Territorio Usado Milton Santospdf PDF
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IPPUR / UFRJ
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CADERNOS IPPUR
Ano XIII, N o 2
Ago-Dez 1999
Indexado na Library of Congress (E.U.A.)
e no ndice de Cincias Sociais do IUPERJ.
Irregular.
Continuao de: Cadernos PUR/UFRJ
ISSN 0103-1988
Ano XIII, N o 2 SU M R IO
Ago-Dez 1999
Resumos e Abstracts , 7
Atualidade Analtica , 13
Milton Santos, 15
CO LABO RARAM NESTE NMERO O Territrio e o Saber Local: algumas
Ana Lcia N. P. Brito categorias de anlise
Barbara Deutsch-Lynch Artigos , 27
Brent Millikan
Michael Storper, 29
Carlos B. Vainer
Las Economas Regionales como
Luciana C. do Lago Activos Relacionales
Ricardo Salles Pedro Abramo, 69
Robert Pechman A Ordem Urbana Walraso-Thneniana e
suas Fissuras: o papel da interdependncia
nas escolhas de localizao
Pesquisas , 93
Fernanda Snchez,
ASSIST ENT E DE CO ORDENA O Rosa Moura, 95
Dulce Portilho Maciel Cidades-modelo: espelhos de virtude ou
reproduo do mesmo?
SEC R ET R I A
Srgio Costa,
Jussara Bernardes Angela Alonso,
REVISO DE PORTUGUS
Srgio Tomioka, 115
Claudio Cesar Santoro A Re-significao das Tradies:
o Acre entre o rodoviarismo e o
PROJETO GRFIC O E EDITORAO socioambientalismo
Claudio Cesar Santoro Teresa Cristina Faria, 133
Estratgias de Localizao Residencial e
PROJETO GRF ICO DA CAPA Dinmica Imobiliria na Cidade do
Andr Dorigo Rio de Janeiro
Lcia Rubinstein
Resenhas , 157
ILUSTRAO DA CAPA Fania Fridman, 159
Ricardo Azoury / Postais Digitais Donos do Rio em nome do rei: uma histria
fundiria da cidade do Rio de Janeiro
(por Murillo Marx)
Saskia Sassen, 161
As cidades na economia mundial
(por Rose Compans)
Resumos Abstracts
Milton Santos
devidamente considerado produtor dos where the world is built, establishing coher-
discursos do cotidiano e da poltica. ence and solidarity between the events.
Michael Storper
Nos ltimos anos, a economia regional Over the last few years, regional eco-
experimentou o surgimento de um pa- nomics has seen a heterodox paradigm
radigma heterodoxo, que implica o que emerge in its midst which involves what
poderamos chamar de uma nova san- we might call a new holy trinity: tech-
tssima trindade: tecnologias-organi- nologies-organizations territories. The
zaes-territrios. O autor sustenta que author proposes that it is accurate to give
preciso encher de contedo a anlise content to the analysis of these three
desses trs componentes. Para isso, ne- components. In order to do so, it is nec-
cessrio superar a metfora dos sistemas essary to overcome the metaphor of
econmicos como mquinas com insu- economic systems as machines, with
mos e outputs slidos, cujas fsica e geo- hard inputs and outputs, the physics and
metria podem compreender-se de forma geometry of which may be understood
total e determinada. Essa nfase na me- in a complete and determinate way. The
cnica do desenvolvimento regional deve focus on the mechanics of regional de-
agora complementar-se com outro enfo- velopment must now be complement-
que, em que as metforas dominantes ed by another focus, where the guiding
sejam a da economia como relaes, a metaphor is the economy as relations,
do processo econmico como conversa- the economic process as conversation
o e coordenao, a dos agentes do and co-ordination, the subjects of the
processo no como fatores mas como process not as factors but as reflexive
atores humanos reflexivos e a da natureza human actors, and the nature of eco-
da acumulao econmica no s como nomic accumulation as not only mate-
ativos materiais mas como ativos rela- rial assets, but as relational assets. In this
cionais. Assim, a economia regional, em sense, regional economies in particular
particular, e as economias territoriais inte- and integrated territorial economies in
gradas, em geral, so redefinidas como general are redefined here as stocks of
estoques de ativos relacionais. relational assets.
Pedro Abramo
A Ordem Urbana Walraso- The Walrasian-Thnenian Urban
Thneniana e suas Fissuras: o Order and its inconsistency:
papel da interdependncia nas the role of interdependence in
escolhas de localizao location choices
Algumas cidades so eleitas como refe- Some cities has been defined as models
rncias-modelo, e seus programas e and its basic projects are integrated into
projetos so incorporados na agenda the hegemonic urban agenda. Reflect-
urbana hegemnica. Expressiva da fase ing the contemporary stage of capitalis-
10 Resumos / Abstracts
O artigo tem por objeto os conflitos em The text discusses the conflicts over road
torno de projetos de expanso viria no building expansion in the Amazonian
Acre, nos anos 90. O argumento que state of Acre. It argues that the moral and
os constrangimentos jurdico-polticos e juridical-political constraints derived from
morais advindos da redemocratizao the redemocratization process created
geram a regulao pblica de conflitos conditions to a public regulation of the
ambientais e a reconfigurao dos pro- environmental conflicts and to the rede-
jetos e linhas de ao dos agentes. O signing of social actors projects and
processo inclui a resignificao das tra- guidelines for action. This process com-
dies rodoviarista e socioambientalista prehended both the road building ideol-
Cadernos IPPUR 11
O texto analisa as tendncias migratrias This work analyzes the intra-urban mi-
intra-urbanas na Cidade do Rio de Janei- gratory tendencies in the city of Rio de
ro a partir das suas relaes com a estru- Janeiro, from their relationships with the
turao da cidade quanto s mudanas structuring process of the city and the
no padro de ocupao do solo. Nesse changes in the land use pattern. So, it
sentido, tenta contribuir para um maior tries to contribute for a larger under-
entendimento das relaes entre o standing of the relationships between the
mercado imobilirio e a estruturao in- real estate market and the intra-urban
tra-urbana, via anlise da mobilidade structuring process, through an analysis
residencial. Os dados analisados so re- of the residential mobility. The data used
sultado de pesquisa realizada em 1995/ comes from a specific survey carried out
96 na Secretaria Municipal de Fazenda in 1995/96, in the Rio de Janeiro local
do Municpio do Rio de Janeiro, com os authority, with costumers in the counter
indivduos que compareciam ao balco of ITBI (Municipal Tax for Real Estate
do ITBI (Imposto de Transmisso de Transactions). Another source was the
Bens Imveis) intervivos. Alm dessa data from the ITBI/IPTU/IPPUR files, that
fonte, foram utilizados os dados do arqui- contain information from all the sheets
vo ITBI/IPTU/IPPUR, que contm infor- of the referred tax. This work presents,
maes das guias de recolhimento do in the first part, the description of the
referido imposto. O texto apresenta, na intra-urban migrants characteristics and
primeira parte, a descrio do perfil do the flows of residential displacement,
migrante intra-urbano e os fluxos de des- relating them in another part of the text,
locamento residencial, relacionando-os, with the real estate dynamics in the city
na segunda, com a dinmica imobiliria and the changes verified in the intra-
na cidade e as transformaes ocorridas urban structure, through the data of the
na estrutura intra-urbana, atravs dos real estate transactions with apartments
dados das transaes imobilirias com between 1975 and 1995. Finally, there
12 Resumos / Abstracts
Milton Santos
O evento
A primeira dessas categorias a noo passado que aparece como presente. O
de evento. Ela tem entrada recente no presente fugaz e sua anlise se realiza
meu vocabulrio e imagino que seja sempre a partir dos dois plos: o futuro
talvez a minha contribuio pessoal mais como projeto e o passado como reali-
importante, na medida em que a zao j produzida. O evento aparece
forma de resolver uma srie de proble- como essa grande chave para unir tam-
mas de mtodo. Isso porque permite bm as noes de tempo e espao, que
unir o mundo ao lugar; a Histria que at recentemente no apareciam como
se faz e a Histria j feita; o futuro e o um todo nico. Mesmo os que avana-
*
Texto apresentado em seminrio organizado pelo Laboratrio de Conjuntura Social: tecnologia
e territrio (LASTRO/IPPUR) e pelo Ncleo de Cidadania e Polticas Pblicas da FASE.
Ricardo Salles, doutorando em Histria na UFF, colaborou na edio, e Cristiane Calheiros
Falco, Laura Maul de Carvalho e Alice Loureno, na transcrio.
A forma-contedo
Nesse caso no se trata de trabalhar a realiza atravs sobretudo de formas-
forma em si, nem o contedo em si. Essa contedo? Estas seriam as dotadas do
seria a contribuio dos territorilogos, que chamei tambm de inrcia dinmica,
gegrafos frente, evidentemente, para enquanto no havia ainda inventado essa
o entendimento da sociedade. A socieda- idia de forma-contedo. Uma forma
de em si pode ser uma categoria, mas que, por ter um contedo, realiza a socie-
quem jamais trabalhou o pas com essa dade de uma maneira particularizada,
idia de sociedade em si, dessa sociedade que se deve forma. Isto , aquela
total? Onde est ela? Ser que o pas se concha na qual a sociedade deposita
Milton Santos 17
de todos, sem excluir quem quer que muito grave, porque no so considera-
seja, sem excluir qualquer que seja a ins- das a totalidade dos atores, a das institui-
tituio ou a empresa. Dessa forma, have- es, a das pessoas e a das empresas.
ria uma volta noo de totalidade dos Procura-se explicar aos empresrios o
atores agindo no espao. Coisa que os que eles fazem, dedica-se muito aos
territorilogos, mas sobretudo os pla- fluxos dominantes e abandonam-se os
nejadores, deixaram para trs, porque a outros. Ou, pelo contrrio, estuda-se a
pesquisa e o ensino do planejamento so pobreza como se ela fosse independente
realizados, na maior parte dos casos, do conjunto de circunstncias. O que se
sobre algo que no o espao. O plane- produz no uma interpretao da po-
jamento espacial, o planejamento terri- breza, pois falta essa idia de totalidade,
torial, o planejamento regional no so que s poder ser alcanada pela noo
planejamentos do espao. No o so na de horizontalidade.
prtica, na pesquisa e no ensino, o que
O territrio usado
O territrio no uma categoria de an- ltica. A sociedade no atua sobre a na-
lise, a categoria de anlise o territrio tureza em si. O entendimento dessa ao
usado. Ou seja, para que o territrio se o nosso trabalho e parte do valor que
torne uma categoria de anlise dentro dado quele pedao de natureza
das cincias sociais e com vistas pro- valor atual ou valor futuro.
duo de projetos, isto , com vistas
poltica, com P maisculo, deve-se o caso da Amaznia. A ao presen-
tom-lo como territrio usado. Por que te, os interesses sobre parte do territrio,
essa insistncia? O marxismo vendeu, e a cobia, e mesmo as representaes
vendeu bem, algumas idias que eu pr- atribudas a essa parte do territrio tm
prio escrevi na minha maturidade, tam- uma relao com o valor que dado ao
bm repetindo o mainstream marxista. que est ali presente. O que h na reali-
Uma delas a relao sociedadenatu- dade relao sociedade e sociedade
reza que abunda na literatura que nos enquanto territrio, sociedade enquanto
concerne como territorilogos. Mas espao. O territrio no pode ser uma
onde que se encontra essa relao categoria de anlise, tem de ser conside-
sociedadenatureza? Ser que h real- rado territrio usado. Na realidade,
mente essa dialtica sociedadenature- quando uma empresa, uma instituio,
za? Eu creio que no. A dialtica somente um grupo, agem sobre uma frao do
se realiza a partir da natureza valorada territrio, num momento T do tempo,
pela sociedade; a que comea a dia- no desconsideram o que ali j existe,
Milton Santos 19
O saber local
A territorialidade um atributo do terri- propriamente dito; tem de saber, mais
trio ou dos seus ocupantes? Vivo o meu e mais, sobre o mundo, mas tem de res-
cotidiano no territrio nacional ou no pirar o lugar em si para poder produzir
lugar? Essas perguntas me parecem im- o discurso do cotidiano, que o discurso
portantes porque esto ligadas ao que da poltica. Por conseguinte, o expert de
eu chamaria de saber da regio em con- fora vem como aquele que atia a brasa
traposio a saber do expert internacio- como um fole. E tem que ir embora.
nal. Este, cada vez mais, chamado a Tenho cada vez mais conscincia de que
falar sobre o lugar, quando no mximo h necessidade de se fortalecer a pro-
deveria fazer uma palestra de dois dias duo desse saber local e, no caso bra-
e ir embora. Porque o saber local, que sileiro, de apoiar a multiplicao da
nutrido pelo cotidiano, a ponte para Universidade, sobretudo de mestrados,
a produo de uma poltica resultado para a geografia brasileira. Essa a nossa
de sbios locais. O sbio local no garantia de que a disciplina vai continuar
aquele que somente sabe sobre o local viva. E isso central: que os monoplios
22 O Territrio e o Saber Local: algumas categorias de anlise
Aqui retomo a noo de tempo em- mesma coisa, estou fornecendo um ca-
prico. O que buscar para tornar o even- minho de mtodo para a Histria e,
to analtico analiticamente utilizvel? paralelamente, para a Geografia.
