Futebol Como Agente de Inclusão Social
Futebol Como Agente de Inclusão Social
Futebol Como Agente de Inclusão Social
SALVADOR – BA
2009
IURI BRANDÃO NASCIMENTO
Orientadora:
Profª. Dra. Nívea Maria Fraga Rocha
Salvador – BA
2009
Nascimento, Iuri Brandão.
O futebol como agente de inclusão social: um estudo sobre o
desenvolvimento humano a partir das práticas pedagógicas nas
escolinhas de futebol de Salvador / Iuri Brandão Nascimento;
Salvador, 2009.
86.
CDU - XXXXX
IURI BRANDÃO NASCIMENTO
23/11/2009
Meu agradecimento muito especial à pessoa que foi muito mais que uma
orientadora, foi amiga, conselheira e paciente. Cobrando no momento certo e
apoiando sempre que necessário, exigindo disciplina. Quero agradecer de coração o
apoio e os valiosos ensinamentos dados pela professora Nívea Rocha.
À professora Noemi Salgado, pelas importantes contribuições durante as
primeiras reflexões para construção deste trabalho.
À coordenadora do curso, professora Maribel Barreto, pelo empenho para
efetivação do curso ao longo destes anos, acreditando na perspectiva de uma
formação continuada, pela via de integração de ensino e pesquisa.
À professora Bárbara Amorim, pela amizade e valiosas contribuições
desde a seleção para ingresso no mestrado.
A todos os colegas e professores que integraram o programa do curso,
com os quais foi possível estabelecer ricos diálogos, e que tanto contribuíram na
minha formação.
Aos professores Humberto Filho e Rosemary Lacerda, pela oportunidade
e confiança creditada ao longo desses dois anos.
Aos professores que integram o colegiado do curso de Educação Física da
FTC Salvador, em especial Diana Tigre, Wilson Filho e Wilkem Pimenta.
Aos professores Marcos Paulo, Cícero, Gerson e Jair, pela
disponibilidade durante a realização da parte prática da pesquisa nas escolinhas de
futebol.
Ao amigo Orlando Hage (in memorian), pela grande amizade ao longo de
dez anos de convivência, e pela oportunidade que me deu ao ingressar na carreira
universitária.
Ao trio de amigos / irmãos, Carlos Gustavo, Henrique César e Luis
Eduardo, pela grande força.
À tia Zélia, pela tradução do resumo para língua inglesa.
À Karine pelo carinho e compreensão, que vem demonstrando durante
esse período que estamos juntos.
À minha família, pelo apoio e grande incentivo.
A Deus, por existir, o meu muitíssimo obrigado!
O brinquedo essencial do homem é a bola.
Quem ganha uma bola descobre dois mundos,
o de dentro e o de fora”.
Soccer is the most popular and practiced sport in the world, it’s is part of the culture
and also a passion of the Brazilian nation and the world. This research aims to
analyze teaching approaches used by teachers of soccer schools, to identify possible
contributions to human development of children in order to promote their social
inclusion. It is also intended as specific objectives: to address soccer as a
phenomenon of sports, so that we can resize its educational approach in small
soccer schools, examining teaching practices that can be used in soccer schools
and that promote human development and social inclusion and to identify possible
contributions of the theory about the process of human development in order to foster
social inclusion in soccer schools. A qualitative and descriptive exploratory research
was done, with an option for a case study on 3 soccer schools in a district of
Salvador city. As a tool for gathering information, we used structured interviews to
teachers that coordinate the school works. For the analysis and interpretation of the
information collected it was used the technique of analysis of content about the
teaching practices it was necessary to group the data into four categories of analysis:
institutional infrastructure, teachers’ technical and scientific skills, educational
organization, the methodologies adopted. The research showed that it’s the physical
education teacher who works in the soccer schools, the main agent responsible for
the formation of children and as whole, introducing teaching strategies compatible
with their interests, needs and possibilities , promoting and raising the quality of the
classes. In a continuous process of reflection, the teacher needs to create and re-
create a pedagogy committed to human development of the children and
adolescents, in a emancipatory perspective that promotes citizenship with soccer as
an agent of social inclusion.
INTRODUÇÃO 13
CONCLUSÃO 73
REFERÊNCIAS 76
APÊNDICES 81
INTRODUÇÃO
1. O termo “cartolagem” faz alusão aos indivíduos que dirigem os clubes de futebol (presidentes,
diretores, conselheiros etc).
2. Campos de terra com terreno irregular, nos quais as crianças e os jovens do nosso país
desenvolvem suas habilidades futebolísticas.
14
dos pais com a educação e segurança de seus filhos, aumentou à procura pelas
escolinhas de futebol. De fato, dentre as escolinhas esportivas, as de futebol são as
mais procuradas, em razão da grande representatividade em nossa sociedade.
O presente estudo surgiu da necessidade de refletir os princípios que
norteiam as práticas pedagógicas dos professores nas escolinhas de futebol, diante
das atividades desenvolvidas, já que este é o esporte mais praticado no país.
Pessoas de todas as idades praticam esta modalidade esportiva. Com isso, muitos
professores pensam ser conhecedores e capazes de ensinar.
Podemos acrescentar a isso a necessidade de um maior número de
trabalhos de pesquisa na área, além de bibliografias adequadas, relacionadas ao
desenvolvimento da criança e os respectivos vínculos com a aprendizagem do
futebol.
Referenciando-se em autores importantes como Da Matta (1997) Freire
(2003), Scaglia (2005), Arruda (2006) argumentamos, na presente pesquisa,
questões pertinentes ao fenômeno esportivo (futebol) à pedagogia do esporte, além
do processo de Desenvolvimento Humano nas escolinhas.
