SAVANA, 30 de Abril de 2010

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Nos ltimos dias Jos no coordenava operaes dentro das Alfndegas
Ordem para matar ter vindo de dentro
- Consta que a mais alta hierarquia das Alfndegas e da Autoridade Tributria
desconheciam a operao da apreenso das trs viaturas de luxo e os passos que
Orlando Jos deu no dia da morte
- vamos considerar a possibilidade de uma conspirao interna nas Alfndegas contra a vtima, Carlos Com,
director nacional da PIC
Muito ainda estar por contar sobre o assassinato que eliminou um dos incmodos na actuao
de redes mafiosas nas Alfndegas de Moambique. O crime ainda est envolto em muita penumbra,
nomeadamente, o papel de alguns poderosos alfandegrios na deciso da morte. Eles ter-se-o
aproveitado da demasiada exposio pblica de Orlando Jos nas ltimas duas semanas para
executar um plano h muito meticulosamente preparado.

Linguista e com uma ps-graduao em crimes aduaneiros, o director de Investigao, Auditoria

e Inteligncia da Direco Geral das Alfndegas, Orlando Jos, foi morto na sua residncia, no
emergente bairro de Zimpeto, cidade de Maputo, abatido com trs tiros de um gang a soldo, ainda a
monte.
O baleamento ocorreu no final da tarde desta Segunda-feira, trs horas aps Jos ter anunciado a
apreenso de trs viaturas de luxo, uma delas pertencente a um poderoso grupo econmico com
sede na provncia de Nampula.
Ao que a equipa de investigao do SAVANA apurou, nos ltimos dias, havia um certo rudo na
comunicao entre Orlando Jos, os seus colegas da direco e a hierarquia das Alfndegas, sobre
grandes operaes de fuga ao fisco, o que indicia o mau ambiente que reinava naquela casa que
mais dinheiro coloca no Oramento do Estado. Alis, fazem notar, que, aparentemente, a cadeia de
comando nas Alfndegas, estava quebrada por Orlando Jos ao no comunicar aos seus superiores
hierrquicos sobre vrias investigaes que encabeava.
Avanam, por exemplo, que a mais alta hierarquia das Alfndegas e da Autoridade Tributria
desconheciam a operao da apreenso das trs viaturas de luxo e os passos que Orlando Jos deu
no dia da morte.
Destemido e um profissional demasiado rigoroso, Orlando Jos foi acumulando inimigos dentro e
fora das Alfndegas durante os cerca de 12 meses que esteve frente dos destinos da direco
mais odiada daquela instituio.
Revelaes foram feitas, segundo as quais, h j algum tempo que a aco de Orlando Jos
estava a incomodar certos crculos mafiosos.
lquido nos meios econmicos e comerciais do pas que grande parte dos electrodomsticos,
aparelhagens e computadores venda nas grandes superfcies de Maputo tm preos
extremamente atractivos por fugirem ao fisco ou estarem associados a operaes de
branqueamento de dinheiro vindo dos negcios da droga. Esta ltima vertente tambm est
reflectida no boom imobilirio que se vive na cidade de Maputo. O circuito do descaminho de bens
ao fisco passa habitualmente por Nacala, sendo os contentores de mercadorias posteriormente
transportados por via terrestre para Maputo, o maior e mais prspero mercado moambicano.
Fruto da cumplicidade entre grupos mafiosos e patentes alfandegrias, -nos indicado que no
bairro do Belo Horizonte, a 20 quilmetros da capital, h vrias evidncias de duvidoso
enriquecimento no sector das Alfndegas.
Orlando Jos, vinha baralhando as contas das hierarquias alfandegrias e, com algum esprito
voluntarioso e emotivo, ter sido demasiado negligente em no providenciar para si um sistema de
segurana eficaz e altura de algum que ocupa cargos que mexem com interesses de grandes
grupos. Na sua residncia tinha apenas um guarda da empresa de segurana W Power, firma que
providencia proteco nas casas dos altos quadros da Autoridade Tributria.

Libaneses
Muitos acreditam que o assassinato de Orlando Jos esteja relacionado com a apreenso esta
semana de viaturas de topo de gama - BMW, Range Rover e Mercedes-Benz. Porm, tambm admite-
se que o hediondo crime possa estar relacionado com a recente apreenso, no Km14 da Estrada
Nacional nmero 1, em Maputo (junto ao controlo policial do Zimpeto), de uma viatura de marca
Mitsubishi Pagero GDI de um cidado libans que nela transportava, escondidos nos forros das
portas, cerca de 400 mil dlares americanos.
O cidado de origem libanesa declarou que se dirigia Machipanda (provncia de Manica),
fronteira com o Zimbabwe, zona onde recentemente comeou a prosperar uma importante
comunidade libanesa interessada na compra de diamantes explorados pelos crculos de poder fiis
a Robert Mugabe numa mina na zona de Mutare protegida pelo exrcito zimbabweano. O libans
detido com 400 mil USD ia comprar diamantes e o dinheiro pertencia a vrios comerciantes. Fontes
locais indicam como suspeito de recepo de diamantes na zona da vila de Manica um indivduo
que habitualmente tratado por Jissass.
Na conferncia de Imprensa desta Segunda-feira, trs horas antes da morte, o director da
Investigao e Auditoria da Autoridade Tributria, Orlando Jos, prometeu apertar o cerco ao
contrabando. Fontes alfandegrias indicam que a escolha do momento para a execuo do plano de
assassinato no foi por acaso.
Ns temos uma forte convico que as pessoas que o queriam matar escolheram este momento
para desviar as atenes. Nas ltimas duas semanas ele fez duas grandes operaes de vulto e
anunciou-as pessoalmente e ficou demasiado exposto. O timing no poderia ser o melhor, indicou
uma fonte prxima das investigaes. Disse acreditar que a Polcia dever centrar as suas
investigaes dentro das Alfndegas de Moambique. Acrescentou que no passado, Orlando Jos
liderou uma operao que culminou com a apreenso de 40 contentores contendo mil toneladas de
arroz que entraram no territrio nacional de forma fraudulenta atravs do Terminal Internacional
Martimo (TIMAR). Notam que esta apreenso e posterior publicitao no foi vista com bons olhos
dentro das Alfndegas.
A mercadoria pertence a uma empresa vocacionada ao comrcio externo denominada OLAM,
negociantes de cereais, algodo, caju e madeiras.
Nas investigaes que se seguiram apurou-se que para alm das mil toneladas apreendidas, h
suspeitas que a OLAM teria introduzido no mercado nacional, fugindo ao fisco, mais nove mil
toneladas de arroz.
Dessas nove mil toneladas de arroz a OLAM pagou apenas trs milhes de meticais contra cerca
de nove milhes que deveria pagar ao Estado. Na altura apurou-se haver suspeitas de envolvimento
de funcionrios aduaneiros na fraude e que uma despachante aduaneira que representava a OLAM
foi suspensa do exerccio da sua actividade.
Orlando Jos liderou igualmente vrias operaes que culminaram com o desmantelamento de
uma rede de contrabando de cigarros. No ano passado apreendeu um contentor de quarenta ps
contendo mais de mil caixas de cigarros provenientes do Zimbabwe e que estavam a ser
introduzidas ilegalmente em territrio nacional, atravs da fronteira de Machipanda, na provncia
de Manica. No mesmo perodo apreendeu cerca de 300 caixas de cigarros na cidade de Maputo.
Apesar da limpeza operada nas alfndegas depois da passagem no sector da Crown Agentes,
cclica a deteno e punio de funcionrios das Alfndegas e despachantes aduaneiros acusados
de prticas desonestas ao participarem em esquemas que fugam do fisco.

(Equipa de investigao do SAVANA)

Conspirao interna
H quem v na morte do chefe da Investigao, Auditoria e Inteligncia da Direco Geral das
Alfndegas, como um srio aviso a outros zelosos funcionrios das Alfndegas para que no se
toquem em certos negcios de grados.
Uma das pessoas que v o assassinato como uma ameaa, o director-geral das Alfndegas,
Domingos Tivane. Mas este garantiu que iriam prosseguir para garantir proteco dos recursos do
Estado.
Isto uma ameaa. Temos conscincia disso, mas continuaremos a trabalhar para garantir que
os recursos do Estado vo para o Estado, sublinhou.
Oficialmente, a Polcia ainda no tem pistas para identificar os assassinatos de Orlando Jos e
suas reais motivaes.
prematuro associar o crime s grandes operaes em que a vtima esteve envolvida nos
ltimos dias. At este momento tudo o que foi dito so especulaes que ningum pode provar ,
precisou Pedro Cossa, diligente porta-voz do Comando-geral da PRM.
Mas o director nacional da Polcia de Investigao Criminal (PIC) indicou que a sua unidade
tomar em considerao todas as hipteses que esto a ser cogitadas para esclarecer rapidamente
o crime. Diferentemente de Cossa, Com disse que a polcia tambm trabalha com especulaes
da que ser necessrio considerar todos os eventuais motivos. Durante as investigaes, Com
afirmou que a polcia tambm vai considerar a possibilidade de uma conspirao interna, nas
Alfndegas, contra a vtima.
Durante o julgamento dos assassinos de Carlos Cardoso, a corrupo nas Alfndegas foi tambm aflorada, pois vrios suspeitos tinham
ligaes ao comrcio de importao ilcita de bebidas alcolicas e camionagem.

Acusado de pedofilia no Brasil

Padre catlico esconde-se em Maputo
Por Armando Nenane

Um sacerdote italiano ligado Igreja Catlica, acusado de pedofilia pela Procuradoria da Repblica
Federativa do Brasil, encontra-se a exercer o sacerdcio em Moambique h sensivelmente sete meses,
segundo noticiou este ms o jornal brasileiro Folha de So Paulo. Trata-se de Clodoveo Piazza,
actualmente a viver numa residncia da Ordem dos Jesutas de Moambique, em Maputo, onde a
reportagem do SAVANA confirmou o facto nesta Tera-feira.