Vou, se o que est em questo a ao
do fato financeiro, tentar encontrar o O que que estamos vendo acon-
que o caracteriza em geral, em seguida tecer agora em relao composio
o que o caracteriza em particular e, a orgnica do territrio? que no territ-
partir da, verificar como incide sobre rio diminui o nmero de empregos pro-
uma sociedade e um lugar. O mesmo priamente agrcolas e, mais ainda, o
procedimento se aplicaria para o fato nmero de empregos rurais. Isso pela
industrial, o fato informacional, aquela mudana de composio orgnica da
notcia, aquele rumor. Acho que isso atividade agrcola e da vida do territrio.
que permitiria datar os eventos. Essa A cidade abriga uma parte importante
seria a metodologia a utilizar. Escolheria dos empregos agrcolas, de tal maneira
ainda um nmero de variveis signifi- que temos hoje no pas mais empregos
cativas e acompanharia sua historiciza- e atividades agrcolas do que rurais. O
o e geografizao. Faria esse caminho campo que o lugar do capital e no
para trs, reconhecendo presentes su- mais a cidade. o campo brasileiro o
cessivos, porque se trata de (re)encon- lugar de acolhimento mais fcil para o
trar presentes sucessivos. capital. A cidade resiste s formas hege-
mnicas do capital e passa a ter um papel
Quando se l um relatrio da Asso- de porta-voz desse campo larga e pro-
ciao dos Gegrafos Brasileiros dos fundamente capitalizado, juntamente
anos 1940 ou 1950, v-se uma tentati- com a obrigao de estender a vertica-
va de reconstituio do passado. A in- lidade ao campo por meio de processos
teno era descrever o presente; mas, tcnicos nas reas da produo direta.
lido a posteriori, torna-se uma oferta de A cidade cada vez mais um interme-
interpretao do que passou, que pode dirio, na produo direta, do processo
ser canhestra, que pode ser insuficien- tcnico da produo, mas no do pro-
te, que pode ser pobre, mas que pode cesso poltico. S que ela se investe de
tambm ser rica se escolhermos bem as uma vontade poltica que diferente da
categorias. E por isso que a Geografia que havia h quinze anos no Brasil. Essa
cada vez mais uma disciplina que s vontade poltica se manifesta atravs da
praticada a partir de uma teoria. Para imprensa local, da rdio local, dos pro-
evitar exatamente que as interpretaes longamentos locais da televiso, que tm
sejam incoerentes. Essa busca de coe- de usar uma linguagem diversa da utili-
rncia, de solidariedade entre os acon- zada pela grande imprensa nacional,
teceres num pedao do territrio o estadual ou pela televiso mais geral.
que temos por fim. E isso vlido tam- Assim, a partir de um certo tamanho, a
bm para a Histria, j que o espao e cidade acaba sendo esse laboratrio po-
o tempo so a mesma coisa. Quando ltico, dado que a agricultura exige uma
considero espao e tempo como uma certa quantidade de emprego urbano
24 O Territrio e o Saber Local: algumas categorias de anlise
que no tem relao direta com a pr- obedincia a estas eles sero excludos.
pria agricultura. Esse fato cria dentro da Assim, a primeira coisa que o agricultor
cidade uma complexidade de funes de uma rea moderna ter de fazer, se
inimaginveis h vinte anos e uma com- quiser sobreviver, obedecer, como
plicao em matria de interesse, que num exrcito, palavra de ordem. Po-
poder transformar-se em uma comple- deramos identificar na figura do servo
xidade de preocupao da ordem pol- da gleba, da Idade Mdia, esses agricul-
tica, j que tudo se resolve na ordem tores modernos. Ou seja, so servos de
da poltica e a economia se realiza a uma ordem global cujo mecanismo co-
partir da poltica das empresas e do Esta- nhecem pouco, sabendo porm que a
do. Creio que por a aproximar-se-ia, a obedincia indispensvel para conti-
partir do acontecer emprico (o aconte- nuar presentes. Nesse caso, o lugar para
cer sempre emprico, mesmo quanto a solidariedade menor porque o pro-
s idias), de uma tentativa de interpre- cesso de vida, a produo de sua exis-
tao que talvez encontrasse essa pro- tncia, de alguma maneira, supe
duo de horizontalidade, quando o preocupaes menos altrusticas. Trata-
que se quis produzir foi a exclusiva verti- se da tenso da bolsa, do mercado, da
calidade, mesmo quando no se fala da necessidade de obedecer s regras de
grande cidade, mas tambm das cidades produo, de colheita, de empacota-
que no Brasil chamamos de mdias. E, mento. Tudo o que verificamos no Pa-
a partir disso, originado esse mecanis- ran e sobretudo em Santa Catarina,
mo de horizontalizao, que tanto mais por exemplo, com a produo de por-
rico quanto maior a diviso do traba- cos ou de frangos, exemplo tpico dessa
lho interna s cidades e que tem um po- obedincia indispensvel do produtor a
tencial de despertar poltico na medida uma cadeia tcnica que responde a uma
em que a prpria atividade econmica demanda econmica que cria nele com-
sugere esse entendimento a partir da po- portamentos regulados, de tal forma
ltica. que excluem a idia que se possa ter de
prtica da solidariedade.
Haveria a possibilidade de distinguir
lugares pela sua capacidade inata de Talvez desse modo pudssemos ana-
produzir mais ou menos solidariedade? lisar o que se chama sociabilidade a partir
Haveria lugares onde essa disposio de condies geogrficas, ou geo-socio-
para a solidariedade pudesse se exercer econmicas, ou geo-sociopoltico-eco-
mais fortemente, mais rapidamente, nmicas, o que implica uma diferena
mais conscientemente? Retomo rapida- essencial entre o que chamaramos de
mente uma oposio hoje factvel nas rural e o que chamaramos de urbano.
reas mais modernas entre o rural e o Isto , a oposio rural e urbano vai to-
urbano. O rural submetido s leis da glo- mando novos contornos, novos conte-
balizao convoca os participantes do dos, novas definies, diferentes das que
trabalho rural a uma atitude de subor- aprendemos e ensinamos ainda h vinte
dinao a essas normas, porque sem anos. A cidade isso: ela fornece a pre-
Milton Santos 25
Michael Storper
En los ltimos aos, tanto la economa co; el surgimiento y cada de los nuevos
regional y la geografa econmica, as productos y procesos de produccin tiene
como gran parte de la economa gene- lugar en los territorios y, en su mayor
ral, han experimentado el surgimiento parte, depende de sus capacidades para
de un paradigma heterodoxo. Este pa- tipos de innovacin especficos. El cam-
radigma heterodoxo introduce el pro- bio tecnolgico altera, a su vez, las dimen-
blema del desarrollo econmico en las siones coste-precio de la produccin,
regiones, pases y a nivel global, en una incluyendo los aspectos locacionales. Las
serie de campos empricos y tericos organizaciones, sobre todo las empresas
fundamentales, intentando construir y grupos o redes de empresas implicados
una explicacin en multiples capas. El conjuntamente en sistemas de produc-
enfoque heterodoxo implica lo que po- cin, no slo dependen de contextos
dramos llamar una nueva santsima territoriales de inputs fsicos e intangibles,
trinidad: tecnologas-organizaciones- sino tambin de las mayores o menores
territorios (Figura 1). relaciones de proximidad entre cada una.
Los territorios, ya sean regiones perifricas
Actualmente, la tecnologa y el cam- o ncleos de sectores, pueden caracte-
bio tecnolgico se consideran entre los rizarse por fuertes o dbiles interacciones
principales motores del cambio de los pa- locales y efectos de difusin entre facto-
trones territoriales de desarrollo econmi- res, organizaciones, o tecnologas.
Organizacin
Vnculos de Transaccin
os :
mi c c o s
..
Relaciones Input-Output
n i Fronteras de la empresa
eco lg
a cios te cno
Esp acios
Esp
y sistemas de produccin
Geografa de empresas
Tecnologa
Estandarizacin vs.
Diversificacin/flexibilidad
Geo
gra
fa
de
inn Territorios
o va
cin ..Geografa de transacciones/vnculos
.Complejidades industriales
Economas de escala externas y
economas de oportunidad
Otros han reconceptualizado las empre- diados de los 80 y principios de los 90,
sas en trminos de derechos de propie- segn intentaban comprender el resur-
dad y de apropiabilidad de activos; o gimiento de economas regionales, de
como agentes estratgicos, maximizado- las industrias de alta tecnologa y de las
res del crecimiento. 3 Al mismo tiempo, regiones, el crecimiento de los nuevos
la economa territorial se ha revolucio- tigres industriales de Asia, y la globali-
nado, integrando ideas provenientes de zacin. Pero surge nuevamente un vaco
estudios sobre tecnologa y organizacio- en el sistema terico de desarrollo regio-
nes. Los efectos de las organizaciones nal o territorial. El paradigma heterodo-
en los modelos de economa territorial, xo ha definido, en realidad, la santsima
ya imaginados por Perroux y la escuela trinidad, pero no ha capturado todava
moderna de anlisis input-output, 4 han por completo, el contenido adecuado
sido los nuevos microfundamentos, apli- para el anlisis de tecnologas, organiza-
cando la economa de los costes de tran- ciones y territorios. La economa regional
saccin a la geografa de las relaciones heterodoxa, como la economa general,
input-output. 5 Por tanto, se pueden continua estando cautiva de la metfora
comprender ahora los orgenes organi- de los sistemas econmicos como m-
zativos de las economas de aglomera- quinas, con inputs y outputs duros,
cin. Estamos pues muy lejos de la idea donde la fsica y la geometra de esos
de las economas externas como sim- inputs y outputs pueden comprenderse
ples economas de escala; estas son el de manera completa y determinada.
resultado complejo de interacciones Este nfasis en la mecnica del desa-
entre escala, especializacin, y flexibili- rrollo regional debe ahora complemen-
dad en el contexto de la proximidad. tarse con otro, en el que la metfora que
Las aglomeraciones pueden tambin predomine sea la de la economa como
facilitar procesos dinmicos, como los relaciones, el proceso econmico como
cambios tecnolgicos localizados. 6 conversacin y coordinacin, los agen-
tes del proceso no como factores sino
El paradigma heterodoxo comenz como actores humanos reflexivos, tanto
a sugir con fuerza a principios de los 70, individual como colectivamente, y la na-
cuando los economistas regionales e turaleza de la economa de acumulacin
internacionales intentaban comprender no slo como beneficios materiales, sino
la desindustrializacin de las regiones de como activos relacionales. La economa
antigua industrializacin 7; madur a me- regional en particular, y las economas
3
Sobre la empresa, vase la discusin de la tradicin de Perroux en Best (1990).
4
Perroux (1950 a, b, 1955); Leontief (1953); Richardson (1973).
5
Scott (1988 a).
6
El trmino cambio tecnolgico localizado no hace slo referencia a la localizacin en el
sentido geogrfico y sino tambin en el sentido econmico. Para una explicacin completa,
vase Antonelli (1995).
7
Massey (1984); Bluestone y Harrison (1982); Vernon (1996, 1974); Norton y Rees (1979).
32 Las Economas Regionales como Activos Relacionales
En los ltimos aos, los cientficos socia- inmediata entre las diferentes partes de
les han realizado grandes esfuerzos por estas complejas estructuras, abarata-
caracterizar el conjunto de la naturaleza miento drstico de las diferentes formas
del capitalismo que comenz a tener de produccin material, e incrementos
forma a principios de los 70. Las capaci- significativos en la diversidad de inputs
dades econmicas del capitalismo con- y outputs materiales e intangibles. Se-
temporneo han experimentado una gundo, se ha dado una amplsima ex-
gran expansin y un profundo cambio tensin espacial y profundizacin social
cualitativo. Entre las nuevas metacapa- de la lgica de las relaciones de merca-
cidades del capitalismo moderno, se do, en parte facilitada por el salto
pueden destacar varias como las ms tecnolgico (especialmente por el aba-
importantes. En primer lugar, la revo- ratamiento de las telecomunicaciones y
lucin en la produccin, informacin, y los medios de comunicacin como veh-
tecnologas de la comunicacin que per- culos de las relaciones de mercado, y a
mite una gran expansin de la naturaleza travs de la extensin de la infraestruc-
y esferas de control de las empresas, tura fsica). La produccin de mercan-
mercados, e instituciones, lo que implica cas, basada en las necesidades de
una retroalimentacin ms intensa e mercado, supone tener en cuenta cada
Michael Storper 33
8
Giddens (1994); Beck (1992); Beck y al (1994).
34 Las Economas Regionales como Activos Relacionales
9
La literatura de los estados versus los mercados es muy extensa. Para una utilizacin econmica
adecuada, vase North (1981).
10
Esto vuelve sobre el debate acerca de si el mercado es un incentivo para le doux commerce
o simplemente para la explotacin y acumulacin. Se puede encontrar debate sobre el tema
en Hirschman (1970).
11
Este segundo argumento se puede encontrar en Arato y Cohen (1992).
Michael Storper 35
12
Beck (1992).
13
Ver la crtica del posindustrialismo en Cohen y Zysman (1984). En la economa de la
informacin, vase Castells (1989); en especializacin flexible, vase Piore y Sabel (1984).
14
Lundvall y Johnson (1992); Arrow (1962); Rosenberg (1982).
36 Las Economas Regionales como Activos Relacionales
15
La denominacin economa de aprendizaje tiene diversas e importantes consideraciones
tanto en trminos tericos como en orientaciones polticas-, junto con otros conceptos apli-
cados en la nueva economa del perodo posterior a 1970 (por ejemplo, especializacin
flexible, pos-Fordismo, economa de la informacin, economa de servicios, etc).
16
Rip (1991).
