Michele Serafim
Michele Serafim
Michele Serafim
CAMPO GRANDE - MS
2023
MICHELE SERAFIM DOS SANTOS
CDD: 371.104
O BEM-ESTAR/ MAL-ESTAR DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NA
PANDEMIA DA COVID 19: AS PRÁTICAS E DESAFIOS COMO
ARTICULADOR, FORMADOR E TRANSFORMADOR
À minha mãe, Maria da Conceição Serafim dos Santos (in memoriam). A tudo que a
senhora representou: sua persistência, sua simplicidade, sua dignidade, sua garra, sua força, seu
amor, sua alegria infinita e a luz de seu sorriso que infelizmente se apagou. Amo-te eternamente.
Ao meu pai, Antônio Lobo dos Santos, pois tudo que consegui só foi possível porque me
ensinou a agir com respeito e honestidade. Agradeço pela compreensão com minha ausência.
AGRADECIMENTOS
The research with the theme “The dimensions of work and the well-being/ discomfort of the pedagogical
coordinator” was carried out in the Postgraduate Program in Education at Dom Bosco Catholic
University, linked to the research line “Práticas Pedagógicas e suas Relações com a Formação Docente”
and to the “Grupo de Estudos e Pesquisa Formação, Trabalho e Bem-estar Docente (GEBem/CNPQ)”.
The concern here is about the pedagogical coordinator’s work at the educational state system of Mato
Grosso do Sul, having as main questioning if the coordinators carry out actions of articulation,
transformation and formation in their daily life in the school unit. To guide this investigation, the
problem described was driven by the following questions: What are the challenges faced by pedagogical
coordinators in everyday school life? What are the developed practices in relation to the three
dimensions of the function: articulator, trainer and transformer? Do these practices contribute to the
well-being/discomfort of pedagogical coordinators? This research has the main goal of analyzing the
practices carried out, the challenges faced and the well-being/discomfort of pedagogical coordinators in
contemporary schools and was unfolded in the following specific objectives: 1. Identify and discuss the
challenges the pedagogical coordinators face when performing their duties at school; 2. Identify and
understand the practices they have developed in relation to the three dimensions of the pedagogical
coordinator's role: articulator, trainer and transformer; 3. Analyze whether these practices contribute to
the well-being/discomfort of pedagogical coordinators. The qualitative research had as participants the
pedagogical coordinators from three state schools who work in the city of Jardim in the state of Mato
Grosso do Sul in the year 2021. Data collection took place in two stages: in the first, a questionnaire was
applied, created in the Google Forms application and sent through a link to the coordinators' WhatsApp,
and, in the second moment, semi-structured interviews were carried out, respecting biosecurity
measures, recorded through Google Meet app video calls. The analyzes were also carried out in two
moments. At first, to analyze the questionnaires, descriptive statistics were used, which made it possible
to identify the professional profile and to understand the actions carried out by relating them to the three
dimensions of their performance. Next, the interviews were transcribed, categorized, articulated and
interpreted, using the content analysis technique (Bardin, 1977), which allowed analyzing whether the
practices and challenges experienced by the pedagogical coordinators promote their well-
being/discomfort. The results showed that pedagogical coordinators perform diverse functions, interact
with the entire school community and are able to contribute to the success of the team. The results also
pointed out that due to the deviation of function, lack of proper territory of action in the school
environment, absences of continued education, bureaucratized work routine, imposition of projects of
the Department of Education and the fragility of procedures for the accomplishment of collective works,
the performance of pedagogical work is impaired, failing to meet demands such as collective planning,
teacher training and actions that strengthen the teaching and learning process of students.
QUADRO 4 – Questionários..................................................................................................... 46
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 17
CAPÍTULO I – O COORDENADOR PEDAGÓGICO NO BRASIL,
DE 2009 A 2019 ............................................................................................................ 22
1.1 - Apresentação das teses selecionadas ..................................................................... 24
1.2 - Regiões e instituições das teses analisadas ............................................................. 26
1.3 - Temática das pesquisas ........................................................................................... 27
1.4 - Nuvem de palavras: palavras-chave das produções encontradas........................... 32
CAPÍTULO II – PERCURSO METODOLÓGICO .................................................. 34
2.1 – Percurso metodológico – uma abordagem qualitativa .......................................... 36
2.2 – Descrição do ambiente – campo empírico ............................................................. 38
2.3 – Participantes da pesquisa ....................................................................................... 43
2.4 – Instrumentos utilizados .......................................................................................... 45
2.4.1 – Questionário......................................................................................................... 46
2.4.2 – Entrevista............................................................................................................. 59
CAPÍTULO III – UM PANORAMA HISTÓRICO SOBRE O COORDENADOR
PEDAGÓGICO NAS ESCOLAS BRASILEIRAS ..................................................... 54
3.1 – Quem são os coordenadores pedagógicos nas escolas brasileiras? ....................... 56
3.2 – A trajetória da função de coordenador pedagógico nas escolas da Rede Estadual
de Ensino de Mato Grosso do Sul ................................................................................... 61
CAPÍTULO IV – O TRABALHO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO: DAS
DIMENSÕES DE ATUAÇÃO AO BEM-ESTAR/MAL-ESTAR ........................... 66
4.1 – O trabalho e os desafios do coordenador pedagógico ........................................... 68
4.2 – O coordenador pedagógico como articulador ........................................................ 72
4.3 - O coordenador pedagógico como formador ........................................................... 75
4.4 – O coordenador pedagógico como transformador ................................................... 79
4.5 – O Bem-estar/Mal-estar do coordenador pedagógico ............................................. 80
4.5.1 – A atividade laboral: o trabalho e suas tarefas ..................................................... 81
4.5.2 – As relações interpessoais: o trabalho e suas relações ......................................... 83
4.5.3 – As condições sociais e econômicas ..................................................................... 84
4.5.4 – As condições físicas e de infraestrutura do ambiente escolar ............................. 85
CAPÍTULO V – UM MERGULHO NAS FUNÇÕES E DESAFIOS DAS
COORDENADORAS: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS QUESTIONÁRIOS E
ENTREVISTAS ............................................................................................................ 87
5.1 – Perfil profissional, atuação e rotina das coordenadoras participantes da pesquisa 87
5.2 – Entrevistas: apresentação dos resultados e análises ............................................. 96
5.2.1 – Nuvem de Palavras e gráfico produzido a partir das entrevistas......................... 97
5.3 – Contextualização do ambiente de trabalho.............................................................. 99
5.4 – Refletindo sobre as percepções de satisfação e insatisfação com o trabalho das
coordenadoras pedagógicas............................................................................................. 101
5.4.1 – A satisfação na função de Articulador ................................................................ 102
5.4.2 – A insatisfação na função de Articulador ............................................................. 110
5.4.3 – A insatisfação na função de Formador ................................................................ 115
5.4.4 – A satisfação na função de Transformador .......................................................... 120
5.4.5 – A insatisfação na função de Transformador ....................................................... 121
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 124
7. REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 129
8. APÊNDICES ............................................................................................................. 141
Apêndice A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ......................................... 141
Apêndice B – Questionário ............................................................................................. 143
Apêndice C – Roteiro para Entrevista Semiestruturada ................................................. 146
Apêndice D – Quadro: As insatisfações como articuladoras .......................................... 147
Apêndice E – Quadro: As insatisfações como formadoras ............................................. 151
Apêndice F – Quadro: As insatisfações como transformadoras ..................................... 153
Apêndice G – Quadro: As satisfações como articuladoras ............................................. 154
Apêndice H – Quadro: As satisfações como transformadoras ........................................ 160
9. ANEXOS .................................................................................................................... 162
Anexo A - Carta de solicitação de autorização de pesquisa............................................ 162
Anexo B - Carta com autorização de pesquisa: SED/MS...................................................... 163
Anexo C - Autorização da pesquisa na escola estadual 1.................................................. 164
Anexo D - Autorização da pesquisa na escola estadual 2.................................................. 165
Anexo E - Autorização da pesquisa na escola estadual 3................................................. 166
INTRODUÇÃO
Venho para o doutorado em busca de respostas para minhas inquietações, pois não aceito
ser apenas uma coordenadora que abre portas, que liga o computador, que olha o relógio, que
chega para trabalhar às 13 horas, que vai lá fora, que aponta lápis, que ouve o sino etc. etc.
Inicio esta pesquisa afirmando “o gostar” de atuar na coordenação pedagógica e na área
de formação de professores, com a confiança de que encontrei o que realmente amo fazer,
portanto, procuro destacar que sua importância também deve ser considerada a partir do
encantamento pelo que faço e estudo.
Assim, busco respostas para compreender melhor o trabalho do coordenador
pedagógico, de modo que seja possível implementar melhorias em sua atuação. Sobre meu
trabalho como pesquisadora, destaco que “não consiste apenas em conhecer”, mas aprofundar
e refletir “esse conhecimento e fazer o possível para repensar os problemas, tendo em conta a
possibilidade de desenvolver alguma reflexão nova” (IANNI, apud BITTAR, 2011, p. 422).
O coordenador pedagógico é um profissional que exerce múltiplas tarefas e enfrenta
desafios diversos, pois suas ações perpassam toda a comunidade escolar, tendo que coordenar
as demandas de professores, alunos, gestão, famílias e sistema de ensino. Para compreender sua
rotina profissional e seu bem-estar/mal-estar, apresento o tema desenvolvido: “As dimensões
do trabalho e o bem-estar/mal-estar do coordenador pedagógico”.
Enfatizo três inquietações que deram origem a esta pesquisa:
A primeira surgiu quando me tornei coordenadora pedagógica pela primeira vez. Desde
então, penso na (des)construção de minha trajetória profissional, pois a licenciatura, as
especializações e o mestrado em linguagem não me deram conhecimentos suficientes para
18
exercer, com domínio, a nova função; pelo contrário, senti muitas vezes que, em minha função,
a cada dia era mais uma superação. O fato de ter atuado como coordenadora pedagógica e
formadora de coordenadores foi a motivação pessoal, pois Hume (2004, p. 36) afirma que
“todas as nossas ideias, ou percepções mais tênues, são cópias de nossas impressões, ou
percepções mais vívidas”. Nesse sentido, “o hábito é, assim, o grande guia da vida humana. É
só esse princípio que torna nossa experiência útil para nós” (HUME, 2004, p. 77).
A segunda inquietação aponta para a relevância do coordenador no cotidiano escolar, o
fato de que lhe são exigidas inúmeras funções e a importância de seu processo formativo, além
do seu papel como formador de professores e mediador do processo pedagógico.
A terceira inquietação advém dos resultados obtidos na revisão de literatura, pois não
foram localizados, nas plataformas exploradas, estudos sobre o bem-estar do coordenador
pedagógico que atua em escolas da educação básica. Nesse movimento, em busca de respostas
para os desafios vividos, busco contribuir para que estes profissionais exerçam seu trabalho
atendendo às demandas e se fortaleçam como articuladores, formadores e transformadores.
Esta pesquisa justifica-se pela necessidade em pesquisar um público singular, com vistas
a compreender especificidades de seu trabalho, suas contribuições para o funcionamento das
escolas, sua formação, sua interação com a comunidade escolar e o seu bem-estar. O problema
aqui abordado versa sobre o trabalho do coordenador pedagógico na Rede Estadual de Ensino
de Mato Grosso do Sul, tendo como questionamento principal se os coordenadores exercem
ações de articulação, transformação e formação em seu cotidiano na unidade escolar. Para
orientar essa investigação, a problemática descrita foi impulsionada pelas seguintes questões:
Quais os desafios enfrentados no cotidiano escolar? Quais as práticas desenvolvidas
relacionadas às três dimensões da função: articulador, formador e transformador? Essas práticas
contribuem para seu bem-estar/mal-estar?
Visando responder aos questionamentos acima, os objetivos ficaram assim delineados:
● Objetivo geral: analisar as práticas realizadas, os desafios enfrentados e o bem-
estar/mal-estar dos coordenadores pedagógicos na escola contemporânea.
Isso se desdobra nos seguintes objetivos específicos:
● Identificar e discutir os desafios enfrentados pelos coordenadores pedagógicos para
exercerem suas funções na escola;
● Identificar e compreender as práticas desenvolvidas relacionadas às três dimensões
da função do coordenador pedagógico: articulador, formador e transformador;
● Analisar se essas práticas contribuem para o bem-estar/mal-estar dos coordenadores
pedagógicos.
19
1
A Resolução CNS n. 466, de 2012, substituiu o termo “sujeito de pesquisa” (previsto na Resolução CNS n.
196, de 1996) por “participante da pesquisa”. Contudo, o termo antigo é ainda frequentemente encontrado nos
termos de consentimento. Entende-se que a terminologia adotada pela Resolução CNS n. 466 deva ser
empregada em todos os documentos do protocolo de pesquisa, incluindo o TCLE. As orientações são
encontradas no link:
http://conselho.saude.gov.br/images/comissoes/conep/documentos/PLATAFORMA_BRASIL_MANUAIS/3_-
_Guia_de_Perfis.PDF.
20
CAPÍTULO I
O COORDENADOR PEDAGÓGICO NO BRASIL, DE 2009 A 2019
por “bem-estar do coordenador pedagógico”, mas não foi localizada nenhuma tese nas
plataformas pesquisadas.
A maioria desses estudos faz referência à identidade do coordenador, ao contexto
histórico e legal no qual se desenvolve essa função e à formação e à sua importância no
cotidiano escolar como mediador dos processos formativos dos professores. Segundo Souza &
Placco (2017, p. 13), trata-se “de um profissional que desempenha múltiplas atividades, que
assume múltiplos papéis, que enfrenta desafios diversos, tendo de responder às demandas de
professores, alunos, famílias e sistema de ensino”. No entanto, ainda não há pesquisas que
abordem questões relacionadas ao seu bem-estar.