Este estudo encontra-se inserido em um campo investigativo de
problemática significativa que busca responder aos desafios que dizem respeito a:
Em que medida as práticas pedagógicas adotadas pelos professores de escolinhas
de futebol podem contribuir para o processo de Desenvolvimento Humano de
crianças de modo a promover a inclusão social das mesmas?
O problema de pesquisa levantado propicia uma reflexão acerca dos limites e das
possibilidades de intervenção dos professores, na tarefa de ensinar futebol em
escolinhas a crianças, tendo o futebol como verdadeiro agente de inclusão social.
Partindo desse princípio, o presente estudo vem questionar, fornecer
argumentos e subsídios ao trabalho realizado pelos professores desta modalidade
esportiva.
Diante da perspectiva de estudar o futebol, a partir da problemática da
pesquisa exposta, levantamos indagações que se configuram em pontos que
ampliam as discussões, considerando as seguintes hipóteses:
3. Qualquer movimento corporal produzido pela musculatura esquelética, que resulta em gasto
energético (PITANGA, p. 15, 1998). É importante ressaltar que as atividades físicas (motoras),
características do futebol devem ser cuidadosamente sistematizadas durante o processo de ensino.
19
Segundo Freire (2003), muitos podem até pensar que inventamos o futebol,
tamanho nosso sucesso com a bola nos pés. Somos, como dizem alguns
especialistas, “a pátria de chuteiras”, já que conquistamos cinco vezes a Copa do
Mundo (maior competição futebolística do planeta) e outros tantos títulos e vitórias
que nos colocaram como “magos” na arte de jogar com os pés.
Mas, quem inventou o futebol? Chineses, japoneses, gregos, franceses,
ingleses, todos reivindicam para si a paternidade do futebol. (UNZELT, 2002). Muitos
são os que afirmam que as origens do futebol se perdem no tempo. Melo (2000) e
Unzelt (2002) citam que, na verdade, não existe registro consensual sobre os
primeiros indícios dos jogos com bola que originaram a prática do Futebol. Aquino
(2002) menciona um levantamento feito por historiadores e arqueólogos de que
seriam o Egito e a Babilônia os pioneiros na prática de algo que lembrava o futebol
praticado por nós brasileiros. No entanto, revela que informações mais precisas se
referem aos países asiáticos essa condição. Na China, por exemplo, existia um jogo
chamado "tsutchu" (golpe na bola com o pé), que era praticado por volta de dois mil
e trezentos anos atrás, no período da dinastia Han (202 a.C. - 226 d.C.). Baixos-
relevos referentes à dinastia Ming (1368 - 1644) revelam que este jogo era praticado
em três modalidades, como mostra a passagem de Aquino (2002, p. 11).
21
Unzelt (2002) esclarece que, no centro das duas linhas de fundo, havia
dois templos elevados, onde o atirador – mestre da equipe perdedora era
sacrificado. Seus restos mortais eram oferecidos a jaguares e serpentes.
De acordo com Saldanha (1971), mesmo com tantas atividades com bola,
nas quais eram utilizados os pés por diversos povos, apenas aconteceram
modificações importantes e elementos novos, depois de quase mil anos após a
queda do Império Romano. No final do século XV, em Florença (Itália), aparecia um
jogo mais esquematizado e com algumas leis claras denominado “calccio”, que em
muito se aproxima do futebol moderno. Havia duas balizas (ou barracas), uma de
cada lado do campo, cuja finalidade, era colocar a bola dentro delas. Contudo, cada
equipe possuía vinte e sete participantes e a bola era feita de qualquer material
cheio de palha. Devido aos inúmeros conflitos (brigas), o jogo foi proibido, ficando
restrita sua legalidade às disputas na praça pública central de Florença, onde a
torcida chegava um dia antes para poder assistir.
Da mesma forma, na Inglaterra, as primeiras disputas também eram vistas
como violentas, sendo uma forma de resolver conflitos e discussões entre feudos,
condados e pequenas vilas, e que não possuíam motivos suficientes para serem
transformadas em guerras. Estas eram mais ou menos caracterizadas por uma bola
grande colocada no centro entre um local e outro, cujo objetivo era chegar com ela
na “casa do outro”, utilizando mãos, pés, paus e objetos possíveis de arremessar.
Ao final, sempre aconteciam “combates violentos” que acarretavam enormes
prejuízos, o que levou as autoridades a proibir o jogo, tornando-se assim uma
prática clandestina. Tempos depois, Carlos II, na época rei do país, resolveu
regulamentá-lo, introduzindo regras como uso adequado de material esportivo e
número limitado de jogadores. Este jogo ficou posteriormente conhecido como
massfoot-ball. Foi proibido novamente por quase um século, reaparecendo no final
do século XVIII, bastante organizado e com muitas restrições, levando a
consolidação de duas correntes diferentes, os que jogavam com bastões e os que
jogavam com pés e mãos.
Melo (2000) argumenta que seria perigoso afirmar que tais práticas antigas
foram ás origens do futebol, embora não devamos negar que naquele período,
possamos ter herdado algumas “injunções simbólicas” 6.
