Tese de Oliveira A.M. Cap 1 3
Tese de Oliveira A.M. Cap 1 3
Tese de Oliveira A.M. Cap 1 3
No início dos anos oitenta, 81% das edificações comerciais no Estados Unidos recorreram à
utilização de equipamentos de climatização para promover conforto térmico. A estimativa de
capacidade instalada era de aproximadamente 100 milhões de toneladas de refrigeração.
Desses, 95% operavam segundo o ciclo de compressão de vapor (Brodrik, 1989). Em algumas
regiões do Brasil o ar condicionado representa 7% do consumo de energia elétrica no uso
residencial. Em Minas Gerais, o ar condicionado é responsável por 38% a 63% do total de
energia elétrica consumido no setor bancário (Gonçalves, 2000). Por mais hermético que seja
um circuito frigorífico de refrigeração sempre existirá o escape do fluido refrigerante devido à
porosidade existente nas soldas das tubulações desses circuitos. Dessa forma, com o passar
dos anos, sempre se fará necessária uma carga extra para repor o fluido refrigerante que se
esvaiu. Muitos dos fluidos refrigerantes são comprovadamente nocivos ao meio ambiente
contribuindo para o aquecimento global (Steimle, 1999; Granryd, 1999). Em conseqüência
disso, os Protocolos de Montreal (1987) e Kyoto (2002) e a American Society of Heating,
Refrigerating and Air Conditioning – ASHRAE, estabeleceram posições a serem tomadas e
metas a serem atingidas para extinguir a produção de refrigerantes que provocam a depleção
da camada de ozônio ou contribuem para o efeito estufa na atmosfera. Portanto, com os
avanços da pesquisa, só nos últimos anos a indústria vem disponibilizando equipamentos nos
quais os fluidos refrigerantes de trabalho são menos nocivos ao meio ambiente.
1
A eficiência do resfriamento evaporativo, até então, era limitada pela temperatura de bulbo
úmido do ar ambiente. No entanto, com o surgimento dos sistemas evaporativos do tipo
direto-indireto, já se tem alcançado temperatura do ar à saída do trocador inferior à
temperatura de bulbo úmido, até bem próximo do ponto de orvalho (Hsu 1989, Mathaudhu
2000). Soma-se, ainda, a aplicação de sistemas híbridos, no qual equipamentos evaporativos
são utilizados de forma híbrida com sistemas do tipo circuito de compressão de vapor (Brown,
1989). Davis (1989) apresenta um estudo de caso no qual sistemas evaporativos são utilizados
para combater altas taxas de calor sensível de ambientes previamente climatizados.
2
CAPÍTULO 2 – CONFORTO TÉRMICO
2.1 – Introdução
A definição clássica de conforto térmico está associada à condição mental que expressa
satisfação diante das condições do micro-clima que o ambiente oferece. Em outras palavras, o
conforto térmico pode ser entendido como a sensação térmica agradável ou não ao indivíduo
inserido em um meio ambiente qualquer.
É fato que o ser humano é um animal homeotérmico. Para que os órgãos funcionem
adequadamente, a temperatura corporal central se mantém constante a 37,0+/-0,5°C. O
cérebro ao identificar variações significativas da temperatura corporal, através de sensores
térmicos da pele e do hipotálamo, aciona os mecanismos fisiológicos tais como taxa de
batimentos cardíacos e transpiração, nível de metabolismo, fluxo sanguíneo, etc, para manter
a temperatura corporal constante e restabelecer o equilíbrio térmico do corpo.
O corpo humano reage de diferentes maneiras para se adaptar ao frio e ao calor. Uma redução
na temperatura corporal central conduz a reações para aumentar a produção interna de calor
pela elevação do metabolismo basal através da ação do sistema neuro-endócrino. Calafrios
podem aumentar a taxa metabólica de três a cinco vezes. Durante exposições prolongadas ao
frio, o hipotálamo estimula a glândula pituitária a produzir hormônios que afetam outros
3
órgãos, principalmente a tireóide e os rins. A produção de calor é devida, em parte à ação de
dois hormônios da medula supra-renal: adrenalina e noradrenalina (McArdle, 1985).
Na idade avançada, a resposta das glândulas sudoríparas é mais lenta, reduzindo a tolerância
dos idosos ao calor. Na década de 90, essa evidência entre idosos, foi constatada com o
aumento da taxa de mortalidade na Europa, mediante a ocorrência de ondas prolongadas de
calor. Os estudos mostram que não há grande influência sobre a sensação térmica entre
indivíduos de idades e sexos distintos, mas exceção se faz para as mulheres nos períodos
menstruais e de menopausa. Estudos observam ainda que outros fatores, tais como
porcentagem de gordura corporal e o uso de álcool e drogas, bem como estados enfermos,
estão relacionados à menor tolerância quando submetidos a estresses térmicos. (Fanger, 1970).
