Bem Aventurados Os Pobres de Esprito - J.W.Rochester PDF
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Krijanowskaia
(Rochester)
Bem Aventurados
os
Pobres de Esprito
Romance
J. W. Rochester esprito
W. Krijanowskaia mdium
98-4665 CDD-
133.93
ndices para catlogo sistemtico:
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de dvidas, mas Helena est louca por ele e sua me sonha em ver a
filha tornar-se baronesa.
Mas esse oficial pode estar enganado em seus clculos! Eu
soube pelo administrador de bens da senhora Rotbach que a situao
financeira dela tambm precria notou Andrei.
No me diga?! Em todo caso, ele ter o que merece por sua
conduta traioeira com respeito pobre Edith, de quem foi quase noi-
vo. A coitada da moa noivou por desespero com o baro Detinguen...
Olhe, l vem de volta a comitiva do casamento. Venha comigo, tio An-
drei! Vou coloc-lo num lugar onde poder ver a todos.
Uma longa fileira de carruagens apareceu na estrada, vinda da
cidade, e logo a primeira carruagem parou frente da entrada. Eram
os recm-casados.
O baro Gunter era realmente um jovem bonito, alto e esbelto e
seu uniforme de hussardo destacava mais ainda a sua beleza. O rosto
fino e aristocrtito, emoldurado por uma barbicha, tinha uma expres-
so de arrogncia e desdm. Entretanto, uma palidez doentia e um
certo fastio, refletidos em toda a sua aparncia, indicavam uma vida
agitada.
O baro foi o primeiro a saltar da carruagem; ofereceu a mo
esposa e seu olhar sombrio, deslizando indiferentemente sobre ela,
dirigiu-se moa que descia da prxima carruagem. Mas a esposa
pareceu no perceber aquilo; o baro suspirou e seguiu-a pela esca-
da.
A recm-casada era uma mulher alta e de compleio forte, que
tinha uma aparncia bonita com o vu e o vestido de noiva rendado.
Tinha um frescor na pele do rosto que poderia disputar em condies
de igualdade com qualquer moa do campo; por entre os entreabertos
lbios prpura viam-se dentes bonitos, fortes e de brancura deslum-
brante. Porm os olhos penetrantes e maldosos e os traos vulgares
do rosto, privados de qualquer graa, no refletiam nem bondade,
nem inteligncia. Naquele momento, ela transpirava satisfao e os-
tensivo triunfo.
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do, pois tinha brigado com todos seus parentes e no queria de modo
algum pedir ajuda ao seu tio; a me de Edith tambm falecera. Nessa
difcil situao, lembrou-se de seu amigo de infncia e colega de esco-
la militar, o seu parente distante, baro Vallenrod. Apesar de que eles
no se viam havia vrios anos, ainda assim o conde decidiu nome-lo
tutor de sua filha. O conde nem suspeitava que Gunter amara certa
vez a sua falecida esposa, e por isso ficou muito grato quando em
resposta sua carta o baro veio pessoalmente e lhe assegurou que
amaria e criaria Dagmara como sua filha.
Tudo foi devidamente legalizado. E ento, apesar da raiva e pro-
testos da baronesa Helena, a pequena condessa Helfenberg j havia
mais de um ano morava sob o seu teto. Gunter amava muito a meni-
na, cujos grandes olhos cinza com textura de ao lembravam-lhe Edi-
th; mas a baronesa odiava a filha de sua rival e fazia-a sentir essa an-
tipatia, mas de modo que seu marido nada percebesse.
No dia em que reiniciamos a nossa narrativa, a baronesa estava
sobretudo irada porque o baro, j havia cinco dias, no retornava a
Rosencheim. Essa prolongada ausncia deixou-a to furiosa, que ela
resolveu pregar ao marido um sermo que ele jamais ouvira.
O rudo forte da carruagem fez a baronesa erguer a cabea. Ela
num mpeto deixou de lado o bordado e, vendo Desidrio correr entu-
siasmado para o terrao, ao ouvir a carruagem se aproximando, gri-
tou em tom autoritrio:
Fique e continue brincando! Voc no vai receber seu pai...
O menino, aborrecido, ficou perplexo e lanou um olhar de sos-
laio para a me; mas no se atrevendo a desobedecer, saiu andando
devagar em direo governanta.
Nesse instante apareceu no terrao o criado, trazendo um carto
de visitas na bandeja de prata.
Karl Eshenbach, tabelio leu Helena surpresa. Voc disse
a ele que o baro no est em casa?
Disse, baronesa. Ele, entretanto, insiste em ser recebido
respondeu o criado.
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II
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se abria sob seus ps. Dominada por um tremor nervoso, Helena foi
at a escrivaninha; tinha que contar exatamente o que lhe restara.
Puxou maquinalmente a cadeira para junto da escrivaninha, abriu a
gaveta e no mesmo instante estremeceu e jogou-se para trs. Seus o-
lhos arregalados se cravaram no pacote de ttulos e dinheiro que o ta-
belio Eshenbach trouxera.
O rosto plido ruborizou-se fortemente e os dedos trmulos revi-
ravam os valores que prometiam riqueza, abundncia e futuro garan-
tido. Uma idia tentadora passou como um relmpago pela cabea da
baronesa.
Ningum sabia da existncia desses duzentos mil marcos. E nem
Eshenbach, nem o velho conde Helfenberg jamais pensariam em exi-
gir o dinheiro de volta, porque o primeiro voltaria dos Estados Unidos
s Deus sabe quando, e o outro no queria que os demais soubessem
sobre o presente que fizera. Alm do mais, a visita do tabelio e a
morte de Gunter foram muito coincidentes! Quem poderia provar, so-
bretudo depois de alguns anos, que aquele dinheiro no parara nas
mos do baro e que ele no o gastara, como o fizera com o capital
que Dagmara herdara do pai? Quanto mais ela pensava, mais fcil lhe
parecia apoderar-se daquele dinheiro sem qualquer risco. verdade
que aquilo seria um roubo, mas a necessidade estava forando-a a is-
so. Ser que ela poderia, por simples remorsos, sacrificar o futuro do
seu filho? Condenar Desidrio misria, fechando-lhe qualquer ca-
minho para uma carreira brilhante, s para preservar a situao da
filha de sua rival que roubara dela, Helena, o corao de Gunter, ini-
ciando com isso a desgraa que hoje a abalava?...
Uma luta desesperada surgiu no corao da baronesa. Apesar de
todos seus defeitos e egosmo, ela ainda no era uma criminosa e o
roubo de uma propriedade alheia inspirava-lhe medo e repugnncia.
O rosto desfigurado ora empalidecia, ora ruborizava-se e um tremor
percorria o seu corpo. Mas os pensamentos servos subservientes do
homem, executores espertos de desejos secretos e seus conselheiros
traioeiros sussurravam-lhe mil desculpas. Finalmente, o horror
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inspirado pela vida que ela teria pela frente venceu todas as hesita-
es e abafou todos os seus remorsos. Ainda plida, mas firme e deci-
dida, pegou a carta do conde Helfenberg e a queimou. E quando esta
reduziu-se a cinzas, ela cuidadosamente as limpou e fechou a gaveta
da escrivaninha.
Dando um profundo suspiro, Helena levantou-se. O fantasma da
pobreza e da humilhao fora afastado para sempre. Agora precisava
somente tomar cuidado e agir de maneira a no despertar suspeitas.
Reencorajada, ela comeou a andar pelo quarto e, depois de
muito refletir, organizou o seguinte plano de ao.
Comearia a viver do modo mais modesto; depois de algum tem-
po, ela se mudaria para a casa da sua velha, doente e rica parente da
qual cuidaria e depois divulgaria boatos de que recebera a sua heran-
a. Essa viagem dar-lhe-a a possibilidade de investir s ocultas o ca-
pital roubado.
No dia seguinte a baronesa j comeou a pr o plano em execu-
o. No subrbio da cidade alugou uma casa simples com pomar e a
mobiliou com o que havia lhe sobrado. Em seguida despediu todos os
criados, deixando somente a bab e a cozinheira e vendeu tudo o que
poderia ser considerado suprfluo. Ela agiu com tanta energia que
nem haviam passado dez dias desde os funerais do marido e tudo j
estava pronto e ela podia mudar-se para a nova casa.
Depois que a baronesa se mudou para a nova moradia, toda a
alta sociedade apressou-se a expressar-lhe a sua disposio amigvel
e ateno. A baronesa recebia as amabilidades com lgrimas de grati-
do e devolveu as visitas a todos mas, fiel a seu plano, passou a levar
uma vida mais modesta e solitria. Agora ela vivia somente para o seu
filho, dedicando-lhe uma ternura ilimitada e mantendo-o sempre per-
to de si. Em compensao, ela passou a detestar Dagmara cada vez
mais. A pequena rf, duplamente roubada, por seu marido e por ela
prpria, era o memento mori vivo do seu crime. A presena da me-
nina e a sua tagarelice inocente irritavam terrivelmente a baronesa.
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peso para a senhora, por ser filha de Edith. Alm do mais, ela no
tem meios prprios, porque a sua fortuna foi esbanjada pelo baro.
A baronesa ruborizou fortemente.
Eu cuido e trato de Dagmara, como se fosse a minha prpria
filha sussurrou ela.
Detinguen por sua vez sorriu com desprezo.
