Psicologo Na Pediatria

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BREVES CONSIDERAES SOBRE O PAPEL DO

PSICLOGO HOSPITALAR NA PEDIATRIA


Aluna: Sabrina Emanuele A. Sampaio*
Prof. Orientadora: Mnica Osrio
Resumo: O psiclogo clnico-hospitalar procura promover a sade e intervir de
maneira a minimizar as fantasias, medos e ansiedades advindas do contexto
peditrico o qual gera uma quebra na rotina diria da criana, trazendo
repercusses psicolgicas. As aes do psiclogo so direcionadas para a
criana e a famlia. Ela atua em conjunto com a equipe de sade, utilizando
como um dos recursos teraputicos a ludoterapia. Diante disso, o presente artigo
tem por objetivo analisar as possibilidades e desafios com os quais psiclogo se
depara no atendimento psicolgico infantil na Pediatria.

Palavras-chave: psicologia clnico-hospitalar, pediatria e infncia.

1. INTRODUO
No mbito hospitalar, a psicologia vem se transformando
dentro das vrias perspectivas tericas e de forma mais sistmica
dentro do saber, porm ainda existem dificuldades nesta rea. Esto
em desenvolvimento vrios recursos metodolgicos e tcnicos nesse
campo. No entanto, a Psicologia Hospitalar tem despertado o
interesse de muitos estudantes e psiclogos, devido s
possibilidades de atuao e por ser uma rea pouco explorada e
muitas vezes inexistente nos hospitais.
A psicologia no contexto hospitalar prope uma tendncia
participativa e interdisciplinar em sade, buscando superar as
lacunas tericas que dificultam a prtica do psiclogo neste
ambiente. O profissional de sade atua fornecendo assistncia ao
* Aluna do 10o perodo do curso de psicologia da FACHO.

Psicloga, especialista em Gesto da Capacidade Humana nas Organizaes


(UPE-FCAP), mestre em psicologia cognitiva (UFPE), professora do curso de
Psicologia e coordenadora de estgio em Psicologia Hospitalar da FACHO;
professora da FBV- seqenciais Boa Vista e do curso de psicologia da FPS
(FBVIMIP).

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paciente, famlia e equipe de sade, sempre buscando o bemestar fsico e mental destes, num contexto de trabalho que possui
caractersticas distintas e peculiares. No caso do atendimento
infantil a trade paciente/famlia/equipe tambm contemplada, de
forma que o psiclogo possa fazer uso da escuta clnica e dos
recursos ldicos.
O presente artigo busca discutir os desafios do profissional
de psicologia no ambiente hospitalar de pediatria, assim como as
possibilidades psicoteraputicas no atendimento criana e sua
famlia. Para tal, utilizou-se como recurso metodolgico o
levantamento terico apoiado na descrio das atividades da prtica
profissional com base na experincia de estgio.
Nesse estgio foram realizados atendimentos com crianas
e suas famlias, visitas enfermaria com leitura de pronturios para
a identificao das doenas e dos motivos de internao, anlise do
processo de adoecimento e escuta da famlia e da criana, para a
identificao do processo de recuperao.
Neste trabalho, ressalta-se a relevncia da ludoterapia
como recurso psicoteraputico infantil, assim como o papel do
psiclogo hospitalar como suporte emocional, a fim de fornecer
subsdios, nas mais diversas formas de comunicao, para que o
paciente expresse suas emoes e se coloque como sujeito ativo e
participante do seu processo de recuperao.

2. HOSPITALIZAO INFANTIL
As noes de sade passaram por transformaes
significativas na atualidade. A partir deste fato, fez-se necessrio
uma maior reflexo e mudana na maneira de encarar a sade e a
doenas relacionadas a crianas hospitalizadas.
O tecnicismo exagerado e a falta de humanizao dos
contextos hospitalares acarretaram piora na qualidade do
atendimento, explicitando o carter capitalista que a medicina
adotou, fugindo do principal objetivo da cincia mdica, que visa
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promover a sade de forma holstica, como defendia Hipcrates.