6 Para Melo (2000), tais práticas contribuíram, de certa forma, para a formatação do futebol moderno.
23
indústrias e das grandes cidades no nosso país. Nesta época, era constante o
processo de massificação do futebol na Inglaterra, atraindo gente não só para jogar
como também para assistir. Em qualquer local onde havia ingleses, era possível
constatar sua prática. Porém, não se sabe ao certo em qual cidade o futebol
apareceu primeiro, se foi no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Pernambuco ou São Paulo. Todas estas cidades reivindicam para si o título,
justificando pela sua presença nas fábricas e ferrovias da época. Há controvérsias
até mesmo sobre qual o primeiro clube de futebol do Brasil. Aquino (2002) e Unzelt
(2002) constatam que foi em São Paulo onde tudo começou, inclusive é do estado o
primeiro clube que se destinou à prática deste esporte, chamado de Associação
Atlética Mackenzie College, em 1898. Contudo, Aquino (2002) afirma que o primeiro
clube criado no Brasil com este objetivo foi o Sport Club Rio Grande, em 1900, no
estado do Rio Grande do Sul. Vale ressaltar ainda, o caráter elitista do futebol
quando chegou ao Brasil, pois o esporte era praticado somente nos clubes por
homens das classes mais favorecidas, enquanto as mulheres eram apenas
expectadoras.
Segundo Unzelt (2002) e Saldanha (1971) foi Charles Miller, filho de um
cônsul britânico de São Paulo, nascido no Brasil, o grande impulsionador do futebol
no país. No ano de 1894, ao retornar da Inglaterra, trouxe em sua bagagem duas
bolas de couro, camisetas, chuteiras, calções, além das regras já formatadas pelos
britânicos. Sua contribuição foi imprescindível, pois além de ser um jogador muito
hábil e profundo conhecedor das regras, organizou competições mais importantes
no campo do São Paulo Athletic (de rugby e outros esportes). Fez isso juntamente
com um alemão chamado Hans Nobbling. Os dois eram excelentes jogadores e uns
dos poucos que jogavam com chuteiras próprias para o futebol, que só eram
confeccionadas na Europa. No início, os ingleses participavam das diversas ligas de
futebol criadas por eles mesmos, mas aos poucos foram deixando-as, e os clubes
fundados por eles que não desapareceram tornaram-se brasileiros, enfatiza
Saldanha (1971).
Nos anos que antecederam a volta de Charles Miller ao Brasil, o futebol já
era praticado, mas sem a necessária obediência às regras ou com equipes
constituídas formalmente para a disputa de competições. Em busca de modalidades
que se enquadrassem ao perfil recomendado por alguns políticos da época, as
melhores instituições de ensino do país optaram por enviar “embaixadores” a vários
25
colégios europeus. Lá, pela primeira vez, o futebol virou uma opção para o Brasil.
Este fato fez com que o Colégio São Luís de Itu (SP), dirigido por jesuítas,
escolhesse o futebol, entre outros esportes, para ser praticado por seus alunos,
relata Santos Neto (2002).
Witter (1996, p. 10-11) enfatiza a versão dos marinheiros terem praticado
futebol no Brasil antes da chegada de Miller, dizendo:
Um grande avanço para o futebol brasileiro foi dado em 1919, quando foi
organizado o campeonato sul-americano de futebol, indicando possibilidades
internacionais. O ano de 1933 também foi de grande relevância para a consolidação
da modalidade no Brasil, pelo fato de ser um marco rumo a sua profissionalização. A
partir daí, houve mudanças estruturais que gradualmente, demarcaram novas
formas de relação entre os jogadores, dirigentes, torcida e imprensa.
Embora, alguns fatos referentes ao contexto histórico do futebol não
estejam bem esclarecidos, é fundamental que busquemos entender a forma pela
qual este esporte foi difundido pelo mundo e seu papel na sociedade, pois somente
assim teremos a real dimensão da responsabilidade em ensinar futebol em
escolinhas.
7. Caráter ou atitude peculiar a determinado povo, cultura ou grupo, que o(s) distingue de outro(s)
povo(s), cultura(s) ou grupo(s). Ferreira [s.d.].
27
outras distinções futebolísticas vindas do seio das camadas mais populares. Dessa
forma, as acusações e comportamentos intimidatórios que os jogadores de estratos
sociais diferenciados recorrentemente sofriam na década de trinta, no início do
regime profissional (mais precisamente em 1933), transfiguravam o próprio campo
para adquirir os contornos de uma distinção social e simbólica coletiva e de classe
(TOLEDO, 2000).
Por outro lado, esta forma de jogar serviu como uma via de aproximação
do futebol a práticas sociais. Isso fica evidente na citação de Toledo (2000, p.34):
Além disso, deve-se ressaltar aqui que tais repertórios, por consistirem
numa linguagem codificada e aceita mundialmente, servem como um solo comum
de comunicabilidade, sendo possível através dos mesmos interpretar e ler a cultura
esportiva de outros povos.
Outra característica do nosso futebol é o pensamento “abstrato”. A crença
nos poderes sobrenaturais manifesta-se através de crendices, superstições,
mandingas, trabalhos, atos da fé católica. Aquilo que não se explica no futebol é
atribuído pelo sobrenatural de Almeida, personagem criado pelo intelectual Nelson
Rodrigues. (TOLEDO, 2000).
Portanto, segundo Toledo (2000), existe três naturezas do futebol: a
primeira consiste nas regras, onde sua formatação e universalização foram
fundamentais para afirmação e consolidação da prática esportiva no mundo, não
apenas para os jogadores, mas também para os torcedores, proporcionando
disputas com beleza, continuidade e variabilidade.
A segunda diz respeito às formas de jogo, onde sua sistematização foi
também imprescindível para popularizar o futebol e, como já foi dito, viabilizar
diversas maneiras de jogá-lo, organizando as atuações, por onde se expressam as
qualidades individuais e coletivas dos jogadores em relação, e funcionando como
uma linguagem franca entendida mundialmente.