No duvido da generosidade da senhora, baronesa, mas no
posso deixar de notar que a sua conduta no combina inteiramente
com sentimentos matemos: a senhora foi viajar com seu filho e deixou
a rf, que foi roubada pelo seu marido, nas mos de uma emprega-
da, como um peso excessivo. A vontade expressa da senhora de man-
dar Dagmara para uma escola profissionalizante e priv-la, de tal mo-
do, de uma boa educao, qual ela tem o direito indubitvel de nas-
cimento, ainda mais estranha. bvio que o conde Victor no pre-
tendia fazer de sua filha uma braal quando depositou a sua confian-
a no baro Vallenrod. Mas tudo isso faz parte do passado. Agora es-
pero que a senhora aceite a minha proposta e mande juntar imedia-
tamente as coisas necessrias para a criana at que eu compre no-
vas. Se a senhora concordar, eu aguardo e levarei Dagmara comigo.
A baronesa, que ouvia tudo com as faces coradas, levantou-se
imediatamente.
Mas, claro! Claro que no irei me opor felicidade que coube
a Dagmara. Vou j dar as ordens necessrias.
A baronesa tentava em vo falar tranqilamente e disfarar a
raiva que a possua. Nesse instante a porta se abriu com estrondo e
na sala entrou correndo Desidrio. O menino conhecia bem demais a
me e percebeu imediatamente que ela estava furiosa e, por isso, ele,
indeciso e confuso, parou porta. Vendo que a me saiu sem nada
dizer, Desidrio aproximou-se do baro Detinguen e cumprimentou-o.
O menino ficou extremamente surpreso ao saber que a sua ami-
ga estava partindo para sempre, mas no expressou a menor contra-
riedade a respeito da futura separao.
O verdadeiro filho do digno casa!! pensou o baro.
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III
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mente evidente desde que sua bondosa governanta faleceu aps mo-
rar trs anos na casa do pastor.
Ainda bem que Detinguen suficientemente rico para pagar
uma camareira para ela e ser indulgente quanto paixo dela por
roupas bonitas acrescentava Matilda, percebendo que a menina gos-
tava muito de vestir-se bem.
E realmente, um vestido ou chapu novo faziam Dagmara total-
mente feliz e ela sempre escolhia as coisas mais caras. Alm do mais,
era muito orgulhosa e a humildade crist era-lhe completamente es-
tranha.
Nela fala o sangue materno. Temos de procurar desenvolver a
sua religiosidade, que ser a nica coisa a impedi-la de cometer erros
dizia freqentemente o pastor, sinceramente amargurado, comean-
do com novo zelo a educao religiosa de sua favorita.
Embora seus esforos tivessem maior xito que os de sua espo-
sa, o pastor no estava satisfeito com o resultado. Dagmara de fato
ouvia-o com ateno, sabia de cor contos e textos evanglicos da B-
blia, mas faltava-lhe o enlevo e paixo por personagens do Velho Tes-
tamento e era isso que almejava seu professor. s vezes, at mesmo
uma observao justa ou uma pergunta inesperada pareciam ao pas-
tor um germe do ceticismo e lanavam-no ao desespero. Por outro la-
do, a menina era to sinceramente devota, honesta, franca e pura at
o fundo da alma, que ele se consolava com a idia de que o tempo a-
tenuaria aquelas tendncias contraditrias.
Dagmara se dava muito bem com os filhos do pastor. Os meni-
nos no tinham irms e, por isso, mimavam-na e, brincando, passa-
vam para ela seus conhecimentos. O mais novo, Alfred, era um meni-
no modesto e aplicado, gostava de botnica, desenho e arte e parti-
lhava com ela seus conhecimentos; mas Dagmara se dava melhor com
o outro, Lotar, que era uns sete anos mais velho que ela. Eles liam
juntos obras de poetas, declamavam Shiller e Lessing. Quando Lotar
entrou na faculdade e veio visit-los pela primeira vez usando botas
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breviver. Essa menina j estava com dezesseis anos, e fora muito mi-
mada, acostumada a viver com luxo e a seu bel-prazer.
A sua tia acolheu-a, mas o estado moral da menina era horrvel
e ela percebia to pouco a sua nova situao, que a velhinha achou
necessrio coloc-la numa famlia modesta e trabalhadora, longe do
barulho mundano, na esperana de que a vida tranqila e os estudos
exercessem influncia favorvel naquela alma jovem e que a prepa-
rassem para uma vida de trabalho e futuras privaes.
A famlia do pastor Reiguern preenchia inteiramente essas con-
dies e por isso a parente pedia ao pastor que aceitasse Dina em sua
casa. Depois de muito pensar, o pastor e sua esposa consentiram,
pois o pagamento oferecido era muito bom e era mais uma oportuni-
dade de praticar o bem.
Ento, Dina Valprecht instalou-se na casa do pastor e desde os
primeiros dias causou uma pssima impresso nos seus novos tuto-
res. Nem o pastor, nem a sua esposa suspeitavam at que ponto o
mal tinha se enraizado nela. O pastor logo se convenceu de que seria
impossvel inspirar a verdadeira f, a resignao e a aceitao naquela
alma perturbada em que fervia a revolta amarga contra o destino.
Mas ele receava especialmente que a proximidade de uma pessoa to
cheia de caprichos pudesse exercer m influncia na pura e impres-
sionvel Dagmara.
Esta, inicialmente, ficou interessadssima na sua nova amiga e
lamentava com ela a desgraa que abalara a recm-chegada. Mesmo
assim, os modos rspidos de Dina, suas respostas atrevidas, o tom al-
to demais quando conversava e, principalmente, suas crises nervosas
chocavam-na e assombravam-na. Acostumada ao rgido autocontrole,
Dagmara no conseguia entender tal pusilanimidade e relaxamento,
mas pela prpria bondade natural cuidava da sua nova amiga e escu-
tava curiosa as histrias que abriam perante seu olhar ingnuo de
criana um mundo completamente diferente.
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sofrer o resto de sua vida por causa de um amor falso, comprado com
seu dote.
Eu no preciso do amor dele, mas de sua posio explodiu
Dina, levantando-se da cama. Herbert pertence alta sociedade e,
com a minha beleza, eu poderia me consolar se ele me desposasse.
Confusa, Dagmara guardava silncio, sem saber decididamente
o que responder a tal declarao; mas nesse instante entrou a mulher
do pastor. O seu rosto estava corado e parecia irritada.
Devo pedir senhorita Dina que guarde para si suas convic-
es amorais e que no suje o esprito puro de Dagmara. Sendo pura
e franca, ela lhe deu um timo conselho: melhor criar independn-
cia com os prprios esforos do que ansiar por um vergonhoso casa-
mento comercial, humilhante para qualquer mulher que se respeite.
Sem nada dizer, Dina deu-lhe as costas, virando-se para a pare-
de e a senhora Reiguern levou consigo Dagmara e, depois de fazer al-
gumas observaes sobre a noiva abandonada, proibiu sua pupila de
conversar tais assuntos ntimos com ela.
Na primavera o interesse de Dagmara tomou um outro rumo; era
poca de provas de seus irmos de criao poca de preocupaes
gerais e emoes. Finalmente, chegou a correspondncia comunican-
do que tudo correra bem e que Lotar chegaria dentro de dez dias;
quanto a Alfred, este recebera um convite para ensinar os filhos de
um catedrtico. As condies eram to vantajosas que ele aceitou e
partiu para a Itlia com a famlia do professor para passar l as frias
escolares inteiras.
A chegada dos jovens estudantes sempre foi uma festa para a
famlia do pastor. Tambm dessa vez a casa tomou aspecto festivo pa-
ra receber Lotar.
Vendo com que entusiasmo Dagmara fazia a guirlanda de plan-
tas para enfeitar a entrada e o zelo com que enfeitava o quarto do seu
irmo adotivo com valiosos bibels que Detinguen lhe enviava, Matil-
da disse baixinho ao ouvido do marido:
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a beleza de Dina, ele percebeu que o amor deles era uma loucura, que
se passariam ainda muitos anos antes que ele pudesse pensar em ca-
sar e que era muito provvel que a moa, habituada ao luxo, se sen-
tisse infeliz no ambiente modesto que ele poderia oferecer-lhe.
Lotar ento comunicou decidido Dina que, dentro de alguns
dias, ele se mudaria, como mentor, para a casa do doutor Bern e, por
isso, ela no poderia ficar na casa dele e devia pedir hospedeira que
a levasse casa da sua tia.
Essa declarao inesperada ps Dina fora de si. Gritando e cho-
rando, ela exigiu um casamento inadivel, acusando-o de roubar seu
corao para divertir-se e depois abandon-la, submetendo-a assim
tirania e s acusaes da tia. Lotar permaneceu firme, mas a cena es-
friou-o definitivamente e ele, involuntariamente, comeou a comparar
o rosto de Dina, ardente e deformado de raiva, face inocentemente
tranqila de Dagmara, com grande vantagem para a sua maninha.
Lotar suspirou aliviado quando a carruagem que levava a filha
do banqueiro desapareceu. Alm do mais, agora ele no estava em
condies de namorar: precisava trabalhar bastante e lutar para abrir
o caminho para a independncia e prosperidade.
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Papai! Voc no est bravo comigo por chorar tanto pela par-
tida da tia Matilda? Agora que estou aqui, voc pode achar isto uma
ingratido da minha parte. Mas, no pude me conter. Ela e o tio sem-
pre foram muito bons para mim!
