Eia Dnit
Eia Dnit
Eia Dnit
LISTA DE FIGURAS
Figura 5.1: Distribuição da população por sexo na AID. ................................................................................ 13
Figura 5.2: Pirâmide etária do município de Itacarambi/MG. ......................................................................... 13
Figura 5.3: Pirâmide etária do município de Manga/MG. ............................................................................... 14
Figura 5.4: Pirâmide etária do município de São João das Missões/MG. ..................................................... 14
Figura 5.5: Espacialização das Migrações na AII. ......................................................................................... 17
Figura 5.6: Fim do trecho da BR-135 a ser pavimentado, próximo a área urbana de Itacarambi ................. 18
Figura 5.7: Entrada do município de Manga .................................................................................................. 18
Figura 5.8: Acesso principal ao município de São João das Missões ........................................................... 18
Figura 5.9: Cemitério e igreja na localidade de Rancharia, próximos à faixa de domínio da BR-135. .......... 19
Figura 5.10: Vista do acesso principal da localidade de Rancharia, próximo a BR-135. .............................. 19
Figura 5.11: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, em 2000. ........................................................ 21
Figura 5.12: Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para a AII, em 2000. .............................................. 21
Figura 5.13: Trecho da BR-135 em dia de chuva. ......................................................................................... 24
Figura 5.14: Transporte intermunicipal na BR-135. ....................................................................................... 25
Figura 5.15: Vista de parte do trecho pavimentado da BR-135. .................................................................... 25
Figura 5.16: Vista de parte do trecho sem pavimentação da BR-135. .......................................................... 25
Figura 5.17: Balsa no rio São Francisco permite o acesso de Itacarambi ao Projeto Jaíba. ........................ 26
Figura 5.18: Balsa que atravessa o rio São Francisco do município de Manga à Matias Cardoso. ............. 26
Figura 5.19: Pivôs de irrigação presentes na AII. .......................................................................................... 28
Figura 5.20: Obras da ETE em Itacarambi. .................................................................................................... 29
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 3
Figura 5.21: Instalações da Copasa responsável pelo abastecimento de água de Itacarambi. .................... 29
Figura 5.22: Cisterna doada pelo P1MC em residência localizada nas proximidades da BR-135. ............... 29
Figura 5.23: Aterro de resíduos sólidos em Itacarambi. ................................................................................. 30
Figura 5.24: Disposição e queima inadequada de resíduos no município de Manga. .................................. 31
Figura 5.25: Queima de resíduos a céu aberto em São João das Missões. ................................................. 31
Figura 5.26: “Notícias de Itacarambi”, diário de notícias virtual. .................................................................... 32
Figura 5.27: Placa na BR-135 identificando o Circuito Turístico Velho Chico. .............................................. 33
Figura 5.28: Carranca no Cais Água Viva. ..................................................................................................... 35
Figura 5.29: Área de lazer e mirante próximos a margem do rio São Francisco. .......................................... 35
Figura 5.30: UCs presentes na AID. ............................................................................................................... 36
Figura 5.31: Roteiros Turísticos no Vale Cárstico. ......................................................................................... 39
Figura 5.32: Analfabetismo nos municípios da AII e Minas Gerais, anos 1991 e 2000. ................................ 40
Figura 5.33: Nível educacional da população da AII, com 25 anos ou mais, 2000. ...................................... 41
Figura 5.34: Taxa de atendimento da população da AII, em 1991 e 2000. ................................................... 42
Figura 5.35: Taxa de distorção idade-série, na AII, em 2006. ....................................................................... 42
Figura 5.36: IDEB para os municípios da AII, 2007. ...................................................................................... 43
Figura 5.37: Escola Estadual Presidente Olegário Maciel, em Manga. ......................................................... 44
Figura 5.38: Escola Estadual Eliazar José Rodrigues, em Rancharia, São João das Missões. ................... 45
Figura 5.39: Região Assistencial Norte de Minas e Microrregião de Januária, MG. ...................................... 49
Figura 5.40: Hospital Municipal Gerson Dias, em Itacarambi, MG. ............................................................... 51
Figura 5.41: Unidade Auxiliar de Saúde de Rancharia, TI Xakriabá, São João das Missões. ...................... 54
Figura 5.42: Pólo Base da FUNASA em São João das Missões. .................................................................. 55
Figura 5.43: Clinica Odontológica Mares Guia, Itacarambi. ........................................................................... 55
Figura 5.44: UBS Rancharia, São João das Missões. ................................................................................... 57
Figura 5.45: Pesagem mensal de crianças de até 5 anos de idade, em São João das Missões. ................. 57
Figura 5.46: Ambulância do SAMU 192 percorrendo trecho da BR-135. ...................................................... 57
Figura 5.47: Taxa de mortalidade infantil (por mil nascidos vivos), nos municípios da AII. ........................... 60
Figura 5.48: Número de óbitos infantis, por faixa etária, no município de Itacarambi. .................................. 61
Figura 5.49: Estimativas para Mercado de Trabalho Formal. ........................................................................ 64
Figura 5.50: Relação entre o número de anos de estudo com a média de salários mínimos recebidos ...... 65
Figuras 5.51 e 5.52: Moradores da beira do rio São Francisco em Jacaré e operários da Fazenda Sertão
sendo entrevistados (Itacarambi). .............................................................................. 77
Figura 5.53:Entrevista das lideranças indígenas da Aldeia Rancharia (São João das Missões). ................. 77
Figuras 5.54 e 5.55: Entrevista com moradores dos arredores da BR-135 (Manga e S. J. das Missões) ... 77
Figuras 5.56 e 5.57: Inspeções de campo em área de plantio e cortes da Rodovia BR-135 (São João das
Missões e Manga) ...................................................................................................... 78
Figura 5.58: Realização de Furo-Teste na ADA (São João das Missões e Manga)..................................... 78
Figuras 5.59 e 5.60: Áreas com terraplenagem e focos de erosão na ADA, (S. J. das Missões e Manga) .. 78
Figuras 5.61 e 5.62: Áreas com focos de erosão, cortes e taludes na ADA (S. J. das Missões e Manga) ... 79
Figura 5.63: Sítio Arqueológico Missões na ADA........................................................................................... 88
Figura 5.64 e Figura 5.65: Sítio Arqueológico Missões (ADA) ....................................................................... 88
LISTA DE QUADROS
Quadro 5.1: Características Demográficas por município integrante da AII para o ano de 2009. ................. 15
Quadro 5.2: Indicadores de mortalidade, longevidade e fecundidade, em 2000 ........................................... 22
Quadro 5.3: Consumo de energia elétrica por classe de consumidores (kWh) ............................................. 27
Quadro 5.4: Consumidores de energia elétrica por classe de consumo ....................................................... 28
Quadro 5.5: Percursos e tempo para cada um dos roteiros do Parna das Cavernas do Peruaçu ................ 37
Quadro 5.6: Quantidade de alunos que utilizam transporte escolar, na AII, em 2009................................... 46
Quadro 5.7: Regionalização da Assistência em Saúde, PDR 2001-2004 ..................................................... 48
Quadro 5.8: Rede hospitalar dos municípios da microrregião de Januária e pólo macrorregional ............... 51
Quadro 5.9: Rede ambulatorial dos municípios da AII ................................................................................... 53
Quadro 5.10: Equipes de Saúde nos municípios da AII ................................................................................. 56
Quadro 5.11: Principais causas de mortalidade por municípios da AII, 2008 ................................................ 59
Quadro 5.12: Formação do PIB, PIB per capita e habitantes, 2006 .............................................................. 63
Quadro 5.13: Distribuição espacial dos postos de trabalho, por Atividade Econômica, 2008 ....................... 65
Quadro 5.14: Distribuição espacial dos estabelecimentos, por Atividade Econômica, 2008 ........................ 65
Quadro 5.15: Mercado de trabalho e estabelecimentos formais por Atividades Econômicas, ordenada pelo
estoque de empregos para o município de Jaíba ................................................................... 66
Quadro 5.16: Mercado de trabalho e estabelecimentos formais por Atividades Econômicas, ordenada pelo
estoque de empregos para o município de Itacarambi ............................................................ 67
Quadro 5.17: Mercado de trabalho e estabelecimentos formais por Atividades Econômicas, ordenada pelo
estoque de empregos para o município de Manga ................................................................. 67
Quadro 5.18: Mercado de trabalho e estabelecimentos formais por Atividades Econômicas, ordenada pelo
estoque de empregos para o município de Matias Cardoso ................................................... 68
Quadro 5.19: Mercado de trabalho e estabelecimentos formais por Atividades Econômicas, ordenada pelo
estoque de empregos para o município de São João das Missões ........................................ 68
Quadro 5.20: Distribuição espacial dos estoques de estabelecimentos e emprego da Indústria de
Transformação......................................................................................................................... 69
Quadro 5.21: Empregos e remuneração média das ocupações mais demandadas na Indústria de
Transformação......................................................................................................................... 69
Quadro 5.22: Características do mercado de trabalho na Indústria da Transformação ................................ 70
Quadro 5.23: Distribuição espacial dos estoques de estabelecimentos e emprego da Construção Civil ..... 70
Quadro 5.24: Empregos e remuneração média das ocupações mais demandadas na Construção Civil ..... 70
Quadro 5.25: Características do mercado de trabalho na Construção Civil .................................................. 71
Quadro 5.26: Distribuição espacial dos estoques de estabelecimentos e emprego do Comércio ................ 71
Quadro 5.27: Empregos e remuneração média das ocupações mais demandadas no Comércio................ 72
Quadro 5.28: Características do mercado de trabalho do Setor do Comércio .............................................. 72
Quadro 5.29: Distribuição espacial dos estoques de estabelecimentos e emprego dos Serviços ................ 73
Quadro 5.30: Empregos e remuneração média das ocupações mais demandadas em Serviços ................ 73
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 6
Quadro 5.31: Características do mercado de trabalho no Setor de Serviços .................................................74
Quadro 5.32: Distribuição espacial dos estoques de estabelecimentos e emprego da Agropecuária ...........74
Quadro 5.33: Empregos e remuneração média das ocupações mais demandadas na Agropecuária ..........74
Quadro 5.34: Características do mercado de trabalho na Agropecuária ........................................................75
Quadro 5.35: Levantamento realizado com moradores ..................................................................................76
Quadro 5.36: Levantamento Sistemático da Área de Influência .....................................................................79
Quadro 5.37: Sítios Arqueológicos que constam no atual cadastro do CNSA/SGPA – IPHAN .....................97
Quadro 5.38: Patrimônio Cultural/Arqueológico inventariado .........................................................................98
Quadro 5.39: Estruturas de interesse histórico/arqueológica inventariadas .................................................100
Quadro 5.40: Bens Imóveis Tombados em Itacarambi .................................................................................101
Quadro 5.41: Bens Imóveis Tombados em Manga .......................................................................................102
Quadro 5.42: Estruturas Arquitetônicas em Itacarambi ................................................................................104
Quadro 5.43: Patrimônio Imaterial – Formas de Expressão (IMA) ...............................................................108
Quadro 5.44: Coordenadas dos limites extremos da TIXR ...........................................................................109
Quadro 5.45: Origem dos rendimentos anuais .............................................................................................129
Quadro 5.46: Animais potencialmente caçados ............................................................................................132
Quadro 5.47: Comunidades Quilombolas Certificadas no município de Manga ..........................................150
O diagnóstico ambiental do meio socioeconômico foi elaborado a partir da compilação, análise e seleção de
informações secundárias coletadas em base de dados oficiais das principais instituições de pesquisa de
nível nacional e estadual, amplamente utilizadas como suporte a análises e elaboração de políticas
públicas, indicadores sociais, entre outras, além de reconhecimento in loco do empreendimento e da ADA
por equipe técnica habilitada, sendo as fontes utilizadas para consulta citadas ao longo do trabalho.
As bases de dados consultadas foram as seguintes: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Banco de Dados do Sistema Único de Saúde (DATASUS), além de consultas as informações
disponibilizadas em sites oficiais das instituições citadas, sites de universidades, Secretaria de Estado de
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão,
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Empresa de Pesquisa
Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), Secretaria de Estado de Turismo de Minas Gerais dentre outras.
Os dados demográficos apresentados neste item foram compilados a partir da Contagem da População
realizada pelo IBGE em 2006, sendo que os municípios de Manga, São João das Missões e Itacarambi
compõem a AII do empreendimento.
Nas sedes municipais foram realizados levantamentos para a obtenção de dados primários, de modo que
os resultados obtidos retratassem as características das indústrias, do comércio, das comunidades
tradicionais e indígenas e das comunidades que residem às margens da rodovia, mostrando as condições
de vida dos moradores da região que será diretamente afetada pela pavimentação e melhorias da BR-135.
Ressalta-se ainda que a apresentação das informações respeitou a estrutura proposta no Termo de
Referência, adaptando-a quando conveniente.
1 A Faixa de Domínio (FD) é um conjunto de áreas desapropriadas pelo poder público, destinadas à construção e operação de
rodovia, constituída por pistas de rolamento, canteiros centrais, obras de arte, acostamentos, sinalizações e faixas laterais de
segurança destinadas a acomodar os elementos do corpo estradal e facilitar a operação, manutenção e expansão da via.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 11
5.3.2 Dinâmica Populacional
De acordo com o IBGE (2008), o Estado de Minas Gerais apresentava em 2007 uma população absoluta
de 19.273.506 habitantes, sendo o quarto maior estado brasileiro em extensão territorial (586.528 km²).
Minas Gerais ocupa o 2° lugar entre os estados brasileiros mais populosos e como todos os demais
estados da região Sudeste do Brasil, Minas Gerais apresenta alta taxa de urbanização, que se acelerou em
um crescimento explosivo entre os anos 1960 e 1980.
Cabe salientar que a partir da década de 1980, além da abertura de estradas, o governo incentivou a
colonização agrícola e pecuária, conforme mencionado anteriormente e, em decorrência disso, a população
cresceu significativamente.
De acordo com informações do Censo Demográfico (IBGE, 1980, 1991, 2000), em 1980, os municípios de
Manga e Itacarambi somavam juntos uma população de 49.967 habitantes. Contudo, o atual território do
município de São João das Missões fazia parte desta área como Distrito de Itacambira, tendo sua
população contabilizada neste Censo (1980).
Quando se analisa cada município isoladamente, verifica-se que no período entre 1980 e 1991, o município
de Manga registrou uma taxa geométrica de crescimento de 0,038%. Já para o período 1991 a 2000 essa
taxa apresenta um crescimento de -0,092% ao ano. Esta queda na taxa de crescimento anual do município,
no intervalo de 1991-2000, coincide com o período medido após a emancipação dos ex-distritos de
2
Juvenília, Matias Cardoso, Miravânia e Jaíba .
No município de Itacarambi para o período 1980 a 1991 a taxa de crescimento era de 0,022% ao ano,
enquanto que a taxa de urbanização era de 0,044%. No período compreendido entre 1991/2000 foi
observada uma taxa de crescimento negativo (-0,025% ao ano), no entanto, o município apresentou
incremento positivo de sua população urbana, tendo sido verificada uma taxa de 0,0174% ao ano.
Com relação ao grau de urbanização, de acordo com informações da Fundação João Pinheiro (FJP), e do
Centro de Estatística e Informações (CEI) os três municípios da AII apresentam taxas de urbanização bem
diferenciadas, sendo que Itacarambi é o que possui a mais elevada (52,26%). O município de Manga tem
uma taxa de urbanização de 29,9% enquanto que a de São João das Missões é de 19,12%.
Estes dados apontam para uma tipologia dos municípios que podem ser divididos em “urbanos” (com mais
de 75% de população urbana), “em transição do rural para o urbano” (grau de urbanização entre 50% e
75%) e “rurais” (urbanização menor que 50%). Sendo assim, de acordo com esta classificação, o município
de Itacarambi pode ser considerado como urbano, enquanto Manga encontra-se em transição do rural para
o urbano e São João das Missões possui caráter predominantemente rural (20,42%).
De acordo com informações do IBGE (Contagem da População, 2007), a população do município de
Itacarambi era de 17.626 habitantes, a de Manga era de 20.903 habitantes e a de São João das Missões
era de 10.769 habitantes. Assim sendo a AII em 2007 era constituída de uma população total de 49.298
habitantes.
A distribuição da população entre os sexos, na Área de Influência Indireta, aponta para o predomínio de
homens no total da população. Na análise dos municípios percebe-se esse predomínio de homens sobre a
população total. Ressalta-se que em muitas cidades rurais no país há uma população masculina maior do
que a feminina, como é o caso da AID do presente empreendimento, conforme observado na figura 5.1, a
seguir.
9.331 8.928
10.000
8.000 5.695
Habitantes
5.574
6.000
4.000
2.000
0
Homens Mulheres
A análise das pirâmides etárias identifica um modelo típico da pirâmide brasileira, com base larga e ápice
estreito. Observa-se que, tanto entre os homens como entre as mulheres, na faixa etária entre os 20 a 39
anos, há redução populacional mais acentuada em todos os municípios. Esse fato pode estar associado à
migração da população mais jovem para regiões com economias mais dinâmicas (figura 5.2 a figura 5.4).
80 e +
70 a 79
Faixa Etária (anos)
60 a 69
50 a 59
Masculino
40 a 49
Feminino
30 a 39
20 a 29
10 a 19
0a9
15 10 5 0 5 10 15
Percentual da População
80 e +
70 a 79
Faixa Etária (anos)
60 a 69
50 a 59
Masculino
40 a 49
Feminino
30 a 39
20 a 29
10 a 19
0a9
15 10 5 0 5 10 15
Percentual da População
80 e +
70 a 79
Faixa Etária (anos)
60 a 69
50 a 59
Masculino
40 a 49
Feminino
30 a 39
20 a 29
10 a 19
0a9
15 10 5 0 5 10 15
Percentual da População
No que diz respeito à densidade demográfica, esta pode ser considerada relativamente esparsa, e a
população residente apresenta-se aglomerada nos centros urbanos, acompanhando uma tendência típica
de ocupação brasileira. Via de regra, esta concentração está associada ao local de instalação das sedes
municipais, onde as áreas urbanas se comportam como polarizadoras da população, que tende a se
estabelecer nas periferias do distrito sede.
O quadro 5.1 apresenta os dados de densidade demográfica calculados pelo Ministério da Saúde
(DATASUS, 2009) para os três municípios que possuem seu núcleo urbano atravessado pela rodovia, onde
é possível verificar que o município de São João das Missões é o que apresenta a maior densidade
demográfica. Contudo, todos os três municípios da área de influência apresentam baixa densidade
demográfica.
O conceito de migração, segundo Haupt & Kane (2001), refere-se ao deslocamento de pessoas através de
uma determinada divisão política para estabelecer uma nova residência permanente. Quando se analisa o
deslocamento através de fronteiras (entre países) denomina-se migração internacional.
A migração interna, processo analisado no presente estudo, esta abrange tanto a emigração quanto a
imigração. É considerada emigração o abandono de uma determinada área. Já o imigrante é aquele que
chega a uma determinada área.
A busca por melhor qualificação, por emprego, renda e melhores condições de vida, por residência junto a
familiares e a busca de suporte são alguns exemplos de estímulos relacionados às etapas do ciclo de vida,
que muitas vezes culminam em migração. Neste sentido, a propensão de um indivíduo em migrar está
estreitamente ligada à etapa do ciclo de vida que ele atravessa, o que a torna um fenômeno altamente
seletivo em relação à idade.
Assim sendo, pode-se considerar que as migrações na região estiveram associadas aos “ciclos
econômicos” que ocorreram ao longo da história da ocupação deste território, bem como de outras áreas
do território brasileiro. Dessa forma as áreas que atraíam população tornaram-se pólos de repulsão, à
medida que eram descobertas novas áreas, ou a região entrava em declínio por perder sua importância
econômica.
Neste cenário, conforme mencionado anteriormente neste diagnóstico foi no final dos anos sessenta que o
capitalismo se consolidou no campo norte-mineiro, com a intervenção direta do Estado, por intermédio de
órgãos como a SUDENE e a Companhia para o Desenvolvimento do Vale do Rio São Francisco
(CODEVASF). Os principais pontos da política desses órgãos na região foram programas de incentivos
fiscais e financeiros, onde o Estado centrou seus incentivos em quatro principais linhas de ação para
incrementar a “economia regional”: (i) grandes projetos agropecuários; (ii) industrialização; (iii)
reflorestamento; e, (iv) projetos de irrigação.
Desta forma, pode-se afirmar que o principal processo de ocupação da Região Norte de Minas Gerais foi
delineado pelas migrações. Os fluxos migratórios eram atraídos pelos projetos de colonização e pela
dinâmica regional imposta por meio destes incentivos governamentais. Toda infraestrutura implantada e as
novas relações criadas pelos fluxos populacionais (que permaneceram intensivos até meados dos anos de
1980), incentivaram a estruturação da região como uma área onde predominam as atividades produtivas
relacionadas à agricultura.
Diferentes autores afirmam que o Norte de Minas Gerais pode ser considerado como área de transição
entre o Nordeste e o Sudeste brasileiro. A área é considerada pelo Estado como Região Mineira do
Nordeste em função das características climáticas e de vegetação, bem como sua realidade
socioeconômica, que corresponde à pobreza dos Estados nordestinos.
Nos últimos anos as migrações campo-cidade continuaram a ocorrer, embora apresentando novas
características. Salienta-se que os dados mais atuais referentes aos fluxos migratórios datam do último
censo nacional realizado pelo IBGE, em 2000. Assim sendo, de acordo com os dados do censo
demográfico de 2000, as pessoas passaram a migrar mais em suas próprias regiões. O sonho das décadas
de 1960/1970 de deixar o campo com destino à cidade grande em busca de uma vida melhor não se
realizou e a migração começa a revelar atualmente novos movimentos. A cidade grande já não causa
esperança, os sonhos tornaram-se impossíveis de serem realizados e os caminhos e os destinos se
multiplicaram em direções às cidades de porte médio localizadas em sua própria região.
De acordo com de Paula (2003), as décadas de 1980 e 1990 foram marcadas pela intensificação da
urbanização brasileira. Embora com novas características, no final dos anos 1980 e toda a década de 1990
as migrações intensificaram-se intraregionalmente e continuaram a ocorrer às migrações sazonais.
Os municípios de Itacarambi, São João das Missões e Manga têm seus núcleos urbanos centrais
atravessados pela rodovia BR-135. Neste contexto, entende-se que a expansão urbana com a
pavimentação da referida rodovia poderá ocasionar interferência no zoneamento dessas cidades.
A pavimentação da rodovia é um fator importante para a expansão urbana, porém, por si só não é capaz de
garantir o desenvolvimento das cidades. Por isso, acredita-se que, associada à pavimentação da BR-135, é
fundamental a criação de leis incentivadoras à instalação de empreendimentos na região, tais como o
incentivo a redução de impostos a partir da quantidade de emprego que novas empresas/serviços possam
gerar para as cidades.
Figura 5.6: Fim do trecho da BR-135 a ser pavimentado, próximo a área urbana de Itacarambi
Na análise da expansão urbana, merecem destaque os núcleos centrais e as áreas periféricas das
cidades, considerando a característica rural da região e ainda que os municípios possuem um núcleo
urbano inicial com pouca margem de expansão. No caso da pavimentação da BR-135, devido às
características observadas in loco, pode-se considerar que esta possivelmente irá proporcionar uma
combinação de fatores que motivem a expansão para o entorno da rodovia.
Neste caso, é importante mencionar a importância dos municípios elaborarem seus Planos Diretores. De
acordo com o Estatuto da Cidade (Lei 10.257, de 10 de julho de 2001), o Plano Diretor tem a atribuição de
definir as áreas urbanas consideradas subutilizadas ou não utilizadas e aplicar a regulamentação, fazendo
com que a propriedade urbana tenha uma função social.
O Plano Diretor é requisito obrigatório para o poder público municipal aplicar, de forma sucessiva, o
parcelamento ou edificação compulsório, imposto sobre a propriedade predial e territorial progressivo no
tempo e na desapropriação para fins de reforma urbana, ao proprietário de imóvel urbano nos termos do
parágrafo 4º do artigo 182 (Brasil, 2001).
No entanto, o Estatuto da Cidade prevê que, para municípios com mais de 20 mil habitantes, é obrigatório a
elaboração do plano diretor, mas para os que têm menos, somente deverão fazer se estiverem inseridos na
área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental regional ou
nacional, como é o caso do empreendimento em questão”.
Assim sendo, apesar dos municípios de Itacarambi, Manga e São João das Missões serem parte integrante
da área de influência do empreendimento em tela, todos possuem uma população menor que 20.000
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 19
3
habitantes . Desta forma, apenas Manga possui Plano Diretor, e os demais não possuem nenhuma outra
ferramenta de planejamento semelhante como zoneamento, ou áreas de expansão urbana definidas.
Diante disso, entende-se que os Planos Diretores poderão ser trabalhados com os municípios no âmbito do
Programa de Apoio Técnico às Prefeituras Municipais (PATPM), quando de sua implementação.
Cabe registrar ainda que até o presente momento, Itacarambi e São João das Missões não dispõem de
Plano Diretor. No caso de Manga, conforme é possível visualizar na figura abaixo, o traçado previsto para a
BR, não se encontra nos domínios das Zonas previstas para a expansão urbana da cidade, situando-se
afastado desta.
Diante disso, entende-se que os Planos Diretores poderão ser trabalhados com os municípios no âmbito do
Programa de Apoio Técnico às Prefeituras Municipais (PATPM), quando de sua implementação.
3
De acordo com o último Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2010, o município de Itacarambi possui 17.720
.
habitantes, Manga 19.813 e São João das Missões 11.715 habitantes, respectivamente
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 20
5.3.4 Indicadores de Qualidade de Vida
Os municípios que compõem a AII do empreendimento encontram-se sobre a região do Estado de Minas
Gerais com as piores classificações do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), conforme
se pode visualizar na figura 5.11. Com este índice os municípios da AII estão entre aqueles considerados
como tendo médio-baixo desenvolvimento humano (IDH entre 0,600 – 0,699).
No ano de 2000, Itacarambi apresentou um IDH-M de 0, 622, São João das Missões de 0,595 e Manga de
0,603, sendo todos eles bastante inferiores ao verificado para o Estado de Minas Gerais (0,773), conforme
visualizado na figura 5.12.
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
IDH
0,4
0,3
0,2
0,1
0
IDH-M Educação Longevidade Renda
Itacarambi 0,622 0,763 0,573 0,530
São João das Missões 0,595 0,606 0,734 0,444
Manga 0,603 0,722 0,573 0,514
Ainda de acordo com a figura 5.12, a educação foi a dimensão que mais contribuiu para o crescimento do
IDH-M, seguida pela longevidade. No Quadro 5.2 estão apresentados os indicadores de mortalidade,
longevidade e fecundidade dos municípios, podendo-se traçar um comparativo com o Estado de Minas
Gerais.
Ainda no que se refere ao município de São João das Missões, existe uma linha de ônibus (particular) que
tem como ponto de partida a Terra Indígena, passa pela região central do município e segue para
Itacarambi. Este serviço de transporte está disponível em dois horários, sendo que o ônibus sai da reserva
pela manhã e volta à tarde. A tarifa, desde a sede de São João das Missões até Itacarambi tem um custo
de R$ 6,00.
Em São João das Missões é popular o serviço de táxi. Esses cobram entre R$ 4,00/5,00 para realizar o
trajeto entre a sede municipal e a localidade de Rancharia. O serviço de táxi também é bastante popular no
município de Itacarambi, sendo que estes chegam a cobrar o mesmo preço da passagem de ônibus para
levar os passageiros a outros municípios, como Januária (aproximadamente R$10,00). A prefeitura de
Itacarambi registra 24 alvarás para taxistas autorizados.
Figura 5.17: Balsa no rio São Francisco permite o acesso de Itacarambi ao Projeto Jaíba.
Figura 5.18: Balsa que atravessa o rio São Francisco do município de Manga à Matias Cardoso.
6 O Projeto Jaíba é um perímetro de irrigação fruto de uma parceria entre o Governo Federal e o Governo do Estado de Minas Gerais.
Os dois níveis de governo são ali representados pela Codevasf e Ruralminas.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 26
Ainda no que se refere aos transportes na AII, na fazenda da empresa Indústria e Comércio Itacarambi
Ltda. (ICIL) localizada em Itacarambi, existe um aeroporto particular homologado, com pista de pouso
pavimentada, que está à disposição de qualquer necessidade municipal, sendo utilizada, inclusive, para o
transporte de pacientes com urgência em atendimento na área da saúde, com destino aos hospitais de
Montes Claros.
Ocorrência de Acidentes
Com relação ao número de consumidores de energia elétrica na AII, percebe-se que a classe residencial
responde por 84,2% dos consumidores locais, aparecendo em segundo lugar, a classe comercial que
responde por 7,0% do total dos consumidores, seguida pela classe rural (6,4%), conforme pode ser
observado no quadro 5.4.
Quadro 5.4
Consumidores de energia elétrica por classe de consumo
Consumidores de Energia Elétrica
Classes de Consumidores (2005)
Município Residencial Industrial Comercial Rural Outros Total
Itacarambi 3.857 21 353 207 59 4.497
Manga 4.586 25 385 358 99 5.453
São João das Missões 1.455 4 85 190 67 1.801
Fonte: Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), 2005.
Figura 5.22: Cisterna doada pelo P1MC em residência localizada nas proximidades da BR-135.
7 Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), coordenado pela Articulação no Semi-Árido (ASA), uma coalizão de mais de 750
entidades e organizações da sociedade civil de 11 estados, Igrejas Católica e Evangélica, ONGs de desenvolvimento e ambientalistas,
associações de trabalhadores rurais e urbanos, associações comunitárias, sindicatos e federações de trabalhadores rurais,
movimentos sociais, organismos de cooperação nacionais e internacionais, públicos e privados.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 29
Em Manga a situação é bastante semelhante, o abastecimento atual de água, na sede do município, é
responsabilidade da COPASA, que mantém uma captação flutuante no rio São Francisco. O tratamento é
convencional, e a vazão é de aproximadamente 48 litros/segundo. Este atende quase 100% das
residências da sede, num total de 4.000 ligações de água. O reservatório que abastece o município possui
600m³ e a caixa d’água tem capacidade de 200m³. A COPASA também abre poços para abastecimento
das comunidades rurais, porém estes são administrados pela Prefeitura Municipal.
O abastecimento de água nas comunidades rurais, conta ainda com a parceria do Programa Minas Água
(Governo Estadual), que promove a abertura de poços, os quais não recebem nenhum tipo de tratamento.
Não há abastecimento de água nas ilhas (Corculo, do Capão e do Mangue), sendo o consumo de água
feito diretamente no rio São Francisco. Na ilha Ingazeira há um poço perfurado.
De acordo com informações obtidas no município, a CODEVASF, por meio do Programa de Revitalização
do rio São Francisco, elaborou um projeto executivo para o saneamento de Manga. Foi mencionado ainda
que em uma administração municipal anterior foram construídas redes em algumas ruas da cidade, na qual
houve algumas ligações clandestinas. Essa antiga rede despeja seus efluentes próximos ao Parque de
Exposições. Durante os serviços de campo a Prefeitura informou ainda que dispõe de uma área (já
escriturada) destinada para a instalação da ETE do município.
O município de Itacarambi conta com serviços diários de coleta de resíduos sólidos urbanos (RSU) e
limpeza urbana. A disposição dos RSU, no entanto, é efetuada em um aterro municipal, sem tratamento
adequado (lixão), localizado na estrada do Brejo. Nesta mesma estrada foram identificadas mais duas
áreas de antiga disposição de RSU, além de uma área em uso, onde está sendo feita a disposição de
inertes e, eventualmente, também dos demais resíduos sólidos.
A coleta de resíduos é realizada por funcionários da própria prefeitura, porém, não dispõe de equipamento
de proteção individual (EPI’s) adequados, sendo que se prevê a regularização desta situação ainda no
primeiro semestre de 2010, conforme relato de funcionário da Prefeitura Municipal.
Foi informado ainda que o Fundo Municipal do Meio Ambiente está elaborando um projeto para
gerenciamento dos RSU produzidos em Itacarambi, que objetiva uma adequada destinação destes,
prevendo ainda a construção de um galpão de triagem para materiais recicláveis, em área doada pela
prefeitura, para atuação da associação de catadores. Estes, além do espaço receberão
treinamento/capacitação adequados para o manejo da atividade.
No município de Manga a coleta e disposição dos resíduos é responsabilidade da Prefeitura Municipal,
apenas da área urbana. O lixão do município recebe manutenção eventual, não constante. De acordo com
informações obtidas na prefeitura, o município está cumprindo um Termo de Ajustamento de Conduta
(TAC) por conta da disposição inadequada dos resíduos sólidos. Segundo relatos os problemas com o lixão
começavam já na área de disposição, que era “invadida” pela prefeitura, isto é, nem pertencia a esta nem
era “alugada”. A atual administração municipal desapropriou a área e está tentando regularizá-la a fim de
transformá-la num aterro controlado. Ainda de acordo com informações obtidas na prefeitura, foi
mencionado que esta dispõe de um compactador, um trator e dois caminhões para a coleta.
Figura 5.25: Queima de resíduos a céu aberto em São João das Missões.
Complexo do Peruaçu
O Complexo do Peruaçu possui aproximadamente 140.000 hectares definidos como Área de Proteção
Ambiental (APA) (categoria de Unidade de Conservação (UC) de Uso Sustentável, que permite alguns usos
da terra), localizados nos municípios de Itacarambi e Januária.
Já o Parque Nacional (Parna) Cavernas do Peruaçu está localizado, em sua maior área, no município de
Itacarambi, apesar do acesso a este ser realizado através do município de Januária. Este Parna possui seu
Plano de Manejo concluído, porém, a única atividade permitida até o momento da conclusão deste
diagnóstico era a visitação técnico-científica, sendo que a visitação aberta ao público em geral só será
autorizada após a instalação de toda a infraestrutura turística necessária ao funcionamento do parque.
De acordo com informações do Plano de Manejo do Parna Peruaçu, a idéia do estabelecimento da UC
partiu de um levantamento que o Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA/MG) estava
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 33
realizando no Estado, integrante de um programa denominado Inventário de Proteção do Acervo Cultural
do Estado de MG (IPAC/MG). Dentro deste programa estavam sendo cadastrados sítios arqueológicos e
espeleológicos (inventário por município), além do Patrimônio Histórico e Arquitetônico regional. Não havia
como inventariar aquela quantidade enorme de sítios no pouco tempo disponível. Surgiu, então, a idéia de
se propor uma Unidade de Conservação em nível federal, em função da importância do conjunto.
Neste sentido, a proposta de criação da UC foi iniciada em 1986. O IEPHA/MG convidou o Instituto
Estadual de Florestas (IEF) e a Comissão Estadual de Política Ambiental (COPAM) - à época este era o
nome do órgão ambiental do Estado. Não existia, ainda, a Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM),
da qual hoje participa o COPAM, transformado desde 1987 em Conselho Estadual de Política Ambiental.