De acordo com o jornal brasileiro Folha de So Paulo, que divulgou esta informao na sua edio de
17 de Abril corrente, em 2009 a procuradoria do Brasil, onde o padre italiano se naturalizou e fixou
residncia, acusou Clodoveo Piazza de abuso sexual no Estado da Baa, onde tambm foi acusado de
facilitar a explorao de crianas por estrangeiros.
H sensivelmente sete meses, segundo o mesmo jornal, aquele clrigo catlico foi transferido para
Moambique, um pouco semelhana do que tem acontecido com muitos padres acusados de prticas de
pedofilia em diferentes partes do mundo e que so posteriormente transferidos pela Igreja do pas em que
praticaram o crime para um outro.
Na tarde desta Tera-feira, a nossa reportagem deslocou-se sede da Ordem dos Jesutas de
Moambique, onde obteve a confirmao de que Clodoveo Piazza encontra-se efectivamente ao servio
daquela entidade religiosa. Uma voz feminina, que nos atendeu atravs do intercomunicador e sem nos
convidar para entrar, mesmo depois de nos termos identificado, disse que no momento no seria possvel
entrarmos em contacto com o padre Clodoveo Piazza por se encontrar de frias.
Ele est de viagem. Foi Itlia, disse. Insistimos em obter o contacto do padre na Itlia, mas no nos
foi facultado, alegadamente por estar a viajar por vrios pases. Tambm no nos foi possvel falar com os
responsveis da Ordem dos Jesutas de Moambique porque a mesma pessoa com quem falamos atravs
do intercomunicador limitou-se a repetir que ao longo deste ms no ser possvel falar com nenhum dos
responsveis por estarem envolvidos em actividades ecumnicas.
Em Moambique, segundo apurmos, o padre italiano trabalha num projecto de crianas e
adolescentes, semelhana do que fazia no Brasil, onde acusado de pedofilia. A Ordem dos Jesutas de
Moambique, vulgarmente conhecida por Companhia de Jesus e vocacionada a servios de promoo da
f crist e da justia, congrega membros, padres e irmos catlicos.

A histria do padre no Brasil

A procuradora brasileira Maria Eugenia Vasconcelos disse Folha de So Paulo que a maioria dos
processos instaurados contra o padre jesuta prescreveu. No Brasil, o clrigo chegou a exercer o cargo de
secretrio estadual de Desenvolvimento Social e Combate Pobreza na Baa e foi premiado pelo seu
trabalho na Organizao de Ajuda Fraterna (OAF), uma entidade no governamental de Salvador que abriga
crianas e adolescentes em risco.
Para alm do padre italiano, tambm foi denunciado no mesmo caso o ex-director executivo da mesma
organizao, Marcos de Paiva Silva. Segundo a denncia, citada pelo mesmo jornal brasileiro, de 2000 a
2008 Clodoveo Piazza e Marcos de Paiva Silva submeteram explorao sexual, menores de 18 anos que
se encontravam em regime de internato na Organizao de Ajuda Fraterna.
A denncia teve como base relatos de 12 jovens que tero sido vtimas do abuso sexual. Apesar de o
documento ser datado de 29 de Junho de 2009, a denncia foi apresentada em Novembro de 2009.
Os denunciantes, hoje j fora da entidade e com idades entre 20 e 35 anos, dizem ter sido vtimas de
abusos desde os 6 anos
Brasil alerta Moambique
Enquanto isso, o Procurador-Geral de Justia do Estado da Baa, Lidivaldo Britto, disse imprensa
brasileira que tinha informaes indicando que Piazza vive hoje em Moambique, para onde se mudou
aps deixar o governo estadual.
Na mesma ocasio, Lidivaldo Brito prometeu avisar embaixada de Moambique no Brasil sobre a
denncia e as acusaes que pesam sobre o padre catlico, j que soube que em Moambique o padre
continua a trabalhar com crianas e adolescentes.
Em contacto com o SAVANA, a Procuradoria-Geral da Repblica de Moambique, atravs de uma fonte
ligada assessoria de imprensa, garantiu que a instituio ainda no recebeu nenhum ofcio da justia
brasileira a propsito do assunto.
A mesma fonte manifestou desconhecimento do assunto, tendo prometido averiguar mais sobre a
questo junto dos seus superiores hierrquicos.
De acordo com um parecer jurdico, a que o SAVANA teve acesso, tratando-se de uma acusao
associada a um crime de natureza semi-pblica, o simples facto de ter sido reportado pela imprensa por
si s suficiente para que a justia moambicana possa efectuar diligncias a fim de apurar os factos sem
precisar necessariamente de esperar por um ofcio da justia brasileira. A Ordem dos Advogados de
Moambique, atravs do respectivo bastonrio, Gilberto Correia, tem defendido que Moambique
continuar a ser um pas que serve de esconderijo para criminosos procurados pela justia internacional
enquanto o governo no ratificar o Tratado de Roma, que cria o Tribunal Penal Internacional, o que
permitiria que o pas se juntasse aos esforos da comunidade internacional no combate graves
violaes dos direitos humanos, promoo da paz, justia e da responsabilizao por crimes cometidos
contra a humanidade.

INTERPOL
Informaes divulgadas pelos rgos de informao brasileiros indicam ainda que, pedido da Justia
brasileira, Clodoveo Piazza pode ser ouvido em Moambique ou mesmo repatriado pela Interpol a Polcia
Internacional.
No site da OAF, registado em nome de Marcos Silva, os denunciados ainda aparecem em seus cargos de
chefia da entidade. Nenhum dos dois nem outras pessoas ligadas organizao foram encontrados para
comentar as acusaes.
O padre Clodoveo Piazza uma das entidades que assinaram os Estatutos da Criana e do Adolescente do Brasil.

Quem so os responsveis?
Nos ltimos tempos, as denncias de prticas de crimes de pedofilia contra padres catlicos tendem a
aumentar.
Em alguns casos, os advogados das vtimas insistem na tese da responsabilidade, em ltima anlise, do
Vaticano e procuram trazer a tribunal a cria romana. O advogado das vtimas do nico processo de
pedofilia na Igreja Catlica e que chegou ao Supremo Tribunal americano revelou detalhes de um caso que
pode levar um dos responsveis do Vaticano a depor em Washington.
Jeff Anderson investiga casos de pedofilia desde 1982, tendo trabalhado em dois mil pro cessos. A
deciso de chamar responsveis do Vaticano ser tomada pelo Supremo Tribunal at Outubro, devendo ser
a primeira vez que tal sucede na histria.
A legislao americana impede a instaurao de processos contra Estados soberanos, mas h
excepes em casos de violao dos direitos humanos.
Trata-se de um processo contra o falecido padre Andrew Ronan, que viajou da Irlanda para os EUA na
dcada de 1960. Passou por Chicago e Portland e em ambas cidades ter violado menores. Questiona-se
como pode a Igreja autorizar a transferncia de um padre que deixou um rasto daqueles em cada parquia
por onde passou.
Hoje, as vtimas querem saber quem so os responsveis, dentro da hierarquia da Igreja, que
autorizaram as transferncias do padre.
A responsabilidade chega ao topo da hierarquia do Vaticano, garante Anderson.
Lawrence Murphy, padre que abusou de mais de 200 menores surdos-mudos, cujo processo o Papa Bento XVI conheceu em por menor, em 1996.
Nessa altura, o ento cardeal Joseph Ratzinger era o responsvel da Congregao para a Doutrina da F e ter ordenado ao seu brao direito,
Tarciso Bertone, actual secretario de Estado do Vaticano, que parasse o julgamento cannico do padre Murphy.
A histria de Manny
Manny Vega cresceu em Oxford, pedao do Mxico na Califrnia. Cumpria risca o trajecto escola-
casa traado pela me. O nico desvio autorizado era a igreja, o conselho dos pais, catlicos fervorosos.
Vega aprendeu a evitar os gangues nas ruas, mas no o que o esperava.
Por causa das discusses entre os pais, passou a frequentar mais a igreja. O padre Fidencio Silva,
amigo da famlia, detectou a fragilidade deste rapaz de 10 anos.
 Sempre foi amigvel, mas a partir dessa altura ficou estranho, recorda Vega, em entrevista este ms
ao Expresso. Comearam os beijos e, passado alguns meses, apalpava-me, masturbava-me, at que
acabou por sodomizar-me, contou Vega, hoje com 43 anos.
Enquanto mido, Vega nunca denunciou Fidencio. For a ensinado a no contestar a Igreja e que o padre
era o elo com Deus. Aos 28 anos, entrou para a polcia, acabando numa unidade de investigao de abuso
de menores.
Depois de frequentar vrias sesses de terapia, aos 34 anos, Vega decidiu processar o padre Fidencio. A
diocese local, com medo do escndalo, props um acordo com indemnizao confidencial. Em 2003, o
bispo de Los Angeles, Roger Mohoney, pediu desculpa a Vega e ofereceu-lhe o seu rosrio, prenda do
prprio Papa Joo Paulo II. Ele recusou. O padre Fidencio continuou em funes, um desfecho normal.
Uma das poucas excepes foi Donald McGuire, jusuta e guia espiritual de Madre Teresa de Calcut,
que em Maro de 2009 foi condenado a 25 anos de priso por ter violado um jovem de Wisconsin.
Bob Schwiderski, 62 anos de idade, foi violado dos 7 aos 11 anos pelo padre William Marks, responsvel
de uma parquia em Hector, Minnesota. Oportunidades para o denunciar no faltaram, quando, aos 11
anos, viu o irmo de 14 anos recusar ir igreja por causa do assdio do padre. Schwiderski recebeu uma
indemnizao em 1994, e tratamento psiquitrico gratuito para a famlia.
Nos meados de Abril, um padre indiano que ter violado uma rapariga de 14 anos nos EUA fugiu para a
ndia, protegido pelo arcebispo Malayappan Chinnapa.
Uma das vtimas nunca acreditou na Justia da Igreja. Pecado e arrependimento no chegam. Se
houve crime, tem de haver castigo.
(In Expresso)

Partidarizao das instituies pblicas

Diogo ataca a questo pelas laterais
Por Raul Senda

A ministra da Funo Pblica, Vitria Diogo, no foi capaz de explicar aos deputados da
Assembleia da Repblica (AR), sobretudo da Renamo, a base legal que sustenta a criao de
clulas do partido Frelimo nas instituies do Estado. Diogo no conseguiu ainda dizer o que
estava a ser feito pelo governo com vista a eliminar as clulas partidrias.

