Poesia Miolo
Poesia Miolo
Poesia Miolo
katia maciel
e videoarte
coordenao editorial
Renato Rezende
projeto grfico
Rafael Bucker
diagramao
Luisa Primo
reviso
Heyk Pimenta e Rita Barros
imagem da capa
Entre-ns
Maril Dardot
Instalao, Bienal de So Paulo, 2006
Rezende, Renato
Poesia e videoarte / Renato Rezende, Katia Maciel.
Riode Janeiro : Editora CIrcuito : funarte, 2013
isbn 978-85-64022-31-7
1. Arte Brasil 2. Arte contempornea 3. Artes visuais
Exposies4. Cinema5. Poesia Visual6. Videoartei. Maciel,
Katia. ii. Ttulo
13-09944cdd-709.810904
Esta obra foi selecionada pela Bolsa Funarte de Estmulo Produo em Artes Visuais 2012
poesia e videoarte 6
O artista plural 7
Os meios hbridos 18
Poeta/poesia/poema 23
Poesia/videoarte 29
1 Emseu artigo Whats Neo in the Neo-Avant-Garde? (In: BUSKIRK, Martha e NIXON,
Mignon, (ed.) The Duchamp Effect, MITPress and October Magazine: Cambridge MAe
Londres, 1996) Hal Foster compara os dois momentos histricos dialogando com tra-
balhos anteriores sobre o assunto de Peter Brger (Theory of the Avant-Garde) e Benja-
min Buchloh (The Primary Colors for the Second Time: AParadigm Repetition of the
Neo-Avant-Garde). Ao contrrio de Brger, que considera as novas vanguardas dos
anos 1950 e 60 como meras imitaes acrticas das primeiras vanguardas histricas,
Foster acredita que, enquanto as primeiras vanguardas focaram-se na crtica das con-
venes dos suportes tradicionais, as novas vanguardas investigaram e minaram as
instituies da arte, de certa forma retomando e completando o projeto das vanguar-
das histricas.
2 Cf. ROTHENBERG, Jerome. Etnopoesia no milnio. Traduo de Luci Collin. Rio de Ja-
neiro: Azougue, 2006.
3 Cf. MCCLURE, Michael. Anova viso, de Blake aos beat. Traduo de Daniel Bueno,
Luiza Leite e Srgio Cohn. Rio de Janeiro: Azougue, 2005.
4 Enquanto a maioria dos poetas expostos utilizava quase exclusivamente palavras,
grfica e visualmente trabalhadas e tratadas como cones ou objetos, este ltimo exi-
biu a obra Solida, poema codificado em vrias verses, empregando procedimentos
intersemiticos inditos (desde o verbal-tipogrfico ao grfico-estatstico) e chegando
a dispensar o emprego de palavras. Nopoema Ave, apresentado na verso carioca do
evento, Dias-Pino prope uma sintaxe derivada de uma seqncia numrica ordinal. Tais
experincias formaram as bases tericas do movimento poema/processo, lanado por ele
em 1968. Alguns dos poemas/processo se deram coletivamente na forma de happenings,
como o Po-poema, comido de forma pblica e coletiva nas ruas de Olinda em 1970.
13 Com os msicos Caetano Veloso e Gilberto Gil como figuras de ponta, o Tropicalis-
mo inspirou-se nas idias do Manifesto Antropfago de Oswald de Andrade e dissemi-
nou-se pela sociedade, incluindo artistas como Hlio Oiticica, cuja obra Tropiclia (ex-
posta no MAM/RJem 1965) deu o nome ao movimento, e Jos Celso Martinez Correia,
diretor do Teatro Oficina, que encenou nova montagem de ORei da Vela de Oswald
de Andrade em 1967. Umlivro valioso sobre o assunto, embora centrado na figura do
autor, Verdade Tropical, de Caetano Veloso (So Paulo: Companhia das Letras, 1997).
Assinala-se que, de 7 de agosto a 30 de setembro de 2007, a exposio Tropiclia: uma
revoluo na cultura brasileira, com a curadoria de Carlos Basualdo, depois de viajar por
Chicago, Nova York, Londres e Berlim, foi montada no Museu de Arte Moderna do Rio
de Janeiro. Ver BASUALDO, Carlos (org). Tropiclia: uma revoluo na cultura brasileira,
[19671972]. So Paulo: Cosacnaify, 2007.