A razão do enquadramento desta UC na categoria de Uso Sustentável (APA) no primeiro momento foi em
função de seus recursos hídricos, ou seja, seria necessário preservar toda a bacia hidrográfica do rio
Peruaçu. Grandes e pequenas fazendas já existiam na região e seria muito complicada a criação de um
Parque Nacional.
Assim sendo, em 1997, o Ibama decretou como de utilidade pública uma área de 6.000ha, denominada
“polígono”, a qual abarcava o núcleo principal das cavernas do vale cárstico do rio Peruaçu. Em 1999, o
Ibama decretou uma área de 56.800 ha como Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, limites que
extrapolaram o núcleo principal das cavernas, mas uniram extensas áreas com cobertura vegetal nativa em
bom estado de conservação representativas dos biomas Cerrado e Caatinga, incluindo a interligação com o
rio São Francisco.
Ainda com relação ao Plano de manejo do Parna, cabe mencionar que faz parte das recomendações deste
que os municípios de Itacarambi, São João das Missões e Januária elaborem seus respectivos Planos
Diretores, com intuito de estimular o desenvolvimento da região, também a partir da oportunidade da
implantação do Parque.
8
A região possui ainda mais seis unidades de conservação , o que limita a área de expansão (urbana ou
rural) dos municípios.
Cidade das Crianças
Este empreendimento, no município de Itacarambi trata-se de uma obra inacabada próxima à área da ETA
municipal, viabilizada pelo Ministério do Turismo, que consistia numa grande área de lazer infantil. De
acordo com informações da Prefeitura Municipal, a obra foi embargada devido a irregularidades no que se
refere a legislação ambiental, decorrente da ocupação indevida da Área de Preservação Permanente
(APP), pois se localiza nas proximidades da margem esquerda do rio São Francisco.
No entanto, parte da obra chegou a ser realizada após a efetivação de um Termo de Ajuste de Conduta
(TAC) junto ao IBAMA, sendo que na mudança de gestão municipal este projeto não foi considerado obra
prioritária, tendo sido descontinuado o financiamento obtido anteriormente junto a Caixa Econômica
Federal, em decorrência dos altos custos orçados.
Cais Água Viva
O Cais Água Viva é um ponto de referencia para cidade de Itacarambi, onde a sua construção,
originalmente destinada ao funcionamento de um porto, deu lugar a uma praça que funciona também como
um mirante com vista para o rio São Francisco. O mirante serve como um ambiente de apreciação da
paisagem do rio São Francisco e segundo informações obtidas na região, o cais foi o ponto de partida para
o crescimento da cidade.
O Cais Água Viva é atualmente um centro de convivência composto por um centro de lazer com quadra de
esportes e repleto de carrancas que, segundo informações obtidas no local, representam antiga lenda dos
pescadores, onde tais monumentos possuíam uma espécie de “proteção divina”. As carrancas surgiram a
partir da crença dos navegantes do rio São Francisco, por volta de 1875-1880, segundo essa crença as
carrancas corresponderam à intenção de afastar figuras sobrenaturais ameaçadoras que habitariam as
águas do rio.
Outra crendice relacionada a figura das carrancas diz que caso o navegador estivesse em perigo a
carranca gemeria três vezes. Por isso eram consideradas protetoras dos navegadores das barcas, no
percurso que liga minas e o nordeste. As carrancas autênticas esculpidas no vale do São Francisco têm
características meio humanas e meio animal, mas com o tempo apareceram outros modelos de formas
8 Área de Proteção Ambiental (APA) do Lagedão, Parque Estadual da Lagoa do Cajueiro, Parque Estadual da Mata Seca, APA da
Serra do Sabonetal, Reserva Biológica (REBIO) da Serra Azul e Parque Estadual do Verde Grande.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 34
mais sofisticadas. A proximidade com o rio São Francisco, a cultura de cidade de Itacarambi também
assimilou a cultura vinda do rio.
Desta forma, na reforma da Praça Prefeito Arnaldo Corrêa, em 2001, foram fixadas três esculturas de
Carrancas que fazem parte do conjunto da Praça. Sob encomenda da prefeitura foram esculpidas três
imagens de grande porte em madeira, por um artesão da cidade de Pirapora, conhecido apenas por
Adenilson. Informação que pode ser comprovada devido à inscrição do nome gravado em uma das
imagens juntamente com a data em que foi entalhada, em 16 de Junho de 2001.
As três carrancas possuem cores e são posicionadas em locais diferentes. A carranca de tom verde está
posicionada no lado direito da praça e tem a face voltada para o rio, a marrom está na extremidade
esquerda e a amarela no centro da praça próxima à rua, ambas voltadas com a face para a cidade.
Apenas uma das imagens, a de cor marrom, possui estado de conservação ruim, com a base em processo
de apodrecimento da madeira devido principalmente a exposição às intempéries naturais. Desde a fixação
em 2001 não sofreram intervenções.
Figura 5.28: Carranca no Cais Água Viva. Figura 5.29: Área de lazer e mirante próximos a
margem do rio São Francisco.
9 A outorga de direito de uso de recursos hídricos foi estabelecida por meio da Lei Federal nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997 (inciso
III, do art. 5º), portanto, posterior ao Projeto Jaíba. Esse instrumento tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo
dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso aos recursos hídricos.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 35
uma área de transição entre os biomas “cerrado” e “caatinga”, sendo que duas dessas UCs estão dentro do
10
bioma mata seca , entre elas o Parque Estadual da Mata Seca (PEMS).
Assim sendo, na AID estão presentes o Parque Nacional (Parna) das Cavernas do Peruaçu, a Área de
Preservação Ambiental (APA) das Cavernas do Peruaçu e o Parque Estadual da Mata Seca, conforme
observado na figura 5.30, a seguir.
O acesso ao Parque Nacional (Parna) das Cavernas do Peruaçu se faz a partir da cidade de Belo
Horizonte, através da rodovia BR 040 até o trevo de Curvelo. Daí toma-se a rodovia BR-135, atravessando
a cidade de Montes Claros e Januária. Segue-se no sentido de Itacarambi por cerca de 50km, até o distrito
de Fabião, onde se localiza a Sede Administrativa do Ibama e entrada do Parna, percorrendo-se um total
de 650km.
10 Mata Seca é uma denominação para a Floresta Estacional Decidual que ocorre em Minas Gerais, tanto no Cerrado, quanto na
Caatinga. A região norte mineira é onde esta ocorrência é mais intensa no Estado. Vegetação caducifólia característica da região do
Norte de Minas, uma espécie de caatinga densa.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 36
De acordo com Magalhães e Ferreira (2008), a abertura do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
representa uma nova alternativa de geração de renda para as cidades de Januária, Itacarambi e São João
das Missões. Como a região possui uma economia estagnada há anos, espera-se que o turismo promova
uma mudança nesse cenário econômico.
Contudo, o Parna não apresenta uma grande diversidade de atrativos, visto que os roteiros determinados
pelo seu Plano de Manejo exploram apenas as belezas das grutas e os achados arqueológicos. Mesmo
tendo em vista que as cavernas serão os fatores principais de atração dos turistas, é fundamental que
novas alternativas de visitação sejam criadas para atender aos mais diferentes tipos de visitantes.
Neste contexto, salienta-se que o Plano de Manejo do Parna denomina de Roteiros de Visitação as rotas
previstas para o turismo e uso público. Cada um desses roteiros inclui a criação de um Centro de Apoio ao
Visitante (CAV) e uma trilha onde estão localizados seus atrativos, conforme visualizado na figura 5.31
(IBAMA, 2003). Os seis roteiros propostos são:
Roteiro 1: Inicia-se no CAV Janelão, percorre os seguintes atrativos: Lapa do Boquete, 5 Torres,
Entrada secundária do Arco do André, Mirante do Arco do André, Arco do André, Gruta dos
Cascudos e Gruta dos Troncos, e retorna ao CAV Janelão.
Este roteiro de caminhada do Parque é o único feito de forma circular, ideal para a prática de caminhadas e
permite uma visão mais ampla do carste, das cavernas e dos sítios arqueológicos. Além disso, proporciona
a visita de uma das maiores cavernas de todo cânion, o Arco do André com seu pórtico de mais de 100
metros de altura (MAGALHÃES e FERREIRA, 2008).
Roteiro 2: Inicia-se no CAV Janelão, percorre os seguintes atrativos: Lapa do Índio e Lapa Bonita, e
retorna ao CAV Janelão.
A facilidade de acesso e a possibilidade de se conhecer uma das mais belas grutas do vale (Lapa Bonita)
são os pontos fortes deste roteiro. Ideal para o visitante que tem pouco tempo. Também se destaca a
oportunidade de conhecer a zona escura de uma caverna (MAGALHÃES e FERREIRA, 2008).
Roteiro 3: Inicia-se no CAV Janelão, percorre a Gruta do Janelão e retorna ao CAV Janelão.
A Gruta do Janelão é a última das cavernas criadas pelo rio Peruaçu em seu trajeto rumo ao rio São
Francisco. Representa um dos mais amplos condutos de caverna brasileira, com cerca de 100m de altura,
está emoldurado por uma série de clarabóias, que não só trazem luz natural, mas também proporcionam a
ocorrência de pequenas florestas no interior da caverna (MAGALHÃES e FERREIRA, 2008).
Roteiro 4: Inicia-se no CAV Janelão, percorre os seguintes atrativos: Lapa dos Desenhos, Abrigo do
Elias e Mirante do Elias, e retorna ao CAV Janelão.
Este roteiro possui uma trilha plana e sombreada, indicado para a maioria das pessoas. Além disso, a Lapa
dos Desenhos representa um importante sítio arqueológico, ostentando painéis de arte rupestres de
diversas tradições (MAGALHÃES e FERREIRA, 2008).
Roteiro 5: Inicia-se no CAV Silu, percorre os seguintes atrativos: Lapa do Caboclo e Lapa do
Carlúcio, e retorna ao CAV Silu.
Este roteiro leva o visitante ao extremo Norte do Parna, onde o rio Peruaçu começa o seu trajeto
subterrâneo com mais de 10km de extensão. A primeira atração é a paisagem cárstica, formada por
paredões verticais, torres e lapiás. Pontos de observação ocorrem ao longo de todo o trajeto, sendo que a
visita começa pela Lapa do Caboclo, com seus painéis de arte rupestre pré-histórica. Do outro lado do rio a
Lapa do Carlúcio completa o circuito deste roteiro (MAGALHÃES e FERREIRA, 2008).
Roteiro 6: Inicia-se no CAV Rezar, percorre a Lapa do Rezar e retorna ao CAV Rezar.
A Lapa do Rezar consegue reunir o cânion do rio Peruaçu com as inscrições rupestres pré-históricas.
Destacam-se as dimensões do seu salão de entrada, que alcança 90 metros de largura e mais de 40
metros de altura, além da variedade e exuberância dos espeleotemas (MAGALHÃES e FERREIRA, 2008).
As distâncias e tempos de percurso para cada um dos roteiros encontram-se apresentadas no quadro 5.5.
Quadro 5.5
Percursos e tempo para cada um dos roteiros do Parna das Cavernas do Peruaçu
Roteiro 1 Roteiro 2 Roteiro 3 Roteiro 4 Roteiro 5 Roteiro 6
Percurso 7.700m 1.500m 4.800m 4.100m 2.000m 2.400m
Tempo 7 horas 2h20min 5h30min 3h30min 3h50min 3h30min
Fonte: Adaptado de Plano de Manejo do Parna Complexo do Peruaçu.
Ainda com relação ao desenvolvimento do turismo no Parna, ressalta-se que a inserção da comunidade
local poderia propiciar a efetivação desta como uma aliada ao processo de preservação, no sentido de
reduzir conflitos locais e ainda, de fomentar a valorização do patrimônio natural, bem como de proporcionar
uma maior conscientização sobre a importância da realização de atividades sustentáveis nos ambientes
naturais presentes na AII.
Além disso, as questões ambientais não podem ser encaradas como prioritárias neste contexto, mesmo em
se tratando de Unidades de Conservação, mas sim como parte de uma situação desejada onde ambiente,
cultura, sociedade e economia sejam, efetivamente, pilares para a filosofia de responsabilidade turística.
Neste sentido, a realidade observada nas comunidades, mostra que, sob diversos aspectos, o turismo pode
ser uma ameaça e um risco, ao invés de uma oportunidade, tanto do ponto de vista social quanto
ambiental.
Com relação à infraestrutura para acesso às UCs presentes na AII, o aeroporto mais próximo é o do
município de Montes Claros, e o deslocamento a este é relativamente rápido. Contudo, a circulação interna
nas Unidades de Conservação na região é precária e necessita de melhorias a fim de atender ao público
em geral. Ainda no que se refere à infraestrutura viária, embora Minas Gerais seja um Estado provido de
uma extensa malha rodoviária e ferroviária, as condições das estradas que dão acesso à AII são precárias.
A cada período chuvoso implicam-se as condições de tráfego, em vias normalmente mal sinalizadas e sem
acostamento.
Os núcleos urbanos de Itacarambi, Januária, São João das Missões e do Distrito de Fabião, necessitam de
melhorias principalmente nos seus acessos viários, incluindo o trecho da BR-135 objetivo do presente
estudo, bem como nos sistemas de tratamento de esgoto sanitário e coleta/disposição de resíduos sólidos.
No que diz respeito aos meios de hospedagem, estes são bastante humildes, sendo todos os municípios
da AII carentes de hotéis e pousadas. Cabe salientar ainda que o turista não pode se dirigir a um local
rústico esperando encontrar meios de alimentação sofisticados; deve sempre ser incentivado a querer
experimentar alimentos típicos, mas bem preparados, de modo que possa ser considerado um elemento de
valorização da cultura local e não uma precariedade nos serviços oferecidos.
Neste sentido, quando os serviços são precários é necessário investir na formação de recursos humanos
especializados, seja por meio da oferta de cursos de capacitação, da produção de material informativo de
boa qualidade, na divulgação, bem como na atualização de conhecimentos do pessoal já qualificado, o que
não é observado na região.
5.3.7.1 Educação
Para a caracterização da realidade educacional da AII, foram utilizados dados do Sistema de Estatísticas
Educacionais (EDUDATABRASIL) e do cadastro de estabelecimentos de ensino (DATAESCOLABRASIL),
ambos disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP/MEC), do Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD), por meio do Atlas do
Desenvolvimento Humano no Brasil, bem como informações obtidas nas Secretarias Municipais de
Educação (SME).
Na análise da situação da educação na AII são apresentados indicadores educacionais referentes às taxas
de analfabetismo e escolaridade da população local, ao acesso e participação dessa população no sistema
de ensino e à eficiência do sistema escolar da região. A infraestrutura do sistema de ensino local está
descrita em termos de estabelecimentos de ensino, transporte escolar, ensino profissionalizante e superior,
além de projetos educacionais das diversas esferas administrativas.
O analfabetismo é um dos indicadores mais importantes como indício do nível de qualidade de vida da
população, pois ele reduz a capacidade de vida autônoma na medida em que limita a sustentabilidade
social, econômica, política e cultural do indivíduo. Essa taxa pode ser utilizada para medir os níveis de
desenvolvimento socioeconômico da esfera estudada e é um dos indicadores utilizados pela Organização
das Nações Unidas (ONU) na elaboração dos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Representa o
quociente entre a população analfabeta e a população total de um mesmo grupo etário, sendo geralmente
calculado, pelo INEP, para as pessoas com 15 anos ou mais de idade. Segundo Riani e Golgher (apud
Rios-Neto e Riani, 2004), considera-se analfabeto aquele indivíduo que é incapaz de ler e escrever ao
menos um bilhete simples na sua língua de origem.
1991
2000
0 10 20 30 40 50 60
%
Minas Gerais São João das Missões Manga Itacarambi Total da AII
Figura 5.32: Analfabetismo nos municípios da AII e Minas Gerais, anos 1991 e 2000.
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2003.
Desde a década de 1990 as taxas de analfabetismo decresceram em todo país, inclusive no Estado de
Minas Gerais e nos municípios analisados. A diminuição dessas taxas pode indicar melhorias no sistema
de ensino ao longo dos anos até o início dos anos de 1990, tais como melhores condições de acesso,
programas governamentais de incentivo e inclusão. No entanto, a taxa de analfabetismo para o ano 2000
não pode registrar tais melhorias educacionais ocorridas após o Censo Demográfico de 1991, pois, de
modo geral, a população que estava entrando em idade escolar até esse ano (1991) ainda não completara
a idade de 15 anos em 2000.
Figura 5.33: Nível educacional da população da AII, com 25 anos ou mais, 2000.
Fonte: PNUD, 2003.
Segundo dados do PNUD (2003), os municípios de Itacarambi e Manga apresentaram, para essa
população, uma média de 3,5 anos de estudo, e em São João das Missões essa média cai para 2 anos de
estudo, provavelmente em decorrência da presença indígena.
Acesso e participação
Para avaliar o acesso e participação da população em idade escolar no sistema de ensino da AII, é
apresentada a taxa de atendimento, que capta a proporção da população de uma determinada faixa etária
que freqüenta a escola. Essa taxa serve para avaliar a capacidade do sistema de ensino de manter as
crianças e adolescentes nas escolas, sendo um bom indicador de políticas recentes.
Na figura 5.34 são apresentadas as taxas equivalentes a população em idade escolar que estava
freqüentando a escola nos anos 1991 e 2000. Em dez anos observa-se que o atendimento a essa
população aumentou em todas as faixas etárias. O acesso de crianças em idade pré-escolar, de 5 a 6
anos, foi bastante expressivo nos município de Itacarambi e Manga, onde mais de 50% das crianças nessa
faixa etária freqüenta a escola.
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1991 5a6 7 a 14 10 a 14 15 a 17 2000 5a6 7 a 14 10 a 14 15 a 17
anos anos anos anos anos anos anos anos
Apesar de maiores taxas de atendimento, isso não indica apenas maior capacidade de retenção dos alunos
na escola, seja por políticas educacionais como merenda escolar ou bolsa-escola, ou por maior oferta de
vagas. Como essa taxa não distingue pessoas que estejam freqüentando a escola em séries diferentes da
adequada a sua idade, valores maiores podem ser observados também em municípios em que os índices
de repetência são maiores, mantendo alunos mais velhos em níveis educacionais inadequados a sua
idade.
A taxa de distorção idade-série fornece informações referentes à quantidade de alunos cursando séries
inadequadas a suas idades. Esses valores correspondem ao total de matrículas de pessoas que estão
cursando determinada série em idade superior à considerada ideal sobre o total de matrículas na série em
questão. Segundo Riani e Golgher (apud Rios-Neto e Riani, 2004), esse índice é importante para
determinar problemas relacionados, principalmente, com a alta repetência em determinada série, gerando
graves conseqüências para os níveis de escolaridade da população.
70,0
60,0
50,0
40,0
Itacarambi
30,0 Manga
São João das Missões
20,0
10,0
0,0
Ens. Fundamental, Ens. Fundamental, Ensino Médio
1ª a 4ª série 5ª a 8ª série
Ensino Básico
Segundo Curya (2002), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) define que a educação
básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o
exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.
A qualidade da educação básica na AII pode ser medida por meio do Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB), criado em 2007 pelo Ministério da Educação (MEC). Esse indicador, que foi
pensado numa escala de zero a dez, de modo a facilitar o entendimento geral, serve de instrumento para o
estabelecimento de metas de desempenho bianuais para cada escola e cada rede até 2022, e utilizou
como base a primeira medição de dados feita em 2005.
A figura 5.36 traz o IDEB para cada município da AII, apresentando dados de 2005 e 2007, além das metas
estabelecidas até 2015. OS dados são referentes aos primeiros anos do Ensino Fundamental, ou seja, até
4ª série. Observa-se que Itacarambi foi o único município que alcançou e excedeu a meta projetada para
2007.
5,0
4,0
3,0
IDEB
2,0
1,0
0,0
2005 2007 2009 2011 2013 2015
Estabelecimentos de Ensino
Os municípios que integram a AII desde diagnóstico contam com um total de 53 estabelecimentos púbicos
de ensino, todos com atendimento das séries iniciais. Destes, apenas 14 possuem Ensino Fundamental
completo, e outros 14 contam com Ensino Médio.
No município de Manga há 29 escolas públicas com ensino até a 4ª série do Ensino Fundamental, sendo
que destas, 24 estão localizadas em zona rural. Muitas dessas escolas são de poucos alunos, com
atendimento até este nível de ensino, enquanto apenas quatro escolas oferecem Ensino Fundamental
completo, e outras quatro ofertam Ensino Fundamental e Ensino Médio. Nas instituições de ensino
presentes em Manga também são oferecidas nove turmas de Ensino de Jovens e Adultos (EJA), sendo
que, destas, cinco correspondem às séries iniciais e três às séries finais do Ensino Fundamental e uma é
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 43
de Ensino Médio. Ao todo, são nove escolas estaduais, 20 vinculadas ao município, e um colégio
filantrópico, de Ensino Fundamental.
Todas as escolas de Ensino Médio oferecem atividades complementares no contraturno escolar,
principalmente acompanhamento pedagógico (reforço escolar). Entre essas, destacam-se as três escolas
estaduais que desenvolvem atividades tais como Esporte e Lazer; Saúde Alimentação e Prevenção;
Direitos Humanos e Cidadania; Artes e Cultura; Inclusão Digital e Comunicação. São elas a Escola
Estadual (EE) Brejo São Caetano do Japuré, localizada em zona rural; a EE Prof. José Ribeiro Campos,
situada no distrito Nhandutiba; e, na sede municipal, a EE Presidente Olegário Maciel, que possui valor
histórico para a cidade (figura 5.37).
Em Itacarambi, são ao total 14 escolas, todas contando com turmas nas séries iniciais do Ensino
Fundamental. Dentre as escolas rurais municipais, quatro atendem apenas as séries iniciais, seis têm
Ensino Fundamental completo, e uma delas conta com EJA. As escolas rurais estão localizadas nas ilhas
do Valerinho, do Jenipapo e do Retiro, nos povoados Serraria e Várzea Grande, e nas fazendas Remanso I
e Pindaíbas. A EM Osório Evangelista dos Santos, localizada na Fazenda Remanso, possui turmas
vinculadas na Ilha do Capão e na Fazenda ICIL.
Nesse município há duas escolas estaduais rurais com Ensino Médio, e uma urbana. A EE Professor
Josefino Barbosa, localizada na sede, possui turma de EJA de Ensino Médio, enquanto que na EE
Saturnino Ângelo da Silva, situada no povoado Fabião II, as turmas de EJA abrangem apenas as séries
finais do Ensino Fundamental. Ambas as escolas oferecem atividades complementares no contraturno
escolar, tais como acompanhamento pedagógico, atividades de esporte e lazer, de artes e cultura, saúde,
alimentação e prevenção, além de oficinas sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável.
Itacarambi conta, também, com uma escola privada (APAE de Itacarambi) que atende alunos com
necessidades especiais e possui ensino de nível fundamental.
Em função da TI Xakriabá, o município de São João das Missões conta com sete escolas estaduais
indígenas, três delas de Ensino Fundamental e quatro de Ensino Médio, todas com professores indígenas
de nível superior. Essas escolas são descentralizadas e somam 35 turmas vinculadas distribuídas entre as
aldeias da TI. As turmas descentralizadas possuem educação infantil e séries iniciais do Ensino
Fundamental. Os anos finais do Ensino Fundamental e o Ensino Médio são oferecidos nas escolas sede,
que estão sediadas nas seguintes aldeias: Brejo do Mata Fome, Sumaré I, Rancharia, Barreiro Preto,
Riacho dos Buritis, Morro Falhado e aldeia Prata.
Na cidade de São João das Missões, duas escolas de esferas administrativas diferentes (estadual e
municipal) funcionam integradas. A EE Aline Dias Neves, de Ensino Médio, funciona no mesmo prédio que
a EM Teodomiro Correa, de Ensino Fundamental, porém com administrações separadas. No passado
funcionava ali uma escola estadual que foi municipalizada, sendo criada mais tarde a escola de Ensino
Médio. Vinculados a EM Teodomiro Correa existem três turmas descentralizadas no município.
Dentro da AID, na localidade de Rancharia, estão localizadas duas escolas estaduais de Ensino
Fundamental e Médio, sendo uma delas indígena (EE Indígena Kuhinan Xakriaba). A EE Eliazar José
Rodrigues é a única escola a oferecer atividades complementares, tais como acompanhamento pedagógico
e atividades esportivas. Essa escola funciona em período integral, possui turmas de EJA (Ensino
Fundamental) e recebe alunos de inclusão.
Matrículas
Segundo informações do INEP, obtidas por meio da base de dados DataEscolaBrasil, no final de 2009 a
rede pública de ensino da AII possuía 15.330 alunos matriculados. Estas matrículas estavam distribuídas
em Ensino Fundamental (séries iniciais e finais), Ensino Médio e EJA.
A maior parte das matrículas se concentra no ensino básico (Ensino Fundamental), que possui mais de
onze mil alunos, principalmente nas séries iniciais, as quais acolhem cerca de mil alunos a mais que as
séries finais. O Ensino Médio conta com um contingente bem reduzido de alunos, somando apenas 2.600
matrículas nos três municípios.
Em relação ao EJA, aproximadamente mil matrículas estavam registradas em 2009. Cada um dos
municípios contribui com cerca de 350 alunos de EJA, nos diversos níveis de ensino. As séries iniciais do
Ensino Fundamental, no entanto, agregam quase a metade dos estudantes tardios.
Nas escolas da TI estudam 2.432 alunos indígenas, a grande maioria cursando as séries iniciais (cerca de
1.450 alunos). A descontinuidade dos estudos pela população indígena pode ser observada verificando-se
os números de matrículas para a segunda etapa do Ensino Fundamental (697 alunos) e para o Ensino
Médio (278).
De acordo com dados do Sistema e-MEC (2010), os municípios de Itacarambi e Manga contam com cursos
de Educação à Distância (EAD) vinculados a universidades do Mato Grosso do Sul e do Paraná. Somadas,
essas universidades disponibilizam um total de trinta cursos de graduação, em 23 diferentes formações.
Em Itacarambi, a Universidade Anhanguera (UNIDERP) disponibiliza 15 cursos de graduação, entre eles
alguns na área da saúde, tais como Enfermagem, Gestão de Serviços de Saúde, Gestão Hospitalar.
Também são oferecidas formações em Gestão de Pequenas e Médias Empresas, Gestão e Marketing de
Pequenas e Médias Empresas, Gestão Financeira, Letras – Inglês e Logística.
A Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), com atuação em Manga, oferece graduações em Análise e
Desenvolvimento de Sistemas, Processos Gerenciais, Gestão Comercial, Gestão Ambiental, História,
Letras, Letras – Português e Normal Superior. Ambas as universidades contam com cursos de
Administração, Ciências Contábeis, Gestão de Recursos Humanos, Gestão de Turismo, Marketing,
Pedagogia e Serviço Social.
No Município de Manga está prevista a construção de uma escola técnica, com projeto já foi aprovado pelo
Estado, e área doada pela Prefeitura Municipal. Ao todo, Minas Gerais foi contemplada com doze escolas
profissionalizantes, sendo a que está projetada para Manga incluída nesse lote. Os cursos oferecidos serão
as áreas de informática, edificação e acabamento, e de agente de saúde.
Em Itacarambi ocorre a atuação do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem), na sua versão
ProJovem Trabalhador, vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O ProJovem Trabalhador
Projetos
Alguns programas sociais em prática nos municípios são direcionados ao público jovem e infantil, visando à
redução das situações de risco para a infância, tais como o trabalho infantil, além do retorno e/ou
manutenção dessa população na escola. Por meio de atividades no contraturno escolar, esses projetos
proporcionam a melhoria do rendimento escolar, a diminuição da evasão e a oportunidade de lazer e
entretenimento correspondentes a cada idade.
O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) é vinculado Ministério do Desenvolvimento Social
(MDS) e tem atuação nos municípios de Itacarambi e Manga. Esse programa consiste na transferência de
renda às famílias com situação de trabalho infantil e oferta do Serviço de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos às crianças e adolescentes retiradas do trabalho.
Em Itacarambi este programa (PETI) e atende aproximadamente 180 crianças, entre 7 a 14 anos de idade.
Atua na área urbana e na rural, sendo que nesta possui dois núcleos distintos, um na localidade de Várzea
Grande e outro na Ilha do Capão.
A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (SEDESE) mantém um convênio com
o município de Itacarambi para a realização do programa Socialização, que presta atendimento a crianças
em situação de risco (trabalho infantil), por meio da promoção de atividades diversas no contraturno
escolar. Esse programa funciona nos mesmos locais que os programas ProJovem e PETI, e tem atuação
vinculada a este último.
Em Manga, as secretarias de Ação Social e de Educação apóiam alguns projetos, tais como o PETI;
Segundo Tempo, que é um projeto de incentivo à prática de esportes, vinculado à rede estadual de ensino;
e A Gente Jovem, que tem como público alvo adolescentes até 17 anos.
Transporte escolar
O transporte escolar é um importante elemento para a garantia da Educação, pois possibilita a aplicação de
dois dos princípios do ensino: a igualdade de condições de acesso e permanência na escola e a gratuidade
do ensino público nos estabelecimentos oficiais, que não se restringe apenas a não cobrança de taxas,
mas pressupõe também a garantia do acesso aos estabelecimentos de ensino (CEDECA, 2006).
Nos municípios que integram a AII o transporte escolar de nível fundamental e médio é responsabilidade
das administrações municipais. Conforme pode ser verificado no quadro 5.6, em 2009 eram transportados
diariamente mais de dois mil alunos, a maioria residentes na área rural.
Quadro 5.6:
Quantidade de alunos que utilizam transporte escolar, na AII, em 2009.
São João das
Manga Itacarambi Total AII
Missões
Total de alunos 1.105 567 360 2.032
Rural 82,8% 24,9% 70% 64,4%
Urbano 17,2% 75,1% 30% 35,6%
Fonte: INEP, 2009.
Em Manga se verifica o maior contingente de alunos que utilizam o transporte escolar, principalmente na
zona rural do município, a qual reúne 82,8% das crianças e jovens transportados no município. As escolas
que possuem Ensino Fundamental completo e Ensino Médio são as que mais recebem alunos (51%) que
necessitam de transporte, pois são mais polarizadas e atendem um perímetro maior que as escolas de
séries iniciais.
No entanto, em São João das Missões esse quadro muda, pois grande parte dos alunos transportados
estuda na sede municipal, nas escolas Aline Dias Neves (estadual, de Ensino Médio) e Teodomiro Correa
(municipal, de Ensino Fundamental). Dos alunos contabilizados na zona rural, cerca de 74% são índios que
estudam nas escolas indígenas da TI Xakriabá.
O transporte escolar em Itacarambi também atende principalmente a área rural, que inclui alunos
residentes nas ilhas e comunidades mais afastadas da sede. O transporte dos alunos desde as ilhas que
5.3.7.4 Saúde
Regionalização da Saúde
Desde 2001, a rede de assistência em saúde brasileira passou a ser organizada de forma regionalizada,
em consonância com a Norma Operacional da Assistência à Saúde (NOAS-SUS 01/2001), que amplia a
responsabilidade dos municípios na atenção básica, definindo o processo de regionalização da assistência
e criando mecanismos para o fortalecimento da capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS).
Em 2002, a NOAS-SUS 01/2002 estabeleceu a implantação do Plano Diretor de Regionalização (PDR) em
cada uma das Unidades da Federação. O PDR constitui-se como um instrumento de ordenamento do
processo de regionalização da atenção à saúde, que prevê a formação de redes hierarquizadas de serviços
e planejamento integrado. Desta forma, os territórios estaduais foram organizados em regiões,
microrregiões e módulos assistenciais, a fim de estabelecer fluxos de referência e contra-referência
intermunicipais, objetivando garantir a integralidade da assistência e o acesso da população aos serviços e
ações de saúde, de acordo com as suas necessidades.
11 As macrorregiões de saúde, ou assistenciais, são bases territoriais de planejamento da atenção à saúde, que englobam um
conjunto de microrregiões definidas de acordo com as características demográficas, socioeconômicas, geográficas, sanitárias,
epidemiológicas, oferta de serviços e relações entre municípios. Apresentam um nível tecnológico de complexidade IV, abrangência
regional, e funcionamento ininterrupto (MINAS GERAIS, 2002).
12 As microrregiões de saúde, ou assistenciais, são bases territoriais e planejamento da atenção básica à saúde, com capacidade de
oferta de serviços ambulatoriais e hospitalares de média complexidade, além de alguns serviços de alta complexidade. São
constituídas por um ou mais módulos assistenciais. Apresentam nível tecnológico III-2 e abrangência regional (MINAS GERAIS,
2002).
13 Por módulo assistencial entende-se um município, ou conjunto de municípios, com capacidade de ofertar a totalidade de serviços
previstos no item 7, capítulo 1, do NOAS/01 para sua população e de outros municípios adstritos. Apresenta um nível de
complexidade ambulatorial III-1, além de abrangência municipal e intermunicipal (MINAS GERAIS, 2002).
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 48
Figura 5.39: Região Assistencial Norte de Minas e Microrregião de Januária, MG.
Ambos os módulos assistenciais presentes na AII, localizados nos municípios de Manga e Itacarambi, são
hospitais gerais de média complexidade, dispondo de atendimento ambulatorial, internação, serviços de
apoio diagnóstico e terapias (SADT), hemoterapia e urgência (pronto-atendimento), para demanda
espontânea e referenciada. De acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
(CNES/DATASUS, 2009), esses hospitais disponibilizam serviços de diagnóstico por laboratório clínico,
imagem (radiologia e ultrasonografia), métodos gráficos dinâmicos (exame eletrocardiográfico) e serviço de
endoscopia.
No município de Manga, o Hospital Funrural (Fundação Hospitalar de Amparo ao Homem do Campo)
possui 33 leitos que atendem a cirurgias, clínica médica, obstetrícia e pediatria (DATASUS, 2009). Sua
administração é privada, sendo mantido com recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) e da própria
prefeitura. Esse hospital mantém, ainda, um convênio com o município de São João das Missões por meio
da FUNASA, para atendimento de referência à população indígena.
Segundo o Plano Municipal de Saúde: 2010/2013, de Itacarambi, o Hospital Municipal Gerson Dias (figura
5.40) dispõe de 55 leitos para internação em clínicas básicas, nas especialidades de clínica médica,
cirúrgica, obstétrica e pediátrica, além de cinco leitos destinados à Urgência e Emergência. O hospital
possui uma agência transfusional credenciada ao Hemocentro Regional de Montes Claros. Em relação aos
serviços disponíveis, o estabelecimento conta com farmácia hospitalar e serviços de fisioterapia, controle
ao tabagismo, atenção psicossocial, atenção domiciliar e atenção à saúde do trabalhador (DATASUS,
2009).