Já a terceira natureza do jogo de futebol, se refere às representações
coletivas que consolidam as anunciadas escolas, jeitos e estilos, auto-
representações dos diferentes modos de vivenciar e entender o futebol em cada
local, com linguagem e característica próprias. Na opinião dele, é no senso comum9
que se configura de maneira mais continuada a terceira natureza do jogo.
Da Matta (1982), autor fundamental para o estudo da sociologia do esporte,
acredita que é possível realizar uma leitura do sistema social brasileiro através do
futebol, pois nesse esporte, através de dramatizações do mundo social, a sociedade
se expressa, apresenta e revela características particulares de sua cultura.
Um bom exemplo disso, para o autor, é a maneira pela qual o esporte é
conceituado no Brasil, em comparação a sociedades como a americana e a inglesa.
Nestas, o soccer, tennis, football, etc. são concebidos como “sports”. No nosso país,
diferentemente, o termo futebol é sempre precedido do qualitativo jogo, revelando
9. Do meu ponto de vista, esta expressão é utilizada para se referir a algo que é tido como verdade e
está impregnado em determinado contexto social.
29
uma associação entre estes dois fatos. Isso fica mais claro quando se observa que
no Brasil, a idéia do “jogo de azar” é indicada pela expressão jogo, enquanto que
nos EUA é designada por “gamble”, algo que está distante da atividade esportiva
propriamente dita. A própria definição da atividade esportiva do dicionário Oxford
denota esta diferença. O autor explica:
Somada a esta idéia, Da Matta (1982) enfatiza que não é por acaso que o
futebol está associado em alguns países a um sistema nacional de loteria,
atualizando todo um conjunto de valores associados ao sistema da sorte e do azar.
Para ele, este fato possibilita vários tipos de jogos serem “jogados”
simultaneamente, mas em planos diferenciados. Um jogo que se passa no gramado,
outro que se passa na vida real (jogado pela população brasileira em constante
busca de transformação do destino), e ainda um terceiro, jogado em “outro mundo”,
que são as entidades chamadas para influenciar o evento e provocar
transformações nas diferentes posições sociais. Dessa forma, enquanto jogo,
exprime um conflito entre o destino impessoal e a vontade individual revelando um
paradigma social de coletivização x individualização, de combate entre forças
coletivas do destino e as vontades individuais que buscam escapar do ciclo da
pobreza e da derrota.
O autor defende este ponto de vista, porque enxerga o futebol como
metáfora da vida (drama), capaz de expressar conflitos e ideologias nacionais. No
caso, permite expressar um conflito básico existente na sociedade brasileira entre os
homens e as forças que se colocam em seu caminho, ou seja, faz uma analogia ao
fato desta modalidade esportiva ser um sistema fechado e dotado de regras fixas, ao
mesmo tempo em que têm a vontade, esforço, planejamento, e técnica que
possibilitam mudanças. O próprio termo “destino” é uma categoria social
recorrentemente utilizada nos dois meios num “processo de alocação de
30
Além de um meio privilegiado pelo qual a vida se define com sua força e
plenitude, é instigante, porque é ao mesmo tempo um jogo que pode ser separado
da “vida real”. Assim:
10. Relativo ao, ou o que é partidário do utilitarismo. O utilitarismo é um tipo de ética normativa
segundo a qual uma ação é moralmente correta e tende a prover felicidade e condenável se tende a
prover infelicidade.
33
[...] normalmente joga com apenas uma das pernas, de cabeça baixa, não
tendo uma visão do posicionamento dos companheiros, é muito
individualista, prendendo a bola em demasia, é deficiente no domínio de
bola, e tem dificuldade de passar a bola corretamente [...].
Defini-se técnica como gesto ou movimento realizado pelo atleta que lhe
permita dar continuidade e desenvolvimento ao jogo. É descrita também
como uma série infindável de movimentos realizados durante uma partida,
tendo como base os fundamentos do esporte (p.43.)
Leal (2000), ainda ressalta as diferenças entre técnica e estilo, dizendo que
a técnica é “impessoal” e o estilo é algo “particular”, característica inata de cada
jogador.
14 Samulski et al. [...] apresentam as principais correntes de estudo da criatividade e suas relações
com o esporte. [...] no esporte não poderia ser diferente, a criatividade se manifesta no sentido de
algo inesperado, inovativo ou fora dos padrões normais de ação que o atleta consegu e realizar na
modalidade em que ele está inserido.
37
A garotada, louca para brincar e imitar seus ídolos, corria para se matricular,
achando que aprenderiam futebol tanto quanto os craques aprenderam.
Aquilo que se aprendia tão bem com uma pedagogia de rua teria que ser
aprendido com a pedagogia da escola.
Saber jogar significa saber ensinar? Nista-Piccolo et al.16 (2005), diz que
ex-jogadores nem sempre são capazes de adaptar suas habilidades a “exercícios
educativos”, que possam preparar bem seus alunos. Na verdade parece que a
maioria desses ex-jogadores, apenas reproduz suas experiências nas escolinhas.
Voltando a falar da pedagogia utilizada pelos professores de escolinhas,
um dos focos do nosso estudo, sabemos que nos dias de hoje, muitos deles utilizam
metodologias de ensino pautadas em referenciais de rendimento, conquistas e
resultados imediatos. Portanto, uma pedagogia distante de preocupações
educacionais.