Homens e mulheres com o mesmo nível de atividade e com a mesma vestimenta têm
preferências semelhantes quanto à temperatura ambiente. Todavia, normalmente mulheres e
homens apresentam níveis diferenciados do grau de isolação das vestimentas. No verão,
homens vestem-se a 1 clo com preferência de temperatura entre 20 a 24°C. Mulheres vestindo
0,5 clo, têm preferencial a faixa de temperatura 23 a 26°C. Uma outra observação é que as
mulheres têm melhor tendência a adaptar-se à temperatura externa, pois variam a vestimenta
(Olesen, 2000). É importante ressaltar que oportunidades adaptativas, como tipo de atividade,
tipo de vestimenta, controle sobre os termostatos e umidostatos locais, abertura de janelas para
aumentar a taxa de ventilação, ventiladores para aumentar a velocidade do ar, fechamento de
cortinas para diminuir a insolação direta, facilitam à adaptação do indivíduo ao ambiente. Em
outras palavras, a maior flexibilidade quanto às oportunidades adaptativas amplia as zonas de
conforto térmico tido como satisfatórias.
4
Nielsen (1994) avalia a termo-regulação do corpo humano quando submetido às mudanças
bruscas do ambiente térmico. Ele conclui que essas mudanças dificultam a adaptação
climática dos indivíduos. Jokl (1989) apresenta um modelo físico-matemático utilizando
circuitos elétricos como ferramentas de raciocínio para interpretar as taxas de transferência de
calor e massa entre o corpo humano e o meio ambiente. Os resultados das pesquisas
experimentais sugerem referências da temperatura globo, inverno e verão, associada à termo-
regulação corpórea. Sawka (1983) apresenta resultados da adaptação ao calor concluindo que
o tempo mínimo de exposição para se conseguir uma aclimatação necessitaria da exposição
contínua de no mínimo 100 min diários.
Neste contexto, o conforto térmico tem importância destacada não só para promover uma
sensação térmica agradável, e, em se tratando de condições térmicas extremas, torna-se uma
ferramenta para manter a integridade da saúde física do indivíduo.
A seguir, no que tange aos índices de conforto térmico, serão apresentadas em ordem
cronológica, as principais publicações científicas de diversos autores, sobre o estudo para
caracterização dos índices e zonas de conforto térmico.
5
Figura 2.1 - Temperatura efetiva sugerida por Yaglou (Macintyre, 1990)
Os dados experimentais geraram dois diagramas: um para indivíduos sem camisa e outro, com
vestimenta leve. Os diagramas apresentados na Figura 2.1, permitem a determinação direta da
temperatura efetiva a partir da entrada das variáveis: temperaturas de bulbo seco, temperatura
de bulbo úmido e velocidade do ar.
6
Fanger (1970) supôs a sensação térmica em função da carga térmica necessária para a
adaptação do indivíduo no ambiente, ou seja, função dos esforços fisiológicos exercidos pelo
indivíduo para a aclimatação. Desta suposição utilizou uma câmara climática, no qual
considerou constantes as variáveis físicas e fisiológicas, com exceção da temperatura de bulbo
seco e da taxa de metabolismo, para correlacionar modelos físico-matemáticos à sensação
térmica para vários níveis de atividade física de indivíduos. Os dados experimentais foram
obtidos em câmaras climáticas, através da medição da taxa de transpiração e da temperatura
da pele em indivíduos americanos.
Segundo a norma ISO 7730 (1994), para baixa velocidade do ar (< 0,2 m/s), e diferença de
temperatura radiante e de bulbo seco inferior a 4°C, a temperatura operativa pode ser
calculada como a média aritmética das mesmas. Devido à dificuldade de se determinar os
coeficientes de radiação e convecção, a mesma norma traz uma equação alternativa para
cálculo da temperatura operativa inserindo um coeficiente adimensional k (Tabela 2.1), função
da velocidade do ar: Top = (1-k)Tr + k.Ta
O diagrama bioclimático de Givoni (1992) é construído sobre uma carta psicrométrica (Figura
2.2). A representação gráfica considera a aclimatação de indivíduos em regiões de clima
quente. Dados experimentais foram primeiramente levantados em Israel e posteriormente
estudos complementares foram feitos em San Diego (Califórnia, US), Os estudo de Givoni
7
foram realizados para ambientes basicamente residenciais para cargas térmicas internas
moderadas.