Percebe-se o quanto se deve proteger a criana dos atendimentos
impessoais e agressivos, visto que a sade no depende apenas do
tratamento por meio de posies mdicas: deve-se acolher o doente
numa perspectiva biopsicossocial.
A hospitalizao de crianas est geralmente atrelada ao
aparecimento de patologias e no raro ocasiona para elas limitao
das atividades dirias, ausncia do convvio social e por vezes at
privado da individualidade, gerando repercusses psicolgicas. No
caso da nossa experincia de estgio, observou-se que estas crianas
apresentavam repercusses psicolgicas desta natureza, e, sobretudo
percebeu-se uma freqncia considervel de crianas com
depresso. Entende-se por depresso um indivduo com humor
deprimido, com perda de interesse e prazer, com fatigabilidade
aumentada. Esses so usualmente tidos como os sintomas mais
tpicos da depresso ou pelo menos dois desses (CID10, 1993, p.
119).
Na infncia, a depresso pode ser percebida atravs de
sinais como uma certa irritabilidade e tristeza, mudanas de
comportamento que evidenciam desmotivao, no querer interagir
com outras crianas, etc. mas deve-se analisar tambm o ambiente
da criana e suas caractersticas de personalidade. Isso significa que
no encontraremos duas crianas com as mesmas condies, mas
isso no impede a possibilidade de uma avaliao. Por isso a anlise
de um psiclogo importante, podendo discutir tecnicamente se a
criana tem depresso ou no ( MAROT, 2004).
Antes da aquisio da linguagem falada, a criana se
comunica pela expresso facial e pela postura corporal. A criana
quando deprimida, pode apresentar-se irritvel ou com humor
instvel. Algumas tm exploses temperamentais ou mostram-se
chorosas e tristes, com perda de interesses para as atividades e no
iniciativa para brincar. Queixas somticas so comuns como dor de
cabea, dores musculares ou abdominais, cansao, falta de apetite,
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memria e ateno comprometidas. Tais crianas se distraem toa e


tm dificuldade de memorizao. No entanto, no basta a
medicao para trat-las: a orientao psicoterpica tambm
necessria.
Na internao e com a rotina hospitalar percebe-se que a
criana encontra dificuldade em estabelecer e cumprir regras e
horrios hospitalares, que so distintos de seu dia a dia (casa,
escola, relao familiar). De forma que a equipe de sade deve ser
sensvel a estas questes. Nesse contexto, geralmente, o psiclogo
facilita a relao do paciente com a instituio hospitalar e equipe
de sade, traduzindo e minimizando os reflexos das normas
hospitalares (ROMANO, 1999).
Na hospitalizao, alguns sintomas podem surgir, como a
ansiedade, o estresse atrelado aos procedimentos, a adaptao
doena, ao tratamento e a presena de instabilidade emocional
recorrente a tantas mudanas. Os sintomas se tornam mais amenos
quando a criana dispe de um suporte psicolgico que lhe
proporcione uma melhor compreenso e expresso dos seus
sentimentos e ansiedades.
Nesse contexto, quanto mais nova a criana, maior a
propenso progresso dos sintomas em virtude da no
compreenso da situao, pois a criana frequentemente acredita
que a doena uma forma de punio adotada pelos pais
relacionada por causa de sua desobedincia (CHIATTONE, 2003).
Esta crena deve ser desmistificada no acompanhamento
psicolgico.
A hospitalizao da criana por um perodo prolongado
pode desenvolver desajustes comportamentais, mesmo que
passageiros, ocasionando alteraes na personalidade, no
desenvolvimento intelectual e afetivo. Nessa ocasio, a rotina da
criana afetada devido a mudanas de ambientes e no sistema
biopsicossocial, fazendo-se necessria a adaptao da criana,
sobretudo, quando h a imposio do repouso, a limitao fsica e a
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no linearidade de suas vivncias e experincias sociais. Alm


