Intro Psi Hospitalar Cap 1
Intro Psi Hospitalar Cap 1
Intro Psi Hospitalar Cap 1
Horizontes da
PSICOL06IA
HOSPITALAR
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SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOLOGIA HOSPITALAR 1
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PSICOLOGIAHOSPlTAl,J\R ia+-Atheneu
,
Tnia Rudnicki
Beatriz Schmidt
1 Nveis de ateno sade: de acordo com a Lei 8.080/1990, as aes e os servios pblicos de sade,
bem como os servos privados conveniados ou contratados que integram o Sistema nico de Sade (SUS),
devem estar organizados de forma regionalizada e hierarquizada, considerando nveis crescentes de com
plexidade, de modo a oferecer assistncia em carter preventivo e curativo, individual e coletivo, na pers
pectiva da integralidade. Assim, no mbito do SUS, o cuidado com a sade est ordenado nos seguintes
nveis de ateno: bsica, mdia complexidade e alta complexidade (Brasil, 2005).
Psicologia da Sade e Psicologia Hospitalar: Aspectos Conceituais e Prticos
locais e possibilidades para atuao. Salienta-se que no houve a assimilao por com
pleto dessas necessidades do ponto de vista da formao do profissional para atuar nos
contextos de sade, muito embora elas j sejam reconhecidas (Sabrosa et al., 2014).
Neste sentido, o objetivo do presente captulo refletir sobre aspectos conceitu
ais e prticos da psicologia da sade e da psicologia hospitalar. Particularmente, sero
apresentadas algumas especificidades do cenrio de sade brasileiro associadas ao sur-
0imento da psicologia hospitalar, incluindo caractersticas dessa especialidade segundo
o Conselho Federal de Psicologia (CFP), a psicologia da sade e o contexto hospitalar,
conceituaes e prticas.
De tal maneira, considerando a Resoluo do CFP, que versa sobre o ttulo profissio
nal de especialista em psicologia, percebe-se que o contexto hospitalar ora apresentado
como um possvel local de trabalho do psiclogo (no caso da especialidade psicologia
clnica), ora como definidor de uma rea de conhecimento (no caso da especialidade de
psicologia hospitalar). Destaca-se que diferentes autores tm discutido a adequao da
denominao psicologia hospitalar por se pautar em um local de trabalho e no uma rea
de conhecimento (Almeida & Malagris, 2011; Carvalho, 2013; Castro & Bornholdt, 2004;
Gorayeb, 2010; Sabrosa et al., 2014). Igualmente, essa confuso terminolgica pode vir a
fragmentar e a pulverizar o campo profissional, o que dificultaria ao psiclogo inserido em
instituio hospitalar a formao de uma identidade de profissional da sade (Carvalho,
2013). Com base nesses assinalamentos, considera-se relevante discutir aspectos concei
tuais e prticos atinentes psicologia da sade, com o intento de associ-la atuao do
psiclogo no contexto hospitalar, o que ser realizado na seo a seguir.
_do em 2003, Spink refere que j era consenso que o psiclogo deveria adaptar suas
:rticas, no se restringindo apenas utilizao do modelo clnico para seu trabalho nos
ntextos de processos de sade e doena. Esta adaptao, porm, configurou-se como
processo complexo, estando ainda em andamento. Assim, em territrio nacional, a
cologia da sade foi desenvolvida inicialmente no contexto hospitalar. Entretanto,
:. partir de 1990, ampliou sua atuao e passou a realizar estudos e intervenes em
utros mbitos, nos quais trabalhava com a sade de indivduos, de famlias e de comu-
dades, por exemplo. (Sabrosa et al., 2014).
Tal origem da psicologia da sade deixou marcas, levando inclusive a certa confuso
entre psicologia hospitalar e psicologia da sade, como indicado anteriormente (Al
meida&:. Malagris, 2011; Carvalho, 2013; Castro&:. Bornholdt, 2004; Gorayeb, 2010;
Sobrosa et al., 2014). A psicologia hospitalar pode ser considerada uma subrea da
psicologia da sade, a qual necessita de intervenes adequadas a um ambiente no qual
as prticas costumam ser baseadas em evidncias, uma vez que o modelo biomdico
ainda predomina nas instituies hospitalares. O termo psicologia da sade, contudo,
apresenta conotao mais ampla, medida que abarca tambm os nveis primrio e
secundrio de ateno sade (Almeida&:. Malagris, 2011; Gorayeb, 2010; Sabrosa et
al., 2014).
A psicologia da sade norteia seu trabalho de forma abrangente, com vista inser
o profissional do psiclogo em equipe interdisciplinar, dada a noo de integralidade
da sade. Esta conceituao pode ser mais bem explicitada nas palavras de Matarazzo
(1980), que a define como disciplina composta por um conjunto de contribuies cien
tficas, educacionais e profissionais, especficas da psicologia, visando a promoo e a
manuteno da sade, a preveno e o tratamento das doenas, a identificao da etio
logia e os diagnsticos relacionados sade, doena e s disfunes associadas, bem
como o aperfeioamento de polticas da sade.
