A Identidade Cultura
A Identidade Cultura
A Identidade Cultura
INTRODUO
H algum tempo questes sobre diferena cultural tm ganhado mais espao nas
discusses e preocupaes no mbito educacional. Uma das evidncias desta afirmativa
est refletida nos Parmetros Curriculares Nacionais, publicado pelo governo, no ano de
2000, onde um dos cinco temas transversais o Pluralismo Cultural.
A pluralidade de culturas nos convoca a nos vermos como seres sociais atuantes
e participantes dessas mltiplas culturas. Quando nos aproximamos dessas questes
culturais as percebemos de forma concreta possibilitando at novos contornos e olhares.
De acordo com Santos,
a discusso sobre cultura pode nos ajudar a pensar sobre nossa prpria
realidade social. De fato, ela uma maneira estratgica de pensar
sobre nossa sociedade, e isso se realiza de modos diferentes e s vezes
contraditrios1.
1
(2003, p. 9)
2
2
(1994, p.134)
3
3
(2003, p. 45)
4
(2003, p. 47)
5
Gamboa, 1997, p. 43.
6
KOCHE, 1997, p.122.
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E CULTURA, O QUE ?
Nesta perspectiva, cultura pode ser entendida no seu conceito mais amplo que
engloba os modos de vida em vrios segmentos da nossa sociedade, religio, poltica,
raa, economia, etnia, entre outros, traz a cultura como um conseqncia ou produto da
ao humana na vida em sociedade.
Ainda nesta direo, Santos (2003) aproxima-se da concepo de Williams e
Thompson (2006), no entanto eles trazem um enfoque mais voltado para as prticas e
relaes sociais. Para eles, cultura era uma rede de prticas e relaes que constituam a
vida cotidiana dentro da qual o papel do indivduo estava em primeiro plano.
J Costa, Silveira e Sommer (2003) nos direcionam para uma perspectiva
histrica do conceito que antes significava apenas sofisticao e aos poucos o popular
tambm passou a ter como referncia a mesma palavra. O termo cultura deixou,
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Ferreira, 2000.
8
(2003, p. 44)
6
9
(2003, p. 44).
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Concebem a vida social como interaes mediadas simbolicamente. O simblico no resultado da
interao do sujeito consigo, nem do sujeito com o objeto, mas do sujeito constitudo e do sujeito
projetado pela linguagem. O sujeito est em si e est no outro em interao, construindo a realidade. Os
primeiros interacionistas simblicos foram George Hebert Mead, Hebert Blumer e Charles Cooley.
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(1992, p.13)
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homem, no seu lugar e na sua funo numa rgida sociedade hierrquica. Houve uma
nfase similar, no protestantismo, na relao direta ou individual do homem com Deus,
em oposio a esta posio descrita antes, pela Igreja.
Ainda no sculo XVlll, ainda tnhamos os processos de vida centrados no
individuo, chamado sujeito da razo, no entanto, medida que as sociedades
modernas se tornavam mais complexas, elas adquiriam uma forma mais coletiva e
social. A partir da ento, as teorias clssicas, baseadas nos direitos e consentimentos
individuais, foram obrigadas a dar conta das estruturas do todo e das grandes massas.
Alm destes, dois outros importantes eventos contriburam para a articulao do sujeito
moderno. O primeiro foi a biologia Darwiniana, a partir dele o sujeito foi biologizado
com base na natureza. E o segundo foi o surgimento das novas cincias sociais.
O estudo do indivduo e de seus processos mentais se tornou objeto de estudo
especial e privilegiado na psicologia. A sociologia forneceu uma crtica ao
individualismo racional do sujeito cartesiano. Desenvolveu uma explicao alternativa
do modo como os indivduos so formados subjetivamente atravs de sua participao
em relaes sociais mais amplas, e inversamente do modo como os processos e as
estruturas so sustentadas pelos papis que os indivduos neles desempenham.
Nesse sentido, Hall (2006) destaca cinco grandes contribuies ocorridas na
teoria social e nas cincias humanas, no perodo da modernidade tardia12, cujo maior
efeito foi o descentramento final do sujeito cartesiano. A primeira refere-se ao
movimento marxista, a segunda teoria freudiana, a terceira diz respeito ao trabalho
desenvolvido por Ferdinand Saussure, a quarta corresponde aos estudos de Michel
Foucault e a quinta e ltima contribuio foi o impacto do movimento feminista, tanto
como uma crtica terica, quanto como um movimento social.