1 – Zona ideal para o conforto; 2 – Zona que aplicando ventilação leva ao conforto; 3 – Zona
para aplicação do resfriamento evaporativo; 5 – Zona para aplicação do ciclo de compressão
do vapor; 6 – Zona para aplicação da umidificação; 7 – Zona aquecimento solar passivo;
8
normalizam os aspectos referentes ao indivíduo relativos ao grau de isolamento que a roupa
oferece (0,5 clo para verão, 1,0 clo para o inverno) e o nível de atividade física leve (<1,2
met). Os fatores físicos ambientais são a temperatura de bulbo seco do ar ambiente, a
temperatura radiante média, que se traduzem na temperatura operativa e a umidade relativa do
ar. O primeiro método (PMV) avalia os votos relativos ao estado de satisfação dos ocupantes
relativos ao conforto térmico que o ambiente oferece segundo uma escala de sete pontos: 3 →
muito frio; 2 → frio; 1 → moderadamente frio; 0 → neutro; 1 → moderadamente quente; 2 →
quente; 3 → muito quente.
O segundo método (PPD) avalia os votos percentuais relativos ao estado de insatisfação dos
ocupantes relativo ao conforto térmico que o ambiente oferece: PPD=0: corresponde a 5% de
ocupantes insatisfeitos; PPD=+/-0,5: corresponde a 10% de insatisfeitos. A figura 2.3
apresenta resultados de referências para conforto térmico utilizando o método PPD. Os três
gráficos são similares para faixas de aceitabilidade para o par temperatura e umidade, para
pessoas com vestimentas típicas, respectivamente para verão e inverno, em atividades
sedentárias, para ambientes climatizados por ciclo de compressão a vapor. A velocidade do ar
não supera 0,2 m/s. Os gráficos foram baseados para o critério de 10 % de insatisfeitos. A
interpretação sugere a linha TBU de 20°C como limite superior para o conforto térmico para
as condições do verão e limite de temperatura operativa não superior a 28°C. A ISO 7730 e a
norma 55-1992 Ashrae, recomendam ainda, níveis de umidade relativa não inferiores a 30% e
não superiores a 80%.
9
A figura 2.4, apresentada no artigo de Olesen (2000), está incluída na norma 55-1992 Ashrae.
Nesta figura um método gráfico é aplicado para estimar a sensação da queda da temperatura
em função da velocidade de deslocamento do ar, tendo como referência a diferença entre a
temperatura radiante e a temperatura de bulbo seco do ambiente. Para um ambiente no qual
essa diferença aproxima-se de zero e deslocamento do ar a 0,7 m/s produz uma sensação
térmica de aproximadamente menos 2,2°C. Dessa forma, os gráficos apresentados na figura
2.4 apresentariam maior flexibilidade quanto à temperatura limite para o conforto se o
deslocamento do ar fosse inserido como uma das variáveis. Na prática, a figura 2.5 sugere que
a elevação da temperatura de um ambiente pode ser compensada pela elevação da velocidade
de deslocamento do ar.
Brager e de Dear propuseram um modelo para estimar o desvio da sensação térmica função da
temperatura operativa. A equação serve para estimar quanto a condição do ambiente local
desvia-se da condição ótima representada pelo ponto '0' da escala de sete pontos adotada pela
ISO 7730. As equações obtidas por regressão linear são:
10
A figura 2.5 apresenta os resultados publicados por Berlung (1998) para aceitabilidade de
80% e 90% para o conforto térmico, na estação de inverno, sobrepostos à referência de
conforto proposta pela norma 55-1992 da Ashrae. Função dos resultados publicados, o autor
sugere uma zona de conforto defasada em relação à curva da norma 5
Figura 2.5 - Zona de conforto para inverno, sugerida por Berlung (1998).
As referências que estão relacionadas ao conforto térmico reportam para quais condições um
ambiente torna-se confortável. Somado aos métodos tradicionais de avaliação do conforto,
mais recentemente, vêm sendo introduzidas outras variantes para o conforto. Estas variantes
são relacionadas, por exemplo, à diferença entre temperatura de bulbo seco e a temperatura
radiante, diferenças entre a temperatura vertical (entre pés e a cabeça), diferença entre
temperaturas de superfícies distintas tais como piso, teto e paredes, além da velocidade
excessiva do deslocamento do ar. As citações referenciadas na norma 55-1992 são: diferença
de temperatura de ponta a cabeça não superior a 3°C; assimetria radiante para paredes e
janelas inferiores a 10°C; assimetria de piso teto menor que 5°C; temperatura de piso não
inferior a 19°C e não superiores a 29°C. Estas variantes estão listadas na tabela 6.2 em três
diferentes categorias (Olesen, 2000).
11
Tabela 2.2 – Diferencial de temperatura de superfícies assimétricas para o conforto.