17
Para ver el enfoque original de este tema, vase Asanuma (1989). Mi concepto de relaciones
difiere en cierta manera del suyo, aunque reconozco su inspiracin.
18
Rosenberg (1982).
Michael Storper 37
19
Mansfield (1972).
20
Norton y Rees (1979); Pred (1977); Rallet (1993).
21
Pero debe recordarse que ciertos economistas en pases en desarrollo no disminuyeron el
problema tendiendo hacia una difusin. Celso Furtado (1963), por ejemplo, expresa a lo
largo de sus escritos que el problema para desarrollar reas consiste en dominar la creacin
de tecnologa.
38 Las Economas Regionales como Activos Relacionales
25
Agradezco a una serie de autores por sensibilizarme acerca del conocimiento cosmopolita
versus no cosmopolita. El primero es Rip (1991). En los primeros procesos de diseo llevados
a cabo fuera un mbito familiar, predominan los modelos mentales tcnicos privados. Sin
embargo, no hay duda sobre el vnculo con representaciones cognitivas cosmopolitas exis-
tentes, pocas veces es explcito; en consecuencia, meta-modelizar no aparece an como
una actividad distinta. El segundo es Haas-Lorenz (1994). Vase tambin los excelentes
artculos de Lecoq (1993), sobre comunicacin y conocimiento en el contexto geogrfico.
40 Las Economas Regionales como Activos Relacionales
26
Nelson y Winter (1982).
27
He elegido utilizar el trmino organizaciones para referirme a empresas y a sistemas de
produccin, ms que instituciones que es el trmino que prefiere la economa institucional.
Esto se debe a que deseo reservar la utilizacin del trmino instituciones para referirme a
rutinas, prcticas y organizaciones formales no privadas, as como a gobiernos, asociaciones
comerciales y otros. Es adems una forma de ligar las organizaciones al tema de la organizacin
econmica en general.
28
Coase (1937); Williamson (1985); Dosi y Salvatore (1992).
29
Perroux (1950 a, b); Leontief (1953).
30
Richardson (1973).
Michael Storper 41
31
Tal y como desarrollo Stigler el anlisis de la escala de divisin del trabajo, y algunos neo-
Sraffianos (Stigler, 1951).
32
Scott (1988 a).
33
Dunning (1979); vase la crtica de la literatura geografa de la empresa de Sayer y Walker
(1992).
34
Camagni (1991); Malecki (1984); Maillat y al. (1990, 1993); Russo (1986); Bellandi (1986,
1989, 1995); Djellal y Gallouj (1995).
35
Romer (1986, 1987, 1990), Lucas (1988).
36
Krugman (1991 b, 1992, 1995).
42 Las Economas Regionales como Activos Relacionales
39
Esta literatura se discute en profundidad en Salais y Storper (1993).
40
Axelrod (1984).
41
Para una discusin ms profunda sobre estos micro-fundamentos vase ms abajo.
42
Lecoq (1993); Haas-Lorenz (1994).
Michael Storper 45
43
La definicin clsica de una convencin es de Lewis (1969). Sin embargo, la definicin
utilizada aqu difiere de la formulacin de Lewis en que sta no conduce a una nocin de
coordinacin de equilibrio sino ms bien a una del tipo coordinacin de satisfaccin.
Para una discusin ms amplia sobre este tema, vese Storper y Salais (1997, Cap. 1 y 2).
44
Para una discusin ms amplia, vase Storper y Salais (1997).
46 Las Economas Regionales como Activos Relacionales
45
Estos temas son, por supuesto, temas de investigaciones de los institucionalistas en muchas
disciplinas de las ciencias sociales; la economa de las convenciones, sin embargo, van ms
all y argumenta que son elementos de coordinacin de actores, y que la razn de que
funcionen es que suman una coordinacin coherente de sistemas de relacionados.
Michael Storper 47
46
Existe una gran ambigedad acerca de las economas externas tanto en la literatura geogrfica
y como en la econmica. La cuestin fundamental surge entorno a si la aglomeracin es
simplemente un efecto ms del individuo, optimizando a los productores, en el que no
existen verdaderamente bienes colectivos que impliquen efectos derivados del sistema de
trasaccin, sin existir en tal caso externalidades reales. En la literatura, se han hecho dos
sugerencias sobre estas lneas: una es que existe intensos efectos de retroalimentacin entre
proximidad y especializacin entorno a la divisin del trabajo (el trabajo de Scott sugiere
esto). El otro es que las aglomeraciones son lugares que dependen de que se realicen
transacciones de innovacin tecnolgica. En ambos casos, la aglomeracin no se refiere
simplemente al efecto esttico de Stigler y Smith, sino al efecto dinmico de Young.
47
Esta idea surge al trabajar con Allen Scott; vase Storper y Scott (1995).
48 Las Economas Regionales como Activos Relacionales
49
Salais y Storper (1993) discuten sobre cmo la accin comercial, ms que ser la forma
universal del actor econmico, es simplemente una manera de coordinacin con otros actores
en un sistema de mercado, apropiado para ciertos productos e ineficaz para otros.
50
Este es el paradigma de Williamson. Williamson (1985).
50 Las Economas Regionales como Activos Relacionales
Organizacin
.
Interdependencias no comerciales
.
Vnculos convencionales-
relacionales
Tecnologa
. Conocimiento codificable/
no codificable
Productos Mundos regionales
de produccin
Competicin
. Cosmopolita/ no cosmopolita
Territorios
.
Geografa de interdependencias no
comerciales; relaciones; convenciones
.
Ventajas relacionales, regionalmente
especficas
51
Young (1928). Tener en cuenta que se est volviendo de nuevo a la distincin entre
externalidades pecuniarias y no pecuniarias, tratadas inicialmente con una gran precisin
por Scitovsky (1952).
52
Kaldor (1972).
53
Stigler (1951).
54
Veltz (1995).
Michael Storper 53
55
La mayora de lo que aparece en esta seccin surge del trabajo realizado conjuntamente con
Robert Salais, y explicado en parte en nuestro libro Les Mondes de Production (1993, Paris).
Tambin he extrado parte de un reciente texto, no publicado, Conventions, mondes possible,
et action conomique. Cualquier tipo de error de interpretacin es de mi absoluta
responsabilidad.
56
Pero esto, para nada implica que todos los actores tengan el mismo grado de satisfaccin, que
sean igual de entusiastas, o que tengan las mismas relaciones polticas y distributivas. Esto es
una descripcin de que estn acuerdo con las mismas reglas del juego, aunque no que
necesariamente les guste hacerlo. Otro forma diferente de tratar esta cuestin se puede en-
contrar en Crozier y Friedberg (1977).
57
Simon (1979).
Michael Storper 55
posibles mundos de accin. Esta ma- sino por la voluntad de hacer efectiva la
nera de enfrentarse al problema plan- accin que uno lleva a cabo. Esta moti-
tea tres cuestiones acerca de los procesos vacin le da dos caractersticas princi-
colectivos dinmicos en la economa. pales a la accin. Por una parte est su
particularidad: una determinada situa-
La primera cuestin trata acerca de cin de accin est compuesta de obje-
la diversidad de marcos de accin. Aun- tos, circunstancias y personas, cuya
que en principio existen innumerables naturaleza variada y heterognea llevan
maneras de coordinar la accin econ- a sinergas particulares y complejas. Es
mica, en la prctica existe un nmero imposible reducir la situacin a series
limitado de combinaciones prcticamen- preestablecidas de rutinas prefijadas. Por
te coherentes de acciones para cada tipo otra parte, su carcter colectivo: debido
de bien material o de servicio producido a esta heterogeneidad bsica, las accio-
en la economa. Esta diversidad que nes mutuamente interdependientes pue-
conduce a una pluralidad de mundos den tener xito slo si existe un carcter
posibles es en cierto sentido mucho colectivo en ellas, en el sentido de accin
mejor que la que prev la teora ortodo- dentro de un marco comn de accin.
xa, con su idea de una nica frontera de Slo si al accin se redujese a lo prefi-
produccin posible, para cada grupo de jado, situaciones completamente anti-
tecnologas y mercados. Nosotros mante- cipadas, se podra reemplazar su carcter
nemos que en una situacin de partida colectivo por reglas ajenas que no su-
existe ms de una solucin econmica pongan una coordinacin bsica entre
effectiva. En otras palabras, es ms restric- las personas implicadas. El Taylorismo
tivo que la teora ortodoxa, que con sen- pleno es la excepcin, no la regla, e in-
cillas sustituciones de factores presentan cluso el Taylorismo nunca logr un xito
un mundo de combinaciones ilimitadas, completo en sustituir relaciones con
circunstancia que no se da en la situacin reglas. Heterogeneidad tambin signi-
prctica real. En comparacin con la fica una pluralidad de procesos colecti-
economa de negocio emprica, esto nos vos, una cierta fragmentacin de
conduce a aceptar la diversidad como la accin; cuando se sita en el contexto
mejor opcin, en el sentido de que recha- de un entorno de seleccin competitiva
za la idea de convergencia hacia las mejo- distendido, se llega a la idea de que
res prcticas globales de los mercados, a existen muchos tipos de acciones econ-
favor de un considerable conjunto de micamente eficientes, no una nica je-
efectivas soluciones prcticas a los pro- rarqua de acciones de mejor a peor.
blemas de produccin.
La tercera cuestin hace referencia a
La segunda cuestin tiene que ver la naturaleza de la accin misma. Las
con el papel de la racionalidad. La ciencias sociales estuvieron dominadas
accin econmica no est nicamente durante mucho tiempo por la idea utilita-
motivada por el estricto utilitarismo o rista de accin como manipulacin estra-
por los deseos de satisfaccin individual, tgica de datos, con la intencin de
56 Las Economas Regionales como Activos Relacionales
58
Aunque ello pueda ciertamente consistir en parte en estas dimensiones, bajo circunstancias
particulares, no es una descripcin precisa de la naturaleza de la accin.
59
La gramtica generativa en lingstica: una analoga a las teoras explicativas de la ciencia
social que son no deterministas, pero en las cuales, no obstante, existe un conjunto de
herramientas y una estructura prefijada pero empricamente fluida, que define el rango de
posible creacin de acciones individuales (discursos). Ha existido un gran debate sobre si la
gramtica generativa es restrictiva o creativa. Como no somos lingsticos profesionales, no
podemos opinar sobre ello. En relacin con nuestro objetivo aqu, nicamente se dice que la
gramtica generativa de la economa no debera estar ligada a una estructura que prefije el
posible rango de acciones individuales, y si existe una analoga con el pensamiento lingstico
que reclame lo mismo, entonces estamos de acuerdo con ello. Vase Searle (1977).
Michael Storper 57
60
En el tema del regionalismo, vese Markusen (1985).
61
Esto no significa, necesariamente, mercados perfectos, sino ms bien mercados como un
principio general de organizacin de las interacciones legtimas en el capitalismo contem-
porneo. Dentro de este principio general, se presentan inmumerables variaciones.
62
Hemos comentado poco sobre la relacin entre la accin pragmtica y la justificacin y
legimidad de la accin realizada. Pero es suficiente decir que toda accin pragmtica
especialmente en la medida que tiene como objeto la reciprocidad entre otros actores- se
basa en alguna nocin de legitimidad, en alguna forma de justificacin, bien sea implcita o
explcita, que debe compartirse entre los actores implicados en la accin colectiva. Estas
cuestiones se han estudiado con mayor amplitud en Boltanski y Thvenot (1991). En el caso
de los modelos econmicos de productos, Salais y Storper (1993) discuten diferentes prin-
cipios de justificacin para diferentes mundos posibles de accin econmica.
58 Las Economas Regionales como Activos Relacionales
tes ciertos tipos de espacios de accin. nes y relaciones que permiten desplegar
Para empezar, est el producto, el foco dichos procesos co-evolutivos, regional-
principal de los mercados. Los mercados mente centrados, entre organizaciones y
de productos incorporan dos elementos tecnologas. Tanto las ventajas fsicas
bsicos de la santsima trinidad: tecnolo- como relacionales de la produccin, se
gas (de productos y procesos) y organiza- convierten, en cierto grado, en ventajas
ciones (fundamentalmente empresas, regionalmente especficas. En otras pala-
aunque tambin las organizaciones que bras, los mundos regionales de la pro-
apoyan a las empresas, como las escuelas duccin pueden surgir de los mundos
y los estados). Los mercados de factores tecnolgicos y organizacionales que
implican a la mayora de las organizacio- construyen las regiones. Aunque esto
nes (empresa, aunque tambin aquellas slo sucede en algunos casos; en muchos
de reproduccin social colectiva, como otros, la economa regional deja, durante
el estado, colegios y las organizaciones la mayor parte, un mero depsito lo-
de I+D pblicas). Estos dos elementos cacional para los mundos u objetos or-
de la santsima trinidad son los principales ganizativos y tecnolgicos, dirigidos
vehculos de los proyectos intencionales exgenamente, presentando una escasa
primarios de la accin econmica hoy. co-evolucin regional o, como lo han
Es fundamentalmente el despliegue de denominado tradicionalmente los regio-
estas acciones lo que produce actual- nalistas, desarticulada o perifrica.
mente economas regionales, 63 cuando
stas se sitan o subdividen en lugares. De modo que la economa moderna
puede imaginarse como un complejo
Sin embargo, este tipo de actividades puzzle organizativo hecho de mundos
pueden llegar a estar muy prximas en mltiples y parcialmente solapados, en
los restringidos espacios geogrficos de los que se desarrolla la accin colectiva
las regiones, por medio de complejos pa- reflexiva. En cualquier mbito de anlisis
trones y estructuras locacionales, donde econmico, la labor consiste en compren-
stas se constituyen como economas der la naturaleza funcional de los espacios
territoriales. A su vez, estas actividades de accin implicados, y el contenido de
pueden desarrollar diferentes formas de las convenciones-relaciones mundo de
coherencia, efectos de difusin y retroali- accin a travs de las cuales los agentes
mentaciones regionales; cuando esto ocu- coordinan y dan forma a sus acciones
rre, es porque los agentes econmicos particulares de funcionamiento en dicho
regionales han desarrollado convencio- mbito, 64 conforme ilustra la figura 3.