disso, a criana precisa lidar com sentimentos novos decorrentes das
restries e perdas que afetam seu desenvolvimento (Op.cit).
No ambiente hospitalar, as crianas fazem usos de diversas
estratgias de enfretamento de sua enfermidade que ora facilitam,
ora dificultam o processo de hospitalizao como, por exemplo, a
busca de informaes relacionadas doena, e chantagem dos pais
a partir da condio de doente para obter ateno, carinho. A forma
pela qual a criana reage a estas perturbaes pode resultar em
distrbios emocionais graves e evidenciar uma personalidade
instvel (Op.cit.).
Quando os pais no podem estar presentes com a criana
no hospital, a presena de parentes como acompanhantes busca
evitar efeitos variados no que tange a separao da criana do seu
objeto materno no perodo de hospitalizao, pois, de acordo com
Chiattone (2003), a ausncia da famlia ou responsvel seria a
matriz da rejeio psicossocial no hospital, que leva a criana a
sentir-se abandonada. Por isso, a participao efetiva dos pais nos
cuidados com a criana fato determinante no processo de
recuperao, pois acompanham os fatos de perto e contribuem no
tratamento, desenvolvendo ainda, meios para fornecer cuidados
criana, enfrentando com ela a ansiedade e o estresse. Logo, com a
presena dos pais pode-se analisar os aspectos sciocomportamentais familiares, e a equipe hospitalar tem subsdios
para compreender o processo de adoecimento infantil.
Diante desse cenrio, a equipe de enfermagem, por
exemplo, deve se inserir de forma a tornar a estadia da criana no
hospital o menos traumtica possvel, estabelecendo vnculo de
confiana com a criana, familiarizando-a com o ambiente
hospitalar, as rotinas e os procedimentos que sero feitos,
reforando que a equipe permanecer junto, apoiando e
encorajando, bem como minimizando a sequncia de desprazeres
(injees de medicamentos, coleta de sangue para exames,
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curativos, entre outros) ligada bata branca, como se todo


profissional de sade fosse ameaador. muito comum as crianas
fazerem esta associao.
Nesse sentido, o objetivo do atendimento da equipe de
sade deve sempre seguir o princpio de minimizar o sofrimento da
criana hospitalizada, promovendo e proporcionando a sade e,
principalmente, integrando a criana como sujeito participante do
processo de hospitalizao e doena, estreitando os laos da relao
me e filho, objetivando atingir o desempenho de uma pediatria
global. E o psiclogo um profissional central nesta relao entre
paciente-famlia-equipe, facilitando a comunicao, diminuindo os
rudos e resistncias que podem surgir no processo de recuperao.
Diante disso, o foco do prximo item a atuao do psiclogo na
Pediatria.

3. A PSICOLOGIA HOSPITALAR NA PEDIATRIA


A Psicologia hospitalar objetiva minimizar o sofrimento
ocasionado pela hospitalizao, direcionando seus principais
cuidados no atendimento mais humanizado, e as conseqncias do
fator hospitalizao no universo da criana.
Nesse mbito, conceitua-se Pediatria como a parte da
Medicina que assiste a criana em seu crescimento e
desenvolvimento. Essa assistncia abrange aspectos curativos e
preventivos (MELO, 1992). Dessa forma, entende-se que
necessria a atuao da Psicologia hospitalar no trabalho junto
criana, equipe de sade e familiares, visando proporcionar
criana um ambiente acolhedor dentro de suas expectativas,
assumindo posturas afetivas e acolhedoras, valorizando sempre os
desejos, vontades e opinies para que a criana participe do seu
processo de adoecimento. Ou seja, o processo de hospitalizao
deve ser entendido no apenas como um mero processo de
institucionalizao hospitalar, mas como um conjunto de fatores
que decorrem desse processo e suas implicaes na vida do paciente
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(ANGERAMI-CAMON, 1995).
Nessa perspectiva, a Psicologia no contexto hospitalar
tenta a firmar-se como uma nova especialidade na Psicologia, pois
j acumulou uma quantidade relevante de material que justificam
sua considerao como subrea da Psicologia. Nesse contexto, a
Psicologia ainda precisou definir novas perspectivas tericas,
buscando saberes emprestados de outras reas afins como a
Medicina, a Filosofia, a Biologia, entre outras.
A partir desses emprstimos, a Psicologia enfrentou seus
primeiros riscos, so o distanciar-se dos prprios princpios tericos
e a ausncia de um corpo terico em psicologia hospitalar,
dificultando o confronto em nvel de conhecimento entre o saber
psicolgico e outras reas. Portanto, entende-se que a psicologia no
contexto hospitalar apresenta de forma variada seus domnios e
vertentes, vrios recursos metodolgicos, linguagens, problemas e
vastas tentativas de fundamentao terica atravs da descrio da
prtica profissional. Constatou-se tambm a dificuldade de
estabelecer sua viso terica devido ao alto nvel de subjetividade
em conflito junto s equipes de psiclogos, na tentativa de legitimar
o espao da psicologia nas reas de sade.
Dessa maneira, o caminho mais vivel para se estabelecer a
significao no contexto hospitalar reconhecer sua
multifuncionalidade, no recusando suas bases tericas e
compreendendo suas razes histricas de forma mais plausvel
dentro de suas prticas.
Portanto, a Psicologia no contexto hospitalar, partindo do
pressuposto de que a integrao do conhecimento deve converter-se
em uma tendncia a explic-lo, tenta expandir o saber
biopsicossocial na compreenso da doena.
O psiclogo atende com base na psicoterapia breve,
focando-se em alguma ou algumas das seguintes abordagens:
psicanaltica,
gestaltista,
cognitiva
comportamentais,
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psicodramticas, entre outras. Este profissional ir proceder coleta