Referência e Contra-referência
De acordo com a Política Nacional de Atenção às Urgências (Brasil, 2006), a estruturação de Sistemas
Estaduais de Urgência e Emergência deve contemplar a perspectiva da universalidade, atenção integral e
equidade de acesso, de caráter regionalizado e hierarquizado, de acordo com as diretrizes do SUS. Deste
modo, os serviços especializados e de maior complexidade deverão ser referência para um ou mais
municípios de menor porte. Nos municípios da AII, os módulos assistenciais de Manga e Itacarambi são
referência para pacientes provenientes de municípios vizinhos, principalmente os que não possuem
unidades hospitalares.
No Hospital Funrural, em Manga, são atendidos pacientes oriundos de São João das Missões, Miravânia,
Juvenília e Matias Cardoso. Esse hospital recebe ainda pacientes vindos de Montalvânia e Itacarambi,
município com o qual mantém um convênio para realização de cinco cirurgias por mês. De acordo com a
SMS de Manga, além desses, também moradores de localidades rurais do Estado da Bahia, principalmente
vindos de Carinhanha e Malhada, buscam atendimento na Fundação de Amparo ao Homem do Campo.
O Hospital Municipal Gerson Dias, de Itacarambi, recebe pacientes em busca dos serviços de referencia na
atenção ao parto e nascimento. Segundo sua SMS, o município atende, inclusive, pacientes provenientes
de Januária, cidade-pólo da microrregião assistencial de saúde.
Conforme informações da Secretaria Municipal de Saúde de São João das Missões, esse município
encaminha para Manga 80% dos pacientes que necessitam de internação, e os 20% restantes para o
hospital de Itacarambi. Por outro lado, pacientes que necessitam de serviços de saúde especializados,
como consultas e exames específicos, são levados ao município de Montes Claros. Semanalmente, são
encaminhadas ao pólo macrorregional Norte de Minas cerca de 40 pessoas, sendo que a prefeitura se
encarrega do transporte de metade deste contingente, enquanto os demais (apenas indígenas) são
transportados pela FUNASA.
14
Da mesma forma, os pacientes de Itacarambi que necessitam de atendimento de alta complexidade são
encaminhados, primeiramente, ao município de Januária e, quando necessário um atendimento mais
especializado, aos módulos assistenciais do pólo regional Montes Claros.
De outra forma, apesar de pertencer à microrregião assistencial de Januária, o município de Manga
encaminha seus casos de alta complexidade a hospitais de referência conveniados ao SUS localizados no
município de Janaúba (município pólo microrregional), tais como o Hospital Regional desse município.
Assim como os demais municípios da AII, pacientes que necessitem de atendimento mais especializado
são encaminhados aos hospitais Santa Casa de Misericórdia e Aroldo Torinho, em Montes Claros.
A Atenção Primária à Saúde (APS) é a porta de entrada do serviço de saúde e deve estar acessível à
população, constituindo o primeiro contato da medicina com o paciente. O cuidado com a pessoa atendida
é contínuo, mantendo-se o vínculo ao longo do tempo, e o atendimento é caracterizado pela abrangência e
integralidade, isto é, responsável por todos os problemas de saúde. Ainda, o nível primário tem a
incumbência de organizar, coordenar e/ou integrar o cuidado à saúde de uma pessoa, mesmo quando
realizado em outros níveis de atendimento.
No Brasil, a APS também é denominada como Atenção Básica. A Portaria Nº 648 GM/2006, que aprova a
Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da
Atenção Básica para o Programa Saúde da Família (PSF) e o Programa Agentes Comunitários de Saúde
(PACS), define Atenção Básica como:
“um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a
proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a
manutenção da saúde. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias
democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de
territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a
dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de elevada
Estabelecimentos de Saúde
A rede de atenção básica da área de estudo, apresentada no quadro 5.9, é composta pelas unidades de
saúde com atendimento ambulatorial presentes nos municípios que integram a AII, tais como consultórios,
clínicas especializadas, centros de atendimento psicossocial (CAPS), postos de saúde, unidades básicas
de saúde (UBS), unidades da vigilância sanitária, além de unidades de serviço e apoio a diagnose e terapia
(SADT).
Quadro 5.9
Rede ambulatorial dos municípios da AII.
São João das
Unidades Ambulatoriais Total da AII Manga Itacarambi
Missões
Consultório Isolado 2 0 0 2
Centro de Saúde/Unidade Básica de Saúde (UBS) 11 4 4 2
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) 1 0 0 1
Clínica especializada ou Ambulatório de Especialidade 2 0 0 2
Posto de saúde 5 1 1 4
Unidade de vigilância em saúde 1 0 0 1
Unidade de serviço de apoio de diagnose e terapia (SADT) 1 1 0 0
Unidade de Atenção à Saúde Indígena/Unidades de Apoio (UA) 4 0 3 0
15
Fonte: CNES/DATASUS, 2009. FUNASA, 2010 .
Conforme dados do CNES (DATASUS, 2009), o quadro de atenção primária em saúde do município de
Manga é composto de quatro UBSs, um posto de saúde, uma SADT privada, além do Hospital Funrural.
Além da atenção básica, dois dos estabelecimentos de saúde contam com atendimento ambulatorial de
média complexidade (Centro de Saúde Dr. Dario Tavares e SADT Citomanga), enquanto que o Hospital
16
Funrural presta atendimentos ambulatoriais de média e alta complexidade .
Dentre as unidades de saúde de Manga, quatro possuem gestão municipal, e todas contam com
atendimento ambulatorial, acompanhamento ao pré-natal de baixo risco, e serviço de atenção ao paciente
com tuberculose, além de equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF). Na área rural, o Posto de Saúde
Nhandutiba possui ESF com saúde bucal e serviço de vigilância epidemiológica. As UBSs localizadas nos
bairros São José das Traíras e Tamua contam com ESF Saúde da Família e serviços de vigilância em
saúde tanto epidemiológica quanto sanitária. A UBS Arvoredo é de gestão apenas estadual, e conta com
duas equipes da ESF, sendo uma equipe de saúde da família e outra de saúde bucal.
De acordo com o Plano Municipal de Saúde (2009-2012), no Centro de Saúde Dr. Dario Tavares funciona o
Ambulatório Municipal, e conta com serviços de diagnose por laboratório clínico, serviço de farmácia, de
vigilância em saúde e de fisioterapia. O Centro de Saúde possui profissionais das áreas de nutrição,
fisioterapia, farmácia, ortopedia, fonoaudiologia e psicologia, divididas em duas equipes de saúde da
família.
No município de São João das Missões, em função da presença indígena, a rede de saúde é composta por
unidades de saúde vinculadas à SMS e à FUNASA, todas com atendimento em nível ambulatorial. Três
dos estabelecimentos de saúde deste município estão situados dentro da AID deste diagnóstico, sendo um
na sede municipal e outros dois na localidade de Rancharia.
Figura 5.41: Unidade Auxiliar de Saúde de Rancharia, TI Xakriabá, São João das Missões.
Fonte: Magna Engenharia Ltda.
Dentro da AID, a UBS Rancharia funciona em dois estabelecimentos distintos, situados nas duas margens
da rodovia BR-135. De um lado, a unidade de saúde atende a pessoas que se consideram não-índios,
enquanto do outro, na unidade auxiliar de saúde (figura 5.41) localizada na TI Xakriabá Rancharia (TIXR), o
atendimento destina-se à população indígena.
Ao todo, somam-se seis unidades de saúde nas TI’s da etnia Xakriabá em São João das Missões, as quais
atendem a população de 34 aldeias situadas na área. Essas unidades de saúde indígena estão
subordinadas ao Pólo-Base administrativo da FUNASA (figura 5.42), localizado na sede municipal e
vinculado ao Distrito Sanitário Especial Indígena Minas Gerais/Espírito Santo (DSEI-MG/ES).
17 A gestão dupla ocorre entre a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de São João das Missões e a Secretaria de Estado de Saúde
de Minas Gerais (SES/MG) ou entre a SMS e a FUNASA.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 54
Figura 5.42: Pólo Base da FUNASA em São João das Missões.
Fonte: Magna Engenharia Ltda.
Em Itacarambi a rede de atenção básica é composta por quatro Postos de Saúde, localizados em áreas
rurais, duas UBSs, duas clínicas especializadas em odontologia, um CAPS e uma unidade de vigilância em
saúde (CNES/DATASUS, 2009). O Hospital Municipal Gerson Dias também possui atendimento em
atenção básica, em nível ambulatorial.
O serviço de vigilância epidemiológica está presente em três dos postos de saúde do município, com
exceção apenas do posto da zona rural de Serraria. Nas localidades de Fabião II e Vila Florentina os
postos de saúde contam com serviços de acompanhamento ao pré-natal de baixo risco, de controle ao
tabagismo, de atenção ao paciente com tuberculose, além de ESF Saúde da Família. Nas UBSs municipais
(UAPS Nossa Senhora de Fátima e UBS Central), além desses são oferecidos ainda serviços de atenção
domiciliar, ESF com Saúde Bucal, exames de triagem neonatal e exames citopatológicos. Nessas UBSs
atuam profissionais das áreas de biomedicina, pediatria e ginecologia e obstetrícia.
A UBS Central é o único estabelecimento de saúde no município de Itacarambi que possui atendimento de
média complexidade em nível ambulatorial. Esta UBS conta com regulação assistencial dos serviços de
saúde, com Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) de abrangência intermunicipal, serviços de
atenção psicossocial, fisioterapia e atenção à saúde auditiva, além dos serviços já citados anteriormente.
No seu quadro de pessoal, essa UBS possui profissionais das áreas de dermatologia, fonoaudiologia,
psicologia, fisioterapia e farmácia.
O Centro de Especialidades Odontológicas e a Unidade Ambulatorial Odontológica Mares Guia (figura
5.43) são ambulatórios municipais de média complexidade, e possuem SADT com diagnóstico por imagem
(radiologia) e dispensação de orteses, próteses e materiais especiais. Já o CAPS de Itacarambi presta
atendimentos ambulatoriais de média e alta complexidade, os quais abrangem serviços de controle ao
tabagismo, atenção domiciliar e atenção psicossocial. O CAPS conta com profissionais das áreas da
pedagogia, assistência social, psicologia, psiquiatria e farmácia.
Equipes de Saúde
O Programa Saúde da Família é a estratégia prioritária adotada pelo Ministério da Saúde para a
organização da atenção básica, no âmbito do SUS. Esse programa atua por meio de equipes da Estratégia
de Saúde da Família (ESF) compostas basicamente de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e
agentes comunitários de saúde; ou ainda por meio de Equipes com Atendimento em Saúde Bucal
(ESFSB), nas quais constam também cirurgiões dentistas, técnicos de saúde bucal e atendentes de
consultório dentário.
Integrado ao PSF, o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) visa a ligação entre a equipe de
saúde da família e a comunidade assistida, por meio do Agente Comunitário de Saúde (ACS), que mora na
comunidade e atua vinculado à Unidade de Saúde da Família (USF). Esse agente representa o elo cultural
do SUS com a população e seu contato permanente com as famílias facilita o trabalho de urgência e
promoção da saúde.
Quadro 5.10
Equipes de Saúde nos municípios da AII.
São João das
Equipes e agentes de saúde Total AII Manga Itacarambi
Missões
Núcleo de Atenção à Saúde da Família Intermunicipal
1 0 0 1
(NASF Intermunicipal)
Equipe de Saúde da Família (ESF) 17 6 4 7
ESF com Saúde Bucal (ESFSB) 11 2 4 5
ESF Quilombola/Assentado 1 0 1 0
Agentes Comunitários de Saúde (ACS) 120 47 24 49
Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) 6 0 6 0
Agentes Indígenas de Saúde (AIS) 56 0 56 0
18
Fonte: CNES/DATASUS, 2009. FUNASA, 2010 .
De modo semelhante, os Agentes Indígenas de Saúde (AIS), além de garantir a atenção primária à saúde,
atuam como elementos que favorecem a comunicação entre a população indígena e o SUS. Os AIS
integram as Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI), as quais possuem composição similar as
equipes do PSF.
Nos municípios da AII atuam dezessete Equipes de Saúde da Família, somando 120 ACS. Destas, onze
possuem especialistas em saúde bucal, e uma presta atendimento específico para população considerada
quilombola. Nas TI’s Xakriabá e Xakriabá Rancharia atuam seis EMSI, as quais contam com 56 AIS
(quadro 5.10).
No município de São João das Missões, a localidade de Rancharia (inserida na AID) possui população
indígena e não-indígena, as quais são atendidas em dias diferenciados pelos serviços de saúde presentes
no local. A equipe de saúde da família que atua na UBS Rancharia, especializada em população
quilombola, trabalha em parceria com técnicos da FUNASA, vinculados ao Posto de Saúde Indígena da
TIXR.
As figuras abaixo (figura 5.44 e figura 5.45) mostram o acompanhamento mensal às crianças da
comunidade, em dia de atendimento a não-indígenas, na UBS Rancharia, em frente a um dos trechos
urbanos da BR-135. Esse acompanhamento é realizado por um técnico cedido pela FUNASA.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (SAMU 192) se caracteriza como atendimento pré-
hospitalar móvel, atuando no atendimento e/ou transporte adequado de pacientes a serviços de saúde,
devidamente hierarquizados e integrados ao SUS. Segundo o Plano Nacional de Atendimento às
Urgências, esse serviço deve ser entendido como uma atribuição da área da Saúde, vinculado a uma
Central de Regulação definida a partir de aspectos demográficos, populacionais, territoriais, indicadores de
saúde, oferta de serviços e fluxos habitualmente utilizados pela população.
Dessa forma, a Central de Regulação é responsável pelas necessidades de saúde da população de um
município ou uma região, desde que dispondo de equipe e frota de veículos compatível com a área
abrangida, e podendo, portanto, extrapolar os limites municipais (BRASIL, 2006). Para tanto, o SAMU 192
deve contar com a retaguarda da rede de serviços de saúde disponibilizada conforme os critérios de
hierarquização e regionalização do sistema loco-regional.
Nos municípios da AII este serviço é vinculado à Central de Regulação Médica de Urgências do Hospital
Municipal Gerson Dias, em Itacarambi. A frota de veículos do SAMU 192 neste município é composta de
ambulâncias de transporte, ambulâncias de suporte básico, ambulâncias de suporte avançado, veículos de
19
intervenção rápida e embarcações de transporte médico .
19 Os veículos do SAMU 192 são caracterizados da seguinte forma: a) Ambulâncias de Transporte: destinadas ao transporte de
pacientes que não apresentam risco de vida, para remoções simples e de caráter eletivo; b) Ambulâncias de Suporte Básico: veículos
destinados ao transporte inter-hospitalar de pacientes com risco de vida conhecido e ao atendimento pré-hospitalar de pacientes com
risco de vida desconhecido, não classificado com potencial de necessitar de intervenção médica no local e/ou durante transporte até o
serviço de destino; c) Ambulâncias de Suporte Avançado: veículos destinados ao atendimento e transporte de pacientes de alto risco
em emergências pré-hospitalares e/ou de transporte inter-hospitalar que necessitam de cuidados médicos intensivos, na qual deve
constar todos os equipamentos médicos necessários para esta função; d) Veículos de Intervenção Rápida: também chamados de
veículos leves, veículos rápidos ou veículos de ligação médica, são utilizados para transporte de médicos com equipamentos que
possibilitam oferecer suporte avançado de vida nas demais ambulâncias; e) Embarcações de Transporte Médico: veículos
motorizados aquaviários, destinados ao transporte por via marítima ou fluvial, os quais devem possuir os equipamentos médicos
necessários ao atendimento de pacientes conforme sua gravidade.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 57
Segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde de Manga, desde novembro de 2009 este
município possui uma unidade do SAMU 192. Também em 2009, a Terra Indígena Xakriabá recebeu da
SES/MG a doação de um microônibus, o qual será utilizado para facilitar o acesso aos serviços de saúde,
agilizar o acesso dos profissionais de saúde que atuam nas aldeias, e para o transporte de usuários aos
pólos de saúde situados na TI. Além dessa doação, a FUNASA possui quatro veículos simples (carros)
para apoio aos serviços de saúde indígena.
Em São João das Missões o SAMU 192 está concentrado no Centro de Saúde, e dispõe de uma frota de
três ambulâncias, das quais apenas uma se mantém em funcionamento. Isso se dá em decorrência das
constantes manutenções ocasionadas pelo desgaste que sofrem os veículos ao trafegarem pelas rodovias
do entorno, incluindo a BR-135, conforme pode ser observado na figura 5.46.
Sendo o SAMU 192 um serviço móvel de urgência e apoio à saúde, seu efetivo funcionamento depende de
boas condições de trafegabilidade nas rodovias que interligam os municípios, módulos assistenciais e
centros de referência. A má conservação dessas rodovias, bem como condições adversas de tráfego,
dificulta a realização do serviço, aumentando o tempo de resposta para o atendimento necessário ou
mesmo impossibilitando a prestação do socorro em casos de urgência.
As condições de saúde que caracterizam uma população estão diretamente relacionadas ao meio em que
esta população se encontra. Neste contexto, as doenças e mortes que afetam uma determinada localidade
dependem das suas condições de saneamento básico, bem como da estrutura assistencial em que se
encontra inserida.
Nos municípios da AII, as principais causas de morbidade estão relacionadas com gravidez, partos e
puerpério (32,6%), seguidas de doenças do aparelho digestivo (12,5%) e do aparelho respiratório (11,7%).
Nos adultos com mais de 50 anos as causas de morbidade mais ocorrentes são por doenças do aparelho
circulatório (25,7%), porém, também apresentam taxas expressivas de doenças respiratórias (15,8%) e
digestivas (12,9%).
As doenças do aparelho digestivo atingem principalmente jovens entre 5 e 14 anos, sendo expressiva sua
incidência em São João das Missões, onde é a causa de mais de 50% das internações da população com
faixa etária entre 10 e 14 anos. Mais de 45% da morbidade de crianças de menos de 4 anos, nos três
municípios, ocorre por doenças respiratórias, porém essa taxa chega a 58,6% para os menores de 1 ano
residentes em São João das Missões. As doenças infecciosas e parasitárias também atingem a população
infantil, com grande incidência em crianças de 1 a 4 anos, sendo bastante representativas em Itacarambi,
onde esta é a causa de 21,1% das internações nessa faixa etária. Ainda, causas externas, como lesões e
envenenamentos, apresentam um percentual considerável das internações em quase todas as faixas
etárias, apresentando uma média de 8,8% (DATASUS, 2007).
Os altos índices de doenças do aparelho respiratório podem estar associados à qualidade do ar na região.
Na localidade de Rancharia, município de São João das Missões, a qualidade do ar foi classificada como
20
inadequada , conforme pode ser verificado no Diagnóstico Ambiental do Meio Físico. Isso se deve, em
parte, a quantidade de material particulado (poeira), proveniente do trecho não pavimentado da BR-135, às
margens da qual a localidade se desenvolveu. Trabalhadores das unidades de saúde de Rancharia
corroboram essa análise, ao relatarem a expressiva procura dos serviços de saúde por queixas de doenças
respiratórias em decorrência da poeira da estrada, principalmente no período de seca.
No quadro 5.11 é apresentado o número de óbitos e as principais causas de mortalidade por município da
AII, de acordo com informações do Ministério da Saúde (DATASUS, 2008).
20 Como inadequado entende-se que toda a população pode apresentar sintomas como tosse seca, cansaço, olhos, nariz e garganta.
Pessoas de grupos sensíveis (crianças, idosos e pessoas doenças respiratórias e cardíacas), podem apresentar efeitos mais sérios na
saúde.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 58
Quadro 5.11
Principais causas de mortalidade por municípios da AII, 2008.
São João das
Principais Causas de Mortalidade Manga Itacarambi Total da AII
Missões
Doenças infecciosas e parasitárias 7 4 3 14
Neoplasias (tumores) 18 4 12 34
Doenças do sangue, órgãos hematológicos, transtornos
0 1 1 2
imunitários
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 6 5 7 18
Transtornos mentais e comportamentais 2 1 1 4
Doenças do sistema nervoso 1 1 1 3
Doenças do aparelho circulatório 24 11 19 54
Doenças do aparelho respiratório 9 2 7 18
Doenças do aparelho digestivo 7 2 6 15
Doenças osteomuscular e tecido conjuntivo 0 1 0 1
Doenças aparelho geniturinário 0 2 1 3
Doenças originadas no período perinatal 7 6 0 13
Malformações congênitas, deformidades e anomalias
1 1 3 5
cromossômicas
Sintomas, sinais e achados anormais em exames clínicos
17 12 28 57
e laboratoriais
Lesões, envenenamentos e causas externas 9 5 7 21
Total de Óbitos 108 58 96 262
Fonte: SIM/DATASUS, 2008.
De acordo com os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do DATASUS, as principais
causas de morte, em crianças menores de 1 ano de idade, estão relacionadas a afecções originadas no
período perinatal, para os municípios de Itacarambi e Manga. No entanto, em São João das Missões as
doenças do aparelho respiratório representam o principal motivo de óbitos entre as crianças dessa faixa
etária.
De modo geral, no intervalo entre 1 a 9 anos de idade as causas de morte estão relacionadas a três
principais grupos de causa, sendo estas causas externas (acidentes), neoplasias e doenças do aparelho
circulatório. A população jovem entre 10 e 19 anos geralmente tem sua morte relacionada a causas
externas como agressões e acidentes de trânsito. Os adultos, da faixa etária entre 20 e 49 anos de idade,
têm suas causas de morte relacionadas a diferentes grupos de causa, não predominando uma ou duas,
como acontece na faixa etária anterior. Entretanto, no município de São João das Missões é possível
identificar que os índices de mortalidade mais elevados, na mesma faixa etária, estão relacionados às
doenças infecciosas e parasitárias.
A morbidade na faixa dos 50 anos em diante está geralmente relacionada a doenças do aparelho
circulatório e neoplasias. A incidência desse tipo de doenças na população pode ser associada à
freqüência de fatores de risco, como tabagismo, hipertensão, obesidade, colesterol alto, diabetes,
sedentarismo e estresse (RIPSA, 2002). A variação das taxas de mortalidade por doenças do aparelho
respiratório, como ocorre na população da AII, pode ser associada, também, à qualidade da assistência
médica disponível nos municípios.
Ao comparar os índices de morbidade e de mortalidade para adultos de 20 a 49 anos, relacionados com
doenças infecciosas e parasitárias, verifica-se que o elevado número de óbitos é desproporcional ao baixo
número de internações pela mesma causa. Pode-se constatar, com isso, que é alta a taxa de óbitos dos
pacientes que procuram atendimento de saúde, em decorrência da distância dos municípios com os
centros especializados (no caso, o pólo de referência macrorregional, Montes Claros), e das condições de
trafegabilidade da rodovia BR-135, que dificultam o deslocamento e retardam o tempo de resposta ao
21
paciente .
21 Tempo de resposta é o período de tempo disponível entre o primeiro atendimento ao paciente, seu deslocamento até um
estabelecimento de saúde adequado, e sua estabilização.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 59
No que diz respeito às mortes por doenças no aparelho respiratório, expressivas em crianças menores de 1
ano, os índices de mortalidade para o município de São João das Missões estão de acordo com a alta
morbidade de crianças nessa faixa etária pelo mesmo grupo de doenças. Além dessa causa de óbito
infantil estar associada a fatores como a qualidade do ar e condições climáticas, que favorecem a
ocorrência de afecções respiratórias, os altos índices de mortalidade em menores de cinco anos indica
condições socioeconômicas insatisfatórias e uma insuficiente cobertura e qualidade da atenção básica à
saúde da criança,
Mortalidade Infantil
A mortalidade infantil corresponde ao risco de um nascido vivo vir a falecer antes de completar 1 ano de
idade. Esta taxa normalmente é calculada como sendo a relação entre os óbitos de menores de 1 ano de
idade ocorridos durante o ano e o número de nascimentos neste mesmo ano.
Verifica-se que na AII o município de Manga é o que apresenta os piores indicadores, com taxas superiores
à média do Estado de Minas Gerais, que, em 2008, foi de 14,5 óbitos para cada 1.000 nascidos vivos. Em
São João das Missões a taxa de mortalidade infantil é bastante heterogênea, porém manteve-se inferior à
média estadual, com exceção dos anos 2000, 2005 e 2008, quando apresentou um aumento de mais de 20
óbitos para cada 1.000 nascimentos.
Ao se analisar esse indicador ao longo do período considerado (2000/2008), verifica-se que Itacarambi vem
conseguindo apresentar decréscimo nestas taxas desde o ano de 2003, e em 2008 apresentou a menor
taxa de mortalidade entre os municípios da AII. Os municípios de São João das Missões e Manga
apresentaram sensível redução na taxa de mortalidade, no período de 2000 a 2007, voltando em 2008 aos
níveis de 2000, com taxas acima de 32 óbitos por 1.000 nascidos vivos (figura 5.47).
2008
2007
2006
2005
2004
2003
2002
2001
2000
0 5 10 15 20 25 30 35 40
%
Itacarambi São João das Missões Manga
Figura 5.47: Taxa de mortalidade infantil (por mil nascidos vivos), nos municípios da AII.
Fonte: Cadernos de Informações de Saúde/DATASUS, 2009.
6
n° de óbitos
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008*
Figura 5.48: Número de óbitos infantis, por faixa etária, no município de Itacarambi.
Fonte: SIM/SINASC/DATASUS, 2009. (*Dados preliminares para o ano de 2008)
Ao analisar a mortalidade infantil por faixa etária, para Itacarambi, para os anos 2000/2008 (figura 5.48),
verifica-se a redução dos óbitos em crianças com mais de 28 dias de vida, desde 2002, decorrente das
ações de assistência à criança. Na faixa etária entre 7 a 27 dias o número de óbitos aparece como uma
oscilação intermitente com tendência a redução. No entanto, a quantidade de óbitos de crianças menores
de sete dias de vida manteve-se estável ou aumentando, os quais correspondem a nascimentos
prematuros ou que precisam de cuidados em unidades neonatais, e necessitam ser deslocados ao pólo da
macrorregional em Montes Claros.
O Hospital Municipal Gerson Dias, em Itacarambi, realiza apenas partos de risco habitual. No caso de
gestantes de alto risco, estas são encaminhadas, através da rede de referência, ao município pólo
microrregional, em Januária. No entanto, como esse pólo não consegue atender a demanda da população
da microrregião de forma adequada, os casos de maior complexidade são encaminhados diretamente a
Montes Claros.
Os fluxos e contrafluxos referentes aos serviços de saúde, e aos municípios que compõe a AII, estão
relacionados com a espacialização dos recursos médicos e sanitários, atribuída ao Plano Diretor de
Regionalização, na Região Norte de Minas Gerais. Conforme mencionado, os municípios em estudo
compõem a microrregião sanitária de Januária, cidade na qual está localizado um módulo assistencial
regional de média complexidade. Esta microrregião integra, ainda, a macrorregião de saúde Norte de
Minas, que tem como pólo o município de Montes Claros.
A definição das regiões assistenciais supõe que os municípios que a englobam disponham de acesso aos
serviços mais especializados oferecidos na própria região ou em módulos assistenciais pré-estabelecidos.
Assim sendo, as condições de acessibilidade aos centros de referencia microrregionais são essenciais para
o pleno desenvolvimento das redes de referência e contra-referência na área da saúde, estabelecidos
previamente no PDR. Dessa forma, a conservação e/ou manutenção de rodovias que interligam municípios
a módulos assistenciais e centro de referencia desempenha papel importante na disponibilidade de
recursos da saúde, pois, uma vez que uma população específica não possa acessá-los (os serviços
sanitários), significa que não estão disponíveis para essa população. Deste modo, as condições de
Este item do diagnóstico tem como objetivo elucidar o comportamento do mercado de trabalho formal, bem
como, o perfil dos estabelecimentos que compõem a estrutura produtiva e de serviços da área de
influência, onde os impactos do futuro empreendimento serão mais significativos. Conforme mencionado
anteriormente neste documento, a AII refere-se aos municípios de Itacarambi, Manga e São João das
Missões. Entretanto, nesta análise foram incluídos os municípios de Jaíba, Juvenília, Matias Cardoso,
Miravânia e Montalvânia no intuito de mostrar diversas características do mercado de trabalho e renda, tais
como: o número de trabalhadores que atuam em cada segmento econômico, a idade média dos
trabalhadores, o sexo, o grau de escolaridade, o tempo médio de permanência no emprego, a massa
salarial, o salário médio e a relação entre remuneração e escolaridade, buscando dentro do possível
relacionar tais características com a rodovia, e principalmente compreender a relação de dependência
entre a economia local e a BR-135.
Neste sentido este item apresenta um breve panorama econômico, analisando a composição do PIB local e
a relação comercial nacional e internacional se houver, buscando, destacar as externalidades que afetam a
mesma. Outro ponto abordado é a distribuição territorial das indústrias, ou seja, como estão distribuídos os
empregos do mercado de trabalho na região analisada, em cada um dos municípios citados, sobre a ótica
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 62
dos Setores de Atividade Econômica (IBGE). Vale destacar ainda, que para o estudo da relação entre grau
de escolaridade e remuneração, foi aplicado um modelo de dependência linear, o qual permitiu tirar
algumas conclusões interessantes dessa relação. Salienta-se ainda que esse tema tem como objetivo
identificar o processo de dispersão dos empregos, nos diferentes segmentos econômicos e como isso pode
remeter a uma previsão sobre um comportamento futuro do mercado de trabalho no setor. Merece
destaque, as visitas técnicas realizadas in loco as empresas selecionadas, o que permitiu um entendimento
mais realista da atividade econômica local.
Dentre os municípios analisados Jaíba é o município que apresenta o maior PIB/2006 com R$ 150,1
milhões, puxado principalmente pelo setor de Serviços com 71,6 milhões, seguido pela agropecuária com
56,7 milhões, pela indústria com 14,8 milhões e a arrecadação pública com R$ 6,8 milhões em Impostos.
Outro destaque para esse município é o número de residentes 34,2 mil, o que lhe confere a posição de
município mais populoso, segundo dados do IBGE para o ano de 2006.
Manga também merece destaque, apresenta o segundo maior PIB/2006 da (AID) com R$ 81,6 milhões, o
setor de serviços também lhe agrega maior peso a composição do PIB com R$ 53 milhões, seguido pela
agropecuária com R$ 16,8 milhões e a indústria com R$8 milhões. Contudo possui a terceira maior
arrecadação de impostos, com R$ 3 milhões. Itacarambi possui o terceiro maior PIB/2006 da AII, esse
montante é da ordem dos R$70,1 milhões. Esse município também possui segundo maior PIB Industrial
com R$ 11,8 milhões e a segunda maior arrecadação de Impostos com R$ 3,075 milhões. Destaca-se que
esse efeito pode ser ocasionado, em parte, pela intensa arrecadação de ISSQN, ou em razão da existência
de mais estabelecimentos formais.
Matias Cardoso, por sua vez, tem o segmento agropecuário como principal agregado do PIB, esse
segmento lhe confere a posição de segundo maior dentre os municípios analisados, com R$ 28,6 milhões,
seguido por serviços com R$ 18,7 milhões e pela indústria com R$ 3,4 milhões.
São João das Missões é o município com o menor PIB, que soma R$ 24,1 milhões. Esse agregado é
puxado principalmente pelo setor de serviços com R$ 18,9 milhões, seguido pela indústria com R$ 3
milhões e pela agropecuária com R$ 1,7 milhões. Os impostos arrecadados somam R$ 458 mil.
Todos os municípios juntos, por sua vez, possuem um PIB/2006 conjunto de R$ 378,6 milhões, o que
representa 0,18% do produto interno do Estado. Esse agregado está assim distribuído entre os setores da
economia, com R$ 114,4 milhões ou 0,73% de PIB agropecuário, com R$ 41,8 milhões ou 0,07% de PIB
industrial, com R$ 207 milhões ou 0,18% de PIB serviços e finalmente com R$ 15,1 milhões ou 0,06%,
derivados dos impostos. O maior PIB per capita é o de Matias Cardoso R$ 7,7 mil por habitante, seguido
pelo de Jaíba com R$ 4,3 mil e pelo de Itacarambi com R$ 3,6 mil. Como pode ser observado, no quadro
5.12 exibe a formação do PIB por grandes setores da economia, o PIB per capita e o número de residentes
por município da AII.
Quadro 5.12
Formação do PIB, PIB per capita e habitantes, 2006.
Agropecuária Indústria Serviços Impostos PIB PIB per
Municípios População
R$ MIL capita
Segundo os dados do Ministério do Trabalho e Emprego, em 2008, o estoque de empregos formais na área
de influência, foi de 8,1 mil postos. Dentre os municípios analisados, para os estoques de 2008, destacam-
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 63
se Jaíba com 3,8 mil, podendo chegar a mais de 6,3 mil no ano de 2018. Na segunda posição, em termos
de estoque empregos, encontra-se Itacarambi com 1,8 mil postos, com previsão de chegar próximo aos 2,5
mil em 2018. Na terceira posição está o município de Manga com 1,3 mil e previsão de 1,4 mil, seguido por
Matias Cardoso com 722 e previsão de 860 e São João das Missões com 348 e 640, ambos para o mesmo
ano. A figura 5.49, remete os dados e suas extrapolações, projetadas por tendência linear para os
municípios analisados.
8.120
8.000
y = 299,65x + 620,42
6.000
3.870
4.000
y = 54,583x + 1387,5
1.843
2.000
1.337 y = 21,117x + 979,08
y = 4,4167x + 783,81
722
348 y = 27,783x + 113,08
-
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
A distribuição dos estabelecimentos por atividade econômica mostra que a maior parcela deste pertence à
agropecuária, cerca de 260 (38,6%) do total, nesse setor Jaíba é o que mais se destaca, seguido por
Matias Cardoso com 60 estabelecimentos, por Itacarambi com 24, e Manga com 22.
A atividade Comercial esta na segunda posição com 247 empresas (36,7% do total), nesse segmento Jaíba
detêm a maior parcela dos estabelecimentos, cerca de 114, seguido por Itacarambi e Manga, com 72 e 54,
respectivamente. Vale destacar, que o município de São João das Missões, possui mais de dois
estabelecimentos comerciais. Contudo, a prefeitura não possui um levantamento exato, no entanto, foi
possível observar que existem no município vários estabelecimentos operando informalmente,
subestimando o potencial econômico local. Destaca-se que a mesma realidade é presente nos municípios
da AII, não só na atividade comercial, mas também nos serviços.
A atividade de serviços concentra 102 ou 15,2% dos estabelecimentos formais da região estudada. Desse
total, Jaíba fica com 41, seguido por Manga, Itacarambi e São João das Missões, com 34, 21, e 5
estabelecimentos.
A indústria de Transformação soma 29 empresas ou 4,3% do total, onde novamente Jaíba destaca-se
tendo 16 dos 29 estabelecimentos. Desse total, Manga possui 7, Itacarambi 4 e Matias Cardoso 2
estabelecimentos. A Construção Civil apresenta 22 estabelecimentos, sendo Manga o município que possui
maior parcela 10 do total, seguido por Itacarambi com 6 e Jaíba com 5. Formalmente, o município de Jaíba
é o único que possui atividade extrativa mineral, com apenas um estabelecimento.