63
Incluso admitiendo que gran parte proviene del pasado y de feedback de la economa
regional actual.
64
No se debe, sin embargo, poner demasiado nfasis en que los campos funcionales de accin
estn predefinidos, ni por la lgica funcional de Parsons ni por ninguna estructura capitalista
mayor. El punto de la teora pragmtica subrayada en este captulo, es que estructura y accin
se desarrollan y redefinen simultneamente. Unicamente podemos modelizar las reas funcio-
nales bsicas que se nos presentan actualmente, pero estas son indicativas, en ningn caso
causales.
Michael Storper 59
Territorios
Organizaciones
Sistemas de Mundos
innovacin regionales de
Mundos de produccin
innovacin
Productos
Tecnologas
Mundos
regionales de
Tecnologas innovacin
Territorios
Organizaciones
Territorios Organizaciones
Tecnologas
Territorios
65
Patel y Pavitt (1991); Dunning (1979, 1988); Pianta (1996); Amendola y al (1992).
Michael Storper 61
Conclusin
El enfoque del desarrollo econmico el estatus econmico de las convencio-
territorial que aparece en este artculo nes regionales de la produccin como
tiene poco que decir acerca de los pro- un tipo de ventaja colectiva, regional-
blemas estndares de la economa es- mente especfica, de la economa; el
pacial o teora locacional, base de la estatus de las convenciones como inter-
literatura sobre la geografa del desarro- dependencias no comerciales en los
llo econmico, pero tiene mucho que sistemas econmicos; y por qu es tan
decir sobre la diferenciacin territorial difcil, en algunas regiones, imitar o
del desarrollo, resultados e instituciones tomar prestadas convenciones e institu-
econmicas. Su principal contribucin ciones de otros lugares. Su propsito es
a las disciplinas espaciales es analizar el aumentar el poder explicativo de la cien-
papel de la proximidad territorial en la cia social regionalista, aproximndola a
formacin de convenciones; el papel de los temas principales de muchas otras
las convenciones a la hora de definir las ciencias sociales contemporneas mien-
capacidades de accin de los agentes tras se llevan a cabo nuevas contribu-
econmicos y por tanto, las identidades ciones especficas a esos debates.
econmicas de los territorios y regiones;
62 Las Economas Regionales como Activos Relacionales
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68 Las Economas Regionales como Activos Relacionales
traduzida pela distncia entre o lugar de o primeiro pilar sobre o qual a sntese
moradia e o local de trabalho (t) e pela walraso-thneniana se edifica o da re-
quantidade de espao consumido (q); presentao das hipteses de Thnen
todos os outros bens so grupados em sobre o espao segundo o critrio aloca-
um bem composto (z) que serve de nu- tivo individual do trade off entre acessibi-
merrio nos modelos de equilbrio de lidade e espao.
localizao neoclssicos. Assim, a funo
de utilidade que os indivduos devem Seguindo o percurso do equilbrio do
maximizar U(q, t). Como h um custo consumidor da microeconomia tradicio-
de deslocamento entre o local de mora- nal, a leitura neoclssica de Thnen
dia e o local de trabalho, que por defi- supe que os agentes econmicos ado-
nio no centro da cidade (Central tam um certo procedimento racional em
Business District - CBD), a acessibilidade suas escolhas de localizao. Essa racio-
ao centro ser um atributo de localiza- nalidade supe que os indivduos tomam
o desejada pelos indivduos. suas decises de forma autnoma e inde-
pendente, buscando maximizar suas
O desejo de acessibilidade, dadas as funes-objetivo sob a restrio ora-
vantagens de localizao, traduz-se em mentria individual. Como essa restrio
renda fundiria, o que leva os indivduos oramentria um parmetro exgeno,
a estabelecer suas escolhas de localizao as escolhas so tomadas segundo uma
segundo um trade off entre acessibili- racionalidade que identificada como
dade e consumo de espao. Portanto, a uma racionalidade paramtrica. Como
representao individual do espao veremos nos pargrafos seguintes, a re-
thneniano (distncia ao CBD) ser re- presentao do homo conomicus que
velada nos moldes de localizao neo- essa racionalidade paramtrica traz em-
clssicos por um conjunto de curvas de butida a de indivduos que tomam suas
indiferena entre acessibilidade e consu- decises sem se questionar sobre as to-
mo de espao com nveis diferentes de madas de decises dos outros partici-
satisfao. De fato, a primeira operao pantes do mercado; seus clculos so
da leitura neoclssica da configurao formulados de forma autnoma e inde-
da estrutura intra-urbana a de repre- pendente, sem que os clculos dos outros
sentar o universo de consumo espacial tomadores de decises econmicas
(localizao) segundo o critrio de indife- sejam percebidos como uma varivel que
rena locacional de um agente represen- influencie suas formulaes de localizao
tativo; para cada nvel de satisfao, os residencial 6. Em outras palavras, o equi-
indivduos so indiferentes quanto sua lbrio individual (maximizao de sua
localizao, supondo que as perdas em funo-objetivo, dados os parmetros
acessibilidade so compensadas por restritivos) independe das decises dos
consumo de espao. Em outras palavras, outros agentes econmicos.
6
A racionalidade paramtrica supe que a informao seja perfeita e que no haja
interdependncia das decises dos agentes. Para uma discusso sobre os princpios gerais
da racionalidade paramtrica, ver Mongin (1984) e Walliser (1993).
Pedro Abramo 73
plano urbano seria, portanto, um meio delos walrasianos. Propomos, pois, uma
pouco eficiente de alocao dos indiv- breve apresentao de um problema de
duos e atividades nos espaos vis--vis deciso de localizao residencial quando
da liberdade do mercado. A nosso ver, temos interdependncia das funes de
essas concluses so tributrias da inter- utilidade, para verificar se os atributos de
relao entre as hipteses de representa- unicidade, estabilidade e eficincia do
o naturalizante do espao de Thnen equilbrio espacial fundado no trade off
e da racionalidade paramtrica dos mo- entre acessibilidade e espao se mantm.
9
Ver, por exemplo, Fujita (1994).
Pedro Abramo 75
10
Para uma discusso sobre o problema de agregao das funes de utilidade no interior da
unidade familiar (chefe ditatorial, altrusmo etc.), ver Abramo (1994).
11
A partir de exerccios de esttica comparativa, os modelos de base econmica urbana
neoclssica concluem que a elevao dos recursos iniciais conduz a uma rotao para a
direita da curva de renda ofertada, revelando, portanto, uma preferncia por espao em
detrimento de acessibilidade.
76 A Ordem Urbana Walraso-Thneniana e suas Fissuras
12
Basta imaginar um mercado de trabalho com forte assimetria informacional para concluirmos
que uma rede de relaes de conhecimento e amizade acumulados durante a infncia
pode reduzir significativamente os custos de busca de emprego e/ou pesar positivamente nas
relaes de confiana (contratos) entre empregadores e empregados.
Pedro Abramo 77
Podemos tomar o modelo da cidade ra- pelos negros e a zona das famlias brancas
cista de Rose-Ackerman 13 como a inter- no-racistas dada pela interseo das
pretao cannica da sntese neoclssica curvas de inteno de pagamento de ren-
para o papel das externalidades de vizi- da dos brancos e negros, isto , o ponto
nhana no processo de equilibragem pelo (b0 ); o limite urbano da cidade dado
mercado e seus efeitos na estrutura intra- pelo ponto onde a curva de oferta de
urbana 14. Para avaliar essas alteraes, renda dos brancos corta a da renda ofer-
Rose-Ackerman apresenta o resultado de tada pelos agricultores. A configurao
um processo de equilibragem espacial da ordem espacial pode ser identificada
em que os brancos no so racistas e o como a de uma cidade segregada: uma
compara com os resultados do equilbrio zona homognea de negros ao centro e
espacial em que os brancos tm averso uma zona homognea de brancos que
aos negros. Para tal, o modelo supe que tende a se localizar em direo periferia.
os brancos tm um nvel de renda supe- Essa estrutura interurbana seria o resul-
rior ao dos negros. Segundo os resulta- tado da concorrncia espacial (coorde-
dos da sntese neoclssica, os brancos- nao do mercado de localizao) e
ricos no-racistas (B) teriam preferncia representa o equilbrio espacial mais
por espao e tenderiam a apresentar eficiente em termos alocativos, dadas as
uma curva de intenes de pagamento preferncias e os recursos oramentrios
de rendas em funo da distncia ao dos agentes. Essa configurao de uma
CBD (r 0 B(t)), menos inclinada que a ordem urbana segregacionista entre
oferecida pelos negros-pobres (r0 N(t)), brancos e negros, entretanto, no reflete
tendo em vista que estes ltimos tendem nenhum preconceito racial; resultado
a ter uma preferncia por acessibilidade. das hipteses sobre as dotaes de recur-
Como podemos visualizar na Figura 2a, sos entre os participantes do mercado de
o resultado do processo de equilibragem localizao. A pergunta formulada por
configura uma ordem residencial urbana Rose-Ackerman refere-se s possveis
em que os negros se localizariam prxi- modificaes na estrutura intra-urbana
mo ao centro, enquanto os brancos ten- quando os brancos-ricos manifestarem
deriam a se localizar mais distante do uma averso racista em relao aos
CBD. A fronteira entre a zona ocupada negros-pobres.
13
Rose-Ackerman (1975, 1977).
14
O modelo de cidade racista uma forma extrema de introduzir uma dimenso no-econmica
na formulao de decises de localizao. No caso brasileiro, podemos substituir o critrio de
averso aos negros e imaginar que os ricos tm averso aos pobres; suas funes de
utilidade teriam uma varivel de externalidade positiva dada pela proximidade de famlias
ricas; ver Abramo (1994).
Pedro Abramo 79
pois os brancos racistas que se localizam uma elevao do nvel de utilidade das
perto da fronteira so recompensados famlias negras (u0 N<u1N). De forma ca-
pela perda de utilidade de estarem pr- ricatural, teramos algo como uma corre-
ximos aos negros com uma queda no o (econmica), por interferncia da
pagamento de rendas. Essas alteraes mo divina do mercado, dos peca-
nas curvas de ofertas de renda modifi- dos (morais) da alma humana.
cam substantivamente a estrutura intra-
urbana. A primeira modificao que No modelo de Rose-Ackerman, os
podemos ver como resultado do equil- negros seriam indiferentes s escolhas
brio da cidade racista que os gastos dos brancos racistas. As famlias negras
dos negros com localizao (renda fun- tomam suas decises a partir da sacros-
diria) sero inferiores aos desembol- santa miopia da racionalidade param-
sados em ordem espacial, onde os trica: dadas as curvas de indiferena de
brancos no tm averso racista 15. Por- localizao a partir do trade off entre
tanto, a ordem espacial racista para uma acessibilidade e espao, a curva de res-
mesma localizao permite um ganho trio oramentria definiria a localiza-
de utilidade aos negros (r0 N>r1 N). Da o de equilbrio que maximizasse a
mesma maneira, o deslocamento da funo de utilidade dos negros. Os agen-
curva de intenes de pagamento de tes tomam suas decises de localizao
renda dos brancos racistas (r1BR) para sem levar em considerao as escolhas
baixo redefine o ponto de fronteira dos outros participantes do mercado
entre as zonas dos negros e brancos ra- nem tampouco os resultados do pro-
cistas. O processo de equilibragem es- cesso de equilibragem espacial. Entre-
pacial faz emergir uma nova fronteira tanto, podemos imaginar um processo
negros-brancos (bi) que ser mais dis- de equilibragem espacial ortodoxo, em
tante do CBD. Portanto, na cidade racis- que a racionalidade do clculo econ-
ta, os negros se localizam em uma rea mico dos agentes leve em considerao
superior de uma ordem espacial sem a interdependncia das funes de uti-
averso racista. Dado que a populao lidade dos participantes do mercado.
negra no se alterou, a densidade na Assim, os negros podem ter em conta a
zona dos negros diminui quando a aver- averso dos brancos racistas e anteci-
so racista dos brancos se manifesta nos par as conseqncias das preferncias
resultados da concorrncia espacial. de externalidade de vizinhana dos
Esses dois resultados, queda dos preos brancos racistas na estrutura intra-urba-
da terra para as famlias negras e dimi- na (reduo dos preos e das densida-
nuio da densidade na zona negra, des residenciais para as famlias negras);
permitem a Rose-Ackerman concluir isto , eles no formulariam suas deci-
que a estrutura intra-urbana de uma ci- ses de localizao de forma mope
dade racista (ordem eficiente) produz como nos modelos da sntese espacial
15
Um dos resultados clssicos da sntese walraso-thneniana o que diz que equilbrios de
localizao em curvas de oferta de renda mais baixas produzem um nvel de satisfao
superior; Alonso (1964) e Fujita (1989).
Pedro Abramo 81
16
Para uma discusso da dimenso cognitiva da racionalidade estratgica, ver Walliser (1993).
