Relatório Final Da CPMI Da JBS
Relatório Final Da CPMI Da JBS
Relatório Final Da CPMI Da JBS
RELATRIO FINAL
12 de Dezembro de 2017
SUMRIO
1. Introduo 3
2. O contexto da Comisso Parlamentar Mista de Inqurito 5
3. Contratos com o BNDES 10
4. Atuao no Mercado Financeiro (Comisso de Valores Mobilirios) 17
5. Contratos com a Caixa Econmica Federal 37
5.1 Contextualizao 37
5.2 Operaes de crdito contradas com a Caixa Econmica Federal 39
5.3 Operaes do Ministrio Pblico e da Polcia Federal 41
5.4 Fiscalizaes do Tribunal de Contas da Unio em andamento 42
6. Cronograma dos fatos 45
7. Papel do Ministrio Pblico 67
7.1 Tentativa de derrubada do Presidente da Repblica pelo Procurador-Geral da
Repblica 67
7.2 Briga institucional no Ministrio Pblico Federal 76
7.3 Relao entre o Dr. Rodrigo Janot e o Procurador Angelo Goulart Villela 88
7.4 Relao entre o Dr. Rodrigo Janot e os Drs. Marcelo Miller e Eduardo Pellela 92
8. Indiciamentos 107
9. Recomendaes e encaminhamentos 109
Anexos Relatrio Parcial 111
2
1. Introduo
3
5. Formao de cartel no mercado de protena animal e todos os
prejuzos causados aos produtores rurais em decorrncia dessa associao;
6. Irregularidades fiscais, perante os governos Federal e estaduais,
e dbitos previdencirios existentes.
4
2. O contexto da Comisso Parlamentar Mista de Inqurito
5
Desta feita, em que pese a apurao interna instalada pelo Banco e
demais rgos de controle da Administrao Pblica, no podemos nos furtar de
realizar, de forma independente, a apurao dos fatos e a responsabilizao dos
eventuais envolvidos nessas operaes que podem ter causado prejuzos bilionrios
aos cofres pblicos, em cumprimento ao mandato constitucional que nos foi
conferido.
6
A partir dos fatos acima relacionados, iniciaremos os trabalhos desta
CPMI JBS, conforme o roteiro de trabalho abaixo detalhado, materializando a
funo fiscalizadora do Congresso Nacional.
7
delao ou colaborao premiada dos executivos e acionistas das empresas JBS e
J&F.
8
2.3. Eixo Temtico 3: Sub-relatoria Dep. Wadih Damous -
Investigao dos procedimentos do acordo de colaborao premiada celebrado
entre o Ministrio Pblico Federal e os acionistas das empresas JBS e J&F.
9
3. Contratos com o BNDES
10
f) Requerimento n 30/2017 que
Requer ao BNDES levantamento de
todos os emprstimos feitos s empresas
do Grupo J&F Participaes Ltda.;
(correlato ao n 8/2017)
g) Requerimento n 30/2017 que
Requer ao BNDES e pela subsidiria
BNDES-Par cpias de todas as
transaes financeiras com a JBS e/ou
com a J&F Investimentos de 2007 a
2016.;
h) Requerimento n 146/2017 que
Requer o compartilhamento de toda a
documentao, inclusive a sigilosa,
produzida e colhida pela Comisso
Parlamentar de Inqurito do BNDES.;
i) Requerimento n 153/2017 que
Requer ao Banco Nacional de
Desenvolvimento Econmico e Social
(BNDES), cpia integral de eventuais
estudos prvios aos aportes de recursos
ou financiamentos concedidos ao grupo
JBS/J&F, acerca dos correspondentes
efeitos na concentrao do mercado de
protena de origem animal.;
j) Requerimento n 166/2017 que
Requer que a Polcia Federal
compartilhe o sigilo da Operao Lava-
Jato e todos os documentos oriundos de
diligncias j concludas relacionados s
infraes penais sob investigao que
teriam sido cometidos por funcionrios
das empresas JBS e J&F, assim como
por funcionrios BNDES e da BNDES
11
Participaes S.A em suas relaes com
as empresas JBS e J&F. Requer, ainda,
que seja compartilhado pelo Supremo
Tribunal Federal com esta CPMI todos os
documentos relativos s colaboraes
premiadas e homologaes com o
Ministrio Pblico Federal envolvendo
funcionrios das empresas JBS e J&F e
BNDES e BNDES Participaes S.A.;
k) Requerimento n 167/2017 que
Requer que a Polcia Federal
compartilhe o sigilo da Operao Bullish e
todos os documentos oriundos de
diligncias j concludas relacionados s
infraes penais que teriam sido
cometidas por funcionrios das empresas
JBS e J&F e do BNDES e da BNDES
Participaes S.A em aportes concedidos
pelo BNDES e BNDES Participaes S.A
JBS e compra e venda de
participao por parte da BNDES
Participaes S.A, com aquisio de
participao no capital social da JBS.;
l) Requerimento n 204/2017 que
Requer ao TCU cpia das fiscalizaes
de contratos de financiamento entre a
JBS e o BNDES.;
m) Requerimento n 204/2017 que
Requer Cmara dos Deputados e ao
Senado Federal o compartilhamento de
relatrios e documentos relativos aos
trabalhos desenvolvidos acerca do
relacionamento entre o BNDES e a JBS.;
12
Ademais, no mesmo sentido, foram aprovadas as oitivas de ex-presidentes,
diretores e conselheiros do BNDES nos termos dos seguintes requerimentos
aprovados:
a) Requerimentos n 3, 76 e 96/2017
que Requer a convocao de Luciano
Coutinho, ex-presidente do BNDES.;
b) Requerimentos n 66/2017 que
Requer seja convocado a depor nesta
Comisso o Sr. Jos Cludio Rego
Aranha, ex-diretor do BNDES.;
c) Requerimentos n 137/2017 que
Requer convocao de Esteves Pedro
Colnago Junior, presidente do Conselho
de Administrao do BNDES.;
13
carnes, melhoras de perspectivas para ampliao de acordos com os EUA e China,
reduo do abate informal no pas, e suposta melhoria em questes
socioambientais.
Desde 1995, em menor grau, a JBS j figurava como cliente do BNDES com
operaes tpicas entre empresas do setor. A partir de 2005 comeou-se a observar
operaes mais importantes de mtuo para a JBS. Inicialmente R$ 100 milhes
dentro do propsito de aquisio de novas unidades produtivas que iro
representar um aumento de faturamento da ordem de R$ 800 milhes no perodo
2004/2005 com a gerao de 1000 empregos diretos e aquisio de 75% da
participacao acionria da SWIFT ARMOUR SOCIEDAD ANNIMA ARGENTINA,
com aporte de capital de giro, visando fortalecer o processo de internacionalizao
da empresa brasileira tambm em 2005, no montante de R$ 187.464.000,00.
14
Nas chamadas operaes de pr-embarque so 54 operaes de apoio
exportao no montante total de R$ 1.419.738.030,63 entre 2002 e 2011, apenas
R$ 600.755.000,00 somados a partir de 2007.
15
O Tribunal de Contas da Unio realizou auditoria em processos de Tomada
de Contas Especiais e proferiu acrdos que apontam prejuzos em operaes do
BNDES junto ao grupo JBS, em especial na relao de troca das debntures
subscritas e integralizadas pelo BNDES Participaes. Aps aprovao do
requerimento n 15 desta CMPI, tais acrdos e respectivos processos que os
instruram foram disponibilizados CPMI-JBS conforme deciso constante do
acrdo TC 027.869/2017-2.
16
4. Atuao no Mercado Financeiro (Comisso de Valores Mobilirios)
4.1. Os fatos
O Sr. Joesley Batista foi indiciado pela autoria dos crimes previstos
nos artigos 27-C (manipulao de mercado) e 27-D (uso indevido de informao
privilegiada), previstos na Lei 6.385/76, com a agravante prevista no artigo 61, II,
g, do Cdigo Penal (em razo do abuso de poder de controle e administrao), em
razo do evento de venda de aes da JBS S/A pela FB Participaes.
17
Tambm foi indiciado como autor no crime previsto no artigo 27-D
da Lei 6.385/76 (uso indevido de informao privilegiada), com a agravante prevista
no artigo 61, II, g, do Cdigo Penal (em razo do abuso de poder de controle e
administrao), em relao aos eventos relativos compra de contratos futuros e
contratos a termo de dlares.
18
lucrar no mercado financeiro, explicou em entrevista, nos seguintes termos, a
arquitetura operacional do potencial ilcito:
19
Houve, segundo o delegado regional de
combate ao crime organizado, Rodrigo de
Campos Costa, uma movimentao
absolutamente atpica na compra de dlar
no mercado futuro por parte da JBS. De
acordo com ele, a empresa comprou mais
de US$ 474 milhes em um contrato
quando o dlar estava cotado a
aproximadamente R$ 3,11, no dia 17 de
maio, quando a delao foi divulgada. No
dia seguinte, aproveitaram a valorizao
de 9% da moeda1.
Um dia antes do vazamento, a JBS ficou
em segundo lugar na compra de dlares
no mercado brasileiro, algo que nunca
aconteceu na histria da empresa, diz
Costa. Se a delao no tivesse sido
divulgada, a empresa provavelmente teria
tido um prejuzo nessa operao.
1
Isabela FraBasile. Entenda a denncia que levou priso de Wesley Batista, presidente da JBS. Revista
poca. 13.9.2017.
20
4.2. O ilcito de insider trading: Aspectos civis, administrativos e criminais
21
(...)
22
exercero as atribuies previstas na lei
para o fim de:
IV - proteger os titulares de valores
mobilirios e os investidores do mercado
contra:
c) o uso de informao relevante no
divulgada no mercado de valores
mobilirios. (Alnea includa pela Lei n
10.303, de 31.10.2001)
23
emissor de valores mobilirios ou em
razo de relao comercial, profissional
ou de confiana com o emissor. (Includo
pela Lei n 13.506, de 2017)
2 A pena aumentada em 1/3 (um
tero) se o agente comete o crime
previsto no caput deste artigo valendo-se
de informao relevante de que tenha
conhecimento e da qual deva manter
sigilo. (Includo pela Lei n 13.506, de
2017)
24
H ainda a previso legal de que seja movida ao civil pblica de
responsabilidade por danos causados aos investidores no mercado de valores
mobilirios, com o objetivo de reparar os investidores de uma forma mais ampla.
25
por quem quer que a tenha obtido por
intermdio dessas pessoas;
III omisso de informao relevante
por parte de quem estava obrigado a
divulg-la, bem como sua prestao de
forma incompleta, falsa ou tendenciosa.
Art. 2 As importncias decorrentes da
condenao, na ao de que trata esta
Lei, revertero aos investidores lesados,
na proporo de seu prejuzo. (Lei n
7.913/89).
26
O art. 3 da ICVM 358/02 estabelece o modo de disclosure de
informaes da companhia aberta:
27
Pargrafo nico. As pessoas
mencionadas no caput ficam obrigadas a,
diretamente ou atravs do Diretor de
Relaes com Investidores, divulgar
imediatamente o ato ou fato relevante, na
hiptese da informao escapar ao
controle ou se ocorrer oscilao atpica
na cotao, preo ou quantidade
negociada dos valores mobilirios de
emisso da companhia aberta ou a eles
referenciados.. (ICVM 358/02)
28
informao referente a ato ou fato
relevante, sabendo que se trata de
informao ainda no divulgada ao
mercado, em especial queles que
tenham relao comercial, profissional ou
de confiana com a companhia, tais como
auditores independentes, analistas de
valores mobilirios, consultores e
instituies integrantes do sistema de
distribuio, aos quais compete verificar a
respeito da divulgao da informao
antes de negociar com valores mobilirios
de emisso da companhia ou a eles
referenciados.
2 Sem prejuzo do disposto no
pargrafo anterior, a vedao do caput se
aplica tambm aos administradores que
se afastem da administrao da
companhia antes da divulgao pblica
de negcio ou fato iniciado durante seu
perodo de gesto, e se estender pelo
prazo de seis meses aps o seu
afastamento. (...)
4 Tambm vedada a negociao
pelas pessoas mencionadas no caput no
perodo de 15 (quinze) dias que 18
anteceder a divulgao das informaes
trimestrais (ITR) e anuais (DFP) da
companhia, ressalvado o disposto no 2
do art. 15-A.
29
evitar, quanto s ofertas pblicas, que as pessoas envolvidas na viabilizao da
oferta pblica utilizem indevidamente as informaes privilegiadas a que tm
acesso. Ele estabelece, salvo nas hipteses previstas na norma, que:
30
O envio d-se em observncia ao Ofcio CPMI JBS n 10/2017, que veicula
pedidos contidos no Req. 10/2017 e Req. 32/2017, ambos de autoria do Sr. Izalci
Lucas, e Req. 147/2017, de autoria do Sr. Miguel Haddad.
31
ganhos. Por este motivo, o processo administrativo em questo foi arquivado
em 17/10/2017.
32
358, ao no inquirir os administradores e controladores da JBS S.A. a
respeito das informaes referentes celebrao dos acordos de
colaborao premiada junto ao Ministrio Pblico Federal, veiculadas na
imprensa no dia 17/5/2017, e divulgar intempestivamente e de forma
inapropriada comunicado a mercado com informaes sobre Fato Relevante.
Status: na Coordenao de Controle de Processos Administrativos (CCP)
aguardando a apresentao de defesa por parte do acusado. Informao
adicional: este processo oriundo do Processo Administrativo
19957.004476/2017-03, aberto em 18/5/2017 pela Gerncia de
Acompanhamento de Empresas 2 GEA2/SEP, e que teve como objetivo
buscar esclarecimentos adicionais relativos s notcias e especulaes
envolvendo delao de acionistas controladores da JBS S.A.
(ii) por ter negociado aes JBSS3 nos mesmos preges citados, em
perodo vedado para negociao por fora do Programa de Recompra de aes da
Companhia, caracterizando a quebra do dever de lealdade do controlador, em
33
violao ao art. 116, nico, da Lei n 6.404/1976, c/c o artigo 13, 3, II, da
Instruo CVM 358;
(iii) por abusar do seu poder de controle ao ter vendido valores mobilirios
de emisso da JBS nos mesmos preges citados, de forma a beneficiar a si prprio
enquanto acionista, em violao ao disposto no artigo 117, caput, da Lei
6.404/1976, c/c o artigo 1, inciso XIII, da Instruo CVM 323; e
(iv) por ter concorrido para manipulao de preos que manteve de forma
dolosa a cotao das aes JBSS3 nos preges dos dias 24 a 27.04.17, em
violao ao disposto no Item I, na forma da letra b, Item II, da Instruo CVM 08.
34
(a) 19957.004548/2017-12, aberto em 19/5/2017, para analisar negociaes do
acionista controlador da JBS S.A. (a FB Participaes S.A.) com aes de emisso
da companhia; e
35
1) Processo Administrativo 19957.004765/2017-02: aberto em 23/5/2017, por
solicitao da Superintendncia de Normas Contbeis e de Auditoria - SNC.
Trata-se de inspeo por demanda no auditor independente BDO RCS
Auditores Independentes, sobre determinados procedimentos de auditoria
realizados nas demonstraes financeiras da JBS S.A. do perodo de 2013 a
2016. Status: em andamento na Gerncia de Fiscalizao Externa 3 GFE-
3/SFI.
36
5. Contratos com a Caixa Econmica Federal
5.1 Contextualizao
37
Suas principais marcas so: Friboi, Seara, Swift, La Herencia,
Maturatta, Pilgrims, Frangosul, Primo e Moy Park.
38
5.2 Operaes de crdito contradas com a Caixa Econmica Federal
JBS
Contratao Carncia
Contrato Valor contratado Taxa Garantia
Vencimento Amortizao
29/3/2016 9 10% Op em Penhor AF + 150% PMT
157.329 1.000.000.000,00 118% CDI a.a.
29/6/2020 42 em CBR
30/9/2013 24
21.3262.767.0000008/06 800.000.000,00 120% CDI a.a. 10% Op Penhor AF + 150% PMT CBR
30/9/2017 24
28/6/2012 18 114,40% CDI
21.3262.767.0000005/63 1.000.000.000,00 10% SD Penhor AF + 150% PMT CBR
28/6/2017 42 a.a.
30/6/2016 0
137702102 155.999.998,26 3,80% a.a. Sem Garantia
23/6/2017 0
28/10/2016 0
140456757 189.283.135,86 3,95% a.a. Sem Garantia
23/10/2017 0
30/11/2016 0
141152530 154.000.000,01 3,95% a.a. Sem Garantia
24/11/2017 0
147746848 06/4/2017 0 209.722.338,22 4,20% a.a. Sem Garantia
39
29/3/2018 0
Eldorado
Contratao Carncia
Contrato Valor contratado Taxa Garantia
Vencimento Amortizao
15/5/2015 18
64.197 150.000.000,00 130%CDI Aval J&F + 10% Op Penhor AF
15/5/2018 18
26/6/2015 24
082.555 280.000.000,00 123%CDI Aval J&F + 15% Op Penhor AF
26/6/2019 24
28/12/2015 24
137.268 200.000.000,00 CDI+0,30% Aval J&F + 15% Op Penhor AF
28/12/2019 24
23/11/2016 0
141011330 199.999.999,98 4,70% a.a. NP 120% avalizada J&F Investimentos S.A.
17/11/2017 0
20/2/2017 0
144352894 49.999.999,50 4,75% a.a. NP 120% avalizada J&F Investimentos S.A.
15/2/2018 0
Debntures 2027 - 940.000.000,00
Seara
Contratao Carncia
Contrato Valor contratado Taxa Garantia
Vencimento Amortizao
9/12/2016 0
141406159 R$ 50.000.000,02 4,00% a.a. NP 120% avalizada JBS S.A.
4/12/2017 0
9/12/2016 0
141406481 R$ 200.000.000,00 4,00% a.a. NP 120% avalizada JBS S.A.
4/12/2017 0
5/1/2017 0
141996260 R$ 128.400.000,00 4,10% a.a. NP 120% avalizada JBS S.A.
28/12/2017 0
5/1/2017 0
142000386 R$ 121.599.998,15 4,10% a.a. NP 120% avalizada JBS S.A.
28/12/2017 0
24/2/2017 0
144575816 R$ 124.999.998,14 4,15% a.a. NP 120% avalizada JBS S.A.
16/2/2018 0
3/3/2017 0
145046275 R$ 124.999.999,18 4,15% a.a. NP 120% avalizada JBS S.A.
26/2/2018 0
Vigor
Contratao Carncia
Contrato Valor contratado Taxa Garantia
Vencimento Amortizao
16/12/2016 18 10% SD em Penhor AF + 10% Dupls. +
21.3262.767.0000009/97 100.000.000,00 129,61% CDI
16/12/2019 18 Aval J&F
27/6/2013 12 10% SD em Penhor AF + 300% PMT
21.3262.767.0000007/25 150.000.000,00 CDI+0,18%
27/6/2017 36 CBR + Aval J&F
12/12/2016 18
329.650 50.000.000,00 129.93% CDI 10% SD em Penhor AF + Aval J&F
12/12/2019 18
Flora
Contratao Carncia
Contrato Valor contratado Taxa Garantia
Vencimento Amortizao
3/6/2015 0
3262.003.524-8 R$ 50.000.000,00 CDI+0,30% Aval J&F Investimentos S.A
3/6/2018 0
Fonte: Tribunal de Contas da Unio
40
Vigor Alimentos 300
Flora Distribuidora 50
Eldorado Celulose 1.820
Seara Alimentos 750
Total (em R$ milhes aprox.) 10.329
Fonte: Tribunal de Contas da Unio
Tabela III Emprstimos contrados pelo grupo J&F por ano (exceto
debntures)
Total por ano
Ano
(em R$ milhes aprox.)
2012 R$ 1.300
2013 R$ 950
2014 R$ 350
2015 R$ 3.430
2016 R$ 2.100
2017 R$ 760
Total (em R$ milhes aprox.) R$ 8.890
Fonte: Tribunal de Contas da Unio
41
Instaurada para apurar supostas fraudes nos investimentos
realizados por bancos pblicos, fundos de penses e estatais, da ordem de R$ 8
bilhes, a Operao Greenfield, realizada em 5 de setembro de 2016, investiga a
participao da empresa Eldorado Celulose em negcios fraudulentos em desfavor
ao fundo de penso dos funcionrios da Caixa, o Funcef.
