A Vulnerabilidade Dos Encarcerados e Sua Tutela Jurídica
A Vulnerabilidade Dos Encarcerados e Sua Tutela Jurídica
A Vulnerabilidade Dos Encarcerados e Sua Tutela Jurídica
Desse modo, o STJ concedeu ordem em Habeas Corpus para anular procedimento
administrativo disciplinar relativo apurao de falta grave na execuo penal sem
assistncia tcnico-jurdica. Para mais detalhes vide: HC 148.662/RS, Rel. p/ Acrdo
Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6 T., j. 18/10/2011, DJe 29/6/2012.
No contexto supracitado, Jos Adaumir Arruda da Silva e Arthur Corra da Silva Neto
(2012, p. 126) concluram e com razo , decorrer da superioridade estatal e da
inferioridade jurdica do preso a retrocitada presuno de vulnerabilidade, nas seguintes
palavras: Princpio da Vulnerabilidade do preso () O princpio em anlise se constri
partir do reconhecimento que as relaes jurdicas, no mbito da Execuo Penal, do-
se em um plano de superioridade do Estado para com o Preso. Destarte, dessa
constatao se origina uma proposta de busca pela equivalncia jurdica ().
A partir de ento, os sobreditos autores passam a importar algumas noes conectadas
noo de vulnerabilidade do Direito do Consumidor (Lei Federal n. 8.078/1990),
apontando para o fato de que, concomitantemente, o preso possui
a vulnerabilidade jurdica (caracterizado pela falta de tcnica jurdica e poderes de
defesa por si), ftica (decorrente do complicado quadro social e econmico a que
geralmente se expe o preso) e informacional (a falta de informao do presidirio ,
inclusive reconhecida pela Lei de Execuo Penal em seu artigo 46, quando se
determina a cientificao do preso acerca das normas disciplinares). Dessa maneira, os
autores multicitados cuidam da existncia de uma trplice vulnerabilidade no contexto
em que vivem os encarcerados.
Com efeito, a partir do momento em que o Estado em todas suas funes basilares
executiva, legislativa e jurisdicional , visualiza o encarcerado como algum
severamente afetado por diversos fatores de fraqueza e desvantagem (vulnerabilidade)
no mbito carcerrio, deve esse mesmo Estado aceitar tambm no se tratar aqui
de vulnerabilidade geral (MARQUES e MIRAGEM, 2012, p. 189), mas sim
de vulnerabilidade agravada ou hipervulnerabilidade na qual o indivduo est em um
quadro de suscetibilidade a danos muito maior que a vulnerabilidade de qualquer outro
cidado em sociedade, como leciona Bruno Miragem (2012, p. 97): Para o conceito de
vulnerabilidade agravada como situao que caracteriza o consumidor que alm desta
condio ostenta outra caracterstica subjetiva de desigualdade ().
Enfim, aos operadores do direito que atuam na esfera penal, a mensagem a ser
registrada de respeito dignidade humana, igualdade real, solidariedade e justia,
impondo-se a cada profissional do processo a mitigao das desigualdades processuais
concretas entre os litigantes e ainda a neutralizao, em nvel mximo possvel, da
suscetibilidade a danos dos presidirios.
Certamente, o presente texto est distante (e muito) de lanar qualquer ideia definitiva
sobre o tema ora versado. Porm, lanaram-se aqui algumas linhas permissivas do
maior contato entre os ramos dos direitos atinentes tutela dos segmentos sociais mais
suscetveis a sofrerem danos em sociedade. Aguarda-se que esse proposto dilogo
entre ramos protetores de vulnerveis ganhe maior corpo e possa expandir os
mecanismos de proteo constitucional das populaes mais necessitadas.
Notas e Referncias:
Marques, Cludia Lima. Miragem, Bruno. O novo direito privado e a proteo dos
vulnerveis. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012.
MIRAGEM, Bruno. Eppur si muove: Dilogo das fontes como mtodo de interpretao
sistemtica no Direito Brasileiro. In: Marques, Cludia Lima. Dilogo das fontes: do
conflito coordenao de normas do direito brasileiro. So Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2012, p. 67-109.
Silva, Jos Adaumir Arruda da. Silva Neto, Arthur Corra da. Execuo Penal: Novos
rumo, novos paradigmas. 2 tiragem revisada. Manaus: Editora Aufiero, 2012.
______. O inimigo no Direito Penal. Traduo de Srgio Lamaro. 3 ed. 2 reimp. Rio
de Janeiro: Revan, 2014.