Respondendo o conceituado na Lei 17/2007, atinente ao Regimento Interno da Assembleia

da Repblica (AR), conjugado com o preceituado na Constituio da Repblica, sobre a neces -
sidade de o Governo, em cada sesso plenria da AR, apresentar um informe sobre temas de
interesse nacional, o executivo moambicano esteve na sede do parlamento em mais uma
sesso de perguntas e respostas. Apesar de j ter a luz verde para tal, o Movimento De-
mocrtico de Moambique (MDM) no tendo constitudo ainda a sua bancada parlamentar, no
teve o direito de perguntar ao executivo.
As calamidades naturais resultantes das cheias e estiagem que assolam alguns pontos do
territrio nacional bem como a partidarizao, pela Frelimo, das instituies pblicas, muitas
delas proibidas por lei o exerccio de actividades poltico-partidrias, dominou o rol das
questes.
Quis a Renamo saber do elenco de Armando Guebuza que medidas esto a ser tomadas para
acabar com a obrigatoriedade de criao de clulas do Partido Frelimo nas instituies do
Estado.
No entanto, em vez de responder a questo em causa, Vitria Diogo atacou o caso pelas
laterais afirmando que um facto que na Funo Pblica existem funcionrios e agentes do
Estado filiados a partidos polticos e como isso no proibido pela Lei, no v mal nenhum.
Na tentativa de convencer a plenria, a ministra da Funo Pblica, referiu que a Constituio
da Repblica d liberdade aos cidados moambicanos a livre adeso a um partido poltico
assim como abre tambm espao para que cada e de forma voluntria associe-se a um certo
ideal poltico, sendo no entanto, proibidos de condicionar a prestao de servios pblicos por
razes relacionadas com a sua filiao partidria ou do utente desses servios.
Diogo negou a alegao de que funcionrios e agentes do Estado so coagidos a pertencer
ao partido Frelimo.
 Referiu que no tem comprovativo que ateste a existncia de funcionrios ou agentes do
Estado que so membros do partido Frelimo por terem sido coagidos ou forados e desafiou
os deputados da Renamo para comprovarem as suas alegaes com vista a serem tomadas
medidas.
Caso exista uma situao em que algum funcionrio foi coagido ou forado na sua
instituio para se filiar em algum partido poltico, que o denuncie por favor para tomarmos as
devidas medidas, elucidou.
Sobre a mesma questo, lembre-se que o Ministro da Planificao e Desenvolvimento, Aiuba
Cuereneia disse que a partidarizao das instituies do Estado no constitui apenas preo-
cupao para os partidos da oposio mas igualmente para Executivo moambicano.
Lembre-se que a partidarizao das instituies pblicas tambm preocupou a comunidade
doadora tendo at condicionado o financiamento ao Oramento do Estado.
Na altura, o ministro da Planificao e Desenvolvimento, Aba Cuereneia disse que a
questo da existncia de clulas do partido nas instituies pblicas sempre vista como
sendo um problema do partido no poder, a Frelimo, mas que igualmente um problema das
outras formaes polticas e consequentemente de todos os cidados moambicanos, razo
pela qual o Executivo est preocupado em resolver o problema.

Tentativa de usurpao de um espao pblico na Matola

Municpio desaloja Artemiza Franco
-Toda gente sabe que o municpio da Matola est falido () estranhamente conseguiu uma mquina, camio e
combustvel para recolher a minha pedra e areia. Isso perseguio, Artemiza Franco
Por Raul Senda

O comando da Polcia Municipal da cidade da Matola ordenou a remoo de balastro (pedra de

construo) e areia pertencente a vogal da Comisso Nacional de Eleies (CNE) Artemiza
Franco. Em causa est a colocao do material no espao alheio bem como a desobedincia
as autoridades. Contudo, a visada repudia o acto e diz que est a ser injustiada e que a
medida cheira corrupo.

A novela que culminou com a remoo dos bens de Artemiza Franco para os armazns
municipais comea em 2006, quando na tentativa de viabilizar espaos baldios, tidos como
focos de lixo e esconderijos de criminosos, o elenco do falecido Carlos Tembe convidou os
muncipes interessados em instalar infra-estruturas de lazer, nos mesmos, a contactarem o
municpio.
Alm de infra-estruturas para negcios particulares, os concessionados deviam garantir
outros bens de utilidade pblica como o caso de jardins, plantio de rvores de sombra e
limpeza.
Foi nessa senda que uma cidad de nome Olinda Vitorino manifestou junto a edilidade local
a vontade de explorar um espao localizado na rua de Mecufi no bairro da Liberdade.
Tal como aconselhara Lzaro Bambamba, vereador do pelouro da Salubridade na altura, a
cidad em causa contactou as autoridades administrativas do bairro da Liberdade.
Tendo tido o aval das estruturas da base, Olinda Vitorino contactou a vereao da Salu-
bridade que por sua vez a canalizou ao pelouro das Actividades Econmicas para os devidos
procedimentos.
Em Maro de 2007, o municpio autoriza a cidad em causa explorar o espao.
J com autorizao da edilidade, Olinda Vitorino comea com a limpeza de local.
Soube o SAVANA que ter sido a remoo de resduos slidos que despertou a ateno da
Artemiza Franco que, tendo sido vereadora naquela autarquia, tentou juntar alguns vizinhos
para repudiarem a ocupao daquele local, alegando tratar-se dum espao pblico e que no
devia ser privatizado.
Falando ao nosso jornal, Olinda Vitorino disse que depois da contestao de Artemiza
Franco o processo dela ficou embargado.
Depois de dois anos de marasmo e de dito por no dito por parte das autoridades
municipais, a nossa interlocutora foi permitida a desenvolver as suas actividades.
S que, para o seu espanto, em plena actividade e no meio de obras do melhoramento do
local tal como est previsto no contrato de concesso, a cidad Artemiza Franco, sem con-
sentimento, usa o espao para a colocao de material de construo, no mbito das obras
que e est efectuar na sua residncia.
A deciso no agradou a outra parte que ter contactado as autoridades municipais.
Notificaram por trs vezes a suposta violadora do espao alheio, mas, esta ignorou a
solicitao e continuou com os alegados desmandos.
Sem lugar para o dilogo com vista a uma resoluo amigvel do diferendo, as autoridades
municipais desalojaram forosamente a cidad Artemiza Franco do local.
Para tal foi destacado um efectivo armado da polcia municipal que com auxlio de um
camio e uma mquina escavadora removeu todo material para o parque municipal.
Obras ilegais?
Alm da suposta tentativa de ocupao do espao alheio, Artemiza Franco acusada de
execuo de obras ilegais. Dizem que as mesmas decorrem h mais de dois anos mas, at ao
momento no h nenhuma informao dando conta das obras no obstante a postura
municipal fazer a tal recomendao.

Vtima de injustia
Contactada pelo SAVANA, Artemiza Franco, que entre 2003 e 2006 foi vereadora do pelouro
das Actividades Econmicas no municpio da Matola, diz que est a ser vtima de injustia.
Franco refere que o espao em causa pblico e no entende a razo do certos muncipes
terem poderes sobre os outros enquanto a lei igual para todos e que todos pagam os devidos
impostos.
Reconhece que ignorou as notificaes, porque as mesmas eram entregues pela queixosa e
no pelas autoridades tal como manda a lei.
Entende que o comportamento dos funcionrios do municpio perante este facto faz com
que haja espao para desconfianas de prtica de actos de corrupo.
Toda gente sabe que o municpio da Matola est falido, no tem dinheiro e muito menos
meios para o tapamento de buracos, recolha de lixo e os muncipes esto todos dias a protes-
tarem mas, estranhamente conseguiu mquina, camio e combustvel para recolher a minha
pedra e areia. Isso perseguio, desabafou, acrescentando que no co nhece nenhum lugar
em que se fecha passeios aos cidados para a montagem de casas de pasto.
Artemiza Franco nega que esteja a executar obras ilegais para alm de que a nica entidade
competente para chegar a essa concluso o municpio e no um singular.
No entanto, confrontado com a situao, o edil da Matola, Aro Nhancale, disse-nos que
ainda no estava a par do assunto e que tentaria junto da sua equipa inteirar-se do mesmo.

Petrleo pode tornar-se numa maldio

A descoberta de petrleo, recurso alvo de intensas pesquisas em Moambique, pode tornar-se
numa maldio para o pas, se as elites monopolizarem as vantagens provenientes da venda
do crude, alertou, nesta Tera-feira, o jornalista da Guin-Equatorial, Donato Bidyogo.

Vrias multinacionais esto actualmente envolvidas na pesquisa de petrleo no centro e

norte de Moambique, onde a existncia de grandes quantidades de hidrocarbonetos
encarada como indcio da existncia do crude.
Com base na experincia do seu prprio pas, a Guin-Equatorial, o terceiro maior produtor
de petrleo na frica Subsaariana, depois da Nigria e de Angola, Donato Bidyogo afirmou que
o petrleo pode trazer desgraa, tornar-se numa maldio e no no man que muitas vezes se
pensa que .
Por m f, as elites dominantes empreendem uma m gesto, uma m administrao dos
recursos petrolferos e outros hidrocarbonetos, para serem os nicos a apropriar-se dos
benefcios, tornando-os numa maldio, sublinhou o jornalista, exilado em Espanha, quando
falava numa palestra sobre Petrleo e Subdesenvolvimento na Guin-Equatorial, promovida
pelo Instituto de Estudos Sociais e Econmicos (IESE) de Moambique.
Apesar de vir de um histrico de tirania e represso desde os anos da independncia nos
anos de 1960, a Guin-Equatorial viu a ditadura do Presidente Teodoro Nguema a incrementar
o esmagamento dos direitos humanos e a perseguio aos opositores polticos, quando foi
descoberto o petrleo no incio dos anos de 1990, recordou o jornalista e tambm docente
universitrio.
A democracia que o regime estava a ensaiar antes da descoberta do petrleo transformou-
se logo numa pardia, quando o pas se viu com petrleo. As liberdades que se come avam a
respeitar foram logo suprimidas, enfatizou.
Para Donato Bidyogo, a tortura e a intimidao podem ser usadas para reprimir qualquer
tentativa de alguns sectores da sociedade de exigir transparncia nas receitas de petrleo e
assim deixar o campo aberto para o enriquecimento das oligarquias no poder ao tempo da
descoberta do crude.
Na Guin-Equatorial normal inventarem-se golpes de Estado e alegados crimes contra a
segurana do Estado como pretexto para colocar fora de aco opositores incmodos, acres-
centou.
Ainda segundo o jornalista, apesar de o petrleo ter permitido Guin-Equatorial ter um
rendimento anual per capita de 50 mil dlares, acima de muitos pases ricos, a produo do
crude no evitou, entretanto, que o pas tivesse mais de 50 por cento da sua populao a viver
com menos de um dlar por dia.
O meio ambiente degradou-se, a inflao disparou e a maioria da populao perdeu a auto-
suficincia na agricultura artesanal, passando a depender de produtos agrcolas importados
dos pases vizinhos, e os problemas ecolgicos agudizaram-se, observou Donato Bidyogo.