Assim, a psicologia da sade objetiva compreender os fatores biolgicos, compor
tamentais e sociais que influenciam na sade e na doena. Tal definio foi adotada
pelos psiclogos da sade no mundo e apresenta algumas caractersticas que merecem
destaque. Primeiramente, a psicologia da sade est claramente definida como uma rea
da psicologia. Segundo, a aplicao da psicologia em diversas prticas relevantes para
a sade. Em terceiro lugar, est preocupada com o comportamento de pessoas sadias
e enfermas. uma perspectiva relacionada sade positiva e implica na promoo da
sade tanto quanto no tratamento da doena. Um quarto ponto, a psicologia da sade
se concentrou no comportamento normativo mais do que na enfermidade fsica e mais
do que na doena mental. Esse fato contrasta com o campo da psicologia clnica. Em
quinto lugar, refere-se queles que esto em uma posio especfica e no se restringe
aos pacientes, pois inclui os comportamentos dos familiares e dos profissionais da sade
0ohnston, 1990).
Dentre as principais razes para a implementao e para o crescimento da psicolo
gia da sade, podem ser apontadas: as mudanas nos tipos de doenas, nas formas de
cuidado e de ateno sade e na prpria psicologia (Broome, 1989; Feuerstein Labbe
HORIZONTES DA PSICOLOGIA HOSPITALAR Saberes e Fazeres
& Kuczmierczyk, 1986). As doenas infecciosas como uma importante causa de mor
bimortalidade praticamente desapareceram. No seu lugar, as principais causas de morte
nos adultos so os cnceres, as doenas cardiovasculares e os acidentes automobilsticos.
Alm disto, o desenvolvimento tecnolgico no ambiente hospitalar conduziu a padres
diferentes no cuidado de sade e doena. Em muitos lugares os procedimentos mdicos
foram alterados, conseguindo reduzir o tempo de internao hospitalar ou muitas vezes,
at evit-la. Desta forma, as contribuies psicolgicas passaram a ser relevantes.
Desenvolvimentos importantes possibilitaram o aparecimento da psicologia da sa
de. Primeiro, os programas de investigao vm demonstrando cada vez mais os laos
entre os processos emocionais, comportamentais e sociais com as mudanas fisiolgicas,
incluindo mudanas fisiopatolgicas; alm disso, a crescente eficcia dos tratamentos
psicolgicos.
Dentre as principais reas da psicologia da sade encontram-se a promoo da
sade e a modificao de estilos e hbitos de vida; relao de estados psicolgicos ou
de fatores cognitivos com os processos sade-doena; estresse e doena; estratgias de
enfrentamento (coping) e intervenes para melhor-las frente a fatores estressores;
apoio social. A investigao em psicologia da sade pode ser identificada pelo status de
sade objetiva e a estrutura terica utilizada. Isto pode ser visto explorando o uso da
teoria do estresse-enfrentamento, primeiro para compreender o risco e, segundo, em re
lao com o respeito aos pacientes que esto recebendo tratamento de sade (Frankhau
ser, 1983; Rodriguez-Marn, 2003).
A aplicao e a prtica da psicologia da sade inclui a avaliao dos comportamentos
de sade - que compreende educao para a sade, promoo de sade e intervenes
que visam reduzir a conduta de risco doena-, bem como reduzir os efeitos da doena
e incrementar condies para enfrentamento da doena e dos procedimentos mdicos;
avaliao das intervenes de cuidado de sade; treinamento de outros profissionais de
sade em psicologia da sade; consultoria a outros profissionais de sade.
Os psiclogos da sade trabalham em vrios pontos de aplicao e prtica, incluin
do uma variedade de marcos de cuidados de sade. Atuam em nveis diferentes, como
na comunidade, nas organizaes, junto a grupos de usurios de servios de sade aco
metidos por patologias ou em variados tratamentos, grupos de profissionais da sade,
tais como agentes comunitrios de sade, dentre outros.
Consideraes finais
Mudanas recentes na forma de o psiclogo circular na rea da sade vm gerando
transformaes em sua prtica. Se em determinadas pocas a atuao do psiclogo este
ve prioritariamente calcada na perspectiva clnica exercida nas instituies hospitalares,
atualmente a amplitude envolve o saber psi necessitando um urgente entrecruzamento
de suas delimitaes (Santos &Jac-Vilela, 2009).
Psicologia da Sade e Psicologia Hospitalar: Aspectos Conceituais e Prticos
_ o geral, a psicologia no possui uma coeso entre suas ideias e prticas. Tal fato
uma perspectiva de ao pouco coesa e coerente na rea da sade. Por outro lado,
mesmo possibilita uma variedade imensa de atuaes e estilos, gerando essa prpria
- ersidade de perspectivas, o que culmina em um terreno excessivamente hbrido para
_ - ao (Santos & Jac-Vilela, 2009).
. esse sentido, considera-se que a psicologia da sade no Brasil ainda est se es
::---1turando como uma nova rea de conhecimento. A abertura recente de novos locais
--> trabalho, sobretudo aps a vigncia do SUS, est cada vez mais tornando premente
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