42
corrupo, criou grupo de trabalho a fim de garantir uma atuao integrada e
tempestiva do rgo no que diz respeito aos fatos relatados.
43
Na qualidade de relator, incumbe-me informar a existncia de
Solicitao do Congresso Nacional, formulada pela Comisso de Finanas e
Tributao da Cmara dos Deputados, para que o TCU realize fiscalizaes no
intuito de examinar a celebrao de operaes de crdito com o Grupo J&F, avaliar
os critrios adotados para detectar a concentrao econmica promovida pelo
grupo, alm de averiguar a ocorrncia de insider trading e de crime contra o sistema
financeiro.
44
6. Cronograma dos fatos
II. JOESLEY BATISTA por ser o principal articulador das aes por parte dos
colaboradores. MARCELO MILLER por ser o estrategista do acordo de
colaborao e o canal de interlocuo com a equipe da PGR. EDUARDO
PELELLA por ser os olhos e ouvidos de RODRIGO JANOT no processo de
colaborao.
III. Infelizmente, EDUARDO PELELLA no pde ser inquirido pela CPMI da JBS
e JOESLEY BATISTA ficou calado.
45
VILLELA", FRANCISCO DE ASSIS E SILVA conheceu o advogado JULIANO
COSTA COUTO. Quem o apresentou ao advogado JULIANO COSTA
COUTO teria sido ANDR GUSTAVO, publicitrio e amigo de JOESLEY
BATISTA. Nesse perodo, foi firmado um Termo de Compromisso de
oferecimento de garantia da empresa J&F com o MPF. No segundo semestre
de 2016, o procurador NGELO GOULART VILLELA foi convidado para fazer
parte da fora-tarefa da Operao Greenfield.
46
XI. No dia 10/02/2017, MARCELO MILLER recebeu mensagem de ESTHER
FLESCH da TRENCH, ROSSI E WATANABE ADVOGADOS, onde ele foi
informado acerca dos dados de uma passagem area.
47
XVII. No dia 16/02/2017, MARCELO MILLER encaminhou o ofcio onde pedia
exonerao do MPF.
48
XXIII. No dia 23/02/2017, MARCELO MILLER comunicou a RODRIGO JANOT sua
inteno de deixar o MPF. Nesse mesmo dia, MARCELO MILLER foi
"contratado", de maneira informal, pelo escritrio TRENCH, ROSSI E
WATANABE ADVOGADOS. MARCELO MILLER passou a prestar servios
ao mencionado escritrio, notadamente em relao aos assuntos de
interesse do grupo J&F - no acordo de colaborao e no acordo de lenincia.
Ainda nesse dia, MARCELO MILLER recebeu uma mensagem de felicitao
de ESTHER FLESCH da TRENCH, ROSSI E WATANABE ADVOGADOS,
em razo de MARCELO MILLER ter aceitado ingressar no escritrio. Alis,
MARCELO MILLER tambm recebeu uma mensagem de HERCULES
CELESCUEKCI da TRENCH, ROSSI E WATANABE ADVOGADOS,
felicitando-o por ter aceitado ingressar no escritrio.
XXVII. FRANCISCO DE ASSIS E SILVA. JOESLEY BATISTA disse que esteve com
MARCELO MILLER umas duas ou trs vezes durante o ms de maro.
49
ADVOGADOS, onde ele tomou conhecimento de que a divulgao de sua
contratao s seria realizada aps a sua efetiva exonerao.
50
XXXV. No dia 07/03/2017, JOESLEY BATISTA fez a primeira gravao clandestina
e envolveu o presidente MICHEL TEMER.
XL. No dia 15/03/2017, MARCELO MILLER integrou pela ltima vez o Grupo de
Trabalho lenincia e colaborao premiada da PGR. Nesse dia ainda,
MARCELO MILLER recebeu uma mensagem de ESTHER FLESCH da
51
TRENCH, ROSSI E WATANABE ADVOGADOS, onde ele foi informado
acerca de um seminrio em So Paulo.
XLI. Tambm nesse dia, no mbito do caso NGELO GOULART VILLELA",
houve a formalizao do pedido para o ingresso de NGELO GOULAT
VILLELA na fora-tarefa da Operao Greenfield.
52
XLIV. No dia 20/03/2017, MARCELO MILLER esteve, mais uma vez, no escritrio
TRENCH, ROSSI E WATANABE ADVOGADOS, l permanecendo 03h37.
Ainda nesse dia, no mbito do caso "NGELO.
53
L. No dia 27/03/2017, WESLEY BATISTA pediu a FRANCISCO DE ASSIS E
SILVA que MARCELO MILLER comparecesse reunio do dia seguinte na
PGR para assinatura do Termo de Confidencialidade. FRANCISCO DE
ASSIS E SILVA teria informado que MARCELO MILLER no poderia ir, pois
ainda estava vinculado ao MPF. Ainda nesse dia, MARCELO MILLER
recebeu mensagem de FERNANDA GALANTE da TRENCH, ROSSI E
WATANABE ADVOGADOS, em razo de uma solicitao de voo feita por
ele. Nesse dia tambm, a advogada ESTHER FLESCH da TRENCH, ROSSI
E WATANABE ADVOGADOS enviou trs e-mails seguidos a MARCELO
MILLER, onde ela repassou informaes envolvendo as negociaes nos
EUA.
54
GALANTE da TRENCH, ROSSI E WATANABE ADVOGADOS, em razo de
uma solicitao de voo feita por ele.
55
ADVOGADOS, onde ela confirmou a reserva da viagem para Washington e a
reserva do hotel. No mbito do caso "ANGELO GOULART VILLELA, nesse
dia, FRANCISCO DE ASSIS E SILVA enviou mensagem de texto e de udio
a ANSELMO LOPES onde dizia que algum estaria vazando os termos da
colaborao de JOESLEY BATISTA. O procurador ANSELMO LOPES ainda
deu um despacho que permitiu a empresa Eldorado Celulose a prosseguir
suas atividades normalmente, a fim de que no se chamasse a ateno do
mercado.
LIX. No dia 03/04/2017, MARCELO MILLER fez contato, por telefone, com o
Departamento de Justia americano para tratar do acordo de lenincia.
JOESLEY BATISTA embarcou para os EUA e s retornou no dia 07 de abril.
Nesse dia ainda, MARCELO MILLER redigiu mensagem para ele mesmo,
onde ele fez consideraes sobre a Operao Carne Fraca. Recebeu,
tambm, mensagem de FERNANDA GALANTE informando-o acerca da
alterao do hotel nos EUA. No mbito do caso "NGELOGOULART
VILLELA", nesse dia, FRANCISCO DE ASSIS E SILVA se reuniu novamente
com o advogado WILLER TOMAZ, sendo que, nessa oportunidade,
FRANCISCO gravou a reunio.
LX. No dia 04/04/2017, MARCELO MILLER trabalhou pela ltima vez no MPF-RJ.
Nesse dia, MARCELO MILLER repassou orientaes importantes a
FRANCISCO DE ASSIS E SILVA e a FERNANDA LARA TRTIMA sobre o
acordo de colaborao. WESLEY BATISTA trocou informaes sobre o
acordo de lenincia com FRANCISCO DE ASSIS E SILVA, tendo ressaltado
56
a importncia de MARCELO MILLER. FRANCISCO DE ASSIS E SILVA
tambm conversou com MARCELO MILLER sobre o acordo de lenincia.
FERNANDA LARA TRTIMA tambm conversou com JOESLEY BATISTA,
FRANCISCO DE ASSIS E SILVA, WESLEY BATISTA, RICARDO SAUD e
MARCELO MILLER sobre o acordo de colaborao e de lenincia.
FERNANDA LARA TRTIMA manteve tratativas com SRGIO BRUNO e
EDUARDO PELELLA. MARCELO MILLER ainda recebeu mensagem de
CAMILA STEINHOFF, que encaminhava verso do projeto Ametista - JBS e
um rascunho da apresentao que seria realizada nos EUA. Recebeu,
tambm, duas mensagens de FERNANDA GALANTE que encaminhavam
bilhetes de voos.
57
nos Estados Unidos, com o intuito de avanar o acordo de lenincia.
FERNANDA LARA TRTIMA voltou a conversar com JOESLEY BATISTA,
FRANCISCO DE ASSIS E SILVA, RICARDO SAUD e MARCELO MILLER
sobre o acordo de colaborao e de lenincia. FERNANDA LARA TRTIMA
tambm manteve tratativas com SRGIO BRUNO.
LXIV. No dia 10/04/2017, as aes controladas foram autorizadas pelo STF. Nesse
mesmo dia, MARCELO MILLER esteve novamente no escritrio TRENCH,
ROSSI E WATANABE ADVOGADOS, permanecendo l 01h17. MARCELO
MILLER ainda recebeu duas mensagens de FERNANDA GALANTE, onde
ela o informava acerca da emisso de dois bilhetes de voo.
LXV. No dia 11/04/2017, MARCELO MILLER passou a fazer parte, de forma oficial,
do escritrio TRENCH, ROSSI E WATANABE ADVOGADOS. Nesse dia
ainda, MARCELO MILLER recebeu ainda duas mensagens de ADRIANE
WERNECK da TRENCH, ROSSI E WATANABE ADVOGADOS, onde ela o
informou acerca de reembolsos de despesas.
58
LXVIII. No dia 19/04/2017, RICARDO SAUD participou da segunda ao controlada
e gravou a entrega de numerrio a FREDERICO PACHECO. No mbito do
caso "NGELO GOULART VILLELA", nesse dia, FRANCISCO DE ASSIS E
SILVA recebeu uma ligao,via "face-time", de WILLER TOMAZ, sendo que
NGELO GOULART VILLELA tambm estava presente.
59
FRANCISCO DE ASSIS E SILVA se tornou um colaborador e prestou
depoimento na PGR sobre o envolvimento de NGELO GOULART VILLELA.
60
Tambm nesse dia, MARCELO MILLER recebeu mensagem de ADRIANE
WERNECK sobre a emisso de passagem area no mbito do projeto
Ametista - JBS. Por fim, nesse dia, no mbito do caso "NGELO GOULART
VILLELA", ocorreu outra ao controlada envolvendo NGELO GOULART
VILLELA, WILLER TOMAZ e FRANCISCO DE ASSIS E SILVA.
61
capital social do escritrio. Nesse mesmo dia, MARCELO MILLER recebeu e-
mail que continha uma minuta de petio para levantamento do sigilo da
colaborao premiada, minuta essa elaborada por FRANCISCO DE ASSIS E
SILVA, uma vez que vrias medidas cautelares haviam sido deferidas contra
os colaboradores no mbito da OPERAO BULLISH.
62
XCV. No dia 06/06/2017, JOESLEY BATISTA prestou depoimento na Polcia
Federal e foi acompanhado por FERNANDA LARA TRTIMA. Nesse mesmo
dia, MARCELO MILLER compareceu novamente ao escritrio TRENCH,
ROSSI E WATANABE ADVOGADOS.
63
JOESLEY BATISTA, RICARDO SAUD e FRANCISCO DE ASSIS E SILVA
encaminharam o arquivo de udio "PIAUI RICARDO 3 17032017.WAV"
PGR. Aps a anlise do udio pela PGR, o Procurador-Geral da Repblica,
RODRIGO JANOT, determinou a instaurao de procedimento de reviso do
acordo de colaborao premiada, uma vez que a anlise do udio sugeriu a
possvel prtica de conduta criminosa pelo ex-procurador da Repblica
MARCELO MILLER, sobre quem pairava a suspeita de ter atuado em favor
dos colaboradores antes de se exonerar do cargo. Ademais, o udio em
questo revelou possveis omisses em relao a supostas condutas
criminosas de outras pessoas, alm da existncia de uma aventada conta no
exterior, de titularidade do colaborador RICARDO SAUD, cuja existncia no
havia sido inicialmente informada.
64
CVII. No dia 07/09/2017, JOESLEY BATISTA prestou depoimento na PGR.
65
CXV. No dia 09/10/2017, o ex-Ministro JOS EDUARDO CARDOZO foi ouvido na
sede da Polcia Federal em Braslia.
66
7. Papel do Ministrio Pblico
67
Ocorre que, j no ano de 2007, as atividades se expandiram alm
das fronteiras nacionais diante dos emprstimos concedidos pelo BNDES JBS.
Tanto verdade que, em trs anos, o mencionado Banco realizou investimentos em
montante que ultrapassa 8 bilhes de reais e se tornou proprietrio de 21% da
empresa.
68
Assim agindo, o Ministrio Pblico maculou o postulado da
isonomia, na medida em que os delatores foram agraciados com privilgios no
concedidos a outras pessoas em casos anlogos.
69
desmentir. Por qu? Porque, quando
voc o chefe da organizao criminosa,
voc no pode fazer delao premiada.
Ento, respondendo objetivamente: a
delao da JBS sui generis em todos os
seus termos, seja de durao, seja de
tempo, seja, sobretudo, de benefcios
concedidos.
70
Em face da existncia de todos os elementos carreados neste
Relatrio, indubitvel que o ex-Procurador-Geral da Repblica tentou, com seu ato
travestido de legalidade, derrubar o Representante Mximo da Democracia
Brasileira, visto que, caso tivesse ocorrido o regular processamento da exordial
acusatria, estaria ele impedido de continuar governando a nao.
71
Ademais, Janot escondeu a real data de incio das tratativas do
acordo de colaborao premiada, visto que afirmou imprensa que nenhum dos
ento colaboradores, direta ou indiretamente, haviam buscado tratativas com a PGR
para iniciar negociao antes do dia 27/03/2017, o que, na realidade, ocorreu muito
tempo antes.
72
tenha como motivo deixar s
escondidas, s escuras que, quando
houve o grampo, a gravao clandestina
do Senhor Presidente da Repblica e do
Sr. Senador da Repblica teria
acontecido sem o conhecimento, a
anuncia ou a cincia da Procuradoria-
Geral.
73
Art. 26 - Caluniar ou difamar o
Presidente da Repblica, o do Senado
Federal, o da Cmara dos Deputados ou
o do Supremo Tribunal Federal,
imputando-lhes fato definido como crime
ou fato ofensivo reputao.
Pena: recluso, de 1 a 4 anos.
Pargrafo nico - Na mesma pena incorre
quem, conhecendo o carter ilcito da
imputao, a propala ou divulga.
Art. 23 - Incitar:
I - subverso da ordem poltica ou
social;
II - animosidade entre as Foras
Armadas ou entre estas e as classes
sociais ou as instituies civis;
III - luta com violncia entre as classes
sociais;
IV - prtica de qualquer dos crimes
previstos nesta Lei.
Pena: recluso, de 1 a 4 anos.
74
pela qual deve responde pela prtica do crime de abuso de autoridade previsto no
art. 4, h, da Lei n 4.898, de 9 de dezembro de 1965:
75
praticado com abuso ou desvio de poder
ou sem competncia legal;
i) prolongar a execuo de priso
temporria, de pena ou de medida de
segurana, deixando de expedir em
tempo oportuno ou de cumprir
imediatamente ordem de liberdade.
Prevaricao
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar,
indevidamente, ato de ofcio, ou pratic-lo
contra disposio expressa de lei, para
satisfazer interesse ou sentimento
pessoal:
Pena - deteno, de trs meses a um
ano, e multa.
76
Conforme se verificou ao longo da instruo desta CPMI, o principal
motivo que ensejou esta sanha acusatria consistiu na disputa existente no seio do
Ministrio Pblico Federal pela cadeira do seu Presentante mximo.
77
Rodrigo Janot certamente tentou, pela
sua fora poltica, no indic-la a
permanecer nessa cmara, o que
politicamente, faz voc perder um pouco
da sua visibilidade.
O Dr. Rodrigo Janot, numa conversa em
minha presena e na presena de poucos
colegas, umas quatro, cinco colegas, em
outubro do ano passado, deixou bem
claro que na poltica da sucesso ...
Como a gente j discute 2018, em 2016,
a gente j discutia 2017, que era a
sucesso da PGR. Ento, ele deixou bem
claro que ainda que no tivesse a
possibilidade, a fora para fazer o seu
sucessor, a sua caneta teria tinta
suficiente para vetar um nome. E o nome
que ele vetaria, isso no precisava falar,
seria da Dr Raquel Dodge. Ele usaria o
seu prestgio, vamos dizer assim, seja
com o Executivo, seja com o Legislativo,
na poca, prestgio que ainda detinha,
para barrar qualquer tentativa da Dr
Raquel em se ver indicada na lista.
78
polticos partidrios, eles no esto
ligados a determinado partido poltico.
So grupos polticos, so grupos que tm
pensamentos, convices e modos de
atuaes semelhantes entre si.
Na PGR ns temos o grupo do ex-
Procurador-Geral da Repblica Geraldo
Brindeiro. H uma liderana poltica na
Casa ainda. Apesar de ele ter sido
Procurador-Geral da Repblica j h
bastante tempo, ainda permanece em
torno dele um grupo poltico forte. Ns
temos um grupo poltico muito ligado ao
pessoal de So Paulo, ao Dr. Mario
Bonsaglia, que foi um dos candidatos
eleitos na lista trplice tambm. Ns
temos o grupo poltico do Dr. Rodrigo
Janot, que um pessoal muito ligado a
Rodrigo Janot e a gestes pretritas. Ns
temos o grupo poltico da Raquel Dodge.
Ento, so vrios grupos, mas no so
grupos poltico-partidrios. No. So
grupos que tm vises de Ministrio
Pblico, algumas distintas, outras
convergentes, mas que se relacionam
entre si.
Eu falo isso com muita tranquilidade,
porque fui diretor da ANPR. Falo isso
muito tranquilo, porque eu transitava em
todos esses grupos. Eu pensava assim:
no vou ficar andando s com um grupo
apesar de estar l na assessoria do Dr.
Rodrigo Janot , porque a instituio
muito maior do que esses grupos, muito
79
maior. Ns temos nossas divergncias de
pensamento, de modus operandi at,
mas, na verdade, temos de pensar
primeiro na instituio que o Ministrio
Pblico.
80
zela com todo o cuidado, que a lista
trplice para o cargo de Procurador da
Repblica. Ento, eu ouvi naquela poca,
sobretudo de final do ano para maro,
abril, muitos Parlamentares curiosos com
o procedimento sucessrio do Ministrio
Pblico. Ento, nessa curiosidade, eles
me perguntavam quem eram os virtuais
candidatos e quem provavelmente estaria
nessa lista. E no era nenhuma surpresa
que os francos favoritos eram os mesmos
que figuraram na lista talvez em ordem
diferente, mas eram os mesmos.
E eles queriam saber quem era quem. O
Dr. Nicolao Dino, por ser Vice-Procurador
Geral Eleitoral e por ser tambm o irmo
de um governador de Estado, j era uma
pessoa mais conhecida, mas a Dr
Raquel e o Dr. Mario no eram to
conhecidos, pelo menos por aqueles
Parlamentares que conversavam comigo.
E eu falava com eles sobre quem era
cada um, qual era o grupo poltico de
cada um, enfim, a experincia, a trajetria
de cada um no Ministrio Pblico.
81
Bom, em relao a perfis, acho que j
est bem clara, bem ntida, a diferena de
comportamento quanto liturgia do cargo
de Procurador-Geral da Repblica entre a
Dr Raquel Dodge e o Dr. Rodrigo Janot.
Eu acho que isso claro e evidente para
toda a sociedade brasileira.
A Dr Raquel Dodge sempre foi uma
pessoa mais discreta. Ela conhecida
pela sua discrio. Ela conduziu, salvo
engano, a Operao Caixa de Pandora, e
no se teve notcias dela se colocando
como super-heri em nada.
O Dr. Rodrigo Janot tem uma atuao,
vamos dizer assim, menos sbria, na
minha viso. Isso uma questo pessoal
de avaliao. Inegavelmente, ns tivemos
na gesto dele inevitveis avanos na
Procuradoria, de estrutura, de
organizao etc. Mas, talvez por conta da
imprensa, que muitas vezes procura, em
razo do nosso dficit histrico de
politismo no Brasil... O nosso pndulo
mudou de tal forma que o combate
corrupo se tornou desenfreado, a ponto
de algumas vezes violar garantias e
direitos fundamentais. E ns elegemos
algumas figuras que atuam nos autos
como super-heris. Ns vivemos a era do
juiz super-heri, do promotor super-heri.
E, na verdade, a nossa instituio
formada por homens e mulheres que so
sujeitos a falhas, como todos ns.
82
Ento, essa questo da imprensa, do
relacionamento com a imprensa: o Dr.