Diferença da Temperatura Temperatura Radiante assimétrica
Categoria temperatura do piso (°C) Teto Teto Parede Parede
vertical do ar quente frio fria quente
A <2 19 a 29 <5 < 14 < 10 < 23
B <3 19 a 29 <5 < 14 < 10 < 23
C <4 17 a 31 <7 < 18 < 13 < 35
Na figura 2.6 e 2.7, Lomas (2004) fundamentado no diagrama bio-climático de Givoni (1992),
apresenta a zona de conforto térmico e os limites para a aplicação direta de sistemas
evaporativos e ventilação natural como métodos de promover o conforto térmico. Na figura
2.7 há referências para a aplicação de métodos evaporativos levando-se em consideração a
carga térmica interna dissipada no ambiente. Carga leve: 10 W/m2, um ocupante para 20 m2;
carga média: 30 W/m2, um ocupante para 10 m2, mais iluminação e computador; carga alta:
50 W/m2, um ocupante para 5 m2, mais iluminação e computador.
12
Figura 2.6 – Primeira carta bioclimática, de Lomas (2004)
13
A referência NBR 6401 (1980) da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, são
encontrados os parâmetros básicos para cálculos de carga térmica para ambientes climatizados
pelo ciclo de compressão do vapor, tais como taxa de renovação de ar, dados de calor
liberados por fontes diversas, condições extremas de temperatura e umidade para todas as
regiões brasileiras, dentre outras. A norma indica como referências para o conforto térmico,
níveis de umidade relativa entre 40 a 70% e temperatura entre 21 a 27°C, variando estes
limites para cada tipo de ambiente. Também constam recomendações do grau de filtragem e
dos níveis de ruído a serem praticados nos ambientes climatizados. A segurança e a medicina
do trabalho da Federação Brasileira regulamentam as condições de insalubridade quanto ao
quesito temperatura de ambientes de trabalho, amparado na lei 6514/77, portaria 3214/78,
norma NR-15, anexo 3, item 2 e 3 (Avatec). O parâmetro utilizado como referência é o
IBUTG - Índice de Bulbo Úmido e Termômetro Globo. O índice é calculado utilizando as
equações abaixo:
TG é a temperatura medida com um termômetro do tipo globo. Na tabela 2.3 são apresentados
os limites do IBUTG que não devem ser ultrapassados função da atividade e da carga de
trabalho que o indivíduo é submetido.
14
2.4 – Conclusões
Os estudos mais recentes de autores diversos vêm mostrando que há uma maior capacidade
adaptativa ao conforto térmico em ambientes que preferem outros sistemas (ventilação e
evaporativos) ao ciclo de compressão do vapor. Esses estudos evidenciam a maior
flexibilidade na aceitação de temperaturas, umidades e velocidades mais elevadas do ar, que
as preditas pelas referências publicadas nas normas ISO 7730 e Ashrae 55-1992,
principalmente quando o indivíduo tem controle sobre as variáveis adaptativas. Por
conseqüência, os comitês dessas organizações normativas estão estudando a inclusão desses
resultados em referências futuras, se não aquelas testadas para ambientes climatizados pelo
tradicional ar condicionado (ciclo de compressão do vapor).
15
CAPÍTULO 3 – SISTEMAS DE CLIMATIZAÇÃO
3.1 – Introdução
Nos dias de hoje, um bom projeto de climatização deve contemplar características exigidas
pelo mercado globalizado:
16
São muitas as opções de climatização que o mercado disponibiliza para o projetista definir
qual o melhor sistema a ser adotado para climatizar determinado ambiente. Em ordem de
descarte cita-se a ventilação natural, ventilação forçada, sistemas evaporativos, sistemas
híbridos e por último o sistema de compressão do vapor. O diagrama bioclimático proposto
por Givoni (Fig. 2.2) avalia de maneira rápida o sistema a ser implantado função da
temperatura e da umidade do clima local.
A ventilação natural tira proveito da convecção natural do ar para dissipar a carga térmica do
ambiente. A convecção natural do ar em um ambiente se dá por dois fatores principais:
movimentação devida à diferença de pressão interna e externa (ventos) e movimentação
devida à diferença de densidade do ar (fontes internas de calor).
17
Em qualquer dos dois casos devem existir na edificação entradas e saídas estratégicas,
necessárias ao deslocamento do ar para o ambiente externo. Para tal, adotar venezianas,
lanternins, átrios e torres de deslocamento do ar que devem ser compatibilizadas junto à
arquitetura. As aberturas para a entrada do ar devem estar preferencialmente nas partes mais
baixas (venezianas ou janelas). Já as aberturas para a saída do ar devem estar
preferencialmente locadas nas partes elevadas da construção (lanternins, basculantes, átrios).
