudana reflete nas
estruturas poltico-econmicas, gerando uma nova esfera pblica.
Em entrevista publicada nO Estado de S. Paulo, Felice diz: A internet cria uma
arquitetura informativa absolutamente distinta das anteriores e, mais do que isso, cria
um novo tipo de democracia e um novo tipo de opinio pblica. (FELICE, 2010) E
essa nova democracia e opinio pblica deixam de ser opinativa e massiva para ser
colaborativa, convidando todos os cidados a participarem, a fazerem sua parte.
No contexto dos meios de comunicao atual, o fato da internet permitir a
reproduo de contedos fteis e mentirosos, assim como tambm disseminar cultura e
oportunidades, representa o mesmo entrave das armas e medicamentos: o dilema no
uma caracterstica da internet. Para estudar a internet como um meio, como um meio
que a mensagem, preciso foca-se em outro ponto: o social.
Portanto se a prensa trouxe uma nova ordem social e cultural, como analisaram
McLuhan e Levy, a internet, por meio da cibercultura provavelmente segue o rumo
descoberto por Felice. A estrutura deixar de ser a democracia representativa, para ser
uma democracia colaborativa. Assim como na cultura deixa-se de ter dolos
representativos e emissores da lgica cultural para a construo de uma lgica difusa e
construda colaborativamente, a poltica e economia deixaro de serem representadas
em indivduos, para o surgimento da estrutura em rede.
4. CONSIDERAES FINAIS
DILOGO E INTERAO
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5. REFERNCIAS
FELICE, Massimo di. Cidados 365 dias por ano. So Paulo: 2010. O Estado de S.
Paulo, So Paulo, 24 abr. 2010. Entrevista concedida a Christian Carvalho Cruz.
Disponvel em <http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,cidadaos-365-dias-
por-ano,542532,0.htm>. Acesso em: 08 de julho de 2011.
LVY, Pierre. Cibercultura. So Paulo: Editora 34, 1999.
LIMA, Karina Medeiros de. Determinismo Tecnolgico. Campo Grande: XXIV
Congresso Brasileiro da Comunicao, 2001. Disponvel em:
<http://www.infoamerica.org/documentos_pdf/determinismo.pdf>. Acesso em: 10 de
maio de 2011.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicao como extenses humanas. So
Paulo: ed. Cultrix 1974.
MCLUHAN, Marshall. A Galxia de Gutenberg. So Paulo: Editora da Universidade
de So Paulo 1972.
PIGNATARI, Dcio. Informao, Linguagem, Comunicao. Cotia-SP: Ateli
Editorial, 2002
STILLE, Alexander. Marshall McLuhan Is Back From the Dustbin of History; With the
Internet, His Ideas Again Seem Ahead of Their Time. New York: The New York
Times, 14 out. 2000 p.9. Disponvel em
<http://www.nytimes.com/2000/10/14/arts/marshall-mcluhan-back-dustbin-history-
with-internet-his-ideas-again-seem-ahead.html.>. Acesso em: 23 de maro de 2011
WOLFE, Tom. Introduo de McLuhan por McLuhan. Rio de Janeiro: Ediouro
2005.