Viscardi PDF
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levantamento prosopogrfico.
Cludia Maria Ribeiro Viscardi (UFJF, Brasil)
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Este foi o caso especfico de Martins (1987) e dos trabalhos que nele se basearam a posteriori.
povoadas. O Centro era a sede da primeira capital e acabou por sediar a segunda, por ocasio da
criao de Belo Horizonte (1898). A Mata e o Sul, como se viu, eram de uma dinamicidade
econmica bastante significativa em razo do desenvolvimento da cefeicultura.
Se tomarmos os ndices de ocupao do governo do estado de Minas, dividindo o
perodo da Primeira Repblica em trs fases distintas, algumas observaes interessantes
contribuem para um melhor entendimento do perfil de ocupao regional do estado. Podemos afirmar
que em um primeiro momento, que vai do incio do regime republicano ao estabelecimento da
poltica dos estados, houve uma predominncia de polticos do Centro de Minas e da Regio das
Vertentes. No segundo momento, que vai do final do sculo XIX a 1918, tivemos uma hegemonia sul-
mineira, perodo em que todos os governadores, exceo de um, vieram desta regio. No terceiro e
ltimo momento, houve presena majoritria da Mata sobre as demais regies. (Ver Quadro Nmero
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Se utilizarmos como parmetro o pertencimento Comisso Executiva do Partido
Republicano Mineiro nos trs momentos, chegaremos a resultados semelhantes, conforme ilustra o
Quadro Nmero 4. Na primeira fase, as regies Central, Mata e Norte controlaram as instncias
partidrias mineiras. No segundo momento, houve uma consolidada hegemonia sul-mineira com o
consequente esvaziamento do Norte e do Centro do estado. No terceiro momento houve um
equilbrio entre as trs regies do estado (Mata, Sul e Centro), com ligeiro predomnio da Mata.
Ambos os parmetros utilizados comprovam trajetrias regionais distintas. A Zona da
Mata, na primeira fase, manteve-se representada no governo de Minas de forma inexpressiva, mas
teve uma participao mais ativa nas hostes do PRM. Na segunda fase, esteve completamente
ausente do governo do estado e secundariamente representada no PRM; Na terceira fase,
predominou um equilbrio regional de poder, com ligeiro predomnio da Zona da Mata. O Sul de Minas
teve discreta participao poltica na primeira fase, o que foi mudado radicalmente na segunda fase,
quando chegou a quase monopolizar a presidncia do estado e a controlar quase 60% dos cargos da
executiva do PRM. J o Centro de Minas, que controlaria o executivo estadual na primeira fase, teve
seu poder diminudo significativamente na segunda fase, s o recuperando, em parte, na ltima fase.
No que diz respeito composio poltica da elite mineira por carreira, os levantamentos
previamente realizados apontam para a predominncia das profisses jurdicas. Martins fala em um
ndice superior a 80%. Na pesquisa que empreendemos chegamos a um total aproximado de
bacharis, que foi de 74%. (Ver quadro nmero 5) Interessante observar que a carreira de professor
era a segunda mais ocupada. Em geral, os bacharis associavam ambas as carreiras.
A presena majoritria de bacharis na poltica no foi um componente tipicamente
mineiro, mas nacional. Tal fato se explica pelos reduzido nmero de oferta de cursos superiores, que
eram, em sua grande maioria, cursos de Direito.
Muito embora a representao de fazendeiros seja pequena, tanto em nossa pesquisa
como nas demais, as concluses a que chegou especificamente Martins a este respeito nos pareceu
um pouco distorcida da realidade. O autor afirma que o baixo ndice de representao dos
fazendeiros na poltica mineira teria criado uma elite autnoma dos interesses econmicos
predominantes no estado, quais sejam, os da cafeicultura. (Martins,1987). Trata-se de uma distoro
derivada da mera anlise quantitativa dos resultados. Em trabalho anterior, tivemos a oportunidade
de contestar tal afirmativa, ao analisarmos a participao dos polticos mineiros de forma qualitativa.
Na ocasio, pudemos analisar o comportamento da elite mineira diante da defesa dos interesses dos
cafeicultores, atravs da anlise das polticas de valorizao. Muito embora no tenhamos concludo
em direo oposta a dele, qual seja, a de que a elite mineira defendia corporativamente e
exclusivamente os interesses dos cafeicultores, reforamos teses mais recentes que apontam para a
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relativa autonomia do poltico frente aos interesses econmicos hegemnicos.