As figuras 3.1 e 3.2, mostram algumas destas disposições.
18
O uso de ventiladores do tipo eólico é bastante difundido no mercado nacional e aplicado
vastamente a galpões e indústrias (Fig. 3.3). Neste sistema a convecção natural do ar induz à
movimentação da hélice tipo turbina, aumentando a tiragem do ar interno. Esses ventiladores
têm maior aplicabilidade em ambientes com geração interna de calor.
Sabe-se que as condições dos ventos não são sempre as mesmas, variando em intensidade e
direção ao longo das estações do ano ou até mesmo para o período de 24 horas diárias. Por
isso, a ventilação natural pela ação do vento não oferece garantia de uniformidade. Todavia,
considerando a área de aberturas iguais às de saída e conhecendo-se a velocidade média
sazonal dos ventos locais, pode-se estimar a vazão de ar que entra em um recinto. Sendo os
ventos predominantes, perpendiculares às aberturas do ambiente, um fator de 0,5 deve ser
aplicado à equação 3.1. Sendo os ventos diagonais o fator considerado deve ser de 0,25. O
efeito da diferença de densidade do ar é conhecido como efeito chaminé e pode ser estimado
tendo como referência a diferença de temperatura entre o ar à entrada e o ar à saída do
ambiente. A equação 3.1 (Macintyre, 1990) estima a vazão do ar considerando igual área de
entrada e saída do ar.
sendo Q (cfm) a vazão em pés cúbicos por minuto, A(ft2) a área em pés quadrados, d (ft) a
distância vertical em pés entre as aberturas à entrada e à saída, Ti (°F) a temperatura média do
19
ar interior à altura das aberturas da saída em graus Farenheit, Te (°F) a temperatura do ar
exterior em graus Farenheit. 9,4 é uma constante de proporcionalidade, para efetividade das
aberturas de 65 %. Este valor deve ser reduzido para 50%, caso as condições de escoamento
não forem favoráveis. Para aberturas de tamanhos desiguais é considerada a menor área. O
gráfico (a) da figura 3.4 é utilizado para a correção da vazão. Para efeitos combinados,
chaminé e ventos, o gráfico (b) da figura 3.4 é aplicável.
Van der Maas (1989) avalia o fluxo de ar natural em ambientes devido às diferenças de
temperatura interna e externa e incorpora a transferência de calor nas paredes. As equações
acopladas de transferência de calor e massa são resolvidas para a temperatura do ambiente
interno para estimar as taxas de massa e calor. A figura 3.5 mostra o deslocamento do ar
devido à diferença da temperatura interna e externa.
20
Figura 3.5 - Convecção do ar devido à diferença de temperatura
Kiel (1989), apresenta equações de perfis de velocidade e fluxo de massa entre fronteiras de
ambientes interno e externo através de medições realizadas em modelos na escala 1:20,
função da diferença de densidade. A figura 3.6 mostra perfis de velocidade e temperatura para
a elevação de um ambiente.
21
Técnicas de modelagem macroscópica, aplicadas a fenômenos de transporte, são aplicadas
sobre balanços de massa, momentum e energia, expressos em termos de equações diferenciais
ordinárias para um ou mais volumes de controle. O autor estima qual a pressão exercida pelos
ventos para a determinação de perfis de velocidade para regiões rural, urbana e de metrópole.
Os resultados indicam que a construção de edificações modifica o perfil da camada limite
natural do vento (Fig. 3.7).
22
Figura 3.8 - Campo de vetores velocidade devido à diferença de temperatura entre paredes
Figura 3.9 - Campo de vetores velocidade devido à diferença de temperatura entre paredes
23
Resultados indicam que a taxa de fluxo de massa é sensível à altura e localização da porta na
parede que divide os ambientes e também da localização da parede de partição no ambiente.
Já o fluxo de calor é independente quanto à localização da parede de partição.
24
A vazão mássica de ar, m
& (kg/s) necessária para promover a renovação constante do ar em um
ambiente é calculada a partir da taxa de carga térmica sensível, q& (W=J/s). A taxa de calor
sensível é representada pelo somatório de todas as fontes sensíveis de calor internas e
externas. ∆T é a diferença da temperatura interna e externa de referência:
& .cp.∆T
q& = m (3.2)
Nesse sistema, por mais renovações do ar, R(s-1) , que se faça em um ambiente, a temperatura
limite inferior para o ambiente beneficiado é a temperatura externa à sombra, protegida do
calor de radiação e de fontes de geração interna. Como primeira referência de cálculo, para se
chegar ao valor de R(1/s), para um recinto, normalmente é utilizada a diferença de 3°C entre a
temperatura externa e interna.