Essa nova forma de aprender futebol se difere daquela pela qual os
brasileiros aprendiam a jogar nos campos de várzea, sem o compromisso da
performance e do rendimento, de modo a influenciar também na forma como vai se
ensinar futebol. Souza e Homrich (2003, p.43), afirmam que “[...] os tempos
15 Paes e Balbino (2005, p. 44) identificam o conceito de talento esportivo de duas maneiras e com
fortes ligações com a performance esportiva: a) pela qualidade superior do seu desempenho
esportivo, em comparação com os padrões e os valores característicos para sua idade e sexo; b) pela
reunião, numa espécie de retrato-robô, dos traços biológicos, motores e comportamentais que são
supostos constituírem estrutura da performance.
16 Além do futebol, os autores trazem propostas pedagógicas para o ensino do voleibol, da ginástica
rítmica, da natação, e da ginástica.
39
17. Ao longo da minha trajetória de professor de Educação Física, sempre fiz ressalva a esta prática
de ensino, que enfatiza a execução dos gestos técnicos de determinada modalidade esportiva, de
forma fragmentada, sem contextualizar adequadamente as características da modalidade em
questão.
40
18 O autor refere-se à inteligência corporal cinestésica, que, de acordo com Paes e Balbino (2005),
caracteriza-se pela capacidade de usar o próprio corpo de maneira altamente diferenciadas e hábil
para propósitos expressivos, assim como voltados a objetivos.
19 O termo nos induz a refletir sobre as possibilidades de aprendizado de um gesto esportivo.
41
Scaglia (2005) enfatiza que uma boa pedagogia não é aquela que
demonstra um gesto para ser copiado: é aquela que permite ao aluno vivenciar um
processo de ensino-aprendizagem em que, por meio de explorações possa
estruturar seu gesto motor.
Para muitos professores, a predominância do jogo na aula exclui o
aprendizado de habilidades. Santana (2004, p. 48) afirma que “Em se tratando de
pedagogia do esporte, a função do professor é planejar diferentes tipos de jogos”.
Os jogos devem ser adaptados a vários níveis de desenvolvimento em prol do
processo de aprendizado.
Para que possamos analisar as práticas pedagógicas que podem ser
utilizadas em escolinhas de futebol que favoreçam o Desenvolvimento Humano e a
inclusão social é necessário entender as questões que permeiam à pedagogia do
esporte, ou seja, entender as características da criança, os benefícios da prática
esportiva, os cuidados necessários durante a iniciação e o trato pedagógico com a
competição.
Outro fato relevante, é que, pesquisas têm demonstrado que os pais consideram a
prática de esportes benéfica para saúde e favorável ao rendimento escolar.
A literatura especializada argumenta que esse posicionamento relaciona-se
à aquisição de regras de conduta, de normas de comportamento e de valores sociais
que fundamentam nossa cultura. Pressupõe-se que atitudes de perseverança, de
disciplina e cooperação exigidas na prática esportiva contribuem para formação da
personalidade da criança.
É importante ressaltar que as crianças necessitam de amplas
oportunidades numa variedade de atividades motoras diárias com o objetivo de
desenvolver suas capacidades de movimento (enriquecendo seu repertório motor),
contribuindo para formação de um cidadão apto a participar de programas esportivos
em geral.
A criança tem seu mundo próprio onde vive de forma unitária e integral,
interessando-se pelo seu bem estar e das pessoas em sua volta, vendo tudo com
alegria. Respeitar seus limites, suas possibilidades e saber identificar suas
características básicas de comportamento nas diferentes faixas etárias, facilita muito
a relação, educador-educando no processo de ensino.
Lucena (2001) sistematiza as características de crianças de quatro aos
doze anos de idade, na perspectiva de identificar seus interesses, necessidades,
possibilidades, anseios e dificuldades, para a partir daí estabelecer uma proposta de
ensino:
· A criança de quatro anos - repete tudo que ouve e vê, tendo o corpo
como instrumento de relação, a musculatura de membros inferiores é
mais independente capaz de andar com ritmo alternado de passos, não
exerce controle sobre sua unilateralidade. Interessa-se por atividades
tipo correr, saltar, trepar, sendo bastante expansiva. Sua capacidade de
concentração é menor. Maior facilidade em executar movimentos
amplos, equilíbrio em desenvolvimento (estático e dinâmico);
· A criança de cinco anos – Tem como grande alicerce o lar e os pais,
apresentando traços de possessividade em relação às coisas que as
cercam, sua capacidade de concentração é maior, estando aberta a
receber instruções de forma a satisfazer pessoalmente, e ao mesmo
tempo, busca ter aceitação em seu ambiente social. Aponta traços de
43
O professor deve ter muito em conta que não deve modelar o menino à
semelhança de..., e sim ele deve dar uma grande bagagem de experiências
motoras, contribuindo para o armazenamento motor, que lhe permita
desenvolver no futuro, com grande variedade de habilidades motoras, que
não só apontariam, para um esporte, mas também para sua vida diária.
Uma criança rica em seu aspecto motor pode vir a se adaptar mais
facilmente à prática de muitas atividades na escolinha de futebol.
Determinar uma idade ideal para iniciar a criança na prática do futebol
talvez não seja tão importante quanto conseguir desenvolver nela o prazer em “jogar
bola”, para que, de maneira paulatina e seqüencial, ela possa evoluir
progressivamente dentro desta modalidade.
Para Scaglia (2005), um ingrediente especial e essencial para que a
criança goste desse esporte é a competição22. Santana (2004) afirma que a
competição é conteúdo do esporte. Cabe ao professor da escolinha a tarefa de
saber utilizá-la como instrumento pedagógico.