Detinguen a fez sentar-se no banco ao seu lado e, sorrindo, res-
pondeu, passando a mo com carinho na sua cabea:
No, minha querida, no estou nem um pouco bravo. E, ao
contrrio, sinto-me feliz, vendo que voc sabe valorizar o amor que lhe
dispensado. A separao sempre difcil, e ainda que na minha ca-
sa voc viva mais luxuosamente, espero que jamais esquea a famlia
honesta que a ama e onde foi criada. Ento, no disfarce as lgrimas
que honram voc! Agora, minha criana, v e descanse de todas as
preocupaes do dia de hoje.
E, realmente, Dagmara estava to emocionada que, ao voltar ao
seu quarto, no conseguiu dormir por muito tempo. O novo ambiente
a impressionara demais, excitando a sua imaginao e, quando fi-
nalmente adormeceu, teve um sonho estranho.
Ela se viu dormindo numa cama grande, iluminada pela luz su-
ave e azulada de um balo brilhante e transparente, e ela parecia es-
tar em seu interior. De repente, sua cabeceira apareceu um anjo de
extraordinria e encantadora beleza. Todo o seu ser irradiava uma luz
ofuscante, mas as suas asas eram escuras e elevavam-se sobre a ca-
bea, como uma nvoa escura. Ele segurava numa mo uma tocha e
na outra uma espada flamejante. Este ser misterioso inclinou-se so-
bre ela e olhou-a com um olhar to penetrante que ela estremeceu.
Depois, abaixando a tocha, ele incendiou o balo transparente que a
cercava e que queimou estalando. Dagmara teve a impresso de que
um sopro de ar frio a transpassou completamente e, em seguida, ela
foi tomada por uma correnteza de fogo. Enquanto ela, muda de hor-
ror, olhava para o anjo, este pronunciou com uma voz profunda:
Eu queimei a ingenuidade da sua f para abrir a sua mente
para uma nova luz. Darei a voc asas para que possa elevar-se acima
da rude e cega humanidade; vou revelar-lhe leis desconhecidas e a
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iluminarei com luz espiritual, que lhe permitir ver atravs do corpo
carnal e ler os pensamentos dos homens. Voc se tornar receptvel
s vibraes do bem e do mal; o calor espiritual do bem ir aquec-la,
mas voc tremer de frio ao tocar o mal.
Com estas palavras, ele tocou-lhe a testa com a espada flame-
jante e Dagmara sentiu algo como um raio que atravessou o seu cre-
bro. No mesmo instante, o ambiente que a cercava abriu-se como cor-
tina e ela viu uma aglomerao de estranhos seres que se lanaram
ao seu encontro. Terrivelmente assustada, ela caiu de joelhos e ex-
clamou, implorando:
Anjo terrvel! Deixe-me com a minha f ingnua e no abra
para mim os abismos do mundo invisvel! Tenho medo de cair l.
O anjo nada respondeu e, abrmdo as suas potentes asas, elevou-
se no ar, agitando a atmosfera com tanta fora, que pareceu a Dag-
mara ter sido carregada como um gro de poeira e arrastada pelo tur-
bilho. Para onde?... Ela no soube dizer, pois logo acordou, coberta
de suor frio.
Que sonho horrvel! murmurou ela.
E, levantando-se rapidamente da cama, correu para o Crucifixo
pendurado na parede e rezou ardentemente. Em seguida, um pouco
mais calma, ela deitou novamente para dormir e, desta vez, acordou
bem tarde.
Dagmara viu o baro somente durante o desjejum. Quando ele
perguntou se ela havia dormido bem, a moa contou-lhe o sonho. De-
tinguen escutou com visvel prazer e depois disse , sorrindo:
Esta viso, minha querida criana, tem um significado pro-
fundo e me comprova que voc est predestinada a ser iniciada nos
grandes mistrios. A dor que voc sentiu comprova como difcil ob-
ter o verdadeiro conhecimento e como penoso livrar-se de preconcei-
tos. Acredite, minha filha, somente a cincia faz o homem ser inde-
pendente da sociedade de pessoas vulgares, de suas falsas amizades,
de sua curiosidade ociosa e do contato perigoso com seus vcios. O
ignorante corre atrs do ouropel mundano e procura contato com
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e nem emitir nenhum som. Seu corpo todo estava paralisado e so-
mente o crebro funcionava, enquanto uma dor aguda atormentava a
parte do corpo afetada pelo tumor. Horrorizado e mudo, o conde olha-
va para a figura alta de Detinguen ao seu lado. Estendendo as duas
mos sobre a cabea de Phillip, o baro continuava a sua cano es-
tranha, ora murmurando palavras incompreensveis, ora levantando a
voz fortemente. Parecia ordenar e exigir algo; as veias de sua testa in-
charam, os olhos dele brilhavam como fogo e todo o corpo irradiava
uma luz azulada que se concentrava nas pontas dos dedos, de onde
saam raios brilhantes. Aps um certo tempo, que pareceu uma eter-
nidade ao conde, Detinguen pegou a espada do altar e aproximou-se
do leito.
Ele vai matar-me! Ca nas mos de um louco passou como
um raio pela cabea do jovem oficial, horrorizado.
O conde ainda no conseguia mexer-se. Ento, a espada abaixou
e ele sentiu a lmina queimando-lhe a face e a testa; pareceu-lhe que
o sangue jorrou e cobriu o seu rosto e pescoo, mas no teve tempo
para pensar nisso, pois a sua ateno foi completamente absorvida
por uma incrvel viso.
Detinguen recuou e levantou a espada, em cuja ponta, soltando
gemidos surdos, um ser vivo contorcia-se como uma serpente. A es-
tranha criatura no tinha contornos ntidos, o seu corpo parecia uma
massa negra e gelatinosa, atravessada por uma faixa cor de sangue; a
cabea repugnante e sem forma lembrava a de um ano com olhos
verdes e fosforescentes de cobra.
Aproximando-se dos trips, o baro jogou um punhado de certa
erva que queimou imediatamente com chama luminosa e na qual De-
tinguen por vrias vezes mergulhou a ponta da espada. A criatura
misteriosa, pendurada na espada, torcia-se, soltando gemidos agudos
e lastimosos e, finalmente, transformou-se numa fumaa cor de san-
gue, enchendo o quarto com um odor putrefato.
A ateno do conde estava to absorta naquele espetculo extra-
ordinrio, que nem percebeu que, com a disperso da fumaa, volta-
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deles aquilo que no podem dar mas para cumprir o dever imposto
a ns pelo Senhor. Quando voc entrar na sociedade e se defrontar
com as pessoas, minha querida criana, entender isso e tambm as
grandes palavras de Jesus Cristo: ...pedirs um po, mas te daro
uma pedra. Essa pedra o egosmo deles que no permite nenhum
culto, seno o do seu prprio eu. Mas no se deve mostrar o espelho
da verdade a esses invlidos morais, repugnantes e cobertos de tumo-
res espirituais, pois so cegos em relao s suas fraquezas e se ga-
bam desdenhosamente de suas fendas. Por isso necessrio que os
saudveis e que enxergam estendam-lhes a mo amiga, pois trata-se
de dbeis mentais.
Muito obrigada pela obrigao to agradvel de ajudar esses
miserveis para receber em troca vrias insolncias disse Dagmara
com uma careta.
Detinguen sorriu.
Felizmente, para no assustar os salvadores, todos esses
tumores espirituais so encobertos com vestidos modernos e elegan-
tes, casacas ou uniformes. Acontece tambm que, quanto mais bri-
lhante for a sua aparncia externa, mais contaminados estaro inter-
namente. Ladres e assassinos encontram-se no somente nas pri-
ses. Os infelizes que furtam sob a presso da fome ou assassinam
sob influncia dos vapores de vinho so, freqentemente, menos peri-
gosos do que os elegantes malfeitores freqentadores de sales da so-
ciedade, que encobrem seus crimes com ouro e ttulos. Eles so baju-
lados e at engrandecidos pelos mesmos atos que a lei pune severa-
mente quando so cometidos por algum pobreto!
Dagmara deu um suspiro.
Papai, voc diz com freqncia que me predestinou para tra-
zer aos homens a luz da verdade superior. Confesso que esta misso
comea a assustar-me. Voc acabou de dizer que os homens so trai-
oeiros e ingratos, pois eu no me sinto suficientemente candosa e
indulgente para sacrificar-me por eles. No geral, no entendo a justi-
a que permite oprimir os fracos ou bondosos, e que d fora, poder
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mo pela testa mida. Sua me, que sabia daquele passado, concor-
dava em silncio que ele Desidrio casasse com a filha da horrvel
mulher que a envergonhara, sendo como todos diziam, a amante do
seu marido e em cuja casa seu pai se matara!...
Desidrio procurava em vo explicar aquele comportamento.
Com fundo suspiro, sentou-se escrivaninha e pegou a grande foto
do pai, tirada no ano de sua morte, que a baronesa havia deixado na
gaveta da velha cmoda onde ele, por acaso, a encontrou.
Ele ficou olhando a foto por longo tempo e depois, voluntaria-
mente, comeou a comparar a bela cabea de Gunter ao retrato, na
parede, da baronesa em seu vestido de noiva. At o prprio filho podia
perceber que aquela mulher, nova e frgil mas vulgar, no possua
nenhum encanto e delicadeza, que so parte essencial da beleza fe-
minina. Ser que o pai se sentia infeliz com isso e fugia do prprio lar,
procurando o esquecimento em todo tipo de devassido?...