14 Os movimentos literrios na poesia brasileira depois do primeiro Modernismo
(1922) e da controversa Gerao de 1945 podem ser colocados na seguinte ordem cro-
nolgica: Concretismo (1956), Neoconcretismo (1959), Tendncia (1957), Prxis (1962),
Violo de Rua (1962), Poema Processo (1967), Tropicalismo (1968).
15 interessante notar como a poesia marginal novamente retorna Oswald.
Emseu depoimento para o livro Nuvem cigana poesia & delrio no Rio dos anos 70, or-
ganizado por Sergio Cohn (Rio de Janeiro: Azougue, 2007), Chacal diz: Foi o Charles
que trouxe um livro que seria um grande marco na minha vida, que era o volume do
Oswald de Andrade daquela coleo da Agir, Nossos Clssicos. Era um livro pequeno,
com apresentao do Haroldo de Campos, e trazia os manifestos, alguns poemas,
alm de trechos de Serafim Ponto Grande e do Miramar. Aquele livro me fascinou, eu
achei aquele mundo ali maravilhoso, porque ao mesmo tempo em que havia toda uma
que o mais velho, e vice-versa. Seria ridculo, por exemplo, pretender que a poesia cin-
tica representasse um progresso em relao poesia, digamos, livresca. Novos meios
significa apenas Outros meios. Por outro lado, no possvel ao experimentalismo
posterior vanguarda histrica ampliar a extenso da noo de poesia alm do que a
prpria vanguarda histrica ampliou; nem lhe possvel encolh-la. Por isso, os seus
feitos cognitivos conhecimentos positivos e tcnicos ligados a determinadas prticas
artsticas no tm nem podem pretender ter o alcance universal que tiveram os feitos
cognitivos da vanguarda histrica. No , por exemplo, necessrio que um poeta que
produza poesia livresca esteja a par do que se passa no campo da poesia cintica. Seos
caminhos da vanguarda histrica foram finitos, mas tm alcance universal, os cami-
nhos do experimentalismo so infinitos, mas tm alcance particular. A rigor, ele no
deve, portanto, ser chamado de vanguarda. CICERO, Antonio. Poesia e paisagens urba-
nas. In: Finalidades sem fim. So Paulo: Companhia das Letras, 2005. pp. 2829.
18 Podemos afirmar de todas essas correntes o que Luis Dolhnikoff diz sobre a poesia
visual: Ofim das vanguardas, se no significou o fim da poesia visual, significou sua
reduo a uma subcultura. H sites exclusivos de poesia visual, h algumas revistas
literrias que sempre publicam alguma poesia visual, mas nenhum dos muitos nomes
mais conhecidos da poesia contempornea um poeta visual. DOLHNIKOFF, Luis. Poe-
sia mdia e grandes questes. Revista Cronpios. 12/04/2006. http://www.cronopios.
com.br/site/ensaios.asp?id=1236
19 SIBILA, Revista de poesia e cultura, dedicou um dos seus nmeros poesia sonora
(ano 4 n. 89, 2005). Alm do editorial Avoz como instrumento de criao, assinado
pelos editores Rgis Bonvicino, Alcir Pcora e Tatiana Longo Figueiredo, a revista traz
os textos Avoz instrumento de criao dos futuristas poesia sonora e Apoesia
sonora hoje no mundo (o manifesto da polipoesia), de Enzo Minarelli, e um CDAvoz
princesa com 50 audies de poesia sonora, desde 1912 at o presente, incluindo ra-
ridades como a voz de Marinetti, Ezra Pound, Henri Chopin, Isidore Isou, Philip Glass,
Allen Ginsberg, Ferlinghetti, Jerome Rothenberg, Serge Pey e Philadelpho Menezes).
Outro livro de fundamental interesse no assunto MENEZES, Philadelpho (org). Poesia
sonora poticas experimentais da voz no sculo XX. So Paulo: EDUC, 1992.
20 Umexcelente livro sobre estes dois ltimos Poesia visual Vdeo poesia, de Ricar-
do Arajo (So Paulo: Perspectiva, 2000). Oautor examina um conjunto de poemas
desenvolvidos em Betacam entre 1992 e 1994 no Laboratrio de Sistemas Integrveis
(LSI) da Escola Politcnica da USPpelos poetas Augusto de Campos, Arnaldo Antunes,
Haroldo de Campos e Julio Plaza. Aanlise dos trabalhos acompanhada por imagens
e entrevista com cada um dos poetas.