Ao se estruturar um capítulo com o estado do conhecimento sobre essa temática,
pretendemos evidenciar um campo de pesquisa a ser explorado em estudos posteriores, pois
segundo Francelino (2021, p. 30) “o estado do conhecimento, deve ser a primeira tarefa de um
pesquisador com o desafio de proporcionar o ineditismo de um trabalho”, além de contribuir
para que os próprios coordenadores, uma vez tendo contato com este trabalho, pensem sobre o
seu papel e busquem práticas que favoreçam o fortalecimento do desempenho de suas funções,
visando a seu bem-estar.
O atual cenário das escolas brasileiras fez surgir em alguns estados, como em Mato
Grosso do Sul, o papel do professor que assume a função de coordenador, o que requer uma
formação continuada para que ele possa, então, contribuir de maneira efetiva nas demandas que
sua função exige. Nesse sentido, Paulo Freire ressalta que “um dos programas prioritários (...)
é o de formação permanente dos educadores, por entender que os educadores necessitam de
uma prática político-pedagógica séria e competente que responda à nova fisionomia da escola
que se busca construir” (FREIRE, 2001, p. 80).
Para contemplar os objetivos e a problematização levantados nesta pesquisa, este
capítulo divide-se nos seguintes subtítulos: “Apresentação das teses selecionadas”, em que as
produções acadêmicas selecionadas para análise são estruturadas em tabelas, ressaltando a
quantidade de estudos; “Da análise quantitativa – foco nas regiões e instituições”, em que se
busca evidenciar, em gráficos, em quais regiões e instituições encontram-se estas teses;
“Temáticas das pesquisas”, no qual se realizou uma classificação por categorias de acordo com
as temáticas abordadas; e “Nuvem de palavras: palavras-chave das produções encontradas”,
apresentando as palavras-chave mais utilizadas.
24
12
10
8
6
4 3 3
2 1
0
0
SUDESTE NORDESTE SUL CENTRO-OESTE NORTE
Regiões do Brasil
O maior número de teses provém do Sudeste, com destaque para quatro da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, quatro da Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho - UNESP e três da Universidade de São Paulo - USP, conforme o Gráfico 2.
Observa-se ainda que 14 (58,3%) foram produzidas e/ou publicadas no estado de São Paulo,
sendo algumas da mesma instituição e tendo o mesmo orientador.
No Centro-oeste foi encontrada somente uma tese, publicada pela Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul - UFMS, que trata da especificidade de coordenação pedagógica para
escola de tempo integral da rede municipal de ensino de Campo Grande - MS.
27
4,5 4 4
4
3,5 3
3
2,5 2 2 2
2
1,5 1 1 1 1 1 1 1
1
0,5
0
Interação 1
Habilidades Sociemocionais 1
Indisciplina 1
Leitura 1
Educação Ambiental 1
Aspectos históricos e legais 2
Mediação 2
Práticas do Cotidiano 4
Formação 11
0 2 4 6 8 10 12
Quantidade de teses
A nuvem foi construída por meio de um aplicativo on-line2 e foram utilizadas todas as
palavras-chave dos textos analisados, totalizando 232 expressões. Mediante o exposto,
observamos maior incidência dos seguintes termos: formação, educação, coordenação,
pedagógica, coordenador, professores, escolar, profissional, coordenadores, ensino, docente,
educacionais e contínua. Ressaltamos que a ênfase na palavra “formação” aponta para um maior
número de pesquisas voltadas para esse tema. Não houve ênfase e incidência de palavras
relacionadas ao bem-estar do coordenador pedagógico, como felicidade e satisfação, mas
ressaltamos que as palavras emoção e afetividade aparecem uma vez e que, para a produção do
gráfico, foram utilizadas aquelas que atingiram no mínimo três repetições, como demonstrado
no gráfico 4, a seguir:
2
www.wordcloud.com: ferramenta on-line de criação de nuvem de palavras.
33
A busca eletrônica dos textos abrangeu o período de 2009 a 2019, a partir das palavras-
chave “coordenador pedagógico”, “coordenação pedagógica” e “bem-estar do coordenador” e
resultou na localização de 255 teses, das quais foram selecionadas 24, que tinham como foco o
trabalho do coordenador na educação básica (ensino fundamental e médio). Essas 24 teses
foram analisadas e categorizadas quanto as regiões e as instituições de ensino superior onde
foram desenvolvidas, constatando-se que a maioria das pesquisas foi desenvolvida na região
sudeste, sendo a UNESP e a PUC-SP as instituições com maior número de trabalhos.
Assim, com exceção da tese de Buczenko (2017), que expõe questões específicas da
educação ambiental em escola do campo, as demais foram utilizadas para embasar teoricamente
esta pesquisa, pois convergem com esse estudo sobre o cotidiano do coordenador pedagógico,
abordando a formação, mediação, práticas, interação e aspectos legais com abordagens
diferenciadas, colaborando teoricamente para a análise dos objetivos aqui propostos.
A partir das análises desenvolvidas, constatamos que não há registro de teses que
enfoquem o bem-estar do coordenador pedagógico frente a seu trabalho com os professores, a
partir do que destacamos a importância de pesquisar sobre essa temática, pois isso contribui
tanto para a melhoria da qualidade de vida no trabalho quanto do próprio trabalho desenvolvido.
Desse modo, esta pesquisa torna-se pioneira por apresentar o bem-estar/mal-estar no trabalho
do coordenador pedagógico como articulador, formador e transformador em contexto
pandêmico.
34
CAPÍTULO II
PERCURSO METODOLÓGICO
3
Em 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre vários casos de
pneumonia na cidade de Wuhan, província de Hubei, na República Popular da China. Tratava-se de uma nova
cepa (tipo) de coronavírus que não havia sido identificada antes em seres humanos. Em 7 de janeiro de 2020, as
autoridades chinesas confirmaram que haviam identificado um novo tipo de coronavírus (segunda principal causa
de resfriado comum, que até as últimas décadas, raramente causavam doenças mais graves em humanos do que o
resfriado comum). Em 30 de janeiro de 2020, a OMS declarou que o surto do novo coronavírus constitui uma
Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional – o mais alto nível de alerta da Organização, conforme
previsto no Regulamento Sanitário Internacional. Essa decisão buscou aprimorar a coordenação, a cooperação e a
solidariedade global para interromper a propagação do vírus. Em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi
caracterizada pela OMS como uma pandemia. Disponível em:https://www.paho.org/pt/covid19/historico-da-
pandemia-covid-19.
36
das tecnologias, pois inúmeros recursos, como aplicativos de conversas, e-mail, ligações
telefônicas, videochamadas e questionários on-line fizeram com que a distância fosse
minimizada.
No entanto, destacamos que a receptividade, o compromisso e o respeito também foram
importantes, pois os coordenadores pedagógicos participantes e os diretores cooperaram e
colaboraram para o sucesso da coleta de dados por meios de diversificados instrumentos.
Discutir um problema de pesquisa, para Laville & Dionne (1999, p. 100), é observar o
ambiente investigado, de forma atenta e crítica, para ver se nele não se percebe “uma situação
que cause problema, situação que a pesquisa permitiria compreender e eventualmente
modificar”. Segundo Costa, Lima e Pereira (2016),
Portanto, ao se referir a esse tipo de pesquisa, nos dizeres de Gaskell (2002), é preciso
levar em consideração a compreensão dos mundos da vida dos entrevistados e de grupos sociais
especificados é a condição sine qua non da entrevista qualitativa. Tal compreensão poderá
contribuir para um número de diferentes empenhos na pesquisa. Poderá ser um fim em si mesmo
o fornecimento de uma “descrição detalhada” de um meio social específico; pode também ser
empregada como uma base para construir um referencial para pesquisas futuras e fornecer
dados para testar expectativas e hipóteses desenvolvidas fora de uma perspectiva teórica
específica (GASKELL, 2002, p. 65).
Segundo esse autor, o objetivo da entrevista qualitativa “é uma compreensão detalhada
das crenças, atitudes, valores e motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em
contextos sociais específicos”, pois pode desempenhar um papel vital na combinação com
outros métodos e ainda “fornece os dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das
relações entre os atores sociais e sua situação” (GASKELL, 2002, p. 65).
A coleta de dados foi organizada em duas etapas: aplicação de questionário e de
entrevista semiestruturada. O objetivo da primeira foi investigar e coletar subsídios para a
análise e, para tanto, foi aplicado questionário (apêndice B), a fim de delinear o perfil
profissional dos participantes e investigar a atuação e a rotina do coordenador pedagógico em
seu cotidiano dentro de uma escola pública de educação básica regular, compreendendo as
ações exercidas e relacionando-as às três dimensões de sua atuação. A segunda etapa, de
entrevistas (apêndice C), teve o intuito de analisar se as práticas e os desafios vividos pelos
coordenadores pedagógicos promovem o seu bem-estar/mal-estar.
Esclarecemos que o termo de autorização de realização desta pesquisa foi solicitado por
carta assinada pelo coordenador do Programa de Pós-graduação em Educação da UCDB e pela
orientadora deste estudo (Anexo A), enviada em anexo ao projeto de pesquisa para o e-mail da
Coordenadoria de Formação Continuada (CFOR/SED), setor responsável pela aprovação das
38
4
Informações disponíveis em: https://www.guiadoturista.net/america-do-sul/brasil/mato-grosso-do-sul/jardim-2.
39
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Jardim,_Mato_Grosso_do_Sul
Fonte: https://www.sed.ms.gov.br/wp-content/uploads/2020/03/Manual-do-Diretor-V07.pdf.
5
As descrições das escolas foram baseadas nos dados disponíveis no Portal de Sistemas da SED/MS.
Disponível em: http://www.sistemas.sed.ms.gov.br/PortalSistemas/PPP.
41
Etapa Anos iniciais Anos finais Ensino Ensino AJA EJA Cursos
ensino ensino médio médio ensino ensino técnicos
Escola fundamental fundamental regular integral fundamental médio
Escola 1 X X X
Escola 2 X X X X X X
Escola 3 X X X
Fonte: elaborado pela autora
Destacamos que somente a Escola 3 oferta também ensino médio de tempo integral,
nomeado pela SED de “Escola da Autoria6”, implantado no município de Jardim em 2019, e
que consiste em uma jornada de 8 horas diárias, incluindo refeições. Além das disciplinas da
Base Nacional Curricular Comum (BNCC), há as eletivas e os estudantes frequentam curso
técnico em contraturno. Conta com a presença do coordenador geral e coordenadores de área.
Enfatizamos que o objetivo desta pesquisa é investigar o trabalho do coordenador pedagógico
das escolas regulares que atendem ao ensino fundamental e médio. Portanto, não foram
entrevistados os que fazem parte da Escola da Autoria, somente os que atendem a educação
básica em tempo regular.
Portanto, após contextualizarmos o ambiente desta pesquisa, perscrutarmos o município
e descrevermos um pouco da estrutura das escolas a serem investigadas, passaremos, no
subitem a seguir, a conhecer os participantes desta pesquisa.
6
Programa de oferta do Ensino Médio em Tempo Integral – EMTI, denominado Escola da Autoria, que tem como
proposta pedagógica a formação integral do jovem, estimulando não só o desenvolvimento da aprendizagem, mas
também das competências socioemocionais, por meio da ampliação do tempo de permanência na escola e do
oferecimento de componentes curriculares diferenciados, que articulam os conhecimentos da Base Nacional
Comum Curricular com uma Parte Diversificada pensada para atender ao jovem e ao seu projeto de vida.
Disponível em: https://www.cartasdeservicos.ms.gov.br/ensino-medio-em-tempo-integral-escola-da-autoria/.
43
Para manter o sigilo dos nomes das participantes, utilizaremos como nomenclatura
Coordenadora e letras do alfabeto para identificá-las. Desse modo, foram identificadas como
Coordenadora A, Coordenadora B, Coordenadora C, Coordenadora D, Coordenadora E,
Coordenadora F e Coordenadora G. As escolas serão mencionadas por números: Escola 1,
Escola 2 e Escola 3 (conforme já apresentadas no quadro 3, p. 42) para facilitar a leitura.
Sete coordenadoras responderam ao questionário no Google Forms on-line. Dentre
essas, somente uma atuava como coordenadora em duas escolas de diferentes redes, cinco
trabalhavam somente em uma escola e uma atuava como técnica na Secretaria de Educação de
município nos períodos matutino e vespertino e como coordenadora da REE no noturno.
Após as sete participantes responderem ao questionário, cinco aceitaram continuar
colaborando com a pesquisa, seguindo para a etapa da entrevista. Porém, relatamos que
questões pessoais e administrativas diminuíram o número para duas participantes
(Coordenadoras B e E).
Três coordenadoras (A, C e G) deixaram de atuar logo no início da coleta de dados, mais
precisamente após a aplicação do questionário e antes do início da etapa de entrevistas: a
Coordenadora G foi notificada que deveria aguardar em casa a finalização do processo de
aposentadoria; a Coordenadora A, por meio de conversa no WhatsApp, justificou que não faria
mais parte da REE, pois aceitara convite para atuar como coordenadora pedagógica na Rede
Municipal de Ensino, alegando que ganharia 30% a mais, o que será melhor discutido nas
análises dos dados; a Coordenadora C não participou da segunda etapa, pois teve que se afastar
da função por motivo de saúde;
A vaga da Coordenadora G, que aposentou, foi ocupada pela Coordenadora D, que teve
sua carga horária ampliada de 20 para 40 horas, conforme a legislação permite. Porém, ela já
havia informado que não continuaria a etapa da entrevista. A outra vaga (da Coordenadora A)
não foi preenchida.