A vazão volumétrica de ar, Q (m3/s), é calculada como uma função da vazão mássica
m& (kg/s):
m&
Q= (3.3)
ρa
Q
R= (3.4)
Vol
Para rápidas estimativas a Tabela 3.1 fornece valores da taxa de renovação do ar para diversos
ambientes (Creder, 2004).
25
combustão produzidos pelos veículos. Óxidos nitrosos (NOx) e o monóxido de carbono (CO)
são os mais poluidores. A norma 62-1989 ANSI/ASHRAE, referência para estes ambientes, a
taxa de renovação do ar de 7,62 l/s.m2 (1,5 cfm/ft2) por área de piso, ou ainda 11,25
renovações do volume de ar para um pé direito de 2,5 m. Uma alternativa que tem sido
utilizada para o controle e acionamento dos equipamentos é o monitoramento contínuo da
taxa de concentração de CO. Todavia, os níveis aceitáveis de CO não são concordantes entre
os órgãos normativos. Krarti (2001) apresenta em forma de exemplo um procedimento para a
determinação do número de renovações do ar do ambiente função do número de automóveis e
da taxa média de emissão de CO durante o horário de pico.
26
3.4 – Ciclo de compressão do vapor
Como a temperatura de ebulição do fluido está abaixo da temperatura de bulbo úmido do ar,
além do resfriamento, também ocorre a queda do percentual de umidade do ar. Como o
trabalho é fornecido ao sistema por meio de um compressor que comprime o fluido
refrigerante em estado gasoso o sistema recebe o nome do ciclo de compressão do vapor.
27
A especificação dos equipamentos é feita a partir do cálculo da carga térmica do ambiente a
ser climatizada e das características arquitetônicas da edificação. Esta carga térmica é
calculada em função da temperatura e umidade que se deseja no ambiente a ser climatizado e
da estimativa de todas as fontes de calor externas e internas que o ambiente carrega (Creder,
2004).
i) ODP - Ozone Depletion Potencial é um índice que determina o potencial que cada
refrigerante possui de reagir com o ozônio. A faixa de ODP vai de 0,0 a 1,0. Zero
para o inativo e 1 para o R-11 e R-12.
A tabela 3.2 relaciona algumas características de vários fluidos refrigerantes quanto ao grau de
agressão ao meio ambiente e periculosidade.
28
Tabela 3.2 - Características de Fluidos Refrigerantes (Steimle, 1999)
Fluido ODP (R11=1) GWP (CO2=1) Tóxico Inflamável
R-11 1 4.000 Não Não
R-12 1 8.500 Não Não
R-22 0,055 1.700 Não Não
R-32 0 580 Não Sim
R-125 0 3.200 Não Não
R142 0,0065 2.000 Não Não
R-143 0 4.400 Não Sim
R-134 0 1.300 Não Não
R-152 0 140 Não Sim
R227 0 2.900 Não Não
R-717 (amônia) 0 0 Sim Não
R-290 (propano) 0 3 Não Sim
R-600 (butano) 0 3 Não Sim
R-718 (água) 0 0 Não Não
R-744 (CO2) 0 1 Não Não
Hélio 0 0 Não Não
No protocolo de Montreal foi firmado um compromisso entre várias nações para a redução,
cancelamento da produção e consumo de fluidos refrigerantes nocivos ao meio ambiente.
Posteriormente ao Protocolo de Montreal em Londres (1990) e Copenhague (1992) ficou
acordada que até 1996, 100% dos CFC-11 e 12 estaria encerrada a produção. Para países cujo
consumo fosse inferior a 300 gramas por habitante este prazo se estenderia até 2006. Para o
HCFC-22 este prazo se estenderia até 2030. Segundo publicação da revista Abrava (2004),
recursos de R$ 26,7 milhões provenientes do Fundo Multilateral do Protocolo de Montreal
estão sendo disponibilizados a fundo perdido para atender ao compromisso de zerar a
produção de fluidos poluentes. A verba é liberada em parcelas anuais mediante comprovação
do cumprimento das etapas do plano. A meta do Brasil é zerar a importação de CFC-12 em
2007 (PNC - Plano Nacional para Eliminação de CFCs). A posição do comitê da ASHRAE
sobre as substâncias que contribuem para a depleção da camada de ozônio se resume a ações
nos seguintes pontos:
29
O leque de opções de equipamentos disponíveis no mercado que utilizam a compressão do
vapor é bastante vasto. Até recentemente, a grande maioria dos equipamentos disponíveis era
de bandeira americana. Até o final do século passado, marcas mundialmente conhecidas como
Springer Carrier e Trane dominaram o mercado nacional e mundial sem serem ameaçadas,
além da japonesa Hitach. Isto justifica a referência de termos do inglês, empregados para
distinguir os equipamentos tais como self-contained, water chiller, fan-coil, roof top, split
system. Recentemente, marcas tais como Elgin, York, LG, Saint Louis, em sua maioria de
tecnologia americana, e fabricadas em várias partes do mundo, tomaram uma fatia do
mercado. Os equipamentos de ar-condicionado são formados por dois grupos básicos que se
distinguem de acordo com o tipo de troca de calor que o sistema faz com o ar do ambiente
beneficiado. Os equipamentos de troca direta, o ar do ambiente troca calor diretamente com a
serpentina do evaporador do equipamento. Nos equipamentos de troca indireta, água é
previamente gelada no evaporador e essa é forçada a fluir numa tubulação até alcançar uma
outra serpentina, no qual o ar do ambiente é resfriado. Esse último é chamado de central de
água gelada (CAG).