de dados centrada no adoecimento, para que o paciente possa ter a
sensao de ser acolhido, pois sua queixa principal. Mas, nem
sempre o foco a queixa. Entende-se por foco o material
consciente e inconsciente do paciente, delimitado como rea a ser
trabalhada no processo teraputico por meio de avaliao e
planejamento prvios (LEMGRUBER, 1997, p. 39).
O foco ser identificado no tratamento durante sua
hospitalizao, visando ajudar o paciente a superar com menos
sofrimento o seu adoecimento, exigindo do psicoterapeuta uma
atitude ativa de quem est voltado para determinado foco.
Para isto, o psicoterapeuta necessita tomar alguns
cuidados:
interpretao seletiva, na qual se procura interpretar
sempre o material do paciente em relao ao conflito
focal, baseando-se no esquema dos tringulos de
interpretao. Ateno seletiva (em oposio
ateno flutuante da tcnica psicanaltica), por meio
da qual se buscam todas as possveis relaes do
material que o paciente traz com a problemtica
focal. Negligncia seletiva, que vai levar o terapeuta
a evitar qualquer material que, mesmo sendo
interessante, possa desvi-lo demais da meta a ser
atingida (Op.cit, p. 40).

Estes pontos precisam ser seguidos para no se fugir do


foco e evitar que o psicoterapeuta se deixe seduzir por contedos
interessantes a serem trabalhados, mas que no cabem no momento
da hospitalizao, pois podem ser geradores de ansiedade.
Vale salientar que o papel do psiclogo na pediatria
depende, acima de tudo, das expectativas e estrutura da instituio,
assim com as caractersticas do servio no qual est inserido. Porm
seu objetivo central o de promover a sade numa perspectiva mais
comportamental e colaborar na implementao de programas que
visem promoo da sade. Ou seja compreende-se que o
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psiclogo hospitalar tenha formao e olhar clnico voltados para o


doente. Isto implica que no sua linha terica que o identificar,
mais quem dela se beneficia.
Finalmente, o psiclogo participa efetivamente da
investigao direcionada aos fatores psicossociais associados
sade e a doena, pois sua interveno no ser direcionada apenas
criana e famlia, mas criana saudvel em estado de risco, no
se restringindo a diagnsticos e avaliaes, mas a forma preventiva
para resoluo de impasses de carter psicossocial e psicolgico que
possam aparecer no contexto peditrico, direcionando suas aes
criana, famlia e a toda a equipe de sade.
Logo, a mediao do psiclogo na pediatria, ser
direcionada a um mbito multidisciplinar no universo da criana, de
sua famlia e do corpo tcnico, atuando na preveno da sade
dentro desses trs nveis. Vale ressaltar que esse trplice mbito
mostra a exigncia de humanizao relacionada aos cuidados com a
criana (ROMANO, 1999). Nessa sistemtica, cada criana, a partir
de sua faixa etria, precisa de uma abordagem singular, que dever
envolver tambm sua famlia e outras pessoas significativas do seu
meio social.
Diante desse contexto, a criao do universo ldico
contribui para quebrar a caracterstica hospitalar espacial
predominantemente direcionada para diagnosticar e intervir no
combate doena (OLIVEIRA, 2008). O brincar, nessa perspectiva,
considerado como fator natural do indivduo, sendo, assim, um
meio de saudvel de expresso humana (GIMENES, 2008)
De acordo com vrios autores, como Vygostsky, Piaget,
Wallon e outros, a atividade ldica entendida como o fruto de
atividades prazerosas, recorrentes em um inter-espao, onde a
criana pode exercitar as suas funes de forma completa nos
aspectos senso-motores, no nvel da percepo, da afetividade e no
nvel social. Ou seja, o brincar um agente estruturante legtimo e
de manuteno da sade mental, agindo como facilitador para a
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transmisso cultural emocional. Durante o brincar permitido que a