A Coordenadora D e a Coordenadora F não aceitaram continuar na fase da entrevista,
justificando muito trabalho e pouco tempo disponível, pois atuavam 40 horas (dois períodos de
trabalho).
Assim, para a entrevista, tivemos a participação de 2 coordenadoras pedagógicas.
Apresenta-se, a seguir, o perfil delas.
Coordenadora B – 30 anos, formada em Educação Física, com especialização em
Educação Física Escolar, concluída em 2018. É professora efetiva e está na função há dois anos,
após participar do processo seletivo realizado em 2019. Foi professora/formadora e responsável
45
pela disciplina de Educação Física na CRE-7. Em 2021, atua no ensino fundamental I e II, nos
períodos matutino e vespertino na Escola 3.
Coordenadora E – 49 anos, professora efetiva, com especialização em Reengenharia
em Projetos Educacionais - Língua Portuguesa, concluída em 2007 (trabalha 60 horas
semanais). Licenciada em letras, foi diretora-adjunta por 6 anos, atua como coordenadora
pedagógica há dois anos, depois de ter participado do processo seletivo em 2019. Atende à
etapa do ensino médio, no período noturno, na Escola 2.
2.4.1 – Questionário
Foi elaborado um instrumento diagnóstico na forma de questionário (quadro 4, p. 46,
apêndice B), organizado em duas partes; a primeira visamos construir o perfil profissional das
respondentes, e a segunda buscamos identificar as práticas desenvolvidas pelas coordenadoras
pedagógicas em sua rotina na unidade escolar, num total de 45 questões. Havia ainda uma
última pergunta, na qual as participantes informavam se pretendiam continuar participando da
pesquisa, concedendo a entrevista, conforme descrição no quadro 4 (p. 46).
Esse instrumento foi elaborado no Google Forms, “ferramenta gratuita de criação de
formulários on-line disponível para qualquer usuário que possui uma conta Google e ainda pode
ser acessado em diversas plataformas, inclusive, por meio do celular” (MOTA, 2019, p. 371),
com respostas de múltiplas escolhas (Nunca, Às vezes, Sempre) e analisado com base na escala
de frequência (apêndice B). Mota (2019) aponta algumas características desse formulário:
Este questionário é um instrumento que faz parte da coleta de dados e aplicado aos
coordenadores pedagógicos. Na escola, o coordenador pedagógico exerce um papel estratégico
nas diversas instâncias que a permeiam. Considerando essa informação, assinale a alternativa
que melhor caracteriza o seu perfil profissional.
1. Nome
2. Endereço de e-mail
3. Idade
4. Qual(is) sua(s) graduação(ões)/licenciatura(s)?
5. Possui pós-graduação?
( ) Especialização ( ) Mestrado ( ) Doutorado
6. Em qual área fez sua pós-graduação? Em que ano obteve o título?
7. Quantos anos atuou como professora antes de assumir a função pela primeira vez?
( ) 1 a 2 anos ( ) 2 a 3 anos ( ) 3 a 4 anos ( ) mais de 5 anos
47
Parte II - Considerando essa informação, assinale a alternativa que apresenta, na sua opinião,
as funções que o coordenador da sua escola exerce:
Nunca Às vezes Sempre
Você motiva os professores a manterem o trabalho em
equipe, de modo a estimular, na comunidade escolar, a
aderência às propostas feitas pela gestão?
Você cuida da disciplina/indisciplina dos estudantes,
assumindo a postura de uma personagem apaziguadora da
escola?
Você avalia e acompanha o processo ensino/aprendizagem,
além dos resultados de desempenho dos estudantes?
Você valoriza a participação ativa dos professores,
oportunizando um trabalho que seja integrador e
produtivo?
Você organiza e escolhe os materiais necessários ao
processo de ensino/aprendizagem?
Você promove práticas inovadoras de ensino e incentiva a
utilização de tecnologias educacionais?
Você faz com que toda a comunicação entre professores,
gestores, estudantes e pais (comunidade escolar7) flua de
maneira funcional?
Você averigua se a conduta pedagógica dos docentes tem
beneficiado o processo de aprendizado dos discentes?
Você informa aos pais e responsáveis a situação escolar e
de relacionamento dos estudantes?
Na escola, você gerencia as dificuldades e problemas
surgidos no dia a dia?
Você promove a formação continuada aos professores?
Você contribui para a resolução de situações emergenciais
e conflitos, para que pequenos problemas sejam resolvidos
rapidamente, de forma que não prejudiquem o ambiente de
aprendizado?
Você apoia a gestão da instituição escolar e a
implementação do Projeto Pedagógico?
7
A comunidade escolar é formada por professores e profissionais que atuam na escola, por alunos matriculados
que frequentam as aulas regularmente e por pais e/ou responsáveis dos alunos.
48
2.4.2 – Entrevista
Sobre a entrevista, Ludke e André (2018, p. 38) afirmam que “representa um dos
instrumentos básicos para a coleta de dados”, sendo “uma das principais técnicas de trabalho
em quase todos os tipos de pesquisa utilizados nas ciências sociais”. Para as autoras, a entrevista
“desempenha importante papel não apenas nas atividades científicas como em muitas outras
atividades humanas”.
Por outro lado, “devido ao distanciamento social exigido pela crise sanitária, muitos
pesquisadores têm utilizado plataformas digitais interativas para a gravação de áudio e imagem”
50
(LOMBARDI et. al., 2021, p. 24). Nesse sentido, as entrevistas foram realizadas pelo aplicativo
Google Meet, com uma primeira transcrição realizada pelo aplicativo Transkriptor8.
No dizer de Gaskell (2002, p. 73) “toda pesquisa com entrevistas é um processo social,
uma interação ou um empreendimento cooperativo, em que as palavras são o meio principal de
troca”. Para este autor, a entrevista “não é apenas um processo de informação de mão única
passando de um (o entrevistado) para outro (o entrevistador)”. É exatamente o oposto, pois
acontece “uma interação, uma troca de ideias e de significados, em que várias realidades e
percepções são exploradas e desenvolvidas”, e que “tanto o entrevistado como o entrevistador
estão, de maneiras diferentes, envolvidos na produção de conhecimento”.
A ideia não é fazer um conjunto de perguntas padronizadas ou esperar que o entrevistado
traduza seus pensamentos em categorias específicas de resposta, “pois as perguntas são quase
que um convite [...] para falar livremente, com suas próprias palavras e com tempo para refletir”
(TEDESCO, SADE & CALIMAN, 2013).
Além disso, o pesquisador pode obter esclarecimentos e acréscimos em pontos
importantes com sondagens apropriadas e questionamentos específicos (GASKELL, 2002, p.
73). “O que é realmente falado constitui os dados” (GASKELL, 2002, p. 85), por isso o objetivo
foi aprofundar o conhecimento do tema de pesquisa, conhecendo a realidade particular das
coordenadoras pedagógicas da REE em Jardim-MS.
Utilizamos um roteiro em que havia maior liberdade de respostas, pois a entrevista
semiestruturada “parte de um rol de questões, suficientemente extenso para abranger os itens
de interesse definidos pelo pesquisador e suficientemente aberto para permitir a livre expressão
do informante conforme aqueles parâmetros” (LOMBARDI et al., 2021, p. 36), já que “o
pesquisador mira uma determinada experiência ou situação que deseja conhecer em
profundidade e, de antemão, define tópicos e variáveis ancorados no seu problema e/ou nos
objetivos da pesquisa” (LOMBARDI et al., 2021, p. 36).
Ressaltamos que para a coleta das entrevistas foi importante a interação com as
participantes, pois o “diálogo é uma espécie de postura necessária, na medida em que os seres
humanos se transformam cada vez mais em seres criticamente comunicativos” (FREIRE &
SHOR, 2013, p. 125-126).
Entendemos que “deve-se criar um ambiente seguro para que o participante forneça as
informações” (LOMBARDI et al., 2021, p. 24). Assim, destacamos que o tempo de duração foi
diferente de uma entrevistada para outra, pois consideramos o contexto com variáveis internas
8
Utilizamos esse aplicativo porque no período de realização dessa etapa, o aplicativo do Google Meet ainda não
realizava as transcrições das falas.
51
e externas durante a realização, como, por exemplo, horário, lugar e condições de clima, como
as chuvas e suas interferências no sinal da internet. Para tanto, foi utilizado um roteiro (apêndice
C) descrito no quadro 5 (p. 51), que guiou as entrevistas e as mantiveram dentro de seus
objetivos.
CAPÍTULO III
UM PANORAMA HISTÓRICO SOBRE O COORDENADOR PEDAGÓGICO NAS
ESCOLAS BRASILEIRAS
Os anos de 2020 e 2021 serão lembrados como aqueles em que as escolas fecharam suas
portas pelos isolamentos e quarentenas devido à pandemia da Covid-199, não só no Brasil, mas
no mundo. Muito embora essa doença tenha sido identificada pela primeira vez em Wuhan, na
província de Hubei, República Popular da China, em dezembro de 2019, apenas no mês de
março de 2020 ela impactou, de forma efetiva, a rotina das escolas brasileiras, pois as aulas das
escolas foram suspensas como ação para diminuir o risco de contágio com o coronavírus.
Devido à pandemia de Covid-19, as escolas em todo o mundo adotaram políticas ou
novas formas de intervenções no processo de ensino/aprendizagem de forma remota, em que
buscaram reinventar as formas desse processo utilizando diversos recursos tecnológicos, pois
os professores e alunos precisaram interagir por meio de plataformas virtuais. Ronca e
Gonçalves (2021) corroboram esse pensamento ao afirmar que “duas providências
caracterizaram a maior parte das políticas colocadas em prática: fechamento dos prédios
escolares e introdução de atividades remotas para ensino e aprendizagem” (RONCA E
GONÇALVES, 2021, p. 47).
Segundo Santos (2021), “as TICs facilitam potencialmente o compartilhamento de
informações, viabilizam novas formas de relacionamento e de comunicação, e permitem a
exploração de novas estratégias didáticas e possibilidades de intervenções pedagógicas”
(SANTOS, 2021, p. 18). Porém, Saviani e Galvão (2021) explicam que nesse período de
pandemia a expressão ensino remoto passou a ser utilizada como alternativa à educação a
distância (EaD). Para esses autores, a “EaD já tem existência estabelecida, coexistindo com a
educação presencial como uma modalidade distinta, oferecida regularmente. Diferentemente, o
‘ensino’ remoto é posto como um substituto excepcionalmente adotado em que a educação
presencial se encontra interditada” (SAVIANI & GALVÃO, 2021, p. 38).
9
Dados informativos disponíveis no link: https://www.paho.org/pt/covid19/historico-da-pandemia-covid-
19#:~:text=Em%2031%20de%20dezembro%20de,identificada%20antes%20em%20seres%20humanos.
55
10
Ressaltamos que as escolas foram reabertas, porém ainda não foi decretado o fim da Pandemia
pela OMS, que leva em consideração o estado de emergência em saúde pública nacional de diversos
países e o quantitativo da população mundial vacinada.
56
11
Dicionário brasileiro de língua portuguesa Michaelis (on-line, 2021). Disponível em
https://michaelis.uol.com.br/busca?id=4Gjz.
57
III - Cargo Efetivo: unidade funcional básica com denominação própria e número
certo, criado por lei, que expressa um conjunto de direitos, deveres e atribuições do
servidor provido por concurso público, e que mantém vínculo permanente com o
serviço público na Administração Direta, Autárquica ou Fundacional; IV - Função:
conjunto de atribuições em que subdividem um cargo, por área de atividade e/ou por
formação profissional, em que se vinculam as responsabilidades atribuídas ao servidor
ocupante de cargo efetivo (MATO GROSSO DO SUL, 2020).
Como podemos verificar, há distinção entre os significados das palavras cargo e função,
portanto, aqui utilizaremos o termo função, por tratarmos das responsabilidades atribuídas à sua
praxe.
A partir dessas definições, delineamos este tópico para esclarecer quem são os
coordenadores pedagógicos nas escolas brasileiras. No entanto, fez-se necessário construir uma
linha do tempo no Brasil, identificando o período de surgimento até os dias de hoje.
O responsável por organizar, gerir, dirigir e orientar as atividades daqueles que
trabalham visando a um objetivo comum no processo pedagógico existente na educação
brasileira desde a implantação das primeiras experiências educacionais com os jesuítas, que
adotavam o plano de ensino Rátio Studiorum, no qual constava a função supervisora (embora
não se manifestando a ideia de supervisão) e orientava como deveriam ser oferecidos os estudos
(RIBEIRO, 1998).
Durante a segunda metade do século XVIII, a Reforma Pombalina teve como resultado
a expulsão dos jesuítas e a extinção do antigo sistema de ensino. No entanto, nesse período, a
ideia de supervisão continuava presente, pois englobava os aspectos político-administrativos
nos cargos de inspeção e direção da educação.
Em 1808, quando a Família Real chega ao Brasil, algumas mudanças foram adotadas na
educação, que passou a ser realizada por professores leigos. Naquele momento a supervisão do
processo educacional era de responsabilidade do diretor geral e dos comissários de estudos
(RIBEIRO, 1998).
Em 1827, com a Independência do Brasil, foi formulada a primeira instrução pública
que instituiu as escolas de primeiras letras em cidades, vilas e lugares bastante populosos, onde
58
prevalecia o modelo de inspeção baseado na vigilância e punição dos alunos, trabalho realizado
pelo inspetor escolar.
A partir de 1915, iniciaram-se os processos que buscavam o desenvolvimento do sistema
escolar, pois é entre 1920 e 1930 que surgem os profissionais da educação, também conhecidos
como técnicos em escolarização. Nesse período também foram criados a Associação Brasileira
de Educação, o Departamento Nacional de Ensino, o Conselho Nacional de Ensino e o Conselho
Superior, o que propiciou o surgimento da figura do supervisor, distante das figuras do inspetor
e do diretor que existiam. A partir daí, esse profissional passou a ser responsável pela parte
técnica da educação e o diretor pela parte administrativa (SAVIANI, 2006).