17
Os negros formulam seus planos a partir de uma relao de causa e conseqncia de suas
decises, considerando a mesma relao de causalidade das decises dos outros agentes.
Para Walliser (1985, p. 39-40), esta seria uma definio minimal de uma racionalidade
estratgica.
82 A Ordem Urbana Walraso-Thneniana e suas Fissuras
18
As regras de um jogo descrevem o que cada jogador pode fazer e quando pode fazer, assim
como as perdas e lucros associados a cada deciso. Para uma apresentao das noes de
base, ver Shubik (1982) e Rasmusen (1990); e para os jogos dinmicos, Tirole (1983).
19
Harrington (1989, p. 178).
Pedro Abramo 83
20
Van Damme (1989, p. 139), the most general model used to decribe conflict situations is the
extensive form model, which specifies in detail the dynamic evolution of each situation and
thus provides an exact description of who knows what when and what is the consequence
of which.
21
A apresentao de um jogo sob a formao normal ou estratgica elimina esse problema.
Entretanto, como nos diz Shubik (1982, p. 77), a forma estratgica implica a perda de infor-
maes sobre a estrutura do jogo.
22
Schelling (1971, 1978). Para justificar esse procedimento, ver Abramo (1994).
23
Segundo a apresentao de Kreps (1990, p. 404), a Nash equilibrium is a strategy profile in
which each players part is as good a response to what the others are meant to do as any other
strategy available to that player. Do ponto de vista matemtico, o equilbrio de Nash um
ponto fixo; para uma apresentao formal, ver Tirole (1985, p. 117).
84 A Ordem Urbana Walraso-Thneniana e suas Fissuras
24
Moreaux (1988, p. 15): il sagit bien (o equilbrio de Nash) dun concept adapt aux jeux
non coopratifs puisque chaque joueur choisit sa stratgie en fonction de son seule intrt
personnel en considrant comme donnes les stratgies des autres joueurs. Il ny a pas de
coordination des joueurs pour amliorer leurs gains.
Pedro Abramo 85
xeque quando os agentes adotam uma negros tero sempre interesse em esco-
racionalidade estratgica. lher uma estratgia agressiva (estratgia
dominante). Assim o equilbrio estvel
Esse resultado , sem dvida, emba- ser o mesmo do jogo com informao
raoso para a tradio ortodoxa walra- perfeita: combinao das estratgias (A,
siana. Podemos, portanto, indagar se, em A). De fato, quando negros e brancos
um quadro de interao estratgica com escolhem suas estratgias a fim de maxi-
informao imperfeita, o equilbrio de mizar seus interesses pessoais, e conhe-
Nash seria tambm timo. Na Figura 3b, cedores da eventualidade de ataques
supomos que os brancos escolhem suas surpresa, o nico equilbrio estvel o
estratgias sem conhecer o comporta- equilbrio de Nash. Entretanto, esse equi-
mento escolhido pelos negros. Apesar do lbrio no eficiente em termos do timo
desconhecimento da estratgia adotada de Pareto. Aqui temos o que normalmen-
pelos negros, os brancos podem formular te chamado de dilema do prisioneiro:
suas hipteses sobre o comportamento para um jogador que no est seguro
estratgico que permite a maximizao quanto s intenes pacficas de seu par-
de suas satisfaes. Por exemplo, se os ceiro, o uso da estratgia agressiva se
brancos antecipam que os negros ado- impe em nome dos interesses indivi-
tam uma estratgica passiva, os brancos duais, mas o interesse comum decerto
tero interesse de adotar uma estratgia recomenda que se faa de tudo para atin-
do tipo ataque surpresa, pois ao esco- gir a paz. 25 Em razo de a estratgia
lherem um comportamento agressivo eles dominante induzir cada um dos partici-
teriam um ganho de 2, enquanto sua uti- pantes do mercado de localizao a ter
lidade seria nula se adotassem um com- um comportamento agressivo e insen-
portamento passivo. No caso em que os svel ao interesse comum, o equilbrio que
negros decidem por uma estratgia agres- se impe um equilbrio no-coopera-
siva, os brancos optam tambm por uma tivo e subtimo. A nica maneira de recu-
estratgia agressiva (-1 ser sempre perar a eficincia do equilbrio (timo)
melhor do que -5). Portanto, os brancos impor a renncia a todo comportamento
escolhem sempre a estratgia (A), inde- oportunista (ataque surpresa) que, do
pendentemente da escolha dos negros. ponto de vista individual de cada parti-
Segundo os termos correntes da teoria cipante do processo de equilibragem
dos jogos, os brancos tm uma estratgia especial, seria sua deciso tima. O para-
dominante: adotar um comportamento doxo de uma racionalidade individual
agressivo seja qual for a estratgia escolhi- maximizadora que conduz a uma ordem
da pelos negros. Invertendo o raciocnio, (agregada) no-eficiente (tima) revela
e portanto pondo os negros diante de os limites do mercado de localizao
uma escolha de informao imperfeita, como o mecanismo de coordenao
chegaremos concluso de que os espacial.
25
Moulin (1981, p. 6-7).
86 A Ordem Urbana Walraso-Thneniana e suas Fissuras
A imagem otimista proposta pela sntese zante (critrio do trade off entre acessibi-
walraso-thneniana de um processo de lidade e espao). Assim, a representao
equilibragem espacial em que a liberda- econmica do espao passa a ser plural
de de escolha de localizao dos indi- e, sobretudo, produto das decises ex
vduos faz emergir uma ordem espacial post dos participantes do mercado de
nica e eficiente encontra seus pontos localizao. Aqui, a dimenso da coor-
de fissura. Nosso caminho foi o de per- denao espacial pelo mercado torna-
seguir essas fissuras da ordem espacial se crtica, pois os tomadores de deciso
ortodoxa sem sair do campo de argu- de localizao devem antecipar os efeitos
mentao terico neoclssico. Nosso de localizao dos outros participantes
primeiro movimento foi o de recuperar do mercado. O problema de coordena-
a argumentao do autor que prope o espacial torna-se mais crtico quando
a colonizao das cincias sociais pelo temos interao estratgica entre os par-
discurso da economia (Gary Becker) ticipantes do mercado de localizao.
para sinalizar que a deciso de localizao Nos pargrafos anteriores, utilizamos o
pode, eventualmente, transformar-se caso da cidade racista neoclssica de
em um verdadeiro meio de investimen- Rose-Ackerman para sublinhar as dificul-
to familiar. Sua utilizao em escolhas dades da equilibragem espacial quando
intertemporais pode servir para maximi- os agentes formulam suas decises a
zar a complementaridade das funes partir de uma racionalidade estratgica.
de utilidade de um contrato de casa- Utilizando o dilema do prisioneiro para
mento ou permitir que um chefe de fa- caracterizar os comportamentos oportu-
mlia tome a deciso oportunista cujo nistas dos negros e brancos da cidade
objetivo o de possibilitar que seus filhos racista da sntese neoclssica, chegamos
se beneficiem das externalidades de vizi- a uma ordem urbana (equilbrio) subti-
nhana de famlias de renda superior. ma. Poderamos, por exemplo, utilizar
Nos dois casos, a deciso de localizao o paradoxo da cadeia de lojas de
tomada a partir de uma representao Selten 26 e as propostas de soluo de
do espao definida pela estratgia de Kreps-Wilson 27 para ver que a introdu-
maximizar o lucro familiar. A interde- o de perturbaes em termos infor-
pendncia das funes de utilidade da macionais (incerteza) pode conduzir
famlia permite visualizar os limites de emergncia de equilbrios espaciais por
uma representao do espao naturali- reputao 28. Essa possibilidade de uma
26
Selten (1978).
27
Kreps-Wilson (1982).
28
Em Abramo (1994), utilizamos o conceito de equlbrio seqencial e de reputao de Kreps-
Wilson para analisar o equilbrio espacial de uma cidade racista.
Pedro Abramo 87
crena permitir a coordenao das deci- zao um primeiro passo para a pro-
ses espaciais abre caminho a uma eco- posio de uma leitura heterodoxa da
nomia das antecipaes urbanas e a economia urbana. Uma economia das
uma leitura da estrutura urbana a partir antecipaes urbanas faz emergir a di-
de uma problemtica da incerteza urba- menso crucial do tempo em uma an-
na. Acreditamos que a ruptura da rela- lise sobre a coordenao espacial e a
o auto-referencial entre as hipteses estruturao urbana e, a nosso ver,
de Thnen sobre a representao do es- deixa entrever a possibilidade da concei-
pao e a racionalidade paramtrica pro- tuao da noo de incerteza urbana
posta pela sntese walraso-thneniana e radical e de um projeto de leitura ps-
sua problematizao em termos de in- Keynesiano da economia urbana.
terdependncia das decises de locali-
88 A Ordem Urbana Walraso-Thneniana e suas Fissuras
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Pedro Abramo 89
A construo da cidade-modelo
Como pontos luminosos no mundo, um questes centrais: por que no atual mo-
conjunto eleito de cidades qualificado mento histrico as polticas urbanas com
como modelo qualidade constituda a origem em cidades to distintas produ-
partir de elementos urbansticos, de pr- zem modelos semelhantes e, diante
ticas de gesto ou das chamadas solu- disso, quais so e o que refletem os pa-
es criativas para problemas urbanos. dres dominantes de sucesso?
tentes. Eles impem um modo de ver o dada sua notvel aceitao, ou, como
mundo e moldam as condies para a expressa Lefebvre ao se referir aos pa-
ao dos grupos locais. A tentativa de radigmas, dado seu poder mgico de
modelizao conduz a uma hegemonia metamorfosear o obscuro em transpa-
desencarnada e desterritorializada, per- rncia (1998, p. 39), sua construo
mitindo um desvendamento mais pleno est intrinsecamente ligada a represen-
dos denominados impulsos globais, taes e idias. Enquanto tal, portanto,
que, para Ribeiro (1999), designam a obedece viso de mundo daqueles
nova ao hegemnica na escala- que, ao se imporem como atores do-
mundo. Essa ao, conduzida pelo dis- minantes nos processos de produo do
curso da flexibilidade e pela correlata espao, passam tambm a ocupar posi-
idealizao da tcnica, expressa o teor o privilegiada para dar contedo ao
dessa nova modernizao. discurso sobre o espao.
1
Swyngedouw identifica o fortalecimento das escalas global e local e a reduo da importncia
de outras regional, nacional como parte da nova estratgia discursiva dominante. Em sua
interpretao, as escalas no so um dado pronto e objetivo da nova geografia do mundo,
mas sim uma construo poltica com arranjos cambiantes (Swyngedouw, 1997, p. 141).
98 Cidades-modelo: espelhos de virtudes ou reproduo do mesmo?
como os mais apropriados para a circu- importar sua experincia, para com-
lao e a irradiao dos modelos. prar seu know-how.
3
Para estes dois ltimos mbitos, exemplar a forma como foi trabalhado o modelo Barcelona,
a partir da exportao de know-how diante do sucesso na organizao da Olimpada Barcelona
92, assim como da difuso do seu modelo de planejamento estratgico, com forte orientao
para o mercado latino-americano e visvel repercusso nos governos locais do Brasil. Ver
Benach e Snchez, 1999.
100 Cidades-modelo: espelhos de virtudes ou reproduo do mesmo?
4
Os trabalhos apresentados nessa conferncia internacional constituem-se em importante
referncia acerca da agenda urbana hegemnica. Ver Moura, 1999.
5
Ver, por exemplo, a publicao Barcelona: um modelo de transformao urbana - 1980-
1995, Naes Unidas e Banco Mundial, destinada s cidades latino-americanas, em que
so expostas as lies da cidade assim qualificadas no prlogo. Ver, tambm, Castells e
Borja, Local y Global, 1997. Este ltimo documento contm, literalmente, um declogo
para administradores urbanos.
6
Tempo e espao como categorias do acontecer no lugar vinculado poltica e s relaes
sociais que do contedo e possibilidade histrica s prticas.