Rodrigo Janot tinha, realmente, uma
postura, vamos dizer assim, mais
exibicionista. No sei se estou
encaixando bem as palavras, mas vou
dar um exemplo categrico. Lembro-me
de que, na poca em que aconteceu isso,
eu fui uma das pessoas que falou a ele
diretamente que seria ruim. Havia um
grupo de manifestantes na porta da
Procuradoria da Repblica, na poca da
divulgao da delao do Youssef da
lista do Janot , que colocou um cartaz
que dizia "Janot, a esperana do Brasil"
mais ou menos isso. E o Dr. Janot, na
poca, foi l, foi tirar foto com esse
cartaz. Sinceramente, acho que foi sem
qualquer inteno de fazer propaganda.
No, ele foi l falar com aquelas pessoas,
mas aquilo ali simbolizou um super-heri,
uma esperana de novos tempos, de
combate corrupo, de implacvel, de
baluarte da moralidade etc. Quando, na
gesto dele, a gente viu a sua ao de
levantar o sigilo de delaes sem sequer
ter sido ainda oferecida a denncia etc. e
tal... O que acontece? Para a imprensa
um prato cheio, porque a imprensa vive
de notcia, vive de acontecimento, vive de
polmica.
Em relao quela pessoa que foi
delatada e hoje me coloco no lugar
delas, se ns conversssemos sobre isso
83
no ano passado talvez a minha resposta
fosse diferente , o que se falou dela no
se provou. A, dizem "O Ministrio Pblico
arquivou", ponto. Tudo bem, arquivou,
mas e a exposio na mdia, como vai
ficar? Isso a irrestituvel.
H um embate no seguinte sentido. Num
Estado democrtico de direito ns temos
de ter transparncia total. Sim, ns temos
de ter transparncia sim, mas voc s
pode ter transparncia com
responsabilidade. Voc no pode, no
momento embrionrio de uma
investigao, expor aquela pessoa,
sobretudo no caso dos senhores, que so
Parlamentares, que vivem da opinio
pblica, que devem satisfao ao seu
eleitorado. Voc no pode chegar numa
pessoa e simplesmente tach-la disso ou
daquilo quando a investigao ainda est
no incio, o que voc tem um
colaborador.
Nesse ponto a Dr Raquel Dodge evoluiu
muito, na minha viso, porque traou uma
meta: "Olha, s vou tornar pblico o sigilo
a partir do momento em que a denncia
for oferecida". A timo, porque na
denncia voc pressupe, em tese, a
materialidade e o indcio da autoria. A
realmente a sociedade tem de saber que
aquela pessoa foi denunciada, ainda mais
se for uma pessoa pblica. Isso
importante. Agora, o que voc no pode
fazer assassinato de reputaes. Nesse
84
ponto, tenho certeza absoluta, pelo perfil
da Dr Raquel Dodge, que isso no vai
acontecer; vai ser diferente do que
aconteceu e sou um exemplo vivo disso
na gesto do Dr. Rodrigo Janot.
(...).
85
Presidente da Repblica,
independentemente da procedncia ou
no das acusaes quero deixar isso
bem claro , com vista a impedir Dr
Raquel Dodge fosse at aquele
momento
Como Diretor de Assuntos Legislativos da
ANPR, posso afirmar categoricamente
que havia uma predileo pelo seu nome,
seja por parte da Base aliada do
Governo, seja por parte de interlocutores
com o Presidente da Repblica. Como
chegou ao meu conhecimento,
certamente chegou ao conhecimento do
Dr. Rodrigo Janot. Ento, no h
possibilidade de o Rodrigo no ter atuado
de forma poltica para impedir que o
Presidente da Repblica deixasse de
indicar a Dr Raquel Dodge, e ele
precisava derrubar o Presidente em
relao a isso. Isso para mim claro,
cristalino, to evidente.
A partir de um conjunto de fatos alguns
eu posso declinar agora; sobre outros vou
falar de forma pontual depois , a pressa
na conduo da colaborao premiada...
Olha, o Dr. Janot sempre rebate o
seguinte: "Nossa! Ns tnhamos um crime
em andamento. Por isso que a gente
precisava dar aquela imunidade." Mentira.
Mentira. Mentira. mentira! O motivo
dessa pressa do Dr. Rodrigo Janot em
relao a isso foi a negociao que ele
fez com os irmos Joesley. Eles estavam
86
entregando algo caro, algo valioso. E eles
no so bobos.
Na delao premiada, voc trabalha com
aquela ideia de qu? De mximo
benefcio com um mnimo de concesso.
Ele estava querendo o mximo que ele
poderia obter. O mximo que se pode
obter num acordo de colaborao
premiada a imunidade processual, que
foi o que ele obteve. O preo que ele
entregou um preo significativo. Ele
entregou gravaes, vamos dizer assim,
clandestinas de suposto ato ilcito
cometido por Presidente da Repblica,
por Senador, enfim... No vou entrar no
mrito desse caso. Ento, houve uma
clara negociao, e a pressa por causa
disso pelo seguinte: isso foi feito entre
fevereiro, maro e abril, esses trs
meses. O Janot tinha at setembro de
mandato. Ele tinha pressa. Ele no
poderia arrastar uma negociao como
foi a da Odebrecht durante meses a fio.
Ele tinha pressa em relao a isso. E h
fatos paralelos de que eu falo para os
senhores e que confirmam exatamente
isso, porque eu os ouvi da boca de
pessoas, enfim... Mas ns vamos
conversar sobre isso de forma
reservada.
87
atos que sabia serem desprovidos de qualquer ilicitude, com o propsito de
influenciar na escolha do seu sucessor.
7.3 Relao entre o Dr. Rodrigo Janot e o Procurador Angelo Goulart Villela
88
Janot; frequentava a sua casa
eventualmente e fazia alguns almoos;
ento, ns tnhamos uma relao de
amizade. Conversvamos muito.
Depois de Rodrigo Janot, a pessoa com
que eu tambm tinha muita proximidade
era o seu chefe de gabinete, o Dr.
Eduardo Pelella. Ns tnhamos uma
relao muito prxima; nossas esposas
eram amigas, eram prximas. Havia o
ncleo duro, vamos dizer assim... Com o
Dr. Vladimir Aras, que era o Secretrio de
cooperaes internacionais, tambm
tinha uma relao prxima no tanto
quanto a que eu tinha com o Dr. Pelella,
nem quanto a que tinha com o Dr.
Rodrigo, mas tinha... A gente tinha um
grupo com que, inclusive, a gente
marcava eventos no fim de semana,
pessoas de fora e estavam dentro da
Procuradoria. Mas a relao de amizade
mais prxima era, de todos que eu posso
elencar, com o Dr. Eduardo Pelella. Mas
a com a equipe do Janot como um todo,
com boa parte da equipe, eu tinha uma
excelente relao.
Informou, ainda:
89
oportunidade de esclarecer , foi uma das
maiores violncias que eu presenciei no
Ministrio Pblico. fcil falar quando
voc est na prpria pele, mas, o que eu
vivi, eu espero que ningum desta sala
aqui possa ter a chance de viver.
A questo do Rodrigo Janot, na minha
opinio, Deputado, era muito mais do que
uma proteo ao Marcello Miller. A minha
questo em relao ao Rodrigo Janot
que ele precisava deixar bem claro,
nesse ambiente em que a gente vive
miditico, de combate desenfreado
corrupo, de queridinho da mdia, de
super-heri , que ele atuava de forma
imparcial, que o compromisso dele seria,
nica e exclusivamente, combater a
corrupo, doa a quem doer.
Ele precisava e eu fui muito til neste
ponto demonstrar que no havia
motivao poltica nem interesse de
derrubar um Presidente da Repblica.
Como ele faria isso? "Ora, eu estou
entregando aqui, estou cortando a prpria
carne, estou entregando aqui um membro
do Ministrio Pblico. Quer demonstrao
mais eloquente do compromisso que eu
tenho com o combate corrupo? Eu
estou entregando um par." "E esse par, o
senhor tem prova de que ele cometeu
corrupo?" A ele diz: "No, tem a
declarao l, de Francisco, de Joesley,
dos 50 mil." "O senhor tem, ento, um
documento, um registro." Filmaram gente
90
carregando dinheiro, filmaram gente
contando dinheiro. Vocs no viram na
mdia qualquer imagem minha em relao
a dinheiro. Por que no fizeram isso,
ento, comigo, se eu estava levando
R$50 mil? Por que no filmaram? Por que
no fizeram a entrega?
Ento, o Janot agiu com o fgado em
relao a mim. Agiu com o fgado, porque
se sentiu trado. Trado porque eu estaria
me bandeando para o lado da arquirrival
dele. Como se isso, ainda que fosse
verdadeiro, legitimasse uma atuao
devastadora em relao a mim. Porque,
em relao ao procedimento, ao processo
em investigao, eu sei que, no final, isso
tudo vai se resolver, porque eu sei
exatamente o que fiz e, sobretudo, sei o
que eu no fiz. Agora, o massacre
minha dignidade, isso irrestituvel.
Ento, o Janot precisava, na feliz
expresso que o Dr. Gustavo Badar deu
em uma entrevista, de um "inocente til".
No quero aqui fazer processo de
vitimizao, no. Eu rejeito e repilo esse
tipo de adjetivo, mas vamos responder
aos fatos como eles so, e, sobretudo,
delao premiada um meio de obteno
de prova, e no um meio de prova.
Cad a prova? Cad a maldita prova de
corroborao da suposta entrega ou
promessa de vantagem de R$50 mil? o
qu? a declarao de Francisco,
declarao essa que, na minha
91
corregedoria, ele diz que no sabe, que
talvez tenha ouvido de Joesley? Ou seja,
ele j muda o depoimento que ele deu, no
mbito da delao premiada, para a
PGR. No meu procedimento, ele j diz:
"No, eu no tenho certeza se isso
aconteceu, eu acho que eu ouvi isso do
Joesley." E um empurra para o outro.
Ento, assim, muito fcil depois,
Deputado, falar assim: "Angelo, ns
erramos. Havia uma suspeita, e ela no
se confirmou. Volta aqui para o seu
cargo. Toca a sua vida." O estrago est
feito.
7.4 Relao entre o Dr. Rodrigo Janot e os Drs. Marcelo Miller e Eduardo Pellela
92
De fato eu comecei a ter contato com a
J&F antes de a exonerao se perfazer.
Foi quando eu comecei a ter dilogos
com eles, sobretudo para receber
informaes, mas, sim, tambm
respondia perguntas, refleti sobre o caso.
Enfim, no estou negando nada disso.
93
No dia 13 de fevereiro, Marcello Miller foi
ao escritrio TRW, l permaneceu por 3
horas e 50 minutos e esteve reunido com
a advogada Dr Esther.
No dia 14 de fevereiro, Marcello Miller
enviou um e-mail Dr Esther Flesch, em
que esclareceu o tema improbidade
administrativa nos financiamentos do
BNDES. Ao enviar o e-mail, Marcello
Miller registra entre aspas : "Sobre o
caso que discutimos ontem".
No dia 16 de fevereiro, Marcello Miller
encaminhou ofcio em que pedia a
exonerao do Ministrio Pblico Federal.
No dia 17 de fevereiro, Marcello Miller
recebeu mensagem de Fernanda
Galante, do escritrio TRW, em razo de
uma solicitao de voo feita por ele.
No dia 19 de fevereiro, Francisco de
Assis telefonou para o Procurador
Anselmo Lopes e disse que Joesley e
Wesley Batista decidiram fechar uma
colaborao premiada.
No dia 20 de fevereiro, Francisco tambm
se reuniu com Anselmo e tambm com a
Delegada Rbia Danyla, na Procuradoria
da Repblica do Distrito Federal.
No dia 21, Marcello Miller enviou
mensagem para Maurcio Novaes, do
escritrio Trench, em que solicitou o
detalhamento da proposta do escritrio.
Nesse mesmo dia, Francisco de Assis fez
contato telefnico com a PGR.
94
No dia 22, Marcello Miller enviou
mensagem para a advogada Dr Esther
Flesch, em que registrou algumas
dvidas quanto proposta do escritrio,
em epgrafe. Nesse mesmo dia, Marcello
Miller recebeu e-mail desse mesmo
escritrio com uma proposta para ser
scio minoritrio do escritrio, anexada.
Ainda nesse dia, Francisco de Assis
recebeu um telefonema do Procurador
Srgio Bruno, e agendaram uma reunio
na PGR para o dia 2 de maro.
No dia 23 de fevereiro, Marcello Miller
comunicou a Rodrigo Janot sua inteno
de deixar o Ministrio Pblico Federal.
Nesse mesmo dia, Marcello Miller foi
entre aspas "contratado", de maneira
informal, pelo escritrio Trench, Rossi &
Watanabe Advogados. Marcello Miller
passou a prestar servio ao mencionado
escritrio, notadamente em relao aos
assuntos de interesse do Grupo J&F no
acordo de colaborao e no acordo de
lenincia. Ainda nesse dia, Marcello Miller
recebeu uma mensagem de felicitao da
Dr Esther Flesch, do escritrio,
parabenizando-o pela chegada dele, por
Marcello Miller ter aceito ingressar no
escritrio. Alis, Marcello Miller tambm
recebeu uma mensagem de Hrcules
Celescuekci, tambm do escritrio,
felicitando-o por ter aceitado ingressar no
escritrio.
95
Essas informao so muito importantes
para ns.
J no dia 25 de fevereiro, a advogada
Esther enviou e-mail ao Marcello Miller
com o seguinte ttulo entre aspas
"Confidencial - BNDES/JBS", em que ela
informa diversas aes do TCU
envolvendo relacionamento entre o
BNDES e a JBS.
No final de fevereiro, incio de maro,
Marcello Miller esteve na casa de
Joesley, foi levado por Francisco de Assis
e Silva. Joesley Batista disse que esteve
com Marcello Miller umas duas ou trs
vezes durante o ms de maro.
Em 1 de maro, Marcello Miller enviou
mensagem para Maurcio Novaes, do
escritrio Trench, em que anexou o seu
currculo. Nesse dia, Marcello Miller
tambm recebeu uma mensagem de
Esther Flesch, do mesmo escritrio, em
que ele tomou conhecimento de que a
divulgao de sua contratao s seria
realizada aps a sua efetiva
exonerao...
(...).
96
WhatsApp. inclusive, V. S participou. Ele
foi criado, inclusive, antes da sada de V.
S. Dia 31 de maro, foi criado o grupo do
WhatsApp. Nesse grupo de WhatsApp
estava Wesley, Joesley, Francisco, a
Fernanda Trtima, Ricardo Saud e V. S,
num grupo de WhatsApp.
O SR. IZALCI LUCAS (PSDB - DF)
Esse grupo de WhatsApp, inclusive, de
que V. S participou: ele foi criado,
inclusive, antes da sada de V. S... do
WhatsApp. inclusive, V. S participou. Ele
foi criado, inclusive, antes da sada de V.
S. Dia 31 de maro, foi criado o grupo do
WhatsApp. Nesse grupo de WhatsApp
estava Wesley, Joesley, Francisco, a
Fernanda Trtima, Ricardo Saud e V. S,
num grupo de WhatsApp.
97
imprprio, mas no ilcito. No houve
rigorosamente nenhum ilcio. E eu desafio
quem quer que seja a indicar qual foi o
ilcito.
O SR. IZALCI LUCAS (PSDB - DF)
Mas V. S acabou de confirmar que V. S
no entende que trabalhou ou que foi
estrategista. Ora, se V. S no trabalhou,
no foi estrategista, por que participaria
do grupo de WhatsApp exatamente com
esse pessoal?
O SR. MARCELLO MILLER V. Ex ter
observado que a primeira mensagem que
eu mandei nesse grupo foi no dia 4, ou no
dia 5, e, no dia 5, mandei alguma.
Portanto, se V. Ex tem...
98
O SR. MARCELLO MILLER Eu lhe
asseguro que no. Eu lhe asseguro que
no.
99
conhecia o Marcello Miller, ento, antes
de ele estar na equipe do Procurador-
Geral.
O Marcello, durante um tempo, ficou
vinculado permanentemente fora-
tarefa da Lava Jato, inclusive conduzindo
algumas delaes, mas, de um tempo pra
c, salvo engano foi em 2016, primeiro
semestre de 2016, ele passou a fazer o
que a gente chama de atuar em
colaborao, que : ficava com uma
designao na sua unidade de origem, no
caso dele no Rio de Janeiro, e
trabalhava em Braslia trs dias na
semana e voltava toda semana.
Ento, por conta desse sistema, a gente
acabou que perdeu um pouco o contato,
porque ele no passava final de semana
aqui; mas eu tinha um bom conhecimento
dele tambm.
100
O SR. ANGELO GOULART VILLELA
J respondendo ao senhor, quero deixar
uma coisa bem clara sobre o porqu eu
acho, e eu externo a minha opinio, que o
Dr. Janot deveria ter conhecimento das
tratativas.
Eu deixei bem claro no incio da minha
explanao que ali na Procuradoria
funcionava um grupo de trabalho, que
diferente de uma fora-tarefa. Grupo de
trabalho so assessores do promotor, do
nico promotor natural, que, no caso, o
Procurador-Geral da Repblica. Ento,
enquanto assessor, voc tem que ter um
dever de lealdade e de informao ao
promotor, quela pessoa que voc est
assessorando, diferente da fora-tarefa,
em que todo mundo, embora tenha uma
relao contnua de informaes, mas
todo mundo tem atribuio para atuar no
caso e vai conduzindo as investigaes
que esto ao seu cargo.
Pois bem, na minha viso, Deputado,
para no dizer que seria... Como falou, eu
no estava l, no ouvi. Estou falando
pela minha experincia.
Eu acho pouco provvel, e em termos de
percentual, para no ser leviano, eu diria
que 90% de probabilidade de que o Dr.
Rodrigo Janot tivesse conhecimento da
iniciao, da iniciativa, talvez no de
forma pormenorizada e eu acredito at
que no de forma pormenorizada, pelo
101
menos naquele momento inicial, mas da
tratativa com a JBS. No teria como...
Ainda mais com o que a JBS estava se
propondo a fazer.
Chega a ser infantil, ingnuo acreditar
que um candidato a colaborador que se
predispe a entregar informaes ou
provas que envolvessem personalidades
polticas to importantes no Pas, que
esse colaborador, esse procurador
assessor no levasse ao conhecimento
imediato do nico promotor natural do
caso, que o Procurador-Geral da
Repblica.
Ento, eu diria que 90%. Mas baseado,
repito, no meu juzo de valor, em relao
a minha experincia, dinmica que eu
tenho dos fatos. No tenho qualquer
informao privilegiada num sentido ou
no outro.
102
inmeras vezes, que os ajustes referentes delao s tiveram incio no dia 27 do
mesmo ms.
103
chefe de gabinete, Senador, V. Ex me
permita, chefe de gabinete, em tempos
normais, uma funo meramente
administrativa. No. O Dr. Eduardo
Pelella era muito mais que um chefe
gabinete. O Dr. Eduardo Pelella so os
olhos do Dr. Rodrigo Janot. O Dr. Rodrigo
Janot no assinaria nada, absolutamente
nada se no consultasse, se no trocasse
uma ideia com Dr. Eduardo Pelella, que
era a pessoa da sua extrema confiana.
Eu falo isso com muita
tranquilidade, porque, embora eu no
tenha sido chefe de gabinete, eu fui
Procurador auxiliar do Dr. Eugnio
Arago, e tudo que o Dr. Eugnio Arago,
ou praticamente tudo que o Dr. Eugnio
ia assinar, ele me consultava para saber
se eu tinha olhado aquilo, se eu dava
uma olhada. Era normal isso, no estou
dizendo que isso diferente, muito pelo
contrrio, voc tem um assessor de
confiana justamente para fazer essa
triagem, para fazer mais um controle. O
Dr. Eduardo Pelella era a pessoa do Dr.
Rodrigo Janot.
Ento, na minha viso isso,
repito, uma opinio minha, uma opinio
pessoal baseada no meu conhecimento
dos personagens envolvidos e da
dinmica da Procuradoria no tem
como Marcello Miller conduzir algo, uma
delao, sem que Dr. Eduardo Pelella
tivesse conhecimento. E se o Dr. Eduardo
104
Pelella tivesse conhecimento, eu acho
muito difcil que o Dr. Janot no teria
conhecimento tambm.