Os quadros 5.13 e 5.14 apresentam as informações dos números de estabelecimentos formais por
atividades econômicas, segundo critério de divisão Setor de Atividade Econômica do IBGE.
Quadro 5.14
Distribuição espacial dos estabelecimentos, por Atividade Econômica, 2008.
Atividade São João Participação
Itacarambi Jaíba Manga Matias Cardoso Total AID
Econômica das Missões (%)
Indústria de
166 482 48 26 0 722 8,9%
Transformação
Construção Civil 45 44 13 0 0 102 1,3%
Comércio 167 389 235 11 5 807 9,9%
Serviços 68 520 185 1 7 781 9,6%
Administração
863 890 713 172 336 2974 36,6%
Pública
Agropecuária 534 1545 143 512 0 2734 33,7%
Total 1843 3870 1337 722 348 8120 100,0%
Participação (%) 23% 48% 16% 9% 4% 100%
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS/2008.
Um aspecto a ser destacado no comportamento do emprego local da área estudada é a correlação positiva
que existe entre o grau de instrução e a remuneração média recebida pelo trabalhador, como observado na
figura 5.50. Essa característica está de acordo com diversos estudos realizados sobre o mercado de
trabalho na literatura internacional, e revela o retorno obtido pelos trabalhadores, medido em salários, para
cada ano de estudo adicional.
2,5
y = 0,0909x - 0,2808
N° DE SALÁRIOS MÍNIMOS
R² = 0,2205
2
1,5
0,5
0
4 6 8 10 12 14 16 18
ANOS DE ESTUDO
Figura 5.50: Relação entre o número de anos de estudo com a média de salários mínimos recebidos
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS/2008.
5.3.8.2 Perfil da mão-de-obra e Renda por Setor de atividade Econômica da Área de Influência
Para facilitar a elaboração desta parte do estudo optou-se por escrever, separadamente, para cada um dos
Setores de atividade econômica na tentativa de uma abordagem mais clara, proporcionada pela ótica de
divisão dos respectivos setores em tópicos como seguem. Do quadro 5.15 ao quadro 5.19, apresentam-se
as principais atividades econômicas por município analisado, trazendo os estoques de estabelecimentos e
empregados. Destaca-se, que estes quadros serão utilizados em mais de um setor, foram inseridos antes
para evitar replicação deles por setor de atividade econômica.
Quadro 5.15
Mercado de trabalho e estabelecimentos formais por Atividades Econômicas, ordenada pelo
estoque de empregos para o município de Jaíba.
Divisão de Atividade Econômica segundo a Participação Participação
Estabelecimentos Empregos
classificação CNAE/95 (59 categorias) (%) (%)
Agricultura, pecuária e serviços relacionados 144 43,1% 1.249 32,3%
Administração publica, defesa e seguridade social 3 0,9% 890 23,0%
Serviços prestados principalmente as empresas 12 3,6% 345 8,9%
Fabricação de produtos alimentícios e bebidas 8 2,4% 322 8,3%
Silvicultura, exploração florestal e serviços
11 3,3% 297 7,7%
relacionados
Comércio varejista e reparação de objetos pessoais
89 26,6% 297 7,7%
e domésticos
Fabricação de coque, refino de petróleo, elaboração
1 0,3% 148 3,8%
de combustíveis nucleares e produção de álcool
Atividades associativas 5 1,5% 117 3,0%
Comércio e reparação de veículos automotores e
14 4,2% 76 2,0%
motocicletas, comércio a varejo de combustível
Construção civil 5 1,5% 44 1,1%
Comércio por atacado e representantes comerciais
11 3,3% 16 0,4%
e agentes do comercio
Intermediação financeira 3 0,9% 15 0,4%
Educação 5 1,5% 12 0,3%
Alojamento e alimentação 4 1,2% 10 0,3%
Saúde e serviços sociais 6 1,8% 9 0,2%
Transporte terrestre 1 0,3% 5 0,1%
Quadro 5.16
Mercado de trabalho e estabelecimentos formais por Atividades Econômicas, ordenada pelo
estoque de empregos para o município de Itacarambi.
Divisão de Atividade Econômica segundo a Participação Participação
Estabelecimentos Empregos
classificação CNAE/95 (59 categorias) (%) (%)
Administração publica, defesa e seguridade social 2 1,6% 863 46,8%
Agricultura, pecuária e serviços relacionados 24 18,6% 534 29,0%
Comércio varejista e reparação de objetos pessoais
68 52,7% 154 8,4%
e domésticos
Fabricação de produtos alimentícios e bebidas 3 2,3% 143 7,8%
Construção civil 6 4,7% 45 2,4%
Fabricação de produtos de minerais não metálicos 1 0,8% 23 1,2%
Transporte terrestre 3 2,3% 22 1,2%
Comércio e reparação de veículos automotores e
4 3,1% 13 0,7%
motocicletas, comércio a varejo de combustível
Atividades associativas 4 3,1% 13 0,7%
Intermediação financeira 1 0,8% 11 0,6%
Alojamento e alimentação 6 4,7% 8 0,4%
Serviços prestados principalmente as empresas 4 3,1% 6 0,3%
Correio e telecomunicações 1 0,8% 5 0,3%
Saúde e serviços sociais 2 1,6% 3 0,2%
Total 129 100,0% 1.843 100,0%
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS/2008.
Quadro 5.17
Mercado de trabalho e estabelecimentos formais por Atividades Econômicas, ordenada pelo
estoque de empregos para o município de Manga.
Divisão de Atividade Econômica segundo a Participação Participação
Estabelecimentos Empregos
classificação CNAE/95 (59 categorias) (%) (%)
Administração publica, defesa e seguridade social 2 1,6% 713 53,3%
Comércio varejista e reparação de objetos
46 35,7% 200 15,0%
pessoais e domésticos
Agricultura, pecuária e serviços relacionados 22 17,1% 143 10,7%
Saúde e serviços sociais 7 5,4% 75 5,6%
Fabricação de produtos de minerais não metálicos 2 1,6% 33 2,5%
Educação 1 0,8% 32 2,4%
Comércio e reparação de veículos automotores e
6 4,7% 23 1,7%
motocicletas, comércio a varejo de combustível
Transporte aquaviário 3 2,3% 17 1,3%
Intermediação financeira 2 1,6% 15 1,1%
Fabricação de produtos alimentícios e bebidas 4 3,1% 13 1,0%
Construção civil 10 7,8% 13 1,0%
Quadro 5.18
Mercado de trabalho e estabelecimentos formais por Atividades Econômicas, ordenada pelo
estoque de empregos para o município de Matias Cardoso.
Divisão de Atividade Econômica segundo a Participação Participação
Estabelecimentos Empregos
classificação CNAE/95 (59 categorias) (%) (%)
Agricultura, pecuária e serviços relacionados 60 84,51% 512 71%
Administração publica, defesa e seguridade social 2 2,82% 172 24%
Fabricação de produtos alimentícios e bebidas 2 2,82% 26 4%
Comércio varejista e reparação de objetos pessoais
3 4,23% 5 1%
e domésticos
Comércio e reparação de veículos automotores e
1 1,41% 4 1%
motocicletas, comércio a varejo de combustível
Comércio por atacado e representantes comerciais
1 1,41% 2 0%
e agentes do comercio
Correio e telecomunicações 1 1,41% 1 0%
Construção 1 1,41% 0 0%
Total 71 100,00% 722 100%
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS/2008.
Quadro 5.19
Mercado de trabalho e estabelecimentos formais por Atividades Econômicas, ordenada pelo
estoque de empregos para o município de São João das Missões.
Divisão de Atividade Econômica segundo a Participação Participação
Estabelecimentos Empregos
classificação CNAE/95 (59 categorias) (%) (%)
Comércio e reparação de veículos automotores e
1 10,0% 3 0,9%
motocicletas, comércio a varejo de combustível
Comércio varejista e reparação de objetos pessoais
1 10,0% 2 0,6%
e domésticos
Transporte terrestre 2 20,0% 4 1,1%
Correio e telecomunicações 1 10,0% 1 0,3%
Serviços prestados principalmente as empresas 2 20,0% 2 0,6%
Administração publica, defesa e seguridade social 3 30,0% 336 96,6%
Total 10 100,0% 348 100,0%
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS/2008.
Como se pode observar no quadro 5.20, a distribuição espacial desse setor de atividade econômica
concentra 55%, dos estabelecimentos industriais no município de Jaíba, juntamente com 67% da mão-de-
obra. Sendo a atividade que mais gera empregos é fabricação de produtos alimentícios, com 322 vagas,
seguida pela fabricação de coque e refino, ver quadro 5.21. Manga, por sua vez, concentra 24% das
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 68
indústrias e 7% do estoque de postos de trabalho, com destaque para a fabricação de produtos não
metálicos gerando 33 empregos. O município de Itacarambi concentra 14% das indústrias e 23% da mão-
de-obra, com destaque para a fabricação de produtos alimentícios gerando 143 empregos.
Quadro 5.20
Distribuição espacial dos estoques de estabelecimentos e emprego da Indústria de Transformação
Municípios Estabelecimentos Participação (%) Empregos Participação (%)
Itacarambi 4 14% 166 23%
Jaíba 16 55% 482 67%
Manga 7 24% 48 7%
Matias Cardoso 2 7% 26 4%
São João das Missões 0 0% 0 0%
Total 29 100% 722 100%
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS/2008.
No que tange a ocupação e o nível de renda dos trabalhadores desse setor observou-se que a maior
ocupação é para trabalhadores agrícolas, absorvendo 185 vagas, com remuneração média de 1,2 salários
mínimos ou o equivalente a R$ 651. Seguida pelos trabalhadores de manutenção com 100 postos e
remuneração média de R$ 717. A terceira ocupação industrial que mais emprega é a de embaladores de
alimentos de produção, com 83 empregos e média salarial de R$ 1.023.
Quadro 5.21
Empregos e remuneração média das ocupações mais demandadas na Indústria de Transformação
Participação Salário
Subgrupo Ocupacional Empregos R$
acumulada (%) Médio
SB GRUP 622 Trabalhadores agrícolas 185 25,6% 1,28 651
SB GRUP 992 Trabalhadores elementares da manutenção 100 39,5% 1,41 717
SB GRUP 784 Embaladores e alimentadores de produção 83 51,0% 2,01 1.023
Operadores de equipamentos na preparação de
SB GRUP 841 30 55,1% 1,42 723
alimentos e bebidas
SB GRUP 519 Outros trabalhadores de serviços diversos 24 58,4% 1,33 680
Trabalhadores artesanais da siderurgia e de
SB GRUP 828 18 60,9% 1,00 510
materiais de construção
Operadores de instalações em indústrias químicas,
SB GRUP 811 17 63,3% 2,94 1.500
petroquímicas e afins
SB GRUP 141 Gerentes de produção e operações 15 65,4% 6,05 3.086
Trabalhadores dos serviços de hotelaria e
SB GRUP 513 15 67,5% 1,25 638
alimentação
Trabalhadores nos serviços de administração,
SB GRUP 514 15 69,5% 1,12 570
conservação e manutenção de edificações
Indústria de Transformação 722 1,89 966
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS/2008.
A grande maioria dos empregados na indústria de transformação são do sexo masculino somando 576,
com destaque para as empresas de médio porte onde trabalham 431, ou 59% desse total.
Como pode ser observado no quadro 5.22, a idade média do trabalhador nesta indústria é de 30,6 anos,
sendo que na microempresa esta média é de 28,9 anos, a mais baixa do setor. Em contraponto nas de
pequeno porte encontra-se a média mais alta, com 31,6 anos de idade. Em relação à média de anos de
estudo esse setor possui, cerca de 29,2% do total dos empregados com a nona séria completa e 30%
incompleta. Com o ensino médio completo estão 26% dos trabalhadores e incompleto outros 9%. Apenas
4% do total de trabalhadores nesta indústria possuem o curso superior, o que corresponde a 29 pessoas,
sendo que 1,2% possuem o superior incompleto.
Quanto ao tempo de permanência no emprego as microempresas têm rotação mais rápida em média de 16
meses, seguida pelas pequenas com média de 19 e pelas médias empresas com 20 meses. A
remuneração média na microempresa é de 1,5 salários, sendo na pequena empresa de 2,1 salários e na
média empresa de 1,9, com a média do setor de atividade indústria de transformação de 1,9.
Como se pode observar nos dados do quadro 5.23, a distribuição espacial desse setor de atividade
econômica concentra 34%, dos estabelecimentos industriais no município de Manga, juntamente com 13%
da mão-de-obra. Itacarambi, por sua vez, concentra 21% dos estabelecimentos da construção e 44% do
estoque de trabalhadores. O município de Jaíba concentra 17% das empresas e 43% da mão-de-obra. Os
demais municípios não possuem empresas desse setor de atividade econômica.
Quadro 5.23
Distribuição espacial dos estoques de estabelecimentos e emprego da Construção Civil
Municípios Estabelecimentos Participação (%) Empregos Participação (%)
Itacarambi 6 21% 45 44%
Jaíba 5 17% 44 43%
Manga 10 34% 13 13%
Matias Cardoso 1 3% 0 0%
São João das Missões 0 0% 0 0%
Total 22 76% 102 100%
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS/2008.
Em relação à ocupação e nível de renda dos trabalhadores desse setor, observou-se que a maior
ocupação é para ajudantes de obra, absorvendo 38 postos, com remuneração média de 1,1 salários
mínimos ou o equivalente a R$ 564. Seguida pelos trabalhadores de obras publicas em construção civil
com 27 postos e remuneração média de R$ 770. A terceira ocupação da construção civil, que mais
emprega é a dos condutores de veículos de elevação, num total de 6 empregos, com média salarial de R$
1.020. As demais ocupações podem ser observadas no quadro 5.24.
Quadro 5.24
Empregos e remuneração média das ocupações mais demandadas na Construção Civil
Participação Salário
Subgrupo Ocupacional Empregos R$
acumulada (%) Médio
SB GRUP 717 Ajudantes de obras 38 37,3% 1,11 564
SB GRUP 715 Trabalhadores da construção civil e obras públicas 27 63,7% 1,51 770
Condutores de veículos e operadores de
SB GRUP 782 equipamentos de elevação e de movimentação de 6 69,6% 2,00 1.020
cargas
SB GRUP 142 Gerentes de áreas de apoio 4 73,5% 2,13 1.084
Escriturários em geral, agentes, assistentes e
SB GRUP 411 4 77,5% 3,56 1.817
auxiliares administrativos
SB GRUP 141 Gerentes de produção e operações 3 80,4% 2,25 1.148
SB GRUP 214 Engenheiros, arquitetos e afins 3 83,3% 2,33 1.190
Trabalhadores nos serviços de proteção e
SB GRUP 517 3 86,3% 1,25 638
segurança
SB GRUP 992 Trabalhadores elementares da manutenção 3 89,2% 2,50 1.275
Escriturários de controle de materiais e de apoio à
SB GRUP 414 2 91,2% 1,88 956
produção
Construção Civil 102 1,59 813
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS/2008.
5.3.8.5 Comércio
A distribuição espacial dos estabelecimentos e mão-de-obra formal desse setor está distribuída com 46% e
48% no município de Jaíba. Itacarambi, por sua vez, concentra 29% dos estabelecimentos comerciais e
21% do estoque de trabalhadores do comércio. O município de Manga concentra 22% das empresas e
29% da mão-de-obra. Os demais municípios analisados possuem empresas desse setor de atividade
econômica, mas em grande parte são informais e geralmente representados por empreendimentos
familiares, com pouca expressividade econômica (quadro 5.26).
Quadro 5.26
Distribuição espacial dos estoques de estabelecimentos e emprego do Comércio
Municípios Estabelecimentos Participação (%) Empregos Participação (%)
Itacarambi 72 29% 167 21%
Jaíba 114 46% 389 48%
Manga 54 22% 235 29%
Matias Cardoso 5 2% 11 1%
São João das Missões 2 1% 5 1%
Total 247 100% 807 100%
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS/2008.
No tocante, a ocupação e nível de renda dos trabalhadores do comercio, observou-se que a maior
ocupação é para vendedores e demonstradores, absorvendo 394 postos, com remuneração média de 1,1
salários mínimos ou o equivalente a R$ 569. Seguidos pelos escriturários e auxiliares administrativos com
59 postos e remuneração média de R$ 622. Os condutores de veículos de elevação, num total de 37
empregos e média salarial de R$ 782 são a terceira ocupação com maior número de empregados. As
demais ocupações podem ser apreciadas no quadro 5.27.
Boa parcela dos empregados no setor do comercio são do sexo masculino totalizando 488, com destaque
para as microempresas onde trabalham 307, ou 62,9% desse total. As mulheres ocupam 319 postos, o que
é equivalente a população masculina, emprega nas microempresas comerciais.
A idade média do trabalhador no comercio é de 29,6 anos, sendo que na microempresa esta média é de
30,4 anos, a mais alta. Em contraponto nas de pequeno porte encontra-se a média mais baixa, com 28,6
anos de idade.
Em relação à média de anos de estudo esse setor possui, cerca de 12,9% do total dos empregados com a
nona séria completa e 17% incompleta. Com o ensino médio completo estão 53,7% dos trabalhadores e
incompleto outros 10,4%. Apenas 3,2% do total de trabalhadores nesta indústria possuem o curso superior,
o que corresponde a 26 pessoas, sendo que 2,9% possuem o superior incompleto.
Quanto ao tempo de permanência no emprego as microempresas têm maior duração 22 meses, seguida
pelas pequenas com média de 21. A média do setor foi de 22 meses.
A remuneração média na microempresa é de 1,2 salários, sendo na pequena empresa de 1,4 salários. A
remuneração média para o setor comercial foi de 1,3 salários mínimos, conforme observado no quadro 5.28.
Quadro 5.28
Características do mercado de trabalho do Setor do Comércio
Comercio Micro Pequena Total
Homem 307 181 488
Mulher 201 118 319
Idade Média 30,4 28,3 29,6
Anos de Estudo 10,7 10,7 10,7
Tempo no Emprego (em meses) 22 21 22
Média Salarial 1,2 1,4 1,3
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS/2008.
5.3.8.6 Serviços
O município de Jaíba concentra 41%, dos estabelecimentos de serviços, juntamente com 67% da mão-de-
obra. Manga, por sua vez, concentra 33% dos das indústrias e 24% do estoque de postos de trabalho. O
município de Itacarambi concentra 21% dos estabelecimentos e 9% do pessoal ocupado deste setor de
atividade econômica. O quadro 5.29 apresenta a distribuição espacial por municípios.
A ocupação e nível de renda dos trabalhadores do setor serviços revelaram que a maior ocupação dá-se
na atividade de trabalhadores agrícolas totalizando 231 postos, com remuneração média de 0,85 salários
mínimos ou o equivalente a R$ 434. Seguidos pelos condutores de veículos, com 49 postos e remuneração
média de R$ 835. Os trabalhadores na exploração agropecuária, num total de 39 empregos e média
salarial de R$ 468 são a terceira ocupação com maior número de empregados. As demais ocupações
podem ser observadas no quadro 5.30.
Quadro 5.30
Empregos e remuneração média das ocupações mais demandadas em Serviços
Participação
Salário
Subgrupo Ocupacional Empregos acumulada R$
Médio
(%)
SB GRUP 622 Trabalhadores agrícolas 231 29,6% 0,85 434
Condutores de veículos e operadores de equipamentos
SB GRUP 782 49 35,9% 1,64 835
de elevação e de movimentação de cargas
SB GRUP 621 Trabalhadores na exploração agropecuária em geral 39 40,8% 0,92 468
SB GRUP 322 Técnicos da ciência da saúde humana 38 45,7% 1,93 983
Escriturários em geral, agentes, assistentes e auxiliares
SB GRUP 411 34 50,1% 1,51 773
administrativos
SB GRUP 413 Escriturários contábeis e de finanças 33 54,3% 7,36 3.752
Trabalhadores nos serviços de administração,
SB GRUP 514 22 57,1% 1,45 742
conservação e manutenção de edificações
SB GRUP 784 Embaladores e alimentadores de produção 21 59,8% 1,15 589
SB GRUP 421 Caixas, bilheteiros e afins 21 62,5% 2,38 1.214
SB GRUP 513 Trabalhadores dos serviços de hotelaria e alimentação 18 64,8% 1,29 659
Serviço AID 781 1,90 970
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS/2008.
Parcela significativa dos empregados no setor de serviços é do sexo masculino somando 467, com
destaque para as microempresas onde trabalham 152, ou 32,5% desse total. As mulheres ocupam 314
postos.
A idade média do trabalhador no comercio é de 35,4 anos, sendo que na microempresa esta média é de
34,3 anos, na pequena empresa de 33,7, a mais baixa. Em contraponto nas de porte médio encontra-se a
média mais alta, com 38,6 anos de idade, seguida pela grande com 35,6 anos de idade média.
Em relação à média de anos de estudo esse setor possui, cerca de 6,7% do total dos empregados com a
nona séria completa e 48,4% incompleta. Com o ensino médio completo estão 25,2% dos trabalhadores e
incompleto outros 4,9%. Mais de 11% do total de trabalhadores nesta indústria possui o curso superior, o
que corresponde a 86 pessoas, sendo que outros 3,8% estão pro completar o ensino superior.
O tempo de permanência no emprego nas empresas de porte médio tem maior duração 70 meses, seguida
pelas pequenas com média de 27 meses, pelas microempresas com 26 meses e pelas grandes com 9
meses. A remuneração média na microempresa é de 2 salários, sendo na pequena empresa de 2,9
salários, na média 2,2 salários e na grande 0,9 salários. A remuneração média para o setor de serviços foi
de 1,9 salários mínimos, conforme apresentado no quadro 5.31.
5.3.8.7 Agropecuária
O município de Jaíba concentra 59%, dos estabelecimentos de atividade agropecuária, juntamente com
57% da mão-de-obra. Matias Cardoso, por sua vez, concentra 23% dos das indústrias e 19% do estoque
de postos de trabalho. O município de Itacarambi concentra 9% dos estabelecimentos e 20% do pessoal
ocupado deste setor de atividade econômica, seguido pro Manga, com 8% e 9%, dos estabelecimentos e
dos postos de trabalho. Vale destacar que esse setor é uma das principais atividades econômicas dos
municípios pertencentes a AII. O quadro 5.32 apresenta a distribuição espacial por municípios.
Quadro 5.32
Distribuição espacial dos estoques de estabelecimentos e emprego da Agropecuária
Municípios Estabelecimentos Participação (%) Empregos Participação (%)
Itacarambi 24 9% 534 20%
Jaíba 154 59% 1545 57%
Manga 22 8% 143 5%
Matias Cardoso 60 23% 512 19%
São João das Missões 0 0% 0 0%
Total 260 100% 2734 100%
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS/2008.
A ocupação e nível de renda dos trabalhadores do setor agropecuário revelou que a maior ocupação dá-se
na atividade de trabalhadores agrícolas totalizando 1.123 postos, com remuneração média de 1,2 salários
mínimos ou o equivalente a R$ 614. Seguidos pelos trabalhadores na exploração agropecuária, num total
de 551 empregos e média salarial de R$ 644 e condutores de veículos, com 159 postos e remuneração
média de R$ 634 na terceira ocupação com maior número de empregados. As demais ocupações podem
ser observadas no quadro 5.33.
Quadro 5.33
Empregos e remuneração média das ocupações mais demandadas na Agropecuária
Participação Salário
Subgrupo Ocupacional Empregos R$
acumulada (%) Médio
SB GRUP 622 Trabalhadores agrícolas 1.123 41,1% 1,20 614
SB GRUP 621 Trabalhadores na exploração agropecuária em geral 551 61,2% 1,26 644
SB GRUP 623 Trabalhadores na pecuária 159 67,0% 1,24 634
SB GRUP 715 Trabalhadores da construção civil e obras públicas 106 70,9% 2,31 1.178
SB GRUP 612 Produtores agrícolas 105 74,8% 1,11 566
SB GRUP 992 Trabalhadores elementares da manutenção 101 78,5% 1,66 847
Condutores de veículos e operadores de
SB GRUP 782 equipamentos de elevação e de movimentação de 85 81,6% 3,04 1.548
cargas
SB GRUP 641 Trabalhadores da mecanização agropecuária 85 84,7% 1,56 795
Escriturários em geral, agentes, assistentes e
SB GRUP 411 45 86,3% 1,94 989
auxiliares administrativos
Trabalhadores dos serviços de hotelaria e
SB GRUP 513 41 87,8% 1,06 541
alimentação
Agropecuária AID 2.734 1,52 777
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS/2008.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 74
Na analise das características do mercado de trabalho da agropecuária verificou-se que grande parte dos
empregados são do sexo masculino, totalizando 2.420, ou 88,5% desse total. As mulheres ocupam 314
postos (11,5% restantes).
A média de anos de estudo esse setor possui, cerca de 16,4% do total dos empregados com a nona séria
completa e 67,7% incompleta. Com o ensino médio completo estão 9,3% dos trabalhadores e incompleto
outros 5%. Apenas 1,1% do total de trabalhadores nesta indústria possuem o curso superior, o que
corresponde a 26 pessoas, sendo que 0,4% possuem o superior incompleto.
A idade média do trabalhador no comercio é de 33,3 anos, o tempo médio de permanência no emprego
tem maior duração 27 meses e a remuneração média do trabalhador é de 1,5 salários mínimos (quadro
5.34).
Quadro 5.34
Características do mercado de trabalho na Agropecuária
Agropecuária Total
Homem 2.420
Mulher 314
Idade Média 33,3
Anos de Estudo 6,6
Tempo no Emprego (em meses) 27
Média Salarial 1,5
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS/2008.
Com relação ao patrimônio arqueológico, salienta-se que qualquer empreendimento, que durante seu
processo construtivo ou de operação, interfira fisicamente com as camadas de solo existente (obras de
terraplanagem, áreas de empréstimo, bota-fora, etc.), poderá danificar ou destruir os sítios arqueológicos
existentes.
Neste sentido, para impedir que esse fato ocorra, há uma legislação específica que regula e exige que
sejam identificados e localizados os sítios arqueológicos ameaçados de destruição, através de um
levantamento arqueológico, e que seja realizado projeto (ou programa) de salvamento arqueológico, para o
resgate (preservação, proteção e salvaguarda) das evidências arqueológicas encontradas.
No município de São João das Missões foi identificado um sítio arqueológico a céu aberto, já parcialmente
destruído, denominado Missões, situado na área urbana da sede do município, e que merecerá ser objeto
de um Programa de Prospecção e Resgate Arqueológico, que deverá ser desenvolvido na próxima fase de
licenciamento ambiental.
Na faixa de 500 m. do eixo da estrada, foram também identificados sítios arqueológicos em abrigos sob
rocha, sendo que boa parte deles se encontram no interior do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, mais
precisamente, na localidade denominada Volta da Serra. Os demais sítios arqueológicos situam-se no
Território Indígena Xakriabá, na aldeia Rancharia, bem como em um afloramento conhecido como Morro
dos Nogueira, situado na margem oposta da estrada, defronte a já citada, Volta da Serra.
Na AII, há registros de inúmeros sítios arqueológicos pré-coloniais e de interesse histórico-arqueológico,
sobretudo, no município de Itacarambi, onde as pesquisas arqueológicas foram mais sistemáticas, em
função dos estudos ambientais visando o plano de manejo e zoneamento do Parque Nacional Cavernas do
Peruaçu. Antes mesmo destes estudos, os municípios de Januária e Itacarambi, em especial no médio e
baixo curso do rio Peruaçu, foram foco de várias pesquisas de cunho acadêmico pela equipe do Setor de
Arqueologia do Museu de História Natural da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
especificamente em sítios pré-coloniais em abrigos sob rocha e a céu aberto, a partir dos anos oitenta do
século XX.
Em São João das Missões, foi realizado também por intermediação da Faculdade de Educação
(FAE/UFMG), um inventário do patrimônio cultural do território Xakriabá, incluindo várias aldeias, inclusive
a de Rancharia, que é permeada pela BR-135. Todo o material produzido por meio destes estudos foi
levantado e consultado.
Figura 5.54 e Figura 5.55: Entrevista com moradores dos arredores da BR-135
(Manga e São João das Missões)
A área diretamente afetada foi objeto de levantamentos sistemáticos, que consistiram na realização de
furos teste, próximo às margens da rodovia, além de observações durante o caminhamento de cortes,
taludes, focos de erosão e áreas de plantio. Em localidades da ADA onde havia terraplenagens ou
edificações os furos foram realizados em locais mais recuados da estrada, em compartimentos topográficos
que apresentavam possibilidade de possuir algum tipo de indício de interesse arqueológico, conforme
observado a seguir.
Figura 5.59 e Figura 5.60: Áreas com terraplenagem e focos de erosão na ADA,
(São João das Missões e Manga)
As ocupações pré-coloniais
O patrimônio arqueológico mais conhecido da AII concentra-se, sobretudo, no vale do rio Peruaçu, que
corre num profundo cânion calcário que apresenta inúmeros abrigos e cavernas; sobretudo em seu médio
curso. Ali se concentra a maior parte dos sítios arqueológicos pré-coloniais pesquisados neste estudo.
Destaca-se que foi dado um enfoque ao conjunto dos vários grupos estilísticos de figurações rupestres e
aos sítios lito-cerâmicos no contexto arqueológico, tendo em vista que os sítios situados na AII apresentam
estes vestígios arqueológicos em especial, se tratando de testemunhos de fácil visibilidade e por isto,
vulneráveis à destruição de origem antrópica, como também às intempéries naturais. Assim sendo, foram
realizadas sondagens e escavações sistemáticas em alguns abrigos do Parque Nacional do Peruaçu,
dentre eles as lapas Boquete e Malhador.
No abrigo Boquete, onde as pesquisas foram mais prolongadas evidenciou-se uma ocupação intensa
durante os últimos 12.000 anos, apresentando riquíssimo material preservado, inclusive reservas
alimentares pré-históricas de populações horticultoras, os silos, sepultamentos humanos, grande variedade
de cordões e fibras, cabo de machado, uma possível lapiseira de madeira, além de um provável pincel
(caule com as fibras separadas na extremidade), dentre outros vestígios. Pigmentos brutos e preparados,
além de estruturas de combustão, foram encontrados em várias camadas arqueológicas.
Baseando-se, sobretudo, na convergência das superposições dos conjuntos de grafismos em vários sítios,
nos graus de pátina dos suportes rochosos e de algumas raras datações, faz-se possível apresentar um
quadro crono-estilítico geral da arte rupestre da Área de Influência do empreendimento, incluindo os
municípios de São João das Missões e Manga.
Desta maneira, apresentam-se quatro importantes conjuntos gráficos já identificados e caracterizados em
outras publicações, que foram denominados pelos arqueólogos de: São Francisco, Piolho de Urubu,
Desenhos e Nordeste. Há também inúmeros conjuntos e grupos de figurações que não foram associados
diretamente a nenhuma das Tradições e Unidades Estilísticas citadas acima, decorrente dos mesmos
apresentarem variáveis seja no plano técnico e ou temático que destoam ou se diferenciam do repertório
gráfico característico das mesmas.
A Tradição Estilística São Francisco é a mais representada na maioria dos sítios, geralmente com o maior
número de figuras. Ocupam grandes paredes de rocha, preferencialmente lisas, sendo pintadas desde o
chão atual, por vezes, desde um nível enterrado até alturas que atingem até 18 m., inclusive em tetos
acima de colunas estalagmíticas, como na Lapa dos Bichos no município de Itacarambi.
As figuras são quase que exclusivamente "geométricas", mas incluem algumas representações de armas
(entre as quais, propulsores) e outros instrumentos. No Peruaçu, são geralmente bicrômicas. Podem ser
observadas uma subunidade ou estilo (Januária) freqüentemente monocrômicas, e outra (Caboclo)
caracterizada por superfícies chapadas decoradas por elementos simétricos, sempre bicrômicos ou
tricrômicos.
A Unidade Estilística Peruaçu Urubu, corresponde a representações biomorfas monocrômicas, geralmente
animais (dominam os quadrúpedes e aves), raramente humanas ou vegetais, com dimensões mais
variadas, normalmente medianas e em alguns casos, de grandes proporções se comparada com os
tamanhos das figuras das outras unidades estilísticas.
Parece haver certa especialização dos temas e das cores escolhidas em cada sítio ou painel: aranhas
pretas no Boquete; pernaltas pretos, além de peixes na Lapa dos Desenhos, tamanduás e veados ocre na
Lapa do Índio, tucanos e onça no Janelão (Abrigo Norte), cobra amarela na lapa da Onça, quadrúpedes
diversos alaranjados e vermelhos (abrigo Piolho de Urubu e Clarabóia dos Macacos-Complexo Janelão).
O conjunto mais espetacular talvez seja a roça de milho e os coqueiros buriti na Lapa dos Desenhos,
município de Itacarambi. Nota-se a freqüência de tintas pretas pastosas, raramente utilizadas em outras
unidades. As pinturas desta tradição ocupam suportes com superfície lisa, em regiões centrais e bem
destacadas dos sítios, não havendo mais de uma ou poucas dezenas de figuras em cada abrigo.
O atual território indígena Xakriabá, antigos habitantes do Vale do rio São Francisco, situa-se no município
São João das Missões, em dois territórios contíguos, um de 46.414,92 ha e o outro, de 6.600 ha, possuindo
aproximadamente 6.800 indivíduos.
O ato de doação de um território para os indígenas no início do século XVIII deve ser compreendido como
uma forma de reafirmação do poder dos potentados do norte e suas alianças com o poder eclesiástico,
além de uma estratégia de fixar a mão-de-obra indígena na região de Morrinhos, tendo em vista a
necessidade de abertura de grandes fazendas destinadas a atividades de plantio e criação de gado. Por
sua vez, os serviços prestados pelos indígenas considerados "mansos" (mansuetos) devem ser
compreendidos na perspectiva de estratégia de resistência e sobrevivência dos mesmos, face à dominação
bélica avassaladora da colonização.
“Através da doação o Mestre de Campo almeja disciplinar os índios, definindo-lhes o território e
estabelecendo regras de comportamento e conduta, assim como punições para suas
transgressões. O documento soa como uma constituição para os Xacriabá e denota a presença
de uma missão com um aldeamento no Riacho do Itacarambi, a Missão do Senhor São João.
Local onde deveriam lhe ensinar a doutrina, em especial aos rebeldes, tirando-lhes o abuso de
serem bravios." (FUNAI, 1999, p. 26)
23
A doação oficial de uma terra para confinamento dos indígenas foi o primeiro documento escrito a
respeito de sua presença na região (ibidem, p. 23).