Em 1961, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
passou a existir uma organização estatal em que foram criados o Ministério da Educação e as
Secretarias Estaduais de Educação. Assim, tornou-se necessária a formação de agentes para
administrar esse novo processo de estruturação/reestruturação do ensino brasileiro. Os cursos
de pedagogia eram responsáveis pela formação dos pedagogos, que eram técnicos ou
especialistas em educação que exerciam várias funções, dentre elas a de supervisor escolar
(SAVIANI, 2006).
Segundo Venas (2013, p. 42), na primeira LDB “confirma-se a continuidade da
ampliação da rede escolar tanto quanto ao pessoal docente como à matrícula”. Para este autor,
a ampliação da rede escolar exigiu a expansão do quadro de pessoal (docente e não-docente) e
a educação no Brasil começou a formar um sistema maior e mais complexo, que exigia do órgão
gestor estadual e municipal uma melhor maneira de acompanhar o desenvolvimento do trabalho
pedagógico nas escolas. No entanto, surge nesse cenário de expansão, a figura do coordenador
pedagógico, que na LDB n. 4.024/61 teria a função de acompanhamento dos professores no
desenvolvimento de suas atividades (VENAS, 2013, p. 42).
Venas (2013) apresenta os artigos da LDB/61 que mencionam a figura desse
profissional:
No início da década de 1970, com a LDB 5.692/71, as funções docentes e não docentes
foram regulamentadas dentro da escola, entre elas a de supervisor pedagógico, que passou a ter
um papel importante para o desenvolvimento do trabalho docente na escola. Segundo Venas
(2012), o curso de pedagogia sofreu alterações em sua grade curricular, ora se adaptando às
necessidades do mercado de trabalho, ora como resultado de proposições da própria área de
conhecimento. Para esse autor, o trabalho dos pedagogos nas escolas se explica em duas
vertentes: trabalho docente e trabalho não docente, que são, respectivamente, trabalho em sala
de aula e fora da sala de aula. Assim,
12
O curso de Pedagogia passa a ser oferecido pelas Faculdades de Educação, regulamentadas através do Parecer
CFE n. 252/1969 e da Resolução CFE n. 2/1969, que estabeleciam as normas de seu funcionamento em
conformidade com os princípios da Lei 5.540/1968. É justamente o Parecer CFE n. 252, de 11 de abril de 1969,
que se identifica enquanto o terceiro marco legal do Curso de Pedagogia. Também de autoria do professor Valmir
Chagas, membro do Conselho Federal de Educação, esse Parecer foi acompanhado da Resolução CFE n. 2/1969,
que se incumbiu de fixar o currículo mínimo e a duração do curso.
60
5.692/71, tornou-se inadequada aos interesses dos novos cenários instituídos”, havendo a
necessidade de um novo profissional com perfil para coordenar o processo de ensino e
contribuir com melhorias nos resultados esperados de aprendizagem” (VASCONCELLOS,
2007, apud MARTINS, ANDRADE & ZANDAVALLI, 2020, p. 4).
As décadas de 1980 e 1990 foram marcadas por discussões sobre a formação dos
pedagogos (ARANTES E GEBRAN, 2014), porém isso não alterou, em termos legais, a
estruturação do curso e as disposições legais do Parecer CFE n. 252/69 e da Resolução n. 2/69,
que perduraram até a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, n.
9.394/1996.
A LDB foi um avanço, uma vez que garantiu, em seu Artigo 64, um modelo de gestão
pedagógica ao criar critérios básicos para essa função, dando respaldo à formação. Nesse
aspecto, a função deixa de ser denominada supervisor escolar e passa a ser coordenador
pedagógico, estabelecendo um novo perfil profissional.
Em 1997, a Resolução CEB/CNE n. 3, no artigo 2º e no 4º, § 1º, preconiza que:
Lima, Santos e Silva (2012, p. 6-7) afirmam que “a Resolução CEB/CNE n. 3, de 1997,
trouxe ao coordenador pedagógico atribuições mais próximas à gestão da aprendizagem”. Em
2006, o Conselho Nacional de Educacional (CNE), ao definir as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o curso de Pedagogia, reforça que os formados nessa área estão aptos a exercer
múltiplas funções na escola, embora ressalte que os licenciados de outras graduações também
possam obter a capacitação para atuar por meio de “curso de pós-graduação, especialmente
estruturados para este fim” (CNE, 2006).
A história da coordenação pedagógica no Brasil é relativamente recente, iniciada a partir
dos anos 1990, em substituição à supervisão pedagógica. A seguir apresentamos a trajetória da
coordenação pedagógica na REE de Mato Grosso do Sul.
61
Segundo Jesus e Nascimento (2017), em Mato Grosso do Sul havia o exercício dos
supervisores escolares e dos orientadores educacionais, da administração escolar ou inspeção
escolar, aprovados para o cargo de Especialista de Educação, por meio de concurso público. O
Decreto n. 5.721/1990 definia suas funções, porém, com a publicação do Decreto n. 5.868/91,
ambas foram extintas e aglutinadas na figura do coordenador pedagógico (MARTINS,
ANDRADE & ZANDAVALLI, 2020, p. 4).
Em 1991, foi implantada a Proposta de Educação para MS, provocando alterações na
escola pública. Dessa forma, o Decreto n. 5.868 oficializou mudança em relação ao Especialista
de Educação, adequando a sua função à nova organização da escola, atendendo à proposta do
Plano de Cargos e Carreira do Magistério.
13
Lei Complementar n. 4/1981, de Mato Grosso do Sul MS (disponível em: leisestaduais.com.br).
14
Lei Complementar n. 35/1988, de Mato Grosso do Sul MS (disponível em: leisestaduais.com.br).
62
Art. 2º São atribuições dos Profissionais da Educação Básica para efeito deste
estatuto à docência do ensino básico, a coordenação pedagógica, a direção
escolar, o assessoramento escolar, a coordenação da regional de educação, a
coordenação de programas educacionais e suplementares, a gestão e o apoio
técnico e operacional à educação básica (MATO GROSSO DO SUL, 2000).
CAPÍTULO IV
O TRABALHO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO: DAS DIMENSÕES DE
ATUAÇÃO AO BEM-ESTAR/MAL-ESTAR
Nessa perspectiva, este capítulo tem o objetivo de refletir sobre essa temática com vistas
a ampliar os estudos sobre as dimensões de trabalho e o bem-estar do coordenador pedagógico,
pois, segundo Poltronieri (2020), é importante que o professor esteja bem, física e
psicologicamente, para que seu desempenho aconteça com qualidade e eficiência, visto que seu
sofrimento “é um fato social importante pelo grande número de pessoas que afeta, pelas
consequências sociais que provoca” (CAMANA, 2007, p. 95). Além disso, “o bom andamento
das atividades com os professores é facilitado quando o coordenador pedagógico consegue
exercer seu papel de formador, articulador e transformador”, pois “um ambiente de trabalho
agradável deixa os professores mais tranquilos e mais seguros” (MOLLICA, 2015, p. 88).
Visando atender a esses objetivos, este capítulo foi dividido em cinco tópicos: o trabalho
e os desafios do coordenador pedagógico; o coordenador como articulador; o coordenador como
formador; o coordenador como transformador; e o bem-estar/mal-estar do coordenador
pedagógico.
A carga de trabalho burocrático que o coordenador recebe muitas vezes ocupa quase
todo seu tempo, deixando-lhe poucas possibilidades para desempenhar as funções pedagógicas
e formadoras, o que se agrava quando elas se impõem como as mais importantes. Segundo
Souza (2004, p. 105), isso é um desafio e uma questão complicada dentro do exercício da
função.
O trabalho direto com os professores, os elogios, as críticas, as intervenções e a forma
de atendimento diferenciado, buscando identificar as especificidades de cada um, é outro
desafio que exige leituras, estudos e formação constante, pois a forma de sugerir mudanças deve
ser sempre sutil e relevante, tentando promover a autonomia – o que nem sempre acontece,
transformando-se em dependência.
Para Vieira (2004, p. 83), o coordenador pedagógico tem como objetivo principal
garantir o processo de ensino/aprendizagem saudável e bem-sucedido para os estudantes.
Segundo a autora, ele desempenha várias tarefas burocráticas, atendimento de pais, de alunos,
cuidado e planejamento de todo o processo educativo do curso, regências, imprevistos e,
principalmente, a formação em serviço dos professores. O trabalho abrange quatro perspectivas:
Antes de ser coordenador, esse profissional é um professor, que ocupa um lugar que lhe
permite contemplar o macro sem deixar de enxergar as especificidades, as necessidades dos
professores e dos estudantes. Segundo Silveira, Júnior e Vieira (2022), sua atuação
Por meio da articulação, o coordenador precisa saber ouvir, falar no momento certo,
coordenar, organizar, interferir, informar, direcionar as ideias para a prática, ter iniciativa e
criatividade, paciência, resiliência, amabilidade, saber interagir, lutar por melhorias, valorizar
seu ambiente de trabalho, resolver conflitos e apagar incêndios.
As ações relacionadas à articulação estão no campo das atividades práticas, como
planejar e contribuir com as aulas dos professores, acompanhar resultados dos estudantes,
realizar reunião de pais, executar o processo avaliativo, atender a emergências (como
ocorrências com alunos e casos de indisciplina) etc; no campo das atividades burocráticas,
envolve elaborar e executar o projeto pedagógico da escola, atender a demandas burocráticas
da gestão, acompanhar a elaboração e impressão das avaliações, acompanhar os processos de
avaliações externas, elaborar relatórios e planilhas; no campo das atividades sociais, inclui
organizar eventos, reuniões, interações com pais, funcionários, professores, alunos, técnicos
das secretarias, representantes de editoras, palestrantes, sobreposição de ações por parte de
secretarias de saúde, trânsito e outros; e no campo da formação de professores, ações de
acompanhamento do planejamento, sua execução e avaliação, encontros de estudo, grupos de
discussão, as quais ficam prejudicadas devido ao pouco tempo dedicado quando consideramos
todas as atividades cotidianas.
Segundo Placco, Almeida e Souza (2015, p. 15), “é frequente que o próprio
coordenador pedagógico, ao exercer suas múltiplas atividades, tenha dificuldade para
estabelecer prioridades e realizar ações que atendam às reais necessidades da escola”. É preciso
ter coragem para fazer escolhas, definir metas, criar espaços, fazer parcerias, pois “tomar
decisões diante de tantas solicitações, tantas emergências, tantos conflitos que representam o
cotidiano escolar contemporâneo, não é fácil” (ALMEIDA, 2004).
74
Para Almeida (2004, p. 45), esse profissional está sempre num “labirinto de escolhas”,
pois precisa ter autonomia para articular as resoluções de suas demandas, elaborar sua proposta
de trabalho, estipular e planejar metas e ações em sua rotina, e não ficar à mercê das
emergências e dos conflitos. Além disso, em desvio de sua função, ele ainda desempenha
funções que não são de sua competência devido à demanda dos pares ou por não ter quem as
execute, em desvio de sua função.
Para exercer o papel de articulador dos processos educativos, precisa ser capaz de
despertar nos membros da instituição a capacidade de serem proativos, responsáveis,
dinâmicos, com habilidades para resolver problemas e tomar decisões. Deve ainda criar um
ambiente de relacionamento mais estreito com os professores, as famílias, a comunidade, o
sistema e outros elementos que possam se integrar à escola, contribuindo para que todos
caminhem juntos na mesma direção.
Para Vasconcelos (2006, p. 87), essa função precisa ser exercida por um educador que
esteja no combate a tudo aquilo que desumaniza a escola, como o autoritarismo, o conhecimento
desvinculado da realidade, a evasão, a lógica classificatória e excludente, a discriminação social
etc.
O coordenador pedagógico deve instaurar na escola o significado do trabalho coletivo.
Assim, concordamos com Placco, Almeida e Souza (2011) quando afirmam que a ele cabe o
papel de articulador, fazendo com que a instituição trabalhe de modo coeso. A importância da
articulação se deve ao papel que desempenha, organizando o funcionamento pedagógico,
articulando as formações, atuando nas mediações, evitando desgastes, sempre com o
compromisso de realizar ações capazes de proporcionar transformações que promovam o
aprendizado dos estudantes e satisfação nas interações.
Segundo Placco, Souza e Almeida (2012), há um consenso, dentro e fora do Brasil,
sobre a importância da coordenação pedagógica, mesmo quando esta não é desempenhada por
alguém destacado nominalmente para isso – pesquisas realizadas na França, Canadá, Portugal,
Moçambique e Chile mostram que há sempre um profissional que articula a formação na escola
e que, em alguns casos, é também responsável por ela. “Esse profissional, a nosso ver, tem um
papel que se assemelha ao do coordenador pedagógico no Brasil” (PLACCO, SOUZA &
ALMEIDA, 2012, p. 759).
Algumas especificidades podem ser destacadas, já que a articulação começa bem antes
do início das atividades previstas em calendário: esse profissional prepara o funcionamento do
ano letivo, pois sua atuação exige organizar o contexto antes do início do calendário escolar,
como montagem das salas de aula, recepção dos professores, estruturação do projeto
75
é necessário que o próprio coordenador receba formação continuada para desempenhar seu
trabalho.
Para Lima, Santos e Silva (2012, p. 4), “a formação do coordenador é de extrema
importância, pois cabe a ele o ofício de coordenar para educar, de possibilitar trocas e dinâmicas
da própria essência da aprendizagem”. Destacamos que, apesar do discurso da importância da
formação continuada, as políticas educacionais não têm promovido ações que possibilitem o
desenvolvimento profissional dos docentes (ILHA & HYPÓLITO, 2014, p. 109).