Moambicanos acusados de crime hediondo

Trs moambicanos foram esta Quarta-feira acusados formalmente no Tribunal da
magistratura de Joanesburgo de terem agredido barbaramente uma criana de um ano de
idade e a sua ama para roubarem um televisor e um descodificador.
Dois dos arguidos, Nelson Maposse, de 28 anos, e Geraldo Nhantumbo, de 25, foram nesta
Quarta-feira presentes a um magistrado e acusados pelo crime, enquanto um terceiro, iden -
tificado como Chacoma Macaba, de 28 anos, est a monte, suspeitando as autoridades que
teria atravessado a fronteira para Moambique.
Segundo os investigadores, os trs suspeitos teriam agredido violentamente a criana de
um ano, identificada como Marzaan Kruger, e a ama a quem estava entregue na casa da
famlia no bairro de Robbin Hills, Joanesburgo, na Quinta-feira da semana passada, tendo de
seguida furtado um televisor e um descodificador e pondo-se em fuga.
Francina Sekhu, a ama que alegadamente teria confessado no hospital onde est internada
que deixou os homens entrar em casa na ausncia dos seus empregadores, para que
pudessem ver televiso com ela, foi agredida com tal violncia que se encontra nos cuida-
dos intensivos desde o ataque.
A criana teria sido atirada contra a parede e agredida soco e pontap pelos assaltantes,
sofrendo mltiplas fracturas no crnio e tendo de ser ressuscitada duas vezes pelos
paramdicos que foram chamados cena do crime.
O crime, que desde Sexta-feira tem feito as manchetes dos principais jornais sul-africanos,
provocou uma onda de indignao na opinio pblica e levou interveno directa do ministro
da Polcia e do comissrio nacional, que de imediato destacaram para a investigao os seus
melhores detectives.
As autoridades descobriram logo a seguir ao incidente que os suspeitos teriam trabalhado
recentemente em obras de renovao da casa que viriam a assaltar, utilizando a amizade que
haviam desenvolvido com a ama para conquistar a sua confiana levando-a a abrir a porta no
dia do crime com o pretexto de socializarem.
Um cartaz com a foto e os detalhes pessoais do terceiro suspeito (Chacoma Macaba) foi
posto a circular por todas as esquadras e postos fronteirios do pas, estando as autoridades
em contacto com a Polcia moambicana no sentido de garantirem a sua deteno e
extradio daquele pas vizinho caso tenha atravessado a fronteira.
A criana continua em estado grave numa clnica de Joanesburgo, referem as autoridades.

RESUMO SEMANAL
O PONTO DE VISTA RUSSO EM NOVO LIVRO SOBRE A MORTE DE MACHEL
Uma obra intitulada Samora Machel - Atentado ou Acidente? da autoria de Jos Milhazes,
investigador portugus radicado em Moscovo, ser lanado nesta quinta-feira em Lisboa, capital
portuguesa, numa cerimnia que ter lugar no dia em que Armando Guebuza, presidente moambicano,
inicia uma visita de Estado quele pas europeu a convite do seu homlogo Cavaco Silva.
Milhazes debrua-se sobre as causas do acidente de aviao em que perdeu a vida o primeiro
presidente moambicano, Samora Machel. O aparelho Tupolev 134 e a tripulao eram soviticos, da ser
importante saber o que pensam os especialistas da antiga URSS sobre isso, refere o autor que reside em
Moscovo desde 1977.
De 51 anos de idade, Jos Milhazes doutorado pela Universidade do Porto, tendo-se dedicado
traduo de obras literrias e polticas de lngua russa para o portugus. Foi correspondente do jornal
Pblico em Moscovo, e colaborador do canal televisivo, SIC. Presentemente trabalha como
correspondente da LUSA na capital russa.

GOVERNO DESMONTA FBRICA

O Ministrio de Administrao Estatal em coordenao com o Governo provincial de Nampula
suspendeu e mandou cessar funes o controverso administrador do distrito de Muecate, Adelino Fbrica,
em conexo com a deteno e condenao de Aiuba Assane, o jovem mecnico acusado de difamao
pessoa do administrador de Muecate.

MEXIDAS EM ALTA
O Governo voltou a mexer em alta os preos de combustveis, o segundo em menos de 30 dias.
A nova tabela estabelece um agravamento numa proporo mdia de trs meticais. A tabela que entrou
em vigor nesta quarta-feira, a gasolina passou dos 26,57 meticais o litro para 31,09 meticais, enquanto
que o gasleo de 24.70 meticais para 28,16Mt.
Para o petrleo de iluminao o executivo estabeleceu um agravamento de 2,69 meticais, passando a
custar 20,16, contra os anteriores 17,92 meticais por litro.
Aps o anncio do novo reajustamento, o Vice-Ministro da Energia, Jaime Himede, realou que o
governo vai continuar a proteger os sectores produtivos, mantendo o desconto de 20% da taxa de
combustveis.

GUEBUZA ACREDITA EMBAIXADORES

O Presidente da Repblica, Armando Guebuza, acreditou, nesta segunda-feira, o alto-comissrio do
Reino Unido, Anthony Shaun Cleary, e os embaixadores da Romnia e da Tunsia, Radu Gabriel Safta e
Ahmed Mahjoub, respectivamente.
Nno momento da entrega de cartas credenciais, os representantes dos trs Estados reafirmaram o
interesse de cooperar com Moambique em diversas reas de desenvolvimento, nomeadamente, nas infra-
estruturas, agricultura e transportes.

MOAMBIQUE PODER INTEGRAR MISSO DE PAZ NA SOMLIA

O grupo de deputados que integra o parlamento Pan-Africano (PAP) vai propor ao Presidente Armando
Guebuza o envio de uma misso de paz para a Somlia, onde dever se juntar a outras do Continente por
forma a instaurar a ordem e tranquilidade naquele pas da regio do corno de frica. Esta indicao foi
dada, sexta-feira passada, em Maputo, por Vernica Macamo, presidente da Assembleia da Repblica (AR),
num encontro com a imprensa, durante a qual fez uma abordagem dos trabalhos realizados ao longo da
segunda sesso ordinria do PAP, que teve lugar em Midrand, arredores de Joanesburgo, frica do Sul,
entre 12 e 20 de Abril.

DONA ALICE MUDA DE NOME

A rua conhecida actualmente como Dona Alice, na cidade de Maputo, passar a chamar-se General
Cndido Mondlane, uma mudana enquadrada no processo da atribuio de novos topnimos para a
capital moambicana.
A oficializao do nome est dependente apenas da homologao do Ministrio da Administrao
Estatal.
Recorde-se que o Conselho Municipal da Cidade de Maputo est actualmente a fazer a alterao de
topnimos herdados do perodo colonial.

PAG 6 a 9 OPINIAO
EDITORIAL
Moambique e Portugal: O regresso das caravelas?
Esta a segunda visita que o Presidente Armando Guebuza realiza a Portugal
desde que assumiu o poder em 2005. A primeira, nesse mesmo ano, teve como
resultado final a concluso do longo processo negocial que culminou com a
reverso do controlo da Hidroelctrica de Cahora Bassa para o Estado
moambicano.
No entremeio, o Primeiro-Ministro portugus, Jos Scrates, esteve igual
nmero de vezes em Moambique, enquanto o Presidente portugus, Cavaco
Silva, visitou Moambique uma vez.
A longa histria de relacionamento entre os dois povos e Estados no se pode
apagar apenas com um desejo. So relaes histricas que sendo bem
conduzidas, podem trazer vantagens mtuas em prol do desenvolvimento da
humanidade. Moambique pode desempenhar um papel extremamente
importante para a insero de Portugal no contexto africano, sendo que no
sentido inverso, Portugal poder fazer o mesmo para Moambique ao nvel da
Europa.
Uma relao de igual para igual, em que cada uma das partes acrescenta valor
outra, o que os lderes dos dois pases se devem esforar em alcanar. O
colonialismo em Moambique acabou h quase 35 anos, e com esse fim, surgiu a
liberdade para os povos dos dois pases.
Num mundo globalizado, nenhum pas pode se dar ao luxo de pretender viver
orgulhosamente s. H muitas oportunidades que se colocam para os dois
pases, apenas espera de serem exploradas.
Mas h que evitar o estabelecimento de relaes monopolistas, baseadas em
sentimentos paternalistas, que se possam resumir no regresso das caravelas.
Moambique tem grandes oportunidades de investimento para empresas
portuguesas em praticamente todos os ramos da economia. E Portugal pode
servir de um importante mercado para produtos processados em Moambique. O
nico elemento necessrio que cada um dos dois pases saiba definir com
clareza quais so os benefcios que pretende extrair deste relacionamento.
Mas tal como com Portugal, Moambique tem um enorme potencial de outras
oportunidades por explorar no seu relacionamento com outras naes do mundo.
Essas oportunidades abarcam o sector financeiro, a indstria, a formao, o
comrcio, etc.
As relaes de um Estado com o resto do mundo tero valor acrescentado
quanto mais diversificadas elas forem, evitando ficar-se refm de sentimentos
emocionais que podem afunilar o leque de opes.
S com base neste princpio sagrado que Moambique e Portugal podero conseguir extrair o melhor um
do outro durante esta visita. E oxal que assim seja, para o benefcio dos dois povos e Estados.
A talhe de foice
Por Machado da Graa
Novas Geraes
O debate sobre a questo das geraes vai aceso. Com participaes aos mais diferentes nveis, desde
os textos educados e juntando argumentos srios ao debate, como nos casos de Jlio Muthisse e de
Amosse Macamo, at ao bolsar racista de Miko Cassamo e ao texto inqualificavelmente abjecto de
Fernando Benzane.
No topo de todos, sem a menor dvida, o texto do Fernando Gonalves, no ltimo Savana, procurando
um significado para o fenmeno nas lutas internas no seio da Frelimo. Mais exactamente para as mos de
que gerao vai o facho do poder quando chegar o momento de Armando Guebuza o entregar.
No seu texto, Julio Mithisse refere todas as diversas actividades, para alm da militar, que caracterizam
a chamada gerap do 25 de Setembro. E eu pergunto-lhe se a data do 25 de Junho no cobre melhor esse
somatrio de actividades. Queiramos ou no o 25 de Setembro est sempre associado ao Primeiro Tiro,
isto componente militar da luta. J em relao dita gerao da viragem, uma leitura mais atenta, por
parte do Mais Novo, permitir-lhe-a notar que me insurjo mais contra a designao, e seus possveis
significados, do que com a necessidade de a actual juventude ter que arregaar as mangas para o
trabalho duro, com o que estou completamente de acordo.
No Domingo, Amosse Macamo trouxe ao debate a importante componente do contributo das igrejas
protestantes, nomeadamente da Misso Suia. Estou plenamente de acordo com ele sobre essa
importncia, que foi enorme, e simbolicamente pode ser referida pela formao que deram a Eduardo
Mondlane, entre tantos outros. S no sei em qual das 3 geraes definidas essa participao das igrejas
protestantes se insere.
Continuo a pensar que no h que cortar s fatias um processo que foi longo e complexo. s vezes,
quando se pretende simplificar muito um processo, acaba-se por complic-lo bastante mais.
Estou, neste momento, a ler o tijolo que o Srgio Vieira nos entregou. Ela fala, muitas vezes, de
geraes e, inclusive, cita explicitamente a do 8 de Maro. Mas f-lo de forma a que o leitor compreenda
os contextos que se viviam em determinadas pocas e no de forma esquemtica e simplista. Even -
tualmente o Chefe de Estado pretendeu o mesmo objectivo mas, na minha modesta opinio, no o
conseguiu.
Mas, j que estamos a usar esta discutvel ideia da diviso em geraes, sugiro uma outra sequncia
de geraes. Tambm heroica e trgica ao mesmo tempo.
Refiro-me gerao Carlos Cardoso, gerao Siba-Siba Macucua e, agora, gerao Orlando Jos.
Homens de diferentes idades e profisses, tambm entre eles circulou um facho: A Chama da
Honestidade, da Justia e do Patriotismo.
E todos eles tiveram morte violenta por terem ousado carregar essa Chama ao longo das suas vidas.
Carlos Cardoso baleado mortalmente quando saa do seu lugar de trabalho e combate, do seu jornal.
Em 2010 passam dez anos que isso aconteceu.
Siba Siba Macucua tambm estava no seu local de trabalho e luta quando foi lanado para a terrvel
queda que lhe tirou a vida.
Agora temos o jovem Orlando Jos, baleado mortalmente no mesmo dia em que apresentou ao pblico
trs carros de luxo apreendidos quando tentavam entrar no pas sem pagar os devidos direitos
alfandegrios.
Esperemos que a Chama que ele transportava no tenha cado ao cho e se apagado. Esperemos que
algum, seja de que gerao for, lhe tenha pegado e a proteja, que ainda vamos precisar muito dela.
Quem mandou matar Carlos Cardoso ainda hoje no sabemos, 10 anos depois.
No sabemos tambm quem contratou os assassinos de Siba Siba Macucua.
Saberemos alguma vez quem ordenou os tiros contra Orlando Jos?
A polcia est a investigar.
Como fez tambm, nos outros dois casos...