105
pargrafo primeiro, da ei 12.850/13 - obstruo s investigaes, no art. 357 do
Cdigo Penal - e plorao de prestgio, no art. 317 do Cdigo Penal corrupo
passiva, no art. 321 do Cdigo Penal - advocacia administrativa, alm dos atos
mprobos previstos nos arts. 9 e 11, ambos da Lei n 8.429/92 - improbidade
administrativa.
106
8. Indiciamentos
107
6. RICARDO SAUD - incurso nas penas previstas no art. 2 da Lei
12.850/13, no art. 333 do Cdigo Penal - corrupo ativa, na forma do art. 29, do
Cdigo Penal.
108
9. Recomendaes e encaminhamentos
109
g) Polcia Federal para que investigue eventuais visitas de Ricardo
Saud a Senadores pleiteando apoio destes a pretendentes a ocupar a vaga de
Ministro do Supremo Tribunal Federal durante perodo de 2014 a 2016;
Fim do Relatrio.
110
Anexos
111
CONGRESSO NACIONAL
CPMI JBS
RELATRIO PARCIAL
COLABORAO PREMIADA
Presidente: Senador Atades Oliveira
112
113
SUMRIO
114
PARTE I CONSIDERAES INICIAIS
1. A COLABORAO PREMIADA
2
STF: HC 71039, Relator Min. PAULO BROSSARD, Tribunal Pleno, julgado em 07/04/1994, DJ 06-12-1996 PP-48708
EMENT VOL-01853-02 PP-00278.
3
BULOS, UADI LAMMGO. Comisso parlamentar de inqurito. So Paulo: Saraiva, 2001, p. 17.
115
(tambm conhecida como colaborao processual ou colaborao premiada) um
acordo realizado entre acusador e defesa, visando ao esvaziamento da resistncia
do ru e sua conformidade com a acusao, com o objetivo de facilitar a
persecuo penal em troca de benefcios ao colaborador, reduzindo as
consequncias sancionatrias sua conduta delitiva4.
4
VASCONCELLOS, Vinicius Gomes de. Colaborao premiada no processo penal. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2017, p. 55-56.
5
BITENCOURT, Cezar Roberto; BUSATO, Paulo Csar. Comentrios Lei de Organizao Criminosa. So Paulo: Saraiva,
2014, p. 116-117.
116
premiada um instituto adotado em nosso direito positivo.
117
acusatrio so marcados por um princpio da legalidade ou da
obrigatoriedade da promoo processual e assim pela
indisponibilidade do objeto do processo e pela imutabilidade da
acusao, os esquemas processuais penais de natureza negociada
deixam de fora a delao de terceiros, circunscrevendo-se
confisso de crimes prprios. o que sucede, por exemplo, com os
acordos sobre a sentena penal na legislao alem ( 257c da
StPO) ou com o patteggiamento italiano (art. 444 do CPP italiano).
As vantagens penais que num e noutro caso so acenadas ao
arguido da ao penal reportam-se a um crime dele prprio,
traduzindo-se numa atenuao da sua responsabilidade fundada na
auto-incriminao ou na admisso de culpabilidade. A mitigao da
punio fundada no contributo para a responsabilizao de
coparticipantes no crime fica sua margem.8
8
CANOTILHO, J. J. Gomes; BRANDO, Nuno. Colaborao premiada e auxlio judicirio em matria penal: a ordem pblica
como obstculo cooperao com a operao Lava Jato. In Revista de Legislao e Jurisprudncia.
118
americano, ensina Walter Bittar9 que:
9
BITTAR, Walter Barbosa. Delao premiada: direito estrangeiro, doutrina e jurisprudncia. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2011, p. 25-26.
119
benevolentes ao juiz que no est obrigado a aceita-las ou de que no se opor
o Ministrio Pblico ao pedido de moderao de pena feita pela defesa); b) a charge
bargaining (em troca da confisso de culpa do ru com relao a um ou mais
crimes, o Ministrio Pblico se compromete a abandonar determinada imputao
que originalmente lhe foi feita, ou a acusa-lo de um crime menos grave que o
realmente cometido); c) forma mista (h a aplicao de uma pena atenuada e
diminuio de imputaes em troca da confisso do acusado).
10
BITENCOURT, Cezar Roberto; BUSATO, Paulo Csar. Comentrios lei de organizao criminosa. So Paulo: Saraiva,
2014, p. 116.
11
SILVA, Eduardo Araujo da. Organizaes criminosas: aspectos penais e processuais da Lei n 12.850/13. So Paulo: Atlas,
2014, p. 53-54.
12
BITTAR, Walter Barbosa. Delao premiada: direito estrangeiro, doutrina e jurisprudncia. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2011, p. 15-16.
120
de delao premiada nos seguintes termos: para os delitos
cometidos com a finalidade de terrorismo ou de everso da ordem
democrtica, salvo, quando disposto no art. 289-bis do Cdigo
Penal, nas discusses do concorrente que se separando dos outros,
esfora-se para evitar que a atividade delituosa seja levada a
consequncias posteriores, ou ajude concretamente a autoridade
policial e a judicial na busca de provas decisivas para a
individualizao ou a captura dos concorrentes. A priso perptua
substituda pela recluso de doze a vinte anos, e as outras penas
so diminudas de um tero metade.
Verificada a contribuio dos colaboradores que pde
determinar o rompimento de setores mais ou menos relevantes da
organizao, com posterior remoo, ainda que parcial, do perigo
derivante da simples existncia de grupos associados, cujo objetivo
a subverso violenta, pode afetar o conhecimento do fenmeno
subversivo, revelando tticas e estratgias, mtodos operativos e
elaboraes ideolgicas e, ainda, a observao de alguns resultados
positivos produzidos, o legislador optou por introduzir nova norma
(Lei n 304, de 28 de maio de 1982) basicamente para aumentar o
quantum das atenuantes estabelecidas pela Lei anterior (art. 3) e
beneficiar condutas no somente de colaborao ativa, mas,
tambm, de simples dissociao do grupo criminoso (art. 2), ou seja,
condutas baseadas na admisso dos fatos cometidos e declarao
do afastamento da violncia como forma de luta poltica.
Em 1987, surge a Lei n 34, de 18 de fevereiro, dando nova
definio dissociao, e ordena a edio de normas que busquem
ao mximo a recuperao de jovens que tenham abandonado a luta
poltica violenta.
13
BITTAR, Walter Barbosa. Delao premiada: direito estrangeiro, doutrina e jurisprudncia. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2011, p. 17.
121
Um dos importantes instrumentos que essa reforma trouxe foi
o verbale ilustrativo:
14
BITTAR, Walter Barbosa. Delao premiada: direito estrangeiro, doutrina e jurisprudncia. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2011, p. 20-21.
122
Lei Orgnica n 3, de 25 de maio, que incluiu uma figura premial para os
participantes do crime de terrorismo que colaborassem com a justia (remisso
parcial ou total da pena, de acordo com as circunstncias). No novo Cdigo Penal
(L.O. n 10, de 23 de novembro de 1995), o instituto no s foi mantido para o
terrorismo (art. 579.a), como foi estendido para os delitos relacionados ao trfico de
drogas (art. 376)15.
15
COGAN, Marco Antnio Pinheiro Machado; JOS, Maria Jamile. Crime organizado e terrorismo na Espanha. In
FERNANDES, Antonio Scarance; ALMEIDA, Jos Raul Gavio de; MORAES, Maurcio Zanoide de. Crime organizado:
aspectos processuais. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 149.
16
BITTAR, Walter Barbosa. Delao premiada: direito estrangeiro, doutrina e jurisprudncia. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2011, p. 10.
123
encampou a colaborao do agente para facilitar as investigaes em troca de um
prmio legal. O art. 6 desse diploma legal estabelecia que nos crimes praticados
em organizao criminosa, a pena ser reduzida de um a dois teros, quando a
colaborao espontnea do agente levar ao esclarecimento de infraes penais e
sua autoria.
124
judicial, o art. 14 desta mesma Lei autoriza a reduo da pena, de um a dois teros,
para o agente que colaborar voluntariamente com a investigao policial e o
processo criminal na identificao dos demais coautores ou partcipes do crime, na
localizao da vtima com vida e na recuperao total ou parcial do produto do
crime.
18
COSTA, Leonardo Dantas. Delao premiada: a atuao do Estado e a relevncia da voluntariedade do colaborador com a
justia. Curitiba: Juru, 2017, p. 87.
19
VASCONCELLOS, Vinicius Gomes de. Colaborao premiada no processo penal. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2017, p. 73.
125
Neste tpico, abordaremos os pontos que consideramos mais
sensveis relacionados temtica.
126
Tais clusulas, como se percebe em breve anlise, no
encontram qualquer amparo legal.
127
na lei! So ilegais, mais uma invencionice sem base legal20.
Continua o autor:
20
LOPES JR., Aury; MORAIS DA ROSA, Alexandre. A deciso de Lewandowski acabar com a farra da delao
brasileira? Disponvel em https://www.conjur.com.br/2017-dez-08/limite-penal-decisao-delewandowski-acabara-farra-delacao-
brasileira
21
BOTTINO, Thiago. Colaborao premiada e incentivos cooperao no processo penal: uma anlise crtica dos acordos
firmados na Operao ava-Jato. In Revista Brasileira de Cincias Criminais, ano 24, n. 122, agosto/2016, p. 377.
128
na medida em que aumentam de forma exponencial os benefcios
aos colaboradores, prejudicando o equilbrio de custo e benefcio
estabelecido pelo legislador.
Acredita-se que esse desequilbrio pode ampliar
significativamente os incentivos cooperao, mas igualmente
amplia os riscos de que tais colaboraes no sejam verdadeiras
nem teis22.
22
BOTTINO, Thiago. Colaborao premiada e incentivos cooperao no processo penal: uma anlise crtica dos acordos
firmados na Operao ava-Jato. In Revista Brasileira de Cincias Criminais, ano 24, n. 122, agosto/2016, p. 377-378.
129
forma de apurao oficial dos fatos, a qual tem por finalidade lograr
a apurao da verdade. Neste ltimo, tradicionalmente, o
responsvel pela acusao tambm visto como um guardio da lei
e do interesse pblico, e no como mero agente estatal interessado
na condenao (DAMASKA, Miriam R. The faces os justice and state
authority: a comparative approach to the legal process. New Haven:
Yale University Press, 1986, p. 3).
Tal modelo estruturou-se sobre uma profunda crena no
papel do juiz como responsvel pela busca da verdade real. Por
isso, institutos arraigados no sistema anglo-saxo, como a admisso
de culpa (guilty plea) no encontram amparo no sistema romano-
germnico, no qual a confisso do acusado possvel, porm no
sua admisso de culpa, como forma de finalizao do processo
(DAMASKA, Miriam R., op.cit., p. 2).
Em razo disso, a ampla discricionariedade do titular da
ao penal mostra-se mais compatvel com o sistema anglo-saxo
do que com o modelo romano-germnico, porque, naquele, a
acusao, como parte interessada, pode entender que determinada
controvrsia no digna de uma persecuo penal.
De outro lado, na metodologia romano-germnica, o ncleo
essencial do processo consiste em apurar, por meio de uma
investigao oficial e imparcial, se um determinado crime ocorreu e
se o acusado foi o responsvel por sua prtica. Nesta sistemtica,
no h lugar para a ampla discricionariedade por parte do rgo
acusador (LANGER, Mximo, op.cit., p. 21-22).
Ressalto, por conveniente, que as crenas e disposies
individuais ou coletivas de determinado sistema jurdico tm papel
importante quando se analisa um instituto de inspirao estrangeira,
porquanto existem interaes de tais elementos, no interior de cada
sistema, que no podem ser ignoradas, sob pena de prejuzo sua
coerncia. Os fundamentos de um dado sistema equivalem,
portanto, a verdadeiras lentes hermenuticas, mediante as quais os
seus institutos jurdicos devem ser interpretados.
Feita essa brevssima digresso, relembro que do
Supremo Tribunal Federal a competncia para a homologao de
acordo de colaborao premiada quando envolver autoridade com
foro por prerrogativa de funo (art. 102, I, b, da CF), uma vez que
se trata, como salientado no acrdo do ano de 2007 referido acima,
de um meio de obteno de prova.
No caso sob exame, o relatrio supra e os documentos que
instruem a presente PET indicam o envolvimento, em tese, de
congressista em ilcitos penais. Reconhecida, portanto, a
competncia desta Corte, examino o pedido de homologao do
acordo de colaborao.
Com efeito, em conformidade com o art. 4, 7, da Lei
12.850/2013, realizado o acordo na forma do 6, o respectivo
termo, acompanhado das declaraes do colaborador, assim como
de cpia da investigao, ser remetido ao juiz para homologao, o
qual dever verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade,
podendo, para este fim, ouvir, sigilosamente, o colaborador, na
presena de seu defensor.
130
Pois bem, a voluntariedade do acordo originrio foi
devidamente atestada pelo colaborador, perante o Magistrado
Instrutor que designei para a realizao da audincia de que trata o
art. 4, 7, da Lei 12.850/2013, cumprindo registrar que aquele
afirmou, com segurana, que tomou, livremente, a iniciativa de
propor o acordo de colaborao, e que no sofreu qualquer coao
ou ameaa para firm-lo.
Ademais, a referida voluntariedade pode ser inferida dos
documentos que instruem os autos, particularmente porque o
colaborador contou com a permanente assistncia de defensor
constitudo.
J no que se refere aos requisitos de regularidade e
legalidade, e mais especificamente quanto ao contedo das
clusulas acordadas, vale lembrar que ao Poder Judicirio cabe
apenas o juzo de compatibilidade entre a avena pactuada entre as
partes com o sistema normativo vigente, conforme decidido na PET
5.952/DF, de relatoria do Ministro Teori Zavascki.
Nesse sentido, aps realizar um exame perfunctrio, de
mera delibao, nico possvel nesta fase embrionria da
persecuo penal, identifiquei, a partir do confronto mencionado
acima, que se mostra invivel homologar o presente acordo tal como
entabulado, pelas razes a seguir deduzidas.
Inicialmente, observo que no lcito s partes
contratantes fixar, em substituio ao Poder Judicirio, e de
forma antecipada, a pena privativa de liberdade e o perdo de
crimes ao colaborador. No caso, o Ministrio Pblico ofereceu ao
colaborador os seguintes prmios legais:
[] o perdo judicial de todos os crimes,
exceo daqueles praticados por ocasio da campanha
eleitoral para o Governo do Estado do Rio de Janeiro no
ano de 2014, consubstanciados nos tipos penais descritos
no art. 350 do Cdigo Eleitoral, no art. 1, 2, inciso I, 2,
inciso I da Lei 9.613/98 e art. 22, pargrafo nico da Lei n
7.492/86, pelos quais a pena acordada a condenao
pena unificada de 4 anos de recluso, nos processos penais
que vierem a ser instaurados [...] (fl. 14).
No entanto, como de conhecimento geral, o Poder
Judicirio detm, por fora de disposio constitucional, o
monoplio da jurisdio, sendo certo que somente por meio de
sentena penal condenatria, proferida por magistrado
competente, afigura-se possvel fixar ou perdoar penas
privativas de liberdade relativamente a qualquer jurisdicionado.
Sublinho, por oportuno, que a Lei 12.850/2013 confere ao
juiz a faculdade de, a requerimento das partes, conceder o perdo
judicial, reduzir em at 2/3 a pena privativa de liberdade ou substitu-
la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e
voluntariamente com a investigao e com o processo criminal,
desde que dessa colaborao advenha um ou mais dos resultados
descritos nos incisos do art. 4 do diploma legal em questo.
Saliento, a propsito, que a prpria Constituio Federal
estabelece que ningum ser privado da liberdade ou de seus bens
131
sem o devido processo legal, assim como ningum ser preso seno
em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciria competente (art. 5, LIV e LXI, da CF).
O mesmo se diga em relao ao regime de cumprimento
da pena, o qual deve ser estabelecido pelo magistrado
competente, nos termos do disposto no art. 33 e seguintes do
Cdigo Penal, como tambm no art. 387 do Cdigo de Processo
Penal, os quais configuram normas de carter cogente, que no
admitem estipulao em contrrio por obra da vontade das
partes do acordo de colaborao.
Alis, convm ressaltar que sequer h processo judicial em
andamento, no sendo possvel tratar-se, desde logo, dessa
matria, de resto disciplinada no acordo de colaborao de maneira
incompatvel com o que dispe a legislao aplicvel. Sim, porque o
regime acordado pelas partes o fechado (clusula 5, item 1),
mitigado, conforme pretendem estas, pelo recolhimento domiciliar
noturno (clusula 5, item 2, a), acrescido da prestao de servios
comunidade (clusula 5, item 2, b).
Ora, validar tal aspecto do acordo, corresponderia a
permitir ao Ministrio Pblico atuar como legislador. Em outras
palavras, seria permitir que o rgo acusador pudesse
estabelecer, antecipadamente, ao acusado, sanes criminais
no previstas em nosso ordenamento jurdico, ademais de
carter hbrido.
Com efeito, no limite, cabe ao Parquet, to apenas e
desde que observadas as balizas legais - deixar de oferecer
denncia contra o colaborador, na hiptese de no ser ele o lder da
organizao criminosa e se for o primeiro a prestar efetiva
colaborao, nos termos do que estabelece o 4 do art. 4 da Lei
de regncia.
No h, portanto, qualquer autorizao legal para que as
partes convencionem a espcie, o patamar e o regime de
cumprimento de pena. Em razo disso, concluo que no se
mostra possvel homologar um acordo com tais previses, uma
vez que o ato jamais poderia sobrepor-se ao que estabelecem a
Constituio Federal e as leis do Pas, cuja interpretao e
aplicao - convm sempre relembrar - configura atribuio
privativa dos magistrados integrantes do Judicirio, rgo que,
ao lado do Executivo e Legislativo, um dos Poderes do
Estado, conforme consigna expressamente o art. 3 do texto
magno.
Simetricamente ao que ocorre com a fixao da pena e o
seu regime de cumprimento, penso que tambm no cabe s partes
contratantes estabelecer novas hipteses de suspenso do processo
criminal ou fixar prazos e marcos legais de fluncia da prescrio
diversos daqueles estabelecidos pelo legislador, sob pena de o
negociado passar a valer mais do que o legislado na esfera penal.
Igualmente no opera nenhum efeito perante o Poder
Judicirio a renncia geral e irrestrita garantia contra a
autoincriminao e ao direito ao silncio. O mesmo se diga
quanto desistncia antecipada de apresentao de recursos,
132
uma vez que tais renncias, toda evidncia, vulneram direitos
e garantias fundamentais do colaborador.
Nessa direo, reproduzo, abaixo, o entendimento exarado
pelo Ministro Teori Zavascki, na PET 5.245/DF, ao homologar o
respectivo acordo de colaborao:
[] com e ceo do compromisso assumido pelo
colaborador, constante da Clusula 10, k, exclusivamente
no que possa ser interpretado como renncia, de sua parte,
ao pleno exerccio, no futuro, do direito fundamental de
acesso Justia, assegurado pelo art. 5, XXXV, da
Constituio.
dizer: no h, na ressalva, nada que possa
franquear ao colaborador descumprimento do acordado
sem sujeitar-se perda dos benefcios nele previstos. O
contrrio, porm, no ser verdadeiro: as clusulas do
acordo no podem servir como renncia, prvia e definitiva,
ao pleno e erccio de direitos fundamentais.
No que se refere autorizao para viagens internacionais,
noto que incumbe exclusivamente ao magistrado responsvel pelo
caso avaliar, consoante o seu prudente arbtrio, e diante da
realidade dos autos, se deve ou no autorizar a sada do investigado
do Brasil. Alis, como o regime de cumprimento de pena, acordado
entre as partes, corresponde ao fechado, segundo visto acima, se
vlida fosse a respectiva clusula, a permisso para a sada do
investigado do estabelecimento prisional somente poderia ocorrer
em caso de falecimento ou doena grave do cnjuge, companheira,
ascendente, descendente ou irmo ou, ainda, de necessidade de
tratamento mdico, conforme estabelece o art. 120 da Lei de
Execuo Penal.
Quanto fixao de multa, consigno que, s partes,
apenas lcito sugerir valor que, a princpio, lhes parea
adequado para a reparao das ofensas perpetradas,
competindo exclusivamente ao magistrado responsvel pela
conduo do feito apreciar se o montante estimado suficiente
para a indenizao dos danos causados pela infrao,
considerados os prejuzos sofridos pelo ofendido, a teor do art.
387, IV, do Cdigo de Processo Penal.