A área doada aos índios seria a seguinte:
"dei terra com sobre para não andarem para as fasenda alheia do Riaxo do Itacarambi acima até
a cabiceiras e vertentes e descanso extremado na Cerra Geral para a parte do peruaçu
extremado na Boa Vista onde deságua para lá e para cá e por isso deilhe Terra com Ordi da
nossa Magestade. (...) já assim não podem andarem pelas fazendas alheias incomodando os
fazendeiros- missões para a morada e brejo para trabalharem fora os gerais para as suas
cassadas e meladas. Arraial de Morrinhos 10 de fevereiro de 1728. Administrador Januário
Cardoso de Almeida Brandão." (Proc. FUNAI/BSB795/70:70 apud FUNAI, 1999, p. 27)
Na década de 20 do séc. XIX foi constatado pelo Monsenhor Pizarro a desativação da Missão de São João
dos Índios, afirmando que naquela aldeia não havia mais missionários nem diretor (apud Santos, 1997,p.
28).
No entanto, as terras de Missões eram ambicionadas por proprietários rurais vizinhos e forasteiros que por
ali se instalavam sendo que a maior ameaça ocorreu em 1850, com a criação da Lei de Terras. Esta lei
caracterizou-se como um reordenamento fundiário baseado na consolidação da propriedade rural. O
mecanismo promotor desta nova ordem fundiária e patrimonial foi a regulamentação das terras via
procedimentos cartoriais. Aqueles que não se apresentassem dentro dos prazos estipulados perdiam os
direitos sobre a terra. Nesta ocasião, as elites agrárias expandiram suas propriedades sobre o que foram
consideradas terras devolutas (FUNAI, 1999, p. 32).
Ameaçados em sua posse territorial, os Xakriabá, em 1856 buscam formalizar a posse da terra registrando
a doação de Januário Cardoso nos cartórios de Januária, sede da Comarca e Ouro Preto, capital da
24
Província (ibidem).
Com a decadência da exploração aurífera nas minas gerais, as fazendas existentes continuam, conforme já
mencionado, a praticar atividades de subsistência, com pequenas lavouras e produção de aguardentes. A
mão-de-obra indígena de Missões também foi utilizada em novas empreitadas, principalmente na região de
Brejo do Amparo e Itacarambi, já no fim dos oitocentos na abertura de plantação de algodão, incentivado
23 Segundo Burton, haviam pelo menos três etnias em São João das Missões: Xavante, Xakriabá (Xicriabás) e Botocudos. (ibidem, p.
210 apud Santos, 1997, p. 30)
24 O registro foi realizado por Eugênio Gomes de Oliveira
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 85
pela instalação de fábrica de tecidos em Paraopeba, como também na extração do látex da maniçoba e da
mangabeira.
Como já exposto anteriormente, apesar do território das Missões ter sido registrado em cartório, como uma
medida de garantir a posse territorial comunal dos indígenas da missão, as ameaças de intrusão eram
permanentes, arraigadas com a migração de novos moradores vindos do nordeste, sobretudo da Bahia
atraídos por novas possibilidades de frentes de trabalho.
Em um primeiro momento, havia uma convivência pacífica dos indígenas com aqueles que se estabeleciam
em suas terras, muitas vezes incorporados às mesmas por meio de laços de casamentos. No entanto, em
1927/28 a derrubada por parte dos Xakriabá, de um curral na aldeia de Rancharia construído por
fazendeiros, instaura um confronto entre indígenas e forasteiros. Segundo Santos (1977, p. 51) "A
destruição do curral, seguida da perseguição aos índios pela polícia mineira, é freqüentemente mencionada
como a primeira revolução a ter lugar nas terras.”
A promulgação da Lei Estadual n. 550 de 1949 que também dispõe sobre terras devolutas, consolida, mais
uma vez, os interesses dos latifundiários em detrimento das terras indígenas e pequenas posses. O
território Xakriabá, segundo os parâmetros desta lei, passa a ser novamente considerado terra devoluta,
tendo sido declarado seus ocupantes posseiros ilegítimos.
Os conflitos fundiários com os "não sucessores" ou herdeiros indígenas, se agravam ainda mais em fins
dos anos sessenta, quando a RURALMINAS intervêm na região atraindo os interesses dos fazendeiros,
aos quais se associam os pequenos produtores não indígenas, já fixados a terra (ibidem, p. 46).
"Muitas roças familiares são compradas e cercadas arbitrariamente, delimitando-se as áreas muito mais
extensas do que aquelas adquiridas, visando lucro imobiliário imediato, à medida da possibilidade de
regularizá-las junto à RURALMINAS" (ibidem).
Já na década de setenta, comitivas de lideranças Xakriabá, foram organizadas visando divulgar junto à
FUNAI, a insegurança de seu território, solicitando providências do governo federal. Nesta ocasião foi
orientado por um funcionário da FUNAI, que o território deveria sofrer o parcelamento individualizado,
contrariando o padrão tradicional de unidades indígenas calcadas na ocupação condominial. Abre-se assim
a perspectiva da fragmentação do território, não aceita pela comunidade Xakriabá. Neste sentido, o líder
Manoel Gomes de Oliveira, o "Rodrigão" teve um importante papel no sentido de pressionar a FUNAI na
regularização definitiva da terra (ibidem, p. 57 e 58).
Em 1978, desta forma, através da Portaria n. 424/E de agosto de 1978, a FUNAI constituiu Grupo Técnico-
GT para empreender os estudos de identificação e delimitação da Terra Indígena Xakriabá, de "Missões".
Surpreendentemente, a localidade de Rancharia, fica fora da área delimitada, tendo sido considerado no
relatório, que as famílias ali residentes deveriam ser classificadas como "grupos de vizinhança" dos
Xakriabá; apesar dos técnicos autores deste documento alegarem, que a área indígena deveria ser, pelo
menos, três vezes maior do que a indicada. (ibidem, p. 58, 62 e 65)
Até a homologação do território de Missões (46.415 ha), por meio do Decreto Presidencial n. 94.608 de
14/07/87, muito sangue ainda foi derramado. O massacre de três líderes Xakriabá, no dia 12 de fevereiro
deste ano, teve uma repercussão nacional por ter sido noticiado em jornal e televisão, tendo sido o episódio
final de pressão sobre o governo no sentido de homologar esta terra - foi a chacina na aldeia do Sapé, a
mando do fazendeiro Francisco Assis Amaro, dos líderes Rosalino Gomes de Oliveira, José Teixeira e
Manuel Fiuza da Silva. Rosalino Gomes de Oliveira se tornou um herói Xakriabá, sendo considerado um
forte símbolo de união e luta deste povo.
A área homologada de Missões comporta 24 aldeias principais, a dizer: Peruaçu, Riacho dos Buritis,
Pindaíbas, Forges, Itacarambizinho, Barreiro, Barra do Sumaré, Sapé, Sumaré I, Sumaré II, Sumaré III,
Vargens, Caatinguinha, Itapecuru, Morro Falhado, Terra Preta,Santa Cruz, São Domingos, Riacho do
Brejo, Riachão, Brejo Mata Fome, Imbaúba, Riachinho e Prata.
No entanto, segundo dados da FUNAI (Proc. FUNAI/BSB/2075/79:105),
"são três os locais que os indígenas reclamam constantemente por ter ficado na parte externa da
área em demarcação. São eles: a) uma lagoa, localizada na localidade denominada Traías, sendo
a mesma o único local piscoso da área, pois o rio São Francisco fica longe e fora dos seus
domínios; b) Localidade denominada Boqueirão, destinado ao cultivo agrícola e onde reside 6
(seis) grandes famílias indígenas c) Localidade denominada Rancharia, próxima da Vila de São
João das Missões, que é um pequeno povoado, constituído na sua maioria de indígenas
Xacriabá." (ibidem)
Somente em 1999, após a rearticulação das famílias Xakriabá que habitam Rancharia, e o reconhecimento
de que esta área faz parte, de fato, do território original Xakriabá doado em 1728, (com o apoio de algumas
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 86
lideranças indígenas moradores da área de Missões) é que a FUNAI designou uma equipe técnica para
realizar os estudos de identificação do território de Rancharia e Boqueirão. Esta área (6.600 ha) foi então
delimitada por meio da Portaria do Ministro da Justiça 291 de 13/04/2000.
O tumultuado processo de ocupação do território Xakriabá, exposto acima ocasionado, sobretudo, pelos
moradores não índios, causou a degradação de parte dos recursos ambientais deste, decorrente
sobretudo da extração de madeiras de lei, desmatamentos, exploração de pedreiras, esgotamento de
terrenos de plantio, assoreamento de lagoas e drenagens, comprometendo a coleta e a caça - atividade
econômica tradicional deste povo. Por isto, muitas localidades do entorno do seu território juridicamente
demarcado, na verdade, compõem antigos territórios históricos e sagrados - fonte alternativa de recursos
naturais, hoje abrangidos em parte pela APA Nacional Cavernas do Peruaçu. Por isto, qualquer ação
relativa à sua implantação zoneamento e gestão deverá prever a participação efetiva da comunidade
Xakriabá. Atualmente, duas localidades contíguas estão sendo indicadas para demarcação por famílias
Xakriabá: Dizimeiros e Licuri.
Os rituais religiosos são realizados em sítios apropriados para a prática religiosa, situados em locais
silvestres, próximos da natureza, afastados e escondidos, sem a presença de um não Xakriabá.
"Do pouco que nos informaram sobre o ritual, deram a entender que sua tônica gira em torno da
comunicação com os espíritos dos ancestrais. Possui também uma finalidade prática, influenciar
nas caçadas para que se tornem mais proveitosas, pois torna caçadores e cães de caça, mais
aptos ao ofício através dos encantos adquiridos no ritual. (...) Fazem uso de uma planta
considerada sagrada e encantada, que é preparada para o ritual pelos mais velhos. Há referência
sobre sua ocorrência até algum tempo passado, próximo à foz do rio Itacarambi, junto ao rio São
Francisco (...) Homens, mulheres e crianças podem participar do ritual, no qual participam
dançando, cantando, acompanhados por instrumentos que eles consideram sagrados (...). O
ritual, conhecido como Toré, é bastante conhecido pelos índios da caatinga baseados
historicamente na bacia do São Francisco e outras regiões do nordeste brasileiro." ( ibidem, p.
130)
Outro elemento cultural apontado pela equipe técnica coordenada pelo antropólogo Marco Paulo Schettino
no relatório da FUNAI (1999) que circunstanciou a identificação e delimitação da Terra Indígena Xacriabá
de Rancharia é a relação de encantamento estabelecida com entre os Xacriabá e as "Lapas Encantadas"
existentes nos afloramentos rochosos da região.
"Além dos pontos irradiantes encontrados nos sítios rituais e cemitérios, temos outros locais que
articulados a estes compõem o espaço sagrado dentro do território Xacriabá em Rancharia. São
as "lapas encantadas". São as grutas, entradas de cavernas e abrigos que, segundo informam,
são habitadas pelos espíritos dos antepassados.(...) em se tratando de sítios sagrados, os
caboclos lhe dispensam absoluto respeito, evitando tocar nos objetos encontrados em seu interior
e entorno." (ibidem, p.135)
Ainda outro aspecto que merece atenção no que se refere ao patrimônio intangível deste povo, é a
existência de uma entidade mítica: a onça cabocla ou Iaiá, considerada um espírito materializado de um
ancestral, que ainda percorre o território indígena assobiando e assustando os vivos. Quando enraivecida,
ataca o gado dos fazendeiros. É uma espécie de guardiã do território (ibidem, p. 137).
Desta maneira,
"(...) além das lapas sagradas, possuidoras de significação religiosa para o grupo indígena, e
também detentoras de rico e largo acervo arqueológico e espeleológico, esta área ainda abriga
significativos recursos medicinais utilizados pelos indígenas e espécies animais como mocó,
roedor que habita as escarpas, utilizada como complemento protéico na pauta alimentar
Xacriabá..." (ibidem, p. 141).
Atualmente, um novo elemento que deve ser mencionado a respeito da comunidade Xakriabá é a
existência de um programa de educação indígena específico para este povo, previsto na constituição
federal. Algumas escolas já foram construídas visando atender as demandas populacionais, por isto,
algumas dezenas de professores Xakriabá foram e estão sendo formados pela Secretaria Estadual de
Educação em parceria com outras instituições, dentre elas, a FUNAI, UFMG e MEC, no sentido de buscar a
valorização de seus saberes e história. Recentemente, em 2006, foi implantado o Ensino Superior Indígena
na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o curso de Formação Intercultural para
Educadores Indígenas (FIEI).
Um fato recente que merece ainda ser mencionado, foi a vitória nas eleições municipais de 2005 do jovem
José Nunes Xakriabá, filho do líder Rosalino, assassinado em 1997. Este foi o primeiro caso de um
indígena eleito prefeito na história do estado de Minas Gerais.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 87
No entanto, a luta pela sobrevivência ainda persiste no território Xakriabá, pois a grande dificuldade que
este povo ainda enfrenta é vencer as condições precárias agravadas pelos longos períodos de seca, que
vem causando vários danos à lavoura, a principal fonte de renda e subsistência. A dificuldade em sustentar
a família, ainda leva homens e mulheres a deixar as aldeias em busca de empregos nas fazendas, usinas,
canavieiras e casas de famílias em outras cidades e estados. No campo da saúde, a ausência de
saneamento básico e de água potável são fatores que têm ocasionado altos índices de mortalidade (ALMG,
2000).
Sítio arqueológico cerâmico a céu aberto situado na área urbana da sede de São João das Missões, sob as
coordenadas UTM: 23L 598864 mE /8353745 mN, no vale do rio Itacarambi, encontrando-se parcialmente
destruído, primeiramente em decorrência de atividades agrícolas e posteriormente, em decorrência da
expansão urbana, com a instalação da estrada BR-135, ruas e loteamentos.
Ele apresenta aproximadamente 600 m x 600 m, sendo que a área situada no alto de uma colina suave
parece ter sido menos revolvida em função da maior quantidade de fragmentos cerâmicos, apesar de todo
o terreno já ter sofrido revolvimento devido antigos plantios no local, inclusive de capim.
Por estar situado na ADA do empreendimento deverá ser objeto de Programa de Prospecção e Resgate
Arqueológico.
Abrigo calcário cujas coordenadas UTM são 23 L 0599300 mE/ 8345744 mN, município de São João das
Missões. Possui 34 m. de extensão e 5 m. de altura, situado no interior do território indígena, na aldeia
Rancharia, no vale do riacho seco.
Os vestígios de figurações rupestres, neste sítio, situam-se na parede oeste deste abrigo, a 1,30 m. de
altura. Trata-se de pinturas vermelhas, possivelmente, alinhamento de traços ou bastonetes. O estado de
conservação das pinturas é ruim sendo que o suporte rochoso sofreu desagregações, possivelmente
devido à exposição permanente ao sol.
No piso deste abrigo, defronte a estas pinturas podem ser observados alguns fragmentos de cerâmica lisa
com engobo branco. Em um dos blocos na parte central do mesmo há quebra-cocos. O piso é antrópico
com várias manchas de carvões indicando ter se tratado de uma local de habitação, pelo menos
temporário, no período pré-colonial.
A aproximadamente 150 m. deste abrigo há um foco de mineração artesanal, onde é aconselhada a
suspensão desta atividade pela comunidade indígena, em virtude de se encontrar nas proximidades deste
sítio.
De acordo com relatos da comunidade local, durante a obra da nova escola da aldeia Rancharia foi narrado
que ao furar o local para fazer a cisterna foram encontrados pedaços de fragmentos de pote cerâmico entre
as coordenadas UTM 23L 599989 mE/8347677 mN. Estes fragmentos foram guardados pelos professores
na escola. A Aldeia de Rancharia é um antigo local de moradia dos Xakriabá, e segundo os moradores
locais, era parte integrante da antiga Missão do Senhor São João do Riacho do Itacarambi, posteriormente,
conhecida como São João das Missões.
Este antigo engenho situa-se na aldeia Rancharia (Coord. UTM 23L 599858 mE / 8347065mN).
Figura 5.72: Engenho da Aldeia de Rancharia na Figura 5.73: Cocho de madeira encontrado no
TI Xakriabá Engenho
Olaria de Rancharia
A antiga olaria na aldeia Rancharia, foi objeto de inventário dos professores indígenas, conforme observado
na figura 5.74 a seguir.
Durante as vistorias de campo, foi identificada nas proximidades da BR-135, uma residência que, segundo
relatos de antigos moradores da região, teria sido de dois irmãos chamados apenas de “Zeca” e Eliazar. De
Segundo informações por meio de comunicação pessoal, esta residência provavelmente seria a mais
antiga da AID.
Cabe salientar que grande parte dos sítios arqueológicos identificados encontram-se no Parque Nacional
das Cavernas do Peruaçu. Ressalta-se ainda que o Patrimônio Arqueológico foi objeto de estudos
específicos e serão apresentados às Instituições devidas, neste caso o IPAHN.
Trata-se de um abrigo calcário sob as coordenadas UTM 23 L 0601476 mE/ 8340902 mN, no território do
município de Itacarambi. Possui aproximadamente 50 m. de extensão e 5 m. de altura, situado no Morro
Capim Pubo dentro da propriedade da Indústria e Comércio Itacarambi (ICIL), na fazenda do Sertão. Os
vestígios de figurações rupestres, neste sítio, situam-se nas paredes dos abrigos que compõem este
grande abrigo, bem como no teto mais alto deste. Trata-se de exemplares das Tradições São Francisco e
Nordeste, sendo que a última se encontra em camada pictural mais recente, sobretudo no abrigo sudeste.
Há ainda blocos no interior do abrigo com inúmeras incisões, cupules e marcas de polimento.
No piso deste abrigo, há vários tipos de artefatos líticos lascados de sílex e quartzo, além de pequenos
fragmentos de cerâmica lisa com engobo branco, indicando ter se tratado de uma local de habitação no
período pré-colonial. Seguindo este mesmo paredão, na direção oeste, há outro abrigo com figurações
rupestres, denominado Capim Pubo 2.
Figura 5.76: Sítio Arqueológico Capim Pubo 1 – Suporte rochoso com figurações rupestres
Figura 5.81: Sítio Arqueológico Capim Pubo 1 - Detalhe conjunto de incisões em bloco
situado no interior do abrigo
Sítio Arqueológico Capim Pubo 2
Abrigo calcário sob as coordenadas UTM 23 L 0601381 mE/ 8341062 mN, localizado no território do
município de Itacarambi. Possui 17 m. de extensão e 4 m. de altura, situado no Morro Capim Pubo, ao lado
do abrigo descrito anteriormente denominado Capim Pubo 1, dentro da propriedade da Indústria e
Comércio Itacarambi (ICIL), na fazenda do Sertão. Um conjunto de vestígios de figurações rupestres, neste
sítio, situa-se na parede lateral do grande abrigo, onde podem ser observados traços pretos.
Há ainda na parte alta na direção norte oeste um patamar com figurações rupestres, mas não foi possível
chegar a este local, de difícil acesso que exigira uso de técnica de escalada. Abaixo deste patamar, há
ainda uma parede com inúmeras figurações típicas da Tradição Nordeste com vários grafismos em crayon
preto com representações de biomorfos, zoomorfos e traços finos.
Figura 5.84 e Figura 5.85: Patamar Superior com figurações rupestres e detalhe de parede da parte
inferior com figurações típicas da Tradição Nordeste
Abrigo Lavagem (Morro Lavagem, Parque Estadual Mata Seca-PEMS)
Pequeno abrigo calcário situado no Morro Lavagem no interior do Parque Estadual da Mata Seca, território
municipal de Manga, no entorno de um sistema hídrico composto por lagoas também com o nome de
lavagem, sob a coord. UTM: 23 L 614265 mE e 8360602 MN, possuindo aproximadamente 16 m. de
largura, 5 m. de profundidade e 3 m. de altura. Possui poucos vestígios de figurações rupestres, em um
pequeno suporte, atribuídas às Tradições São Francisco e Nordeste, sobretudo, bem como vestígios
arqueológicos lito-cerâmicos no piso do abrigo. As pinturas se encontram esmaecidas por camadas de
fuligem e pichações recentes realizadas por visitantes. Há ainda um indicativo de sondagem no local, tendo
sido encontrado uma colher de pedreiro, além de negativos de pelo menos três sondagens. Não foi
possível precisar quem teria ali realizado algum tipo de pesquisa ou se trata de escavação amadora.
Foi identificada na fazenda Três Irmãos, uma oficina de farinha e uma prensa já desativadas. Estavam em
atividade até aproximadamente 20 anos atrás. Está bastante conservada, aparentemente com todas as
peças no lugar. Possui uma cobertura antiga com telhas decoradas em relevo. Está situada entre as
coordenadas UTM 23L 599926 mE / 8351570 mN.
Foi identificado um engenho de Farinha e um antigo cruzeiro com mais de 80 anos na propriedade do Sr.
Valdeci, entre as coordenadas UTM 23L 601251 mE / 8350232 mN, no território de São João das Missões.
Na casa de D. Marcelina Montalvão Lobo foi identificada uma oficina de farinha e um forno de tijolos já fora
de uso, entre as coordenadas UTM 23L 601707 mE / 8349545 mN. Salienta-se que a oficina se encontra
desmontada e o forno descaracterizado.
Nos quadros seguintes (5.38 e 5.39), constam os registros do patrimônio arqueológico e de interesse
histórico situados no interior do atual território indígena Xakriabá, no município de São João das Missões.
Quadro 5.38
25
Patrimônio Cultural/Arqueológico inventariado
Contextos de
Nome do sítio Município Categoria Deposição Exposição Arte Rupestre Vestígios
Aldeia
25 XAKRIABÁ- Professores Indígenas Xakriabá Valorizando o Patrimônio Cultural do Território Xakriabá- Conhecer para proteger (Org.) BAETA, A.; PILÓ, H.; MOURA, V.& RUBBIOLI, E.
MEC/SEE,/IEF,/FUNAI/UFMG, Belo Horizonte, 2005.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 98
CONSÓRCIO
Contextos de
Nome do sítio Município Categoria Deposição Exposição Arte Rupestre Vestígios
Aldeia
De acordo com as diretrizes recomendadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de
Minas Gerais (IEPHA/MG), para caracterização do patrimônio histórico de Itacarambi, foram classificadas
as seguintes categorias para os bens de interesse de preservação: Bens Imóveis, Estruturas Arquitetônicas
e Patrimônio Imaterial. As categorias e respectivos bens inventariados em Itacarambi se encontram listados
a seguir.
Com relação à arquitetura regional, cabe mencionar ainda que os municípios preservem em seu contexto
urbano e rural alguns traços das construções do século XVII, da época do avanço do bandeirantismo, com
a reclusão das comunidades indígenas até então situadas na região. Notam-se algumas igrejas e casas de
fazenda, bem como as vilas à beira do rio São Francisco, motivadas quando do impulso da pesca e da
navegação (meados do século XIX, enfatizadas em meados do século passado).
Antes da apresentação dos dados cabe comentar que as informações a respeito do Patrimônio Histórico
são diferenciadas, considerando a organização e característica administrativa de cada um dos três
municípios da AII. Assim sendo, o município de Itacarambi merece destaque pela organização e
disponibilização de material que permitiu uma caracterização diferenciada e, portanto, mais completa.
Itacarambi
A Igreja Nossa Senhora da Conceição foi a primeira a ser construída no município, estando fixada em uma
praça na Avenida São Francisco, próxima à praça Prefeito Arnaldo Corrêa, na região central da cidade às
margens do rio São Francisco. É uma construção de formas singelas, sem grande riqueza de adornos ou
detalhes expressivos e se impõe pela simplicidade e valor histórico.
A igreja, que tem a frente voltada para o Rio São Francisco foi construída no fim do século XVIII, segundo
informações no ano de 1794, e serve como uma mostra da passagem de missionários e jesuítas por aquela
região. A frente da igreja voltada para o rio estimula a crença das pessoas, que acreditam ser uma forma
de abençoar a navegação. No final do século XVIII e no século XIX a vista da pequena igreja branca pelos
navegantes servia como uma referência da aproximação do Porto do Jacaré.
A importância cultural e histórica da Igreja de Nossa Senhora da Conceição é legitimada pelo tombamento
a nível municipal do imóvel no dia 11 de setembro de 1998, pelo decreto 899/98 da Prefeitura Municipal de
Itacarambi, que estabeleceu que a partir da referida data a igreja passasse a integrar oficialmente o
Patrimônio Histórico e Cultural do Município.
Em 1999, a Igrejinha foi reformada com nova pintura e troca do telhado, em uma obra realizada pela
prefeitura da cidade, além disso, foi erguido um novo Cruzeiro na frente da igreja, com a construção de
uma pequena praça e calçamento das ruas do entorno. Desde a reforma de 1999 não foi necessária
nenhuma outra intervenção.
Quadro 5.40
Bens Imóveis Tombados em Itacarambi
Foto Designição Categoria
Documentação Inventariado
Tombamento Municipal Decreto 899/98. O
tombamento homologa nos termos da lei
municipal 1057/98 e do decreto 893/98, o
Sim
processo de tombamento 001/98 do Conselho
Municipal do Patrimônio Cultural de Itacarambi,
em 11 de setembro de 1998.
ESTADUAL Não possui bens tombados para o nível Estadual
FEDERAL Não possui bens tombados para o nível Federal
Fonte: Complementação de Plano de Inventário do Município de Itacarambi, 2008.
No município de Manga foram identificados dois Bens Imóveis Tombados, conforme informações do quadro
5.41, a seguir. Ainda no município de Manga foi possível obter imagens antigas do acervo municipal,
conforme observado em sequência.
Quadro 5.41
Bens Imóveis Tombados em Manga
Foto Designição Categoria
Atual Prédio da Escola Estadual Presidente
Olegário Maciel, situado na Praça Padre Bem imóvel (BI)
Ricardo, nº 1122
Documentação Inventariado
Tombamento Municipal Decreto 393/02. O
tombamento homologa nos termos da lei
municipal 1549/01 e do decreto 390/01, o
Sim
tombamento pelo Conselho Municipal do
Patrimônio Cultural de Manga, em 12 de
março de 2002.
ESTADUAL Não possui bens tombados para o nível Estadual
FEDERAL Não possui bens tombados para o nível Federal
Antigo Mercado Municipal, atual Secretaria
Municipal de Saúde, situado na Avenida Bem imóvel (BI)
Tiradentes nº 290
Documentação Inventariado
Tombamento Municipal Decreto 394/02. O
tombamento homologa nos termos da lei
municipal 1549/01 e do decreto 390/01, o
Sim
tombamento pelo Conselho Municipal do
Patrimônio Cultural de Manga, em 12 de
março de 2002.
ESTADUAL Não possui bens tombados para o nível Estadual
FEDERAL Não possui bens tombados para o nível Federal
Durante pesquisa de campo realizada no município de São João das Missões não foi possível obter
informações a respeito de bens imóveis tombados. Desta forma, apresenta-se a seguir o registro
fotográfico da Igreja de São João, localizada na praça central da cidade.
Estruturas Arquitetônicas
Itacarambi
Itacarambi
Com relação ao Patrimônio Imaterial, no município de Itacarambi foi identificada a manifestação cultural
denominada “Festa Reis do Boi”, que acontece sempre no mês de janeiro (dia de Reis). O município dispõe
ainda de um Grupo Cultural denominado Reis da Pastora, que é constituído por pessoas da 3ª idade e que
segundo informações obtidas na Prefeitura Municipal existe a mais de 60 anos (passando de geração em
geração).
Quadro 5.43
Patrimônio Imaterial – Formas de Expressão (IMA)
Foto Designição/Endereço Área
Durante a realização da pesquisa de campo não foi possível obter informações consolidadas nos
municípios de Manga e São João das Missões, contrastando com os dados fornecidos para o município de
Itacarambi. Assim sendo, justifica-se a não apresentação destes dados para os referidos municípios devido
à ausência de dados consolidados e da dificuldade de obter quaisquer informações a respeito do assunto.
Salienta-se ainda que para elaboração de um inventário mais completo seria necessário um prazo
compatível com o nível de detalhamento dos estudos, o que não foi possível devido ao cronograma enxuto
para realização do presente diagnóstico.
O estudo do componente indígena baseia-se na exigência da FUNAI, por meio da Instrução Normativa
Nº 2, de 21 de março de 2007, que estabelece em seu art. 1º, normas sobre a participação do órgão no
processo de licenciamento ambiental de empreendimentos ou atividades potencialmente causadoras de
impacto no meio ambiente das Terras Indígenas, na cultura e povos indígenas. O art.2º da referida norma
aponta os empreendimentos ou atividades potencialmente causadoras de impactos nas Terras Indígenas,
dentre eles as estradas de rodagem e acesso, que cortam ou estão localizadas em seu entorno.
5.3.10.1 Identificação dos Grupos Étnicos e das Terras Indígenas da Área de Influência
Embora haja uma série de clivagens internas entre os Xakriabá, trata-se de apenas um grupo étnico, algo
que eles mesmos fazem questão de frisar. Há, no entanto, divisões internas que orientam as relações inter
e intraétnicas, bem como a política do grupo. A primeira é a divisão entre caboclos e baianos, ou seja, entre
aqueles cujas famílias são originárias do Terreno dos Caboclos e as famílias de forasteiros que foram
incorporadas aos indígenas através de relações de casamento e compadrio. No entanto, essas categorias
A Terra Indígena Xacriabá Rancharia localiza-se no município de São João das Missões, distrito de
Rancharia. Ocupando uma área de 7.104 ha, a TIXR possui um perímetro de 39,8 km de extensão e tem
como limites extremos as seguintes coordenadas (quadro 5.44).
Quadro 5.44
Coordenadas dos limites extremos da TIXR
Extremos Latitude Longitude
Norte S 14º53’01’’ O 44º08’00’’
Leste S 14º55’29’’ O 44º04’11’’
Sul S 14º58’24’’ O 44º07’25’’
Oeste S 14º54’51’’ O 44º11’07’’
Fonte: FUNAI
Seguindo no sentido Manga, por aproximadamente 175 m encontra-se o segundo acesso a TIXR, que
também permite a entrada para as regiões do Boqueirão do Pulu e a porção sudeste da TIXR. Neste
acesso encontra-se a creche municipal para atendimento da população indígena.
Percorrendo mais 100 metros no sentido Manga, encontra-se o terceiro acesso a TI Xacriabá Rancharia.
Anteriormente utilizada como acesso principal, a entrada foi abandonada devido a problemas de erosão na
estrada que dificultavam o acesso pelos índios. Nesta entrada encontra-se a caixa d’água utilizada para
armazenar a água retirada de poço artesiano.
Ao lado oposto ao terceiro acesso a TI, encontra-se o ponto de ônibus utilizado tanto pela população da
localidade de Rancharia, quanto pelos índios.
Seguindo no sentido Manga por mais 175 m, encontra-se o quarto acesso a TI Xacriabá Rancharia, sendo
esta a entrada principal utilizada pelos índios e segue em direção a região oeste da TIXR.
Percorrendo aproximadamente 144 m, a partir do acesso principal, a quinta entrada é utilizada como
alternativa de acesso direto a TIXR, seguindo também em direção a porção oeste do território indígena.
Finalizando a relação de acessos existentes, seguindo por aproximadamente 218 m no sentido Manga
encontra-se a sexta e última entrada para a TI Xacriabá Rancharia que dá acesso a parte posterior do
cemitério utilizado pelos índios.
26 Para que o direito de uma família fosse legítimo era necessária a aprovação do chefe, ninguém se ocupava de um terreno sem que
ele tivesse conhecimento. Na Rancharia são citados chefes antigos que exerciam essa função, como Marcelino Caboclo, ou Maria
Grossa. Rodrigo, como primeiro cacique xakriabá, manteve essa função redistribuindo terras e dizendo onde novas roças poderiam
ser abertas.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 113
CONSÓRCIO
60 - 64
50 - 54
40 - 44
30 -34
20 - 24 Feminino
10 -14
0 -4
Fonte: FUNASA. Escritório de São João das Missões – MG. Dados coligidos em fevereiro de 2010.
Do ponto de vista sociológico trata-se de uma população que experimenta rápidas transformações nas
suas formas de organização, as principais delas estando relacionadas à demarcação da terra indígena. O
perfil sociológico da população sofre as interferências tanto da política indígena (Xakriabá) como da política
indigenista (do estado brasileiro), ambos tendo contribuído para garantir a permanência na terra indígena e,
em alguns casos, até mesmo revertendo o quadro de migração que predominou em toda a região norte de
minas nos anos 1960, 1970 e 1980, principalmente, mas com movimentos migratórios pendulares bastante
intensos ainda nas décadas de 1990 e 2000. Mas, mesmo assim, a emigração ainda se dá em número
muito superior à imigração de retorno.
Para a população Xakriabá as mudanças demográficas percebidas apresentam outro significado no que
respeita à migração de retorno, sendo o que se pode deduzir do fato de ela ter sido intensificada, nos
períodos pós-demarcatórios, nas duas terras indígenas. Esse movimento, contudo, embora enfraquecido,
perdura ainda hoje. O que tem se intensificado desde os anos noventa é a migração pendular que implica
em emigração e imigração, conforme calendário anual ditado pela indústria sucroalcooleira do país.
27 Por vezes a aldeia Rancharia é referida como Tenda, visando distinguir-se parte de Rancharia habitada por não-indígenas, situada
no outro lado da BR-135. E no que respeita á administração municipal de São João das Missões, Racharia é usado oficialmente para
se referir ao lado não indígena, e Tenda para se referir à TIXR.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 116
Grande parte da população dos Xakriabá de Rancharia está concentrada na Aldeia Tenda, mais
especificamente na área margeada pela BR-135 e circundada pela Lagoa de Rancharia. Hoje, no entanto,
algumas famílias formadas por indígenas residem no distrito de Rancharia, fora da terra indígena, pelo
simples fato de estarem casadas com pessoas não indígenas. A política de casamentos xakriabá tem
restringido a fixação de pessoas não indígenas na terra. Cinco famílias nucleares, ao menos, vivem nessa
situação e são atendidas pela Saúde Indígena. Situação que comprova o reconhecimento de sua origem
étnica.
Mas todos os Xakriabá da Terra Indígena de Rancharia, sem exceção, tem parentes fora da TIXR, seja em
Rancharia, Missões, Itacarambi, Manga, ou mesmo na Terra Indígena Xakriabá. E muitos dentre esses
parentes que vivem fora da terra poderão optar pela identidade indígena no atual contexto de revisão das
demarcações das Terras Indígenas Xakriabá. Esse processo muda, mais uma vez, a configuração da
população Xakriabá.
No caso da TIXR, a expectativa é que grande parte das famílias do lado não indígena poderão provar seu
vinculo com os Xakriabá. Assim, o núcleo populacional hoje dividido em Rancharia (bairro distrital de São
João das Missões) e Tenda (aldeia indígena dos Xakriabá de Rancharia) voltará a ser um único povoado,
mas ao mesmo tempo, será uma única aldeia, integrante do povo Xakriabá.