Muitas vezes, a competição exacerbada leva o professor a impor a criança
o desenvolvimento máximo por meio da técnica específica do futebol, levando-a a
uma extrema especialização (APOLO, 2007). E quando isso acontece nas
escolinhas de futebol, temos especialização precoce difundida de forma
indiscriminada e seletiva. A especialização precoce é um tema de extrema
21 Soares, C. et AL. (1992) abordam a cultura corporal na obra “Metodologia do Ensino da Educação
Física”, que reporta-se a questões teórico-metodológicas da Educação Física Escolar.
22 O termo competição tem duas raízes: uma está ligada a competência, capacidade de melhorar o
próprio desempenho, torna-se cada vez mais eficiente e melhor. A outra é “competere”, ligada à
cizânia, à encrenca, à difamação, à injuria, à calunia, a vencer derrotando o outro, e não sendo
melhor que ele...
47
23 Fair play é uma expressão da língua inglesa muito utilizada no meio esportivo para se referir ao
“jogo limpo”, ou seja, honesto e justo, que respeita as regras e o adversário em qualquer
circunstancia.
50
professor João Batista Freire e sua pedagogia de rua, buscamos uma análise das
práticas pedagógicas adotas por professores de escolinhas e suas contribuições
para o processo de Desenvolvimento Humano e inclusão social.
Há muitos anos o professor João Batista Freire24 centra seus estudos nas
brincadeiras de rua, afirmando serem elas as grandes responsáveis pelo
aprendizado dos jogadores em nosso país. A todo este processo vivido pelas
crianças na rua e suas brincadeiras com a bola nos pés, ele chamou de pedagogia
da rua. “... Pés descalços, bola, brincadeiras, são alguns dos ingredientes mágicos
dessa pedagogia de rua que ensinou um país inteiro a jogar futebol melhor do que
ninguém...” (p.2).
Se aqueles que gostam de futebol, lembrarem das brincadeiras favoritas de
suas infâncias veremos que o prazer em engajar-se em tais brincadeiras era,
principalmente decorrente do sucesso e desafios que elas proporcionavam, dizia
Galdino (2005).
Já Freire (2003) se mostra defensor da idéia de que as escolinhas de
futebol devem ensinar as crianças através de brincadeiras, não apenas repetindo o
que é ou era feito nas ruas, mas sim, pedagogizando a cultura das brincadeiras de
bola com os pés: [...] rua e escola são instituições bem diferentes. Há, na pedagogia
de rua, diversas coisas que não gostaria de ver repetidas na escola...” (p. 7). Neste
sentido, a concretização desta proposta, esta respaldada por especialistas que
teorizam a aprendizagem, segundo a linha construtivista25. O autor destaca quatro
princípios pedagógicos que norteiam todo processo de ensino aprendizagem no
futebol, resgatando a ludicidade e criando espaço para utilização da cultura popular
infantil.
24 O autor almeja dar ao futebol, todo sentido social que dele pode extrair, ensinando a perder e a
ganhar, a lidar com a vitória e com a frustração, habilidades que, quando assimiladas, só fazem o
homem ser mais feliz e ajustado.
25. O conhecimento é construído nas relações entre o sujeito e seu meio ambiente.
51
26. Relação permanente entre teoria e prática. Percebo uma constante necessidade dos professores
de Educação Física teorizarem suas práticas e ao mesmo tempo praticarem suas teorias.
52
“Antes que planejemos nossa aula, a vida nos planejou. Os professores são
mais que os livros que leram, os discursos que ouviram, as correntes
pedagógicas que se impuseram”.
integralmente, de preparar a criança para ser feliz e contribuir para a felicidade das
demais.
De fato, o “aprender a ser” revela a preocupação da educação esportiva com
o desenvolvimento pleno do ser humano, isto é, com a possibilidade dele saber sentir,
pensar e agir de forma integrada, sem causar tanto caos e desequilíbrio na sociedade.
Para contemplar nosso objeto de estudo, se faz necessário pensar em uma
“educação esportiva” que possibilite o desenvolvimento humano, pois nos interessa
identificar e analisar as práticas pedagógicas de professores em escolinhas de futebol,
buscando estabelecer uma concepção de desenvolvimento humano voltada para
evolução.
A educação esportiva carece de uma evolução no sentido de vincular o
processo de desenvolvimento humano às práticas pedagógicas de professores em
escolinhas esportivas. Até que ponto, a educação esportiva utilizando o futebol como
agente de inclusão social, pode apresentar um salto qualitativo alicerçado pelas
teorias do Desenvolvimento Humano?
O esporte é um poderoso fator de desenvolvimento humano, num sentido
mais amplo, porque contribui de forma decisiva para formação física e intelectual
dos indivíduos. Valores como solidariedade, respeito ao próximo, tolerância, sentido
coletivo, cooperação, disciplina, capacidade de liderança, respeito às regras e
noções de trabalho em equipe, são fundamentais para formação do cidadão.
(WILPERT, 2005)
A socialização deve ser entendida pelo processo através do qual um
indivíduo se torna membro funcional de um grupo social, assimilando características
e hábitos desse grupo, assimilando também a cultura presente no grupo social em
que se insere. É um processo interminável, que começa pela assimilação dos
hábitos, dos gestos, das falas dos membros do grupo com o qual queira se
sociabilizar e se realiza através da comunicação e da adesão aos costumes deste
mesmo grupo. (GOELLNER, 2009).
Quando nos reportamos ao termo inclusão, refletimos sobre o direito de
convivência das pessoas que se afastam do padrão dominante, em diferentes
espaços, independente das diferenças face ao padrão.