Estados de risco
Por Nouriel Roubini*

A Grande Recesso de 2008-2009 foi provocada por uma acumulao excessiva de dvida e pela
alavancagem por parte dos agregados familiares, das instituies financeiras e at mesmo do sector
empresarial em muitas economias avanadas. Numa altura em que se fala muito de desalavancagem,
medida que a crise se vai desvanecendo, a realidade que os rcios de endividamento do sector privado
estabilizaram em nveis bastante elevados.
Em contrapartida, em consequncia dos planos de estmulo oramental e da socializao de parte das
perdas do sector privado, estamos agora perante uma forte re-alavancagem do sector pblico. possvel
encontrar dfices acima dos 10% do produto interno bruto (PIB) em muitas economias avanadas, e prev-
se que os rcios entre a dvida e o PIB aumentem fortemente - nalguns casos, podendo mesmo duplicar
nos prximos anos.
Conforme demonstra o novo livro de Carmen Reinhart e Ken Rogoff, intitulado This Time is Different ,
este tipo de crises nos balanos tem conduzido, historicamente, a retomas econmicas lentas, anmicas
e inferiores tendncia normal, durante muitos anos. Os problemas relacionados com a dvida soberana
so outra forte possibilidade, atendendo forte re-alavancagem do sector pblico.
Nos pases que no podem emitir dvida na sua prpria moeda (que so, tradicionalmente, as
economias dos mercados emergentes), ou que emitem dvida na sua prpria moeda, mas que no podem
cunhar moeda de forma independente (como acontece com os membros da Zona Euro), os insustentveis
dfices oramentais levam frequentemente a uma crise do crdito, ao incumprimento soberano ou a
outras formas coercivas de reestruturao da dvida pblica.
Nos pases que recebem emprstimos na sua prpria moeda e que podem monetizar a dvida pblica,
no muito provvel que haja uma crise de dvida soberana, mas a monetizao dos dfices oramentais
poder acabar por provocar uma situao de elevada inflao. E a inflao - tal como o incumprimento da
dvida - um imposto sobre o capital para os detentores de dvida pblica, uma vez que reduz o valor real
das obrigaes nominais com taxas de juro fixas.
Assim, os recentes problemas enfrentados pela Grcia so apenas a ponta de um iceberg da dvida
soberana em muitas economias avanadas (e num nmero mais pequeno de mercados emergentes). Os
vigilantes dos mercados obrigacionistas j puseram na sua mira a Grcia, Espanha, Portugal, Reino
Unido, Irlanda e Islndia, catapultando para nveis bastante elevados as rendibilidades das Obrigaes do
Tesouro destes pases. E podero acabar por colocar na mira outros pases - at mesmo o Japo e os
Estados Unidos - onde a poltica oramental est a seguir uma via insustentvel.
Na maioria das economias avanadas, o envelhecimento das populaes - um srio problema na Europa
e no Japo - exacerba o problema da sustentabilidade oramental, uma vez que a diminuio dos nveis
demogrficos aumenta o encargo do passivo no financiado do sector pblico, especialmente os sistemas
da segurana social e dos cuidados de sade. Um crescimento populacional baixo ou negativo implica
tambm um menor potencial de crescimento econmico e, por conseguinte, uma pior dinmica no rcio
entre a dvida e o PIB, intensificando os receios em torno da sustentabilidade da dvida do sector pblico.
O dilema que ao passo que a consolidao oramental necessria para evitar um aumento
insustentvel no spread das obrigaes soberanas, os impactos de curto prazo do aumento de impostos
e do corte dos gastos governamentais tendem a ter um efeito de contraco da economia. Esta situao
complica a dinmica da dvida pblica e impede o restabelecimento da sustentabilidade dessa mesma
dvida do Estado. Com efeito, essa foi a armadilha com a qual a Argentina se deparou em 1998-2001,
quando a necessria contraco oramental exacerbou a recesso e acabou por levar aquele pas a
entrar em incumprimento no pagamento da dvida.
Nos pases como os que fazem parte da Zona Euro, uma perda da competitividade externa, provocada
pela rgida poltica monetria e uma moeda forte, a eroso da vantagem comparativa de longo prazo face
aos mercados emergentes e o aumento dos salrios superior ao crescimento da produtividade impem
condicionalismos adicionais para que volte a haver crescimento. Se o crescimento no retomar, os
problemas oramentais iro piorar, ao mesmo tempo que ser politicamente mais difcil aprovar as
penosas reformas necessrias para o restabelecimento da competitividade.
Assim sendo, existe a possibilidade de se instalar um crculo vicioso de dfices das finanas pblicas,
desfasamentos das contas correntes, deteriorao da dinmica da dvida externa e estagnao do
crescimento. E isso poder acabar por levar ao incumprimento da dvida externa e do sector pblico de
membros da Zona Euro, bem como a uma sada da unio monetria por parte das economias frgeis que
no forem capazes de se ajustar e levar a cabo reformas com rapidez suficiente.
A injeco de liquidez por parte de um credor internacional de ltimo recurso - o Banco Central
Europeu, o Fundo Monetrio Internacional ou at mesmo um novo Fundo Monetrio Europeu - poder evitar
que um problema de falta de liquidez se transforme num problema de insolvncia. Mas se um pas estiver
efectivamente insolvente, em vez de ter apenas problemas de falta de liquidez, esses resgates no
conseguiro evitar eventuais incumprimentos e desvalorizaes (ou a sada de uma unio monetria), pois
o credor internacional de ltimo recurso acabar por parar de financiar uma insustentvel dinmica da
dvida, tal como aconteceu com a Argentina (e com a Rssia, em 1998).
Sanear a elevada dvida do sector privado e reduzir os rcios de endividamento do sector pblico,
somente atravs do crescimento, uma tarefa particularmente difcil se uma crise do balano provocar
uma retoma anmica. E reduzir os rcios de endividamento atravs de uma maior poupana acaba por nos
conduzir ao paradoxo do aforro: um aumento demasiado rpido das poupanas agrava a recesso e
deteriora ainda mais os rcios de endividamento.
No fim de contas, resolver os problemas da alavancagem do sector privado atravs da total
socializao das perdas privadas e do re-endividamento do sector pblico um empreendimento
arriscado. No melhor dos cenrios, mais cedo ou mais tarde os impostos acabaro por ter de ser
aumentados e os gastos sero reduzidos, o que ter um efeito negativo sobre o crescimento; no pior dos
casos, o resultado poder ser o da incidncia de impostos directos sobre o capital (incumprimento de
pagamento) ou indirectos (inflao).
Os problemas associados dificuldade de controlar o endividamento privado tm de ser resolvidos
atravs de falncias, redues de dvida e converso de dvida em aces. Se, em vez disso, o
endividamento do sector privado for excessivamente socializado, as economias avanadas tero sua
frente um futuro sombrio: srios problemas de sustentabilidade no que diz respeito s suas dvidas
pblica, privada e externa, de par com perspectivas perturbadoras para o crescimento econmico.

* Nouriel Roubini professor de Economia na Stern School of Business, Universidade de Nova Iorque, e
chairman da Roubini Global Economics (www.rgemonitor.com), uma consultora global de
macroeconomia.