Cobriu a cabea com as mos, procurando pensar e tentando a-
vidamente encontrar alguma coisa que lhe indicasse a pista certa. De
repente, estremeceu e bateu com a mo na testa. Ele lembrou-se de
algo que encontrara havia dois anos e de que havia esquecido total-
mente.
Entre as coisas que restaram com a baronesa, aps a devastao
que se seguiu morte do marido, havia um pequeno armrio. Certa
vez, Desidrio o encontrou casualmente no depsito: ele lembrava-se
bem do armrio, pois o pai sempre guardava l doces e bugigangas.
E o baro Vallenrod no se esqueceu do seu achado. Quando e-
le, aps a reforma montava os seus aposentos, exigiu tambm aquele
armrio, limpou-o de velhas garrafas e lixo e colocou-o no seu gabine-
te para guardar valores e perfumes. Mas, durante a limpeza, Desid-
rio apertou por acaso um boto oculto, tomando-o por um prego. I-
mediatamente abriu-se um compartimento secreto, no qual ele viu
uma pequena caixa com as iniciais do falecido baro. No encontrou
a chave e um sentimento estranho o conteve de contar me sobre o
seu achado. Depois, ele acabou esquecendo-se de tudo isso.
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uma grande fraqueza nas pernas. Depois foi dominado por tal sono-
lncia que se sentou na poltrona e encostou a cabea, pesada como
chumbo no seu espaldar.
Mais tarde, Desidrio no soube dizer se dormiu ou quanto tem-
po demorou aquele estado de torpor. Quando voltou a si, sentiu frio e
lhe pareceu que um vento soprava sobre ele, como se a janela do
quarto estivesse aberta. Essa sensao desapareceu rapidamente e
toda a sua ateno concentrou-se sobre Detinguen, que se debruava
sobre o enfermo, colocando em sua boca colheradas da mesma gua
rsea que havia passado em seu corpo.
Naquele momento o baro levantou a cabea e fez-lhe um sinal
para aproximar-se. Vallenrod ficou surpreso ao ver que a palidez mor-
tal da criana havia desaparecido, uma abundante transpirao co-
bria todo o corpo e a respirao regular indicava um profundo sono.
Sim, ele est dormindo! Agora no h mais perigo. Efetuou-se
uma reao completa respondeu Detinguen muda pergunta es-
tampada nos olhos de Desidrio. Entretanto, chegamos no momen-
to exato. Se tivesse passado uma hora a mais, eu nada poderia fazer
acrescentou com um sorriso.
Que cincia fantstica! Como deve ser maravilhoso ter o poder
de salvar a vida humana e secar as lgrimas de infelizes! murmurou
Desidrio, apertando calorosamente a mo do baro.
No rosto de Detinguen apareceu um claro e triste sorriso irnico.
Meu entusiasmado rapaz, ento foi sua a idia de trazer-me
at aqui? E com isso prestou-me um pssimo favor! No h rosas sem
espinhos e, agora que salvei a criana, sobre mim ir desabar toda a
multido de mdicos. Com raiva da prpria incapacidade, eles come-
aro a inventar mentiras e calnias para denegrir a verdadeira cin-
cia a cincia que eles desprezam e afastam, mas que a nica a fa-
zer milagres e que realmente d armas e foras aos seus servos dedi-
cados para lutarem com sucesso contra a morte.
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tre um casal que est ligado pelo clculo e no pelo amor? Voc est
entrando no mundo, minha pobre criana, e na sua idade o amor
muito traioeiro; portanto, seja cuidadosa, cuide bem do seu corao
e no confie nas pessoas. Voc ainda no sabe como so espiritual-
mente malficos aqueles senhores jovens de corpo mas velhos de co-
rao e quanta impiedade, egosmo e vcios se ocultam sob a delicada
aparncia do homem mundano! Voc bela demais para no atrair
a ateno dos homens, que em sua maioria esto acostumados a vit-
rias fceis. Assim, ao deparar-se com a sua virtude, um desses ho-
mens poder casar facilmente com voc; mas ele indubitavelmente ir
vingar cruelmente a prpria derrota. Voc pagar caro pela aquisio
de sua valiosa pessoa e ter uma amarga desiluso quando retirar a
mscara do rosto jovem e atraente que esconde a careta de stiro.
Tudo isto ir causar-lhe grande sofrimento. Ento, repito, seja cuida-
dosa.
Dagmara ficou cabisbaixa. difcil relacionar-se num mundo de
desconfiana e enxergar inimigos em todos sua volta. E se aqueles
pontos de vista foram sugestionados pela desiluso e desconfiana
prprias da velhice?
Naquele instante, Saint-Andr entrou no quarto. Ele estava mui-
to plido. Pelo seu semblante e olhar perdido, percebia-se que ele ou-
vira as palavras de Detinguen, e este perguntou com um sorriso:
O senhor ouviu a nossa conversa?
O conde enrubesceu, mas respondeu sem vacilar:
Sim... e peo encarecidamente desculpas pela minha indiscri-
o. Durante alguns minutos ouvi suas palavras que, infelizmente,
foram mais do que justas. No passei eu prprio por todos os abismos
do vcio quando a vossa benfeitora mo me arrancou desta lama?
Mas, parece-me que o senhor exagera os perigos que podem ser en-
contrados neste nosso, infelizmente, depravado mundo. As bases mo-
rais e a imaculada pureza da alma da condessa Dagmara iro prote-
g-la contra quaisquer fraquezas; seu orgulho, energia e o intelecto
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repente, ela teve uma idia. Pegando rapidamente o seu leque de pe-
nas, fez com ele uma leve ccega nas narinas do baro. E, imediata-
mente, um forte espirro anunciava que o ltimo afogado fora ressus-
citado.
Na sala houve uma exploso de gargalhadas, e o duque gritou
alegremente:
Bravo, fada Viviana! isto que eu chamo de sada diplomtica
de uma situao crtica.
S Desidrio no conseguia rir: o seu amor-prprio foi ferido e
ele ficou numa situao ridcula diante dos presentes. E foi derrotado
por aquela insolente garotinha! Mas ele era demasiadamente munda-
no e experiente dissimulador para demonstrar a raiva que o sufocava
e, por isso, foi o primeiro a rir e rapidamente ps-se de p.
Condessa, a senhorita fica me devendo disse alegremente,
beijando a mo de Dagmara.
E ela nem suspeitava que o tom seco e as veias inchadas na tes-
ta eram sinais de profunda ira; Dagmara tambm no percebeu o seu
olhar venenoso e pungente enquanto conversava com as damas. Ter-
minada a primeira dana, Desidrio deixou a sua dama e o resto da
noite tratou-a friamente, insistindo em cortejar a filha de um diplo-
mata estrangeiro.
Inicialmente Dagmara ficou chateada e sentiu-se ofendida, ape-
sar do seu sucesso com outros cavalheiros que, um atrs de outro,
convidavam-na para danar. O mais ardoroso dos fs era Fritz Dom-
berg.
Desidrio, apesar da raiva, no perdia de vista a dama que a-
bandonou e ficava especialmente aborrecido com a corte de Domberg.
Ele desprezava o jovem colega pela sua origem e sempre teve em rela-
o a ele uma frieza contida, o que os mantinha afastados. Dagmara
captou um desses olhares de desprezo, mas a baronesa Shpecht, sen-
tada perto dela tambm era muito observadora.
Enquanto Domberg foi buscar sorvete, ela comentou, rindo, com
a vizinha:
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guiria fugir deste abismo que o atrai como o fogo que atrai as borbole-
tas e as queima.
Dagmara, plida e trmula, ouvia essas entrecortadas mas signi-
ficativas frases e naquele momento sentia um quase dio por Desid-
rio.
s vezes este sentimento estranho e inexplicvel ilumina o esp-
rito do homem como um raio que ilumina o cu, alertando sobre a
ameaa de perigo e obrigando a tremer de medo diante do desconhe-
cido. Mas o homem acredita somente naquilo que ele prprio quer e
s se lembra do raio proftico quando o trovo ribombar e a tempes-
tade se desencadear sobre ele, como castigo por ignorar o aviso do
destino.
Tal tipo de raio reforou a vaga desconfiana e a surda repulsa
que por vezes despertava no esprito de Dagmara a presena de Desi-
drio. Era algo indefinido, quase um sentimento de dio.
Pai! dizia ela, encostando os lbios na mo de Detinguen,
quando ele estremeceu e endireitou-se. Eu nunca vou me separar
de voc! Nunca vou amar ningum e nem casar com o homem que vo-
c diz ser fatal para mim e que ir nos separar!
Sem nada responder, Detinguen abraou-a carinhosamente.
Algumas horas depois, chegou o cirurgio da corte acompanha-
do de outro mdico e uma enfermeira. Mas o estado de Desidrio pio-
rava nitidamente e, aps um cuidadoso exame, ambos os homens da
cincia declararam que o seu estado era irremedivel.
Eu no sou mdico, mas me parece que ele pode ser salvo
observou Detinguen.
O cirurgio-chefe sorriu com desdm.
