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Segawa

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SEGAWA, Hugo: Arquiteturas no brasil 1900-1990. So Paulo: Ediusp, 1999.

2
Edio.

O ano de 1914 pode ser considerado a data inaugural de um movimento que


incorporou um componente indito no debate sobre a modernizao da arquitetura no
Brasil. Neste ano, Ricardo Severo (1869-1940) proferiu na Sociedade de Cultura
Artstica uma conferncia, A Arte Tradicional no Brasil , preconizando a valorizao
da arte tradicional como manifestao de nacionalidade e como elemento de
constituio de uma arte brasileira. Discorrendo sobre as origens portuguesas da cultura
brasileira, Severo defendia o estudo da arte colonial como orientao para perfeita
cristalizao da nacionalidade. Severo no defendia uma postura propriamente
conservadora. (...)Radicando-se definitivamente no Brasil em 1909, associou-se ao
maior escritrio de engenharia e arquitetura em So Paulo, o Escritrio Tcnico Ramos
de Azevedo, e iniciou seu proselitismo por uma arte nacional. (p. 35)

A publicao de sua conferncia de 1914 e de outra palestra, conferida na Escola


Politcnica de So Paulo em 1917, constituem as primeiras tentativas de sistematizao
do conhecimento sobre a arquitetura tradicional brasileira. Todavia, a manifestao
pioneira de Severo no encontrou rebatimento imediato em forma de obras realizadas,
porquanto a deflagrao da Primeira Guerra (1914-1918) repercutiu negativamente no
ritmo da construo civil no Pas. Victor Dubugras, neste sentido, j em 1915 projetava
as primeiras casas de inspirao tradicional na cidade de Santos. (p. 35-36)

A propagao dessas idias lastrava-se num sentimento de nacionalismo que se


intensificava desde as comemoraes do quarto centenrio do descobrimento do Brasil.
(p. 36)

Foi o proselitismo do mdico e historiador de arte Jos Mariano Filho (1881-1946), no


Rio de Janeiro, no entanto, que assegurou maior repercusso linha tradicionalista com
maiores conseqncias que a ao de Severo em So Paulo. Responsvel pela
denominao neocolonial ao movimento, seu ativismo, a partir de 1919 como
idelogo e incentivador junto aos arquitetos e artistas, abriu espao para que uma srie
de obras pblicas de porte fossem executadas com inspirao na arquitetura tradicional
brasileira.(...)Na Exposio do Centenrio do Rio de Janeiro em 1922 comemorao
da independncia brasileira alguns dos principais pavilhes foram projetados dentro
do esprito neocolonial. (p. 36)

O reconhecimento oficial do neocolonial e a construo de importantes edifcios


pblicos nesta linha vulgarizaram os elementos ornamentais de gosto tradicional a ponto
de serem apropriados, em todo Brasil, em edificaes to distintas quanto habitaes
populares ou postos de gasolina. A aplicao indiscriminada do neocolonial gerou uma
acalorada discusso entre os arquitetos e artistas - tendo como opositores sistemticos os
defensores do pensamento Beaux-arts mais ortodoxo, ou que julgavam a arte colonial
brasileira ou a barroca portuguesa destitudas de contedo esttico significativo. (...)
interessante registrar o carter de progresso que os defensores do movimento
atribuam ao neocolonial.(p.37)

O movimento neocolonial teve seu apogeu na dcada de 1920; praticado ou apropriado


popularmente nas dcadas seguintes, a fora instauradora contida em seus postulados foi
fenecendo imitaes inconsistentes e destitudas da carga ideolgica formulada pelos
seus idealizadores.(p.38)

Essa negao completa do (quase) totalmente novo permite situar o neocolonialismo


numa posio simtrica ao sistema Beaux-arts; ambos se sustentam e se legitimam no
passado; com discursos tautolgicos demonstram teses repetindo-as com palavras
diferentes. O perfil distinto na retrica neocolonial o tempero nacionalista; o
repertrio sistematizado das formas do colonial brasileiro ou do barroco ibrico
enquanto indicador de manifestao nacional, no lugar das regras clssicas, seria o
rompimento norma. Efetivamente, estes aportes no prope uma ruptura estrutural
apenas a substituio de formas. Mudam-se as formas, no os princpios. O neocolonial,
na prtica concreta, afigurou-se como uma variao do ecletismo no que busca eleger
um estilo mais adequado para o fim que se tinha em vista (...) (p. 38)