Espinhos da Micaia
Por Fernando Lima
Um pas dividido
O que a Renamo no conseguiu f-lo a natureza. O pas est cortado ao meio.
Durante a guerra, os estrategos poltico-militares tentaram convencer-nos que um dos objectivos
da Renamo era dividir o pas em dois. Por isso vieram os reforos do Zimbabwe que se posicionaram
no Corredor da Beira e os tanzanianos que foram colocados na Zambzia. Talvez por isso a
obstinao com que Maputo atura e condescende com as intransigncias do octogenrio Mugabe.
A paz veio em 1992 e nunca o pas foi de facto dividido ao meio.
Do ponto de vista das telecomunicaes, algum esprito visionrio na altura limitou o efeito
devastador que a guerra teve sobre outros sectores. As estaes terrestres implantadas nos
permetros urbanos das principais cidades e com ligao comunicao por satlite, permitiram
que o pas falasse entre si por telefone, telex e fax e, na fase mais recente, acesso tambm
internet, que dava ento os primeiros passos no pas.
Esta semana, uma avaria grossa na fibra ptica do cabo submarino que bordeja a nossa costa,
numa zona problemtica a norte de Vilanculos, deixou-nos literalmente divididos em dois. A Beira
perdeu o contacto com Maputo, como a situao ficou tambm complicada para Chimoio, Nampula
e por a adiante.
Uma ruptura no cabo submarino deixou a nu as nossas vulnerabilidades e coloca algumas
questes sobre a forma de se fazerem opes tecnolgicas de fundo.
Os bancos, de que dependem milhares de operadores econmicos e por onde so hoje
processados os salrios de muitas empresas, aps um primeiro susto, reagiram aos bloqueios
colocando em aco solues alternativas que, esto em vrias situaes a passar de novo pelo
satlite. Pelo menos uma operadora mvel est a usar a opo satlite no eixo Beira-Nampula, as
reas de maior trfego e importantes centros de distribuio e trnsito a nvel regional.
A avaria grave e afecta de algum modo todo o pas: os tais seis milhes de que falam as
estatsticas, por adio ao mundo institucional, que j no dispensa a comunicao de qualidade.
A avaria grave deve obrigatoriamente forar uma sria reflexo sobre as capacidades e recursos
que esto alocados s empresas de telecomunicaes, nomeadamente a estratgica espinha
dorsal em que assentam os trfegos nacionais dos vrios operadores e as portas de sada para o
exterior. Potencialmente devem ser revistas situaes de monoplio empresarial, que podem ser
justificados com racionalizao de recursos e custos, mas que, em termos de back-up, a falta de
solues alternativas deixam o pas e a sua economia numa situao de grande precaridade.
Eventualmente, at ao fim do ms, os assalariados de Nampula, pagos a partir de Maputo, vo ter
o seu dinheiro em conta, como os sazonais do Guru e os novos contratados de Moatize.
Ns outros, os que comunicamos para eventualmente dizermos o que diziam as cartas do
antigamente, ns estamos momentaneamente privados de comunicar e exercitar a unidade nacional
por via do celular.
 Nem sequer podemos saber da alegria do mecnico de Muecate ao tomar conhecimento que um
dos seus pesadelos, o pequeno ditador Fbrica, foi removido do distrito, espera de novas ordens.
Um pequeno cabo no fundo do mar mesmo um atraso de vida.

PAG 10 OPINIAO
TRIBUNA DO EDITOR
Por Fernando Gonalves
Um novo paradigma para o sucesso da agricultura
Moambique um pas onde a agricultura pode desempenhar um papel de relevo como
motor do desenvolvimento. Mas apesar de toda a retrica poltica, este sector no ainda a
base da economia moambicana, e nunca ser enquanto muita coisa (incluindo a mente das
pessoas) continuar a funcionar com base no actual modelo.
Um exemplo muito simples pode ajudar a elucidar este ponto. Recentemente, o governo
tomou a deciso de enviar brigadas do Conselho de Ministros para as vrias provncias, a fim
de lanarem a segunda poca da campanha agrcola.
S neste gesto est subjacente uma concepo estrutural errada sobre a agricultura: o
sector to importante e deve ser levado serio que a responsabilidade da abertura de uma
poca agrcola deve ser atribuda ao governo central. Foi a mesma concepo centralista
sobre uma agricultura alicerada na enorme burocracia ancorada no edifcio da Praa do
Heris, em Maputo, que nos ltimos 35 anos teve como resultado relegar este importante
sector para um plano secundrio.
Na mesma linha de pensamento errado, caiu-se na iluso de que o objectivo da agricultura
s produzir comida e acabar com a fome. Ou seja, todos ns quando ouvimos falar de
agricultura, o que nos vem imediatamente mente milho, amendoim, caju, gergelim, etc.
Mas a agricultura deve ter uma concepo mais abrangente. Deve significar tambm estradas
e outras vias de acesso, uma sofisticada rede de comercializao, um sistema bem
estruturado de fixao de preos ao produtor, armazns, irrigao e muitas outras coisas que
agricultura se associam.
Deve tambm envolver a manuteno e explorao sustentvel de florestas, assim como a
produo de culturas que no sendo alimentares, tm uma valiosa contribuio para a
economia do pas.
H uma mudana de paradigma que necessria para que a agricultura passe,
efectivamente, a ocupar o lugar que merece na estrutura econmica de Moambique.
A primeira mudana a aceitao do facto de que a poltica agrcola deve ser desenhada
pelos que esto directamente envolvidos no processo de produo, e que a burocracia do
governo s deve actuar no sentido de encontrar respostas tcnicas que permitam a
materializao das necessidades especficas dos produtores. Assim, por exemplo, haver
polticas agrcolas diferenciadas e definidas localmente para as diferentes partes do pas, em
conformidade com as condies especficas de cada uma delas.
Por outras palavras, no tem que ser um ministro (seja qual for o seu pelouro) residente em
Maputo que vai ter com os agricultores de Namacurra, na Zambzia, e dar-lhes ordens sobre
que culturas que eles devem desenvolver e como que as devem desenvolver. Os
agricultores da Zambzia que devem, em consultas entre eles, definirem o que devem fazer,
e o governo central encontrar os meios tcnicos que mais se ajustam a essas necessidades,
garantindo dessa forma que os planos sejam bem sucedidos.
tambm importante perceber a importncia da agricultura comercial e saber responder
positivamente s necessidades deste sector. Muitas vezes prevalece no seio dos burocratas
do sector agrcola a ideia de que a agricultura comercial, especialmente quando representada
por grandes empresas estrangeiras, constitui um perigo a ser afastado por todos os meios. De
entre os males que se identificam na agricultura comercial o perigo de sufoco que ela
representa sobre a agricultura de pequena escala, ou at mesmo de subsistncia. Mas a
verdade que quando as polticas esto bem definidas e aliceradas no seio dos
intervenientes directos do sector, haver uma complementaridade harmoniosa entre os
sectores, numa situao em que o sector comercial pode prestar uma valiosa assistncia
tcnica e de acesso aos mercados dos agricultores de pequena escala, em troca de uma
insero social mais slida que oferece aos agricultores comerciais maior sustentabilidade
nas suas actividades.
A desconfiana que se abate sobre o sector comercial da agricultura de tal magnitude
que potenciais investidores no sector, baseados em modelos econmicos alheios cultura de
imposio de obstculos que prevalece em muitos burocratas, saltam de frustrao em
frustrao, acabando, no auge do seu desespero, por levar os seus investimentos para outros
pases que sabem valorizar os seus esforos.

PAG 12 PAIS
A PRM e o princpio da discricionariedade (1)
Por Paulo Ferreira*

Volta e meia, se calhar com mais frequncia do que o desejvel, deparmo-nos com
situaes que nos relembram que, em Moambique, a construo do Estado de Direito
Democrtico uma obra que se encontra longe de estar acabada. E, mais grave ainda, que as
instituies que possuem como tarefa a implementao e salvaguarda desse Estado de Direito
Democrtico so as primeiras a ignorar e violar os princpios que os norteiam.
No passado dia 29/3/2010, fui contactado telefonicamente por familiares que haviam sido
interpelados por um agente da Polcia de Trnsito (PT), em uma aco de fiscalizao do
trnsito rodovirio que estava a decorrer na Avenida Kenneth Kaunda, bairro da
Sommerschield, junto s instalaes do Instituto do Corao. De acordo com os meus
familiares, o agente da PT que os interpelou acabara de dar ordem de apreenso do automvel
em que circulavam, porque este possua vidros fumados e, alegadamente, tal facto constitua
um ilcito sancionado com a apreenso do automvel.
Por motivos profissionais, possuo algum conhecimento do Cdigo da Estrada e legislao
complementar existente, todavia, no conheo a existncia de uma previso legal nos termos
acima descritos. Assim, solicitei telefonicamente aos meus familiares que questionassem o
agente da PT sobre qual a base legal desta apreenso. Aps aguardar em linha, sou
surpreendido com a voz de fundo do agente da PT respondendo, mais ou menos, nos seguintes
termos: essa pessoa que colocou essa questo que venha c colocar pessoalmente.
Em virtude de o meu local de trabalho se situar relativamente perto, desloquei-me ao local
munido do Cdigo da Estrada e Legislao Complementar, editado pelo Centro de Formao
Jurdica e Judiciria. Ao chegar, aps apresentar-me como advogado ao agente da PT e
solicitar que este me informasse qual a base legal para a apreenso do automvel, obtive
como resposta que essa questo deveria ser colocada junto do Comando da Cidade da PRM,
para onde o veculo automvel estava prestes a ser encaminhado. Perante a minha
insistncia, o agente da PT reiterou que essa questo deveria ser colocada no Comando da
Cidade da PRM e que, ademais, nem entendia o porqu de eu ali estar, j que o lugar do
advogado num tribunal e aquilo no era nenhum tribunal.
Sugiro ao agente da PT a leitura atenta e vagarosa do artigo 63., da Constituio da
Repblica de Moambique (doravante CRM), e do artigo 51. e seguintes, do Estatuto da
Ordem dos Advogados (doravante EOA), para que este eventualmente venha a percepcionar
qual o alcance do mandato judicial e do patrocnio judicirio. Enquanto no o faz, porque
provavelmente estar ocupado a apreender automveis com vidros fumados, desde j se
informa que os advogados exercem o mandato forense e a consulta jurdica, considerando-se
estes como actos exercidos no interesse de terceiros e no mbito de actividade profissional e
actos que resultem do exerccio do direito dos cidados a fazerem-se acompanhar por
advogado perante qualquer autoridade, sendo que os advogados no podem ser impedidos, por
qualquer autoridade pblica ou privada, de praticar actos prprios dos advogados. L se vai a
tese de que o advogado s serve para estar em tribunal.
Entretanto, aps algumas trocas de argumentos com o agente da PT e agentes da Polcia de
Proteco (PP), que igualmente al se encontravam, os agentes informaram-me que s sabem
que so ordens superiores do Comando da Cidade da PRM, que visam combater a onda de
criminalidade que assola Maputo. Mencionaram, ainda, que esta medida surge no mbito da
discricionariedade de que a PRM goza. A nica opo para evitar a apreenso do automvel
era, segundo o agente da PT e os agentes da PP, remover manualmente, naquele local e
naquele momento, a pelcula que cobre os vidros do automvel e lhes confere a aparncia de
vidros fumados. Perante as minhas dvidas sobre a existncia de fundamentao legal, a
que acrescia o facto de ser aconselhvel que a remoo desta pelcula fosse feita em oficinas
especializadas e por tcnicos qualificados, sob pena de danificar p.e. riscando - os vidros do
automvel, os agentes da PT e da PP mostraram-se intransigentes, tendo de imediato
requisitado a presena de uma viatura de patrulha, para acompanhar o automvel para uma
das esquadras da PRM em Maputo.
Chegados esquadra, fomos encaminhados para o oficial de permanncia que se
encontrava na altura presente. Exposto o problema e mais uma vez indiferente aos meus
apelos e pedidos de esclarecimento, o oficial de permanncia ordenou aos meus familiares a
remoo imediata da pelcula que cobre os vidros ou, em alternativa, a apreenso do
automvel. Resignados, os meus familiares deslocaram-se para o exterior da esquadra para
remover manualmente a pelcula, tendo eu ficado no interior da esquadra a debater o assunto
com o oficial de permanncia. Foi ento que, mais uma vez, surgiu a famosa palavra
discricionariedade. O oficial de permanncia reiterou que se tratavam de ordens superiores
do Comando da Cidade da PRM. Quando o questionei sobre o primado destas ordens
superiores em face do princpio da legalidade e do facto de vivermos num Estado de Direito
Democrtico, a resposta imediata foi que a PRM beneficia de discricionariedade para tomar as
medidas que entender necessrias, para combater o crime violento.
Como se no bastasse, o oficial de permanncia solicitou-me que exibisse uma procurao
forense que me conferia poderes para estar ali em representao dos meus familiares.
Mencionei que no vinha munido de procurao forense mas que, no obstante, a lei d a
possibilidade de se conferir mandato judicial por dois meios alternativos documento
particular com interveno notarial (procurao forense) ou declarao verbal da parte no
auto de qualquer diligncia que se pratique - pelo que, essa questo seria facilmente
ultrapassvel atravs de uma mera declarao verbal dos meus familiares naquele acto, em
como me constituam seu advogado. A resposta que obtive foi que aquela esquadra s
trabalha por escrito e que uma mera declarao verbal no era suficiente para conferir
poderes forenses a um advogado.