criana troque e vivencie experincias sentimentais e fantasiosas
com prazer e seriedade (GIMENES, 2008).
Nesse sentido, a criao de um espao ldico no ambiente
hospitalar ajuda a quebrar o estigma ambiental, voltado para
diagnosticar e intervir no combate doena. A atividade ldica se
desenvolve depois como uma realizao alegre e descontrada, na
qual a criana tem a liberdade de fantasiar o que , o que sente e
expressar o que gostaria de ser num determinado momento
(OLIVEIRA, 2008).
Ou seja, esse espao ldico permite diagnosticar as
necessidades psicossociais da criana, assim como melhorar sua
sade. A criana descobre que nas atividades ldicas e plsticas tem
um canal que d vazo simbolicamente a seu mundo interno. Pois,
quando a criana brinca, pode sentir-se melhor e mais forte, tanto
como aquele que dela cuida e que a alimenta, etc. Ou seja, o faz-deconta permite essa transposio de papis de quem cuida para quem
organiza.
, portanto, a partir da brincadeira que a criana mantm
viva e ativa sua rotina e seus desejos, dando continuidade sua
histria de vida. O ldico favorece o prazer sobre o sofrimento,
diminudo a tenso, beneficiando o processo de organizao
orgnica de forma fsica e psicolgica. Durante o estgio, percebeuse que a atividade ldica o meio natural de auto-expresso do
mundo infantil, assumindo importante significado, j que evidencia
como a criana se encontra em sua realidade interior e exterior.
Com isso, o psiclogo prope brincadeiras, o uso do brinquedo, do
desenho, de histrias s crianas, como um meio de acessar as
fantasias, os medos e anseios em relao internao, recuperao e
tratamento.

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4. PSICLOGO HOSPITALAR:
POSSIBILIDADES

DESAFIOS

O psiclogo hospitalar protagoniza sua atuao dentro dos


limites institucionais regido por regras, condutas, rotinas e demais
atividades que seguem uma determinada ordem, limitando, assim,
suas possibilidades de atuao. Essa rotina gera impacto na criana,
tendo esta que se adaptar a uma nova srie de exigncias no
ambiente hospitalar.
Um outro aspecto j citado e que repercute na criana a
associao dos procedimentos clnicos e de exames figura do
profissional de sade, de forma que muitas crianas passam a ter
averso a pessoas de bata branca. Algumas relacionam a imagem da
Bata Branca s situaes que no lhe foram gratas como a
administrao de injees ou exames dolorosos que foram
efetuados nelas durante a internao, de forma que o reflexo da bata
branca influenciado por todo o ambiente em que a criana se
encontra. Que solues poderiam ser dadas a esta situao? Poderia
ser usado na pediatria uma outra cor, ou cores distintas pelos
profissionais de sade? Usando outra opo de cor ser que
enfraqueceria ou diminuiria esta associao? Ou, ento, criar uma
atividade ldica, na qual essas associaes poderiam ser
desmistificadas? Seria isso vivel?
Tambm nesse aspecto se faz necessria uma profunda
reflexo acerca das bases tericas em que assunto o tratamento
mdico e a formao deste profissional, pois ele deve comprometerse socialmente e estar preparado para se defrontar com os
problemas da sade hospitalar, assim como estar apto para atuar em
conjunto com outros profissionais no meio institucional.
O estado precrio da sade da populao um entrave
dentro do saber psicolgico, pois exige do profissional uma reviso
de seus valores pessoais, acadmicos e emocionais. Nesta
perspectiva, o contexto hospitalar difere do contexto de
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aprendizagem e orientao acadmica, uma vez que ali se percebe