Fernanda Snchez e Rosa Moura 101
resses envolvidos nas ondas moderni- ruins. Como anteparo da poltica das
zadoras e para postergar o exame da relaes sociais capazes de erigir o
orquestrao entre tempos sociais que modelo , objetivam-se as representa-
caracteriza a vida social (1998, p. 108). es e constroem-se esquemas ordena-
dores da vida urbana e demarcadores
Por outro lado, a tecnificao contida da ordem que se intenciona impor.
na difuso de boas prticas refora a co-
dificao da eficcia, do desempenho e As prticas que se pretendem por-
do sucesso que levam mais conduta tadoras de sustentabilidade articulam,
racional adequada s imposies da sobretudo, argumentos da eficcia
reestruturao produtiva do que pro- ecoenergtica e da qualidade de vida.
priamente transformao social. Permeia tais modelos uma represen-
tao tecnomaterial da problemtica e
das solues para as cidades. Atribui-se
Sustentabilidade urbana ao planejamento urbano, entre outras
como pressuposto comum coisas, o papel de minimizador da de-
gradao energtica atravs do desen-
Quase sempre associada noo de volvimento de tecnologias voltadas para
cidade-modelo, encontra-se a noo a reciclagem e para a despoluio. A tra-
de cidade sustentvel. Pode-se dizer jetria evolutiva rumo eficincia eco-
que, de modo recorrente, uma evoca a lgica conjuga projetos de mudana
outra na atual agenda urbana. Longe tcnica urbana e programas de edu-
de configurar um sentido objetiva e con- cao ambiental, voltados ampliao
sensualmente aceito, a noo de cida- da chamada conscincia ecolgica.
de sustentvel compreende diferentes Com efeito, nesses projetos de cidade
contedos e prticas a reivindicar seu verifica-se uma ntida despolitizao da
nome (Acselrad, 1999). questo ambiental, uma recusa do reco-
nhecimento de conflitos entre meio am-
Cada uma das chamadas boas pr- biente e economia.
ticas, no que se refere sustentabili-
dade, inscreve-se nos quadros de um Outra noo estruturadora do dis-
projeto urbano, fundado em um apa- curso da sustentabilidade, amplamente
rente saber objetivo sobre fluxos e pa- transformada em recurso da modeliza-
rmetros. Nota-se, nesses casos, o o, a de qualidade de vida ex-
recorrente acionamento de uma base pressa na incorporao social de prticas
tcnica para apresentar e legitimar indi- orientadas pureza ambiental, no exer-
cadores de qualidade de vida ou de ccio da cidadania, no cultivo ao patri-
sustentabilidade urbana: metros qua- mnio cultural, assim como nas medidas
drados de rea verde por habitante, to- de eficincia e eqidade das polticas
neladas de lixo reciclado, quilmetros de urbanas (Acselrad, 1999). Os governos
ciclovias. sobretudo o recurso tcni- locais lutam por ostentar os melhores
ca que distingue as boas prticas das indicadores e as melhores posies nos
102 Cidades-modelo: espelhos de virtudes ou reproduo do mesmo?
I m age ns de m a rc a
Cingapura Curit iba
Cidade modelo Cidade modelo
Cidade sustentvel Cidade sustentvel
Cidade planejada Cidade planejada
Global city Cidade de Primeiro Mundo
Cidade jardim Capital ecolgica
Cidade equatorial de excelncia Capital brasileira da qualidade de vida
Cidade multitnica: where the world Curitiba de todas as gentes
comes together Cidade saudvel
Cidade de alta tecnologia O Brasil urbano que deu certo
New Asia Singapore
governos locais, revestindo muitas vezes como exemplo no que se refere admi-
suas principais lideranas de um poder nistrao urbana e governana e
quase mtico. tambm referenciada pelos elevados
padres de qualidade da infra-estrutura
fsica, por inovaes na oferta de habi-
O suporte econmico e tao, no provimento de reas verdes,
i nstituci ona l na gesto do trnsito e na eficincia de
seus servios pblicos, elementos que,
Em Cingapura, a indstria eletroeletr- ordenados, constroem a imagem de
nica foi implantada como decorrncia Cidade Equatorial de Excelncia. Cha-
da expanso do capital japons, passan- mamos a ateno para o poder evocador
do a compor uma diviso vertical e ho- dessa imagem-sntese. Longe de ser ca-
rizontal do trabalho com a Malsia, a sual, ela define o campo no qual a cidade
Tailndia e as Filipinas. Porm, o setor transita como modelo e compete em con-
financeiro que firma o pas no mapa da dies vantajosas: cidades equatoriais,
internacionalizao do capital, revelan- cidades em desenvolvimento.
do-se decisivo ao desenvolvimento da
regio. Em 1971, o governo iniciou o Curitiba, por sua vez, j nos anos
Asian Dollar Bond Market. Sua localiza- 70, durante o perodo do governo mili-
o vantajosa e seu papel de interme- tar, foi eleita cidade modelo pelas ins-
dirio financeiro e cambial num perodo tncias centrais, uma espcie de verso
marcado por drsticas mudanas ma- urbana do chamado milagre brasilei-
croeconmicas e nos preos relativos ro, por levar adiante uma moderniza-
dificilmente podem ser exagerados nas o urbanstica que traduzia na escala
explanaes sobre o milagre asitico. local um modelo de planejamento tec-
(Medeiros, 1997, p. 313) nocrtico pretendido para os demais
centros urbanos do pas.
Para Sassen, pesaram na consolida-
o de Cingapura o forte impulso das Desde ento, as diversas fases da
estratgias descentralizadoras da pro- cristalizao do projeto, com pouca des-
duo industrial norte-americana, em continuidade poltica, em associao
busca de novos mercados, assim como com a imagem de cidade-modelo tm
os incentivos fiscais, infra-estruturais e outorgado administrao municipal o
de mo-de-obra de baixo custo. Hoje, papel de exportadora de tecnologias
consolida-se como centro regional se- urbansticas, seja no mbito dos trans-
cundrio, reproduzindo em outra escala portes urbanos, do desenho de espa-
o papel desempenhado por Nova York, os pblicos, ou, mais recentemente, no
Londres e Tquio, em escala mundial da gesto urbana ambientalmente sus-
(Sassen, 1996, p. 41). tentvel. Com efeito, em diversos lu-
gares do Brasil, os governos municipais
Acionada como modelo para pases tentam copiar as solues curitibanas,
em desenvolvimento, Cingapura alada e, na escala internacional, peridicos
Fernanda Snchez e Rosa Moura 105
7
O ltimo relatrio do Banco Mundial aponta esse sistema como exemplo de como o plane-
jamento pblico integrado pode melhorar a acessibilidade com baixo custo, considerando o
papel indutor que os eixos estruturais desempenham no crescimento da cidade, o que
conseqentemente permite reduzir o uso do automvel (World Bank, 1999, p. 150).
Fernanda Snchez e Rosa Moura 107
8
Vianna compara o capitalismo high tech de Cingapura com seu exacerbado controle poltico-
social. Lembra Willian Gibson, que diz que o pas uma Disneylndia com pena de morte
(Vianna, 1999).
108 Cidades-modelo: espelhos de virtudes ou reproduo do mesmo?
festivais de teatro anuais que no guar- tes comuns, h em Cingapura uma po-
dam relao com o lugar. ltica regulatria dos fluxos, altamente
excludente, enquanto em Curitiba, com
Essas referncias parecem sinalizar a segregao espacial dos novos migran-
uma teatralidade ostensiva do cenrio tes de baixa renda, atrados tambm
cultural destas cidades-modelo, sintomas pelo city marketing que acompanha essa
de uma civilizao do simulacro, que nova fase de reestruturao produtiva,
evidencia a lgica cultural do capitalis- h o aumento de uma presso latente
mo avanado (Jameson, 1995). das periferias.
9
Os programas de habitao em Cingapura foram desenvolvidos como poltica de integrao
social, diluidora dos conflitos intertnicos dos anos 60. A ordenao espacial regulamenta
at a porcentagem mxima de moradores de cada etnia nos blocos de apartamentos. Ver
Castells e Borja, 1997, p. 233.
110 Cidades-modelo: espelhos de virtudes ou reproduo do mesmo?
10
Uma srie de artigos desses autores contesta o divulgado padro homogneo e desenvolve
anlise da fragmentao territorial da Grande Curitiba.
11
Nessa direo ver, por exemplo, o trabalho realizado dentro do projeto Made in Barcelona
(madeinbarcelona@yahoo.com) que desenvolve uma consistente crtica cultural s mais
recentes verses do modelo-Barcelona, base para a preparao do Frum Universal das
Culturas 2004.
Fernanda Snchez e Rosa Moura 111
continuao
Imagem como estratgia local de desenvolvimento
City marketing
Meio urbano inovador e qualidade de vida
Sustentabilidade urbana: Cidade Jardim e Capital Ecolgica
Dependncia externa de recursos naturais
Construo do senso de pertencimento
Difuso de modelo de gesto (boas prticas)
cones urbanos: elementos paisagsticos e do patrimnio
Indstria cultural e mdias urbanas: festivais de cinema e de teatro
Indstria do turismo: multiculturalismo, identidade urbana, paisagem
Tecnificao urbana: transportes, circulao, indstria ambiental
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A Re-significao das Tradies:
o Acre entre o rodoviarismo e o
socioambientalismo *
*
Este artigo uma verso reduzida do Captulo 4 de Modernizao Negociada: expanso viria
e riscos ambientais no Brasil, 1999 (prelo), de Srgio Costa, Angela Alonso e Srgio Tomioka,
que resulta de pesquisa realizada no mbito de um convnio entre o Cebrap e o Ibama.
1
Geraldo Mesquita, 1975, p. 15.
2
Francisco R. S. Castro e Maria E. Santos, 1992, p. 12 e p. 42-44; cf. tambm AQUIRI, mar./
1997, p. 47 ss.
3
Na dcada de 1970 a expanso da atividade agropecuria teve fortes repercusses sobre a
estrutura agrria da regio, acarretando, ao mesmo tempo, srios problemas ambientais. Cf.
IBGE/IPEA, 1990, p. 64.
4
AQUIRI, op. cit., p. 46 ss.; IBGE/IPEA, op. cit.; Mesquita, op. cit., p. 15 ss.
5
Cf. IBGE/IPEA, op. cit.
6
Costa, Alonso e Tomioka, op. cit.
Srgio Costa, Angela Alonso e Srgio Tomioka 117
visava tambm para o Acre. O projeto, dos impactos ambientais como condio
porm, no chegou a se efetivar 7. do financiamento da pavimentao do
trecho Porto VelhoRio Branco 10.
O projeto do governo federal para
a Amaznia Ocidental sofreu profunda O PMACI I apresentava um cenrio
inflexo na segunda metade dos anos explosivo: a pavimentao da rodovia
1980. A antiga fronteira de recursos causaria impactos ambientais, sociais e
transforma-se em rea de interesse am- econmicos. O governo federal deveria
biental. Como o Acre tinha grande parte alterar os parmetros usados at ento
de sua cobertura vegetal intocada, os para o investimento na regio, de modo
conflitos entre expanso econmica e a compatibilizar desenvolvimento, defesa
preservao ambiental ficaram explcitos do meio ambiente e melhoria da quali-
ali. O governo federal, desde o final dos dade de vida da populao.
anos 1980, propusera vrios projetos
ambientais para a regio. O principal Em consonncia, o governo fede-
deles, o Projeto de Proteo ao Meio ral redefiniu suas metas para a regio:
Ambiente e s Comunidades Indgenas em vez de apostar na capacidade de
(PMACI I) 8, j era produto da reao produo agropecuria do estado, en-
do movimento ambientalista internacio- fatizou a importncia da preservao
nal pavimentao da BR-364 na regio ambiental 11.
de Rondnia, que denunciava os im-
pactos sociais e ambientais decorrentes. O PMACI I exps, portanto, o com-
O Banco Mundial fora responsabilizado promisso do governo federal de regular
por ambientalistas de ser o financiador e limitar a presso econmica sobre o
da devastao da Amaznia 9. O BID exi- ambiente natural do estado 12. Razes
giu, por isso, garantias de minimizao geopolticas e econmicas motivaram
7
Cf. IBGE/IPEA, op. cit.
8
O PMACI I se refere ao entorno da BR-364, no trecho entre Porto Velho e Rio Branco. Poste-
riormente, foi feito o PMACI II, seguindo a mesma perspectiva, para o outro trecho da mesma
rodovia, entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul (que at 1999 ainda no estava totalmente
asfaltada). Cabe destacar tambm o amplo projeto do BNDES para a reserva extrativista do
Alto Juru e para o desenvolvimento comunitrio das reas indgenas circunvizinhas, em 1989
(AQUIRI, op. cit., p. 40-41). Nem o PMACI II nem o projeto do BNDES sero analisados aqui.
9
A pavimentao do trecho CuiabPorto Velho da BR-364 era a principal obra do Projeto de
Desenvolvimento Integrado do Noroeste do Brasil (Polonoroeste), que fora financiado pelo
Banco Mundial e tinha o intuito de suprir as demandas por infra-estrutura na regio de Rondnia
e de induzir o desenvolvimento da regio. A esse respeito ver John Redwood III, 1993.
10
Cf. AQUIRI, op. cit., p. 41, e IBGE/IPEA, op. cit.
11
Cf. IBGE/IPEA, op. cit.
12
O projeto respondia s preocupaes nacionais e externas quanto necessidade de um
plano para orientar a ocupao da rea de influncia direta e indireta da rodovia BR-364,
tendo em vista controlar ou minorar os impactos decorrentes do seu asfaltamento, previsto
para o trecho Porto VelhoRio Branco (IBGE/IPEA, op. cit., p. 15).
118 A Re-significao das Tradies: o Acre entre o rodoviarismo e o socioambientalismo
13
A esse respeito ver Leilah Landim, 1993.
14
De que so exemplos o EIA-Rima e as audincias pblicas.
15
Marina Silva, 1997.
16
possvel aferir essa posio a partir das entrevistas que realizamos com diferentes setores e
tendncias do movimento ambientalista local (Costa, Alonso e Tomioka, op. cit.). Ver, tam-
bm, a esse respeito, IBGE/IPEA, op. cit.
Srgio Costa, Angela Alonso e Srgio Tomioka 119
17
Do PMACI I, coordenado pelo Ipea/Iplan, participaram diversos rgos federais e estaduais
Secretaria Especial do Meio Ambiente, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, Mi-
nistrio da Reforma e do Desenvolvimento Agrrio (na poca Incra), Fundao Nacional do
ndio (Funai), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa). O projeto tambm
constituiu um grupo de trabalho executivo com representantes da sociedade civil (GT-PMACI),
como Cimi (Conselho Indigenista e Missionrio), CPI-Acre (Comisso Pr-ndio), CTA (Centro
dos Trabalhadores da Amaznia), CNS (Conselho Nacional dos Seringueiros) e representan-
tes de rgos federais e dos Estados de Rondnia, do Acre e do Amazonas (IBGE/IPEA, op. cit.,
p. 15). Sobre propostas apresentadas pelo CNS e pela UNI (Unio das Naes Indgenas),
incorporadas ao projeto, ver IBGE/IPEA, op. cit., p. 109 ss.