De acordo com Wilpert (2005) a inclusão social se apresenta como um
processo de atitudes afirmativas, pública e privada, no sentido de inserir no contexto
social mais amplo todos aqueles grupos e populações excluídas. Ou seja, devemos
58
entender a inclusão como processo oposto à exclusão. Não basta construir teorias
para induzir ações transformadoras, pois uma das dimensões do processo de
inclusão social é a educação esportiva, ou seja, é necessário oportunizar a prática
esportiva, nas escolinhas esportivas, sejam elas sociais, comerciais ou formativas.
Então, constata-se que a inclusão social é o compromisso fundamental,
norteador de ações pedagógicas, e a partir desta, toda e qualquer manifestação e
divulgação da cultura corporal de movimento. Para isso é preciso que se adote uma
perspectiva metodológica de ensino aprendizagem que busque o desenvolvimento
da autonomia, a cooperação, a participação social e a afirmação de valores e
princípios democráticos.
Desta forma, se a inclusão significa garantia dos direitos do cidadão, se a
prática do futebol é utilizada intensamente para o lazer, sendo o lazer um direito do
cidadão, pode-se pressupor que o futebol tem um grande potencial de inclusão
social. (WILPERT, 2005). Neste sentido, pensando nas escolinhas como um
caminho para tomada de consciência para inclusão social, pergunta-se: qual é o
público alvo de tal educação inclusiva através do esporte nas escolinhas de futebol?
Incluir socialmente significa garantir a participação do indivíduo em todo e
qualquer ambiente que o cerca. Portanto, sendo as escolinhas de futebol, um
espaço contextual de ensino do futebol, apresenta-se como uma possibilidade
bastante interessante para o exercício da inclusão, da oportunidade, da garantia dos
direitos para todos, não só nas escolinhas sociais, mas também nas comerciais e
formativas de acordo com as dimensões estabelecidas em nossa pesquisa.
A educação esportiva pautada pelo processo de Desenvolvimento
Humano, deve estar alicerçada por princípios educacionais que ressaltem o auto-
conhecimento, o auto-controle, o respeito a diversidade28, enfim, o desenvolvimento
bio-psico-social.
Pensamos em uma educação esportiva, que também busque o auto-
desenvolvimento. O auto-desenvolvimento impulsiona o desenvolvimento do outro,
da comunidade, do individuo, da coletividade, até porque, não é possível se
conceber o indivíduo no seu isolamento absoluto, sem que haja interação ao menos
consigo próprio. É certo que o indivíduo vive em constante interação e suas ações
28 Termo utilizado para fazer referencia as diferenças existentes entre as pessoas, tais como as
diferenças culturais, de gênero, étnicas, raciais, religiosas, de geração, de inserção social, e de
situação econômica, entre outras. (GOELLNER, p. 10, 2009)
59
“O menino brasileiro aprende cedo a amar a bola e a ser fiel a ela. Nesse
amor – ou nessa fidelidade – o presente e o futuro do futebol brasileiro”.
29 [...] combina perguntas fechadas (ou estruturadas) e abertas, onde o entrevistado tem a
possibilidade de discorrer sobre o tema proposto, sem respostas ou condições prefixadas pelo
pesquisador” (MINAYO, 2004, p. 108)
.
63
Foi verificado que esta escolinha não possui sede própria, além disso, é
vinculada a um projeto de uma Organização Não Governamental (ONG), que
estabeleceu uma relação de parceria com o clube. Seus alunos (cerca de 60: 45 do
sexo masculino e 15 do sexo feminino), não pagam mensalidade e em grande
maioria residem nas proximidades do bairro, estudam em escolas públicas e
apresentam baixo poder aquisitivo.
As aulas acontecem às segundas, quartas e sextas (turnos matutino e
vespertino), com duração de 1h30min. As atividades são desenvolvidas numa
quadra poli - esportiva às segundas e quartas-feiras e ministradas por um professor
de Educação Física, que é ex-atleta amador de futebol com experiência de cinco
anos como professor da escolinha. As sextas-feiras acontecem às aulas de
Formação para Cidadania, que são coordenadas por um psicólogo, assistido por um
grupo de alunos de uma IES privada de Salvador.
A escolinha não estabelece divisões por categoria e sexo. Meninos e
meninas, de oito aos 14 anos participam conjuntamente das atividades. O projeto
pedagógico traz como principais objetivos a possibilidade de inclusão social,
oportunidade de lazer e formação do cidadão.
A escolinha não participa de competições externas. Ao final do ano é
realizada uma competição interna, com regras adaptadas que contemplam a filosofia
do trabalho pedagógico desenvolvido pelo professor e o psicólogo.
65
Esta escola pesquisada não possui sede própria. Contempla uma iniciativa
privada que aluga os espaços do clube para suas atividades. Seus alunos (cerca de
120: 90 do sexo masculino e 30 do sexo feminino), pagam mensalidade; 10% das
vagas são destinadas a crianças carentes.
As aulas acontecem ás terças e quintas (turnos matutino e vespertino),
com duração de 1h30min. As atividades são desenvolvidas num campo de grama
sintética e ministradas por dois professores de Educação Física, que são ex-atletas
amadores de futebol, ambos com experiência de mais de três anos como
professores da escolinha.
A escolinha é organizada em cinco categorias, segundo as faixas etárias:
quatro a seis anos, sete a 10 anos, nove aos 12 anos, 13 aos 15 anos. O projeto
pedagógico traz como principal objetivo, a formação do cidadão.
A escolinha participa de competições externas, entretanto todos participam
dos jogos.
66
A questão social agente acaba misturando, dos oito aos 14 anos, meninos e
meninas juntos. Agente faz algumas adaptações às regras, que possibilitam a
participação das meninas. (Sujeito 1).
30 Ver detalhes sobre as características da pesquisa documental, na obra organizada por Rocha et
al (2008).