Dizem que o senhor um mago. Pode ser, baro, que a sua
cincia misteriosa consiga parar a inclemente morte que bate por-
ta deste quarto, mas ns simples mortais devemos reconhecer a
nossa incapacidade de salvar este jovem. O crnio est fendido e a
perda de sangue enorme; portanto, tudo aponta para uma inflama-
o cerebral, cujo resultado ser fatal. Vejo-me na obrigao de avisar
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Calma, minha senhora! Seu filho ainda est vivo e vou lev-la
at ele; mas o estado dele desesperador e necessita de repouso ab-
soluto.
A baronesa ficou parada por instantes, toda trmula; de repente,
sua volumosa figura oscilou e caiu na poltrona num forte ataque de
nervos. Ela enlouqueceu, soltando gritos, rindo histericamente e ar-
rancando seus prprios cabelos. Detinguen pediu para Dagmara bus-
car um remdio apropriado, enquanto ele prprio, com a ajuda de Sa-
int-Andr, segurava a baronesa.
A moa, assustada, correu at o laboratrio e trouxe alguns for-
tes remdios que fizeram a baronesa voltar a si. Quando ela prometeu
controlar-se para no ter manifestaes de infelicidade to agitadas,
Detinguen levou-a ao quarto do paciente, mas ao ver o filho terrivel-
mente mudado, ela fraquejou novamente. Caindo de joelhos diante da
cama, ela encostou o rosto no cobertor e tentava conter o choro con-
vulsivo que estremecia todo o seu corpo. Era, provavelmente, a pri-
meira vez que esta mulher, m e egosta sentia-se profunda e since-
ramente infeliz; o olhar ausente de Desidrio feriu-a bem fundo no co-
rao.
Dagmara, que os seguia em silncio, apertou-se a Detinguen. No
seu corao generoso e bom surgiu uma profunda solidariedade e ela
esqueceu o sentimento hostil e de repulsa que tivera pela baronesa
quinze minutos atrs. Seus olhos estavam cheios de lgrimas quando
ela olhou suplicante para Detinguen e sussurrou emocionada:
Papai! Ser que a nossa cincia no pode salv-la? Quantas
Vezes j tiramos pessoas dos braos da morte? Ser que desta vez
no conseguiremos?
Detinguen estremeceu e, abraando Dagmara, respondeu em voz
baixa e trmula:
Ns tentaremos salv-lo.
O dia transcorreu sob grande tenso. A baronesa ocupou um lu-
gar na cabeceira do leito de Desidrio, mas em vez de ajudar a enfer-
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cupao e a sua voz tinha uma profunda tristeza quando ele sussur-
rou:
Obedeci lei da iniciao. Que este ato de alta cincia no se
transforme em ato diablico.
No dia seguinte, chegaram os mdicos e constataram perplexos
que o paciente tivera uma reao milagrosa e incompreensvel. A in-
flamao desaparecera completamente e a fenda, mesmo que ainda
dolorida, j no oferecia nenhum perigo e precisava somente de sim-
ples curativos para fechar-se em definitivo.
Desidrio, feliz e grato, declarou que devia a sua cura exclusi-
vamente cincia misteriosa do baro. Os mdicos deram de ombros,
mas no retrucavam, e o velho cirurgio-chefe confessou com sinceri-
dade:
No podemos ir contra os fatos. Uma certa magia que ns,
simples mortais, desconhecemos, realizou este milagre com o senhor.
Atesto isto sem qualquer explicao. Agora, s posso receitar-lhe sim-
ples curativos, tranqilidade e silncio total para que o restabeleci-
mento completo acontea sem dificuldades.
A baronesa ficou muito feliz e expressou ao baro o seu ardente
reconhecimento. Ela visitava o filho todo dia, sentando-se ao lado de
sua cama; mas medida que a recuperao avanava, as suas visitas
comearam a rarear. E quando Desidrio levantou da cama pela pri-
meira vez, ela quis lev-lo para casa.
Detinguen ops-se a isto, dizendo que a cabea do paciente ain-
da no podia suportar nem o menor estremecimento e a baronesa ce-
deu; mas alguns dias aps, ela disse ao filho que iria ausentar-se por
duas semanas para visitar uma amiga muito doente. Na realidade, a
baronesa de Vallenrod no suportava a presena de Dagmara. Embo-
ra a moa no demonstrasse nenhuma raiva, e nunca dissesse uma
nica palavra sobre o passado, s a presena dela j irritava a baro-
nesa.
As semanas seguintes foram para Desidrio como um sonho en-
cantado. Ele no s sentia que estava se recuperando fisicamente
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sua posio com o duque est bem firme. Neste caso, voc deve se de-
clarar Dagmara dizia Saint-Andr com amargura e irritao.
A voz de Desidrio tremia de raiva, quando ele respondeu:
Ora essa! Quero ver quem ir obrigar a declarar-me, se no
tenho nenhuma inteno de casar!
Se no tem tal inteno, ento preserve a reputao da moa
e no finja ser seu pretendente. Voc levou este jogo longe demais. Se
no quer que as pessoas honestas considerem-no um patife, deve ca-
sar com a condessa Helfenberg, isto , se ela o aceitar como marido.
Ah-Ah! respondeu Desidrio com um riso irnico, que repercu-
tiu mal em Dagmara.
Aquela pequena exclamao continha tanta autoconfiana e vai-
dade, no permitindo nem sombra de dvida quanto aceitao da
proposta, que o rosto da moa ficou vermelho. Dagmara correu para
seus aposentos e, jogando-se no div, chorou convulsivamente.
Um sentimento de indescritvel tristeza e de amor-prprio ferido
apertou o seu corao. Apesar do que diziam de Vallenrod, Dagmara
acreditava que ele a amava e procurava neste sentimento um alvio
para a humilhante conscincia de ser escrava de sua fora oculta. Se
ele a amasse, esta estranha priso no seria um grande mal e ela se
submeteria de bom grado. Apesar da instintiva desconfiana que por
vezes despertava ela se consolava, sonhando com o futuro e vendo em
Desidrio qualidades espirituais to atraentes quanto a sua aparncia
externa...
E agora, de repente, ela fica sabendo que ele no a ama, usando-
a como cobertura para o seu jogo duplo, que deveria garantir para ele
a vaga de ajudante-de-ordens e, ao mesmo tempo, livr-lo de Berta
Domberg. Dagmara franziu o cenho e em seus olhos acendeu-se um
sombrio fogo. Ento, Dina estava certa: sob a luxuosa embalagem, o
baro escondia um corao frio, um egosmo cego e vaidade. Se agora
ele a pedisse em casamento, iria faz-lo por insistncia dos compa-
nheiros, para preservar a reputao dela, que comprometera arbitra-
riamente... E ele no tinha dvidas de que seria aceito com entusias-
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muito ruim para a sua imagem. Por isso, mesmo contra a vontade, ele
decidiu ele decidiu finalmente fazer uma visita a Detinguen, o que j
estava ficando inadivel.
Conseguindo habilmente a informao de que Dagmara iria au-
sentar-se de casa por algumas horas, Desidrio decidiu aproveitar es-
sas oportunidade e visitar a vila.
Detinguen recebeu-o amavelmente e, durante a conversa, ne-
nhuma vez mencionou Dagmara, de modo que, Desidrio, constrangi-
do, recuperou a sua costumeira pose. A mudana radical na aparn-
cia do velho impressionou-o profundamente e despertou compaixo
em sua alma; mas quando o olhar de Detinguen fixou-se nele e pare-
cia enxergar o mais profundo de sua alma, Vallenrod foi novamente
tomado de uma obscura sensao de perigo.
O senhor est vendo o meu futuro, baro? perguntou com
sorriso forado. Neste caso, peo-lhe que me diga o que v. Recordo
que certa vez o senhor previu que eu por duas vezes estaria entre a
vida e a morte sob este teto. Metade desta profecia j se realizou. E
isso desperta em mim uma forte vontade de ouvir do senhor o que o
futuro me trar.
Detinguen meneou a cabea.
No vejo os acontecimentos que o aguardam, mas leio em
seus olhos um conturbado passado e um futuro ainda mais agitado.
Se o senhor quiser ouvir os comentrios de um moribundo sobre isso,
posso contar-lhe com prazer.
Mas claro que quero! Eu o ouvirei com gratido e respeito
que merece um homem a quem devo a vida respondeu Vallenrod.
Neste caso, digo-lhe: abandone sua vida depravada e a perse-
guio aos prazeres vazios e mentirosos. O mundo no qual o senhor
vive se vangloria do vcio, considerando-o como qualidade e no se de-
tm diante de nenhuma baixeza, pois que tal comportamento no traz
consigo nenhum castigo. Entretanto, as pessoas no sabem que todos
os seus abusos repercutem cruelmente sobre si prprias, e que no se
transgridem impunemente as leis que regem o nosso corpo e alma. Eu
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pronta para partir nada mais do que prisioneira para a qual esto
abrindo as grades da priso. A maior prova de amor por mim neste
momento solene ser a sua calma e a prece.
Dagmara ajoelhou-se em silncio e apertou a prpria testa na
mo do ancio. Ela quis ser forte e tentava rezar.
Agradeo por este esforo de vontade com que voc quer pro-
var a sua afeio disse Detinguen. Agora, pegue do altar o leno
dobrado e a vela. Com o leno voc cobrir o meu rosto e voc, Phillip,
acenda a vela e a coloque na minha mo.