Verifico, ainda, que h outras clusulas frontalmente
conflitantes com o art. 7, 3, da Lei 12.850/2013, o qual
estabelece a regra aplicvel para a preservao do sigilo sobre o
acordo, seus anexos, depoimentos e provas obtidas durante a sua
execuo at o recebimento da denncia.
Com efeito, o levantamento do sigilo depender, em todos
os casos, de provimento judicial motivado, na esteira de diversos
precedentes desta Suprema Corte, dentre os quais, destaco a PET
6.164-AgR, cuja ementa reproduzo abaixo:
Ementa: PENAL. PROCESSO PENAL.
COLABORAO PREMIADA. PEDIDO DE ACESSO AO
CONTEDO DE DEPOIMENTOS COLHIDOS.
DECLARAES RESGUARDADAS PELO SIGILO NOS
TERMOS DA LEI 12.850/2013.
133
1. O contedo dos depoimentos prestados em
regime de colaborao premiada est sujeito a regime de
sigilo, nos termos da Lei 12.850/2013, que visa, segundo a
lei de regncia, a dois objetivos bsicos: (a) preservar os
direitos assegurados ao colaborador, dentre os quais o de
ter nome, qualificao, imagem e demais informaes
pessoais preservados (art. 5, II) e o de no ter sua
identidade revelada pelos meios de comunicao, nem ser
fotografado ou filmado, sem sua prvia autorizao por
escrito (art. 5, V, da Lei 12.850/2013); e (b) garantir o xito
das investigaes (arts. 7, 2).
2. O sigilo perdura, em princpio, enquanto no ()
recebida a denncia (art. 7, 3) e especialmente no
perodo anterior formal instaurao de inqurito.
Entretanto, instaurado formalmente o inqurito propriamente
dito, o acordo de colaborao e os correspondentes
depoimentos permanecem sob sigilo, mas com a ressalva
do art. 7, 2 da Lei 12.850/2013, a saber: o acesso aos
autos ser restrito ao juiz, ao Ministrio Pblico e ao
delegado de polcia, como forma de garantir o xito das
investigaes, assegurando-se ao defensor, no interesse do
representado, amplo acesso aos elementos de prova que
digam respeito ao exerccio do direito de defesa,
devidamente precedido de autorizao judicial, ressalvados
os referentes s diligncias em andamento (Rcl 22009-AgR,
Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, DJe
de 12.5.2016).
3. Assegurado o acesso do investigado aos
elementos de prova carreados na fase de inqurito, o
regime de sigilo consagrado na Lei 12.850/2013 guarda
perfeita compatibilidade com a Smula Vinculante 14, que
garante ao defensor legalmente constitudo o direito de
pleno acesso ao inqurito (parlamentar, policial ou
administrativo), mesmo que sujeito a regime de sigilo
(sempre excepcional), desde que se trate de provas j
produzidas e formalmente incorporadas ao procedimento
investigatrio, excludas, consequentemente, as
informaes e providncias investigatrias ainda em curso
de execuo e, por isso mesmo, no documentados no
prprio inqurito ou processo judicial (HC 93.767,
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, DJe
de 1.4.2014).
4. certo, portanto, que a simples especulao
jornalstica a respeito da existncia de acordo de
colaborao premiada ou da sua homologao judicial ou
de declaraes que teriam sido prestadas pelo colaborador
no causa juridicamente suficiente para a quebra do
regime de sigilo, sobretudo porque poderia comprometer a
investigao.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
A propsito, embora o feito esteja tramitando em segredo
de justia desde o seu nascedouro, diversos vazamentos ocorreram
134
no tocante ao contedo da presente tratativa de colaborao, como
se pode constatar a partir de matrias jornalsticas que veicularam
trechos substanciais dela, tendo sido a primeira publicada, diga-se
de passagem, antes mesmo de o feito ter aportado nesta Suprema
Corte.
Ademais, observo que o compartilhamento e a remessa de
informaes sigilosas decorrentes da presente colaborao somente
podero ser autorizados mediante deciso judicial (veja-se, nesse
sentido, a PET 6.938/DF, de relatoria do Ministro Dias Toffoli).
Por essa razo e arrimado no referido precedente,
assento que permitir ao colaborador que entregue documentos
reveladores de dados sigilosos referentes a terceiros,
configura, em tese, burla necessidade de ordem judicial para
tanto, razo pela qual tambm esse tpico do acordo no pode
ser ratificado, porquanto tal desiderato inalcanvel mediante
simples acordo entre as partes.
E, para que no pairem dvidas, registro que o Ministrio
Pblico pode, a qualquer momento, requerer, fundamentadamente,
ao juiz competente o levantamento do sigilo de quaisquer
informaes ou documentos de terceiros.
Na linha do quanto assentado acima, reproduzo trecho
paradigmtico da deciso do Ministro Dias Toffoli, na PET 5.897/DF:
O colaborador tem legitimidade para renunciar ao
sigilo bancrio ou de operaes com cartes de crdito
relativamente s contas ou aos cartes de que seja titular
ou representante legal.
Dito de outro modo, no pode o colaborador,
validamente, abrir mo do sigilo de contas bancrias ou
de cartes de titularidade de terceiros, quando no for
seu representante.
Isso posto, com fundamento art. 4, 8, da Lei
12.850/2013, deixo de homologar, por ora, o acordo de
colaborao premiada de fls. 12-28, devolvendo os autos
Procuradoria-Geral da Repblica para que esta, em querendo,
adeque o acordo de colaborao ao que dispem a Constituio
Federal e as leis que disciplinam a matria (cf. PET. 5.879/DF e
PET. 7.244,/DF, ambas de relatoria do Ministro Dias Toffoli).
135
conseguidos23.
E prosseguem os autores:
23
CANOTILHO, J. J. Gomes; BRANDO, Nuno. Colaborao premiada e auxlio judicirio em matria penal: a ordem pblica
como obstculo cooperao com a operao Lava Jato. In Revista de Legislao e Jurisprudncia.
24
Como j se disse: No fundo, fica claro que gente treinada no modelo norte-americano e que pensa a partir dele sente-se
livre para manipular hermeneuticamente as regras e princpios constitucionais e, assim, poder soneg-los aos cidados. Antes
de tudo deve-se notar eliminam-se as barreiras impostas pela legalidade, a qual manipulam como querem a partir da
razoabilidade e da proporcionalidade, as quais seguem incorretamente aplicadas para desdizer a legalidade e, assim, corroer
o sistema constitucional de direitos e garantias (COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. O direito intimidade e as novas
tecnologias. Texto apresentado na IX Jornada Italo-espaola-brasilea de Derecho Constitucional, Centro de Estudios
Politicos y Constitucionales, Madrid, 23/09/16).
136
De um lado alonga (contra a CR) a funo inquisitria do juiz como
lder do combate ao crime, m ime corrupo; de outro, cria
condies para que se manipule com o risco concreto de no se
ter controle a lei e os fatos de modo a se produzir medidas
cautelares inconstitucionais e ilegais.
Um sintoma concreto do que se est a dizer
justamente o uso indiscriminado, ento, das prises cautelares,
impostas com o objetivo velado de forar o acusado a firmar o
acordo de delao premiada. A experincia demonstrou e
continua a demonstrar que o acordo empregado como
instrumento de restituio da liberdade daqueles que se
encontram encarcerados. Nesse cenrio catastrfico e
agonizante, para obter benefcios, o delator se v obrigado a
renunciar inmeras garantias constitucionais, dentre elas a
possibilidade de interposio de recursos e a propositura de
aes constitucionais como o Habeas Corpus, o que constitui
uma flagrante inconstitucionalidade.
Veja-se que, em pareceres apresentados pela Procuradoria
Regional da Repblica, em Habeas Corpus, ao Tribunal Regional
Federal da 4 Regio, o Procurador Manoel Pastana defendeu a
manuteno das prises preventivas cautelares que haviam sido
decretadas no mbito da chamada Operao Lava Jato, em face da
possibilidade real de o infrator colaborar com a apurao da
instruo penal. Em entrevista, o referido Procurador afirmou: E o
passarinho pra cantar precisa estar preso25. A afirmao produziu
uma grande reao porque, em sendo sincera, mostrou qual era o
escopo das prises cautelares, em geral levadas a efeito revelia da
Constituio e da lei.
Por bvio, a priso aplicada com tal objetivo macula o
carter voluntrio do qual a delao deve-se revestir26
25
V. CANRIO, Pedro. Em parecer, MPF defende prises preventivas para forar rus a confessar. In Boletim de notcias
Conjur. Disponvel em: <http://www.conjur.com.br/2014-nov-27/parecer-mpf-defende-prisoes-preventivas-forcar-confissoes>.
Acesso em: 15/11/2017; STECK, Lenio Luiz; TRINDADE, Andr Karam. O passarinho pra cantar precisa estar preso. Viva a
inquisio! In Boletim de notcias Conjur. Disponvel em: <http://www.conjur.com.br/2014-nov-29/diario-classe-passarinho-pra-
cantar-estar-preso-viva-inquisicao>. Acesso em: 15/11/2017.
26
Art. 4, da Lei n 12.850/13: O juiz poder, a requerimento das partes, conceder o perdo judicial, reduzir em at 2/3 (dois
teros) a pena privativa de liberdade ou substitu-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e
voluntariamente com a investigao e com o processo criminal, desde que dessa colaborao advenha um ou mais dos
seguintes resultados.
137
Da mesma forma, evitar-se-ia que prises processuais fossem
decretadas sem fundamentao idnea e para atender objetivos outros, alheios ao
processo ou inqurito.
27
https://jota.info/artigos/quem-esta-preso-pode-delatar-23062015
138
liberdade como um prmio, uma vantagem a ser concedida em troca do
fornecimento de nomes de possveis cmplices fere o princpio fundamental da
dignidade da pessoa humana. Ademais, no pode, de forma alguma, ser
considerada espontnea uma confisso, e possvel delao, extrada do investigado
nestas condies.
28
KHALED JUNIOR, Salah H. Discurso de dio e sistema penal. Belo Horizonte: Casa do Direito, 2016, p. 112.
29
Ale andre Wunderlich, Joo Daniel Rassi e Rogrio Fernando Taffarello se questionam: A ei 12.850/13 estabelece
momento processual especfico para o levantamento do sigilo do acordo, e, em seu silncio, a devida inteligncia do direito
139
Nesses casos, a mdia passa a integrar a estratgia de
negociao da parte ou at mesmo do Juzo, que busca a aprovao
da opinio pblica para, implicitamente, impedir eventual reforma de
uma deciso possivelmente ilegal.
Trata-se de um agir estratgico bem definido30, inclusive do
ponto de vista ideolgico: um reforo da posio de todo Judicirio
em detrimento dos demais poderes, tomados como corruptos por
definio. A opinio pblica , neste aspecto, confundida com
democracia, na esteira de Carl Schmitt, o idelogo do nazismo. Em
tal espao, h evidente tentativa de enfraquecimento da lei,
sobretudo da CR, razo por que passam a ser normais como se
legtimos fossem os julgamentos morais e solipssticos31, pelos
quais, como percebe qualquer jejuno, os fins (construdos e
suportados midiaticamente), justificam os meios. Ruem, como
parece elementar, os fundamentos do Estado Democrtico de
Direito.
[...]
O tema demais importante e envolve aquilo que a doutrina
tradicional chama de Publicidade Interna e Publicidade Externa.
Aquela, como se sabe, demarcada no mbito processual, de todo
imprescindvel em face da exigncia da CR e, antes de tudo, seu
devido processo legal (art. 5, LIV, CR). Aqui, a matria vai regida a
partir dos atos j praticados, os quais devem chegar ao
conhecimento dos interessados. Por evidente, no faz sentido se ter
qualquer ato realizado no mbito da delao premiada e
consolidado, por elementar sem chegar aos interessados, salvo
aqueles nos quais o sigilo seja imprescindvel.
Isso, por sinal, demarca um espao que se no pode deixar
fora, isto , aquele do controle da prpria dinmica da delao. Em
se tratando de ato de natureza pblica (que envolve rgo pblico
que, como se sabe deve agir em conformidade com a lei e, portanto,
sofrer o devido controle), de todo ilgico que se no tenha controle
do que se negocia, mesmo que a posteriori. Assim, imprescindvel
que todos os atos de negociao sejam registrados (gravados), de
modo a que se possa ter presente, depois, no s as tratativas como
ampla defesa de eventuais terceiros evidencia que o seu contedo deve ser disponibilizado defesa tcnica de terceiros
afetados por eventuais medidas cautelares pessoais ou patrimoniais decretadas. A prtica, porm, tem exemplificado outras
ocasies, por vezes derivadas de presses miditicas e/ou polticas, em que se tem entendido pela convenincia do
levantamento do sibilo de autos. admissvel que assim se proceda, caso se entenda haver motivo relevante, ainda que sem
qualquer amparo legal correspondente? (Doze perguntas sobre a delao premiada: em busca da segurana jurdica. In
Boletim Jurdico Jota. <https://jota.info/especiais/doze-perguntas-sobre-a-colaboracao-premiada-10112017>).
30
Com base na descrio de Mark Gilbert sobre a operao mani pulite, concluiu Srgio Fernando Moro: Os responsveis
pela operao mani pulite ainda fizeram largo uso da imprensa. Com efeito: Para o desgosto dos lderes do PSI, que, por
certo, nunca pararam de manipular a imprensa, a investigao da mani pulite vazava como uma peneira. To logo algum era
preso, detalhes de sua confisso eram veiculados no E presso, no a Repubblica e outros jornais e revistas
simpatizantes. Apesar de no existir nenhuma sugesto de que algum dos procuradores mais envolvidos com a investigao
teria deliberadamente alimentado a imprensa com informaes, os vazamentos serviram a um propsito til. O constante fluxo
de revelaes manteve o interesse pblico elevado e os lderes partidrios na defensiva. In Consideraes sobre a Operao
Mani Pulite. Revista CEJ, Braslia, n. 26, p. 56-62, jul/set., 2004. Disponvel em:
<http://www.cjf.jus.br/ojs2/index.php/revcej/article/view/625/805>. Acesso em: 24/11/2017.
31
No Brasil, a discricionariedade vai muito alm do informado por Hart e pela crtica de Dworkin. Em qualquer espao de
sentido vaguezas, ambiguidades, clusulas abertas etc. , o imaginrio dos juristas v um infindvel terreno para o
e erccio da subjetividade do intrprete (...) A afirmao de que o intrprete sempre atribui sentido ao te to nem de longe
pode significar a possibilidade de este estar autorizado a atribuir sentidos de forma discricionria/arbitrria, como se texto e
norma estivessem separados (e, portanto, tivessem existncia autnoma). Como bem diz Gadamer, quando o juiz pretende
adequar a lei s necessidades do presente, tem claramente a inteno de resolver uma tarefa prtica. Isso no quer dizer, de
modo algum, que a interpretao da lei seja uma traduo arbitrria, fruto de um intrprete solipsista (STRECK, enio Luiz.
Verdade e consenso: constituio, hermenutica e teorias discursivas. 5 ed. So Paulo: Saraiva, 2014, p. 53-4).
140
qui mais importante as imagens. Por evidente, em um Estado
Democrtico de Direito nenhum rgo pblico est resguardado do
controle, muito menos aquele do Ministrio Pblico e, sobretudo, em
situaes com tantas consequncias para a cidadania.
Por outro lado, a Publicidade Externa carrega consigo,
sobretudo, um cotejo entre os princpios da intimidade e privacidade
(art. 5, X, CR), e aquele da liberdade de imprensa (art. 5, IX, c.c
art. 220 e , CR), o qual, de regra, soluciona-se no caso concreto,
dependendo das pessoas envolvidas. O sigilo, como se sabe, a ser
imposto s negociaes e prpria delao premiada, tenta dar
conta dos casos concretos e deve ser imposto parcimoniosamente.
A quebra dele, por seu turno, criminosa; e deve ser
responsabilizada. No faz sentido se ter um instituto que protege
direito ou garantia individual e a sua quebra no ser qualificada
juridicamente como atividade criminosa. Eis por que o vazamento
deve ser tipificado como crime, qui para alcanar todos
aqueles que tenham por conduta a adequao de entornar, no
sentido de fazer extravasar o delatado, justo para se proibir a
retirada indevida do contedo da delao premiada. No se trata,
por evidente, da mera divulgao, a qual se d depois do
vazamento, depois de o contedo a delao premiada ter entornado,
isto , ter extravasado do mbito do procedimento.
Assim, faz-se uma composio entre a proteo dos direitos
e garantias individuais e por que no do prprio Estado e o
direito referente liberdade de imprensa, qui em uma justa
adequao.
32
GOMES, Marcus Alan de Melo. Crtica cobertura miditica da Operao Lava Jato. In Revista Brasileira de Cincias
Criminais, ano 24, n. 122, agosto/2016, p. 239-240.
141
como, por exemplo, por ocasio do levantamento do sigilo de um
breve dilogo telefnico envolvendo a presidente da repblica Dilma
Rousseff e seu antecessor na funo, Luiz Incio Lula da Silva, e
cujo contedo dizia respeito nomeao deste ltimo para um alto
cargo do governo. A par de qualquer reflexo sobre a competncia
do juiz de primeiro grau para decidir acerca da liberao do sigilo de
uma fonte de prova de alcana um agente poltico com prerrogativa
de foro questo que, por si s, suscitaria uma ampla discusso
sobre os limites de direitos fundamentais e garantias processuais
penais possivelmente violados neste caso no mnimo
surpreendente que tal providncia tenha sido adotada poucas horas
depois da captao do udio da conversa, e sem qualquer finalidade
til para a investigao policial, ao menos aparentemente. A
divulgao do dilogo pelos meios de comunicao foi quase
instantnea. No houve, nessa aproximao melhor seria dizer
parceria? entre a justia e a mdia, a satisfao de qualquer
interesse da persecuo penal. Mas teria havido, na viso de alguns,
a do interesse pblico. Uma interpretao que, todavia, ignora o
sentido e o alcance das regras de tutela da privacidade e intimidade
em matria processual penal: precisamente proteger do
conhecimento pblico aquilo que diz respeito ao mbito restrito do
privado e que no tem valor para a investigao policial ou instruo
criminal.
Algo semelhante se passa com a difuso miditica do
contedo de depoimentos que constituem objeto de acordos de
colaborao premiada. Em completo desrespeito presuno de
inocncia, pequenos trechos a fragmentao do que foi dito
proporciona eficazmente a seletividade da informao, revelando o
que se pretende disseminar, e escondendo o que se deseja ocultar
de declaraes so divulgados, com referncia a pessoas das quais
imediatamente se espera algum ato de defesa, muito embora
frequentemente sequer figurem como investigados at o momento
da delao. E, se houver imagens do depoimento, o impacto
miditico na formao do consenso social torna inaceitvel qualquer
contra-argumento. A consequncia mais nefasta dessa associao
o que Bourdieu chama de uma verdadeira transferncia do poder de
julgar, efeito que, no mbito da Operao ava Jato, se percebe
pela forma como as decises proferidas pelo juiz da 13 Vara
Criminal Federal de Curitiba satisfazem as expectativas punitivas
alimentadas pela repercusso miditica da investigao. A
usurpao da funo judicial pela imprensa e a mudana indevida do
locus do julgamento encontram eco na prpria atividade jurisdicional,
em um consrcio harmnico em que um conta com o apoio do outro
para justificar suas escolhas e aes.
142
intimidade da pessoa submetida persecuo penal. Dispositivo semelhante
est previsto no art. 10 da Lei n 9.296, de 24 de julho de 1996 (interceptaes
telefnicas) e fundamental, inclusive, para garantir o xito das investigaes, pois
ao aumentar a proteo do contedo da colaborao, se evita que aes e medidas
sejam tomadas para encobrir ou se desfazer de provas que futuramente podero
contribuir para uma prestao jurisdicional efetiva.
143
PARTE II TRABALHOS DA CPMI
144
Deltan Dallagnol, o juiz Srgio Moro, o juiz Mrlon Reis, o Sr. Cludio Lamachia
(presidente da OAB) e o ministro Gilmar Mendes, que, infelizmente, no
compareceram.
145
O art. 4 da 12.850 vai dizer que o auxiliar, que orbita numa organizao criminosa,
pode receber imunidade. O que o nosso Judicirio fez? No cumpriu a lei.