21 Emseu ensaio Poetic Machinations, publicada em KAC, Eduardo (Ed). New Media
Poetry: Poetic Innovation and New Technologies. Visible Language, edio 30.2. Pro-
vidence, RI, Rhode Island School of Design, 1996, Philippe Bootz traa um panorama
histrico da poesia em computador, cujos precursores foram o alemo Theo Lutz (1959)
e o canadense Jean Baudot (1964).
22 Poesia digital, ou poesia que circula nos computadores (discos rgido e flexvel),
nos cd-roms e na internet. NoBrasil, um dos principais expoentes deste tipo de poesia
Andr Vallias. Em seu site (http://www.andrevallias.com/biblio/index.htm), Vallias
assim define o poema como um diagrama aberto, que ao incorporar as noes de plura-
lidade, interrelao e reciprocidade de cdigos, no s garante a viabilidade da poesia
numa sociedade sujeita a constantes revolues tecnolgicas, como lhe confere uma
posio privilegiada a de uma poesia universal progressiva (como antevia Schlegel) ou
simplesmente: poiesis (do grego = criao, feitura).
23 Noentanto, o interesse por estas investigaes continua vivo, como atestam, en-
tre inmeros possveis exemplos, publicaes e pesquisas atuais como a de Jorge Luiz
Antnio (Poesia digital teorias, histrias, antologias. So Paulo: Navegar/Fapesp, 2010)
e eventos como os recentes Poiesis, Poema entre Pixel e Programa, de outubro a dezem-
bro de 2007, no OiFuturo, Rio de Janeiro, com curadoria de Friedrich W. Block e Adolfo
Montejo Navas e participao de artistas de vrios pases, (Entre os brasileiros, alm
dos j reconhecidos na rea, como Augusto dos Campos, Wlademir Dias-Pino, Arnaldo
Antunes e Joo Bandeira, o evento incluiu Ricardo Aleixo, Lenora de Barros e Adriana
Calcanhoto), Poticas Experimentais da Voz, em julho de 2008, no Museu de Arte Con-
tempornea de Niteri, com curadoria de Margit Leisner e Alex Hamburger, e o Projeto
Poesia Visual, com a curadoria de Alberto Saraiva, tambm no OiFuturo.
24 No por acaso, um dos trs temas da 12a Documenta de Kassel, em 2007, foi a
modernidade nossa antiguidade? Roger M. Buergel, o Diretor Artstico da Documen-
Quase vinte anos mais tarde, em 1999, num ensaio em que es-
tuda a questo da condio ps-miditica da obra de arte con-
tempornea atravs de uma anlise da obra do (ex) poeta bel-
ga Marcel Broodthaers, Krauss retorna criticamente questo
da crise do meio. Nessas alturas, seu desconforto com o termo
meio to grande que ela tem a necessidade de abordar o as-
sunto num prefcio:
28 KRAUSS, Rosalind.AVoyage on the North Seaart in the age of the post-medium con-
dition. New York: Thames & Hudson, 1999; p. 5. Nooriginal: Atfirst Ithought Icould
simply draw a line under the word medium, bury it like so much critical toxic waste, and
walk away from it into a world of lexical freedom. Medium seemed too contamina-
ted, too ideologically, too dogmatically, too discursively loaded.
29 Ibidem; p. 53. Nooriginal: the specificity of mediums, even modernist ones, must
be understood as differential, self-differing, and thus a layering of conventions never
simply collapsed into the physicality of their support.
31 RISRIO, Antonio. Ensaio sobre o texto potico em contexto digital. Salvador: Funda-
o Cada de Jorge Amado; COPENE, 1998. p. 200.
32 Ibidem, p. 46. Para Risrio, o poema que desguarnece as fronteiras com outros me-
diums, formando produtos hbridos ou multimdia sempre, para ele, a partir da pala-
vra pode ser chamado de texto intersemitico: Apoesia a arte da palavra tambm
no sentido de que , sua maneira, arte da insatisfao humana diante dos limites da
linguagem. falta de expresso melhor, pode-se chamar texto intersemitico o poema
que no se contenta com a permanncia nos domnios incontestveis da semitica ver-
bal. Aoapelar para outros cdigos, ele se situa numa zona de fronteira., p. 58.