Trmulos, os jovens executaram suas ordens, ajoelharam e fica-
ram num angustiante silncio. O conde estava plido como um fan-
tasma e o corpo de Dagmara comeou a exalar frio suor, no a dei-
xando pensar.
Ela estava completamente concentrada na aproximao da mis-
teriosa e terrvel desconhecida que chamam de morte.
De repente soou baixo a voz firme de Detinguen:
Meu trabalho na terra terminou. A carne cumpriu o seu papel
e retorno para o infinito invisvel e incomensurvel para comparecer
diante Daquele indescritvel, Aquele que ningum pode conceber, A-
quele que no tem incio nem fim e cujo nome se pronuncia com tre-
mor. Oh, Ser Supremo! Tu, a quem tudo obedece, desde o ltimo -
tomo at a eternidade, s misericordioso com o sopro que de Ti saiu, e
conduze-o atravs dos abismos da sabedoria para a sua origem divi-
na.
A voz calou-se e soou um surdo e distante sino. Um forte rudo
como de vento em tempestade encheu o quarto; a tocha que a figura
do relgio segurava apagou-se e tudo silenciou.
Saint-Andr recomps-se primeiro. Vendo que Dagmara estava
cada sem sentidos, ele aproximou-se de Detinguen, levantou a vela
que caiu de suas mos e retirou o leno.
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memria era sagrada para ela. A partir daquele dia, Dagmara encon-
trava regularmente aquele interessante casal; eles j se cumprimen-
tavam e at trocavam frases, de passagem, mas a jovem ainda no
sabia quem eram seus novos conhecidos.
Certa manh, chegando gruta antes do horrio habitual, Dag-
mara encontrou a garota sozinha; ela estava ajoelhada diante da est-
tua de Nossa Senhora e rezava com tanto fervor, que nem notou a sua
chegada. Dagmara parou em silncio entrada da gruta e ficou ob-
servando, triste e pensativa, a mocinha em orao. Houve uma poca
em que ela prpria rezava daquela maneira e era muito mais feliz...
Por fim, a mocinha enxugou as lgrimas da face, beijou os ps da
Santssima Virgem e enchendo um frasco com a gua da fonte, j se
preparava para ir embora. Ao deparar com Dagmara, ela ficou verme-
lha e queria passar rapidamente, mas Dagmara interpelou-a e come-
ou a conversar. A mocinha gostava de conversar e elas sentaram no
banco que havia entrada da gruta. Logo Dagmara ficou sabendo de
toda a histria de sua nova conhecida. O velho doente chamava-se
Eshenbach. No seu tempo ele foi um tabelio e viveu doze anos na
Amrica para onde foi chamado por problemas familiares. Sibilla, sua
sobrinha, era a rf que ele adotou.
Dois anos atrs, uma das catstrofes financeiras que nos Esta-
dos Unidos constantemente criam e derrubam grandes fortunas arru-
inou inesperadamente Eshenbach. O choque provocado por aquela
infelicidade teve como conseqncia um ataque apopltico, que se
manifestou inicialmente como uma fraqueza nas pernas e, aos pou-
cos, transformou-se em completa paralisia. A perseguio ao devedor
de uma grande soma, obrigou o ex-tabelio a voltar para a Europa. E,
como o devedor vivia em Prankenburgo, Eshenbach, ento, tambm
mudou-se para c com a sua tutelada.
O processo est se prolongando e a doena impede meu pobre
tio de acompanhar o caso, sem falar que ele, por vezes, sente terrveis
dores em todo o corpo concluiu Sibilla, enxugando as lgrimas.
Se a senhora soubesse, como ele bondoso e como difcil para mim
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vem, e nunca o oficial foi to malquisto por ela. Tal sensao de desa-
grado a Desidrio aumentou ainda mais quando Dagmara, sem que-
rer, percebeu, chocada, que comeara uma estranha relao entre
Vallenrod e a jovem duquesa e que eles trocavam bilhetinhos em sigi-
lo.
A conscincia de se encontrar sob uma inexplicvel influncia de
um patife que, de forma sacrlega, atentava contra a honra do seu rei
e benfeitor, irritavam tanto Dagmara que ela resolveu casar-se, na es-
perana de que novas obrigaes e interesses amenizariam a sua in-
compreensvel doena. Mas casar com quem? Admiradores no falta-
vam, s que a maioria deles eram iguais a Desidrio, egostas e devas-
sos. Dentre todos, a sua escolha recaiu em Saint-Andr. Ela notava
cada vez mais a delicadeza, a mente desenvolvida e o carter nobre do
jovem conde, mas este, continuava em silncio, apesar da amizade e
afeio que sempre demonstrava.
Num dos momentos de amarga irritao, Lotar declarou-se a ela,
implorando casar com ele, e Dagmara no pensou duas vezes; sentia
uma profunda simpatia pelo seu amigo de infncia, e a idia de ser
sua esposa no lhe era repugnante, pois conhecia a sua nobreza e
honestidade. Ento Dagmara disse-lhe sim e Lotar, arrebatado pela
felicidade, prometeu-lhe que iria ver o pai para arrepender-se diante
dele e receber o seu perdo. Depois o jovem mdico pediu noiva
guardar em segredo por trs meses a deciso de ambos e somente
anunciar o noivado depois de ele publicar o seu trabalho cientfico
que esperava que o deixaria famoso. dagmara concordou e, dias de-
pois, Lotar viajou a Berlim para passar trs semanas de frias.
No dia seguinte, aps a viagem de Reiguern, Dagmara recebeu a
visita de Eshenbach. Ele estava extremamente srio e pediu-lhe al-
guns minutos para uma conversa em particular. Surpresa, Dagmara
levou-o aos seus aposentos e l Eshenbach tirou da bolsa uma pasta
e colocou-a sobre a mesa.
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em cujo fundo havia uma luxuosa e drapejada cama. Numa das pare-
des havia um nicho inteiramente ocupado por um grande espelho.
Dagmara deitou, mas no conseguia dormir; a conversa matinal
com Eshenbach absorvia todos os seus pensamentos. De repente, um
rudo parecido com o leve rangido de porta se abrindo obrigou-a a es-
tremecer e levantar-se. Qual no foi o seu horror, quando o espelho
do nicho abriu-se e dali saiu um homem seminu. O homem quase
tropeou na sua cama e, depois, plido e mal contendo a respirao,
encostou na parede. Naquele momento Dagmara reconheceu nele De-
sidrio, que levava o uniforme na mo.
O senhor enlouqueceu, baro Vallenrod, ousando entrar
noite no meu dormitrio! Saia j daqui! exclamou Dagmara, fora de
si de indignao.
A jovem estava encantadora em seus trajes de dormir com larga
gola de renda. Sua face ardia, os olhos faiscavam de irritao e os
vastos cabelos negros caam nos ombros. Apesar da forte emoo que
o fazia estremecer, Desidrio olhou-a e em seus olhos acendeu-se
uma fagulha de admirao.
Sshh! sussurrou ele, vestindo apressadamente o uniforme.
Pelos cus, condessa, fique quieta... Nesse instante o duque bateu,
de repente, na porta da esposa e se me pegasse com ela, seria o fim
de ambos... E nem estou falando de mim mas da honra e do destino
da duquesa, que corre perigo de separao... Em nome da amizade
que ela lhe dedica, salve-a!
Sacrificando a prpria honra? Nunca! Nada tenho a ver com o
seu romance secreto. O senhor e a duquesa so culpados e devem
colher os frutos dos seus atos. Eu, de qualquer forma, vou justificar-
me e mostrar ao duque o segredo desta porta. E agora repito, saia da-
qui por onde entrou! No vou permitir que o senhor saia para o corre-
dor de um dos meus quartos.
Naquele instante, do quarto contguo da duquesa ouviu-se a so-
nora e irritada voz do duque:
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plido e seu olhar tinha uma expresso descarada e animal que Dag-
mara nunca tinha observado nele.
Vamos sair daqui! Para mim, chega murmurou Dagmara,
puxando a amiga.
Vamos, vamos! Mas no se preocupe. Veja, ser que d para
ter cimes de mulheres daquele tipo?
Dagmara nada respondeu e elas voltaram em silncio para casa.
Dagmara ordenou que servissem o ch em seu gabinete e tentou con-
versar sobre outras coisas, mas a palidez do rosto e o tremor das
mos mostravam o seu nervosismo.
Oua, eu simplesmente estou com pena de voc! disse Dina,
quando elas ficaram a ss. Ser que precisa ficar assim irritada
com a revelao de um fato que o simples bom senso j deveria t-la
convencido! No me diga que voc acreditava seriamente que a cons-
tante ausncia do seu marido era provocada exclusivamente pelo ser-
vio, sem nenhuma outra causa mais picante? Se for assim, ento vo-
c muito ingnua! Aprenda de uma vez por todas a realidade da vida
e pare de ver as pessoas atravs de lentes rseas, fabricadas pela sua
imaginao. S mesmo entre estas paredes e no mundo de magia e
ideais que a cercam, ainda vivem heris de romances. J os nossos
heris deste fim de sculo so quase todos do mesmo tipo e confes-
sam o mesmo credo: no h Deus, no h dor de conscincia e deve-
se obter de qualquer jeito cada vez mais ouro e prazeres. Nisto se re-
sume o seu ideal de vida.
Meu Deus! Ele estava com uma aparncia horrvel! murmu-
rou Dagmara.