*Advogado
PAG 14 e 19 CENTRAIS
Fantasma da Procana ensombra Massingir
Por Emdio Bela
Fotos de Joel Chiziane

Quatro meses aps o Governo ter rescindido o contrato celebrado com a Procana em 2007, o
fantasma do mega-projecto agro-industrial continua na memria da populao de Massingir.
Em meio h muitos vestgios deixados no terreno pelo projecto, os 100 hectares de cana-de-
acar motivaram uma disputa entre o governo distrital e uma associao de camponeses
que cedeu 125 hectares Procana para o viveiro. Do executivo de Maputo ainda no
transpirou nenhuma informao sobre um provvel novo investidor que vai ficar com os 30 mil
hectares de terra, mas os camponeses locais falam de uma firma at aqui no conhecida:
Bioterra.

No ltimo fim de semana, o SAVANA deslocou-se ao terreno e apurou de fontes locais que o
assunto j do conhecimento do Primeiro-Ministro, Aires Ali, e do secretrio-geral da Frelimo,
Filipe Pande. As duas figuras estiveram recentemente em Massingir.
 Acerca de mil metros da vila-sede do distrito, pode-se ver mais vestgios do projecto de
produo de etanol a partir de cana-de-acar: um estaleiro com algumas alfaias agrcolas,
casas para tcnicos por concluir e aproximadamente 800 hectares de terra desbravada.
Depois de conseguir o visto do direito de uso e aproveitamento de 30 mil hectares de terra
em Massingir, um distrito meridional de Gaza, sul do pas, a Procana celebrou um acordo de
parceria com a ASAMA (Associao de Agricultores de Maringuele), uma associao de
camponeses locais com 250 hectares de terra. Ao abrigo do mesmo, a associao cedeu
Procana metade da sua rea (125 hectares) para servir de viveiro de cana-de-acar. Eles
(Procana) disseram que a nossa rea era a nica favorvel para fazer viveiros de cana,
explica Jaime Duzenta Bombe, a cara visvel da associao.
Ele um dos membros fundadores da associao do regadio de Maringuele e o actual
presidente da mesa de Assembleia-geral da mesma. Em declaraes ao SAVANA, o interlocutor
fez notar que a Procana s conseguiu plantar cana-de-acar num espao de 100 hectares.
Os 25 que restaram, usaram para cereais.
Na verdade, os 250 hectares da ASAMA tm uma localizao privilegiada: a rea fica h
aproximadamente 500 metros do rio dos Elefantes, um importante afluente do Limpopo, e h
cerca de um quilmetro das encostas da barragem de Massingir. Aqui advinham-se as disponi-
bilidades de gua e as facilidades para irrigao.
Em troca, diz Jaime Bombe, a Procana tinha de desbravar 125 hectares (rea remanascente)
da associao e prestar a assistncia tcnica aos agricultores. A acordo tinha o prazo
marcado para quatro anos.

FIM DA PROCANA PRECIPITA PROBLEMAS

O acordo entre a Procana e a ASAMA durou trs anos e o seu fim foi precipitado com a
resciso do contrato entre os donos do projecto e o executivo de Maputo. Mas os contactos
entres as partes continuam, pois h assuntos pendentes que a deciso governamental nem
sequer considerou. O projecto apagado do mapa antes de ter satisfeito os termos de acordo
com a associao. Jaime Bombe disse que a Procana no conseguiu desbravar nem sequer
um hectar na rea da associao e o sistema de rega de gota a gota que montou s cobre 65
hectares dos 125.
Antes de celebrar o acordo com a Procana, a ASAMA irrigava suas culturas usando um
sistema de expressores cuja aquisio foi financiada pelo CEDES (Comit Ecumnico para o
Desenvolvimento Social) em 2000. Este sistema era muito caro para ns, pois por semana
abastecamos cerca de 1200 litros de combustvel, explica.
LUTA PELO PATRIMNIO
A associao acusa a Procana de no ter se despedido dela quando viu sua licena
revogada pelo Governo. Tnhamos nmeros dos telemveis dos dirigentes, ligamos e
disseram-nos que tnhamos de seguir at Maputo. Na reunio havida num dos hotis da
capital moambicana entre as partes, a 16 de Fevereiro do ano corrente, foi lavrada uma acta
na qual a Procana dava autonomia associao para fazer o uso da cana-de-acar antes
planeada como viveiros. Foi uma grande vitria para ns. Sempre defendemos que todo o
patrimnio que a Procana deixou no nosso terreno devia reverter-se a nosso favor. Mas o
governo distrital sempre dificultou porque tambm estava interessado na cana, diz Bombe.
Segundo conta, cpias da acta foram enviadas administrao local e direco da
agricultura. Enviamos tambm ao primeiro secretrio da Frelimo, porque ele tambm
defendia que a cana passasse para o governo distrital, acrescentou.
Bombe conta ainda que na reunio com representantes do extinto projecto, a ASAMA
manifestou o interesse em ficar com a motobomba e o sistema de rega por serpentinas que a
Procana deixou em sua rea. O pedido no teve resposta positiva, pois os representantes
alegaram que ainda aguardavam por uma deciso do Conselho de Ministros.
S aceitaram dar-nos por emprestado um tractor de lavoura, mas sob a condio de
informamos ao governo distrital. A administrao local foi informada ainda em Fevereiro, mas
s autorizou o uso do tractor h duas semanas, isso depois da visita do Primeiro-Ministro,
Aires Ali, quela associao em Massingir.
 Colocmos as nossas preocupaes no encontro que tivemos com o Primeiro-Ministro. Ele
prometeu, entre outras coisas, delegar uma comisso provincial, incluindo o vice-ministro da
agricultura, para averiguar o que est a se passar para tomar medidas. O tractor j lavrou 14
hectares. Ns abastecemos em combustvel e garantimos assistncia tcnica.

CHUPAR CANA INDUSTRIAL?

Passam dois meses e meio desde que a Procana deu luz verde ASAMA para fazer uso da
cana-de-acar que perfaz 100 hectares. Mas at aqui a associao ainda no encon trou um
comprador. Destino: vender retalho para consumo local. Na machamba uma cana vendida a
trs meticais (3Mts) e nos mercados varia de quatro a cinco meticais (4 a 5 Mts). Trata-se de
uma cana semeada num viveiro, o que implica a utilizao de produtos qumicos. No se sabe
at que ponto a carga qumica que a cana transporta pode ser nociva sade pblica. A
populao consome vontade, tanto mais que algumas pessoas invadiram a vedao e esto
a roubar a cana. O interlocutor do SAVANA disse que a associao j escreveu para a admi-
nistrao local a solicitar armas para guarnecer o campo. Mas o expediente foi remetido para
o Comando provincial da PRM em Xai-Xai, pois compete a esta instituio autorizar o porte e
uso de arma de fogo. muita cana, diz Bombe, apontando para os 100 hecta res. Ele no tem
dvidas que foram usados produtos qumicos, mas consome a cana sem preconceitos. Razo:
a Procana no disse nada sobre a composio qumica e aconselhou-nos a vend-la para o
consumo local ou para fabrico de bebidas tradicionais.
Desde que a Procana saiu a cana ainda no foi irrigada. Estava a secar, mas com a chuva j
se vem folhas verdes, reconhece Bombe.
A associao alega dificuldades financeiras para abastecer o sistema de rega. A Procana
que pagava gua ARA-Sul. Antes de firmarmos o acordo a associao que pagava. Mas os
preos eram simblicos, disse, prometendo que vamos aproveitar o incio da poca agrcola
para irrigar.