68
distintas, além de unir meninos e meninas num mesmo espaço. (KUNZ, 2005).
Contudo a viabilidade para tal deve ser estudada com critérios e algumas
adaptações. Nessa mesma linha de pensamento o sujeito 1 completa:
Nos jogos, cada aluno participa no máximo cinco minutos continuadamente, depois
tem que dar o lugar a outro colega. Só menina chuta de fora da área, os meninos só
chutam de dentro.
Controlamos muito, as divisões por idade para evitar problemas. Aqui não temos
meninas. Sujeito 2
Ás vezes temos um menino com certa idade, que é meio bororó, ai a gente bota
numa categoria mais baixa. (Sujeito 3)
Os pais que mais comparecem as aulas são dos filhos mais bem comportados.
Esses não fazem muitas cobranças em termos de rendimentos técnicos. (Sujeito 1).
69
O que preocupa mais a gente são os pais. O menino não consegue chutar a bola...
ele acha que consegue. Sujeito 2
O grande problema das escolinhas são os pais. Chega aqui o filho do barão com o
pai cheio de expectativa. O ideal seria juntar a cabeça do pai com a força do filho.
Sujeito 3
Muitos pais depositam suas frustrações nos “ombros” dos filhos. Querem
ver as crianças se destacando. Esse tipo de pressão pode afetar, o prazer de
jogar/brincar das crianças. Níveis de desenvolvimento devem ser respeitados. Um
bom rendimento está condicionado não só a fatores biológicos, mas a fatores
psicológicos e sociais. Os pais também são responsáveis pela sedução
proporcionada pelo mundo da bola. As cobranças devem ser evitadas. Pensamos
que os pais devem fomentar a busca pela auto-superação e os professores devem
se configurar como articuladores deste processo.
O trato pedagógico com a competição é outro ponto que merece destaque
em nosso estudo. De fato temos percepções distintas dos sujeitos da pesquisa.
Essa constatação fica muito clara, quanto ao posicionamento dos sujeitos. O sujeito
1, diz que:
Muitas vezes, os meninos não querem a presença dos pais nas competições. Tento
trabalhar a cabeça deles, mas percebo o nervosismo de muitos. Parece que abola
começa a queimar nos pés deles (Sujeito 2)
O mirrado tem que ser excelente para jogar. O futebol tem uma dinâmica só, é matar
ou morrer. Eles sabem que tem que jogar tudo o que sabem. Hoje agente vê vários
jogadores profissionalizados que passaram pela mão da gente. Foram observados
nas competições.(Sujeito 3).
31 Muitas crianças têem dificuldades de lidar com o extresse provocado pelas cobranças durante
competições esportivas. Weineck (1999), nos traz valiosas contribuições para compreensão dos
aspectos relacionados à competição esportiva.
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Se você for olhar, utilizamos uma pedagogia que busca a formação do cidadão.
(Sujeito 2).
O menino tem a oportunidade de sair do vazio. O esporte tira o menino do vício... tira
mesmo. Já imaginou quanto menino que fazia coisa que não presta, acabou
gostando de jogar bola. Isso é muito bom (Sujeito 3).
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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ARAÚJO, Marco Aurélio Santo de. O trabalho de futebol nas divisões inferiores.
Revista Educação Física, [s.l.], 1993.
DE PAULA, Héber Eustáquio E.. Sobre os Dadás, o esporte e o lúdico. In: SOUZA,
E. S.; VAGO, T. M.(orgs.). Trilhas e partilhas: educação física escolar e nas
práticas sociais. Belo Horizonte: Cultural, 1997.
GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. São Paulo: Ática, 2002.
GARGANTA, Júlio. Para uma teoria dos jogos esportivos coletivos. In: GRAÇA, A.;
OLIVEIRA, J. (orgs.). O ensino dos jogos coletivos. 2. ed. Porto: Universidade do
Porto, 1995.
HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo:
Perspectiva; EDUSP, 1974.
MELO, Ricardo. Silva de. Trabalhos técnicos para futebol. 2. ed. Rio de Janeiro:
Sprint, 2002.
MURAD, Mauricio. Futebol e violência no Brasil. In: ______. Futebol: síntese da vida
Brasileira. Rio de Janeiro: UERJ, 1996.
SCAGLIA, José Alcides. Escola de futebol: uma prática pedagógica. In: NISTA-
PICCOLO, V. L. (org). Pedagogia dos Esportes. Campinas: Papirus, 2005.
TOLEDO, Luis Henrique de. No país do futebol. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
VENLIOLES, Fábio Motta. Escola de futebol. 2. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2004.
______. Educação física: novos olhares sobre o corpo. In: SOUZA E. S; VAGO T.
M. Trilhas e partilhas: educação física escolar e nas práticas sociais. Belo
Horizonte: Cultural, 1997.
APÊNDICES
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Prezados Senhores:
Categorias de análise:
I – Infraestrutura institucional;
II – Capacitação técnica – científica dos professores;
III – Organização Pedagógica;
IV – Metodologia utilizada nas aulas
B – A Sede da escola é:
E – Já fez algum curso de capacitação específico para atuar com iniciação esportiva
em escolinhas de futebol?
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84
Sim ( ) Não ( )
PROFESSORES
DURAÇÃO
QUESTÕES GERADORAS
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
METODOLOGIA
RECURSOS DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS
87
PROPOSTA DE AVALIAÇÃO
CONSIDERAÇÕES E COMETÁRIOS
REFERÊNCIAS
ASSINATURA DO PROFESSOR
88
iuri.nascimento@uol.com.br