33 CICERO, Antonio. Poesia e filosofia. In: Finalidades sem fim. So Paulo: Companhia
das Letras, 2005. p. 106.
34 Cicero assinala a palavra grega epos (no plural, pea) como sendo, numa cultu-
ra oral como a de Homero, o discurso efetivo (como um orculo, uma orao ou uma
cano), e assim que o suposto autor da Odissia e da Ilada designava seus poemas.
38 Apud CICERO, Antonio. Epos e mythos em Homero. In: Finalidades sem fim. So
Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 224.
39 Ibidem, p. 227.
afirmao que pode ser lida como uma definio tanto do poema
quanto da poesia:
40 Ibidem, p. 240.
41 AGAMBEN, Giorgio. Ide de la prose e Ide de la csure. In: Ide de la prose. Paris:
Christian Bourgois diteur, 1998. Traduo de Grar Mac. O fim do poema. Tradu-
o de Srgio Alcides. Revista Cacto, nmero 1, agosto de 2002. OCinema de Guy De-
bord; imagem e memria. Blog Intermdias, 2008. http://www.intermidias.blogspot.
com/2007/07/o-cinema-de-guy-debord-de-giorgio.html,
42 AGAMBEN, Giorgio. O fim do poema. Traduo de Srgio Alcides. Revista Cacto,
nmero 1, agosto de 2002. p. 142.
43 Emalguns estudos seminais (especialmente Questes de poesia, Primeira aula
do Curso de Potica e Poesia e pensamento abstrato) Paul Valry investiga com rigor
a natureza da poesia. Para o autor de Cemitrio marinho um poema uma espcie de
mquina de produzir o estado potico atravs das palavras, ou seja, capaz de trans-
portar o leitor esfera do potico, torn-lo inspirado. Tal mquina (o poema), capaz de
recriar no leitor a experincia do poeta, funciona na troca harmoniosa do movimento
pendular entre som e sentido. In: VALRY, Paul. Variedades. So Paulo: Iluminuras, 1999.
pp. 169210. Traduo de Maiza Martins de Siqueira.
44 AGAMBEN, Giorgio. Ofim do poema. Traduo de Srgio Alcides. Revista Cacto,
nmero 1, agosto de 2002. p. 143.
45 NANCY, Jean-Luc. Resistncia da poesia. Lisboa: Vendaval, 2005, pg. 12. Traduo
de Bruno Duarte.
46 IBIDEM, p. 9.
47 MLLER, Adalberto. Linhas imaginrias: poesia, mdia, cinema. Porto Alegre: Sulina,
2012, p.20.
Poesia e Pensamento
zada ou no, da letra. Aletra, sem deixar de ser letra, pode ao mesmo tempo tornar-se
poesia. BOSCO, Francisco. Letra de msica poesia?. In: Banalogias. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2007.
52 Segundo Paulo Henriques Britto, o poema pico, ligado construo de uma na-
o, extingue-se com a construo do estado moderno, e a ltima epopeia incorpora-
da ao cnone foi OsLusadas, que j contm elementos poucos ortodoxos ao gnero
(o no enaltecimento incondicional da ptria, por exemplo). Opoeta lrico, por outro
lado, afirma uma individualidade, ou melhor, uma subjetividade. Oprincipal elemento
da poesia lrica a memria do poeta, com cujas experincias e vivncias interiores
o leitor se identifica. Para o tradutor e poeta brasileiro, vivemos no Brasil atual uma
predominncia de uma poesia ps-lrica, na qual o eu lrico , acima de tudo, uma
encruzilhada de textos: Dois traos, porm, me parecem caractersticos da poesia ps
-lrica: a tendncia a dar mais importncia intertextualidade do que experincia
no literria; e a tendncia a exigir do leitor um cabedal de conhecimentos de tal modo
especializado que a leitura s se torna vivel se for feita paralelamente com uma srie
de notas e explicaes. BRITTO, Paulo Henriques. Poesia e memria. In: Pedrosa, Clia
(org.) Mais poesia hoje. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2000. pp. 124131.