XINAVANE PISCA OLHO CANA

Em Maro ltimo, a Procana voltou ao seu antigo viveiro e comprou da associao 20 mil
toneladas de cana. Foram cinco camies de quatro mil toneladas cada. Por cada camio
pagam dois mil e quinhentos meticais (2.500 Mts), explica, sublinhando que at aqui s
pagaram dinheiro de um camio.
Mas a ASAMA ainda tem esperana sobre o destino da cana. Na ltima Sexta-feira,
estiveram no terreno tcnicos da Aucarreira de Xinavane. Levaram a cana para o laboratrio
e s depois dos resultados que vo decidir se compram ou no. No caso de decidirem pela
compra, j avanaram uma condio: a associao ter de transportar a cana at Xinavane.
Enquanto a companhia de Xinavane avana com condies para a compra, a associao
adianta preocupaes: Ns s temos um camio (cedido pela Procana) de quatro toneladas e
usmo-lo para o transporte dos associados. A discusso dos preos dever ter em conta isso
tudo.

PANDE PROMETE DUAT ASAMA

Depois de o Primeiro-ministro ter visitado Massingir e dialogar com a associao, Sexta-
feira ltima foi a vez de Filipe Pande dirigir-se associao dos camponeses de Maringuele.
Contrariamente s cautelas de Aires Ali, o secretrio-geral da Frelimo fez promessas com
prazos. A associao aproveitou a visita do dirigente partidrio e fez uma exposio sobre as
suas preocupaes. Falou do DUAT que h anos que o governo distrital se recusa a ceder e do
patrimnio que jaze nos seus 250 hectares deixado pela Procana. A ASAMA quer ser herdeira
de tudo quanto o projecto deixou em seu terreno, posio que no colhe consenso na adminis-
trao local. Confrontado com a exposio, Pande reagiu com promessas: vai intervir pes-
soalmente junto Procana no sentido de o equipamento camioneta, sistema de rega e
motobomba - deixado no terreno da associao reverter-se a favor desta; at Maio a ASAMA
ter o DUAT.
Criada em 1997, a associao ainda no conseguiu o DUAT dos 250 hectares que detm,
trabalhando com um ttulo provisrio.
No estamos a conseguir o DUAT. Na reunio com o secretrio-geral da Frelimo ningum do
governo distrital conseguiu explicar por que at aqui a associao no tem DUAT, palavras de
Bombe, que diz ainda que, anualmente, a ASAMA paga cerca de 2.800 meticais de taxa de
terra.
Segundo fontes locais, integrava a comitiva do secretrio-geral da Frelimo uma antiga
gerente da Procana de nome Leonor. Ns j temos informao de que j h uma nova
empresa que substituiu Procana. Dizem que Bioterra e tem seis accionistas, disse Bombe.

Reassentamento continua parado

Lembre-se que foi em 19 de Setembro de 2007, que o executivo moambicano autorizou a
realizao do projecto Procana tendo por objecto o cultivo da cana-de-acar para proces samento
industrial e construo de uma fbrica de produo de etanol e acar refinado, bem como
produo de energia elctrica e fertilizantes com base nos derivados da cana-de-acar. O projecto
seria implantado numa rea de 30 mil hectares, com um investimento avaliado em USD 500 milhes.
Dois anos depois, precisamente a 22 de Dezembro de 2009, o Governo revoga, com efeitos
imediatos, a resoluo que autoriza a realizao do projecto Procana, sob a alegao de incum-
primento do contrato. A revogao implicou a resciso do contrato de investimento celebrado no
mbito deste projecto e a cessasso de quaisquer direitos, deveres ou obrigaes que vinculavam o
Estado moambicano, quer para o projecto, quer para os investidores.
A controvrsia que girou volta da aprovao do projecto apontava para a possvel sada dos
investidores do Parque Nacional de Limpopo (PNL), nomeadamente o KFW, um banco alemo e a
Agncia Francesa para o Desenvolvimento (AFD). que o PNL possua cerca de 70 mil hectares para
reassentar as populaes que se encontram no permetro do parque. Desta rea, o Go verno havia
cedido 30 mil hectares ao projecto Procana, o que minava os objectivos do parque e dos
investidores.
A KFW j investiu cerca de USD11,9 milhes no projecto do PNL desde 2001. A AFD prepara-se
para investir cerca de USD11 milhes nos prximos quatro anos.

Primeiras casas j tm problemas

At aqui, o MITUR (Ministrio do Turismo) s conseguiu tirar para fora do parque 18 famlias, de
um total de 1100 que vivem em nove comunidades no interior. As 18 famlias residiam em Nanguene
e em 2008 receberam as suas novas casas de construo convencional na localidade de
Chinhangane.
No passou um ano e as casas apresentadas aos beneficirios como habitao condigna j
apresentavam vrios problemas. A minha casa continua com problemas de infiltrao, quando
chove saio para outra casa, reclama Armando Joo, um dos beneficirios, apontando para a casa
de pau-a-pique ao lado. O problema de fissuras nas paredes foi resolvido h duas semanas, depois
de a populao ter apresentado as queixas aos tcnicos do KFW, um dos financiadores do programa
de reassentamento. Eles estiveram c de visita e viram o estado das casas. Mas ns j vinhamos
reclamando junto ao PNL, a resposta era que no conseguiam localizar os tcnicos que fizeram as
casas, disse Armando Joo, 50 anos, pais de 10 filhos.
Os tcnicos a que a fonte se refere so do empreiteiro que fez as casas. A chapa de identificao
est mesmo entrada do bairro Chinhangane: Empreiteiro: Huse Construes, Fiscalizao:
arquitecto Lus Bernardo Nhaca, Tcnico responsvel: Engenheiro F. Fernandes, Dono da obra
MITUR.
O interlocutor est satisfeito com o novo bairro. Descansou das disputas com os animais bravios,
mas h outras preocupaes. Somos obrigados a ter currais dentro do quintal da casa por causas
de roubo de gado. No curral do meu vizinho roubaram trs cabeas h uma semana.
Ainda em Chinhangane, o SAVANA ouviu Amlia Salomo Mathe. Ela no tem dvidas que as
casas foram mal construdas: as casas desabavam ainda na fase de construo. H muitos
entulhos de pedras de blocos no mato, disse. Sua casa tambm no escapou a fis suras: Encheram
areia nos blocos. Durante a construo houve muito roubo de cimento.
Amlia Mathe diz que foi com muita sorte que as casas apresentaram problemas ainda no
decorrer do primeiro ano, pois a garantia de um ano.
Fora dos problemas da casa, a me de trs filhas est preocupada com a gua do furo aberto no
mbito de reassentamento. A gua to salgada que quando usamos na cozinha no precisamos
de meter sal na comida, conta. Para abastecer sua famlia, Mathe tira gua numa fontanria
montada numa escola local, a meio quilmetro da sua casa.

Populao no descansa no parque

Enquanto o processo de reassentamento no avana, os animais bravios continuam a tirar sono
s populaes residentes no interior do parque. Estamos com muita fome. Os elefantes comem
tudo o que semeamos, reclama Assita Valoi, cuja idade ignora. Na pequena cabana Assita vive com
cinco netos cujos pais (seus filhos) morreram. Quando os elefantes aparecem batemos em chapas
de zinco, sopramos em vuvuzelas, s vezes fogem porque no suportam barulho, explica. Tudo o
que ela quer sair de Mavodze para fora do parque. Para alm dos elefantes, esto os hipoptamos.
Tiramos gua num riacho, l h muitos hipoptamos e lees que vo caa das suas presas.
Mas o chefe do posto administrativo de Mavodze diz que foi em 2007 e 2008 que tiveram muitos
problemas com lees. Agora raramente aparecem, acho que tm muitos animais no mato, indica
Boaventura Jossefa Chone, 57 anos, pai de seis filhos.
No interior do parque, a populao est proibida de caar e abater animais bravios.
Conta que em 2008, apareceram lees e mataram oito cabeas de vacas em Macavele - outro
bairro no interior do parque, mas agora o maior problema com elefantes. Jackson Cuna, 48 anos,
residente em Macavele, tem flechas, mas no pode atirar contra qualquer animal bravio porque
proibido. H penalizaes para as pessoas que abatem animais bravios, mas j no dizem nada
quanto aos animais que atacam pessoas ou destroem machambas, comenta.
Um dos fundadores da comunidade de Macavele, Jackson ignora as razes que levam o Estado a
agir desse modo. Ns reconhecemos que somos cidados por causa do governo, mas eles no
sabem que s tm poder devido nossa existncia. Construiu a sua habitao em 1995, ano do
seu regresso da frica do Sul para onde havia se refugiado durante a guerra. Cuna diz que a sua
famlia esposa e sete filhos est preparada para sair do parque. Desde 2000, o Governo s
conseguiu tirar 18 famlias em Nanguene. Vm fazer muitas reunies, mandaram-nos escolher um
bairro para sermos reassentados. Escolhemos Banga, mas at aqui no h nada de concreto,
lamenta, desconfiando que eles devem estar a ganhar dinheiro em nosso nome.
O interlocutor nega que h pessoas ligadas caa furtiva na sua comunidade. Aqui ainda no
encontraram pessoas a caar. Ns no precisamos de ir atrs de animais do parque para comer
carne. Temos vacas, cabritos e galinhas. Para Cuna, as pessoas que desenvolvem caa furtiva no
vivem no parque. So pessoas que esto procura de marfim para vender. Eu nem sei qual a
ultilidade de marfim.

gua suja
No de estranhar que diarreias e infeces gastrointestinais aflijam a comunidade de
Mavodze, localizada dentro do Parque Nacional de Limpopo.
Desde que o furo de gua deixou de funcionar, h mais de um ano, 2,500 adultos e crianas
bebem gua da Albufeira de Massingir, em cuja margem est a aldeia. Tiram a gua do mesmo
lugar onde tomam banho e lavam roupa. onde o gado bebe.
A enfermeira Aida Jos Vilanculos, 23 anos, desespera. Ela aconselha as pessoas a ferver a
gua ou passar pelo posto de sade para apanhar comprimidos de cloro gratuitamente, mas
sem sucesso.
A comunidade rejeita tanto o cloro como ferver, e no sei porque, disse ela ao SAVANA.
Outro problema que a maioria dos partos ocorrem em casa ou na machamba para que
ningum veja o beb, por medo do feitio, explica Vilanculos.
H duas parteiras tradicionais em Mavodze. Vilanculos no sabe quantas h nas outras
aldeias dentro do Parque.
No dia da visita da equipa do SAVANA, activistas da malria organizavam uma palestra e
distribuam redes mosquiteiras sob uma chuva mida: muitas mulheres e crianas, alguns
homens, poucos, as autoridades locais e pessoal de sade.
A malria no um problema to srio aqui, insiste Vilanculos. A falta de gua potvel .