146
cara que aparece a do Estado. Se o delegado que diz que tem poderes, no
vale a teoria da aparncia? Ou ns vamos reconhecer que o Estado pode enganar
aquele que procura o Estado como um todo para poder fazer delao? A ns temos
que estabelecer minimamente quem pode, e o Supremo est l, com a liminar
negada, autorizando ao delegado de polcia fazer delao premiada. Se no feito
naquele primeiro momento, por exemplo, quando algum est preso, pode-se
perder uma oportunidade de se pensar do ponto de vista daqueles que defendem a
priso como mecanismo de presso.
147
Ento, ns estamos falando de uma coisa sria, e qualquer um
pode ser engolfado por uma delao premiada, por um fragmento. Se eu vou ao
gabinete de um Deputado com uma mala, esqueo a mala l e digo que foi
dinheiro... H a imagem eu entrando e saindo , e eu digo que foi isso, que havia
dinheiro, mas no havia nada na mala. A voc vai me dizer que isso no
suficiente? Temos visto que h situaes avassaladoras em que a ausncia de
prova tem significado a construo, a venda a descoberto que o Joesley fez, que foi:
Eu no tenho, mas eu posso conseguir. Eu vendo a descoberto. Tudo isso, de
alguma maneira eu estou resumindo , eu trabalhei num livro, para entender a
delao premiada via Teoria dos Jogos, que uma teoria matemtica. Eu sei que
no muito do nosso dia a dia, mas eu trouxe aqui vou deixar com a Comisso
depois um livrinho para entender isso.
148
A segunda questo: clusulas. Qual a importncia do Direito
Civil? L no Direito Civil, os professores ensinam uma coisa que a clusula penal.
A clusula penal uma clusula pela qual voc, se descumprir o contrato, recebe
uma punio. timo. L eles estudam e mostram que a clusula penal no pode ser
nica. Voc tem de ter clusulas penais: se descumprir isso, acontece isso; se
descumprir isso, acontece isso; se descumprir duas, acontece aquilo. Ns temos de
pensar em adimplemento substancial, ns temos de pensar em institutos civilistas
nessa hora da aplicao.
149
aplicar pena baixa.
150
um requerimento em trs vias? No h regulamentao nenhuma.
151
1.2. Dr. Eugnio Jos Guilherme de Arago
152
premiada, da colaborao premiada, tinha que ser um egresso arrependido.
153
seu modus vivendi; quando se trata de um grande empresrio, poder continuar
bebendo seu usque de 30 anos, morando na sua cobertura triplex na Barra da
Tijuca. para isso que ele vai para o Ministrio Pblico. Ele no vai para o
Ministrio Pblico porque est sendo ameaado. Ento, ele no tem uma razo de
ser para delatar que seja um mvel inerente seu. No. Na verdade, quem est mais
interessado na sua delao do que ele, para se salvar, o Estado, e o Estado se
utiliza de mecanismos de presso. Fazem parte do jogo os mecanismos de presso,
e a priso apenas uma delas.
154
funcional de um membro do Ministrio Pblico ontolgica e teleologicamente
diferente da independncia de um juiz. No a mesma coisa. E por qu? O juiz
baliza sua independncia em duas teses: a tese do autor e a tese do ru. O juiz
independente dentro da lide, dentro do espao da lide; o juiz no pode decidir fora
da lide, extra petita; ele decide dentro daquele espao, ele tem um espectro no qual
ele pode andar. Existem vrias teses que ele pode adotar, mas delimitado pela tese
do autor e pela tese do ru. O Ministrio Pblico, no uso da sua liberdade, no tem
esses balizamentos, porque o Ministrio Pblico tem iniciativa. Ento, qual o
balizamento do Ministrio Pblico nessa independncia funcional? No pode haver,
num Estado de direito, qualquer tipo de poder correndo solto, sem qualquer
balizamento na sua atuao, no ? A bola de gude em boca de banguela. No
pode haver isso.
155
do Ministrio Pblico , ao mesmo tempo, custos legis, porque a acusao no
uma atividade de um Ferrabrs simplesmente, a qualquer preo. Acusao algo
que tem que ser balizado naquilo que ns chamamos de verdade provada eu no
gosto da expresso verdade real, porque, na verdade, verdade real uma
expresso confusa, mas verdade provada.
156
Brossard, que se desentendeu com Romeu Tuma na poca do governo Sarney.
Sarney, ento, para deixar o Senador Paulo Brossard, vamos dizer, com sua face
salva, levou-o para o Supremo Tribunal Federal. Ele foi para o Supremo Tribunal
Federal, porque ele no tinha mais espao no Ministrio, porque ele bateu de frente
com a Polcia Federal. Ento, hoje, no Ministrio da Justia, mais fcil a Polcia
Federal criar um problema para um Ministro do que o Ministro o criar para a Polcia
Federal. Ento, ns temos um ator ali extremamente empoderado.
157
sentena do Moro. O senhor leu a sentena? No, no a li, no, mas ele est
certo. Quer dizer, j se v claramente uma postura de parti pris. Ou seja, isso faz o
qu? Isso frustra o acesso Justia. E claro que, com a midiatizao dessa
atuao, o que acontece? At as instncias superiores se amedrontam, porque o
que o Judicirio tem de mais precioso sua aura; sua aura diferenciada, de serem
vestais. E, no momento em que a imprensa expe e eles vo contra essa opinio
pblica, eles tm um problema srio de imagem.
158
Quanto que vocs querem que eu libere para vocs falarem? Ento, assim que
o Ministrio Pblico trabalha? O Ministrio Pblico no pode se transformar em
moleque. No por a que se cria... E deve-se criar um ambiente favorvel a uma
delao.
159
que no se pode fazer no mbito da delao, porque ao que ns mais estamos
assistindo hoje no Brasil so excessos nas prticas negociais. A Lei 12.850 sofre de
uma carncia normativa, uma insuficincia normativa; ela no tem suficincia
normativa e infelizmente abriu um espao imprprio para que o Ministrio Pblico,
com a convenincia e conivncia de alguns juzes, se arvorasse como o senhor
soberano da negociao, contrrio a toda tradio do processo penal brasileiro.
160
negociando, muitas vezes, com algum que inocente e que se v na necessidade
de negociar para no sofrer uma pena injusta ou desproporcional. Bom, o modelo
americano do plea bargaining est repleto de exemplos de pessoas inocentes que
assumiram crimes que no praticaram por medo de uma punio excessiva,
desproporcional, injusta. No Brasil, basta ns olharmos: a regra tem sido muito
claramente passada por alguns juzes.
161
estudar de forma mais aprofundada.
162
pena, qualquer que seja a quantidade do regime aberto. Mas como? O art. 33
muito claro: at quatro anos, substitui; de quatro a oito, semiaberto; de oito para
cima, fechado. O MP no pode fazer isso.
163
Mas no so s essas. Ns encontramos o Ministrio Pblico
se obrigando a conceder perdo judicial. Isso no poder dele. Est aqui e eu
mostrei. Isso aqui um acordo de delao premiada feito que tem uma clusula
fantstica em que o colaborador se obriga a no frequentar casas de jogos e
prostituio. Isso no tem nenhuma relao com o clima econmico. uma clusula
moral, de contedo moral feita ao bel criterio do moralista de planto. Isso no est
na lei. Estamos confundindo legalidade com moralidade.
164
que todos leiam a deciso e se deem conta das ilegalidades que esto sendo
praticadas. Inicia o Ministro Lewandowski, nessa deciso que no homologa a
delao do Renato Rodrigues Barbosa, dizendo uma primeira coisa: ns lidamos no
modelo de matriz romano-germnica, que no comporta e no recepciona esse
poder negocial do Ministrio Pblico, de um superministrio pblico, do modelo
anglo-saxo. No interessa se ns gostamos ou no!
165
completamente legal criar regime, mas eles previram aqui um regime fechado, com
a possibilidade de viagens internacionais. Nunca em regime fechado voc pode ter
autorizao para fazer viagens internacionais, em nenhuma hiptese. O Ministro
Lewandowski vai alm e diz o seguinte: Validar tal aspecto corresponderia a
permitir que o Ministrio Pblico atue como legislador. Esta a minha primeira
crtica, o Ministrio Pblico legislando e fazendo acordos contra a lei.
166
grande fraude, que : voc no pode condenar s com a palavra do delator; ento,
voc faz as chamadas prticas de corroborao recprocas ou cruzadas. Sabem
como so as denncias do Ministrio Pblico? Arrolam dez pessoas como
testemunhas para comprovar a delao. Dessas dez, um o delegado da Polcia
Federal e nove so delatores, que esto corroborando uma delao com a palavra
de outros delatores. uma circularidade hermenutica em cima de um mesmo
ncleo, uma circularidade argumentativa em cima do mesmo ncleo: delao.
uma delao sendo corroborada por uma delao, e as pessoas esto sendo
condenadas exclusivamente com base em delao. Ponto! Ns temos de ter muito
cuidado tambm com esse tipo de situao.
167
aplicao da lei. isto o que esto fazendo na delao premiada brasileira:
violando a legalidade, violando a separao de poderes. E ns temos de nos
atentar, porque isso vai violar a base do Estado democrtico de direito, que a
prpria legalidade.
168
princpios, em alguns que eles chamam de princpios imemorveis do reino, general
immemorial, costumes imemorveis do reino, dos quais eles no tm sequer a
fonte.
Essa a razo pela qual ora eles fundam todo o direito numa
principiologia que d a eles, na face da estrutura social, uma base eminentemente
moral e por isso falam de uma moral pblica. Ns, ao contrrio, no nosso sistema,
no deixamos de lado a moral, muito menos a moral pblica, mas nos regemos no
por ela, nem devemos nos reger por ela, nos regemos pelas leis, porque
incorporamos a moral nas leis, usando para tanto a poltica e os polticos na
estrutura do Poder Legislativo. por isso que a poltica to importante, que os
polticos so to importantes e que no h, para ns, a mnima possibilidade de
democracia sem a poltica, sem os polticos, sem as leis e sem respeito s leis.
Quem sabe para comear a tratar desse tema seja necessrio comear assim,
justamente porque o que se cobra isso?
169
das leis, a estrutura interna das leis? A principiologia, principalmente em funo do
princpio democrtico, do princpio republicano e da tripartio dos Poderes, cobra
do Poder Legislativo uma base legal tal que, mesmo que as leis sejam
necessariamente interpretadas, a interpretao no possa ser construtiva dos
textos, o que significa dizer que no razovel uma lei em que o intrprete, ao
interpret-la, precise construir retoricamente o texto que devia estar l e que l no
est. O intrprete, nessa hora, o que faz? Usurpa a funo do Poder Legislativo, faz
com que o Poder Legislativo se coloque de joelhos, no s porque devia ter
legislado, mas no legislou, mas tambm porque coloca todos aqueles que se veem
alcanados pela lei merc da interpretao que qualquer um faa, mesmo porque
ns sabemos que o interpretar, essa funo de Hermes, essa funo de levar a
mensagem, algo que faz cada um, com resultados que cada um pode dar,
inclusive por fatores outros que no so aqueles que devem informar a prpria
construo do sentido, e no da prpria lei. Esse, talvez, seja o primeiro ponto a ser
tratado nessa matria.
170
completando. Ou seja, como se ns estivssemos a completar a lei. como se
estivssemos a completar a lei, fazendo o que bem entendemos ou, talvez, fazendo
e jogando, em uma queda de brao, a saber quem mais opina a respeito dela, quem
mais tem fora a respeito dela, de modo a dar o sentido que quem comanda faz.
171
pginas. Eu pediria, com respeito, vnia para ler.
172
interpretao que se tem dado. E pega todo mundo, esse o problema.
173
que so os atingidos pela delao.
Ento, a pergunta que fica : aquele que veio novo pode fazer
isso, simplesmente porque tem digamos assim uma concepo do que se fez
contrria quilo que antes foi feito? No h nenhuma amarra, no h nenhuma
responsabilidade, no h nenhuma estrutura que vincule? Ora, na nossa estrutura,
o que vincula a lei. Por isso que, para a Administrao Pblica, vige o princpio
da conformidade, e no o princpio da compatibilidade. Ao contrrio do cidado
comum, que pode fazer ou deixar de fazer alguma coisa por sua funo, desde que
no esteja proibido, aqui, no; aqui, o administrador pblico s pode fazer quando
estiver previsto em lei. Voc abre a lei desse tamanho para dizer que,
unilateralmente, voc pode rescindir, mas no demarca as estruturas. Voc fica
merc daquilo que as pessoas vo dizer a respeito disso. E claro que, nesse jogo,
ns sabemos quem definitivamente vai perder.
174
Sabem o que aconteceu comigo? Abro um parntese: sabem o
que aconteceu comigo? Eu no consigo terminar meu programa na faculdade,
porque 15 minutos de cada aula minha so perdidos para explicar o efeito que essa
desgraa tem na minha matria, a destruir toda a base terica que ns levamos
anos e anos, dezenas de anos, centenas de anos, construindo. um instituto, um
instituto s! No se quer que ns tenhamos toda essa reao porque temos uma
reao de quem est l metido dentro da situao, pensando a respeito dela,
pensando no que precisamos fazer, pensando no que se deve fazer, legitimamente,
naturalmente, pelo caminho vivel.
175
sentido, j nos coloca de joelhos, porque mostra como a deficincia da lei produz
alguma coisa inexplicvel para ns. Ns no podemos dar tamanha insegurana. Eu
no estou falando isso porque ns precisamos nos proteger. Ns precisamos estar
debaixo da lei, de uma lei produzida corretamente, de uma lei legislada conforme o
efetivo processo legislativo, que possa, efetivamente, valer para todos no o
problema valer para todos, no o resduo valer para todos, de modo a se colocar
essa situao absurda no Pas, como se o Pas no precisasse da poltica e, por
isso, pudesse decapitar todos os polticos. No duvidem: se continuar assim, o
que vai se passar, porque, em sendo essa uma estrutura eminentemente ideolgica,
o modelo vai apontar estrategicamente naquilo que se passou na Mani Pulite.
176
nessa lei, em relao a essa lei. Desse modo, cada vez que voc atinge um,
principalmente algum que, na estrutura social, est no topo, imediatamente isso se
reflete de modo a pegar o cidado comum, l de baixo, da periferia. Ora, desse
ponto de vista, o ataque poltica insustentvel. No possvel imaginar que os
polticos no respondam corretamente a esse modo de falar. No duvidem! Eu
tenho um texto escrito sobre isso onde fica expresso... Eu fui estudar isso para
mostrar que esse o objetivo, ainda que se possa dizer: No, est tudo bem.
Vocs so meus amigos. Vocs no so meus amigos! No duvidem disso! Vocs
so meus inimigos, e ns vamos pegar vocs e todo mundo que aparecer na
delao. Esse o problema. Diante de uma estrutura como a que ns estamos
vivendo em que neoliberalismo uma epistemologia, o bordo de referncia :
morreu, morreu, que bom que no fui eu! Ento, fica todo mundo dizendo: Ah, isso
assim, mas no vai acontecer comigo. Isso assim, mas no vai acontecer
comigo. Eu tenho visto isso e tenho medo, de verdade, porque, cada vez que voc
diz qualquer coisa para qualquer um, a possibilidade de voc ser enleado l, ora,
enorme, desde que se faz pouco caso para aquilo, no s que se diz, aquilo que se
faz, mas, sobretudo, pela utilizao que se faz daquilo que se angariou.
177
acordam com cidados que esto eu ia dizer involucrados metidos em
atividades aparentemente criminosas, que, por isso ou por aquilo, decidem fazer um
acordo. Fixam uma pena, e essa pena executada sem que o juiz tenha se
manifestado ou que o juiz, simplesmente, tenha homologado o acordo a deciso
dele no a deciso impositiva da pena.
178
entrar aqui, o fundamento desapareceu. Se se entender que possvel executar
como pena, desaparece o fundamento. muito diferente. muito diferente!
179
Ou seja, quando o Supremo diz o terceiro no pode impugnar,
por que o delator no impugna? Voc diz: bom, ele pode desistir do direito dele ou
no. Dane-se! O problema dele foi fazer liberdade de vontade. Enfim, entra por essa
seara, vamos dizer. Mas, quanto ao terceiro que est l enfiado na delao, voc
pode dizer: voc no tem condio de impugnar? Isso vivel? S h uma s
possibilidade a justificar tamanho disparate, o fato de voc poder sustentar que
aquilo que se faz como delao no tem nenhuma serventia, nenhuma, seno,
como medida preparatria, auxiliar nas investigaes que se vo fazer. Se voc diz
que isso no investigao preliminar, por exemplo, porque voc pode executar a
pena, ento, mais do que nunca, ele vai ser interessado.
Mas tem sido assim? No, no tem sido assim! Por que no
tem sido assim? Porque, no havendo regra precisa a respeito da matria, tm sido
determinadas condies coercitivas, que so verdadeiras prises; tem-se
determinado produo de prova; tm sido determinadas buscas e apreenses s
pelo fato de que um delator indicou terceiros. Se o delator fala Deputado Marun,
quando ele acorda na segunda-feira de manh, em Campo Grande, est a Polcia
Federal dentro da casa dele. Mas espera a! S nominaram. S foi nominado. No
se tem o direito de fazer um negcio desses!
180
fundamento de que, no havendo lei, quem sabe podemos deixar assim. a prpria
condio que se est dando.
181
mesmo. por isso que, h pouco, eu disse que ns temos medidas cautelares. E as
temos na lei, ainda que os conceitos que a lei oferece sejam conceitos um tanto
indeterminados, mas, sendo estes construdos pela jurisprudncia dos tribunais
superiores, ns temos mais ou menos uma estabilidade.
182
Urge que o Poder Legislativo cumpra o seu papel
constitucional e, com a qualidade necessria, legisle sobre a matria, qui usando
por precauo os especialistas em face da complexidade do tema, de modo a se
tentar compatibilizar o instituto da delao premiada com o sistema inquisitrio que
se pratica, mesmo que em detrimento da Constituio da Repblica. Ou seja, j que
est mal, j que ela incompatvel com a Constituio, quem sabe se consiga
ajeitar para no ficar a calamidade pblica que hoje ns temos.
183
Conselho Federal, naquela poca... Ns, os membros, no chegamos concluso
de como deveramos projetar o instituto da delao, que j existia e que deveria,
com a vinda do sistema acusatrio, vir tambm no cdigo, razo pela qual,
determinadas que tinham sido j na portaria de inaugurao da comisso, se
fizessem audincias pblicas, pelo menos cinco audincias pblicas, e ns
deixamos para que nas audincias pblicas pudssemos discutir com a comunidade
nacional e ento tirar uma posio um tanto mais delicada para esse fim.
184
2. OITIVA DO PROCURADOR NGELO GOULART
185
Procuradoria e, desde logo, falei: "Olha, coloco disposio o meu
sigilo telemtico, telefnico, meu sigilo bancrio, o que vocs
quiserem."
Eu no sabia at ento de onde vinha o crime de corrupo,
sobretudo corrupo, porque obstruo de justia e violao do
sigilo profissional to absurdo... Depois vou desmembrar isso aqui,
mas o que me chamou a ateno, evidentemente, foi o crime de
corrupo. Franqueei, de imediato, todo o sigilo e pedi para ele:
"Ronaldo, eu s te peo uma coisa." Ele estava ao celular o tempo
todo, certamente falando com o Dr. Rodrigo Janot. "Eu s te
peo para que vocs me ouam o quanto antes, porque vocs
esto fazendo uma arbitrariedade comigo." Ele falou: "Angelo,
eu vou dar esse recado".
O.k. Fui levado Polcia Federal. De l, fui encaminhado ao
19 Batalho e fiquei aguardando ser ouvido. Passou uma semana,
passou um ms, veio a minha denncia, e, a sim, eu tive
exatamente a descrio dos fatos que estavam imputando contra
mim: corrupo pelo suposto recebimento de uma ajuda de custo, ou
mesada, como foi colocado, no valor de R$50 mil mensais; violao
de sigilo funcional em razo de trazer parte investigada documento
sigiloso ns vamos, no momento oportuno, aqui nesta CPI, mostrar
esse documento; alis, no documento e muito menos sigiloso,
porque sequer constava, e nem consta, do processo ; e, pasmem,
obstruo da Justia obstruo da Justia, porque eu estava
embaraando a colaborao premiada que os irmos Batista
estavam fazendo com a PGR.