53 Continua PHB: Boa parte da experincia humana de que tratavam a poesia lrica
e a pica eliminada de antemo; alguns poetas ps-lricos do a impresso de que a
condio humana as contingncias da carne, as paixes, a mortalidade so temas
que s devem ser tocados com as pontas dos dedos, se no evitados de todo e relega-
dos cano popular ou ao cinema. Ibidem. p. 130.
Metfora e Metonmia
Tempo e Espao
63 Eume coloco na posio do poeta porque eu acho que poesia no e coisa es-
crita ou a poesia falada ou a poesia cantada ou a poesia feita objeto. o que est por
trs da poesia, e isso texto em qualquer forma, atravs de qualquer linguagem. Ea
gente pode usar, pode manipular, qualquer campo da linguagem para ascender a esse
territrio. Esse territrio o qu? o territrio da densidade mxima da experincia da
linguagem. Entrevista concedida a Sergio Cohn, Pedro Cesarino e Renato Rezende. In:
Azougue cultura e pensamento. Rio de Janeiro: Azougue, 2008.
64 Ver: TUNGA. Barroco de lrios. So Paulo: Cosc & Naify, 1997.
65 COCCHIARALE, Fernando. Sobre filmes de artista. In. Filmes de artista. Brasil 1965
80. Rio de Janeiro: Contracapa / Metropolis, 2007. Catlogo da exposio realizada no
OiFuturo, Rio de Janeiro, de 1 de maio a 17 de junho de 2007, com a curadoria de Fer-
nando Cocchiarale, p. 11.
66 Para constatar a presena determinante de poetas na histria do cinema experi-
mental e do vdeo nos EUAe na Europa, tanto como produtores quanto como inspira-
dores ou interlocutores, ver REES, A. L. AHistory of Experimental Film and Vdeo. Londres:
British Film Institute, 1999. Por exemplo, discorrendo sobre as origens da vanguarda
americana no ps-guerra, Rees diz: Other film-makers were poets and writers: Sidney
Peterson, Willard Maas, Jonas Mekas, Brakhage, who broke most radically with nar-
rative to inaugurate abstract montage, was strongly influenced by Pound and Stein
on compression and repetition in language. [ ] Itrehearsed the old argument between
film-as-painting and as camera-eye vision, each claiming to express films unique
property as a plastic form. By turning to the poets and writers of experimental mo-
dernism Pound, Eliot, Joyce, Stein the film-makers distanced themselves from the
direct drama and narrative tradition in realism., pp. 5859.
70 Regina Vater , no entanto, inclui uma foto de Hlio Oiticica vestindo um parango-
l na exposio Brazilian Visual Poetry, da qual foi curadora, no Mexic-Arte Museum,
em Austin, Texas, 2002.
71 Para um excelente estudo sobre alguns destes trabalhos ver: ARAJO, Ricardo. Poe-
sia visual Vdeo poesia. So Paulo: Perspectiva, 1999.
Isomorfia e Enjambement
80 Ver: rezende, Renato. Noiva. dvd. Rio de Janeiro: Irana arte contempor-
nea,2010.
81 REZENDE, Renato. Noiva. Rio de Janeiro: Azougue, 2008. Ovdeo Tango foi exibido
na exposio/evento Apalavra toda. Curadoria de Helosa Buarque de Hollanda. Sesc
Copacabana, Rio de Janeiro, 24 e 25 de janeiro 2011.
82 Ver: PARENTE, Andr, MACIEL, Katia. Dois. Rio de Janeiro: +2, 2012.
83 MELLO, Cristine. Extremidades do Vdeo: Novas Circunscries do Vdeo http://
reposcom.portcom.intercom.org.br/bitstream/1904/17772/1/R07881.pdf
84 MACHADO, Arlindo. Apud RISRIO, Antonio. Ensaio sobre o texto potico em contexto
digital. Salvador: Fundao Casa de Jorge Amado; COPENE, 1998, pp. 156=157.
85 Ibidem p. 157.
Katia Isso passou pela sua cabea? Tem relao com o poema que
voc nos mostrou? Percebo essa pulsao como se a poesia pudes-
se sempre estar num lugar entre
Renato Noto que nesses dois trabalhos Ocu da clula e Oxi pa-
rece que a poesia se d na tentativa de apreender o mistrio da-
quilo que tende para um tempo nico, que coloca um ser dentro
do outro.