Que aparncia? A aparncia de um bbado e mais nada, e vo-
c fica desesperada com isso! claro que Vallenrod ficaria furioso se
soubesse que voc o viu nessa situao de descalabro moral; os ho-
mens no gostam de aparecer desse jeito diante das esposas. Mas,
voc ficar irritada assim, fazer muito barulho por nada. Repito: no
se deve ter cimes daquelas criaturas. Elas tambm precisam viver!
Em todos os tempos, minha querida, lado a lado com as matronas
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pouco: vou avisar o meu filho, que est cuidando da baronesa. En-
quanto isso, o senhor no gostaria de entrar aqui e ver o seu filho? J
faz uma semana que ele aguarda o beijo e a bno do pai.
Desidrio seguiu atrs da anfitri e entrou num pequeno quarto,
fracamente iluminado por uma lmpada com abajur azul. L havia
um bero simples e antigo no qual um dia dormiram os filhos do
pastor. A ama-de-leite levantou a criana e entregou-a ao baro. Uma
estranha sensao tomou conta de Desidrio, quando pegou nos bra-
os o pequeno embrulho de panos, que era o seu filho. O corao ba-
teu tristemente, quando ele beijou a pequenina testa e a face da cri-
ana.
Naquele momento Lotar entrou no quarto. Vallenrod e o mdico
mediram-se com olhar hostil e trocaram frios cumprimentos. No esp-
rito do jovem Reiguern, fervia um indescritvel dio ao insensvel es-
banjador da vida, que lhe roubou a mulher amada e aniquilou-a sem
piedade.
Peo-lhe que me acompanhe, senhor baro disse finalmente
Lotar, com grande esforo. Mas devo avis-lo de que a baronesa es-
t morrendo e, provavelmente, viver somente mais algumas horas. A
cincia no consegue salv-la!
Alguns minutos depois, o baro debruou-se sobre Dagmara e
estremeceu de horror diante da terrvel mudana que ocorrera na a-
parncia de sua jovem esposa. Agora ela era somente a sombra da an-
tiga Dagmara. Mortalmente plida, os olhos afundados nas rbitas,
jazia como morta; mas quando Desidrio pegou na sua mo, ela sus-
pirou fracamente.
E agora, doutor, peo-lhe que me deixe a ss com a minha
esposa. Eu mesmo vou cuidar dela disse Vallenrod, num tom respei-
toso, dirigindo-se a Reiguern, que ficou taciturno.
A baronesa precisa de repouso absoluto.
Eu sei. No me diga que o senhor acha que pretendo fazer
aqui uma cena minha esposa, por ter abandonado de forma to im-
pensada a prpria casa? Esta no seria a hora apropriada para isto
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sentidos, s puder ser percebido por suas aes e no por Sua pre-
sena visvel?
O olhar indeciso do mdico parou sobre o grande Crucifixo pen-
durado na parede. Ser possvel que seu pai tinha razo na sua sim-
ples e irremovvel f e, realmente, neste mundo so bem-aventurados
os pobres de esprito, aos quais pertence o reino dos cus?
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teve a cor cinza do morcego; sobre a testa, por entre os cabelos enca-
racolados, viam-se pequenos chifres e nas costas havia enormes asas
dentadas.
Inclinando-se para Dagmara, que estremeceu com o frio que dele
emanava, disse com voz sonora:
Eu vim a seu chamado. Sou a personificao dos sentimentos
que a atormentam. O outro no vir. Ele gosta de vtimas entusias-
madas que se sentiriam felizes sob os golpes do machado; mas eu
sou um dos corpos que sofreu, proferiu maldies e acabou mal,
como se costuma dizer. Agora, desencantado, tanto da justia divina
como da humana, divirto-me minha maneira, observando a eterna
comdia do mal premiado e do bem perseguido. Ser que voc ainda
no se convenceu de que, quanto mais fizer o bem, tanto mais a odia-
ro para livrar-se da gratido que devem a voc, e que nisso se resu-
me exatamente a explicao da maior parte dos seus desgostos?
O louco que realizou a sua iniciao tambm acreditava na fora
do bem e trouxe-a em sacrifcio a esta utopia, de um modo que nin-
gum pode salv-la. E isto porque aquele a quem voc est ligada per-
tence ao nosso meio.
Fiquei com pena de voc e vim para dar-lhe um conselho que vai
salv-la: procure tentaes, ame o calor no sangue que atordoa a al-
ma cansada, abuse de amores proibidos com todos os detalhes arden-
tes e voc no mais ser estranha a todos com aquela sua msera
bondade e estpido peso na conscincia; voc no estar sozinha,
ningum mais a odiar e no vo trat-la como a um co. Quem vive
com lobos deve uivar como lobo! E por que voc odeia o vcio? Ele
poderoso e dirige tudo! Aprenda a us-lo. Lisonjeie a baixeza humana,
submeta-se insolncia, sufoque o prprio orgulho e dignidade, finja
onde lhe for lucrativo, seja insistente quando quiser atingir um objeti-
vo, feche os olhos para as fendas das pessoas e o principal minta!
Minta sempre. Minta aos outros e para si prpria! Tudo, tudo o que
lhe parecer errado, cubra com a mentira e esta mentira prestativa ir
justificar e desculpar voc e lhe far esquecer a prpria queda.
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mem nobre e bondoso que se afastou quando soube que ela pertencia
a outro. Ah! Se no fosse o ato criminoso de Detinguen, ela poderia
ter sido a amada e respeitada esposa de Saint-Andr.
Quando ambos dominaram a emoo e a consternao provoca-
da pelo encontro inesperado, viram que estavam ss. Domberg desa-
pareceu com o corao cheio de raiva. Ele no precisou de resposta
para entender que, se um dia Dagmara se separasse de Desidrio, iria
escolher para marido o conde e no a ele.
Saint-Andr sentou perto e examinou Dagmara com um olhar
to estranho, que ela ficou ruborizada e perguntou:
Parece que eu mudei, j que o senhor est me olhando desta
forma!
Infelizmente, sim! A senhora est muito mudada. No consigo
ver aquele seu olhar alegre, o sorriso malicioso e a antiga alegria de
viver. No vejo felicidade nos seus olhos, baronesa!
Felicidade? Esta palavra j no existe para mim, e da antiga
Dagmara que o senhor conheceu nada restou. Mas aqui no lugar
para estas conversas. Venha visitar-me amanh. Acredite, estou feli-
cssima de encontr-lo novamente! O senhor me lembrou do passado
feliz e irreversivelmente morto.
A aproximao de outras pessoas ps fim a esse dilogo e eles
dirigiram-se para o salo de baile. Saint-Andr tambm tomou parte
na diverso geral e at danou, o que era inusitado para ele. Deve-se
acrescentar que ele danou mais com Dagmara.
Naquela noite, uma surda irritao atormentava Desidrio e ele
voltou para casa mais cedo. A notcia de que a esposa foi ao baile no
podia obviamente tranqiliz-lo e ele andava pelo boudoir, irado como
um tigre na jaula, quando finalmente chegou Dagmara.
Que novidades so estas? Que mania esta de sair batendo
pernas por a sem minha autorizao? perguntou ele irado. De
onde voc vem to tarde da noite?
Dagmara, que naquele instante tirava o colar e os brincos, vol-
tou-se e mediu o marido com um frio olhar de desprezo.
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de todos. Assim, posso exigir que ele me ceda a pessoa que despreza e
no quer amar. Mas, para ter esta conversa decisiva com ele, preciso
de sua permisso. Dagmara, voc quer ser minha esposa? Permite-
me, com a ajuda do meu amor e conhecimento, apagar todas as nos-
sas mgoas do passado?
Ela ouvia, por vezes plida, por vezes ruborizada. Os tons since-
ros de sua voz e do nobre e amoroso olhar faziam Dagmara renascer.
Parecia-lhe estar despertando de um horrvel pesadelo e o seu fino
rosto comeou a refletir o amanhecer de uma nova vida. Levantando
para o conde os seus puros olhos, que ardiam com a f e esperana,
ela disse com sinceridade:
Sim, eu quero am-lo, Phillip e quero pertencer a voc! Eu lhe
imploro liberte-me!
Nesse instante o conde abraou-a, apertou-a contra o seu peito e
cobriu de beijos ardentes seus lbios e olhos. O amor dele, por tanto
tempo reprimido, finalmente libertou-se. Dagmara, feliz, encostou a
cabea em seu ombro e, pela primeira vez, sentiu a felicidade do ver-
dadeiro amor esquecendo completamente que entre ela e Saint-Andr
se interpunham os direitos de Desidrio. Mas teria ele ainda direitos
sobre ela? No, no tinha, pois ele prprio recusou-os...
Naquele dia, Vallenrod decidiu voltar mais cedo para casa e des-
cansar bem para o dia seguinte.
A notcia de que o conde estava com a sua esposa deu-lhe a i-
dia de ouvir a conversa deles. Ele se esgueirou at a porta do bou-
doir e testemunhou a declarao de amor e de toda a cena seguinte.