Estava embaraando como? Fica incoerente: se eu era um
Procurador infiltrado, ou seja, trabalhando para eles, como que eu
estava embaraando uma colaborao que seria do interesse deles?
uma coisa que sinceramente eu tenho de fazer uma
ginstica interpretativa para poder entender. Como eu estaria
impedindo a colaborao se a prpria colaborao, no momento da
minha priso, j estava feita e homologada, j era um ato jurdico
perfeito? Obstruo da Justia pressupe, na minha viso pelo
menos, um crime de efeito permanente eu estou obstruindo a
Justia , pelo menos para fundamentar a minha priso preventiva,
que foi fundamentada na garantia da ordem pblica e da instruo
criminal. Garantia da ordem pblica como? Qual o ato concreto, qual
o fato concreto que demonstra que eu tenho reiterao delituosa?
Qual o fato concreto que diz que eu estou embaraando a
investigao criminal se j h homologao da delao? Pois bem,
foram esses os trs crimes que foram imputados.
Eu esperava uma oportunidade, ento, de ser ouvido,
at porque eu sabia que haveria, pelo despacho do ento
Procurador-Geral, uma consequente ao de improbidade
administrativa. Eu pensei: "Olha, no me ouviu no crime,
porque estou preso; enfim, na improbidade administrativa vo
me ouvir, eles tm interesse em apurar os fatos". No. Eles no
me ouviram. Curiosamente, pega-se uma inicial e faz l de
improbidade administrativa. Agora, diferentemente da denncia, j
diz que eu tinha uma promessa uma promessa! de vantagem
indevida, que seria o pagamento de R$50 mil. Na denncia eu tinha
186
recebido e na ao de improbidade, como no encontraram nada e
nem encontrariam , j virou uma promessa.
Pois bem, veio a improbidade administrativa. Nesse meio
tempo, fui questionado pela minha sindicncia disciplinar. "Bom,
felizmente, eu vou ter, ainda que no mbito mais restrito, no mbito
disciplinar, vou ter com quem falar". E fui contar os fatos.
Curiosamente fui ouvido por trs corregedores auxiliares e falei de
forma pormenorizada, como falarei no momento oportuno aqui,
citando documentos, citando situaes especficas no mbito da
PGR, citando a questo poltica interna, citando tudo e citando
elementos, figuras da Procuradoria e, enfim, de fora da Procuradoria
que at ento no estavam aparecendo at esse autogrampo ser
revelado, acho que em setembro, salvo engano, no final de
setembro, em que apareceram alguns personagens. Esses
personagens a CPMI, pelo poder requisitrio dela, pode ter acesso
ao meu depoimento na Corregedoria eu citei dia 3 de julho,
quando prestei depoimento. Seria muito fcil falar que sabia que o
fulano de tal participava. Citei isso dia 3 de julho para os meus
corregedores e, finda a minha oitiva na Corregedoria, um dos
corregedores falou: "Angelo, muito coerente a sua histria, mas,
em relao a essas pessoas, como que voc vai falar?". Eu falei:
"Olha, no sei, mas estou dizendo que eles participaram".
Enfim, nada como um dia aps o outro, no ? E essa
trama vem sendo elucidada at pelo excesso de esperteza, para no
dizer outra coisa, dessas pessoas que se autogrampearam.
Pois bem, ento eu fiquei esse tempo todo preso.
Depois disso, foi a nica oportunidade que eu tive de falar. O
meu processo, a minha priso foi decretada pelo Ministro Edson
Fachin, do Supremo Tribunal Federal. A minha denncia, e depois
vou mostrar de forma mais pormenorizada, vejam que curioso,
coloca como fosse da fora-tarefa Lava Jato, Operao Lava Jato.
No primeiro ttulo: Operao Lava Jato. Eu falei: "Nossa,
Operao Lava Jato! O que tem a ver Operao Lava Jato comigo?
Operao Lava Jato com Greenfield?" No tem nada a ver uma
coisa com a outra. Mas, no sei se por desdia, quero crer que sim,
ou por m-f, quero crer que no, colocaram a Operao Lava Jato
para dar um rtulo. E um rtulo para que, nas instncias
competentes, em eventual concesso de liberdade, fossem
diminudas as chances. Mas no precisava disso, por um motivo
muito claro. No havia e no h, na minha opinio, um juiz de
instncia inferior, do Tribunal Regional Federal ou do Superior
Tribunal de Justia, na minha percepo, que iria contra uma
decretao de priso dada por um Ministro do Supremo Tribunal
Federal.
Ora, vamos pegar o caso. Salvo engano, na operao em
que eu fui custodiado, que fui preso, tambm foram presas duas
pessoas ligadas a um Senador e verificou-se que no tinha
necessidade de essas pessoas permanecerem no Supremo Tribunal
Federal pelo foro. O que a Primeira Turma fez, que o correto? Vou
desmembrar, mas, antes de desmembrar, vou resolver a priso.
Soltou, deu medida alternativa e tal, e mandou o processo.
No meu caso, o Ministro Relator simplesmente remete o
187
meu processo pelo bvio de eu no ter atribuio no Supremo
Tribunal Federal, mas sim no Tribunal Regional Federal, remete o
meu processo para a instncia competente que o Tribunal
Regional Federal, s que nada fala em relao a minha priso.
Como eu conseguiria reverter um decreto prisional de Ministro do
Supremo no Tribunal Regional Federal? Difcil. E de l permaneci
naquela minha via-crcis: HC, indeferimento; recurso ao STJ,
indeferimento; at que eu cheguei atravs de uma petio ao
Supremo. E a Turma, quando decidiu, optou, decidiu por me soltar,
com algumas condies.
O que deixou claro para mim ali? Eu estava sofrendo
um procedimento totalmente heterodoxo, e eu vou falar com
mais clareza depois. Este procedimento sequer eu tinha visto
pelo menos nos meus quase dez anos de Ministrio Pblico: o
MP, quando entra com um HC no STJ, sem ser instado a se
manifestar, o Relator no tinha nem recebido a manifestao, o
MP atravessa uma petio pedindo a manuteno da minha
priso; ele estava me acompanhando em tempo real; eles no
me queriam solto de jeito nenhum. Por qu? Por qu?
Foi um perodo muito difcil, mas felizmente no h mal que
dure para sempre. Eu tinha a absoluta convico de que o Tribunal
que me prendeu, pelo Ministro Relator Edson Fachin, seria o
Tribunal que iria me soltar. Sempre falei isso que o Dr. Gustavo
Badar. Nunca acreditei que seria solto pelo Tribunal Regional
Federal, nunca acreditei que seria solto pelo Superior Tribunal de
Justia, sem qualquer demrito a essas instituies. Eu sabia, e era
questo de honra para mim, que a minha priso seria resolvida pelo
Tribunal que me prendeu. E assim foi.
Essa diferena de datas talvez tenha como motivo deixar s
escondidas, s escuras que, quando houve o grampo, a gravao
clandestina do Senhor Presidente da Repblica e do Sr. Senador da
Repblica teria acontecido sem o conhecimento, a anuncia ou a
cincia da Procuradoria-Geral.
(grifei)
Mais adiante, o depoente explicita arbitrariedades e
ilegalidades praticadas na conduo de procedimentos de delao premiada pela
mais alta cpula do Ministrio Pblico Federal:
188
Para essa expresso "chefe de organizao criminosa" eu
chamo a ateno, porque, depois, ela foi desmentida pelo
Procurador-Geral da Repblica. E evidente que tinha de desmentir.
Por qu? Porque, quando voc o chefe da organizao criminosa,
voc no pode fazer delao premiada.
Ento, respondendo objetivamente: a delao da JBS
sui generis em todos os seus termos, seja de durao, seja de
tempo, seja, sobretudo, de benefcios concedidos.
(grifei)
189
Eu deixei bem claro no incio da minha explanao que ali
na Procuradoria funcionava um grupo de trabalho, que diferente de
uma fora-tarefa. Grupo de trabalho so assessores do promotor, do
nico promotor natural, que, no caso, o Procurador-Geral da
Repblica. Ento, enquanto assessor, voc tem que ter um dever de
lealdade e de informao ao promotor, quela pessoa que voc est
assessorando, diferente da fora-tarefa, em que todo mundo,
embora tenha uma relao contnua de informaes, mas todo
mundo tem atribuio para atuar no caso e vai conduzindo as
investigaes que esto ao seu cargo.
Pois bem, na minha viso, Deputado, para no dizer que
seria... Como falou, eu no estava l, no ouvi. Estou falando pela
minha experincia.
Eu acho pouco provvel, e em termos de percentual,
para no ser leviano, eu diria que 90% de probabilidade de que
o Dr. Rodrigo Janot tivesse conhecimento da iniciao, da
iniciativa, talvez no de forma pormenorizada e eu acredito at
que no de forma pormenorizada, pelo menos naquele momento
inicial, mas da tratativa com a JBS. No teria como... Ainda mais
com o que a JBS estava se propondo a fazer.
Chega a ser infantil, ingnuo acreditar que um
candidato a colaborador que se predispe a entregar
informaes ou provas que envolvessem personalidades
polticas to importantes no Pas, que esse colaborador, esse
procurador assessor no levasse ao conhecimento imediato do
nico promotor natural do caso, que o Procurador-Geral da
Repblica.
Ento, eu diria que 90%. Mas baseado, repito, no meu juzo
de valor, em relao a minha experincia, dinmica que eu tenho
dos fatos. No tenho qualquer informao privilegiada num sentido
ou no outro.
O SR. CARLOS MARUN (PMDB - MS) Positivo.
Dr. Angelo, o motivo. Eu ainda tenho dvida em relao a
esse motivo, o motivo. Eu entendo que o seu apoio a uma desafeta
histrica na instituio do ex-Procurador Janot, o apoio eventual
apoio candidatura da hoje Procuradora Raquel Dodge no seria
motivo suficiente para que viesse a ser cometida contra o senhor
essa violncia, que uma priso de 77 dias sem ser ouvido. Isso
uma violncia absurda, em relao qual, de pronto, o senhor tem a
minha solidariedade. uma situao esdrxula, absurda.
O senhor v a algum interesse do Procurador de que, no
lugar de V. S conduzir esse processo de delao, no lugar de V. S,
que fosse conduzido pelo Marcello Miller? Talvez fosse esse o
motivo que gerou esse atrito?
Porque... "Eu estou apoiando. Tudo bem, ns ramos
amigos e no somos mais..." Mas chegou a um ponto de violncia
to grande que teria sido a sua priso uma forma de proteger o
Marcello Miller? Teria sido proteger no o Marcello Miller, mas
proteger uma relao que se tornou privilegiada atravs do Marcello
Miller?
190
Qual a sua opinio a esse respeito? Por que coloc-lo na
cadeia 76 dias porque o senhor apoiou a Raquel Doge um caso de
insanidade mental, uma questo a ser tratada nos hospitais
psiquitricos.
Eu gostaria de saber da sua opinio a esse respeito.
O SR. ANGELO GOULART VILLELA Bom, a minha
priso por 76 dias sem qualquer possibilidade de falar sobre o
fato, de esclarecer ainda que no mudasse o juzo de valor,
mas que desse oportunidade de esclarecer , foi uma das
maiores violncias que eu presenciei no Ministrio Pblico.
fcil falar quando voc est na prpria pele, mas, o que eu vivi,
eu espero que ningum desta sala aqui possa ter a chance de
viver.
A questo do Rodrigo Janot, na minha opinio, Deputado,
era muito mais do que uma proteo ao Marcello Miller. A minha
questo em relao ao Rodrigo Janot que ele precisava deixar
bem claro, nesse ambiente em que a gente vive miditico, de
combate desenfreado corrupo, de queridinho da mdia, de
super-heri , que ele atuava de forma imparcial, que o
compromisso dele seria, nica e exclusivamente, combater a
corrupo, doa a quem doer.
Ele precisava e eu fui muito til neste ponto demonstrar
que no havia motivao poltica nem interesse de derrubar um
Presidente da Repblica. Como ele faria isso? "Ora, eu estou
entregando aqui, estou cortando a prpria carne, estou entregando
aqui um membro do Ministrio Pblico. Quer demonstrao mais
eloquente do compromisso que eu tenho com o combate
corrupo? Eu estou entregando um par." "E esse par, o senhor tem
prova de que ele cometeu corrupo?" A ele diz: "No, tem a
declarao l, de Francisco, de Joesley, dos 50 mil." "O senhor tem,
ento, um documento, um registro." Filmaram gente carregando
dinheiro, filmaram gente contando dinheiro. Vocs no viram na
mdia qualquer imagem minha em relao a dinheiro. Por que no
fizeram isso, ento, comigo, se eu estava levando R$50 mil? Por
que no filmaram? Por que no fizeram a entrega?
Ento, o Janot agiu com o fgado em relao a mim. Agiu
com o fgado, porque se sentiu trado. Trado porque eu estaria me
bandeando para o lado da arquirrival dele. Como se isso, ainda que
fosse verdadeiro, legitimasse uma atuao devastadora em relao
a mim. Porque, em relao ao procedimento, ao processo em
investigao, eu sei que, no final, isso tudo vai se resolver, porque
eu sei exatamente o que fiz e, sobretudo, sei o que eu no fiz.
Agora, o massacre minha dignidade, isso irrestituvel.
Ento, o Janot precisava, na feliz expresso que o Dr.
Gustavo Badar deu em uma entrevista, de um "inocente til". No
quero aqui fazer processo de vitimizao, no. Eu rejeito e repilo
esse tipo de adjetivo, mas vamos responder aos fatos como eles
so, e, sobretudo, delao premiada um meio de obteno de
prova, e no um meio de prova.
Cad a prova? Cad a maldita prova de corroborao da
suposta entrega ou promessa de vantagem de R$50 mil? o qu?
191
a declarao de Francisco, declarao essa que, na minha
corregedoria, ele diz que no sabe, que talvez tenha ouvido de
Joesley? Ou seja, ele j muda o depoimento que ele deu, no mbito
da delao premiada, para a PGR. No meu procedimento, ele j diz:
"No, eu no tenho certeza se isso aconteceu, eu acho que eu ouvi
isso do Joesley." E um empurra para o outro. Ento, assim, muito
fcil depois, Deputado, falar assim: "Angelo, ns erramos. Havia
uma suspeita, e ela no se confirmou. Volta aqui para o seu cargo.
Toca a sua vida." O estrago est feito.
(Grifei)
192
Eu no tenho como avaliar como foram as delaes feitas por
vrios colegas. Acredito que todas elas, at ento, foram
perfeitamente hgidas e dentro da legalidade, s que voc no tem
como avaliar como foi feita, se foi mais arrojada, se foi mais calma
ou mais passiva. Quanto a isso ainda h um mbito de
discricionariedade muito grande dentro do Ministrio Pblico.
O depoimento do Procurador da Repblica torna ainda mais
importante para esta sub-relatoria de aperfeioamento legislativo quando denuncia
os abusos das prises preventivas com o fim de se obter delaes premiadas.
193
responsabilidade e profissionalismo, evitando vazamentos seletivos,
evitando assassinato de reputaes. Hoje prende-se para investigar.
O nus da prova do investigado, eu que tenho que demonstrar que
sou inocente."
Ns poderamos, a partir dessa sua afirmao, dizer que h
uma espcie de modus operandi nesse sentido nos procedimentos
de delao premiada?
O SR. ANGELO GOULART VILLELA Deputado, eu tento
no generalizar, mas eu posso afianar ao senhor o seguinte:
vivemos tempos estranhos. Hoje, a priso...
Quando eu estava no banco da faculdade, e aqui est um
professor de Processo Penal da USP para me corrigir se eu falar
mentira, ns aprendemos que a priso a ultima ratio, ou seja, ela
s necessria quando nenhuma outra medida cautelar pessoal
seja cabvel, porque priso seja ela preventiva, seja ela temporria
restrio do segundo bem mais importante do ser humano, que
a liberdade o primeiro a vida.
Hoje ns temos uma e isso fato pblico e notrio
proliferao de prises preventivas.
O SR. WADIH DAMOUS (PT - RJ) Com o objetivo de
obteno de delao.
O SR. ANGELO GOULART VILLELA H proliferao de
prises preventivas, e eu fui testemunha disso quando fui custodiado
no 19 Batalho. Eu verificava pessoas presas preventivamente por
fatos ocorridos em 2007, ou seja, h dez anos. E eu me
perguntava... Como eu era membro do Ministrio Pblico, todo
mundo dizia coisas deste tipo: "No, doutor, v essa situao para
mim." Eu dava uma "consultoria", entre aspas, para essas pessoas,
que, infelizmente, no tm condies de pagar um bom advogado e
esto l por uma questo meramente de deficincia do patrocnio de
sua causa. Ento, essas prises preventivas de forma
exacerbada, proliferada, viraram a regra.
Infelizmente, quando voc tem a priso, difcil voc
aferir a voluntariedade. Eu falo isto de peito aberto: se eu
tivesse alguma coisa para delatar, uma nica coisa para delatar,
eu no passaria 76 dias preso. Eu no desejo isso a ningum.
Ento, assim... difcil demais uma priso. Ela s mais
tnue vamos dizer assim , e eu estava conversando sobre isso
com o Senador antes de comear a sesso, do que a violao a sua
dignidade. Isso di mais do que o crcere, mas mesmo assim ele
difcil. Ento, voc dizer que uma pessoa presa ad aeternum, porque
hoje, no Brasil, ns no temos...
(grifei)
Por fim, ainda no que tange chamada zona cinzenta da
delao premiada, vlido trazer ao presente relatrio trecho em que o depoente
e pe a e istncia de negociaes e tra-oficiais e assinatura de pr-contratos
para delao premiada, sem qualquer publicidade s partes interessadas.
194
O SR. PAULO PIMENTA (PT - RS) Estou falando de
fevereiro.
Eu no sou advogado, mas, lendo e relendo a lei, eu no
encontrei essa figura do pr-delator, do potencial delator. O senhor
trabalhou em delaes. O Ministrio Pblico firma documentos com
pr-delatores? Existe essa figura jurdica?
O SR. ANGELO GOULART VILLELA No, no...
O SR. PRESIDENTE (Atades Oliveira. PSDB - TO)
como um contrato de gaveta, no ?
O SR. PAULO PIMENTA (PT - RS) O que ? Como vocs
sustentam esse documento?
O SR. ANGELO GOULART VILLELA O senhor est
falando do termo de cincia e compromisso. isso?
O SR. PAULO PIMENTA (PT - RS) , um documento...
Eu j tive a oportunidade de ver documentos que so firmados
entre... como quando o cara vai fazer a compra do imvel, o cara
d uma...
O SR. ANGELO GOULART VILLELA Contrato de
gaveta...
O SR. PAULO PIMENTA (PT - RS) Uma pr-compra,
assina um contrato...
O SR. CARLOS MARUN (PMDB - MS) O arras.
O SR. PAULO PIMENTA (PT - RS) O arras.
Eu quero entender que figura jurdica sustenta esta relao
entre o cara ser delator... Ele ru, ele corru, ele investigado,
ele vai virar relator quase em abril. Nesse lapso de tempo que ele
passa a ser colaborador, uma espcie de agente do Estado na
investigao, no que se sustenta essa relao?
O SR. ANGELO GOULART VILLELA Na verdade, o que
foi apurado que o Dr. Francisco de Assis... Havia um acordo
extrajudicial firmado no mbito da Operao Greenfield...
O SR. PAULO PIMENTA (PT - RS) Mas quero perguntar
ao senhor: existe essa figura jurdica?
O SR. ANGELO GOULART VILLELA No.
O SR. PAULO PIMENTA (PT - RS) Existe acordo
extrajudicial entre o Ministrio Pblico e o potencial delator?
O SR. ANGELO GOULART VILLELA No, nunca vi, e
sequer participei desse acordo.
Esse acordo foi feito em setembro de 2016, se o acordo
ao qual V. Ex est se referindo. Eu nem sequer estava na fora-
tarefa poca. Eu fiquei sabendo desse acordo depois do
acontecimento dos fatos. Eu j estava na fora-tarefa quando o Dr.
Anselmo quis alegar o descumprimento desse acordo. Mas eu no
conhecia... No comum...
O SR. PAULO PIMENTA (PT - RS) O Ministrio Pblico
utiliza esse instrumento?
195
O SR. ANGELO GOULART VILLELA Na minha vida
profissional nunca utilizei qualquer instrumento de pr-acordo...
O SR. PAULO PIMENTA (PT - RS) O senhor tem
conhecimento de que em outros casos de delaes tenha ocorrido
esse tipo de relacionamento?
O SR. ANGELO GOULART VILLELA No, no tenho
conhecimento em relao a isso. Para mim, foi uma figura, nesse
ponto, at um pouco inusitada, o termo de cincia e compromisso.