Segundo Oliveira e Guimarães (2013, p. 95) o “coordenador precisa ter uma formação
inicial e continuada para que possa desenvolver com afinco suas atribuições dentro da escola,
sendo a principal delas a formação em serviço dos professores”. Nesse sentido, Vieira (2004,
p. 84) enfatiza que “formar um profissional em serviço implica em dialogar com ele
continuamente no cotidiano da escola e refletir sobre o seu papel, problematizando sua situação,
identificando os erros e as falhas para direcionar a busca de uma nova prática, consciente e
atuante”.
A necessidade de formação continuada aos professores, coordenadores e gestores é tema
de pesquisas em educação, e essa preocupação é realidade em muitas secretarias de educação
do país, tendo em vista que o aprimoramento profissional é suporte para o desenvolvimento de
novas demandas, considerando que o estudo e a pesquisa devem ser constantes na vida de todos
os profissionais devido à rapidez com que as informações circulam e as mudanças acontecem
em todas as áreas. Segundo Nóvoa,
Tezani (2011, p. 87) afirma que “a escola é espaço e ambiente educativo que
proporciona a ampliação da aprendizagem humana. É lugar de construção de conhecimento, de
convívio social e de constituição de cidadania”. Segundo Garcia (2009, p. 11), os professores
aprendem quando têm a oportunidade de refletir sobre o que fazem. Esse autor ainda considera
que “as experiências são mais eficazes se permitirem que os professores relacionem as novas
experiências com os seus conhecimentos prévios” (GARCIA, 2009, p. 10).
De acordo com o pensamento de Imbernón (2011, p. 120), “a formação do professor
deve adotar uma metodologia que fomente os processos reflexivos sobre a educação e a
77
realidade social através das diferentes experiências”, pois a interação e a discussão dos cursistas
durante a formação proporcionam reflexões sobre o “contexto educativo concreto”. Para o
estudioso, essa prática é rica porque não discute contextos simulados, e sim conhecimentos
experimentados por meio de práticas que deveriam ocorrer no interior das instituições
educativas.
Segundo Jesus (2007, p. 40) “a formação deve ir ao encontro das necessidades dos
professores, no sentido de tornar a formação mais participativa e de contribuir para a sua
aprendizagem e desenvolvimento”. Segundo essa perspectiva, ela precisa contemplar realidades
específicas de suas vivências para promover o enfrentamento dos desafios que surgem em sua
rotina com mais segurança. O fortalecimento de sua formação será o alicerce para sucesso no
desempenho de suas funções que são direcionadas para os estudantes, pais, professores ou
gestores.
Para Rebolo (2012, p. 47-48), a formação continuada é um fator que deve ser
considerado como elemento essencial para obtenção de bem-estar, pois proporciona aquisição
de novos conhecimentos, possibilita mudanças nas práticas, gerando sensação de segurança e
controle sobre o trabalho e “ainda se revela imprescindível se for concebida segundo uma
perspectiva relacional, colocando os professores em situação de trabalho de equipe num clima
de autenticidade e cooperação” (JESUS, 2007, p. 52).
79
coletividade, conduz o processo, participa, discute, ouve, orienta, propõe, informa, assume e
partilha responsabilidades com os professores, indica ações, enfim, exerce uma posição de
liderança, de autoridade”.
Ser coordenador pedagógico transformador é característica desenvolvida a partir de sua
posição de elemento articulador e formador do processo ensino/aprendizagem e dos resultados
obtidos com essa articulação. Portanto, entendemos a característica de transformador como
consequência do empenho e sucesso da articulação de suas práticas e das formações que
desenvolve e participa no seu cotidiano.
Exige-se hoje um profissional comprometido com o processo educacional, com os
resultados das aprendizagens, com atualização constante de seus saberes pedagógicos e
culturais, envolvido com o exercício contínuo da reflexão sobre sua prática (SILVA, 2002).
Essas exigências não são isoladas, além de cobrar também um compromisso com o trabalho
coletivo, pois, para o cumprimento dos desafios dentro da escola, isso é fundamental. Para tanto,
são necessárias mudanças de comportamento e nas interações com todos da comunidade
escolar, com um coordenador que tenha muitas habilidades e competências, pois são muitas as
interações, atribuições e situações que terá em sua rotina.
O próximo tópico foi construído para apresentar a base teórica de um dos objetivos
específicos, que é identificar a possibilidade de bem-estar/mal-estar dos coordenadores
pedagógicos, verificando se os elementos como infraestrutura, interações, práticas, entre outros
elementos repercutem de maneira positiva ou negativa no cotidiano do coordenador
pedagógico.
Rebolo (2012, p. 24) defende a ideia de que o bem-estar docente “é uma possibilidade
existente na relação do professor com o seu trabalho, que pode ou não se concretizar”,
dependendo de muitas variáveis. É um processo dinâmico em duas dimensões: a objetiva, que
corresponde às características do trabalho em si e às condições oferecidas para a sua realização,
e a subjetiva, relacionada às características pessoais do professor e que diz respeito tanto às
competências e habilidades quanto a desejos, crenças, valores, formação e projeto de vida. Na
intersecção dessas duas dimensões, com resultados positivos teremos o bem-estar; se forem
negativos, teremos “o mal-estar, que é um estado de desconforto, resultante de insatisfação e
conflitos, que desencadeia estratégias de enfrentamento que visam eliminar ou minimizar e
caminhar para o bem-estar” (REBOLO, 2012, p. 24).
Os quatro componentes interdependentes e inter-relacionados que constituem a
totalidade do trabalho, apontados em muitos estudos sobre o bem-estar, são: 1) a atividade
laboral em si; 2) as relações interpessoais; 3) as condições sociais e econômicas; e 4) as
condições físicas e de infraestrutura do ambiente escolar. No entanto, a estudiosa ressalta que
apenas a presença ou ausência desses elementos não são determinantes, pois o bem-estar só
ocorre quando esses elementos forem avaliados em conjunto de forma satisfatória, positiva e
não geradora de conflitos, considerando também as avaliações cognitivas e afetivas que cada
trabalhador faz de si e do trabalho que realiza, pois
trabalho rotineiro, mas não monótono; 2) a identidade dessas tarefas entre si, que exigem
diferentes habilidades, mas não dissonantes entre si; 3) a possibilidade de uso da criatividade e
autonomia; 4) os desafios colocados tanto pela diversidade de tarefas quanto pela necessidade
de adequação nas situações de aula – no caso do coordenador pedagógico, em situações de
atuação em seu trabalho; 5) a exigência de um grau de concentração; 6) a interação na percepção
do tempo, decorrente da concentração e do envolvimento exigido; e 7) o controle da situação e
segurança para o desenvolvimento das atividades.
Exercer uma atividade composta por diferentes ações e que exige muitas habilidades,
que não permite a sensação de rotina e repetição, tem potencialidades para proporcionar bem-
estar. Segundo Rebolo (2012), quanto maior o desafio e quanto mais habilidades forem exigidas
para realização das tarefas, maior é a satisfação. Porém, deve haver um equilíbrio entre as
exigências e o enfrentamento dos desafios, sendo avaliado no final da ação como compensador,
visto que a sensação ou a possibilidade de controlar a situação é aspecto importante do bem-
estar.
Rebolo (2012) relata que a sensação de controle da situação é proporcionada também
pela autonomia. No caso dos coordenadores pedagógicos, isso corresponde a administrar as
situações, atingindo seus objetivos, tendo o controle do comportamento e domínio do que
fazem, com coerência entre o planejamento e a execução, sendo capazes de resolver situações
inesperadas, possibilitando a sensação de bem-estar.
Quando o trabalho é realizado com alto grau de concentração, em que esquecemos dos
problemas não relacionados ao trabalho, numa suspensão temporária dos pensamentos, ocorre
o envolvimento profundo, elemento que pode possibilitar a sensação de satisfação, já que o
tempo parecerá mais rápido e diminuirá a sensação de ansiedade pelo término da tarefa
(REBOLO, 2012, p. 37).
83
Elas são responsáveis pela satisfação das necessidades, desejos e expectativas, por
proporcionarem apoio social e emocional na realização das tarefas diárias e alcance de metas,
além de promover um sentimento de aceitação e pertencimento ao grupo, já que as interações
no ambiente escolar acontecem no coletivo e se concretizam por meio dele. A autora esclarece
que quando são positivas, são determinantes fundamentais do sucesso do ensino e do bem-estar
do professor, porém, quando são negativas geram conflitos, frustrações e prejudicam o trabalho.
uma autoridade que representa a escola e os representa perante ela, sendo reconhecida pelos
alunos como uma pessoa competente na intermediação nos dilemas que se apresentam no dia a
dia escolar, conseguindo vínculos que propiciam uma relação harmoniosa e democrática
(FRANCO, 2005, p. 87).
[...] as condições precárias afetam tanto a saúde física quanto mental dos
trabalhadores em geral (...). Quanto aos professores, alguns pesquisadores
constataram que essas condições precárias têm alguma influência sobre o mal-
estar docente. O sofrimento psíquico, abandono da profissão, a falta de
comprometimento com o trabalho e o absenteísmo dos professores
(REBOLO, 2012, p. 50).
Vale ressaltar que essa autora descreve, em seu estudo, que a insatisfação com esses
elementos é minimizada quando ocorre a satisfação com os componentes das relações
interpessoais e os componentes da atividade laboral, pois “mesmo quando as condições de
infraestrutura e os recursos materiais são deficitários, mas se tem o reconhecimento do trabalho
realizado, o sentimento de aceitação e pertencimento ao grupo, de que está realizando um
trabalho útil, há a possibilidade de ser feliz no trabalho” (REBOLO, 2012, p. 54).
Assim, após apresentar os elementos do trabalho docente que podem contribuir de forma
positiva e/ou negativa promovendo o bem-estar e/ou o mal-estar, realiza-se, no capítulo
86
seguinte, a apresentação e análise dos dados coletados por meio dos questionários e das
entrevistas, que é parte essencial deste trabalho, o que configura a realidade vivenciada no
contexto escolar do município pesquisado.
87
CAPÍTULO V
UM MERGULHO NAS FUNÇÕES E DESAFIOS DAS COORDENADORAS:
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS QUESTIONÁRIOS E ENTREVISTAS
Neste quinto capítulo, que está dividido em quatro tópicos, apresentamos as discussões
e análises dos dados coletados no questionário e nas entrevistas: 1) no primeiro, descrevemos
os dados obtidos no questionário, aplicado com objetivo de delinear o perfil profissional e
investigar a atuação e a rotina das participantes em seu cotidiano, analisando as descrições
estatísticas obtidas a partir da interpretação dos gráficos produzidos no aplicativo do Google
Forms; 2) no segundo, exibimos os resultados, por meio de uma nuvem de palavras produzida
no aplicativo Wordcloud e um gráfico, com objetivo de identificar e verificar as frequências de
palavras verbalizadas pelas participantes que fazem referência às dimensões de articulador,
formador, transformador e ao bem-estar e/ou mal-estar; 3) no terceiro, realizamos a
contextualização do ambiente de trabalho das coordenadoras pedagógicas participantes; 4) no
quarto, apresentamos a análise dos resultados por categorias em consonância com as teorias que
abordam as dimensões de trabalho do coordenador pedagógico e possibilidades de bem-
estar/mal-estar em sua atuação.
Ressalta-se que primeiramente foram identificadas as categorias conforme as etapas da
Análise de Conteúdo e, posteriormente, foram elaborados quadros (apêndices D, E, F, G e H)
com recortes das verbalizações das participantes, classificando-as por satisfação/insatisfação
conforme os elementos do trabalho felicitário, os quais foram utilizados para o tratamento dos
resultados, na inferência e na interpretação dos dados apresentados, com o objetivo de
responder ao problema da pesquisa.
gráficos, a fim de resumi-los ou descrevê-los, mas sem ir além. Esses dados foram organizados
em um quadro (quadro 6, p. 89).
Conforme a legislação de Mato Grosso do Sul, para ser coordenador pedagógico é
necessário ser “professor licenciado com pós-graduação em coordenação pedagógica e mais de
dois anos exercendo a função no magistério”. No entanto, observou-se que as coordenadoras
pedagógicas atuantes em 2021 eram cinco professoras efetivas e duas professoras convocadas.
Cinco delas possuem experiência de até 2 anos no cargo de coordenador pedagógico, somente
duas estão na função há mais de dois anos e apenas uma é formada em Pedagogia. Seis
participantes possuíam mais de cinco anos de atuação como professoras antes de assumir o
trabalho de coordenadoras e somente uma tem entre um e dois anos de experiência em sala de
aula.
Segundo a teoria de Huberman (1992), a vida dos profissionais docentes é dividida em
ciclos, e observamos que as participantes estão entre a primeira e a terceira fase, conceituadas
do seguinte modo:
Verificamos ainda que três delas possuem especialização muito recente, concluída nos
anos de 2020 e 2021, somente uma possui especialização em coordenação pedagógica e a
única pedagoga não tem especialização.
Logo, observa-se que todas apresentam critérios divergentes dos exigidos na
legislação de MS, pois quando têm tempo de experiência na docência, não possuem
especialização em coordenação pedagógica; e quando têm especialização em coordenação
pedagógica, não possuem tempo de experiência na atuação como docente.
89
Elaboramos o quadro a seguir com a visão geral das respostas das participantes a partir
da interpretação dos dados coletados nos questionários:
15
A comunidade escolar é formada por professores e profissionais que atuam na escola, por alunos matriculados
que frequentam as aulas regularmente e por pais e/ou responsáveis dos alunos.