Quando viu Dagmara nos braos do conde, que a cobria de bei-
jos, e a esposa feliz com o olhar cheio de amor aceitando os carinhos
ficou possesso. Sua mo agarrou a cortina e cada veia do seu corpo
tremia como em febre; mesmo assim, no correu para os apaixonados
e nem lhes gritou: Eu me porei entre vocs armado dos meus direitos
legais e impedirei o seu caminho para a planejada felicidade. O que
atrapalhou foi o medo de passar por marido ciumento e ser ridiculari-
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zado por Varezi, o que foi mais forte que a ira. Desidrio saiu silencio-
samente e trancou-se no quarto. E, como um tigre, comeou a andar
de um lado para outro, fervendo por dentro. Havia chegado a hora
que pressentia e que nebulosamente temia; no seu caminho aparece-
ra um outro que exigia dele a esposa, que ele negligenciava.
Entreg-la? Nunca! murmurou Desidrio, cerrando os pu-
nhos e jogando-se no div.
Aos poucos, seus agitados pensamentos acalmaram-se e a ira
esfriou, deixando em seu lugar um sentimento agudo e amargo que
ele, debalde, tentava espantar. Uma voz que havia muito estava cala-
da, sussurrava-lhe: Alguma vez voc deu o devido valor mulher,
que largava por dias e semanas inteiras, sem jamais imaginar que um
outro poderia tomar o seu lugar? Voc sempre a deixou sozinha e
nunca se interessou em saber o que ela fazia e como passava os lon-
gos e solitrios dias e noites. Voc sempre tratou-a com grosseira e
cruel indiferena. Voc prprio destruiu em Dagmara o respeito, a
confiana e o amor por voc. Que direito tem voc agora para indig-
nar-se, quando nela despertou finalmente um sentimento humano e
ela indignou-se contra o homem que zombou dos mais sagrados direi-
tos? Ela quer cair nos braos daquele que lhe promete amor e tutela e
que falou com ela a linguagem da paixo, o que ela nunca ouviu de
voc. A carcia falsa e mentirosa no engana o instinto do corao...
Um pesado suspiro escapou do peito de Vallenrod. A condenao
de sua conscincia deixava-o desesperado, e amanh viria Saint-
Andr e diria: Entregue-me Dagmara! Voc no lhe d o mnimo va-
lor e a partida dela no trar nenhum vazio na sua vida. Voc no a
ama, porque ningum maltrata o ser amado, como voc est fazendo.
Mas ele no queria entregar Dagmara; ele acostumou-se idia de
que Dagmara sua incontestvel propriedade e que neste tranqilo
aconchego, com ela sempre contida e humilde, ele encontrar paz
quando se cansar da vida devassa, do barulho e das orgias. Estava
claro que no seriam as suas amantes chacais noturnas, s quais
entregava a sade e a bolsa que cuidariam dele; elas precisam dele
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mento de algo terrvel que lhe apertava o corao. Naquele dia ela no
esperava a visita de Saint-Andr e a ausncia de Desidrio era-lhe in-
diferente, havia muito tempo.
Quando comeou a escurecer, Dagmara deitou no sof do seu
boudoir e tentou dormir, tomando previamente gotas calmantes que
habitualmente lhe proporcionavam algumas horas de sono. Desta vez
o remdio no funcionou e ela ficou deitada, virando de um lado para
outro. De repente, o seu ouvido excitado percebeu o som de carrua-
gem chegando, barulho de vozes e correria no saguo. Dagmara le-
vantou-se e desceu para a sala de visitas.
A porta de entrada estava aberta e ela ouviu nitidamente l em-
baixo passos medidos e pesados de alguns homens que pareciam car-
regar algo volumoso, e a voz preocupada do velho Jos, dizendo:
Por favor, senhores, levem para cima! A baronesa est nos
seus aposentos e o dormitrio do baro fica l.
Com a mo trmula, Dagmara, agarrou uma vela e correu para o
saguo. L ela viu trs homens desconhecidos subindo pela escada. O
primeiro ela reconheceu imediatamente pela aparncia animal era o
Varezi, considerado por ela o gnio mau do seu marido.
Baronesa, desculpe aparecer aqui com ms notcias. Tenha
coragem. Seu marido sofreu um acidente durante a caada e trago-o
aqui gravemente ferido.
Onde e como aconteceu este acidente com o baro, dando-me
o prazer de sua presena?
Apesar de toda a pose e costumeira insolncia, Varezi ficou ver-
melho com o tom da pergunta.
A caada do prncipe teve um duplo acidente e Vallenrod no
foi a nica vtima deste dia fatdico. Ns encontramos o baro grave-
mente ferido, cado a alguns passos do corpo do conde Saint-Andr,
que foi morto com um tiro no corao.
Dagmara estancou. O teto parecia desabar sobre sua cabea, o
candelabro que segurava ficou muito pesado e uma nuvem negra es-
cureceu tudo ao seu redor. Phillip morreu!... E com ele morria o seu
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causa-me nojo. E vejo tudo isso com to incrvel nitidez que at nas
ruas encontro e reconheo algumas pessoas que vi nessas vises. Pa-
rece que a vida desregrada de Desidrio reflete-se em mim atravs
desses profundos desmaios e, ao mesmo tempo, sua corrente vital
mantm-me viva...
Que surpreendente e terrvel mistrio! Maldita seja a hora em
que foi realizado este negro ato! murmurou Lotar, cerrando os pu-
nhos involuntariamente.
Nas longas horas de silncio e solido, quando nada interrompia
os sombrios pensamentos de Dagmara, ela passou a pensar muito
sobre o futuro que a esperava e decidiu que se Desidrio morresse,
ela iria viver somente para o filho e continuar, bem ou mal, a prpria
infeliz existncia. Mas, se ele sarasse, ela deveria desaparecer.
Certo dia, Lotar comunicou a Dagmara que a vida triunfara e
que Desidrio estava fora de qualquer perigo. A jovem mulher ficou
cabisbaixa. O restabelecimento do marido significava a volta da mo-
ntona, solitria e vazia existncia, envenenada pela amargura e or-
gulho ferido. No, para ela chega!...
O destino decidiu pensou ela quem deve desaparecer: sou
eu... Tenho muito menos a perder do que ele...
Aps tomar tal deciso Dagmara acalmou-se e, com incrvel san-
gue frio, comeou a executar os preparativos que julgava necessrios.
No desejando deixar atrs de si qualquer coisa relacionada cincia
secreta, comeou a destruir sistematicamente tudo o que fora reunido
no laboratrio e biblioteca de Detinguen. A cada noite ela queimava
no quarto do seu boudoir, em partes, ervas secas, ps e manuscritos,
observando friamente como ardiam em fogo multicor os preciosos re-
mdios e antigos papiros.
Finalmente, chegou o dia que Dagmara estabeleceu para o seu
desaparecimento. Ela sabia que ningum iria atrapalh-la, pois Desi-
drio, aps o almoo, ia a um alegre piquenique fora da cidade que,
conforme disse, os amigos organizaram para comemorar a sua recu-
perao.
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salvar a alma que, entretanto, ah, ah, ah! no quer ser salva de jeito
nenhum.
Uma aguda dor atravessou a cabea de Dagmara e, diante dela,
abriu-se, como uma negra cortina, mostrando quadros sentimentais
de um passado distante. Naquele instante ela compreendeu o mistrio
de sua vida a provao que deveria saldar os erros do passado e li-
bert-la.
Ela, entretanto, no suportou a provao e aumentou a sua cul-
pa com o assassinato da criana... Tudo isso significava que Detin-
guen foi simplesmente um instrumento colocado no seu caminho de
vida, e ela o amaldioou e rejeitou seus ensinamentos que deveriam
ilumin-la para aliviar a provao...
Um profundo arrependimento e amargo desespero atormenta-
vam a sua alma. Oh! Por que no percebeu isto a tempo?...
Bem-aventurados os pobres de esprito insultava a voz de
demnio com escrnio. Quem no consegue carregar a cruz no de-
ve coloc-la nos ombros!
O demnio e a sua matilha satnica caram sobre Dagmara e
comearam a sufoc-la com a sua respirao fria e malcheirosa.
Naquele instante, brilhou uma luz ofuscante e surgiu uma se-
gunda procisso de seres iluminados, cobertos por uma nvoa pra-
teada e com rostos puros e pacficos. Na frente vinha Detinguen com
uma expresso triste, vestindo uma tnica cinza coberta de manchas
vermelhas e trazendo no peito a estrela dos iniciados. Ao seu lado,
num traje branco ofuscante, vinha o desconhecido seu misterioso
mestre. A guarda iluminada tambm aproximou-se de Dagmara e ela
sentiu que estava se separando do seu corpo frio. Percebeu ento que
duas foras terrveis iriam disputar a sua confusa e sofredora alma,
como a uma presa. As foras do bem atacaram as foras do mal; o
reino da luz chocou-se com o abismo da escurido com um rudo si-
nistro, como contra uma parede slida, e o ar encheu-se de relmpa-
gos de luz. De repente Dagmara ouviu a voz de Detinguen gritando-
lhe:
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Fim
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15. Ira Divina, A co-edio de Liv. Esp. Boa Nova Lmen ed.
Gnev Bojy (1917)
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20. Morte do Planeta, A co-edio Liv. Esp. Boa Nova Lmen ed.
Smert Planety (1911)
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Ttulos no localizados
Abaixo segue relao de livros de Rochester, dos quais s temos not-
cia de terem sido escritos, mas que no foram encontrados at o mo-
mento. Da mesma maneira, dispomos primeiro o ttulo traduzido e
depois o original russo; em alguns casos o ttulo em francs.
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Leia Rochester!
O fantstico mundo da literatura medinica!
Psicografia da mdium russa Wera Krijanowskaia!
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