A opção pela identidade indígena será dada às várias famílias que residem nas localidades que estão
sendo englobadas pelo processo de revisão dos limites da terra indígena, das quais já se sabe de antemão
possuir parentesco com os Xakriabá. No entanto, como se registrou na fala de várias lideranças indígenas,
“elas terão que provar” que são parentes, e “vão ter que contar história”. Ou seja, vão ter que provar que
merecem ser aceitas como membros da coletividade étnica Xakriabá. Seguindo a premissa citada por
Eduardo Viveiros de Castro, entre os Xakriabá “é índio quem se garante” (VIVEIROS, 2006).
Outro fator, no entanto, já faz repercutir mudanças no quadro populacional da TIXR, a saber, o retorno de
várias famílias Xakriabá que residiam na área urbana de São João das Missões. A grande maioria, em
movimento que teve início sob a liderança de Santo Xakriabá, cacique dos Xakriabá desaldeados, saiu de
São João das Missões e ocupou duas fazendas de proprietários locais, nos limites com a TIXR, localidade
à qual passam a denominar Terra Indígena Xakriabá do Morro Vermelho.
O grupo permanece nessa área, que deverá ser incorporada à TIX. Muitas dessas famílias, no entanto, por
desentendimento com a liderança local retornaram para São João das Missões. Uma vez lá, foram
agenciadas pelo ex-cacique de Rancharia, Antônio Possidônio, em função da contenda que este
estabelece com a maioria da população da TIXR ao se apossar, junto com seus familiares e novos aliados,
de quase metade da área da TIXR, especificamente as localidades denominadas Boqueirão e Catito.
Esse movimento de retorno à TI tem se acentuado em função da revisão dos limites da terra indígena, que
está em curso. Em princípio, o movimento não é visto como um problema pelos Xakriabá, não suscitando
desconfianças e nem tampouco é discutida a legitimidade desse retorno, uma vez que parentes dessas
famílias migrantes permaneceram na terra indígena.
Entretanto, essas famílias que foram assentadas no Catito por Antônio Possidônio, mesmo sendo
reconhecidas por todos os Xakriabá como tal, não teriam, em princípio, o direito a habitar em uma terra
indígena já demarcada. Isso se deve a uma regra, estabelecida pelos Xakriabá durante o período de luta
pela terra, que define que apenas aqueles que apoiaram ativamente a demarcação de uma terra podem
habitá-la. Esse critério, no entanto, não é absoluto e as lideranças podem aceitar o assentamento de
famílias que não habitavam nas terras disputadas ou fugiram da violência durante o período de luta pela
terra.
O fato é que a contagem de 165 domicílios – os quais são habitados por 191 famílias nucleares – para a
população da TIXR exclui ao menos 32 domicílios fixados na aldeia Catito, e todos, a despeito do conflito,
formados por famílias indígenas reconhecidas como tal pelos Xakriabá.
5.3.10.4 Infraestrutura da FUNAI
A Fundação Nacional do Índio atua nas Terras Indígenas dos Xakriabá de forma muito pontual. Há apenas
um posto, situado na aldeia Brejo do Mata Fome, onde um funcionário contratado atua como indigenista,
eventualmente ajudado por pessoal temporário. O posto é mal equipado e mobiliado, e está em más
condições estruturais. Uma vez que os Xakriabá somam em torno de 9 mil índios, a estrutura da FUNAI
consegue atender suas necessidades mais básicas, como àquelas relativas à documentação e distribuição
de cestas básicas às famílias mais necessitadas. A FUNAI também efetua a distribuição de sementes e
colabora financeiramente com as viagens feitas por alunos da licenciatura indígena e lideranças.
Um dos grandes problemas em relação à falta de pessoal da FUNAI nos Xakriabá tem sido a operação da
questão da segurança, responsabilidade órgão indigenista em parceria com a Polícia Federal. A atuação
insuficiente da Polícia Federal e a falta de estrutura da FUNAI para lidar com a questão da segurança
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 117
levaram os Xakriabá a criar o Conselho de Segurança e celebrar um convênio com a Polícia Militar de
Minas Gerais para o policiamento em terra indígena.
Os Xakriabá ocupam atualmente aproximadamente um terço das terras que lhes cabem segundo a certidão
de doação cunhada por Januário Cardoso e registrada em 1856 em cartório em Ouro Preto, capital da
província de Minas Gerais, sendo que essa mesma certidão de registro foi averbada em Januária em 1932
em cartório de registro de imóveis, fato que confirmou, mais uma vez, o registro junto aos órgãos legais.
Mas, para o período atual e, de acordo com a nova legislação sobre as terras indígenas decorrentes das
formulações constitucionais a respeito, há apenas duas parcelas do território indígena (registrado em 1856)
demarcadas e homologadas como terras indígenas: a Terra Indígena Xakriabá, homologada em 14/07 de
1987 e a Terra Indígena Xakriabá Rancharia, homologada em 06/05 de 2003.
Os Xakriabá atualmente encontram-se num processo de luta pela ampliação dos limites, já que terras
xakriabá demarcadas estão situadas nas regiões, consideradas pelas indígenas, como as de piores solos e
menor acesso à água dos municípios de São João das Missões e Itacarambi, cidades construídas sobre o
território xakriabá.
Depois de audiências com a FUNAI em 2007, assinou-se uma Portaria de criação de um Grupo de
Trabalho para estudos das áreas reclamadas pelos indígenas. O estudo foi realizado em 2009 e deve ser
publicado em 2010.
Nota-se que as áreas reivindicadas pelos indígenas encontram-se justamente para além dos limites
arbitrários estabelecidos nos processos demarcatórios anteriores, com base em linhas retas e estradas
locais, abertas justamente durante o período de expropriação de suas terras. Atualmente são reivindicadas
as áreas de Morro Vermelho, Dizimeiro/Licuri, Caraíbas, Poção e Ilha do Capão, no rio São Francisco,
habitadas e usufruídas tradicionalmente pelos Xakriabá e onde ainda vivem algumas famílias indígenas
que não habitam dentro da terra demarcada.
Em fins do século XVII deu-se início à ocupação não-indígena no Alto-Médio São Francisco. Com a
chegada do Mestre de Campo Matias Cardoso para a área afim de “restaurar a segurança dos sertões” os
indígenas da região, referidos genericamente como “Caiapós” ou “Chacriabás” foram escravizados. A mão-
de-obra indígena foi usada tanto na construção do Arraial de Morrinhos, na confluência do São Francisco
com o Rio Verde, quanto nas diversas fazendas de gado que seriam abertas pelos integrantes da
expedição de Matias Cardoso.
Já no início do século XVIII Januário Cardoso, filho de Matias Cardoso, foi nomeado Mestre de Campo. O
São Francisco havia então se tornado um importante escoadouro de mercadorias e, além disso, a Coroa
desejava consolidar sua ocupação para evitar o contrabando de ouro e “pacificar” o sertão, “exterminando,
apresando, aldeando e afastando” os “índios licenciosos” que ali estavam (SANTOS, 1997:20-22).
Nesse contexto, os índios “bravos” eram chamados genericamente de Caiapós, e ativamente perseguidos
em expedições que contavam com o auxílio das “tribos mansuetas”, nome dado aos povos indígenas
incorporados ao regime colonial. Em guerra aos Caiapós, Januário Cardoso destruiu suas principais
aldeias, Guaíbas e Tapiraçaba, e construiu ali os arraiais de Santo Antônio do Manga e Brejo do Salgado.
Entre 1712 e 1713 o Padre Antônio Mendes foi nomeado pelo Bispo de Pernambuco para catequizar os
índios, sinal da consolidação da ocupação não-indígena na região. Ele teria se estabelecido na localidade
de Manga do Armador, hoje correspondente à cidade de Manga. Há a possibilidade de que o Padre
Antônio Mendes tenha sido o responsável pela fundação da Missão do Senhor São João do Riacho do
28
Itacaramby, onde hoje é a cidade de São João das Missões .
Em 1728 Januário Cardoso, sob a condição de “deministrador dos Indios”, doa terras aos aldeados da
Missão. Santos (1994) cita a possibilidade de a doação ter sido uma recompensa pela aliança dos
indígenas com Januário Cardoso, com o intuito de expulsar dali os Caiapó. Paraíso (1987) entende que a
doação seria mais que o fruto de um acordo ou aliança, também uma maneira de referendar a autoridade
colonial imposta aos índios. De fato, a certidão da doação indicava toda espécie de castigos que poderiam
28 Outros nomes: Missão do Senhor São João dos Índios, Missão do Senhor São João.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 120
ser aplicados por um certo Capitão Mandante Domingos Dias, bem como instruções específicas para que
fossem recolhidos para lá todos os índios que andassem por fazendas alheias.
Alguns documentos se referem aos povos aldeados na missão, mas a maioria o faz por categorias
genéricas. Na segunda metade do século XVIII a missão foi abandonada, o que explica em parte a
ausência de documentação a seu respeito. O Monsenhor Pizarro conta que a capela de São João estava
numa aldeia de índios sem missionário ou diretor, localizada a 16 léguas ao norte de Nossa Senhora do
Amparo do Brejo do Salgado, hoje Januária. Richard Burton e Saint-Hilaire, em seus respectivos relatos de
viagem pelo São Francisco, passaram pela Missão do Senhor São João e mencionam a presença
indígena. Saint-Hilaire relata que os “xicriabás”, maneira como ele se refere aos índios aldeados, haviam se
“fundido com negros e mestiços” e que “reclamavam do Rei o privilégio de serem julgados por um entre
eles, regalia que a lei não concede [...] senão aos índios puros”. Burton menciona que em São João das
Missões estariam aldeados “os remanescentes de três grandes tribos: os xavantes, ainda poderosos nas
cabeceiras do Tocantins; os Xakriabás (xicriabás) e os botocudos, nome geral indefinido de algumas raças”
(SANTOS, 1997:28-30).
No ano de 1856, seis anos após a promulgação da Lei de Terras, o termo de doação de Januário Cardoso
foi registrado em cartórios nas cidades de Januária e Ouro Preto. O documento cita “Eugênio Gomes de
Oliveira” que registra o documento por si e por “todos os indios de São João da Missão”. Essa é a primeira
de muitas ações documentadas acerca das providências tomadas pelos índios da Missão para garantir seu
direito àquela terra doada por Januário Cardoso.
Em 1912 o Cônego Maurício Gaspar visita o arraial de São João das Missões, ao qual descreve como “um
pequeno arraial” de população “cabocla”, referindo-se aos índios que lá habitam como “representantes
legítimos da altiva tribus dos cayapós”. Gaspar também afirma que os índios desapareceriam devido à
“invasão sempre crescente dos mestiços, oriundos dos Portugueses e Africanos”, afirmando que
“actualmente as principaes famílias dos Cayapós espalharam-se ao redor da antiga aldeia, nos lugares,
chamados Brejo da Fome, Riachinho, Retiro, Prata, Água Branca”. Um índio, senhor de idade referido por
Gaspar como “Theophilo de Tal” teria feito parte
“há trinta anos de um grupo Cayapós, pratrícios seos, armados de flechas, resolvidos a ir ao Rio de
Janeiro, para apresentarem as suas queixas a Sua majestade o Imperador D. Pedro II. [...] Com
effeito, os descendentes dos habitantes das selvas foram muito bem recebidos na Corte Imperial, e,
depois de muito mimoseados, trouxeram ordens para as autoridades da comarca de Januária, afim
de que fizesse valer os seos direitos contra os invasores de suas terras” (Gaspar apud Senna apud
Santos: 33-34)
A união dos índios de Missões em defesa da terra que lhes era de direito é uma constante em sua história.
Santos (1997) e Schettino (1999) descrevem diversas ações tomadas em defesa da integridade do Terreno
dos Caboclos do Senhor São João, nome pelo qual a terra viria a ser conhecida. Na segunda metade do
século XIX, migrantes vindos dos sertões da Bahia e outros estados do nordeste brasileiro chegaram às
terras dos Xakriabá fugindo de temporadas de seca e penúria. Esses, chamados genericamente de
baianos, passaram a ocupar porções da terra designadas pelos chefes locais. Seu estabelecimento no
território indígena marcou o início de um processo duplo, de convivência e conflito com os novos
ocupantes. Muitas famílias de baianos foram incorporadas aos Xakriabá mediante um regime de
casamentos e compadrio, permitindo aos índios o estabelecimento de uma aliança duradoura com os
chegantes e produzir meios de ocupar as terras sob constante ameaça de desagregação. Os habitantes do
Terreno foram nomeados de diferentes formas. Foram reconhecidos regionalmente e se reconheciam ora
como “caboclos” ou “índios”, ora como “herdeiros” ou “sucessores dos índios de São João das Missões”
(SANTOS, 1997:67).
Um evento emblemático que teve lugar na luta pela defesa da terra, ocorrido nas imediações de Rancharia,
foi a chamada Revolta do Curral de Varas. No começo do século XX, em 1910, um chefe político da cidade
de Januária, Teófilo Alquimim, invadiu o Terreno dos Caboclos, junto com um contingente policial
comandado pelo Capitão Delfino, e obrigou os índios a colocarem o marco das terras num lugar de sua
escolha. O fazendeiro ainda ordenou que fosse construído um curral de varas, referido até os dias de hoje
como “curral do Capitão Delfino”.
Um curral de varas de “aroeira pura” era uma construção sólida, que denotava desejo de permanência e
também o de realizar uma afronta aos índios. Num ato de revolta, vários chefes dos caboclos se
organizaram e atearam fogo ao curral. A repressão ao ato, feita pelo próprio Capitão Delfino, foi brutal e
resultou na morte por espancamento de diversos indígenas, incluindo o chefe indígena Gerônimo
Remualdo. O chefe Germano Gomes de Oliveira também foi espancado, mas sobreviveu com várias
seqüelas, morrendo anos mais tarde em decorrência de complicações. Outras lideranças partiram para o
Rio de Janeiro “a fim de pedir providências” e nunca mais voltaram (SCHETTINO, 1999: 37-41).
O período subseqüente à partida de Lyrio do Valle foi marcado pela continuação dos conflitos envolvendo
índios, posseiros e fazendeiros da região. Em 1968, quando a RURALMINAS chegou à região, buscando
promover a regularização fundiária, o Terreno dos Caboclos do Senhor São João era reconhecido pelo
Estado como terra devoluta, apesar das sucessivas providências tomadas pelos chefes. No período
subsequente a atuação de grileiros na região se intensificou. Suas estratégias incluíam a compra, sendo a
grilagem o significado do cercamento em si, que restringia ao uso privado uma terra de direitos coletivos, e
também do fato de que cercavam uma área maior do que aquela que havia comprado.
Os Xakriabá entre eles sempre realizaram transações de terra, mas estas não consistiam propriamente
numa mudança no regime de propriedade da terra, pois o que se vendia era o direito. E o direito só poderia
ser adquirido se a terra tivesse sido devidamente apropriada, ou seja, trabalhada (SANTOS, 1997:74).
Se os grileiros compravam o direito, eles logo o transformavam em propriedade através do cercamento da
terra – que nunca havia sido cercada antes. Além disso, atuavam de forma desonesta: cercavam áreas
maiores do que aquelas que haviam comprado, e deixavam de pagar aqueles que tinham vendido terras.
Ao contrário dos baianos, os fazendeiros que se estabeleceram na terra indígena não eram passíveis de
serem incorporados pelos índios através do casamento, de modo que as alianças com eles eram tipificadas
por relações de agregado. Como criadores de muitas cabeças de gado, os fazendeiros ocupavam grandes
extensões muito rapidamente.
A intervenção da RURALMINAS aumentou o interesse no Terreno e acelerou o processo de grilagem. A
ocupação irregular de terras tomou proporções maiores, ao ponto de ameaçar a presença dos indígenas
em grandes áreas, como foi no caso do local hoje correspondente à aldeia Sapé. Assim que “compravam”
essas áreas, os fazendeiros usavam de força para expulsar e subjugar moradores, através de dois bandos
de jagunços, chefiados por fazendeiros conhecidos como Gonga e Amaro. À medida que o conflito em
torno da posse da terra se acirra, algumas famílias de nativos aliam-se aos fazendeiros e passam a ser
identificados pelos Xakriabá como posseiros. O termo também foi aplicado, posteriormente, a todos
aqueles que aceitaram à opção colocada pela RURALMINAS de que cada família que detinha um pedaço
de terra por direito, onde trabalhava, titulasse um lote como propriedade privada.
No final da década de 1960, a FUNAI intervém no conflito. Havia sido notificada e convocada a resolver a
questão das terras Xakriabá por Manoel Gomes de Oliveira, o Rodrigo e por Laurindo Gomes de Oliveira,
índios da região do Brejo do Mata Fome. Sua viagem a Brasília torna-se célebre regionalmente,
historicamente atualizando as jornadas dos antigos chefes ao Rio de Janeiro em busca de providências.
O Centro Indigenista Missionário (CIMI) também esteve presente na luta dos Xakriabá pela regularização
de suas terras, atuando principalmente na regiões do Itapicuru, São Domingos e Sapé através do líder
indígena Rosalino Gomes de Oliveira.
O período da Luta pela Terra, como esta história é narrada pelos Xakriabá, foi marcado pela violência
empregada contra os indígenas, que responderam a ela organizando expurgos contra os posseiros. A
demarcação da terra indígena em 1979 havia aumentado a tensão e intensificado os atentados contra a
vida dos indígenas, o que culminou com o assassinato de Rosalino Gomes de Oliveira no ano de 1987
durante uma chacina na aldeia Itapicuru. Após a morte de Rosalino a terra indígena é homologada e os
posseiros definitivamente retirados.
Sem qualquer motivo aparente, Rancharia, área citada em diversos relatórios da FUNAI como um
importante local de habitação dos Xakriabá, acaba não sendo incluída nos estudos da demarcação
realizados em 1978. Esse equívoco é visto com perplexidade pelos moradores da Rancharia:
Antônio Possidônio de Souza: Ali no Furado do Meio morava, morava... Tomás com a família dele
toda NE. Esse Tomás, ele era lá do Brejo também, que é da reserva, né? Então ele tinha o pessoal
dele cá, irmão e tudo, então ele vinha pra cá também. É tudo uma coisa sozinha lá, Brejo com nóis
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 122
cá, né? Então eu num sei como é que foi isso que deu que demarcou lá e ficou sem demarcar cá
na Rancharia (...) (Schettino, 1999:58, 61)
A homologação da Terra Indígena Xakriabá e a ausência de qualquer estudo para a Rancharia ocasionou
maior pressão fundiária sobre aquele local. Novos chegantes se instalaram ali e os fazendeiros
continuaram a cercar áreas de uso comum, inclusive porteiras e picadas, impedindo completamente o uso
por parte dos indígenas de qualquer recurso que estivesse dentro de suas terras – como a coleta de frutos
e outros produtos do extrativismo tradicional, como embiras, cabos para ferramentas, ervas ou mesmo
lenha. A extração de madeira e a produção de carvão eram as atividades mais lucrativas nas fazendas
abertas na Rancharia, e depois de desmatadas, as áreas eram empregadas para a criação de gado de
corte.
Expropriados de suas terras e sem alternativas, os indígenas chegaram a trabalhar nas carvoarias,
derrubando e arrastando árvores, alimentando fornos, guiando carroções no transporte do carvão e
enchendo caminhões. A fabricação do carvão foi intensa, ao ponto de uma empresa siderúrgica da Zona
Metropolitana de Belo Horizonte manter nas imediações um depósito para carregar o produto diretamente
para suas indústrias.
No fim da década de 1990, um grupo de trabalho da FUNAI vai até a localidade de Rancharia para realizar
um estudo de identificação e demarcação da terra indígena. O Relatório de Identificação e Demarcação é
publicado em 1999 e, em 2003, a Terra Indígena Xakriabá Rancharia é homologada. Torna-se uma terra
indígena separada da Terra Indígena Xakriabá por motivos políticos, uma vez que o cacique Manoel
29
Gomes de Oliveira (o Rodrigão), não apoiou os indígenas de Rancharia.
A Terra Indígena Xakriabá Rancharia tem esse nome devido à localidade de mesmo nome, hoje distrito de
São João das Missões, que constitui o núcleo em torno do qual se aglutinaram os indígenas desde tempos
muito antigos. Rancharia é a maneira pela qual os Xakriabá se referiam ao lugar devido à quantidade de
ranchos construídos às margens de sua lagoa. A história indica que a ocupação indígena nessa localidade
é antiga, tendo sido o seu entorno o palco da Revolta do Curral de Varas.
Os xakriabá de Rancharia dizem que ali não arranchavam apenas os indígenas, mas também pessoas de
outros lugares. Muitos viajantes, especialmente romeiros a caminho de Bom Jesus da Lapa, se
arranchavam ali durante suas viagens. Há meio século atrás a lagoa da Rancharia estava sempre cheia e
abundava em peixes, e a região estava em sua maior parte recoberta por matas, onde havia caça, sendo
convidativa tanto para aqueles que estavam de passagem quanto para errantes desapossados que
buscavam um lugar para morar. Estes podiam contar com a disposição que os Xakriabá apresentavam em
acolher migrantes em suas terras (SCHETTINO, 1999: 28, 29, 76, 77).
Os ranchos, geralmente cobertos com casca de pau d’arco, marcaram um tempo de mata preservada e
água abundante. As famílias da Rancharia se estabeleceram em torno do Vale do Riacho Seco e dos
furados, locais onde a água se acumula depois da chuva. Plantavam nas beiradas dos morros, criavam o
gado solto na mata, caçavam e coletavam na extensa mata que ia dali até o Custódio (aldeia da Terra
Indígena Xakriabá). A consolidação da ocupação dos fazendeiros e a não-inclusão da Rancharia na
demarcação realizada pela FUNAI em 1979 trouxeram mudanças intensas para a vida dos indígenas.
Primeiro as fazendas trouxeram as cercas e a impossibilidade de transitar por suas terras, fosse para caçar
ou coletar. Depois, a derrubada sistemática de madeira e as queimadas indiscriminadas acabaram com a
mata e espantaram os animais, tornando a caça e a coleta impossíveis e também reduzindo a vazão de
água nas serras para o Riacho Seco. Além disso, diversas barragens foram construídas nas fazendas,
impedindo que o Riacho Seco corresse no tempo das chuvas.
Estagiário da FUNAI: Daí a questão do Riacho que tinha lá em cima, hoje chama...
Antônio Possidônio de Souza: É Riacho Seco né, que ele vem da serra, antes, quando chove né,
na hora que chove aí ele enche, desce direto na lagoa, naquela lagoa lá né..., da Rancharia, ele
desce ali. Aí chegou um certo tempo, aí que o Zé Gentio tem aquele dele lá pega fazê, fez uma
barragem ali..., fez uma barragem e ali a água só entra ali, toda água só entra ali, naquela lagoa
dele ali daquela fazenda ali, e lá pra nós fica em falta
[...]
[Pedro Antônio de Oliveira]: As água da lagoa vinha da serra.
29 Rodrigo era o vice-prefeito do município de São João das Missões durante a época da realização do estudo em Rancharia. Ele
assumira o compromisso, durante sua campanha, de que não haveria redefinição das terras xakriabá no município. Assim, não tomou
parte em nenhuma atividade do GT da FUNAI para a Terra Indígena de Rancharia, delegando essa função a seu vice-cacique, Emílio
Gomes de Oliveira.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 123
[Manoel Gomes de Oliveira]: Mas pra cá do Arnaldo tinha um pouco, tinha uma saída da água...
tinha um minador no pé da serra que durava até o mês de junho.
[Antropólogo]: O riacho desembocava na lagoa?
M: Sim.
P: O nome do Riacho Seco é porque ele corre água só no tempo das água. [...] Essa barragem que
fizeram na Cauê é que acabou com ele, tem muito tempo que nele num desce água (SCHETTINO,
1999:86, 87).
Esses fatos, somados à mudança drástica no regime de chuvas, fizeram com que a maioria das famílias da
Rancharia não pudesse confiar apenas na produção das roças, então reduzidas a “quintais”. A terra para o
cultivo esteve reduzida em 94% em relação à área hoje homologada.
Antropólogo: Quanto que, mais ou menos, cada família põe de roça aí?
Noberto: Oi, isso aí, mixaria, é coisinha poquinha, poquizinho mesmo, é só, bem dizê, é quintal
mesmo!
A: Um quintalzinho dá pro sustento?
N: Ah, tem que dá, o jeito é dá...
A: O que se planta num quintal? Milho?
N: É, e feijão.
A: Dá pro ano todo ou tem que comprar?
N: tem que comprá, num dá pra tirá o ano. É pequenininho mesmo.
A: Antigamente tinha área pra roça, e o povo só trabalhava na roça?
N: Só na roça, é que tinha lugar pra trabaiá muito. Mas dispois acabou tudo.
A: E quanto cada família precisava para tirar o sustento de 1 ano?
N: Aí era conforme o tamanho da área que tinha, que era, se plantava aí rendia, sustentava, dava
pra sustentá.
A: Qual era a medida que vocês usavam?
N: Aí era na base de meia quarta de milho e feijão.
[...]
Estagiário: O que mais que planta?
Manoel Gomes de Oliveira: Mandioca, arroz.
[...]
A: O Sr. Ta falando que hoje o pessoal não tem mais área de plantar, ma que antigamente tinha,
porque isso aconteceu?
M: Isso aí foi dipois que os fazendeiro foi chegando.
N: Foi tomando de poco a poco, poco a poco, até que passou a mão ni tudo. (Schettino, 89)
Como alternativa para a sobrevivência, alguns indígenas passaram a trabalhar para os fazendeiros na
derrubada da mata e fabricação de carvão. Outros deixaram a Rancharia para procurar trabalho nas
fazendas da região e também nos estados de São Paulo e Mato Grosso. A homologação da terra indígena
não restaurou aos Xakriabá suas condições originárias de produção, não legando-lhes um terreno em suas
condições originais, uma vez que a terra estava devastada após 40 anos de exploração intensiva. Além
disso, embora algumas áreas de plantio coletivo como a Cabeça d’Anta tenham continuado nessa condição
após a homologação da terra, a maioria das áreas foi cercada visando à criação de gado.
Atualmente, boa parte da população depende do trabalho remunerado e aposentadorias para sobreviver,
sendo que a grande parte desses recursos destina-se à alimentação (MONTE-MOR et al, 2007: 13).
Nos dias de hoje qualquer intervenção no âmbito das políticas indigenistas devem observar os princípios
constitucionais estabelecidos em 1988 pois se constituem no principal aparato jurídico para os povos
indígenas no Brasil, em particular os artigos:
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 124
Art. 215, que determina que “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e
acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais. § 1.º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares,
indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório
nacional.”;
Art. 216, segundo o qual “Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação,
à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as
formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e
tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico;
Art. 231, o qual rompe em definitivo a perspectiva assimilacionista das políticas do estado para
com os índios, ao inserir a seguinte redação: “São reconhecidos aos índios sua organização social,
costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os
seus bens.”
A Constituição de 1988 inovou no tratamento da questão indígena incorporando as mais avançadas
concepções de igualdade e indicando novos parâmetros para a relação do Estado e da sociedade brasileira
com os índios. A carta Magna constitui, deste então, um marco divisor para a avaliação da situação dos
povos indígenas no Brasil.
A Constituição reconheceu aos povos indígenas direitos permanentes e coletivos e inovou também ao
reconhecer a capacidade dos índios de estabelecer ação processual em defesa de suas comunidades e
organizações, interesses e direitos.
Um dos aspectos mais positivos para os índios, no entanto, foi a estruturação institucional e técnica do
Ministério Público Federal - MPF, órgão ao qual a Constituição delegou a tarefa de defesa dos direitos
indígenas.
Hoje, o MPF está estruturado como uma rede de atendimento às demandas jurídicas dos povos indígenas,
designando Procuradores da República dedicados à defesa dos interesses indígenas em todos os estados
da federação. Além disso, estruturou um corpo de assessores técnicos em diversas áreas, como
antropologia e engenharia florestal e biologia, os quais contribuem com informações técnicas para subsidiar
as ações do órgão em defesa dos índios.
Mas além da Constituição Federal, há duas outras leis importantes para o trato da questão indígena,
conforme instituídas pelo estado brasileiro, a saber, a Lei n. 5371 de 05 de dezembro de 1967, que autoriza
a instituição da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), e a Lei 6001/1973, conhecida como o Estatuto do
Índio, que regula a situação jurídica dos povos indígenas em face do estado brasileiro.
No que diz respeito à legislação referente à FUNAI, esse órgão veio sofrendo várias modificações ao longo
do tempo, sendo a mais importante delas, e também a mais recente, o Decreto Presidencial N. 7056 de 28
de dezembro de 2009, que aprova o Estatuto da FUNAI e sua reestruturação funcional. Tenta-se dentre
outras medidas, instituir o papel de proteção especial aos índios, em detrimento da tutela, uma vez que
esta soa anacrônica em decorrência do próprio papel que os índios vem assumindo da condução dos seus
interesses.
Quanto ao Estatuto do Índio, este não somente é anacrônico como soa em muitos aspectos, contrário aos
princípios constitucionais, necessitando ser substituído. Há ao menos quatro projetos em tramitação no
Congresso Nacional, desde 1991. No entanto, a ação política do Congresso Nacional, no que respeita ao
novo estatuto dos índios, está paralisada em função dos conflitos de interesse que opõem indígenas e a
bancada ruralista. Existem lobbies presentes no Congresso Nacional agindo em função dos interesses nas
terras indígenas, seja em função do solo e seus recursos, como os madeireiros, os energéticos e os
relacionados ao agronegócio, seja pelos recursos do subsolo, como os minerais diversos presentes em
terras em posse dos índios ou mesmo reivindicadas por eles.
Mas enquanto não se aprova o novo Estatuto do Índio, a ação do MPF, juntamente com justiça federal,
garante a aplicação dos princípios constitucionais no que respeita aos direitos indígenas e, na medida em
que não contradiga a CF, o Estatuto do Índio de 1973 ainda é amplamente usado como referencial legal,
principalmente pela ação indigenista da FUNAI.
E no que respeita ao Direito Internacional há duas referências importantes observadas pelo Estado
Brasileiro: a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, da qual o Brasil é signatário desde
2002, que reconhece a autodeterminação dos povos indígenas e tribais, e a Declaração das Nações
Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, de 2006, que imediatamente passou a ser seguida pelo
Brasil.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 125
Esses dois textos da legislação fundamental do direito internacional seguido pelo Estado Brasileiro
determinam o fim das orientações para a assimilação desses povos pelos estados nacionais e adota os
princípios do auto-reconhecimento, do autogoverno e da autonomia dos povos indignas e tribais. E o mais
importante, que nenhuma ação, seja do estado ou da sociedade, que impacta sobre a vida dos índios e
sobre seus direitos possa se realizar sem consulta e consentimento dos povos indígenas, em particular do
grupo que diretamente possa ser atingido.
Os Xakriabá de Rancharia tiveram sua terra demarcada após um longo período de exploração intensa da
mata seca da região por parte dos fazendeiros que se apropriaram de suas terras indevidamente. A
retirada de madeira, a fabricação de carvão e as queimadas indiscriminadas destruíram a mata quase
completamente, tornando a caça e a coleta atividades difíceis e improdutivas. Seu Silvino afirma que “mata
mesmo ainda tem, mas só lá pra riba da serra.Pelo menos 50% da mata daquela serra nunca foi mexida, o
resto lá foi destruído é por fogo.” Após a demarcação, os Xakriabá aproveitaram as áreas de pasto que
estavam plantadas para introduzir nelas o gado bovino, hoje importante para sua economia, e voltaram a
plantar em áreas onde antes se abriam as roças de toco, notadamente a áreas de beira de morro, como a
Cabeça d’Anta.
Atualmente a mata da TIX Rancharia se encontra em processo de regeneração, já que a exploração dos
Xakriabá atualmente se resume a lenha, com retiradas esporádicas para construção. Os Xakriabá
classificam as áreas em recuperação segundo o tempo que permanecem preservadas, seguindo a seguinte
classificação: capoeira (3 ou 4 anos), capoeirão (5 ou 6 anos), capão (“acima de 6 anos, quando tem pau
mais grosso que um copo já é capão”). A recuperação da mata é uma preocupação das lideranças e
professores indígenas, uma vez que a retirada da madeira e a intrusão do gado danificaram muitas
nascentes do vale do Riacho Seco que já tinham um caráter intermitente.
Dentro desse paradigma, recentemente foi implantado um projeto de recuperação das nascentes e demais
fontes de água das Terras Indígenas Xakriabá. Realizado pela Associação Indígena Xakriabá da Aldeia
Barreiro Preto, o projeto “Xacriabá de Mãos Dadas na Recuperação das Nascentes - Água é Vida” foi
também o responsável pelo cercamento da lagoa de Rancharia. Antes do cercamento, a lagoa se
encontrava em um processo de erosão em suas bordas já que o gado bebia em qualquer lugar e outros
animais andavam em seu interior durante o tempo da seca. O uso de água da lagoa durante a construção
do primeiro trajeto da BR-135 também é apontado pelos Xakriabá como um forte fator de degradação da
mesma.
Há um dilema entre os Xakriabá acerca das medidas a serem tomadas em favor da recuperação de suas
terras. O gado bovino é considerado como mais certo do que o trabalho na lavoura, por resistir mais
facilmente aos longos períodos de seca, mas a ausência de um plano para o manejo do gado tornou a
atividade pecuária uma fonte de preocupação para o povo Xakriabá, uma vez que sua criação compromete
a infiltração de água no solo e também a flora dos gerais e matas. Além do cercamento das nascentes,
esse problema tem sido contornado com a construção de pequenas barragens para facilitar a infiltração da
água da chuva nos lençóis freáticos. Recentemente têm ocorrido discussões acerca da possibilidade de
cercar pequenas áreas de solta– como os Xakriabá denominam as áreas onde o gado de todos pode
pastar – nos gerais e matas, visando preservar plantas medicinais e frutíferas.
Na TIX Rancharia o gado não é tão numeroso, sendo que as famílias que com maior número de cabeças
possuem duas centenas. Com o aumento da renda monetária e a criação de gado como principal forma de
entesouramento entre os indígenas, é provável que esse número cresça com o passar dos anos. Em 2007,
os Xakriabá de Rancharia manifestaram sua preocupação com o uso dos recursos naturais da terra
indígena, e buscaram junto à UFMG a elaboração de um plano de gestão ambiental da terra indígena. A
partir dessa demanda é que foi elaborado no mesmo ano o Relatório de “Renda e Consumo Alimentar de
Rancharia”, com base na pesquisa “Conhecendo a Economia Xakriabá”.
De forma geral, nos últimos 20 anos o quadro da vida tem mudando intensamente entre os Xakriabá. Essas
mudanças são provocadas por diversos fatores, dentre eles a presença maciça do Estado via seguridade
social, a partir de 1988, via políticas sociais de transferência direta de renda, via contratação de
funcionários, tais como professores, serviçais, mas também agentes de saúde, agentes sanitários,
vereadores e funcionários da prefeitura. Esse fator tem levado a muitas famílias uma regularidade de renda
com a qual não contavam até muito pouco tempo, tornando o assalariamento um ideal a ser perseguido
pelos jovens. Em síntese, trata-se de um processo de crescente monetarização da vida em todos os seus
aspectos.