91
Conforme o quadro 7 (p. 90), ficou demonstrado que todas as coordenadoras estimulam
os professores a manter o trabalho de equipe, aderindo às propostas da gestão. Segundo Jesus
(2007, p. 61), “o trabalho em equipe pode permitir a redução do isolamento o fornecimento de
apoio ou suporte social a convergência nas estratégias utilizadas para resolução de problemas
bem como a aprendizagem e o desenvolvimento profissional”.
Seis coordenadoras afirmaram atuar na resolução de conflitos entre os diversos
membros da comunidade. Seis também responderam que sempre assumem uma postura
apaziguadora com relação à disciplina e indisciplina dos estudantes, pois “a dificuldade em
administrar desmotivação e a indisciplina dos alunos é o fator de stress apontado com maior
frequência nas pesquisas realizadas em diversos países” (JESUS, 2007, p. 19).
Jesus (2007, p. 67) ainda afirma que a relação com os alunos “pode ser o principal fator
de mal-estar, mas também pode ser o principal fator de satisfação, realização e bem-estar
docente, pois é um trabalho que não somente proporciona as razões de maiores dificuldades e
frustração para os professores, como a maior razão potencial de gratificação”.
Todas as participantes acompanham e avaliam o processo de ensino/aprendizagem dos
estudantes, assim como valorizam a participação ativa dos professores, oportunizando um
trabalho integrador e produtivo. Nesse sentido, Jesus (2007, p. 65) assegura que é necessário
criar um contexto favorável para o exercício da profissão docente com qualidade e bem-estar.
Quatro coordenadoras afirmam que às vezes organizam e escolhem os materiais
necessários ao processo de ensino/aprendizagem, porém, três sempre realizam essa tarefa.
Quatro delas sempre promovem práticas inovadoras e selecionam os métodos e materiais
conforme o projeto político-pedagógico, mas três fazem às vezes. Sobre essas práticas, Jesus
93
(2007, p. 65) informa que é necessário dar aos professores condições de trabalho que possam
permitir e concretizar as suas competências profissionais e realizar um trabalho de qualidade,
sendo ainda necessários os melhores equipamentos, bem como a melhoria dos espaços físicos,
no sentido de tornar as escolas mais agradáveis.
Cinco coordenadoras monitoram o desempenho dos professores e acompanham a
elaboração do planejamento do professor. Todas afirmam que gerenciam as dificuldades e
problemas surgidos no dia a dia e promovem a formação continuada dos professores, assim
como contribuem para a resolução de situações emergenciais e conflitos para não prejudicar o
ambiente de aprendizado. Seis propõem novas metodologias para aprimorar os processos
pedagógicos. Nesse sentido, Geglio (2004) considera ser “importante que o coordenador
pedagógico concretize sua ação no acompanhamento das atividades dos professores em sala de
aula” (GEGLIO, 2004, p.118), já que oportuniza a discussão e análise dos problemas
decorrentes desse contexto com uma perspectiva diferenciada e abrangente.
Seis coordenadoras sempre informam aos pais sobre a situação escolar e de
relacionamento dos estudantes, enquanto uma afirma fazer isso às vezes. Seis sempre
proporcionam um ambiente favorável à aprendizagem dos estudantes, porém uma afirma fazer
isso às vezes. Todas acompanham o rendimento dos estudantes nas avaliações de aprendizagem.
Segundo Moraes e Ronca (2021), “o coordenador pedagógico atua para que haja uma boa
comunicação entre a direção, professores, alunos e entre família e a escola. Quando existe uma
relação afinada, ele é capaz de guiar as ações, objetivando sempre o melhor desempenho do
todo” (MORAES; RONCA, 2021, p. 111).
Seis coordenadoras sempre apoiam a gestão na instituição escolar e a implementação
do projeto pedagógico, mas uma afirma apoiar somente às vezes. Todas afirmam que se
comunicam de forma clara, objetiva e oferecem feedback aos professores e que fazem com que
a comunicação entre a comunidade escolar flua de maneira funcional. Para Moraes e Ronca
(2021), “o coordenador pedagógico é o profissional ativo, pronto, desenvolto e dinâmico que
instrui e encaminha o trabalho coletivo. Cabe-lhe o importante papel de construir e efetivar a
conexão entre os indivíduos envolvidos no processo educacional” (MORAES; RONCA, 2021,
p. 111).
As relações interpessoais no trabalho são o principal fator propiciador de bem-estar,
pois “relacionar-se positivamente entre colegas e alunos, diretores e demais pessoas com as
quais convivem na escola é uma fonte importante de bem-estar” (REBOLO, 2012, p. 41). Nesse
sentido, todas as participantes mantêm uma postura baseada no diálogo e afirmam relacionar-
se adequadamente com todos os membros da comunidade. Entende-se que sustentar um
94
que priorizem a sinceridade, que permitam a expressão de pontos de vista divergentes, que
estimulem a solidariedade o apoio mútuo, que valorizem o trabalho realizado e que estejam
pautadas em dinâmicas que as tornem positivas e não conflituosas (REBOLO, 2012, p. 41).
Segundo Rebolo,
16
A iniciativa visa monitorar e atuar preventivamente no caso de estudantes em risco de abandono ou
descontinuidade do processo de escolarização, promovendo o acolhimento, cuidado e promoção pedagógica a
esses estudantes. Disponível em: https://www.sed.ms.gov.br/governo-de-ms-sed-e-mp-implantam-sistema-
integrado-de-busca-ativa-escolar/.
96
Como pode ser observado no gráfico a seguir (gráfico 5), obtivemos os seguintes
resultados para as palavras faladas com mais frequência pelas participantes e que fazem
referência à sua atuação e possibilidade de bem-estar e/ou mal-estar, ou seja, aquelas
relacionadas aos objetivos propostos nesta pesquisa:
98
circunstâncias de atuação, visto que nos anos de 2020 e 2021 as aulas foram suspensas e as
escolas realizaram atendimentos remotos.
17
Google Classroom (ferramenta do Google) é um sistema de gerenciamento de conteúdo para escolas que
procuram simplificar a criação, a distribuição e a avaliação de trabalhos. Ele é um recurso do Google Apps
redirecionado à área de educação.
100
escola pública assume, tem de responder a exigências que estão além de sua formação”. Para
essa autora, “o trabalho docente não é definido mais apenas como atividade em sala de aula, ele
agora compreende a gestão da escola”.
O processo de organização do trabalho pedagógico (planejamento, revisão, postagem
das atividades em ambiente on-line e/ou remoto, impressão/distribuição/recebimento de
material impresso) foi organizado pelas coordenadoras pedagógicas dentro da escola de forma
presencial e, em alguns momentos, de suas casas (home office) em conjunto aos professores.
Para isso, precisaram de equipamentos, ferramentas e aplicativos diferenciados (celular, tablet,
computador, internet, aplicativos de conversas, redes sociais, e-mail, entre outros) a fim de
realizar a organização e articulação das demais etapas do trabalho pedagógico. Em resumo, elas
orientaram, articularam, executaram e administraram de forma eficiente a necessidade de
utilizar recursos necessários para o desempenho de suas funções.
Lévi (1999) argumenta que “as tecnologias devem ser empregadas para enriquecer o
ambiente educacional. Para dar conta dessa inserção no cenário educacional é solicitado aos
professores novos saberes e competências” (LÉVI, apud SCHUHMACHER et al., 2017, p.
564). A utilização de ferramentas tecnológicas no ensino durante a pandemia colaborou para
que a interação acontecesse e estreitou a distância entre a comunidade escolar, pois os
atendimentos aos professores e aos estudantes e suas famílias ocorreram em formatos diversos.
Segundo Schuhmacher et al. (2017, p. 564), a utilização das Tecnologias da Informação e
Comunicação - TICs para fins educativos “apresenta-se como uma nova barreira superada pelos
professores”.
As coordenadoras pedagógicas estavam na linha de frente, minimizando os impactos
socioemocionais e pedagógicos e, para realizar a articulação em efeito cascata, foi necessário
construir canais de comunicação e manter os vínculos com os professores, pais e estudantes, a
fim de promover aprendizagens durante o período de suspensão das aulas presenciais.
Além da articulação do trabalho pedagógico, elas eram também responsáveis pelos
atendimentos aos estudantes, pois realizavam cadastramento nos ambientes on-line e nos
aplicativos disponibilizados. Além disso, eles eram assistidos por meio dos aplicativos de
conversas, telefonemas e até de forma presencial, na retirada e devolutiva das atividades
impressas. As coordenadoras pedagógicas estavam extremamente envolvidas com seu trabalho
e comprometidas com o ensino/aprendizagem, a ponto de realizarem visitas nas casas para
atender aos estudantes que não possuíam acesso ao ambiente e retiravam as atividades
impressas na escola ou as recebiam nas fazendas onde residem, ou mesmo para atrair os
evadidos. Segundo Ronca e Gonçalves (2021), “dirigentes e docentes abnegados tentaram
101
profissional e causando confusão sobre o que é mais relevante nessa função” (MOLLICA, 2015,
p. 74).
Também ocorre a insatisfação no elemento do trabalho felicitário das condições sociais
e econômicas, devido à falta de formações direcionadas ao exercício da função, de incentivo
salarial e ao trabalho com carga-horária excessiva, pois, ao exercerem a função de
coordenadoras pedagógicas, as professoras perdem o direito à hora-atividade, cumprindo toda
a carga horária de forma presencial, ou seja, elas não possuem nenhuma hora para planejamento
ou hora vaga/livre durante a semana, trabalhando todos os dias e aos fins de semana, cumprindo
calendário escolar e demandas que não foram atendidas durante a semana, como, por exemplo,
dia da família na escola, formações, conselhos de classe, projetos e festas para a comunidade
escolar.
Os resultados das análises iniciais também apontam para a insatisfação na atividade
laboral relacionada à rotina de trabalho, com muitas demandas burocráticas, atividades a serem
realizadas em prazos curtos, imposição de variados projetos, solicitações diversas da Secretaria
de Educação e à fragilidade de procedimentos para a realização de trabalhos coletivos, o que
acontece por ausência de formação para as coordenadoras pedagógicas e devido à carga-horária
dos professores que atendem a diversas escolas.
A insatisfação com as condições físicas e de infraestrutura do ambiente escolar são
evidenciadas nas referências feitas aos seguintes pontos: falta de um ambiente para a realização
das reuniões coletivas previstas em calendário escolar e por estas serem realizadas on-line e nos
sábados letivos, concomitantemente em toda a rede de ensino; a reforma ocorrida em uma das
escolas; e as consequências das medidas de prevenção durante o período pandêmico
(distanciamentos e toques de recolher).
Assim, para consolidar os resultados achados nos quadros das categorizações,
apresentaremos a seguir as análises elaboradas a partir das percepções categorizadas como
satisfação e insatisfação, relacionando-as aos elementos do trabalho felicitário.
Nesse sentido, Rebolo (2012) afirma que sentir-se bem durante a realização das tarefas,
e não apenas com o seu término, ou com o retorno externo que, no caso do trabalho docente,
nem sempre é imediato, é um aspecto importante para o bem-estar dos professores.
Houve aproximação com a escola com a gestão... porque a gente ficou muito
ali. Primeiro a questão de APC e busca ativa. Então, fortaleceu muito isso na
pandemia. Nós não tivemos esse problema na nossa escola. E pós-pandemia
só foi aumentando. Tanto é que nós temos praticamente cem por cento, quase,
dos alunos em sala. São pouquíssimos alunos que estão fora da sala, com laudo
médico, mas os demais estão todos aqui. O momento pandêmico e agora não
mudou o nosso relacionamento. Eu sou muito próxima dos alunos e aqueles
pais frequentes também, eu sou muito próxima, eles estão sempre aqui na
escola. Aqueles pais mais distantes, a gente conversa pelo WhatsApp, ligação
telefônica. Então, eu tenho um bom relacionamento com os meus alunos e
com os pais deles. Nós vimos também que essa volta para escola, essa
proximidade, eles estavam precisando muito uma palavra de carinho, de
conforto, da gente sentar, conversar. Nossa proximidade foi muito boa
(Coordenadora B).
Continuo com o grupo porque eu tenho alunos de atestado. E para esses alunos
eu continuo disponibilizando atividade via WhatsApp e continuei com os
grupos da sala de aula que ali eu jogo os recadinhos e a forma também que eu
tenho para estar chamando os alunos que não retornaram que daí eu não perco
vínculo com eles (Coordenadora E).
Comigo não acontece, mas sempre tem aquela questão de conflito, aluno-
aluno, professor-professor, professor-funcionário e a gente acaba
conversando, escutando, dialogando e acaba sanando esses conflitos. Mas se
a gente não tem uma boa escuta, uma boa conversa enquanto coordenador, a
gente piora esses conflitos em vez de ajudar. Então, a gente tem que saber
como levar essa situação (Coordenadora B).
Sobre os conflitos, Rebolo (2012) afirma que o trabalho docente se constitui em uma
atividade centralizada nas relações interpessoais e nas dinâmicas relacionais constituídas no
ambiente escolar. Para a autora, essas relações quando positivas “são determinantes
fundamentais do sucesso do ensino e do bem-estar do professor, mas quando são negativas
geram conflitos, frustrações e prejudicam o trabalho” (REBOLO, 2012, p. 41).
Para Silva e Almeida (2021), escutar e ouvir são fenômenos diferentes, em que ouvir é
uma faculdade sensorial e passiva, e escutar é uma atividade que exige receptividade e requer
silêncio, renúncia e coragem.