A Frana sublimou uma noo de moderno de difcil caracterizao. A grande


celebrao modernidade, a Exposition Internationale ds Arts Dcoratifs es Industriels
Modernes, em 1925, bem espelhou a busca de qualquer modernidade, a necessidade de
exprimir idias novas, de tentar ser moderno mesmo sem que se pudesse esclarecer o
que isso significava ou como se chegava a condio de moderno. A busca de um
comportamento novo refletia a instabilidade de uma sociedade mais preocupada com
prazeres efmeros que com realizaes durveis o termo ler anes folles, aplicado
dcada de 1920 sintomtico -, incapaz de fixar uma escolha entre uma herana cultural
do sculo 19 e as perspectivas industrialistas da era da mquina. Essa ambigidade
tambm alimentou os sonhos de uma afluente sociedade norte-americana, que tomou
emprestado e multiplicou os artifcios decorativos do lado prspero da cultural europia
artifcios que, dcadas depois, convencionou-se chamar Art Dco.(p. 54)

A modernidade de vanguarda nutriu a difusa perspectiva Art Dco, e essa diluio o


ponto de antagonismo entre as vanguardas e o Dco. O engajamento poltico ideolgico
(...)[das vanguardas] foram todos manifestos contrrios ao otimismo e frivolidade
Dco, nascidos em contextos histricos convulsivos, com assumido engajamento
ideolgico e social. Funcionalismo, utilitarismo, estandardizao, foram palavras de
ordem numa formulao de modernidade engajada. (p. 54)

No extremo-sul do pas, uma outra obra foi precursora isolada de uma linha
racionalizante da arquitetura, sobretudo pela sua funo utilitria: o edifcio do Moinho
Chaves, em Porto Alegre, construdo em 1921 com projeto do arquiteto alemo Theo
Wiederspahn (1878-1952). Fachada marcada por pilastras acentuando a verticalidade,
repetitividade de janelas e apenas uma discreta linha de cimalha e desenho de
platibanda, o tratamento externo do edifcio industrial de quatro pavimentos parecia
refletir a sobriedade do programa arquitetnico. Uma construo que passaria
despercebida hoje, no tivesse sido realizada no incio da dcada de 1920. Wiederspahn,
radicado no Brasil em 1908, pode ser considerado um arquiteto que trouxe informaes
sobre a arquitetura alem das primeiras dcadas do sculo, produzindo algumas obras
que refletiam preocupaes modernizantes, embora a maioria de seus trabalhos
ostentassem compostura tradicional. (p.56-57)

O marajoara e outras figuraes pr-colombianas foram recorrentes na decorao de


interiores nos anos 1930, e seu geometrismo combinava com o gosto Dco. (p 61)
O Art Dco foi o suporte formal para inmeras tipologias arquitetnicas que se
afirmavam a partir dos anos d3e 1930. O cinema (e por associao, alguns teatros), a
grande novidade entre os espetculos de massa que mimetizava as fantasias da cultura
moderna, desfilava sua tecnologia sonora e visual em deslumbrantes salas no Rio de
Janeiro, em So Paulo e algumas outras capitais em verdadeiros monumentos Dco;
algumas sedes de emissoras de rdios foram construdas ao gosto (...) (p. 61)

Um evento de maior porte, a Exposio do Centenrio da Revoluo Farroupilha em


Porto Alegre, no ano de 1935 (...) Contando com pavilhes tematicos, (...) predominava
a figurao Dco nos edifcios (inclusive com a variao marajoara no pavilho do
Par).(p. 62)

Na dcada de 1930, a linguagem Art Dco estaria associada ao envoltrio por


excelncia das grandes estruturas que romperiam os horizontes urbanos desenhados
pelos homens, marcados sobretudo (ou aopenas) pela verticalidade de dtorres sineiras de
igrejas ou referncias semelhantes (p. 64)

Na maioria das grandes cidades brasileiras nas dcadas de 1930 e 1940 as estruturas
altas de gosto Dco ou variaes predominariam na verticalizao das paisagens.
Usualmente, eram edifcios comerciais: nos anos de 1930/40, o arranha cu era um
investimento pesado, e mesmo nos Estados Unidos, pairavam dvidas quanto a sua
viabilidade tcnica e econmica. Enquanto soluo para habitao no Brasil, o edifcio
em altura era um desafio para uma sociedade que desconhecia esse modo de vida, tido
como promscuo. (p. 64)

As linhas geometrizantes foram caracterizadoras da arquitetura escolar dessa poca


[dcada de 30]. Todavia, no se tratava apenas de uma preocupao esttica. (p. 66)

No Rio Grande do Sul, a Seo de Arquitetura da Duiretoria de Obras da cidade,


chefiada por Christiano de la Paix Gelbert desenvolveu projetos ao gosto Dco, como o
Hospital de Pronto-Socorro (1940-43), o Centro de Sayude Modelo (1940-43) e o
Mercado Livre (1943). (p. 69)

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