Feito este mapeamento da composio da amostra selecionada, passemos ao
acompanhamento de seu comportamento diante de eventos previamente selecionados.
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Aqui nos referimos aos trabalhos de Fritsch, W. (1989) e Topik, S. (1989). O trabalho de nossa
autoria foi Viscardi, C. (1999-A).
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Wirth afirma que apenas 6% dos republicanos mineiros eram abolicionistas, o que confirma nossa
afirmao. (Wirth, J. 1982).
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da Mata Mineira (20%).
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Estes dados fazem parte de um outro levantamento cujas concluses podero ser encontradas em
VISCARDI, (1999-B).
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comuns. O segundo mais simples ainda. David Campista era uma das mais destacadas lideranas
polticas da Zona da Mata. E Wenceslau Brs, candidato a vice na chapa de Hermes, era do Sul de
Minas. As duas regies encontravam-se representadas em lados opostos.
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O caf produzido na Mata, extenso da cafeicultura da Vale do Paraba Fluminense, era de baixa
qualidade e pagava fretes mais altos. O produzido pelo Sul, extenso da cafeicultura paulista, era de
alta qualidade e pagava fretes mais baixos, por utilizar-se da malha ferroviria e do porto paulistas.
Nos momentos de crise, os cafeicultores da Mata eram responsabilizados pela superproduo e os
W. Luiz, por ter sido rejeitado pelo PRM em prol da candidatura de um nome mais tradicional na
poltica mineira, o de Olegrio Maciel.
Apesar do percentual de apoio a Washington Luiz no ter sido desprezvel, o fato que
o projeto revolucionrio foi majoritariamente aceito pelas elites mineiras, por todo o estado, o que era
de se esperar.
Nosso levantamento buscou, por fim, perceber se existiria uma lgica presente nas
opes polticas realizadas pela elite mineira, ao longo do regime. Acompanhando as posturas
polticas assumidas, nossa concluso foi que nossa classe poltica foi de um discreto republicanismo,
mas majoritariamente adesista ao novo regime; vencidos os arroubos florianistas, converteu-se ao
situacionismo nacional com Campos Sales; muito embora dividida, sustentou a candidatura hermista;
foi fortemente oposta s tentativas oposicionistas da Reao Republicana e por fim, sustentou a
Revoluo de 30.
Do ponto de vista regional outras observaes podem ser feitas. A Zona da Mata foi
ativa propagandista da Repblica; foi florianista radical, teve dificuldades em associar-se
hegemonia poltica paulista capitaneada por Campos Sales e foi civilista, circunstncias que lhe
renderam um decrscimo em sua insero poltica regional, principalmente no que tange ocupao
de postos executivos estaduais; por fim, foi bernardista e revolucionria. O Sul de Minas, ao
contrrio, apesar de republicano, afastou-se do florianismo, aderindo poltica dos estados e foi
hermista em sua totalidade, o que lhe angariou projeo poltica interna significativa; foi
discretamente bernardista e revolucionrio em sua maioria. Por fim, o Centro de Minas. Foi adesista e
deodorista, o que lhe garantiu considerveis ganhos na primeira fase da Repblica; aderiu ao pacto
dos estados, mas dividiu-se entre as candidaturas de Hermes e Rui, o que pode ter contribudo para
a sua fragilizao no perodo intermedirio; por fim, foi bernardista e revolucionrio, muito embora
reunisse a maior parte dos concentrados mineiros.
Aps essas anlises, torna-se patente a interferncia da poltica nacional sobre as
articulaes internas dos estados. As unidades federadas que melhor xito tiveram sobre o
equacionamento de suas disputas intra-oligrquicas foram as que melhor desempenho nacional
tiveram. Minas Gerais ilustra bem esta constatao. Na primeira fase, assolada por disputas internas,
Minas teve uma participao discreta no cenrio nacional. Na segunda fase e terceira fases, ou sob
hegemonia Sul-mineira ou com base no equilbrio inter-regional, o estado pde alar vos mais altos
em sua trajetria hegemnica sobre o regime.
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Quadro Nmero 1
Composio do Quadro Prosopogrfico
Quadro Nmero 3
Ocupao Regional da Presidncia do Estado de Minas
Quadro Nmero 5
Elite Mineira por Profisses
Quadro Nmero 7
Quadro Sucessrio por Regio Sucesso de 1922 (percentuais)
Quadro Nmero 8
Quadro Regional Revoluo de 1930 (percentuais)
Revolucionrios 20 15 20 25 80
Concentrados 0 5 10 5 20