Em Rancharia essa situação é a mesma, sendo que hoje praticamente todas as famílias contam com
alguma renda permanente. Situação bem diversa daquela encontrada há dez anos, em que as duas fontes
principais da renda Xakriabá, a produção agrícola e a assalariamento externo, mediante contratações
temporárias, seja nas lavouras do entorno, seja nas lavouras de cana, café e outras monoculturas em
outras regiões de Minas Gerais, mas principalmente em São Paulo, Mato grosso do Sul e Goiás, proviam
rendas intermitentes. Mas se no passado havia certo equilíbrio entre a entrada de renda e a produção local
para o consumo das próprias famílias, para o período atual podemos constatar um forte desequilíbrio a
acentuar a entrada e a dependência de renda à medida que decresce a produção de gêneros alimentícios
e outros gêneros produzidos no passado.
30 Trata-se de uma estimativa elaborada com base nos dados da Pesquisa Conhecendo a Economia Xakriabá.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 127
No caso dos criadores de gado, estes têm alocado significativo aporte de recursos para a compra de
matrizes bovinas via PRONAF/B (rebatizado para Agroamigo), assim como um grande número de não-
criadores passaram a acessar recursos desse programa também para a compra de gado. A maior parte
dos recursos desse programa destinados ao município de São João das Missões vai para os índios, numa
cifra de 90% dos recursos. Em 2009, 19 famílias da aldeia Tenda acessaram esse recurso.
Assim, a pecuária vem se constituindo como a matriz produtiva de base exportadora local, em substituição
do que fora no passado o algodão e a mamona, como lavouras tipicamente comerciais, e o milho, o feijão e
a farinha de mandioca que, quando excedentes do consumo da família extensa, eram comercializados. A
pecuária também tem se tornado um fator a mais a contribuir para a diminuição da produção agrícola
destinada ao consumo direto das famílias, pois muitas das melhores terras cultiváveis são transformadas
em pastagens. A necessidade de terras cada vez maiores para o gado tem levado ao cercamento de áreas
antes de uso coletivo, ainda que estas de reconhecido direito pertencessem a alguma família em particular.
Essa intensificação do uso das terras pela pecuária tem gerado inúmeras disputas pela posse da terra, com
um incremento no quadro de conflitos internos.
Como uma síntese provisória para esse quadro mudanças, podemos dizer que à medida que os Xakriabá
avançam na modernização da vida social, principalmente através da monetarização, via assalariamento,
ocorre uma transformação mais profunda na base produtiva da economia local. Primeiramente porque a
agricultura das roças de sequeiro cada vez mais se torna menos significativa enquanto fonte de provisão.
Antes as roças Xakriabá se constituíam como o centro da vida social e econômica do grupo, pois as roças
e as áreas de serviço em torno da casa são espaços de sociabilidade e aprendizagens. Nesses lugares,
cada qual com seu tempo, seu ritmo, seu ciclo, sua sazonalidade, as pessoas Xakriabá forma a
compreensão de si e a cosmologia particular do grupo.
Essas mudanças, todavia, não afetam a cultura do grupo no sentido de por em perigo sua continuidade.
Mas entre o trabalhador do roçado, geralmente mais velho, e o assalariado, mais jovem, emerge um
conflito em termos de visão de mundo (e de cosmologia, talvez) e de maneiras de conceber a vida social.
Parece não se tratar simplesmente de mais um conflito geracional, pois se evidenciam transformações de
natureza mais profunda na sociedade e na cultura do grupo. De toda forma, esse processo faz parte de
série de elementos em transformação, muito mais amplos, que constituem a dinâmica da cultura.
Outra conseqüência dessa passagem de modo de vida, em que se produzia para viver para um modo em
que se aliena o trabalho em troca de salários, é a redução do circuito das trocas locais entre membros das
famílias, das famílias entre si e entre as aldeias. Os circuitos das trocas internas de produtos e trabalho,
geradores de uma forma de sociabilidade que vinculava famílias e aldeias numa rede societária cujas
tramas principais são constituídas pelas relações de parentesco, cedem lugar ao mercado, à compra de
gêneros alimentícios e outros bens no comércio das cidades vizinhas. E o trabalho temporário cada vez
mais alonga os períodos de permanência dos trabalhadores fora da terra indígena, trazendo novos
elementos ao quadro das experiências de vida dos Xakriabá, nem todas elas vistas como benéficas para a
31
cultura do grupo .
Outro aspecto dessa tensão gerada pelo processo de modernização relaciona-se ao controle que o grupo
almeja em termos de regras sociais e de um ideal de vida pensado para a coletividade étnica. Se, do ponto
dos indivíduos e das famílias, há uma extensa lista de bens e valores de uma nova pauta de consumo
desejada e ainda não atendida, reforçando o ideal do assalariamento como ideal de vida, do ponto de vista
do grupo étnico, e em consideração aos seus valores culturais, essas alterações geram focos internos de
tensão que relacionam todos os aspectos da vida social em seu ambiente. Essas transformações
Para 2009 podemos fazer uma atualização para esses dados, o que revela uma mudança no que se refere
à principal fonte de renda.
Dos 191 núcleos familiares distribuídos em 165 domicílios 115 recebem a Bolsa Família, e esta sem dúvida
constitui a maior mudança. Mas há também uma mudança nos níveis de emprego da população, fazendo
com que esta seja a variável que apresenta a maior fonte de renda para as Famílias.
Somente dentro da Terra Indígena 25 pessoas são assalariadas, estando empregadas nos serviços de
educação e saúde. Pode-se dizer que são assalariados permanentes, exceto as que estão na função de
serviçais da escola indígena, pois ali a comunidade instituiu uma modalidade de rodízio de trabalho anual,
sendo que ao fim desse período outra pessoa assume o trabalho. Todas as mulheres que se interessarem
podem concorrer a esse trabalho.
Um conjunto de 33 pessoas que moram em tempo integral em Rancharia tem emprego permanente, sejam
os de carteira assinada na ICIL, os funcionários públicos estaduais e municipais, sejam aqueles que
Agricultura
A agricultura é a principal atividade produtiva exercida pelos Xakriabá de Rancharia em seu território. O
relatório preliminar da pesquisa “Conhecendo a Economia Xakriabá”, realizada pelo CEDEPLAR/UFMG em
parceria com a Associação Indígena Xakriabá em 2005, aponta que a maior parte dos entrevistados entre
10 e 79 anos (39,5%) declara ter como principal ocupação o trabalho na roça. Além disso, 68,5% dos
entrevistados declaram ter o trabalho da roça como um de suas três ocupações mais significativas. A isso
se soma o fato de que a Rancharia tem uma grande área de terra preta e terra roxa tidas como as áreas
mais férteis para o plantio dentre todas as terras xakriabá.
O plantio, até passado recente, era realizado nas chamadas roças de toco, que consistia na derrubada de
uma área dentro da mata e conseqüente queima das árvores derrubadas. É comum no Brasil a
denominação desse processo como lavoura de coivara. Seu processo permite o brotamento e a formação
de capoeira, e constitui sistema de rotação de áreas com o descanso da terra por vários anos, às vezes
décadas.
A roça de toco leva esse nome porque os tocos das árvores não eram arrancados, podendo rebrotar
quando ela fosse abandonada em prol de outra área. A roça de toco é referida pelos mais velhos como
uma roça mais fresca devido ao fato de ser cercada por mata, e por isso mais propensa a resistir longos
períodos de estiagem.
Na Terra Indígena Xakriabá Rancharia, atualmente, em função da derrubada da maior parte da mata
nativa, as roças são plantadas sempre na mesma localidade, sendo que para tanto se usa a aragem das
áreas de cultivo. E há uma área que concentra as roças, na localidade de nome Cabeça d’Anta. Antes da
demarcação esta localidade era uma fazenda, e com a desapropriação essa área se tornou de uso coletivo,
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 130
onde a maioria das famílias de Rancharia põe roça. Mas além das roças dessa localidade, há várias outras
roças em áreas de uso exclusivo de cada de determinada família. Cabeça D’Anta foi instituída como uma
área a ser partilhada por todas as famílias da TIXR, para que cada uma delas pudesse contar com uma
área para plantio.
O produto mais plantado entre os Xakriabá de Rancharia é milho, seguido pela mandioca e pelo feijão de
arranca. O milho é um produto importante por seu uso para alimentar pequenos animais, criados pelos
indígenas para consumo doméstico, além de ser processado para produção de farinha e fubá. Mas a
mandioca e o feijão são os mais importantes itens da alimentação Xakriabá, o que forma sua base, uma
vez que a chamada farofa de feijão é consumida pela manhã e também durante o dia em tempos de
dificuldade. As principais roças, no entanto, são de milho, e em meio a ele se planta o feijão andu, o feijão
de arranca, o maxixe, a abóbora, o melão, a melancia e a batata-doce. Muito ocasionalmente se planta o
arroz, e quando esta plantação ocorre é realizada nas áreas úmidas dos furados.
Em décadas passadas foram praticadas lavouras comerciais de mamona e algodão, sendo a mais
importante delas a do algodão, o qual deixou de ser produzido em função das pragas que atacavam as
maçãs do mesmo em sua fase de desenvolvimento. Recentemente, com a implantação de uma usina de
biodiesel em Montes Claros, a mamona voltou a ser produzida, tornando uma lavoura comercial de
significativo rendimento.
A média de produção de uma roça de mamona é de três t/ha, sendo que cada família planta uma área de
varia de uma a dois hectares, em alguns casos chegando a até quatro hectares, embora seja raro devido
ao investimento inicial que é preciso ser feito para o plantio. As safras são vendidas à PETROVASF, em
Itacarambi, esmagadora que extrai o óleo da planta e revende à usina da Petrobrás em Montes Claros.
O plantio da mamona é simples, sendo usada uma espécie nativa da região. Durante a colheita os cachos
da mamona são cortados e postos a secar ao sol. Quando esse processo se completa e há o suficiente
para encher um caminhão, o comprador busca o produto na terra indígena, pagando o preço de acordo
com um contrato assinado previamente. A última safra foi vendida a R$0,70 o quilo, e o produto tem se
tornado uma fonte de renda importante para os Xakriabá de Rancharia.
Pecuária
A criação de gado bovino em Rancharia não é intensa como em outras áreas da Terra Indígena Xakriabá,
mas tem aumentado progressivamente através dos programas de financiamento para a agricultura familiar
que incentivam os indígenas a aumentar seu rebanho. Desde que foi eleito prefeito indígena em São João
das Missões a prefeitura tem cuidado para que não haja inadimplência do município em relação ao
PRONAF/B (rebatizado como AGROAMIGO), para que não cesse esse crédito para o município. O
programa já era acessado desde a sua implantação, mas o aporte de recursos para a terra indígena se
torna muito maior a partir de 2004. A quase totalidade dos recursos desse programa é aplicado na compra
de gado bovino, sendo que para o ano de 2009 houve apenas um financiamento aplicado à criação de
pequenos animais.
Em 2009, por exemplo, 19 famílias da TIXR receberam o benefício. E grande parte dessas famílias já o
fizeram em anos anteriores. Não há maior número de criadores em função de que a apropriação de
recursos territoriais se concentra em posse das famílias mais influentes, desde o período anterior à
demarcação, não havendo, portanto, terras para que todas as famílias sejam criadoras. De forma geral a
intensificação da criação de gado tende a gerar conflitos, em função dos cercamentos que são realizados.
Embora a terra indígena seja retalhada em parcelas de posses cada uma delas controlada por uma família,
em função de um direito de uso reconhecido, das benfeitorias e do uso costumeiro, o cercamento fere um
princípio de uso também difundido, de caráter coletivo, de história já bastante antiga, segundo o qual os
fundo-de-pastos são áreas onde todos podem soltar o gado para a pastagem.
Não fosse isso, a criação de gado bovino seria bem maior, pois o interesse pelo gado é geral, e os
incentivos do programa AGROAMIGO são enormes em função do abatimento no valor do empréstimo
contraído, de 25%, para aqueles que pagam o financiamento em dia. O gado representa para os Xakriabá
uma espécie de poupança, sendo uma fonte de renda com a qual uma família pode contar ao longo um
longo período de seca ou em caso de emergência.
Outras atividades produtivas são a caça, a extração mineral (cal e paralelepípedos), além da coleta de
madeira para lenha.
Ao caçar os Xakriabá utilizar uma espingarda que chamam de rabo de cotia. De cano longo e fino, a rabo
de cotia é fabricada de maneira artesanal usando material comprado especificamente para sua manufatura,
ou mesmo sucata. A arma é carregada com cargas de pólvora e chumbo, usando-se uma bucha que pode
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 131
ser feita com embira ou ninho de pássaro, e disparada através da explosão de uma espoleta. É usada para
caçar todo tipo de animal, podendo ser usada até mesmo para matar animais de médio porte, como
veados. O cravinote, arma de maior poder de fogo, também pode ser usado para caçar animais mais
perigosos como porcos do mato ou onças. Os caçadores carregam em suas capangas o material
necessário para recarregar as armas, sacos de linha para levar a caça e também uma lanterna. Antes do
advento da lanterna usava-se um chumaço de algodão acesso amarrado ao cano da espingarda.
Há dois tipos de caça praticados pelos Xakriabá. A primeira é a chamada espera, onde um ou mais
caçadores se dirigem a uma área onde animais caçados circulam, sobem numa árvore e literalmente
esperam até que a caça apareça. A espera costuma ser praticada durante a estação seca, no período
noturno, já que grande parte dos animais caçados possui hábitos notívagos. Os caçadores aproveitam o
fato dos olhos dos animais brilharem à luz da lanterna para aumentar suas chances de sucesso. Outra
maneira de caçar é acuar o animal, usando cães. Essa modalidade é praticada perto de áreas onde é
possível cercar o animal com ou sem o auxílio de armadilhas.
A Terra Indígena Xakriabá Rancharia teve sua fauna reduzida drasticamente durante as décadas de 80 e
90, antes de sua demarcação, quando as carvoarias das fazendas ali transformaram a quase totalidade da
mata nativa em carvão. Os animais silvestres tradicionalmente caçados ainda podem ser encontrados nas
beiradas e no alto da serra. Os Xakriabá de Rancharia, no entanto, podem andar longas distâncias em
busca de caça, dirigindo-se às grandes áreas de gerais situadas entre a aldeia Prata e a região do
Custódio, na Terra Indígena Xakriabá. A lista a seguir inclui todos os animais que os Xakriabá listam como
possível caça, mesmo aqueles que raramente são caçados:
Quadro 5.46
Animais potencialmente caçados
Nome Vulgar Nome Científico Denominação Xakriabá
Pecari Tayassu tajacu Porco Catitu, Porco do Mato
Queixada Tayassu pecari Porco Queixada, Porco do Mato
Tamanduá Mirim Tamandua tetradactyla Melete, Mixila
Tamanduá Bandeira Myrmecophaga tridactyla Bandeira
Mocó Kerodon rupestris Mocó
Veado Catingueiro Mazama gouazoubira Catingueiro
Veado Mateiro Mazama americana Mateiro
Cotia Dasyprocta aguti Cutia
Paca Cuniculus paca Paca
Tatu Galinha Dasypus novemcinctus Tatu Galinha, Tatu Preto
? ? Tatu Rabo de Couro
Tatu Peba Euphractus sexcinctus Tatu Peba
Irara Eira barbara Papa Mel
Ouriço-Cacheiro Erinaceus europaeus Ouriço-Cacheiro
Jaratataca Conepatus semistriatus Gambá
Gambá Gênero Didelphis Saruê
Mão-Pelada Procyon cancrivorus Mão-Pelada
Guaxinim Procyon lotor Guaxo
Coati Nasua nasua Coati, Rabo Listrado
Onça Parda Puma concolor puma Suçarana
Onça Pintada/ Preta Panthera onca Pintada/Lombo Preto
Teiú Tupinambis merianae Tiú
Zabelê Crypturellus noctivagus zabele Zabelê, Zebelê
Inhambu Gênero Crypturellus Lambú
Codorna-do-Campo Nothura maculosa Cadorna
Perdiz Rhynchotus rufescens Perdiz, Inhambupé
A lenha é um recurso importante para os Xakriabá, pois mesmo com o advento dos fogões a gás na terra
indígena, as casas apenas fazem o uso deles para ferver água e preparar alimentos com rapidez. A maior
parte das famílias usa carroções para buscar lenha na mata e estocá-la próximo às casas. Aqueles que
não podem fazê-lo pagam entre R$ 30 e 40 por um carroção cheio. A lenha é retirada das áreas da
Caatinguinha, do Boqueirão de Pulu e da Cabeça d’Anta, principalmente nesse último lugar, já que também
é onde as pessoas trabalham diariamente nas roças.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 132
A madeira também é retirada para uso próprio, principalmente para construção. Antes, a maior parte
provinha da Cabeça d’Anta, que foi devastada durante o tempo das carvoarias. As madeiras mais usadas
pelos Xakriabá de Rancharia são o angico, o itapicuru, a aroeira, o capim-açu e o pau d’arco. A aroeira é
usada para fazer esteios de casas, e as linhas e caibros são feitos de capim-açu e pau d’arco. O itapicuru é
usado para cercar e, no passado, também se fazia curral de varas com ele. O Jacarandá, que não se
encontra mais na região, era usado para fazer móveis. Segundo S. Silvino, liderança de Rancharia, “o
carvão a gente não faz mais nem pra despesa. É que se deixar fazer carvão pra despesa acaba fazendo
pra vender também e isso a gente não quer.”
A extração de cal era feita antigamente com a única finalidade de usar o produto para rebocar as casas. A
cal era feita em pequena quantidade com auxílio de fornos e usando “lenha fina”. Recentemente algumas
empresas agropecuárias da região passaram a comprar cal dos indígenas, e a extração do produto vem
crescendo. A maneira de se fazer cal em grande quantidade consiste em retirar toras de árvores e montar
uma espécie de “arapuca” com paus e pedras, à qual se deve atear fogo. A queima dura dois dias inteiros,
depois dos quais se joga água para retirar a cal das pedras, que é então amontoada e ensacada. Uma
empreitada dessa natureza produz até 200 sacos de cal e exige o trabalho de 5 homens adultos para
arrancar a lenha, retirar as pedras e transportá-la com o auxílio de uma junta de bois. O valor do saco de
cal gira em torno de R$ 15 e 20.
O paralelo é retirado do Boqueirão de Pulu e da Cabeça d’Anta, usando marretas. É vendido para as
prefeituras locais, principalmente a prefeitura de São João das Missões, por R$ 80 ou 90 o milhar. É uma
atividade exercida por muitos homens, que geralmente se organizam em duplas para trabalhar.
Embora a fabricação e circulação do artesanato sejam intensas na Terra Indígena Xakriabá, em Rancharia
ela não se concretiza. Entre os Xakriabá a maior parte do artesanato é vendida para consumo interno,
sendo observável um grande aumento do uso de adornos nos últimos cinco anos. Na Terra Indígena de
Rancharia há poucos artesãos e mesmo poucos Xakriabá que fazem uso de adornos, algo que é motivado
pela “vergonha” segundo os mais velhos. Atividades de manufatura artesanal para além dos adornos
incluem a cerâmica e a carpintaria. Há senhores que ainda dominam a técnica de fabricação de engenhos
e carros de boi, mas estes não são mais usados nas atividades produtivas.
A técnica cerâmica Xakriabá sofreu uma interrupção durante o tempo de invasão dos fazendeiros a suas
terras, e a fabricação de peças tem retornado aos poucos. Em Rancharia ainda se fabricam tijolos e adobe,
mas as telhas artesanais foram abandonadas em prol das industrializadas (MARIZ:1982, 62).
A Terra Indígena Xakriabá Rancharia abriga algumas das áreas mais importantes da religião tradicional dos
Xakriabá. Às vezes referida como segredo ou segredo de índios, é marcada pelo ritual do Toré e pela
relação com os encantados e os espíritos dos ancestrais. O caráter discreto envolvendo os trabalhos e o
Toré faz com que haja pouca literatura a respeito, além da grande relutância que os indígenas têm em falar
sobre o assunto com estranhos e não-iniciados.
Um dos motivos alegados para que a religião seja tratada como segredo foram as perseguições
empreendidas contra os indígenas. Emílio Gomes de Oliveira atesta que o principal motivo da Revolta do
Curral de Varas foi o fato do curral ter sido erguido próximo a um terreiro de Toré, representando um
desrespeito aos locais sagrados xakriabá.
Emílio: [...] Que esse Capitão Delfino era comandante da polícia. E eles tava lá concentrando, o
trabalho deles, a religião. E eles invadiu a religião, que foi nesse lugar adonde tinha esse curral de
vara. Eles foi fazer esse trabalho lá, na beira do rio. Foi lá tem o curral de vara, na beira do rio. Que
aqui, os índio andava fazendo a religião, na reserva toda né. O blocozinho, né. Fazia num canto,
fazia em outro, em outro... Era assim a união, né. O povo chamava de união. Andava o grupo para
fazer esse trabalho. [...] Aí aconteceu desse Capitão... e com essa polícia e foi invadido, porque
eles achava que tava fazendo coisa contra o branco. (...) Então foi por isso que foi... judiou,
espancou índio muito, acho que até.... nós num sabe se tem índio sumido, ou se foi matado, ou
como é que foi. Diz que espalharam e outros sumiram, dessa vez. Então, (...) muito chefe dentro
dessa religião desapareceram, né. Aí eles queimaram o curral do fazendeiro, de dança né. Eles
queimaram (EMÍLIO, EMBAÚBA, 1995).
[...] a construção do curral teria ameaçado não apenas a terra, mas o que é, hoje percebido como o
cerne e o sustentáculo da identidade coletiva. Em uma das versões correntes, esta ameaça se
concretiza no motivo que induz os moradores à ação: o curral teria sido construído ao lado de um
dos terreiros de Toré. As represálias que se seguiram teriam forçado os herdeiros a ‘enterrar’ –
esconder e tornar segredo, mas também enterrar no sentido literal da palavra – sua religião
(SANTOS, 1997:51-52)
A TIX Rancharia abriga grupos de famílias cuja origem remonta às aldeias Brejo do Mata Fome, Riachinho,
Pedra Redonda e Riacho Comprido. Trata-se de aldeias muito antigas, algumas delas citadas como
principais locais de habitação dos Xakriabá no começo do século XX pelo cônego Maurício Gaspar, e
também conhecidas pelos próprios indígenas como o meio ou miolo de sua terra, no sentido de que
abrigam os mais antigos grupos xakriabá, chamados de troncos antigos (SANTOS, 1997:33-34, 173). Mas
diversos fatos históricos atestam a fixação de famílias indígenas no local desde tempos antigos.
As principais famílias da Rancharia são os Gomes de Oliveira, tronco antigo do qual se originam a maioria
dos chefes Xakriabá, os Lacerda, os Possidônio e os Rodrigues. Mas há também os Nunes, os Lopes. As
famílias de sobrenome Gomes de Oliveira, assim como os Nunes e os Lopes têm origem em aldeias da
TIX. Os Possidônio, os Lacerda e os Rodrigues se originam de grupos de habitantes antigos da própria
Rancharia, mas todos eles, em função dos inter-casamentos, têm parentesco com membros da outra terra
indígena, ou mesmo com pessoas que são originárias dela.
Não há qualquer interdição de casamento entre os diversos grupos familiares da TIXR, embora tenha
havido uma divisão em metades cerimoniais, operante até meados do século XX, baseada em obrigações
rituais e questões relativas ao segredo e ao Toré, principal ritual da religião tradicional dos Xakriabá.
As relações dos Xakriabá de Rancharia com os indígenas das demais aldeias da Terra Indígena Xakriabá
são marcadas pelo ritmo das celebrações religiosas, casamentos e funerais (os últimos chamados
localmente de sentinela),sendo estes os principais motivos de seu deslocamento para a TIX.
Em síntese, as relações têm a marca do parentesco, o qual entre os Xakriabá assume a marca da
parentela ampliada, que engloba como parentes próximos pessoas em posições tais que entre nós seriam
classificadas como parentes distantes. Além do parentesco consanguíneo, há vários processos de
produção do parentesco no qual pessoas afins são englobadas no grupo de parentes em função de
alianças diversas, como apadrinhamento de noivos e crianças, mas também as relações com as parteiras e
com as mães de leite. São também relações produtoras do parentesco os rituais de cura, as bendições, a
iniciação nos grupos rituais do Toré, e mesmo as relações rotineiras de vizinhança, quando marcadas pelas
prestações e contraprestações que caracterizam os processos de produção, distribuição e consumo de
gêneros alimentícios, mas também as trocas relativas a dias de trabalho e a construção de casas, dentre
outros serviços.
A presença do Estado entre os Xacriabá é muito forte, em função da própria presença e atuação da FUNAI
na área, a qual garante uma infraestrutura mínima de comunicação, como a distribuição das
correspondências dos indígenas, de segurança, dado o seu papel de polícia no que respeita à proteção do
território indígena e na administração de conflitos internos, juntamente com o cacique e as demais
lideranças. A FUNAI garante também uma distribuição de cestas básicas em alguns períodos críticos,
principalmente nos anos em que se presenciam os veranicos prolongados que levam à perda da produção
agrícola.
Mas os principais serviços mediante os quais o Estado se faz presente nas TI Xakriabá são os serviços de
educação e saúde. No caso da educação, as duas terras indígenas contam com 07 escolas indígenas
estaduais, nas quais os professores e serviçais são indígenas. As escolas são organizadas de forma
descentralizada, estando presente em 34 endereços. Geralmente a educação infantil e as primeiras séries
do ensino fundamental são realizadas nas aldeias, onde há uma escolinha e uma pequena equipe de
educadores, e os anos finais do ensino fundamental e o ensino médio são oferecidos nas escolas sede.
São quase três mil alunos, cerca de 160 professores e aproximadamente 80 serviçais.
Na TI Rancharia a escola funciona no endereço sede na aldeia Tenda, e funciona com 20 servidores, entre
professores e serviçais. E nelas estudam 243 alunos. Deles, 140 são alunos dos anos iniciais do ensino
fundamental, 74 são alunos dos anos finais do ensino fundamental e 29 são alunos do ensino médio.
No caso da saúde indígena os serviços de saúde são realizados por profissionais não indígenas
contratados pela FUNASA, os quais atendem em postos de saúde e em um hospital instalado dentro da
TIX. Mas as equipes de agentes de saúde, de agentes sanitários e dos técnicos em saúde dental são
formadas por indígenas. Além do atendimento realizado na área indígena, há hospitais conveniados para o
atendimento da saúde indígena nas cidades de Manga, para atendimentos clínicos diversos, e Montes
Claros, onde há atendimento mais especializado.
Tanto no caso da saúde como da educação existe a parceria do município de São João das Missões,
mediante convênios com quais se garante infraestrutura mínima em termos de transporte, contratações de
técnicos e funcionários e estrada.
Mas além dessas políticas públicas do estado os Xacriabá tem acessado recursos de diversos programas
de governo, nas três esferas, sendo que para isso contam com a própria prefeitura, a cooperativa de
produtores do município de São João das Missões e as associações indígenas. Além disso, outro aspecto
de significativa mudança na ação política Xakriabá para a captação de recursos diversos é sua atuação
externa na formação de parcerias que hoje constitui uma imensa e multifacetada rede de atores. A
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 140
formação dessa rede de parcerias se dá também a partir dos anos de 1990, sendo intensificada com a
32
criação das associações indígenas e a instituição da Escola Indígena diferenciada .
Essa rede foi forjada na busca de recursos de desenvolvimento, num primeiro momento, mas logo se
estendeu para o campo da capacitação para as lides com os meandros da burocracia estatal. Essa
capacitação demandava principalmente assessoria técnica. Ambas as frentes, de busca de fomento e de
formação de pessoal qualificado, envolveram uma ampla gama de órgãos estatais e instituições públicas,
como MDA, MMA, MEC, UFMG, CEFET – Januária, mas também ONGs e diversos movimentos sociais
que atuam em rede e promovem capacitação e troca de experiência. Com essas parcerias se multiplicam
os embates em torno do desenvolvimento (cultural, social, ambiental, político, econômico) e das
alternativas de sustentabilidade em todas essas esferas da vida do grupo étnico.
Um dos primeiros passos ensaiados pelos Xakriabá no sentido de atuar com a gestão própria de projetos
indígenas foi a criação das associações indígenas. O objetivo primeiro era a captação de recursos. As
primeiras experiências das associações na lida com os projetos revelaram as dificuldades que teriam que
enfrentar, sejam elas relativas aos processos burocráticos de gestão de recursos públicos, sejam elas
relacionadas às capacidades técnicas necessárias para a execução de muito dos projetos que implicavam
para o grupo, em inovações técnicas, as quais, do ponto de vista da experiência se situavam num horizonte
de alcance muito distante da realidade indígena. Em função dessas dificuldades, uma das principais
demandas do grupo no início da década de 2000 foi a capacitação para a elaboração de projetos e sua
33
gestão, sendo esse o primeiro apoio buscado pelas novas associações que se formavam . Uma das
alternativas encontradas pelo grupo para superar essas dificuldades foi buscar parcerias que os
auxiliassem no enfrentamento dessas dificuldades.
Os problemas enfrentados hoje pelos Xakriabá em relação à sustentabilidade e à sua organização social
com base no território articulam diversos planos: o econômico, com a necessidade de se instituir formas de
geração de renda vinculadas ao território, assim como de reconfiguração das estratégias de reprodução
ampliada da vida; o social, na medida em que a saída em massa de jovens em busca de recursos
monetários tem desdobramentos internos decisivos nas formas de organização e sociabilidade locais; o
político, em um quadro de indefinição legal quanto ao estatuto das relações entre os diferentes agentes de
regulação do Estado e os povos indígenas; o simbólico e cultural, em função do forte processo de
reconstrução das referências culturais tradicionais que produzem contemporânea e simultaneamente uma
modernização das tradições indígenas e uma indigenização da modernidade (SAHLINS, 1997); o
ecológico, com a pressão demográfica e produtiva sobre um sistema de limites territoriais fechados que
caracteriza a atual definição legal das terras indígenas.
Nesse quadro complexo, a busca por alternativas de produção, medida que resulta da busca mais geral por
sustentabilidade (SANTOS, RODRIGUEZ, 2002), se coloca ainda como um desafio que os Xakriabá
partilham com os demais povos indígenas e que diz respeito à sociedade brasileira no seu conjunto.
O resultado dessa política Xakriabá de fortalecimento institucional, principalmente através das parcerias, foi
a formação de um amplo leque de atores, os quais por sua vez formam redes que atuam em função de
questões específicas de alcance muitas vezes em todo o território nacional, mas que também diz respeito à
1
questão indígena. Essa rede envolve pessoas ligadas ao governo, como exemplificam as relações com
membros e políticas de vários ministérios do governo federal, como MDA, MMA e MEC. Além desse
também há parcerias com instituições públicas do Estado como o DENOCS, o Banco do Nordeste, a
CODEVASF, a CONAB, o CEFET Januária, UFMG, esta via FAE, ICA e CEDEPLAR. Há também as
entidades ligadas ao governo de Minas Gerais, como o IDENE e o CONSEA. De parte da sociedade civil
há movimentos e entidades dos mais variados fazeres, dentre eles o Conselho Indigenista Missionário -
CIMI, Centro de Agricultura do Norte de Minas – CAA/NM, Cooperativa Grande Sertão, Rede Cerrado,
Casa Verde, Rede Pacari, PERMEAR – rede de permacultores, através do Instituto de Permacultura
Cerrado-Pantanal, o Instituto Sociedade, População e Natureza, a Caritas Brasileira, a Pastoral da Criança
dentre outros.
32 Em 1997 se institui a escola indígena e se inicia a formação de professores indígenas em nível de magistério, sendo que a primeira
turma se forma em 2000, a segunda em 2004 e a terceira em 2008, formando mais de 150 professores. E em 2006 se inicia a
licenciatura indígena na UFMG, que passa a ser cursada por 110 professores indígenas Xakriabá. Com isso se põe fim a uma
demanda de ingresso escolar retida e que gerava um alto índice de analfabetismo entre população adulta. Se em 1997 a escola
indígena Xakriabá tinha pouco mais de 500 alunos, esse número praticamente quadruplica em 2005 com seus mais de dois mil
alunos. Bem antes das mudanças resultantes da escolarização interna, a trajetória de formação dos professores indígenas, em
particular o contato de novas formas de pensar a ação política – ideologicamente libertárias, emancipatórias e democratizantes – se
torna muito favorável à formação de novas lideranças políticas. Assim, desde 2002, uma primeira geração dos professores Xakriabá,
ensaiava as primeiras idéias para por em prática o plano de se lançarem na disputa do governo municipal de São João das Missões.
33 Foi nesse âmbito que se iniciou de forma mais sistemática uma parceria das Xakriabá com grupos de pesquisa da UFMG,
articulando então duas fontes de financiamento: a realização de uma diagnóstico da economia, um projeto proposto ao CERIS pela
AIX e implementado em parceria com o Grupo de Educação Indígena/Faculdade de Educação e com o Cedeplar/ Faculdade de
Economia em projeto financiado pelo MDA.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 141
Os recursos públicos acessados pelos Xacriabá através dessa rede de parcerias incluem recursos estatais,
de ONGs brasileiras e mesmo da cooperação internacional.
Sobre as modalidades de acesso, em nenhum desses programas o indivíduo ou família tem acesso direto.
Mesmo quando se trata de uma política de crédito, como é o caso da a disponibilização de recursos do
programa AGROAMIGO aos produtores familiares, o acesso se dá mediante aval realizado pelas
associações comunitárias.
Assim, para as famílias da TIXR o aval é dado pelo presidente da Associação Indígena Xakriabá da Aldeia
Tenda, presidida atualmente pelo cacique. Mas a maioria dos recursos se dá por meio de projetos
comunitários que através dos quais as associações indígenas respondem aos editais de programas os
mais diversos, sendo que na maioria das vezes elas adéquam suas demandas às exigências dos editais.
Ocorre com frequência que os projetos que de fato fazem parte do anseio do grupo ficam dez anos e mais
sem serem contemplados, ou mesmo nunca o são.
A modalidade de projetos se aplica inclusive ao campo da educação e cultura, contando-se para isso os
projetos de produção de material didático para as escolas indígenas e os projetos do programa Prêmios de
Cultura Indígena.
No que diz respeito à AIXT (Associação Indígena Xacriabá Aldeia Tenda), embora seja uma associação já
antiga, ela teve relativamente pouco êxito no acesso aos recursos dos programas aos quais concorreu.