30
Figura 3.13 - Exemplo de instalação do tipo split insuflamento direto.
Nas centrais de água gelada (CAG), o fluido refrigerante principal cede frio para um segundo
fluido de trabalho (ex: água), que por sua vez troca calor com ambiente a ser climatizado. Para
fazer a circulação da água gelada que servem aos fan-cool's (inter-cambiadores de calor para
as áreas climatizadas) é necessário instalação de bombas hidráulicas ao circuito primário de
refrigeração. Também nestes equipamentos a condensação do fluido refrigerante pode ser feita
a água ou a ar. No caso da condensação a água é necessária a instalação de bombas hidráulicas
ao circuito de água de condensação.
31
condensação sai do condensador com a temperatura superior à temperatura de condensação do
refrigerante principal. Dentro da torre de refrigeração, a água que vem quente do condensador
é aspergida sobre uma colméia no qual flui ar externo forçado em contra-corrente. Parte da
água evapora cede calor latente ao ar. Na contra partida a temperatura da massa líquida cai
(resfriamento evaporativo). A água é coletada numa bacia e a bomba faz o trabalho do
deslocamento de massa fluida até retornar ao condensador. As torres são amplamente
utilizadas em plantas industriais e em sistemas de climatização de grande porte.
Para edificações que exigem alta demanda de carga térmica, em série com os sistemas de água
gelada, vem sendo disponibilizada no mercado a tecnologia da termo-acumulação. A
tecnologia emprega o armazenamento de energia térmica em tanques de uma mistura de água
e etileno-glicol, durante os horários noturnos, para os quais as tarifas energéticas são mais
baratas. Muitos são os estudos sobre o impacto dos termo-acumuladores na dinâmica
operacional de sistemas de água gelada, tais como, congelamento excessivo, corrosão (Born,
1989) e proliferação de microorganismos (Meitz,1989). Ahlgren apresenta uma visão geral
sobre as práticas de tratamento em sistemas de termo-acumulação.
O estudo da Refrigeração Magnética teve seu início em 1881. Warburg observou o efeito
magneto caloria (MCE) quando submeteu um corpo de ferro à variação de um campo
magnético. Em 1926 Giauque produziu temperaturas próximas a 1K, aplicando o resfriamento
adiabático por desmagnetização. A partir deste marco passou a ser aplicada na criogenia, mais
especificamente no processo de liquefação do hidrogênio e do hélio. Em 1976, empregando
um metal raro chamado de Gadolinium (Gd), como elemento de resfriamento, Brown (Lewis
Research Center of American Aeronautics and Space Administration), foi o primeiro a aplicar
a refrigeração magnética para a faixa de temperatura ambiente. Em 1996, Zimm (American
Astronautics Technology Center) desenvolveu um refrigerador magnético, no qual utilizou
aproximadamente 3 kg de Gd para a geração de 600W de potencia de resfriamento, para um
campo magnético de 5T. Nos últimos anos a refrigeração magnética tem intensificado suas
aplicações para a faixa de temperatura ambiente. Independentemente da faixa de temperatura
que se almeja trabalhar o material magnético torna-se a chave da capacidade de resfriamento.
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Segundo Yu (2003), a Refrigeração Magnética mostra-se como o sucessor da tradicional
tecnologia do ciclo de compressão do vapor. Citam-se como principais vantagens o fato de
não agredir o meio ambiente, os equipamentos são compactos, não existem compressores e
partes móveis bastante reduzidas, no que implica em baixos níveis de ruído e vibração, além
da alta eficiência energética (30 a 60%).