O movimento feminista, porm, teve uma relao mais direta com o
descentramento conceitual do sujeito cartesiano e sociolgico. Ele abriu para a
contestao da poltica, da famlia, da sexualidade, da diviso domstica do trabalho, do
cuidado com as crianas e enfatizou a forma de como somos formados e produzimos
sujeitos, ou seja, ele tornou poltica a subjetividade, a identidade e o processo de
identificao, como homens, mulheres, mes, pais, filhos e filhas. Posteriormente, o que
comeou como um movimento dirigido a contestao da posio social das mulheres
expandiu-se para a formao das identidades sexuais e de gneros.
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Terminologia utilizada por Stuart Hall (2006) para referir-se ps-modernidade.
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13
(2006, p.12)
14
(1998, p. 63)
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uma nova perspectiva que aponta para a compreenso do hibridismo, que constituem as
identidades e as relaes entre os sujeitos.
Essa conceptualizao do que vem a ser principalmente a terminologia
diferena, uma discusso que vem sendo realizado h algum tempo e uma
problemtica demarcada por limites terico-filosficos. Os primeiros estudos no
ocidente sobre a definio conceitual de identidade surgem com a discusso entre
Herclito e Parmnides15. A idia de permanncia e essncia universal eram os
principais pontos de reflexo da poca.
Um pouco depois Plato prope-se a discutir sobre a esta tenso existente entre
Herclito e Parmnides, fazendo surgir nos seus escritos o conceito de identidade, que
para ele acontece em decorrncia de identificar e distinguir o mundo sensvel do mundo
inteligvel. J para Aristteles identidade e diferena so sempre algo que se estabelece
entre os seres. O interesse deste ltimo era com a diferena especfica.
Tanto Aristteles, quanto Plato, so adversrios da diferena pura, concepo
trazida por Gilles Deleuze (2000). Ele se ope aos fundamentos e princpios da
identidade, utilizadas por esses dois pensadores. De forma geral, podemos dizer que a
diferena pura afirma a prpria diferena em si, fora da representao das imagens e
objetos do mundo real e fora da comparao dos conceitos de igualdade ou
desigualdade, semelhana ou dessemelhana entre as coisas e os sujeitos.
CONSIDERAES FINAIS
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Parmnides e Herclito so filsofos chamados pr-socrticos e de pensamentos comumente opostos.
Para Parmnides o ser no gerado, imutvel, incorruptvel e uno, enquanto que para Herclito no
h o imutvel, tudo flui, tudo mvel.
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forma salutar, sem provocar outros tipos e maneiras de excluso, seria necessria a
desconstruo, pluralizao, ressignificao, seria necessrio uma reinveno e
aceitao de novas identidades e subjetividades, saberes, valores, convices. Podemos
dizer que est reinveno, vem ocorrendo, e atualmente de maneira mais evidente e
rpida, porm por outro lado, a aceitao vem ocorrendo de maneira mais tmida e lenta.
De acordo com Candau (2005) somos obrigados a assumir o mltiplo, o plural, o
diferente, o hbrido, na sociedade como um todo. Se o objetivo no excluir, no
discriminar, no marginalizar, este o exerccio a ser feito e refeito, pensado e
repensado cotidianamente.
Nessa perspectiva, Boaventura Santos (2002) nos diz que temos o direito de
sermos iguais, quando a diferena nos discrimina, nos marginaliza, nos exclui. Assim
como, temos o direito de sermos diferentes, quando a igualdade sucumbe nossa
identidade. O ideal a valorizao da igualdade com o respeito e o reconhecimento das
diferenas individuais, das necessidades de cada um.
Por fim, entendemos que a luta contra os esteretipos e os processos
discriminatrios, assim como a defesa da igualdade de oportunidades e o respeito s
diferenas no um movimento simples, j que, os mesmos argumentos desenvolvidos
para defender relaes mais plurais, dependendo do contexto e do jogo poltico que se
encontram, podem tambm ser utilizados para legitimar processos de excluso e
discriminao.
REFERNCIAS