18
Ainda hoje a explorao da seringueira nativa permanece estreitamente vinculada quali-
dade e s caractersticas ambientais (...). Representa no apenas a fonte de sobrevivncia
mas a expresso cultural da populao, expresso que se caracteriza pelas relaes que ela
mantm com o ambiente [...]. Algumas caractersticas da explorao seringueira, como a
rarefao da populao em virtude da disperso das espcies e da necessidade de grandes
reas para cada extrator, foram fatores primordiais para o aspecto conservacionista da ativi-
dade. (IBGE/IPEA, op. cit., p. 85-86)
19
Cf. IBGE/IPEA, op. cit.
120 A Re-significao das Tradies: o Acre entre o rodoviarismo e o socioambientalismo
20
Silva, op. cit., p. 5.
21
IBGE/IPEA, op. cit., p. 112.
22
ELI (Environmental Law Institute), 1995, p. 22 ss.; o PMACI I tambm sugere a criao de
vrias reservas extrativistas no Acre (mais de vinte projetos em Rio Branco, Xapuri, Brasilia
e Assis Brasil). (IBGE/IPEA, op. cit., p. 112).
23
Silva, op. cit.
Srgio Costa, Angela Alonso e Srgio Tomioka 121
Nos anos 90, o governo do Acre formu- e j foi at indicado como celeiro brasi-
lou, juntamente com o empresariado leiro. Deixa abrir estradas para ter rea
local e os diferentes partidos polticos produtiva capaz de sustentar o estado.
que o sustentavam, um projeto rodovia- (representante dos produtores agrcolas
rista para o estado. Esse projeto, que locais, entrevista)
aparece explicitamente nos documentos
e aes dos rgos oficiais e da buro- O processo de difuso do rodovia-
cracia vinculada ao setor de transportes rismo no Acre dos anos 1990 cria um
do estado, visava reaquecer a economia paralelo com o antigo projeto rodovia-
local e promover o escoamento da pro- rista nacional. Atravs de seminrios, de
duo local por meio de uma ligao enduros e do estmulo a movimentos e
viria com as demais regies do pas. entidades civis rodoviaristas procurava-
Reativava-se, assim, a poltica federal da se sensibilizar as instncias federais e a
dcada de 1970 para o estado, que populao do estado para a necessidade
ento objetivava a incorporao de da pavimentao das BRs 24 . To
novos territrios economia nacional, comuns nos anos 1920, nos primrdios
s que agora destituda de seu intuito do rodoviarismo brasileiro, essas aes
geoestratgico, de garantia da segurana tinham por fim a promoo e a legiti-
nacional e de povoamento da regio. mao do projeto rodoviarista tambm
O projeto de integrao rodoviria do no Acre dos anos 1990. Mas, com a de-
estado passava a ser formulado em mocratizao do pas, os rodoviaristas
termos da modernizao do Acre, como passaram a enfatizar os aspectos sociais
nica possibilidade de desenvolvimento positivos da construo rodoviria, nfa-
econmico local. se antes inexistente, pois os argumentos
principais em favor da ligao viria
O projeto rodoviarista acreano tinha aventados eram sempre econmicos.
como fundamento a idia de que a im- recorrente a partir do comeo da dca-
plantao de um sistema virio eficiente da de 1990 o destaque conferido
no Acre bastaria para gerar ali desenvol- melhoria de qualidade de vida da popu-
vimento econmico, tirando o Acre da lao, argumento claramente marginal
estagnao econmica mediante o nos projetos do regime militar, pelo qual
incentivo produo agropecuria. O o projeto rodoviarista local se moldou.
modelo era Rondnia, que aparecia As preocupaes com as conseqncias
como prova do vnculo entre rodovia e polticas so claras. Fica evidente que a
progresso: Hoje voc v o nvel de eco- opo rodoviria, antes natural, passa-
nomia de Rondnia, que se desenvolve va a necessitar de justificao pblica.
24
Cf. A Gazeta, Rio Branco, 07/06/1991.
122 A Re-significao das Tradies: o Acre entre o rodoviarismo e o socioambientalismo
25
CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), Moo no 20, de 6 de dezembro de 1990.
Mapa 1 - Infra-estrutura de transportes do Estado do Acre
26
A Gazeta, 02/02/1991.
27
Por exemplo, o Conselho Regional de Medicina do Acre publica matria paga em um jornal
local (A Gazeta, 03/02/1991) contra a moo e favorvel construo das rodovias, e o
prprio jornal A Gazeta (02/02/1991) publica editorial nos mesmos termos.
28
A Gazeta, 02/02/1991.
29
O representante declara publicamente no ter participado da sesso do Conama na qual a
moo contrria estrada foi aprovada, apesar de seu nome constar da ata da sesso. Cf.
CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente): Ata da 26a reunio ordinria, 1990.
Srgio Costa, Angela Alonso e Srgio Tomioka 125
30
O Rio Branco, 03/04/1996; cf. tambm Imac, Processo n 0044/95, 1995; e Imac, Processo
n 0071/95, 1995; ainda sobre o tema, DER-AC (Departamento de Estradas de Rodagem
do Acre), 1995.
31
A Gazeta, 04/04/1996, 13/04/1996 e 06/06/1996.
32
Imac, 1996; Comisso de Vistoria, ago. 1996.
33
A aliana possibilitaria a implantao de outras medidas mitigadoras dos impactos ambientais
ou s comunidades locais (Imac, op. cit., 1996).
34
Do km 32, em Rodrigues Alves, ao km 15, em Tarauac (Imac, op. cit., 1996).
126 A Re-significao das Tradies: o Acre entre o rodoviarismo e o socioambientalismo
para o novo trecho. O acordo firmado pedia um prazo ao governo federal para
entre o governo acreano e o Ibama, de que o governo do estado desse cumpri-
fato, apresentava medidas de minimi- mento s exigncias legais com relao
zao dos impactos ambiental e social apresentao de um relatrio de im-
como condio da continuidade das pacto ambiental 36. Nota-se uma mu-
obras 35. dana significativa na forma de defesa
ostensiva da construo de rodovias no
O embargo, alm da simples para- incio e no final do processo. O Imac,
lisao das obras, teve como conse- responsvel pelo Raias, que era taxativo
qncias imediatas o aprofundamento quanto ao carter poltico do embargo,
de discusses acerca da avaliao tcnica passou, no final de 1996, a uma postura
sobre impactos ambientais na regio, a conciliatria, ressaltando que se busca-
explicitao local da posio dos rgos va, democraticamente, uma soluo
ambientais federais e locais, a efetivao conjunta 37, que contemplasse o desejo
da legislao ambiental no Acre e a am- de construo das rodovias e as deman-
pliao do debate pblico sobre mode- das socioambientais 38.
los de desenvolvimento e a necessidade
de proteo ambiental no estado. Os constrangimentos legais e a pu-
blicidade do debate afetaram os agentes
Nesse processo, ficou evidente a ero- contrrios ao embargo, obrigando-os a
so da legitimidade at ento inconteste cumprir a legislao ambiental e a nego-
do projeto rodoviarista. Os melhores ciar com o movimento ambientalista e
exemplos so a inflexo dos editoriais o governo federal medidas de minimi-
dos jornais locais, dos discursos pblicos zao dos impactos ambientais para con-
de polticos anteriormente contrrios ao seguir o desembargo das BRs. De outro
embargo e da fala de tcnicos de vrios lado, tambm o movimento ambienta-
nveis de governo. O PMDB, convicta- lista local 39 teve que alterar sua posio
mente rodoviarista, ao mesmo tempo ao longo do processo. Se no comeo
que exortava: Pelo fim imediato do em- defendia a preservao ambiental e a
bargo decretado pelo Ibama! Pelo fiel das populaes tradicionais, ao final
cumprimento da Constituio e das leis! admitia publicamente a importncia da
Pela pavimentao das BRs 364 e 317!, estrada para a populao do Acre 40.
35
Imac, op. cit., 1996; Imac, 17/02/1997; DER-AC, 10/04/1997.
36
A Gazeta, 28/06/1996.
37
A Gazeta, 12/11/1996.
38
Dizia ento o Imac: Todo o estudo elaborado ser apresentado durante a audincia pblica,
com os impactos positivos e negativos. Vamos tambm estar abertos ao questionamento e
depois de tudo isso iremos analisar para poder ento conceder o licenciamento (...) [as
audincias] so reunies abertas, onde qualquer pessoa, desde que previamente inscrita,
pode apresentar questionamentos ao processo (A Gazeta, 12/11/1996).
39
Cf. Imac, op. cit., 1996.
40
Cf. Imac, op. cit., 1996.
Srgio Costa, Angela Alonso e Srgio Tomioka 127
Concluses
O conflito configurado em torno do para o conflito acerca das hidrovias do
embargo das rodovias no Acre tem um plano Brasil em Ao 43: a incorporao
duplo eixo explicativo: as mudanas ins- local da nova agenda nacional, a efeti-
titucionais no Brasil e o debate pblico vidade de novos instrumentos legais e
local. pblicos de controle das obras estatais
(maior poder do Ministrio Pblico,
De um lado, o caso apresenta ca- aes civis etc.) e a constituio de um
ractersticas comuns a outros conflitos espao pblico de discusso das ques-
entre expanso viria e defesa do meio tes ambientais (como as audincias
ambiente, conforme demonstramos pblicas e o Conama).
41
Marina Silva, 03/07/1996, p. 4.
42
Isso fica claro, por exemplo, na consulta s comunidades afetadas pela estrada. A Comisso
de Vistoria deparou-se com grupos indgenas que aceitavam a liberao da rodovia desde
que fossem atendidas necessidades imediatas como compra de alevinos para um aude,
reposio de um rdio amador etc., o que indicava a existncia de um trade-off entre a defesa
do meio ambiente e a qualidade de vida das comunidades. Cf. Comisso de Vistoria, op. cit.
43
Srgio Costa, Angela Alonso e Srgio Tomioka, 1999, p. 157-175.
128 A Re-significao das Tradies: o Acre entre o rodoviarismo e o socioambientalismo
44
Idem, ibidem.
45
Imac, op. cit., 1996.
46
Imac, op. cit., 1996.
Srgio Costa, Angela Alonso e Srgio Tomioka 129
47
Ver Albert O. Hirschman, 1995.
130 A Re-significao das Tradies: o Acre entre o rodoviarismo e o socioambientalismo
Referncias bibliogrficas
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Srgio Costa doutor em sociologia
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proaches to the environment in
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Brazil. A review of selected projects.
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1993. sociologia na FFLCH-USP e pesquisa-
dora do Cebrap
SILVA, Marina. O sonho sustentvel. Srgio Tomioka mestrando em
Artigos, Braslia: Senado Federal, filosofia no IFCH-Unicamp e pesquisa-
1997. dor do Cebrap
Estratgias de Localizao
Residencial e Dinmica Imobiliria
na Cidade do Rio de Janeiro
Introduo
deslocam para reas onde existe forte estudos sobre o tema se dedicam a expli-
presso da demanda sobre o mercado car a mobilidade residencial atravs de
de usados, ou a demanda atrada pelos sua relao com as alteraes no ciclo
novos empreendimentos sob o efeito do de vida familiar 2 ou no status socioeco-
poder de arrasto dos empreendedores nmico 3 e com o grau de satisfao/
imobilirios (Smolka, 1992). Chegamos insatisfao dos indivduos em relao
agora na outra ponta do complexo nexo a sua localizao residencial; neste ltimo
de relaes existentes na dinmica do caso, o objetivo dessa mobilidade resul-
mercado imobilirio a demanda. taria num aumento na utilidade locacio-
nal (Place Utility). A direo do fluxo
A extensa literatura sobre o tema intra-urbano seria, ento, determinada
vem revelando, empiricamente, a prefe- pelo grau de satisfao/insatisfao com
rncia dos capitalistas imobilirios pela o lugar de origem, no que diz respeito
produo de imveis para as famlias de s alteraes urbanas ligadas ao proces-
mais alta renda (demanda solvvel), so de valorizao/desvalorizao do es-
atraindo-as para reas onde seu lucro toque, que incide tambm na estrutura
garantido pela transformao de seu social da vizinhana.
uso. Por outro lado, o estoque habitacio-
nal proporcionado pelo deslocamento Desse modo, as relaes entre a mo-
dessas famlias utilizado por aquelas bilidade residencial e a estruturao do
de renda inferior. Em ambos os casos, espao intra-urbano dependem do tipo
o migrante intra-urbano est continua- de famlias que se deslocam e das caracte-
mente avaliando como a nova residn- rsticas do lugar de origem e do lugar para
cia poder satisfazer suas necessidades onde se deslocam. Apresentamos na pri-
e aspiraes, modificadas por mudanas meira parte deste trabalho a descrio
nas suas prprias caractersticas e nas de do perfil do migrante intra-urbano e dos
seu ambiente. A procura dos indivduos/ fluxos de deslocamento residencial, rela-
famlias controlada pela avaliao do cionando-os na segunda parte com a
estoque habitacional e pela informa- dinmica imobiliria na cidade e com as
o e percepo sobre esse estoque. transformaes ocorridas na estrutura
intra-urbana, atravs dos dados das tran-
No entanto, para que as famlias saes imobilirias com apartamentos
mudem de residncia preciso tambm entre 1975 e 1995, para finalmente ana-
que certas condies individuais/estru- lisarmos as diferentes dimenses das es-
turais 1 sejam suficientemente determi- tratgias de localizao residencial dos
nantes para a mudana. Assim, muitos indivduos e/ou famlias.