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Em materiais magnéticos, como a posição do campo elétrico cristalino tem influencia direta
sobre as propriedades termodinâmicas do sistema, incluem-se neste a entropia, técnicas de
resfriamento adiabáticas podem ser implementadas. O resfriamento adiabático induzido por
um campo magnético variável é conhecido como efeito magneto-caloria (MCE). Já o
resfriamento adiabático induzido pela aplicação de pressão externa ao sistema é conhecido
como efeito baro-caloria (BCE). Para a pressão constante a entropia total do sistema depende
da temperatura e do campo magnético aplicado ao sistema e pode ser fornecida pela soma
parcial das entropias eletrônica, lattice (gaiola) e magnética (Yu, 2003). Segundo Strassle
(2001), a introdução de um campo magnético do sistema induz ao rearranjo da estrutura do
sistema em paralelo com uma transição de fase magnética (mudança na orientação do spin).
Bartholin (1994) resume em três categorias distintas as catorze fases magnéticas que o
composto CeSb apresenta. Num passo seguinte, a remoção adiabática do campo magnético,
implica na redução da temperatura do sistema. Neste ponto ocorre o resfriamento.
Observações indicam a existência de uma temperatura no qual a geração de entropia é
máxima. Esta temperatura é conhecida como Temperatura de Curie. A remoção do campo
magnético do sistema induz a volta do material a sua estrutura natural. E da mesma forma o
spin magnético tende a voltar para a sua fase natural as custas da redução da temperatura do
sistema. Strassle (2000) reviu informações quantitativas do mecanismo de resfriamento baro-
calórico através de técnicas de medições conhecidas como dispersão nêutron elástica e
inelástica para compostos do tipo Ce1-X(LayY1-Y) e CeSb . Strassle (2003) apresenta modelos
matemáticos para o cálculo da entropia total de compostos magnéticos raros para estimar o
efeito BCE, baseado em parâmetros microscópicos do sistema em investigação. Foram
realizadas, ainda neste artigo, comparações dos resultados de modelos matemáticos contra as
medições experimentais com os compostos do tipo CeSb, HoAs, Ce3Pd20Ge6 e EuNi2(Si,Ge)2.
Perovskite Manganites (Xu, 2002) são materiais que tem como principal propriedade elevadas
magnitudes da magneto-resistência. Uma das aplicações destes materiais é a sua utilização
como sensores magnéticos. Nos dias atuais, devido à importância tanto cientifica como
tecnológica, a pesquisa de materiais magnéticos, para o uso na refrigeração, vêm apresentando
desenvolvimento bastante significativo, devido principalmente às altas taxas de geração de
entropia magnética nestes materiais. Xu (2002) expõe o método utilizado para a fabricação
das amostras experimentadas e posteriormente faz medições dos intervalos discretos do
campo magnético e de temperatura para exprimir resultados da variação de entropia e do calor
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específico de vários materiais magnéticos. As equações utilizadas para expressar os resultados
são apresentadas abaixo. A variação da entropia é dada por:
H
∂M i ( H − H )( M
i −1 − M i )
∆SM = µ 0 ∫ dH = ∆SM = ∑ i i −1
0 ∂T i =1 (Ti − Ti −1 )
∂∆SM
A variação do calor específico é dado por: ∆C P , H = T
∂T
Alto número de Momento Angular (J), baixo calor específico, condutividade térmica elevada
(maximizar as trocas térmicas), alta resistência elétrica (evitar perda por histerese) são
algumas das características dos materiais magnéticos utilizados na refrigeração. Compostos de
ligas Gd mostram-se bastante aplicáveis à refrigeração, todavia o alto custo e a oxidação se
mostram como as principais barreiras a serem transpostas na tecnologia destes materiais
(Tabela 3.3).
Tabela 3.3 - Características de materiais magnéticos aplicados à refrigeração.
Material Magnético TC(K) ∆H(T) ∆SM(J/(kg.K)) ∆T(K)
Gd 294 1,5 3,8
Gd 294 3 7,1
Gd 294 5 10,2 12
Gd [28] 294 6 11,4
[35]Gd7Pd3 323 5 8,5
[41]Gd5(Si1,985Ge1,985Ga0,03)2 290 5 15
[70]Ni52,6Mn23,1Ge1,985Ga24,3 300 5 18
Ni52,6Mn23,1Ga24,3 300 6
[74]MnFeP0,45As0,55 300 5 18
MnAs1-XSbX 315 5 30
[72]MnAs 318 5 30
La2/3(CaPb)1/3MnO3 296 7 7,5
CeFe17-XCoX 294,2 2 4,75
Er2Fe17-XNiX 293,5 2 4,51
Ligas do tipo Perovskite têm atraído maior interesse na refrigeração magnética devido ao
baixo custo, alta taxa entrópica, não oxidante e alta resistência elétrica. A idéia é tomar um
determinado material ferromagnético e modificar sua ligação química tornando-o num novo
composto no qual a variação entrópica e da temperatura de trabalho esteja dentro da faixa de
operação desejada.
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