uma realidade desumana nas condies de sade da populao que
alvo constante de injustias sociais e aspira por um tratamento
hospitalar digno. Os doentes so no raros obrigados a aceitar como
normais, todas as formas de agresso com as quais se deparam em
busca da sade (ANGERAMI-CAMON,1995). Como minimizar os
reflexos psicolgicos neste cenrio?
O normal a espera abusiva em filas por um atendimento,
retornos freqentes s instituies hospitalares levados por
encaminhamentos, atendimentos curtos para demandas enormes, o
que torna o atendimento insatisfatrio e o diagnstico impreciso. Os
profissionais na rea de sade assistem desolados a esse estado de
coisas (Op. cit.).
Logo, o psiclogo v-se dentro de uma rede de problemas
institucionais e sociais e, por vezes, sem a real dimenso e
conscincia dessa realidade, pois o hospital desmobiliza a suposta
segurana do consultrio tradicional, levando o profissional a
realizar seus atendimentos entre macas, ao lado de leitos, exigindo
um afastamento deste modelo tradicional de atuao clnica e a
construo de uma nova postura profissional, estruturada na
psicoterapia breve, que direciona o psiclogo para um foco, que
envolve aspectos os psicodinmicos do indivduo, a internao e o
processo de adoecimento, levando-os a uma ateno seletiva e a
uma escuta que necessita afastar-se de contedos sedutores que
poderiam ser trabalhados num contexto psicoterpico de longa
durao. Trabalhar tais contedos poderia levar a um aumento da
ansiedade, interferindo no enfrentamento da doena. Isso poderia
deixar em aberto contedos a serem refletidos, pois a passagem do
paciente pelo ambiente hospitalar curta, a no ser nos casos de
problemas crnicos.
Nota-se, ento, a necessidade de um modelo terico
metodolgico que conduza os psiclogos a uma prtica mais
integradora. Ou seja, o espao da doena passa a determinar as
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regras, as atividades, as trocas, as descobertas, os novos sentimentos


em relao s pessoas e suas diferenas sociais, assim como as
novas rotinas e vivncias, tanto para os pacientes, como para os
profissionais de sade.
Sendo assim, no contexto atual um elevado nmero de
psiclogos procura aprimorar suas aes em sade participando
com afinco das problemticas da rea, fornecendo suporte no seu
campo de atuao, buscando alcanar de maneira efetiva as
demandas crescentes de sade, para s ento solidificar de forma
terica o exerccio de sua profisso. Requer-se, pois, o
reconhecimento das necessidades dos pacientes, familiares e das
equipes de sade para melhor posicionamento e estruturao das
suas tarefas. um caminho para um acompanhamento global e
humanizado.
Alm destes pontos, no se pode esquecer que a atividade
do psiclogo requer da parte deste grande maturidade que se
expressa, por exemplo, na sua posio perante a morte e na tomada
de conscincia de sua finitude, da condio efmera do seu viver,
bem como uma ateno a suas questes pessoais que devem ser
trabalhadas num espao psicoteraputico.
As possibilidades do psiclogo hospitalar infantil devem
ter como foco de ateno as relaes que se estabelecem entre as
pessoas, a doena e a instituio e o objetivo comum deve ser
buscar procedimentos necessrios que viabilizem uma atuao
integrada da equipe. O psiclogo obtm informaes sobre aspectos
clnicos e sobre a conduta do paciente em relao equipe e deve
atuar num nvel preventivo e educativo, por meio de mensagens e
informaes que visem a modificao dos fatores possveis de gerar
tenso no ambiente, com o intuito de reduzir situaes traumticas.

CONSIDERAES FINAIS
notrio que o psiclogo, na pediatria, tem um papel
muito importante no mbito hospitalar. Sua funo visa o bem
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estar, assim como a qualidade de vida do paciente e da sua famlia,


levando em conta suas bases tericas, sua formao e a sade como
um conceito macro que abrange aspectos psicolgicos, fsicos e
sociais.
Logo, o conhecimento terico e humano deste profissional
possibilita um melhor atendimento criana e sua famlia. O
psiclogo hospitalar no deve restringir-se apenas criana
hospitalizada, visto que a doena afeta todo o contexto de vivncia
desse paciente.
Portanto, o psiclogo hospitalar o profissional apto para
desenvolver e criar um ambiente onde a criana possa expressar
seus sentimentos, medos, angstias, preocupaes, ajudando-a a
enfrentar esses problemas. Assim, a famlia parte fundamental
nesse processo, pois sofre diretamente com os efeitos da
enfermidade da criana e de fato se espera que tenha um apropriado
comportamento psicolgico para saber lidar com a situao e o
estresse por esta ocasionado, dando apoio criana hospitalizada.
Nesse contexto, diferentes meios de interveno podem ser
usados, como a ludo- terapia que d vazo emoo da criana,
contribuindo para o seu bem-estar de maneira geral. Dessa forma,
possvel assistir ao paciente durante o perodo de internao,
tratamento e recuperao, melhorando seu estado psquico.
Enfim, a integrao do psiclogo na pediatria nas
instituies hospitalares contribui para uma compreenso apurada
do comportamento das crianas em um momento especfico de sua
vida, atuando ele em diversos aspectos ou dimenses: individual,
escolar, familiar e social. Sua interveno determinar o diagnstico
situacional, buscando respostas, definindo mtodos e avaliando
resultados.

REFERNCIAS
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