Pode ser que seja uma coisa comum, mas, no meu conhecimento,
nunca vi.
O SR. PAULO PIMENTA (PT - RS) Mas mesmo um
acordo verbal j no alteraria a situao jurdica do investigado
perante... "No, olha, tu vais fazer uma delao, mas antes de tu
fazeres a delao, tu vais ter que dizer isso, isso e isso."
O SR. ANGELO GOULART VILLELA claro, porque,
quando voc se torna colaborador, voc renuncia ao direito ao
silncio e voc tem que dizer a verdade.
No caso do Dr. Francisco, uma coisa inusitada, como
quase tudo nessa colaborao. Ele atua como advogado de Joesley
Batista, inclusive assina...
O SR. PAULO PIMENTA (PT - RS) Advogado delator.
O SR. ANGELO GOULART VILLELA Vira advogado
delator, nica e exclusivamente para me entregar. Sendo que ele d
uma entrevista no sei se ao Estado ou a Folha de S. Paulo na
qual ele afirma categoricamente o seguinte: que foi pressionado, que
no tinha me entregado por medo. o que ele alega. Mas diz que,
sendo pressionado por colegas no sentido de que, se ele no
entregasse, a delao seria revogada, ele resolveu entregar.
O SR. PAULO PIMENTA (PT - RS) Ele teria sido
pressionado por colegas seus?
O SR. ANGELO GOULART VILLELA Sim.
(grifei)
O depoimento de membro que ocupava cargo de relevo na
instituio do Ministrio Pblico Federal, em seu mais alto patamar da carreira, a
Procuradoria Geral da Repblica, ao mesmo tempo em que expe as entranhas do
rgo nas negociaes para delao, evidencia estarrecedora preocupao relativa
ao poder de irradiao de prtica arbitrria, subterrnea e antidemocrtica s mais
diversas esferas do rgo.
196
3. DEPOIMENTO DO ADVOGADO WILLER TOMAZ
34
https://www.metropoles.com/brasil/politica-br/as-revelacoes-de-willer-tomaz-advogado-de-brasilia-
alvo-de-delatores-da-jbs
197
para abrir uma nova frente de dilogo. Embora eles estivessem
supostamente negociando um acordo de colaborao, Joesley e
Wesley estavam com medo de serem presos, achavam que o
Anselmo no cumpriria com o que havia sido acordado"
J em maro, o Francisco me ligou perguntando se estava
em Braslia. Esse foi o nosso segundo ou terceiro contato. Na
ocasio, me disse que ficou muito impressionado com a atuao do
nosso escritrio no processo para o qual tnhamos sido contratados
e pediu: Preciso que voc me ajude a abrir uma frente de
dilogo com o MPF, com algum confivel, no como o
Anselmo, que vem agora querendo descumprir o que
acordamos. Eu, ento, peguei o telefone na hora e liguei para o
ngelo. Somos amigos, mas, independentemente disso, ele sempre
foi um procurador da Repblica muito srio.
O ngelo me falou, naquela ocasio do telefonema, que
tinha, sim, interesse em ouvir o Francisco e orientou que ele fosse
PGE [Procuradoria-Geral Eleitoral]. Mas Francisco disse achar
melhor a reunio ser em outro lugar, e a sugeriu o meu escritrio. O
ngelo concordou em vir. O que h de antirrepublicano nisso, de
ilcito? Sequer foi em uma distribuidora de bebidas encoberto por
engradados de cerveja. A partir da, tudo o que foi contado nada
mais do que uma grande armao dos delatores. ngelo e
Francisco se encontraram no meu escritrio por no mais de 10
minutos. Francisco exps a situao, sua insegurana, e
combinou com ngelo que entregaria documentos sobre as
empresas, com a finalidade de medir o interesse do MPF em
iniciar uma pr-delao, em uma oportunidade seguinte.
Na conversa em que Joesley grampeou o Michel Temer, em
7 de maro, ele [o empresrio] deixou a entender que tinha a seu
lado um procurador e um juiz, o que em tese comprometeria muito a
imagem do presidente. Mas a ele precisava provar aquela bravata.
Por isso, fui usado como isca para que chegassem at o ngelo.
Mas so justamente os delatores que informam ao Ministrio Pblico
duas verses conflitantes sobre minha participao no episdio. Na
primeira delas, Joesley e Francisco dizem que eu tinha o procurador
e o juiz nas mos e que pagava uma mesada de R$ 50 mil a ttulo
de ajuda de custo para manter o apoio de ngelo. Apresentaram a
foto do jantar como prova desse pagamento. Um absurdo. A partir
da, tive meu sigilo telefnico quebrado e fui monitorado durante 15
dias, mas os procuradores no encontraram nada. No h nada em
toda a ao do PGR que me comprometa. Alis, os grampos
revelam que minha atuao foi dentro dos autos, bem como o
exerccio regular da advocacia. Depois, em junho, j no escopo do
processo administrativo contra ngelo, o mesmo Joesley afirmou
no saber dizer ao certo se houve pagamento de R$ 50 mil".
(grifei)
Da mesma forma que o Procurador da Repblica ngelo
Goulart, o advogado Willer Tomaz permaneceu preso durante 76 dias sem sequer
ser ouvido.
198
Em outra matria, publicada pelo jornal Valor Econmico35 com
o ttulo Advogado diz que Janot tinha acordo de gaveta com Joesley desde 2016,
corroborada a tese levantada pelo representante do MPF de que e iste pr-
contratos de delao sem qualquer controle por parte do sistema de justia:
35
http://www.valor.com.br/politica/5146220/advogado-diz-que-janot-tinha-acordo-de-gaveta-com-
joesley-desde-2016
199
200
4. OITIVA DO ADVOGADO RODRIGO TECLA DURN
36
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/08/1913355-advogado-acusa-amigo-de-moro-de-intervir-em-acordo.shtml
201
Ao se prontificar a me ajudar, segue, Zucolotto e plicou
que a condio era no aparecer na linha de frente. Revelou ter
bons contatos na fora-tarefa e poderia trabalhar nos bastidores.
Antes que Zucolotto entrasse no circuito, segundo ainda o
texto de Duran, o procurador Roberson Pozzobon teria proposto que
ele pagasse uma multa de US$ 15 milhes Justia. Duran diz que
no aceitava a proposta.
Depois de fazer suas sondagens, Zucolotto conversou
comigo pelo Wickr, afirma o e -advogado da Odebrecht.
Na suposta correspondncia, Zucolotto afirma ter como
melhorar a proposta de Pozzobon. Diz tambm que seu contato
conseguiria que DD [Deltan Dallagnol] entrasse na negociao.
Ainda segundo Duran, a ideia de Zucolotto era alterar o
regime de priso de fechado para domiciliar e diminuir a multa para
um tero do valor, ou seja, US$ 5 milhes.
E voc paga mais um tero de honorrios para poder
resolver isso, me entende?, teria escrito Zucolotto, segundo a
suposta transcrio da correspondncia entre eles. Mas por fora
porque tenho de resolver o pessoal que vai ajudar nisso.
Duran diz ento que, de fato, os procuradores Julio
Noronha e Roberson Pozzobon enviaram por e-mail uma minuta de
acordo de colaborao com as condies alteradas conforme o que
Zucolotto havia indicado em suas mensagens.
202
este julgador, tendo se refugiado na Espanha para fugir da ao da
Justia;
o advogado Carlos Zucoloto Jr. meu amigo pessoal e
lamento que o seu nome seja utilizado por um acusado foragido e
em uma matria jornalstica irresponsvel para denegrir-me; e
lamenta-se o crdito dado pela jornalista ao relato falso de
um acusado foragido, tendo ela sido alertada da falsidade por todas
as pessoas citadas na matria.
Curitiba, 27 de agosto de 2017.
Sergio Fernando Moro
Juiz Federal
37
http://www25.senado.leg.br/web/atividade/notas-taquigraficas/-/notas/r/7002
203
UTC. Contestei as acusaes caluniosas de que fui vtima e juntei
uma srie de documentos que comprovam a minha verso dos fatos.
204
O SR. RODRIGO TACLA DURAN J.
O SR. WADIH DAMOUS (PT - RJ) Perfeito.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN Isso foi encaminhado
ao meu advogado; o meu advogado tem copiado tambm, o
Leonardo Pantaleo.
O SR. WADIH DAMOUS (PT - RJ) Perfeito.
205
sequer baixou em seu telefone o aplicativo Wickr.
Duran no faz acusaes ao juiz Sergio Moro. O
magistrado, no entanto,saiu em defesa do advogado quando
a Folha revelou as acusaes. Na poca, afirmou ser "lamentvel
que a palavra de um acusado foragido da Justia brasileira seja
utilizada para levantar suspeitas infundadas sobre a atuao da
Justia".
Nas fotos dos dilogos que diz ter mantido com Zucolotto e
apresentadas a um perito da Espanha, onde hoje vive, e tambm
CPI, Duran reclama que os procuradores da Lava Jato, com quem
tentava negociar um acordo de colaborao, queriam "contar [sic]
em cima um monte de coisas", ou seja, atribuir a ele crimes pelos
quais no teria responsabilidade.
Ainda por cima estariam exigindo o pagamento de uma
multa de R$ 15 milhes "com base num assunto normal sem crime".
Zucolotto, sempre de acordo com o dilogo fotografado por
Duran, teria respondido: " muita coisa isso. Me d uns dias que vou
fazer contato para que o DD entre nessa negociao".
Em outro trecho, ele repete que vai encontrar "a pessoa por
esses dias para melhorar isso com DD".
Ainda segundo as fotos apresentadas CPI, Zucolotto teria
dito que a "ideia" seria diminuir a multa para um tero do valor
pedido. Duran pagaria mais um tero de "honorrios para poder
resolver isso". E teria concludo: "Mas por fora porque tenho que
resolver o pessoal que vai ajudar nisso".
Duran afirma que pouco tempo depois recebeu da fora-
tarefa uma minuta de acordo com as condies que teria discutido
com Zucolotto. Ele, no entanto, no teria concordado com os termos.
O advogado acabou viajando para a Espanha, pas em que tem
nacionalidade e hoje vive.
38
https://jornalggn.com.br/noticia/mulher-de-moro-defende-ex-socio-acusado-de-cobrar-propina-o-tempo-esclarece-tudo-diz
206
ajudar" na delao.
207
provas nessa denncia foram obtidos junto ao Sistema
Drousys. Se o Sistema Drousys foi bloqueado em 2016, no faz
o menor sentido nem poderia ser possvel um documento
emitido em 2017 estar dentro do Sistema Drousys, e, pior,
documento falsificado. Por isso que a percia chegou a essa
concluso.
Eu encaminhei a percia Comisso ontem.
O Sistema Drousys era um sistema de comunicao,
intranet da empresa. E a questo do Meinl que eu havia citado, o
Meinl Bank, era em relao s duas coisas, em relao a essa
percia na denncia do Presidente Michel Temer.
O SR. WADIH DAMOUS (PT - RJ) S para que tenhamos
claro, Sr. Rodrigo: sobre esses documentos acostados em autos de
processos, de inquritos, que foram obtidos mediante acesso a esse
sistema Drousys, o senhor afirma que a totalidade desses
documentos falsa ou que alguns documentos so falsos? S para
que tenhamos isso claro. E que documentos? Esses documentos
serviram de prova para corroborar delaes premiadas? Eles
serviram de provas para condenar pessoas? Esclarea isso para
ns.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN Se todos os
documentos so falsos, eu no sei porque estou me referindo
aos documentos a que tive acesso, que so esses da denncia
do Presidente Michel Temer, porque citavam o meu nome; e, por
exemplo, tambm, o que foi aportado pela Odebrecht no
Inqurito n 4.435, que envolve o Deputado Pedro Paulo e o ex-
Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Esses extratos so
falsos e j foram periciados.
No caso da denncia do Presidente Michel Temer,
esses extratos que foram aportados demonstram que o sistema
foi manipulado. A partir do momento em que o sistema foi
manipulado antes, durante e depois do bloqueio, as provas, no
meu entender, so viciadas. Todas as provas que saem daquele
sistema, a partir da, so viciadas.
208
Eu vou lhe fazer uma pergunta que simples, mas que,
para mim, esclarecedora quanto ao processo. O Sr. JB era o
Presidente Benedicto Jnior, BJ, era o Presidente da Construtura
Odebrecht, que deve ter sido a empresa que mais negociou com o
governo pelo menos esse o meu pensamento.
Em um determinado momento, uma busca e apreenso na
sua residncia localizou tem gente que at diz que estava l
plantada esta lista, mas, em suma uma lista de polticos que
estariam sendo beneficiados por propina em um segmento
administrado por ele. O senhor tem conhecimento disso? Dessa...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN Sim.
O SR. CARLOS MARUN (PMDB - MS) O senhor tem
conhecimento.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN Se foi plantada...
O SR. CARLOS MARUN (PMDB - MS) Como?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN ... a lista?
O SR. CARLOS MARUN (PMDB - MS) .
O SR. RODRIGO TACLA DURAN Se a lista foi
plantada? Foi plantada sim.
O SR. CARLOS MARUN (PMDB - MS) A lista foi
plantada?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN Sim, o Benedicto
Jnior j sabia que podia ser alvo de alguma operao da
Polcia Federal. Ento, todos os executivos da empresa,
naquele momento, estavam preparados para deixar
disposio para que fossem encontrados s o que era de
interesse. A empresa contratou pessoas para ficar na porta da
Polcia Federal, de madrugada, vendo se saam carros para ver
se ia ter operao.
O SR. CARLOS MARUN (PMDB - MS) Positivo.
Posteriormente, essa lista praticamente foi esquecida. No
se falou mais da lista, e surgiu uma nova relao, surgiu uma nova
relao com nomes acrescentados e nomes subtrados.
Pode ter havido alguma... O que justifica essa... O que
justificaria essa disparidade entre a lista encontrada e, depois, as
palavras ditas em seus depoimentos pelo Sr. Benedicto Jnior?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN O senhor diz em
relao a polticos que estavam a na lista?
O SR. CARLOS MARUN (PMDB - MS) Exatamente.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN Eu entendo que isto
fruto da delao la carte.
O SR. CARLOS MARUN (PMDB - MS) Delao la
carte? isso? No delao em rodzio, delao la carte.
(Risos.)
O SR. RODRIGO TACLA DURAN No, delao la
carte. Eu vou dar um exemplo do que se passou comigo: o
209
Procurador Marcello Miller, quando esteve comigo, comeou a
dizer uma lista de Parlamentares. "Qual o senhor conhece?
Qual o senhor pode entregar? De qual o senhor pode falar?"
210
abrandamento de pena e multa. O pagamento teria de ser feito por
fora.
Em agosto, quando a Folha de S.Paulo publicou essa
informao, o juiz Srgio Moro saiu em defesa de Zucoloto, de quem
amigo. Moro disse o seguinte: amentvel que a palavra de um
acusado foragido da Justia brasileira seja utilizada para levantar
suspeitas infundadas sobre o funcionamento da Justia.
O alerta de Moro importante, mas deve ser levado em
conta que a Lava Jato ganhou fora a partir dos relatos de um ento
foragido da Justia que foi preso pela Polcia Federal, o doleiro
Alberto Youssef.
Logo, ser criminoso no significa necessariamente que
Tacla Durn esteja mentindo. H interesse pblico nessas
acusaes. A procuradora-geral da Repblica, Raquel Dodge, e os
integrantes da Lava Jato deveriam ser os principais interessados em
apurar uma suposta tentativa de manipulao de um acordo de
delao premiada bem como outras acusaes apresentadas ontem
na CPI.
211
"Eu que rejeitei o acordo. Eles queriam criminalizar minha
profisso, imputar crimes que no cometi, mesmo sabendo o que eu
ia sofrer, resolvi no assinar", afirmou.
Duran contou ter contratado um advogado em Curitiba para
negociar a delao. Esse advogado teria oferecido a ele reduzir a
multa que teria de pagar de US$ 15 milhes para US$ 5 milhes,
recebendo US$ 5 milhes de honorrios. O pagamento ao defensor
seria feito "por fora". Esse advogado j defendeu o juiz Srgio Moro
e o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima em processos
judiciais. Duran se disse pressionado tanto pelos procuradores
quanto pelo advogado a celebrar o acordo.
Ele afirmou ainda que o Ministrio Pblico o atrapalhou a
celebrar um acordo de colaborao nos Estados Unidos por ter
vazado um depoimento de outra pessoa envolvida com a Odebrecht
no mesmo dia em que tinha reunio naquele pas. O vazamento
colocou em xeque algumas das informaes prestadas por Duran
aos norte-americanos e o acordo no se concretizou.
O advogado disse ainda que h presso de procuradores
para que em delaes se busque corroborar linhas de investigao.
Sustentou ainda que h a tentativa de influenciar os delatores a
envolver polticos. Citou como exemplo que teria ouvido
questionamentos do hoje ex-procurador Marcello Miller nessa
direo.
"O procurador Marcello Miller comeou a dizer uma lista de
parlamentares, perguntando: Qual conhece? Qual pode entregar?
De qual pode falar?", disse Duran.
212
O SR. PAULO PIMENTA (PT - RS) Do Miller.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN Do Dr. Miller. Mas ele
pediu para eu ir reunio, voltar e contar como foi.
213
nomes de Parlamentares, de polticos, de diretores de empresas
estatais e outros agentes pblicos...
O SR. JOS MENTOR (PT - SP) Mas em quem o
Procurador-Geral teria interesse em ver delatado? isso?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN Eu no sei se o
Procurador...
214
Esta, alis, ser uma das recomendaes sugeridas por este
Relator Parcial.
215
PARTE III CONCLUSES GERAIS
216
investigatrio para apurar: 1) a conduta dos procuradores da
repblica Roberto Pozzobom, Jlio Noronha e Carlos
Fernando dos Santos Lima e a relao destes com o advogado
Carlos Zucolotto; 2) a conduta do advogado Carlos Zucolotto e
sua relao com procuradores e pessoas prximas a membros
da operao Lava Jato; 3) a prtica do crime de fraude
processual, adulterao de documentos, violao de
prerrogativas de advogados, planilhas e sistemas de
comunicao da empresa Odebrecht, documentos plantados
todas essas condutas praticas no mbito de acordos de
delao firmados; 4) a legalidade dos acordos de delao
mencionados;
217
PARTE IV PROPOSIES E RECOMENDAES
218
II nos crimes praticados por quadrilha, associao criminosa
ou organizao criminosa, definidos nas respectivas normas incriminadoras, revelar
a estrutura hierrquica e a diviso das tarefas de cada uma delas;
219
apresentada sem que as autoridades mencionadas no art. 2 desta lei tivessem
conhecimento prvio da infrao, e o colaborador membro de organizao
criminosa:
220
premiada, o Ministrio Pblico cientificar as pessoas delatadas, que tero o prazo
de 15 (quinze) dias para impugnar o acordo e juntar documentos comprobatrios.
221
diligncias em andamento.
222
III ser conduzido, em juzo, separadamente dos demais
coautores e partcipes;
223
1 Se o acordo de delao premiada foi posterior sentena,
ser competente para a homologao o juiz ou tribunal responsvel pela execuo
da pena.
224
comerciais, acionrios, industriais, imobilirios, cambiais ou de qualquer natureza,
resultantes da informao privilegiada produzida no procedimento pelo mesmo,
direta ou indiretamente, dispensando-se comprovao de dolo ou culpa e bastando
a mera transao.
225
Art. 24. Constitui crime o ato da autoridade que divulgar o
contedo dos depoimentos colhidos no mbito do acordo de delao premiada,
pendente ou no de homologao judicial.
JUSTIFICAO
226
combater o arbtrio e o autoritarismo na sua aplicao.
227
Lopes Junior, Alexandre Morais da Rosa e Eugnio Arago. Juristas e que se
dedicam a ensinar o processo e o direito penal de forma sria. Colhidas, tambm,
algumas sugestes em artigos e anlises de outros estudiosos como Antnio
Cludio Mariz de Oliveira, Jos Gomes Canotilho, Nuno Brando, Tiago Bottino,
Rafael Borges e Pierpaolo Cruz Bottini.
228
querer contribuir com a justia. A voluntariedade exigida pela legislao desde 1999
e assimilada pelo legislador de 2013 incompatvel com a situao de quem se
encontra com a liberdade restringida. uma contradio em termos.
229
2. RECOMENDAES E ENCAMINHAMENTOS
230
Relator Parcial
231