Essa era uma qualidade do vdeo, pelo menos nos anos 1990. Creio
que isso mudou, e foi uma mudana importante. Agente tinha fita
VHS, que fita magntica, e a imagem do vdeo era sempre muito
seca, uma imagem muito spera, direta. Muito diferente da pel-
cula do cinema, que cria uma espcie de ambientao para a vista;
Certamente vai chegar algum, que vai dizer puxa, voc viu
isso; eu tambm pensei, e vi; que bom. Mas ainda vivemos em
um mundo em crise; crise absoluta dos sistemas econmicos e
de todas as utopias: o capitalismo e o socialismo no do certo.
Acabaram de explodir reatores nucleares no Japo. Isso tudo tem
a ver com o mundo real, mas isso tudo tem a ver tambm com
um mundo muito seco, que um mundo cientfico, e a vida no
Amulher
Ocorpo
Ocorpo da mulher
Ocorpo de ideias da mulher
Ocorpo de imagens da mulher
Ha mulheres
Ha mulheres que pensam o corpo
Ha mulheres que pensam o prprio corpo
Ha mulheres que pensam com o corpo
Ha mulheres que pensam atravs do corpo
Ha mulheres que pensam para o corpo
Ha mulheres que pensam a partir da ideia de corpo
Ha mulheres que pensam a partir do corpo da ideia
Ha mulheres que pensam a partir da imagem de corpo
Ha mulheres que pensam a partir do corpo da imagem
Ha mulheres que pensam
Amulher.
Filme pra mim uma coisa que a minha instalao no vai ser
nem com voz nem com o personagem fugindo, porque ela uma
videoinstalao, e no um filme instalao.
Euposso dizer isso de vrias formas, por exemplo. Mas para Go-
dard, ou para Bellour, que estuda as instalaes, quando algum
v o Ano passado em Marienbad na televiso, no mais cinema.
Ora, h a, me parece, uma idealizao da sala. Ea sala, tal como
estamos acostumados, uma sala silenciosa e escura, climatizada,
Renato o qu?
outra coisa, para ele outra coisa; para o Raymond Bellour ou-
tro cinema. Porque cinema o que a gente v na sala de cinema, a
experincia da sala para eles insubstituvel. Sevoc v o mesmo
filme que foi feito para ser visto na sala fora dela, outra experi-
ncia diferente da do cinema. Concordo que a experincia outra.
Mas as salas so sempre mais ou menos salas tambm. Enem por
isto mais ou menos cinema. Ocinema para eles exatamente a
forma cinema, nesse sentido de que uma sala de cinema onde
voc assiste a um filme com uma projeo perfeita, realizada por
trs do espectador, que dura certo tempo, e conta certa histria.
Para mim, essa forma cinema problematizada pelo cinema do
ps-guerra de muitas formas: o cinema experimental, com suas
narrativas fragmentadas ou sem narrativa, o cineclubismo, que
utilizava salas improvisadas, com a televiso, com a videoarte,
que utilizava o museu e a galeria, e, sobretudo, as instalaes e os
happenings cinematogrficos do cinema expandido.
porque, claro, ela era como um pssaro, com seu canto, sua voz,
suas vertigens e quedas, mas, afinal, a inspirao na Besanzoni
ficou tnue, porque na verdade eu no queria reconstruir sua his-
tria, nada to documental. Eresolvi ento mergulhar em duas
rias da Carmen de Bizet Carmen foi a pera em que Gabriella
Besanzoni se consagrou. As rias falam sobre pressgios, apri-
sionamento, liberdade e amor, sentidos a que me sinto atrada,
mesmo em outros projetos. Para trabalhar com o canto lrico,
convidei o Tim Rescala para me orientar e fazer a direo musi-
cal. Ele indicou a Carla Odorizzi, uma mezzo-soprano incrvel do
Teatro Municipal, que interpretou Bizet nos meus dois filmes.