108
Para Rebolo (2012, p. 44) o retorno oferecido pela direção e coordenação é importante
por propiciar a percepção de sucesso, de reconhecimento externo pelo trabalho realizado,
quando os resultados forem positivos. Porém, quando os resultados não são os esperados, a
sensação de fracasso ou frustração pode ser minimizada por um retorno adequado, não
apontando o erro apenas, mas oferecendo possibilidade de reestruturação desse trabalho.
A seguir, identificamos a satisfação na articulação das tarefas diárias e interação dos
relacionamentos em dois elementos do trabalho felicitário – da atividade laboral, do trabalho
em si e das relações interpessoais, por meio da percepção da coordenadora sobre a vantagem
de exercer a função:
A vantagem é que a gente tem é uma visão que em sala de aula a gente não
tem. Quando o coordenador fala para o professor: “olha, está acontecendo
isso?” A gente fala, será realmente o que está acontecendo? E como
coordenador a gente tem uma visão maior, (...) aprende muitas coisas,
principalmente na parte administrativa, de gestão, e até mesmo na parte
pedagógica... que a gente convivendo todo dia conversando com vários
professores, a gente vai aprendendo todo dia (...). Às vezes você acaba
orientando um professor e ele te dá uma ideia que aquilo você pode levar para
você (Coordenadora B).
Rebolo (2012) afirma que o relacionamento com gestores, demais professores e com
alunos é um dos principais fatores de satisfação ou insatisfação, sendo responsável pelo
envolvimento do professor nas atividades profissionais, pois relacionar-se positivamente com
a comunidade escolar é fonte importante de bem-estar, promovendo “sentimento de aceitação
e pertencimento ao grupo percepção do sucesso e dos resultados positivos obtidos no trabalho
crescimento pessoal e profissional auto desenvolvimento e autonomia” (REBOLO, 2012, p.
41).
Segundo a autora, a possibilidade de expor ideias e opiniões em relação ao trabalho,
oferecida pelas relações interpessoais positivas, proporciona também a oportunidade de
crescimento pessoal e profissional, em que se aprende com a troca de ideias, muitas vezes
configurada como um apoio técnico.
A partir da fala das entrevistadas, percebemos que o elemento relacional fortaleceu o
trabalho diário das coordenadoras pedagógicas. Neste sentido, corroboramos ao pensamento de
Matsukuma e Placco (2021) ao afirmarem que no período pandêmico ocorreu o
“aprofundamento da relação e estreitamento dos vínculos entre a escola e a família”, por meio
de estratégias e ações como utilização do “WhatsApp, busca ativa nas casas, entrega de
materiais escolares, entrega de atividades escolares, entrega de cestas para alimentação,
110
Tem os incêndios que a gente tem que apagar todos os dias. Então, é um dia
bem cheio, bem corrido, sempre com muitas demandas para serem cumpridas
111
com poucos prazos. Com essa gestão, no caso ali são as respostas diretas à
SED. Então, a gestão passa para mim todas as questões de resposta
pedagógica, RPP, e agora, a SED anda fazendo muitas pesquisas urgentes,
principalmente sobre a Covid. Então, assim, essas demandas da gestão são
todas atribuídas ao coordenador, para fazer esse levantamento de dados junto
aos alunos, professores, entre outros setores (Coordenadora B).
As respostas apontam para o fato de que a função exige muitas responsabilidades, pois
é necessário fazer a escola funcionar. Concordamos com Santos (2018, p. 154), quando afirma
que “a docência é uma atividade complexa e desafiadora, o que exige do professor uma
constante disposição para aprender, questionar e investigar”. Logo, a função de coordenador
pedagógico também demanda exercer atividades específicas, interação com todos os atores do
cenário escolar, havendo a necessidade de formação específica para sanar as deficiências em
sua atuação e colaborar com o desempenho de seu trabalho.
Para Odelius e Codo (2002), “os educadores são trabalhadores inseridos em uma
sociedade capitalista, vendem sua força de trabalho e o preço que custa o seu trabalho deve ser
igual ao preço que custa para manutenção reprodução desta mesma força de trabalho”. Os
autores explicam que “no caso dos professores isto implica em sobrevivência do trabalhador e
sua família, transporte adequado para se chegar ao trabalho, compra de livros, computadores,
internet, o custo de cursos e quanto mais for necessário para manter a sua mercadoria
(conhecimento)” no mercado (OLDELIUS; CODO, 2002, p. 193). Nesse sentido, os estudiosos
ainda relatam que o salário será adequado quando o valor pago ao trabalhador suprir suas
necessidades, será baixo quando faltar algo à mesa ou à biblioteca do professor, e será alto
quando permitir que se amplie o poder de consumo definido pela cultura e desenvolvimento
histórico da categoria. No entanto, a insatisfação com o salário, que é identificada no elemento
do trabalho felicitário das condições sociais e econômicas, é percebida na verbalização: “Eu me
sinto valorizada. Não financeiramente” (Coordenadora B).
Desse modo, comprovamos a insatisfação ao retomarmos o abandono da coordenadora
A, que, ao explicar sua motivação para deixar de exercer a função na REE, justificou que
assumiu a função na Rede Municipal de Ensino para exercer as mesmas obrigações no trabalho,
porém ganhando 30% a mais. Ela esclareceu que recebeu o convite e aceitou devido à diferença
salarial entre convocados e efetivos na REE, já que não há essa distinção na Rede de Ensino
Municipal – ela não é efetiva em nenhuma das redes e privilegiou a que melhor remunera seus
coordenadores convocados. Portanto, não basta trabalhar com carga horária fechada durante a
semana, ainda existe a diferença salarial entre o coordenador efetivo e o convocado.
112
Então, é muita coisa, nós temos as situações alunos cadeirantes que a gente
tem que ficar cuidando no ônibus, se sobem, se vêm... (Coordenadora B).
Temos também a questão de acompanhar como que está esses nossos alunos,
porque na minha escola também tem muitos alunos da educação especial que
também têm que ter um olhar todo diferenciado para ver como está a
aprendizagem deles principalmente nessa época de pandemia que tiveram
dificuldades no acesso (Coordenadora B).
Assim, entendemos que mesmo a escola estando alocada durante o período de reforma
em outra escola, as legislações que garantem a acessibilidade não são recentes, e, portanto,
deveriam ser cumpridas, já que o prédio que utilizam é uma escola da REE que também já
passou por diversas reformas.
A insatisfação com as condições físicas e de infraestrutura do ambiente escolar
prejudicou a atividade laboral em si e as relações interpessoais, pois não há sala separada para
as coordenadoras das outras etapas e modalidades – estão todos juntos num mesmo ambiente.
No entanto, nessa categoria, não identificamos, nas falas das participantes, afirmações
sobre a satisfação na função exercida como formadora e/ou como participante de formações,
portanto, apresentaremos somente o item insatisfação relacionado à dimensão de formador,
pois, quando foi perguntado sobre as formações realizadas e recebidas, as duas entrevistadas
afirmaram que não participaram de formações direcionadas para exercerem a sua função,
comprovadas nos trechos das falas a seguir:
Comigo isso não ocorre ainda, mas a gente tenta ajustar. Eu acabo
conversando, pegando algumas coisas depois (...) fazer algumas leituras para
116
também não ficar para trás de ninguém, mas, assim, sentar e estudar todo
mundo junto isso não está ocorrendo comigo (Coordenadora B).
Este ano nós não recebemos formação da SED, o ano passado nós recebemos
formação, por um bom período nós tínhamos a formação [...]. Nós recebemos
formação de coordenação ano passado (Coordenadora E).
Esse ano não teve, mas está tendo a formação de aprofundamento dos diálogos
socioemocionais (Coordenadora E).
Então, ultimamente a gente tá fazendo mais as formações (no meu caso – que
sou coordenadora do sexto ao nono). Estou fazendo a formações da SED,
socioemocionais e do Novo Ensino Médio. Formações que vêm nos sábados
letivos para a Escola da Autoria [...]. Eles têm um período de estudo do Ensino
Médio Integral (Coordenadora B).
A Coordenadora E explicou que no ano de 2021 não ocorreu formação, porém, no ano
de 2020 houve formação específica para os coordenadores, que acontecia da seguinte forma:
Nesses momentos a gente fazia na escola, era dispensado para você fazer o teu
estudo na web e realizar o trabalho, aí a gente se ajudava entre as
coordenadoras que estavam fazendo o curso e, apesar da gente não se
encontrar, não se ver, a gente interagia na hora de fazer os trabalhos, realizar
as atividades, a gente procurava se ajudar e trocar ideia mesmo. Mas a gente
recebe formação da SED sempre que está sendo oferecida (Coordenadora E).
Esse trabalho é que está um pouquinho mais difícil. Agora, com retorno
presencial, que vai ficar mais fácil de realizar, porque antes não tinha esse
momento de sentar, pelo fato de ser noturno. E antes, às oito horas tinha que
estar toda a escola fechada. Eu vinha para cá no horário intermediário. Eu
trabalhava, eu saía da SEMED dezessete horas e vinha pra cá direto e ficava
até dezenove e quarenta. Eu fechava escola todos os dias aqui. Eu tenho chave
da escola, eu fechava a escola, aí eu ia para casa. E esse horário eu marcava
com os alunos para alguma ajuda, tudo que eles precisavam. Era o horário que
eles saíam do serviço e já passava aqui na escola, porque a gente tinha que
fechar a escola esse horário, e por muito tempo a escola permaneceu fechada.
Então a minha interação com os professores foi praticamente só remota
(Coordenadora E).
Não tinha esses momentos de contato. E o remoto fica muito solto, não é
aquela coisa você orienta, você fala, mas não é aquela coisa de você sentar
está ali, o olho no olho. Eu falo que o olho no olho, ele produz mais efeito.
[...] Os professores do diurno ainda vinham aqui. Ficavam das sete às onze.
Tem lá as escalas para os professores, mas os meus professores chegavam às
dezoito, antes das dezenove tinha que ir embora. Aí, então, nesse momento
que ele estava aqui, se ele sentasse comigo, ele deixava de atender o aluno que
estava com dúvida. Então o que que eu priorizava? Que ele atendesse o aluno.
Eu agendava aluno para ser atendido (Coordenadora E).
Não é fácil, mas a gente ainda tem que acreditar na educação. A educação é o
caminho! Não há outro. E eu acredito na educação e é por isso que eu ainda
estou aqui, porque eu gosto do que eu faço, porque eu acredito na educação
(Coordenadora E).
Houve aproximação com a escola, com a gestão, porque a gente ficou muito
ali. Primeiro a questão de APC18 e Busca Ativa [...]. Então, fortaleceu muito
isso na pandemia (Coordenadora B).
18
APC são atividades pedagógicas complementares entregues aos estudantes no período de aulas remotas.
122
É, aqui foi bem difícil, noturno, então, assim... eu falo assim, que ainda que
conseguimos. Eu colocava dois professores dentro de uma sala de aula e aí eu
marcava dois alunos cada professora, atendia um nesse horário intermediário
para poder atender e tirar dúvidas, porque não podia. Tudo não podia, mas o
aluno que não tinha internet, que não tinha nada, que pegava o material
impresso, ele ia fazer como? (Coordenadora E).
Logo, a insatisfação das coordenadoras pedagógicas fez com que buscassem estratégias
para minimizar os prejuízos na aprendizagem, atendendo aos estudantes no momento de
123
retirada das atividades, quando os professores estavam na escola para planejar, mesmo antes
dos atendimentos em rodízios iniciarem.
Mediante o exposto, podemos afirmar que a presente tese investigou a possibilidade de
bem-estar e/ou mal-estar das coordenadoras pedagógicas da REE em Jardim – MS, verificando
a satisfação e a insatisfação nos principais fatores dos quatro grupos de variáveis (atividade
laboral, infraestrutura, socioeconômico e relacional) em que consideramos a articulação,
formação e transformação do trabalho exercido nas escolas.
A seguir apresentamos as considerações a partir dos resultados das análises elaboradas,
pois acreditamos que as variáveis de satisfação e insatisfação explicitadas pelas participantes
ao colaborarem com a pesquisa possam oferecer subsídios para que se pense o trabalho dos
coordenadores pedagógicos sob uma perspectiva de mais valorização e reestruturação de sua
formação.
124
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O coordenador pedagógico na REE exerce uma função e não um cargo, e para tanto,
necessita de segurança e estabilidade para exercer suas atividades com dignidade. O fato de não
ter estabilidade no trabalho gera inúmeras situações negativas, como rotatividade, dificuldades
de interação e adaptação com a comunidade escolar e desconhecimento das caraterísticas e
necessidades da escola, ou seja, do contexto da comunidade escolar, devido ao fato de não
pertencer àquela comunidade escolar (por assumir a função em escolas que nunca atuaram).,
entre outros problemas.
Como contribuições práticas, enfatizamos a falta de formação continuada direcionada
para a atuação dos coordenadores e destacamos a importância para sua atuação, principalmente
com foco nas relações interpessoais.
As contribuições teóricas estão relacionadas aos estudos iniciais sobre o bem-estar do
coordenador pedagógico, enfatizando que as dimensões de atuação – articulação, formação e
transformação – se inter-relacionam, o que se comprova por meio dos componentes do trabalho
felicitário, já que se identificou a possibilidade de bem-estar nos componentes laboral e
relacional durante a articulação das tarefas diárias.
Como sugestões para pesquisas futuras, enfatizamos aprofundar os estudos sobre o bem-
estar e/ou mal-estar dos coordenadores pedagógicos, por entender a importância da função para
o funcionamento da escola e o sucesso da aprendizagem dos estudantes, além de continuar a
refletir e provocar, por meios de artigos, relatórios, manifestos, enfim, produzir documentos
endereçados aos secretários de educação e governantes do nosso estado, para que priorizem
políticas voltadas a valorização do coordenador pedagógico.
