Andre Parente PDF
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enredando o
pensamento da arte 1
André Parente
[Professor da Escola de Comunicação da UFRJ]
Introdução
A noção de rede perpassa hoje quase todos os campos das ciências
humanas e exatas, puras e aplicadas. A noção de rede vem desper
tando tamanho interesse nos trabalhos teóricos e práticos de cam
pos tão diversos como a ciência, a tecnologia e a arte, que temos
a impressão de estar diante de um novo paradigma, ligado, sem
dúvida, a um pensamento das relações em oposição a um pensa
mento das essências.
Se quisermos entender o mundo em que vivemos, qualquer
que seja o domínio considerado, devemos pensar sobre a noção de
rede. Entretanto, se por um lado a figura da rede é uma metáfora
fundamental para entendermos as transformações em curso, por
outro, não podemos entender sua importância e extensão se a redu
zimos tão somente ao fato histórico da emergência das novas tecno
logias de comunicação e do ciberespaço.
Em um livro intitulado Tramas da rede: novas dimensões filo-
sóficas, estéticas e políticas da comunicação (Parente, 2004), reunimos
uma série de escritos de pensadores de áreas tão distintas quanto a
filosofia, as ciências humanas e exatas, a arte e a tecnologia. Muito
embora eles nos ofereçam distintos interesses e abordagens sobre
as questões das redes, compartilham algo em comum: a rede se
tornou uma dimensão, indissociavelmente ontológica e prática, de
1. Na introdução deste texto retomamos a apresentação do livro Tramas da rede, organizado por
mim com textos de Antônio Negri, Michael Hardt, Roy Ascott, Pierre Lévy, Bruno Latour, Michel
Callon, Virgínia Kastrup, Mário Costa, Gilbertto Prado, Paulo Vaz, Kátia Maciel entre muitos
outros autores, e publicado em 2004 e 2010 (2a ed.) pela Editora Sulina de Porto Alegre. A ter
ceira edição do referido livro está no prelo.
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Da produção de subjetividade
O campo conceitual de subjetivação surge no trabalho de Foucault
e é retomado por Deleuze e Guattari. Todos estão de acordo em afir
mar que a subjetividade é engendrada, produzida, pelas redes e cam
pos de força sociais. Por um lado, o sujeito é processual e não uma
essência ou uma natureza: não há sujeito, mas processo de subjeti
vação. Por outro lado, a subjetivação é o processo pelo qual os indiví
duos e coletividades se constituem como sujeitos, ou seja, só valem
na medida em que resistem e escapam tanto aos poderes quanto aos
saberes constituídos. Os poderes e saberes suscitam resistências.
O que resiste é uma força que em vez de afetar e ser afetada por
outras forças vai se autoafetar. Essa autoafecção é a dobra, autorrefe
rente, auto-organizadora.
É verdade que Foucault se interessa mais pela descrição do
primeiro movimento, a saber, pela forma como o sujeito é produzido
em cada regime e formação histórica, em particular pela sociedade
disciplinar. Já Deleuze e Guattari se interessam mais pelo segundo
movimento, que consiste em fazer da produção de subjetividade
uma terceira linha, uma linha de fuga que escapa aos poderes e
aos saberes. Como extrair dos esquemas sensórios-motores que a
sociedade produz como condicionamentos uma força que nos faça
acreditar no mundo em que vivemos. Acreditar no mundo significa
suscitar acontecimentos.
Em seu famoso artigo “A sociedade de controle”, Deleuze
descreve a passagem da sociedade disciplinar para a sociedade de
controle como uma mudança que já existia em germe na obra de
Foucault. Se analisarmos sob certo ângulo a forma como o panóp
tico se tornou a matriz institucional do arquipélago institucional da
sociedade disciplinar, seu algoritmo, podemos entender o processo
de subjetivação descrito por Foucault como um processo que não se
confunde com sua atualização do modelo disciplinar.
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Referências
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mil platôs. Vol 1-5, São Paulo: 34, 1995.
______. “Produção de subjetividade”. Em PARENTE, André (org.). Imagem-máquina. São Paulo: 34, 1993.
______. Tramas da rede. Novas dimensões filosóficas, estéticas e políticas da comunicação. Porto Alegre:
Sulina, 2004.
______. Cinema em trânsito. Cinema, arte contemporânea e novas mídias. Rio de Janeiro: Azougue, 2012.
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