Naexposio, coloquei uma cortina bord bem teatral e flutuante
dividindo o espao quase que tematicamente nestas duas atmos-
feras o amor e a morte. Naentrada da exposio, havia um lus-
tre extremamente prximo do cho, fazendo aluso queda, com
as luzes piscando sugerindo um estado de choque. Amorte, para
mim, se relaciona principalmente com a ideia de renncia, e isso
tambm tem a ver com a Besanzoni sair dos palcos para morar na
Renato Passou pela sua cabea criar uma camada a mais sobre a
natureza? Enfeitiando ainda mais um bosque noite? Uma cama-
da que no apagasse a natureza, mas que, pelo contrrio, atravs
de transparncias, a enriquecesse e ressignificasse?
Katia Vejo que Cinepoema tambm lida com o tempo real, mas em
desdobramentos do que imagem e do que no , como a lua que
imagem e a lua que parece ser imagem da imagem em determi-
nada circunstncia. Achei interessante que as pessoas presentes
nesse trabalho estivessem vivenciando isso; no era uma situao
fixada como seria no cinema. Trata-se de uma busca performtica
na experincia do vdeo.
Creio que voc tenha razo. A lua replicada e duplicada nos faz
olhar diferente para a lua no cu.
Eram treze dados, por isso escolhi treze vdeos. Elegi os que fun-
cionavam melhor enquanto jogo. Procurei uma maior diversida-
de entre eles. Por exemplo, possvel enxergar certa violncia em
alguns desses jogos, tem outros que so mais colaborativos, ou-
tros so super-competitivos, ou engraados.
Revi Oceano possvel hoje, pois fazia muito tempo que no olha-
va para ele com certo distanciamento. Aminha observao esta-
va mais focada em checar questes tcnicas, por exemplo, se o
som estava se escutando claramente e outras coisas desse tipo.
Por causa da entrevista, olhei para ele com bastante ateno, e
fiquei tentando lembrar como era a minha experincia com a arte
naquele momento. Algo que estou ocupada em recuperar, uma
experincia muito direta, como se eu estivesse agindo dentro de
uma intensa experincia potica. Napoca estava assistindo, as-
siduamente, a aulas de dana contempornea e, por isso, pen-
sava que esse era um trabalho relacionado diretamente ao corpo
no espao. Refletia sobre como este est muito confinado a espa-
os fechados. A prpria casa, como uma extenso do corpo, faz
parte desse confinamento. Conclu que seria algo impossvel dar
dimenso imensido do oceano no espao concreto do meu co-
tidiano. Talvez por isso, tentei construir um oceano prprio, que
era um oceano imaginado e concreto, limitado pelas bacias e pe-
las cores. Hcerta ironia na tentativa de construir um oceano, o
que, ao mesmo tempo, transmite alguma melancolia, para mim
trazida pelo som principalmente. Hoje lembrei que, quando fiz
esse vdeo, prestei muita ateno ao som: gravei sons do rdio,
cantei, toquei gaita, fiz milhes de coisas, usei uma fita cassete
com uma qualidade pssima, o que dava um toque um tanto abs-
trato. Mas, quando estava prestes a mostrar o vdeo pela primeira
vez em um espao pblico, o curador, que j conhecia o trabalho,
me ligou para conferir se o vdeo tinha som. Apartir da percebi
que era um trabalho muito visual, mas o som, o movimento, o
meu corpo que no vdeo um corpo meio torto trazem junto da
ironia certo desamparo.
O som foi feito a partir dos rudos que estavam ao meu redor;
os meus vizinhos, pessoas que passavam na rua. Nas diferentes
vozes que esto sobrepostas no vdeo, s vezes d para entender
um Gooool!, ou algum cantando; o barulho que nos envol-
ve quando estamos em casa, que no escolhemos muito. Como
acontece com o rdio, onde s vezes mesmo quando no se trata
da Rdio-relgio em que os textos so curtos estamos ocupados
em nossos afazeres e deixamos de escut-lo. Fica sendo um rudo
de fundo; de repente aparece algo que nos interessa e voltamos a
ouvi-lo instintivamente.
Renato Hironia e poesia nas bacias que voc usa, baratas, colo-
ridas, no uso dos objetos cotidianos para tentar criar uma imensi-
do. Isso irnico, mas exatamente isso que tentamos fazer com
tudo que est a nossa volta
modo. Oque mais gosto desse trabalho que ele existe de fato na
projeo dos outros, so eles que constroem a imagem e no eu.
Nessa dimenso cinematogrfica ou fotogrfica do quarto escuro,
a escurido gera luz.