É importante lembrar que a relevância da articulação exercida por esse profissional no
cotidiano escolar se deve ao papel que desempenha, uma vez que é sua função organizar o
funcionamento pedagógico, articular as formações, atuar nas mediações de relacionamentos,
evitar desgastes que possam vir a acontecer, sempre com o compromisso de realizar ações
capazes de proporcionar as transformações que gerem sucesso no aprendizado dos estudantes e
satisfação nas interações e nas atividades que ocorrem nesse ambiente. Por fim, entende-se que
a valorização e o reconhecimento desse profissional atrairão mais professores para atuar no
trabalho da coordenação pedagógica.
129
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reflexões sobre possibilidades para repensar a prática pedagógica e o processo de ensino e
aprendizagem no Brasil. In: BARROS, Daniela Melaré Vieira et al. (Orgs.). Educação e
Tecnologia: reflexão, inovação e práticas. Lisboa: Universidade Aberta de Portugal. 2011.
8. APÊNDICES
poderá ocorrer a suspensão da coleta de dados sem nenhum prejuízo, conforme Capítulo IV,
Artigos 18º ao 21° da Resolução 510/16.
7.POSSÍVEIS BENEFÍCIOS ESPERADOS: Aquisição de conhecimentos teóricos que,
aliados à prática, podem acarretar melhorias para desempenhar minhas funções, bem como
colaborar com o estudo de modo que contribuirá para a valorização da função de coordenador
pedagógico.
Considerando as informações constantes dos itens acima e as normas expressas na
Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde consinto, de modo
livre e esclarecido, participar da presente pesquisa na condição de participante da pesquisa e/ou
responsável por participante da pesquisa, sabendo que:
1. A participação em todos os momentos e fases da pesquisa é voluntária e não implica
quaisquer tipos de despesa e/ou ressarcimento financeiro. Em havendo despesas operacionais,
estas deverão estar previstas no Cronograma de Desembolso Financeiro e em nenhuma hipótese
poderão recair sobre o participante da pesquisa e/ou seu responsável;
2. É garantida a indenização diante de eventuais danos decorrentes da pesquisa,
3. É garantida a liberdade de retirada do consentimento e da participação no respectivo
estudo a qualquer momento, sem qualquer prejuízo, punição ou atitude preconceituosa,
podendo participar de outras pesquisas futuras;
4. É garantido o anonimato;
5. Os dados coletados só serão utilizados para a pesquisa e os resultados poderão ser
veiculados em livros, ensaios e/ou artigos científicos em revistas especializadas e/ou em
eventos científicos, sem qualquer identificação do participante;
6. Os resultados do estudo serão enviados aos e-mails dos participantes.
7. A pesquisa aqui proposta foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), da
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), situado na Av. Tamandaré, 6000, Bairro Jardim
Seminário, Campo Grande – MS (e-mail cep@ucdb.br; telefone para contato (67) 3312-3478);
que a referenda e
8. O presente termo está assinado em duas vias e rubricado em todas as páginas numeradas.
_____________________________________________
Nome e assinatura do (a) Participante da pesquisa ou responsável pelo participante
____________________________________
Nome e assinatura do (a) pesquisador (a)
143
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO
PARTE I
Este questionário é um instrumento que faz parte da coleta de dados e aplicado aos
coordenadores pedagógicos. Na escola, o coordenador pedagógico exerce um papel estratégico
nas diversas instâncias que a permeiam. Considerando essa informação, assinale a alternativa
que melhor caracteriza o seu perfil profissional.
1. Nome
2. Endereço de e-mail
3. Idade
4. Qual(is) sua(s) graduação(ões)/licenciatura(s)?
5. Possui pós-graduação?
( ) Especialização ( ) Mestrado ( ) Doutorado
6. Em qual área fez sua pós-graduação? Em que ano obteve o título?
7. Quantos anos atuou como professora antes de assumir a função pela primeira vez?
( ) 1 a 2 anos ( ) 2 a 3 anos ( ) 3 a 4 anos ( ) mais de 5 anos
8. Há quanto tempo exerce a função de coordenadora pedagógica?
9. Como foi seu ingresso no cargo de coordenadora pedagógica?
( ) Concurso ( ) Processo seletivo ( ) Seleção interna
( ) Indicação ( ) Nomeação ( ) Outros
10. Quais etapas de ensino atende como coordenador pedagógico?
( ) Ensino Fundamental I ( ) Ensino Fundamental II ( ) Ensino Médio
( ) Projeto Avanço dos Jovens na Aprendizagem ( ) Educação de Jovens e Adultos
Parte II - Considerando essa informação, assinale a alternativa que apresenta, na sua opinião,
as funções que o coordenador da sua escola exerce:
19
A comunidade escolar é formada por professores e profissionais que atuam na escola, por alunos matriculados
que frequentam as aulas regularmente e por pais e/ou responsáveis dos alunos.
145
Dimensões de Elementos
atuação da relacionados aos
função de quatro
Verbalizações
coordenador, Insatisfação componentes de
segundo Placco um trabalho
et. al felicitário
1) da atividade
Insatisfação
Coordenadora B: [ao responder sobre o fim de Articulação laboral, do trabalho
(grande demanda
seu dia de trabalho] E já planejo a meta para o (das tarefas em si; 4) das
de trabalho e
outro dia. Caminho aos poucos, com pequenas diárias). condições físicas e
quando não
metas para serem cumpridas. Devido a grande de infraestrutura do
consegue cumprir
demanda de trabalho. ambiente escolar.
as tarefas diárias).
Coordenadora B:[ao descrever o seu fazer
diário] Corrido. Em um dia comum vamos
Articulação Insatisfação (com
colocar assim... com uma atribuição minha 1) da atividade
e as demandas
questão de análise de planejamento, com essa laboral, do trabalho
Formação burocráticas e
questão da pandemia e sempre chegando em si; 4) das
(para realizar os com o processo de
orientações novas, e tendo que fazer diretamente condições físicas e
planejamentos planejar no
essas orientações aos professores, a questão de de infraestrutura do
com os período
nós termos professores em várias escolas, muitas ambiente escolar.
professores). pandêmico).
vezes a gente tem que recorrer ao meio
tecnológico para fazer essas orientações.
Coordenadora B:[ao descrever o seu fazer
Articulação 1) da atividade
diário] Temos também a questão de acompanhar
(para organizar e laboral, do trabalho
como que está esses nossos alunos, porque
acompanhar a Insatisfação (Na em si; 2) das
assim, na minha escola também tem muitos
rotina da pandemia a relações
alunos da educação especial que também tem
Educação especial dificuldade no interpessoais; 4) das
que ter um olhar todo diferenciado para ver
considerando o acesso). condições físicas e
como está a aprendizagem deles principalmente
contexto de infraestrutura do
nessa época de pandemia que tiveram
pandêmico). ambiente escolar.
dificuldades no acesso.
1) da atividade
Articulação
Coordenadora B:[ao descrever o seu fazer Insatisfação laboral, do trabalho
(das tarefas diárias
diário] Então, é muita coisa, nós temos as (com excesso de em si; 4) das
e atendimento da
situações alunos cadeirantes que a gente tem que demandas da condições físicas e
Educação
ficar cuidando no ônibus, se sobem, se vem... função) de infraestrutura do
Especial).
ambiente escolar.
Coordenadora B:[ao descrever o seu fazer
Insatisfação
diário] Tem os incêndios que a gente tem que Articulação 1) da atividade
(com excesso de
apagar todos os dias. Então, é um dia bem cheio, (das tarefas laboral, do trabalho
demandas da
bem corrido, sempre com muitas demandas para diárias). em si.
função)
serem cumpridas com poucos prazos.
Coordenadora B:[ao responder sobre ser Articulação 3) das condições
Insatisfação (com
valorizada na função] Eu me sinto valorizada. (nas tarefas sociais e
a remuneração).
Não financeiramente. diárias). econômicas;
coordenadora B:[ao responder como acontece o Insatisfação (com 1) da atividade
planejamento] Ocorre das duas formas, a parte o trabalho laboral, do trabalho
Articulação e
documental, que é lá no sistema, com administrativo, em si; 2) das
Formação
orientações da caixinha de orientações, e sistema de acesso relações
(das tarefas
também pessoalmente, que eu sempre tento fazer e excesso de interpessoais; e 4)
diárias).
o horário de sentar com os meus professores, demanda das condições
para conversar com eles, trocar uma ideia. documental). físicas e de
148
Dimensões de Elementos
atuação da função relacionados aos
Verbalizações de coordenador, Insatisfação quatro
segundo Placco et. componentes de um
al trabalho felicitário
Coordenadora B: [ao descrever o seu
fazer diário] com essa questão da
pandemia e sempre chegando orientações Formação 1) da atividade
novas, e tendo que fazer diretamente e Insatisfação (com o laboral, do trabalho
essas orientações aos professores, a Articulação processo de planejar em si; 4) das
questão de nós termos professores em (para realizar os no período condições físicas e de
várias escolas, muitas vezes a gente tem planejamentos com pandêmico). infraestrutura do
que recorrer ao meio tecnológico para os professores). ambiente escolar.
fazer essas orientações.
orienta, você fala, mas não é aquela coisa (na interação por
de você sentar está ali o olho no olho. Eu meio dos
falo que o olho no olho ele produz mais aplicativos de
efeito. conversa).
Elementos
Dimensões de
relacionados aos
atuação da função
quatro
Verbalizações de coordenador, Insatisfação
componentes de
segundo Placco et.
um trabalho
al
felicitário
Coordenadora E: [ao responder sobre a
interação com dos professores e dos estudantes
durante a pandemia]. É, aqui foi bem difícil,
noturno, então assim. Eu falo assim que ainda Articulação
1) da atividade
que conseguimos eu colocava dois professores e
Insatisfação laboral, do trabalho
dentro de uma sala de aula e aí eu marcava Transformação
(com a em si; 2) das
dois alunos cada professora atendia um nesse (para o
infraestrutura). relações
horário intermediário pra poder atender tirar funcionamento na
interpessoais.
dúvida porque não podia. Tudo não podia, pandemia).
mas o aluno que não tinha internet que não
tinha nada, que ele pegava o material
impresso ele ia fazer como?
154
Dimensões de Elementos
atuação da relacionados aos
função de quatro
Verbalizações Satisfação
coordenador, componentes de
segundo Placco um trabalho
et. al felicitário
Coordenadora B: [ao responder sobre o fim de
seu dia de trabalho] Eu levo em consideração
Satisfação 1) da atividade
tudo que fiz no dia e tudo que eu consegui
Articulação (quando consegue laboral, do trabalho
caminhar no meu fazer pedagógico, na rotina
(das tarefas cumprir as tarefas em si; 4) das
dos meus professores, dos meus alunos. E
diárias). diárias). condições físicas e
quando eu consigo cumprir as pequenas metas
de infraestrutura do
diárias que eu coloco para mim ... eu me sinto
ambiente escolar.
satisfeita.
Elementos
relacionados
Dimensões de
aos quatro
atuação da função
Verbalizações Satisfação componentes
de coordenador,
de um
segundo Placco et. al
trabalho
felicitário
Coordenadora E:[ao responder sobre as
vantagens e desvantagens de ser
coordenador]A vantagem é que você pode
assim auxiliar tanto o professor na trajetória
dele e assim tentar fazer com que ele tenha um
olhar diferenciado para o aluno. Que ele veja
1) da atividade
que o aluno ele é um ser humano que está ali
Transformação laboral, do
independente da dificuldade do aluno. Você
Satisfação trabalho em si;
pode estar tentando fazer esse professor e ver
2) das relações
a educação com outros olhos. Você tem o lado
interpessoais.
que você pode fazer também o aluno querer
algo mais. Querer estudar e você tem essa...os
dois lados que você pode ajudar. E você como
professor é só você sozinha ali na sala de aula
lutando só por aqueles alunos é só você com a
tua turma com as tuas turmas no caso né?
Coordenadora E: [ao declarar uma mensagem
final] Não é fácil, mas a gente ainda tem que
acreditar na educação. A educação é o 1) da atividade
caminho! Não há outro. E eu acredito na Transformação Satisfação laboral, do
educação e é por isso que eu ainda estou aqui, trabalho em si.
porque eu gosto do que eu faço, porque eu
acredito na educação.
Coordenadora B:[ao responder sobre
valorizar os profissionais com quem trabalha]
Eu elogio, dou parabéns para os meus
professores. Eu incentivo, ótimo, o seu próximo
trabalho será melhor ainda com esse empenho.
Então, eu sempre trabalho com eles a questão
do elogio, sempre valorizo. E se tiver errado,
1) da atividade
falo, olha, que tal a gente fazer dessa forma? Articulação Satisfação
laboral, do
Então, eu falo para eles de um jeito que eles e transformação (na interação e
trabalho em si;
não se sintam ofendidos, porque às vezes uma (nos mediação dos
2) das relações
palavra colocada a gente consegue aí colocar relacionamentos). relacionamentos).
interpessoais.
uma grande barreira ali, né? E ter sempre um
embate. Então eu sempre tô elogiando e eu
faço uma sugestão, que tal a gente pensar
junto? Tá com dificuldade? Vem aqui, senta,
vou fazer um horário, a gente vai sentar, vamos
conversar, vamos bater uma ideia. Então eu
sempre procurei agir dessa maneira.
Coordenadora B:[ao responder sobre a
1) da atividade
interação com as famílias e os estudantes Articulação
Satisfação laboral, do
durante a pandemia]. Houve. Houve (pela presença dos
(com o retorno trabalho em si;
aproximação com a escola, com gestão... estudantes.
dos estudantes). 2) das relações
porque a gente ficou muito ali. Primeiro a Transformação
interpessoais.
questão de APC e busca ativa, quando
161
9. ANEXOS
ANEXO A - CARTA DE SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO DE PESQUISA
163