1
As condies individuais so as relacionadas s hipteses do ciclo de vida familiar ou as
relacionadas mobilidade social do indivduo. Por outro lado, essas condies estaro de-
pendentes dos fatores exgenos (condies estruturais), como a relao renda/emprego e
disponibilidade de crdito imobilirio.
2
Ver o trabalho de Rossi (1980).
3
Ver o trabalho de Simmons (1970).
Teresa Cristina Faria 135
Tabela 2 - Distribuio da renda domiciliar dos adquirentes por faixa de renda (%)
Anurio Estatstico do
Classe de Renda Pesquisa / 95
Rio de Janeiro 93/94
1-5 SM 11,8 66,8
5-10 SM 27,9 17,4
>10 SM 60,3 15,8
Total 100,0 100,0
Fonte : Faria (1997).
4
Com a crise do SFH houve uma reduo da demanda, que imps novas formas de financia-
mento dirigidas a determinado segmento do mercado, evidenciando mudanas tambm nas
caractersticas dos imveis.
5
Sobre este aspecto, ver Abramo (1988), p. 151-152.
Teresa Cristina Faria 137
que ocupam imveis alugados. O fato nhecimento do que significa para as fa-
de j ser proprietrio, ceteris paribus, mlias a aquisio de um imvel. Essa
reduz a probabilidade de mudana deciso, segundo Abramo (1988), tem
(Rossi, 1980). Para os economistas, o duas motivaes bsicas: acesso aos
motivo est nos altos custos do movimen- servios de habitao e posse de um
to (estimado em torno de 10% do valor ativo monetrio, que no futuro poder
do imvel), que inclui os de transao valorizar-se e viabilizar a mudana de
(escritura, ITBI etc.) e os decorrentes da residncia da famlia. Dos proprietrios
mudana em si. Outro aspecto, no en- pesquisados, 75,4% venderam seus
tanto, poderia explicar a baixa mobilidade imveis. Com a inovao, os capitais
dos proprietrios; considerando a hipte- imobilirios aumentaram a atratividade
se de que a mobilidade residencial estaria dos imveis/localizao, modificando as
associada a uma adaptao da nova resi- preferncias dos indivduos/famlias.
dncia s necessidades impostas pelas
mudanas no ciclo de vida familiar e/ou As mudanas nessas preferncias
nas condies socioeconmicas dos mi- tambm resultado da evoluo histrica
grantes, a propriedade garante famlia da sociedade. Como formula Taschner
a possibilidade de modific-la, adaptan- (1997), o espao residencial e a maneira
do-a s suas novas exigncias/prefern- de morar so reflexo das transformaes
cias. No entanto, os nossos resultados do processo de trabalho, do local onde
revelam que h um percentual no negli- se trabalha e das mudanas na compo-
gencivel de migrantes j proprietrios, sio familiar e nas relaes entre seus
ou seja, de indivduos/famlias que esto membros. Hoje nos deparamos com o
trocando suas antigas residncias por aumento do nmero de pessoas que
outras, o que obviamente suscita um moram ss e do nmero de famlias mo-
maior nmero de questes sobre os mo- noparentais (mulheres chefes de famlia
tivos relativos a esses migrantes do que vivendo com os filhos) 6, em decorrn-
sobre os relativos ao segmento dos novos cia, talvez, do aumento do nmero de
proprietrios. separaes conjugais. Essa nova confi-
gurao da famlia, contrariando o
A resposta a esse fenmeno pode padro da famlia tradicional (pais e
estar na estratgia de inovao/diferen- filhos), traz importantes implicaes para
ciao da moradia empreendida pelos o mercado habitacional, sinalizando
capitalistas imobilirios no sentido de novas tendncias das necessidades ha-
atrair demanda solvvel, no caso, fam- bitacionais das famlias quanto s suas
lias de alta renda. Os capitalistas imobi- caractersticas fsicas e locacionais, j que
lirios, ao utilizarem esse artifcio a novas situaes familiares redefinem os
inovao baseiam-se num certo co- critrios de localizao. 7
6
Segundo nossa pesquisa, o percentual de mulheres adquirentes de imveis de 39,57%.
7
Taschner (1997) cita uma situao tpica ao dar o exemplo de pais separados que tendem a
se localizar prximo aos parentes como estratgia para recorrer ajuda deles na criao dos
filhos.
138 Estratgias de Localizao e Dinmica Imobiliria na Cidade do Rio de Janeiro
8
Os trabalhos de Smolka (1983, 1989, 1992) tambm obtiveram o mesmo resultado.
Teresa Cristina Faria 139
9
Esse aspecto evidenciado pelo aumento da participao de imveis comerciais na RA de
Botafogo nas transaes imobilirias na cidade, passando de 2,56%, no incio dos anos 70,
para 3,53%, no incio dos anos 80. Em 1990 esse percentual atingiu 6,68% das transaes
com imveis comerciais na cidade.
10
Dados do Censo do IBGE/91.
144 Estratgias de Localizao e Dinmica Imobiliria na Cidade do Rio de Janeiro
Os dados apontam para uma seg- gumas RAs expulsaram mais famlias
mentao espacial em termos de classe com renda at 5 SM do que atraram.
de renda, revelada pela predominncia Isso demonstra um movimento gradual
dos fluxos para reas cuja renda mdia de segregao residencial, considerando
do chefe de domiclio compatvel com que o fenmeno evidenciado nas RAs
a do migrante. que esto em processo de mudana do
ciclo de vida da rea (RAs 9, 13, 16 e
Em relao aos fluxos ascendentes 24) e esto sendo valorizadas pelos in-
ou descendentes, a classe de renda at vestimentos do capital imobilirio, que
5 SM apresenta um maior percentual para elas atraem uma populao de
de fluxos descendentes do que as classes maior renda.
de renda mais alta. Nesse aspecto, a
classe de renda > 10 SM tem percentual Nas classes de renda de 5-10 SM e
superior nos fluxos ascendentes. Esse > 10 SM, predominam os fluxos ascen-
fato poder ser comparado aos resul- dentes, ou seja, que se dirigem para
tados da anlise da Tabela 6, em que reas mais valorizadas do que as de ori-
avaliamos o processo da segregao resi- gem desses migrantes. De modo geral,
dencial atravs dos fluxos das diferentes conforme a Tabela 7, a predominncia
classes de renda pelas RAs mais impor- dos fluxos para rea similar serve para
tantes. reafirmar a segmentao social e ratificar
a segregao residencial na cidade.
O percentual dos fluxos para outras
RAs de famlias com renda at 5 SM Observe-se que a relao atrao/
superior ao percentual de famlias que expulso/permanncia, para todas as
se dirigiram para essas RAs, ou seja, al- faixas de renda, mas principalmente
Teresa Cristina Faria 147
11
Para esses dados foram feitas as seguintes perguntas aos migrantes: Voc considera sua
renda (1) menor (2) maior ou (3) igual de sua vizinhana anterior? e Voc acha que vai
para um bairro cuja vizinhana tem renda (1) menor (2) maior ou (3) igual sua?
12
Ver Abramo (1994).
148 Estratgias de Localizao e Dinmica Imobiliria na Cidade do Rio de Janeiro
13
Ver Abramo (1994).
Teresa Cristina Faria 149
Gasto com
Renda 5-10 SM Acabamento Tamanho Localizao*
transporte
Em branco 5,0 5,0 10,0 5,0
Maior/Melhor 50,0 60,0 50,0 15,0
Pior/Menor 30,0 25,0 0,0 25,0
Igual 15,0 10,0 40,0 55,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
Gasto com
Renda >10 SM Acabamento Tamanho Localizao*
transporte
Em branco 2,3 1,1 2,3 1,1
Maior/Melhor 50,6 62,1 55,2 18,4
Pior/Menor 18,4 26,4 3,4 13,8
Igual 28,7 10,4 39,1 66,7
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
Gasto com
Renda 5-10 SM Acabamento Tamanho Localizao*
transporte
Em branco 19,6 27,8 20,9 19,6
Maior/Melhor 32,6 25,0 27,9 15,2
Pior/Menor 17,4 38,9 9,3 10,9
Igual 30,4 8,3 41,9 54,3
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
Gasto com
Renda >10 SM Acabamento Tamanho Localizao*
transporte
Em branco 13,0 13,0 14,5 14,5
Maior/Melhor 44,9 43,5 21,7 10,1
Pior/Menor 18,8 20,3 15,9 8,7
Igual 23,2 23,4 47,8 66,7
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
* A localizao se refere ao tipo de vizinhana (renda).
Fontes : Faria (1997); IPPUR/ITBI/UFRJ 1995.
16
Dos proprietrios entrevistados, 75,4% venderam seus antigos imveis.
Teresa Cristina Faria 153
17
Poderamos supor que alguns dos proprietrios representados na pesquisa estivessem pas-
sando por uma dessas etapas. Isto , j foram inquilinos e atravs de trajetrias pela cidade
mudaram sua condio de ocupao e, conseqentemente, alteraram seus objetivos.
154 Estratgias de Localizao e Dinmica Imobiliria na Cidade do Rio de Janeiro
Referncias bibliogrficas
Murillo Marx
Rose Compans
No debate atual sobre o novo papel das extenso das funes centrais como
cidades em face da globalizao financei- conseqncia da necessidade de geren-
ra e da reestruturao produtiva, Saskia ciar as unidades descentralizadas, con-
Sassen tornou-se uma referncia funda- tribui para favorecer a criao de centros
mental com The Global City (1991), regionais secundrios, verses redu-
obra em que procurou demonstrar zidas e nacionais do que New York,
como a disperso geogrfica da ativida- Londres e Tquio asseguram em escala
de econmica ocorrida nos anos 80 mundial.
sobretudo a expanso e a internaciona-
lizao da indstria financeira, com o Este o argumento central de As
crescimento de um grande nmero de Cidades na Economia Mundial, a partir
mercados financeiros secundrios do qual Sassen busca aprofundar a anli-
requereu a centralizao das decises em se sobre o impacto da globalizao na
alguns stios de controle especficos, as formao de um novo regime econmico
chamadas cidades globais. Embora nas grandes cidades, no mais circuns-
considere que apenas trs cidades apre- crevendo o fenmeno s cidades globais.
sentam a capacidade de controle global Alm de incorporar dados mais atualiza-
e de produo de inputs especializados dos sobre a evoluo do IED (investi-
dos quais dependem as instituies mento estrangeiro direto) mundial o
financeiras que dominam os mercados que lhe permite inclusive observar que a
mundiais, a autora sugere que a tendn- privatizao foi, desde 1991, um elemen-
cia desconcentrao da produo to crucial para o crescimento do IED na
manufatureira e de servios, aliada Amrica Latina , sobre as transfor-
1
Interpretao alimentada pela prpria autora em vrias passagens da referida obra, como a que
afirma explicitamente que, em princpio, toda cidade deveria considerar o desenvolvimento
das telecomunicaes como uma prioridade e se esforar em ter a sua disposio todas as
funes hoje concentradas nas grandes metrpoles, na prtica. (Sassen, 1991, p. 453)
REVISTA LATINOAMERICA DE
ESTUDIOS URBANO REGIONALES
http://www.scielo.cl
Vol. XXV/ N76/Diciembre 1999
Artculos
Globalizacin y dualizacin en la regin metropolitana de Buenos Aires. Grandes inversiones
y reestructuracin socioterritorial en los aos noventa.
Pablo Ciccolella
Santiago de Chile, globalizacin y expansin metropolitana: lo que exista sigue existiendo
Carlos de Mattos
Los frutos amargos de la globalizacin: expansin y reestructuracin metropolitana de la ciudad
de Mxico
Daniel Hiernaux-Nicols
Quo grande exagerado? Dinmica populacional, eficincia econmica e qualidade de vida na
cidade de So Paulo
Carlos Roberto Azzoni
Tendncias da Segregao Social em Metrpoles Globais e Desiguais: Paris e Rio de Janeiro
nos anos 80
Edmond Preteceille
Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro
Gestin de servicios y calidad urbana en la ciudad de Buenos Aires
Pedro Pirez
REVISTA LATINOAMERICA DE
ESTUDIOS URBANO REGIONALES
http://www.scielo.cl
Vol. XXV/ N77/Mayo 2000
Artculos
Las telecomunicaciones y el futuro de las ciudades: derribando mitos
Stephen Graham
Reconversin industrial, gran empresa y efectos territoriales. El caso del sector automotriz en
Mxico
Jos A. Vieyra
Reforma de los Mercados de Suelo en Santiago, Chile: efectos sobre los precios de la tierra y la
segregacin espacial
Francisco Sabatini
Chile: la vocacin regionalista del gobierno militar
Sergio Boisier
Produccin del transporte pblico en la metrpolis de Buenos Aires. La movilidad ciudadana
hacia el nuevo milenio
Andrea Gutirrez
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tecas: o diagnstico. 13. ed. Niteri: EdUFF, Instituio _______________________
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itlico), local de publicao, n do volume,
do fascculo, da pgina inicialpgina final Cidade _________________________
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Ex.: Targino, Maria das Graas. Citaes biblio-
grficas e notas de rodap. Cincia e Cultura, Pas ____________________________
So Paulo, v. 38, n. 12, p. 704-780, dez. 1986. Tel. ( ) ______________________
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