Diversos fatores tem contribuído para isso, sendo que merecem destaque:
a política de cotas étnicas estabelecidas em vários programas voltados para os índios, sendo que
muitas vezes se atende a cada etnia com um projeto, desconsiderando o contextos
socioeconômicos, ambientais e populacionais. No caso Xacriabá, como se trata de uma etnia com
uma população de quase 10 mil índios, cuja magnitude é na maioria dos casos desconhecida,
geralmente se beneficia uma dentre todas as aldeias proponentes de projetos. Assim, aquelas
associações mais fortalecidas institucionalmente tendem a captar mais recursos, em detrimento das
outras. E no que respeita à ação das AIX’s não se estabeleceu ainda uma política de representação
centralizada.
em muitos casos se colocam condicionantes para os projetos, tais como contrapartida comunitária e
medidas preservacionistas relativamente ao meio-ambiente, ou mesmo medidas de recuperação
ambiental, para as quais as comunidades não têm recursos humanos e técnicos para responder
positivamente.
a falta de capacitação de agentes locais a elaboração de projetos, para encaminhar toda a
documentação e para o acompanhamento institucional que garanta que as informações circulem de
ambos os lados.
a falta de apoio técnico das parcerias. Embora sejam muitas, elas concentram sua atuação em
algumas aldeias, deixando várias delas sem apoio institucional e técnico para adequação de suas
demandas e elaboração de projetos segundo as linguagens específicas estabelecidas por cada
órgão em seus editais.
Diante desse quadro de fragilidade institucional, a AIXT teve um único projeto comunitário aprovado e
executado em toda a sua história, a saber, a construção da Casa de Farinha. Trata-se de projeto enviado
ao programa Carteira Indígena em 2005. Para esse projeto a associação contou com a parceria e
cooperação técnica de diversos atores. Mas a apresentação da proposta, no entanto, estava condicionada
a várias cláusulas, modo que os indígenas de Racharia tiveram que abandonar suas demandas em função
de uma alternativa de baixo impacto, tendo em vista que a produção de mandioca é de baixo custo laboral
e ambiental, e com alto retorno econômico tendo em vista o investimento inicial.
No entanto, dentre suas demandas que já foram elaboradas em projetos, estão a aquisição de uma trator
com implementos para aumentar a produção local das roças, e a recuperação da lagoa, sítio sagrado na
memória histórica de Rancharia, e degradado em função de fatores antrópicos diversos e ao longo de toda
a história de ocupação do Vale do Riacho Seco.
As políticas públicas de maior impacto entre os Xakriabá são as políticas sociais de transferência de renda,
em particular o Bolsa Família. E de forma mais geral, em termos de emprego e renda, o Estado, via
seguridade social e via funcionalismo, é o ente que mais gera dividendos para os Xacriabá.
Muitas transformações ocorreram entre os Xakriabá desde a demarcação das duas terras indígenas, as
quais dizem respeito a aspectos legais, principalmente em função dos reconhecidos direitos indígenas
incluídos na Constituição Federal de 1988, mas também em função dos contextos locais, regional e
nacional com os quais eles se relacionam política, econômica e socialmente.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 142
Mudanças recentes também ocorreram na organização social Xakriabá, notadamente aquelas que estão
em relação direta com a emergência das associações indígenas e da atuação de novas lideranças na
busca e acesso a políticas e programas sociais das três esferas do Estado Brasileiro, União, estado e
município.
O principal aspecto dessas transformações diz respeito à transição pela qual o grupo passa em relação à
gestão de projetos de interesse comunitário e aos desafios que a implementação desses projetos traz para
o grupo indígena na sua relação com o território. Essas ações implicam mudanças no plano societário, o da
organização social, na esfera produtiva e na economia de forma geral, mas também se reflete na cultura e
na identidade do grupo.
Até meados dos anos de 1990, a FUNAI foi o órgão tutelar que desde a criação da Terra Indígena Xakriabá
no final dos anos 1970 mediou as relações do grupo com as diversas outras esferas do Estado e da
sociedade. Em 1988, a nova Constituição Federal propicia novas formas de relação jurídica dos índios com
o estado brasileiro. A principal mudança, contudo, é a emancipação indígena.
Além disso, novos órgãos do Estado recebem incumbências para a implementação da política indigenista,
como é o caso da FUNASA, responsável pela saúde indígena, e do Ministério Público Federal, responsável
pela defesa dos índios. Outras situações como a da educação e da assistência, permanecem sob
responsabilidade da FUNAI, mas o Estado cria legislação que delega aos estados e municípios
responsabilidades na política indigenista.
Assim, por exemplo, a educação Xakriabá, embora criada segundo as normas da educação diferenciada
indígena, é mantida pelo Estado de Minas Gerais, o qual vem estabelecendo convênios com a própria
FUNAI e com a UFMG para sua implementação.
O principal marco dos novos direitos indígenas afirmados na Constituição Federal de 1988 se constitui da
possibilidade dos índios criarem empresas, cooperativas, associações, e poderem se representar eles
mesmos enquanto pessoas emancipadas do ponto de vista civil diante dos fóruns administrativos e
jurídicos do Estado. Tal fato do direito permitiu, entre outras coisas, a constituição das associações
indígenas Xakriabá (AIXs). Dessa forma o grupo amplia o acesso direto ao Estado e constrói redes de
relações institucionais, dentro e fora do Estado, para fortalecer a política indígena local.
Enquanto uma nova esfera de poder interna á organização social, as associações indígenas e seus líderes
criam um novo foco de tensão relativamente à organização tradicional, esta centrada no cacique e nos
representantes de aldeia. Essa nova esfera de ação constituída pelas associações indígenas passa a
configurar um novo espaço de poder interno que precisa entrar em concerto com a organização tradicional.
Essa tensão se dá pela introdução de práticas burocratizadas e rotinizadas do planejamento e da gestão de
projetos, as quais fogem ao domínio dos líderes tradicionais. Assim, muitas das funções administrativas
são colocadas nas mãos dos jovens que passaram pelo processo de escolarização. Em Rancharia, no
entanto, as lideranças tradicionais atuam firmemente na condução das ações da associação indígena da
aldeia Tenda, sendo que o seu presidente atual, e já pelo segundo mandato, é o cacique Agenor Nunes, e
outras lideranças locais membros do Conselho Indígena de Rancharia também atuam de forma constante e
efetiva na política indígena.
Mas, de regra, esses dois processos, a escolarização e o exercício de funções administrativas e técnicas,
promoveram muitos desses jovens ao status de líderes. Foram as novas lideranças, por exemplo, que
puseram em curso, desde 2002, as ações em torno do ideal de concorrer às eleições municipais com
chapa encabeçada pelos próprios índios. E tendo os próprios jovens como “cabeças de chapa”, os
Xakriabá venceram duas eleições municipais em São João das Missões, a primeira em 2004, a segunda
em 2008, e em ambas elegeram um prefeito índio e fizeram uma maioria de vereadores índios pra a
Câmara Municipal.
Dessa forma, no momento atual, os Xakriabá buscam sua autonomia enquanto grupo social e étnico
promovendo os acertos que neutralizam os conflitos que emergem dessas duas formas de ação que
marcam a esfera da organização política do território indígena. Uma é aquela representada pelo Conselho
de Representantes das aldeias, o qual é presidido pelo Cacique, e a outra pelas lideranças jovens e
escolarizadas que atuam na prefeitura, na câmara municipal e nas mais de dez associações indígenas
Xakriabá (AIX). Cabe ressaltar que uma delas está organizada numa aldeia de ocupação, em terra
historicamente indígena, mas ainda não demarcada, mas que está sendo reivindicada por um grupo de
mais de 30 famílias. Suas articulações buscam reforçar a luta indígena no que concerne ao processo de
“retomada do território”, forma como eles nominam o processo relacionado à revisão dos limites das terras
indígenas.
Foi com a ação política dos novos líderes que os Xakriabá entraram na luta política mais ampla, o que se
reflete nas eleições municipais. Com essa entrada na política municipal os Xakriabá deram um caráter
A Terra indígena Xakriabá está dividida em mais de 50 localidades reconhecidas como aldeias ou sub-
aldeias. O que primeiramente atribui a uma localidade o status de aldeia é sua importância política. Apenas
secundariamente contam fatores demográficos e territoriais. As sub-aldeias recebem essa denominação
por serem resultado de subdivisões recentes, por seus líderes não conseguirem se alçar ao status de
representantes, e por obedecerem mais a questões da administração pública relacionadas principalmente
aos serviços de saúde. O termo sub-aldeia foi criado pela FUNASA. De forma geral, uma aldeia tem um
representante no Conselho de Representantes, embora isso não seja regra, e de fato há exceções. Em
uma delas, um único líder representa cinco aldeias, e em outro caso outro líder representa três. Tal fato se
deve às alianças políticas e ao parentesco.
De resto, cada aldeia tende a ser formada por um grupo de parentes. E geralmente as sub-aldeias
apresentam como fronteiras os limites de um grupo familiar com vínculos mais distantes com relação à
família que constitui a aldeia principal.
A política interna Xakriabá consiste na política do parentesco, na forma como as famílias se organizam e na
forma como fazem alianças entre si. Cada chefe de família, segundo uma lógica da moral e dos costumes,
em particular o respeito aos mais velhos, é um líder.
Essa organização será mudada a partir da instalação do posto indígena da FUNAI, em 1973, quando se
cria a função de cacique, e a partir da atuação do mesmo são escolhidas algumas lideranças para ajudá-lo
na representação externa, principalmente junto aos órgãos da administração federal em Brasília, onde o
grupo encontrou amparo nas suas buscas por providência quanto a sua situação territorial. A partir do
momento em que a terra é demarcada e homologada, em 1987, se institui formalmente o Conselho de
Representantes, cujos membros, inicialmente em número de doze, são filtrados pelo cacique, que assume
uma posição centralizadora e em muitos aspectos autoritária. Essa organização no início dos anos 90 será
conhecida como a organização tradicional Xakriabá.
Em 1995 o Conselho de Representantes é ampliado para 25 membros, obedecendo ao critério de
representatividade por aldeia, tornando-o mais representativo. Essa mudança só se tornou possível graças
à pressão realizada por lideranças reconhecidas no âmbito de suas aldeias de origem e mesmo em toda a
Terra Indígena. Essa ampliação permitiu melhor acomodação aos interesses das diversas lideranças e
seus respectivos grupos.
No que respeita a Rancharia, foi nesse período, de reestruturação da política interna, que ela é colocada
mais uma vez à margem, em função da aliança do cacique Rodrigão com o prefeito municipal local, à
época o prefeito de Itacarambi. No entanto, a luta política estabelecida por lideranças locais de Rancharia
em alianças com outras lideranças da TIX já experientes relativamente aos trâmites do Estado para a
demarcação de terra indígena é propicia a criação da TIXR.
Nesse mesmo período, em meados da década de 1990, começa a formação das associações indígenas.
Primeiramente é formada a Associação Indígena Xakriabá – AIX, com uma diretoria de 25 membros, todos
eles representantes de aldeia, mais o cacique, seu presidente. Logo em seguida, em 1996, formam-se
outras associações, de âmbito territorial mais reduzido, por aldeias ou grupo de aldeias.
Nesse processo, ao organizarem suas associações comunitárias e construir e ampliar a crescente rede de
parceiros institucionais, os Xakriabá buscam acessar recursos de políticas públicas, tanto dos programas
sociais quanto os fomentos ao desenvolvimento econômico.
O surgimento das associações indígenas Xakriabá está diretamente relacionado ao contexto da
Constituição Federal de 1988, com a qual a FUNAI perde parte de suas prerrogativas em função da
34
emancipação indígena . Nesse contexto houve um retraimento na ação da FUNAI, o qual logo provocou
uma reação, da parte de algumas lideranças, que puseram em marcha uma nova forma de organização
sociopolítica que respondesse à nova forma de estruturação das ações de atendimento às demandas das
34 O texto constitucional diz, no seu artigo 232, que “Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar
em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo”. Com esse texto de
emancipação os índios puderam, pela primeira vez, constituir suas entidades representativas dotadas de personalidade jurídica e
presididas por eles mesmos. Ao mesmo tempo a FUNAI perde parte de suas prerrogativas, pois sua função tutelar estava relacionada
à imputação, até então, da incapacidade civil aos índios.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 144
comunidades indígenas. Atualmente as associações indígenas acionam diretamente o Estado brasileiro,
instituições várias, ONGs de apoio e cooperação, nacionais e internacionais, constituindo uma ampla rede
de parcerias, em busca de apoio a seus mais variados projetos. Como essas políticas geralmente
disponibilizavam recursos para o acesso direto através de projetos administrados pelas associações locais,
tal fato fez crescer o número de associações. Há atualmente dez AIX’s, incluindo a Organização da
Educação Indígena Xakriabá – OEIX, a qual reúne professores, alunos e a comunidade em geral em torno
das demandas da educação Xakriabá, mas que também se articula externamente através de projetos, com
a SEE_MG e com o MEC.
No que respeita a Rancharia, mesmo antes do reconhecimento da terra indígena, as lideranças locais já
atuavam nas ações comunitárias e cooperativas no município. Muitas famílias já participavam de uma
associação comunitária, a Associação dos Produtores Rurais de São Bernardo. Mais tarde, no contexto da
luta pela demarcação da Terra Indígena, criaram a Associação Indígena Xakriabá da Aldeia Tenda, ainda
no ano de 1996. E nos anos seguintes alguns agricultores indígenas se filiam à cooperativa municipal.
Essas formas de associação e cooperativismo, como veremos mais adiante, serão fundamentais para o
acesso de recursos de diversos programas de fomento do estado brasileiro.
A partir desse processo a organização tradicional começa a tomar novos rumos. Deixa de ser centralizada
e autoritária para se tornar mais participativa e democrática.
A atual organização sociopolítica dos Xakriabá, em suas duas terras indígenas, vem sendo construída num
processo dinâmico que permite a acomodação de interesses conflitantes, e ao longo desses mais de 20
anos decorridos desde a homologação da TIX sofreu várias alterações. Tanto no que diz respeito à
organização voltada à acomodação dos interesses internos, como no que respeita à ação política Xakriabá
voltada para relacionamentos externos, podemos destacar para o período atual uma mescla de três
diferentes níveis: o Conselho de Representantes – formado pelos representantes de aldeias e pelo cacique,
que o preside – as Associações Indígenas Xakriabá – AIX e a Administração Municipal.
Em um primeiro nível, persiste uma organização de base territorial, onde cacique e lideranças,
representantes de aldeias e/ou grupos de aldeias tomam decisões consensuais segundo os processos
mais tradicionais (GOMES, MONTE-MÓR, 2008). A composição desse conselho vem sendo alterada e
ampliada, seguindo uma tendência de descentralização das funções de liderança. E coincidentemente as
maiores mudanças na organização interna se dão no período que se segue ao enfraquecimento da FUNAI,
no período pós-1988.
Mas, se por um lado há um processo de descentralização das funções de lideranças, com uma crescente
especialização das funções, por outro lado vemos uma centralização na esfera representativa Xacriabá. É
o que se observa relativamente à situação de Rancharia no contexto mais amplo dos Xacriabá de São João
das Missões. Como a TIXR foi demarcada em sepadado e tardiamente, instituiu-se ali uma liderança
própria, com cacique, vice-cacique e conselho de lideranças, que em nada deve se remeter às lideranças
da TIX. No entanto, o cacique da TIX é por todos considerando cacique geral, o que na linguagem local
quer dizer que sua liderança se estende à TIXR. Em momento nenhum da sua política interna os indígenas
de Rancharia se colocaram em separado. O Antes o contrário, foi num momento muito específico da
relação entre a política indígena, representada pelo cacique Rodrigão, e a política municipal, representada
pelo prefeito de Itacarambi, que os Xakriabá de Rancharia foram deixados à parte, o que explica que a
terra onde habitam tenha ficado fora da demarcação da TIX em 1979, e que o mesmo cacique não tenha
apoiado a demarcação em 1999.
Reforça essa idéia de uma centralização na representação política o fato de que o processo de revisão dos
limites territoriais das terras indígenas xakriabá está sendo coordenado por um mesmo GT da FUNAI, com
o consentimento de todas as lideranças xakriabá. Além disso, o processo de revisão dos limites irá
constituir uma única TIX, que englobará as atuais TIX, TIXR, já demarcadas, a TIXMV (Terra Indígena
Xacriabá do Morro Vermelho) e todas as demais áreas, sejam elas já habitadas ao não por indígenas
xakriabá. Essa política indígena centralizada está sendo historicamente construído pelos Xakriabá e foge à
tendência que se encontro na maioria dos grupos indígenas, que é a de descentralização, a fragmentação,
o faccionalismo e mesmo a cisão étnica, da qual resultam novas etnias.
Num segundo nível de organização da política indígena aparecem as Associações Indígenas Xakriabá
(AIX’s), de caráter comunitário, as quais vêm se organizando por micro-regiões ou mesmo por aldeia dentro
da Terra Indígena, e que contam com participação de novas lideranças que emergiram no cenário político
interno principalmente a partir do advento da escola indígena. A aplicação de políticas públicas diversas
dos governos federal e estadual, mas principalmente as de fomento ao desenvolvimento, de combate a
fome e à seca e as de caráter ambiental, cujos recursos somente poderiam ser acessados mediante
apresentação de projetos, foi o incentivo externo para a formação das associações.
O terceiro nível se constitui na administração municipal de São João das Missões que se torna
majoritariamente indígena, sendo que nos últimos dois pleitos (2004 e 2008) foi eleito como prefeito um
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 145
Xakriabá. E nos dois pleitos também fizeram maioria absoluta de vereadores índios para a câmara
municipal.
A TIX pertencia ao município de Itacarambi, mas com a emancipação de São João das Missões, em 1996,
passou a fazer parte deste município. Nos dois primeiros pleitos da administração municipal, de 1997 a
2004, governos ligados às oligarquias regionais fizeram forte oposição aos interesses indígenas, mesmo
estes tendo elegido como vice-prefeito o cacique.
Também aqui, no quadro da política municipal, se fez repercutir a trajetória de formação de novas
35
lideranças que emergiram no cenário político municipal a partir da escola indígena . Destacados
professores em processo de formação no magistério indígena se tornaram agentes de uma nova leitura da
situação política local e puseram em curso uma estratégia de disputar as eleições municipais com chapa
encabeçada por eles próprios, mas em aliança com a parcela não indígena insatisfeita com as gestões
anteriores. E contaram uma maioria absoluta de eleitores indígenas no município.
A forma estreita como a prefeitura se articula com o conselho de representantes da TIX e com as
associações indígenas a torna uma instância política internalizada quando se trata de suas ações na Terra
Indígena, e de forma geral uma parceira estratégica em função do suporte que pode oferecer as
associações de base comunitária existentes nas TIXs. Outro fator que nos permite pensar a forma como a
prefeitura está internalizada é a instituição das administrações regionais, que subdividiu a área rural do
município em três, sendo que uma delas é a TIX, e outra é centralizada pelo pólo indígena de Rancharia.
Nesses dois casos os administradores regionais são os respectivos caciques.
O povo Xakriabá tem como característica a ocupação fixa em aldeias, geralmente se utilizando das
estruturas residenciais deixadas pelos antigos fazendeiros ocupantes de suas terras originais. O fato que
sua produção estar baseada na agricultura, também influência sua permanência em núcleos residenciais
fixos.Sob este aspecto, a migração e movimentos internos a TI são inexistências, ou insignificantes. A
migração presente entre o povo, já foi abordado no item de demografia.
Grande parte da terra indígena Xacriabá está encoberta por afloramentos calcários, e se constituem de
morros. As áreas efetivamente usadas pelos indígenas são aqueles que integram a planície formada desde
as margens do São Francisco até a serra formada pelos afloramentos. Essa área no passado foi toda
recoberta por vegetação de densa floresta, a qual foi substituída por vegetação secundária, de mata, em
função das lavouras de coivara praticada pelos índios, mas também foi desmatada para a exploração de
madeira e formação de pastagens, sobretudo na segunda metade do século XX. Hoje restam poucas áreas
de matas primárias, geralmente nos pés de morro e nos boqueirões, as quais os índios querem preservar.
No entanto, na a área de planície, há apenas algumas manhas de mata de capoeira, formadas no período
que se seguiu aos desmatamentos sistemáticos realizados nos anos, 70, 80 e 90, quando a terra estava
sob a posse de fazendeiros.
Praticamente toda a terra indígena forma uma única bacia de captação de água das chuvas, a qual
alimenta o Riacho Seco, que corta a terra indígena no sentido oeste-leste, margeando as encostas dos
afloramentos calcários. O Riacho Seco, no período de chuvas, alimenta a Lagoa de Rancharia, esta
formada pela depressão da maior dolina da TIXR.
Nos últimos anos o uso da terra veio sofrendo alterações em função da demarcação da terra indígena, mas
somente em 2008 foram pagas as últimas indenizações, quando saem as últimas famílias que detinham
posse da terra. Como criadoras de gado, elas impactavam muito fortemente a terra indígena, ao mesmo
tempo em que não realizavam nenhuma benfeitoria, como formação de pastagens e bebedouro para o
gado. De forma geral essa transformação no uso da terra implicou numa redução das áreas de pastagens,
as quais foram se degradando pelo uso, não havendo formação de novas áreas, exceto pequenas áreas de
uma ou outra família xakriabá.
35 Em 1997 se institui a escola indígena e se inicia a formação de professores indígenas em nível de magistério, sendo que a primeira
turma se forma em 2000, a segunda em 2004 e a terceira em 2008, formando mais de 150 professores. E em 2006 se inicia a
licenciatura indígena na UFMG, que passa a ser cursada por 110 professores indígenas Xakriabá. Com isso se põe fim a uma
demanda de ingresso escolar retida e que gerava um alto índice de analfabetismo entre população adulta. Se em 1997 a escola
indígena Xakriabá tinha pouco mais de 500 alunos, esse número praticamente quadruplica em 2005 com seus mais de dois mil
alunos. Bem antes das mudanças resultantes da escolarização interna, a trajetória de formação dos professores indígenas, em
particular o contato com novas formas de pensar a ação política – ideologicamente libertárias, emancipatórias e democratizantes – se
torna muito favorável à formação de novas lideranças políticas. Assim, desde 2002, uma primeira geração dos professores Xakriabá,
ensaiava as primeiras idéias para por em prática o plano de se lançarem na disputa do governo municipal de São João das Missões.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 146
O regime de uso da terra se dá sob o direito de uso, sendo que muitas famílias que já tinham o direito
mesmo antes da demarcação da terra permaneceram com esse direito, e as áreas desocupadas pelos
fazendeiros ficaram parte sob uso coletivo e parte tem seu uso ainda não definitivamente assentado no
direito indígena. Exemplo de que o uso da terra ainda não está resolvido é a contenda existente entre a
antiga liderança da TIX, o ex-cacique Antônio Possidônio e o restante dos moradores da terra indígena. A
localidade denominada Cabeça D’Anta constitui exemplo de redefinição no uso da terra de forma que todos
os interesses sejam contemplados. Trata-se de uma fazenda desocupada quando da homologação da
TIXR, que estava assentada numa das áreas mais férteis para o cultivo de roças. Ali se estabeleceu um
uso em que as lideranças distribuíram pequenos lotes de para todas as famílias. Toda família indígena tem
o direito de uma área de cultivo. Quem já não tinha terra em outra localidade da terra indígena recebeu seu
lote no sítio Cabeça D’Anta.
A produção de roça é a mais importante para os Xakriabá, não só do ponto de vista econômico mas
também cultural. Toda família planta uma pequena roça, e grande parte da vida social acontece
relacionadas às atividades que vão do preparo do terreno para o plantio à colheita.
De forma geral todas as áreas de planície da TIXR são agricultáveis, embora algumas partes do terreno
apresentem solos fracos que necessitam correção para se tornarem produtivos. Assim, as principais
localidades mencionadas como localidades de terrenos férteis pelos moradores são a já mencionada
Cabeça D’Anta, de solos avermelhados, e o Boqueirão, de solos mais escuros e também mais arenosos.
De forma geral as terras do Boqueirão são melhores tanto para agricultura como para as pastagens.
Embora essas localidades, dentre outras, apresentem terras boas para a agricultura, a produção de roças
na TIXR é baixa, principalmente em função do ciclo das águas na região, que, combinados os fatores da
irregularidade das chuvas e a drenagem rápida proporcionada pelos solos cársticos, fazem com que se
percam muito facilmente a produção. Assim, como o plantio exige grandes esforços, a tendência geral é
que cada família plante uma área reduzida, mesmo quando dispõem de recursos para plantios maiores, em
função do risco de perder todo o investimento. Nas condições atuais as lavouras de milho, por exemplo,
que tradicionalmente constituiu o principal produto das roças, vem perdendo terreno em função, primeiro,
da perda da biodiversidade local, o que se deu com a substituição das sementes crioulas pelas sementes
híbridas distribuídas pela FUNAI, e em segundo lugar pela introdução de outros gêneros pouco exigente
em termos de água, como é o caso da mamona.
A produção de mamona tem sido a estratégia econômica de melhor retorno para o grupo, mas atualmente
vem ocupando as terras mais férteis, tradicionalmente ocupadas pelas roças destinadas à produção de
gêneros alimentícios. Assim, o grupo vem pleiteando apoios para a aquisição de maquinários agrícolas
para preparo de novas áreas de cultivo da mamona e do milho, sem que para tanto precisem desmatar
novas áreas de mata nos boqueirões e nas proximidades das encostas de morro.
Outra estratégia de retomada da produção de gêneros alimentícios em curso entre os Xakriabá é a
retomada das sementes crioulas, cujo processo de seleção e adaptação desde tempos muito antigos na
região as tornam melhor adaptados ao tipo de clima e solo da região. Essa recuperação de plantios com
sementes cioulas implica em campos de experimentação de sementes e formação de banco de sementes
que são posteriormente trocadas entre os produtores. Já existe no Norte de Minas uma rede de bancos de
sementes crioulas da qual participam outras populações tradicionais da região como vazanteiros,
geraizeiros, caatingueiros e quilombolas, num perímetro que abrange parte do vale do Jequitinhonha e do
Rido Pardo, além de todo o Norte de Minas.
TIX
TIXR
Não indígenas
As melhorias propostas na BR-135, trecho Manga – Itacarambi, incluem a pavimentação do segmento que
tangencia a Terra Indígena Xakriabá Rancharia, perfazendo cerca de 4,7 Km de extensão, sendo parte
deste segmento hoje asfaltado.
Os Xakriabá são favoráveis ao empreendimento, entendendo que este lhes trará benefícios traduzíveis,
sobretudo, na melhoria de acesso a outras cidades e regiões. No entanto, o grupo encontra-se, até então,
inseguro diante os impactos negativos que podem ocorrer, diante da ausência de informações acerca da
magnitude do aumento do tráfego na região.
Além do aumento de acidentes e atropelamentos, o que realmente preocupa as lideranças e moradores da
TIX Rancharia é o aumento da circulação de pessoas desconhecidas, sobretudo os ambulantes que
realizam pequenas fraudes e trazem drogas ilegais para dentro da Terra Indígena.
A probabilidade de impactos negativos significativos sobre o meio físico da TIXR é baixa, tendo em vista as
características ambientais da região como o relevo pouco acidentado, pouca presença de drenagens
superficiais e intermitência dos cursos d´água e baixo potencial erosivo dos solos. Além disso, contribui
também o baixo nível de intervenção do empreendimento, através da manutenção da diretriz da rodovia
existente, a restrição das obras na faixa de domínio e a menor necessidade de cortes e aterros.
Essas características do empreendimento também são responsáveis pela baixa probabilidade de
ocorrência de impactos diretos significativos sobre os componentes bióticos. Não são esperados impactos
sobre a cobertura vegetal nativa, sobre o estado de conservação das áreas remanescentes, sobre os
recursos vegetais (madeira, plantas medicinais, frutíferas), sobre os recursos de caça e pesca, sobre as
populações de animais e plantas raras ou ameaçadas de extinção. Entretanto, alguns impactos poderão
ocorrer como a redução de animais utilizados como caça pelos Xakriabá em função do aumento no número
de atropelamentos na rodovia, devido ao aumento do fluxo de veículos e da velocidade ocasionada pela
implantação do empreendimento, e também em decorrência do aumento do risco de queimadas originadas
nas margens da rodovia.
Por outro lado, os principais pontos vulneráveis recaem predominantemente sobre os aspectos
socioeconômicos, sendo relacionados à segurança dos Xakriabá na TIXR, devido ao maior fluxo e acesso
de pessoas estranhas; o aumento dos riscos de acidentes na via, com o aumento do tráfego e velocidade
dos veículos, além de possíveis tensões fundiárias na região devido à provável valorização das terras
xakriabá, atualmente em processo de revisão de seus limites, com a melhoria da rodovia.
A intensificação de situações de contato permanente e duradouro com pessoas não indígenas, que podem
vir a estabelecer relações com os Xakriabá, poderá gerar um contexto de transformação sociocultural,
cosmológica e ritual que pode levar a perdas culturuais.
É importante destacar o processo pelo qual os índios Xakriabá passaram em sua história antiga e atual.
Seu povo sofreu com a perda de território ancestral e consequentemente essa perda gerou situaçoes de
fragilidade no que respeita ás estratégias tradicionais de reprodução social, econômica e cultural do grupo.
Ao final da década de 60 inicia-se o movimento de recuperação das terras que culmina com a Constituição
de 1988, reconhecendo o direito dos índios às terras tradicionalmente ocupadas.
De posse de suas terras, os Xakriabá se vêem inseridos em um ambiente alterado, onde seu modo de vida,
de produção e influências culturais externas passam a fazer parte de seu cotidiano. Esta nova realidade
acarreta o esvaziamento das terras pelos mais jovens, levando à transformação dos saberes e da cultura
das novas gerações.
É importante salientar que embora esses processos se dêem à revelia do empreendimento, podem ser
potencializados pela realização deste. O contato que os Xakriabá mantêm com não-indígenas se dá
principalmente no contexto regional e, nesse sentido, uma das preocupações dos indígenas em relação à
estrada é a possibilidade de um grande afluxo de pessoas que consideram “desconhecidas”.
Mesmo que a melhoria da rodovia venha a intensificar os impactos negativos mencionados, sua
implementação pode resultar no surgimento de novas oportunidades de trabalho e renda, permitindo uma
diminuição no êxodo e fixando os jovens na terra. Caso esse quadro venha a se concretizar, os habitantes
da Terra Indígena Xakriabá-Rancharia teriam a oportunidade de criar opções frente a esse quadro de
intensas transformações sociais, econômicas e culturais.
36 Comunidades humanas de diversidade sociocultural, que reproduzem seu modo de vida com base em formas específicas de
relações estabelecidas no território entre a natureza e a sociedade. São reconhecidas como “populações tradicionais” aquelas
constituídas por povos indígenas, remanescentes de quilombos, grupos extrativistas, agricultores familiares quebradeiras de coco de
babaçu, ribeirinhos, pescadores artesanais, jangadeiros, caiçaras, marisqueiras, caboclos, dentre outros, conforme estabelecidas pela
Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Tradicionais coordenada pelo Ministério de Desenvolvimento
Social e Combate à Fome (MDS).
37 Os bantos constituem um grupo etnolinguístico localizado na África subsariana que engloba cerca de 400 subgrupos étnicos
diferentes.
Estudo de Impacto Ambiental – EIA 149
Identificação e Delimitação (RTIDs), para a correta delimitação e demarcação da área a ser titulada aos
quilombolas.
De acordo com o Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES) existem aproximadamente
400 comunidades quilombolas no Estado de Minas Gerais distribuídas por mais de 155 municípios. As
regiões do estado com maior concentração de comunidades quilombolas são a região Norte e a Nordeste,
com destaque nesta última para o Vale do Jequitinhonha.
Na AII do empreendimento, a falta de água pode ser destacada como mais uma dificuldade enfrentada
pelos quilombolas. Como a maioria das comunidades se localiza no norte e nordeste do estado, regiões
secas, fazer chegar água até essas populações implicam investimentos em infraestrutura básica.
Há de se considerar ainda que Minas Gerais foi um dos estados brasileiros que possuiu maior população
negra escrava, pois a mineração atraiu pessoas de vários lugares para essa região, que prometia
enriquecimento fácil e rápido. Desta forma, muitos foram os que trouxeram ou adquiriram escravos para o
trabalho pesado nas minas.
A respeito deste assunto, cabe mencionar que nos anos em que a mineração foi economicamente rendosa,
foram empregados nas minas cerca de 500 mil negros (Silva, 2005). Entre os anos de 1700 e 1850, época
do apogeu da mineração, migraram para Minas Gerais aproximadamente 160 grupos de negros africanos,
oriundos de três regiões: os sudaneses (especialmente do Golfo da Guiné: haussas, minas, iorubas, malês,
entre outros), os bantus (angolas, congos, benguelas) e os moçambiques. Assim sendo, desde o século
XVIII, a população negra no estado nunca foi inferior a 30% da população total – índice considerado alto
(SILVA, 2005).
Ressalta-se ainda que a fuga dos escravos e a conquista de terras para viver em liberdade marcaram a
história das Minas Gerais e em decorrência disso um grande número de quilombos se formou nessa região.
Sendo assim, após a abolição da escravatura, muitos permaneceram nos territórios conquistados por seus
antepassados ou ocuparam novos espaços a fim de iniciar uma vida de liberdade.
Nessa trajetória histórica, muitos territórios foram ocupados. Atualmente, os descendentes de escravos
lutam para conseguir se manter em suas terras e ter seu direito de propriedade sobre elas. No presente, a
situação das comunidades rurais negras gira em torno da necessidade de permanência na terra, com
direito à titulação, bem como a todas as políticas públicas destinadas ao povo brasileiro, com destaque
para a saúde e educação. Ainda neste contexto, destaca-se o Programa Brasil Quilombola (PBQ), uma
iniciativa do Poder Público criada em 2004, sob a coordenação da Secretaria Especial de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), que tem como objetivo articular ações “transversais, setoriais e
interinstitucionais”, juntamente com a sociedade civil.
No âmbito da Área de Influência Indireta do presente estudo, segundo dados da Fundação Cultural
Palmares foram identificadas 10 comunidades quilombolas que já têm seu reconhecimento publicado no
Diário Oficial da União, estando todas elas localizadas no território do município de Manga, conforme
observado no quadro 5.47. Contudo, conforme mencionado anteriormente, estas distam aproximadamente
20 km da BR-135.
Quadro 5.47
Comunidades Quilombolas Certificadas no município de Manga
Comunidade Município Data Publicação DOU
Bebedouro Manga 13.12.2006
Brejo de São Caetano do Japoré Manga 12.05.2006
Ilha da Ingazeira Manga 12.05.2006
Espinho Manga 12.05.2006
Justa I Manga 12.05.2006
Justa II Manga 12.05.2006
Malhadinha Manga 12.05.2006
Pedra Preta Manga 12.05.2006
Vila Primavera Manga 07.06.2006
Puris/Calindó Manga 12.05.2006
Fonte: Fundação Cultural Palmares, 2006.
O trecho Manga – Itacarambi, em Minas Gerais, possui extensão de cerca de 48,70 Km, encontrando-se
implantado e em funcionamento há várias décadas. A rodovia encontra-se atualmente pavimentada até
próximo ao km 16, no início do povoado de Rancharia e, do km 16 ao km 48, a ligação é efetuada por
rodovia encascalhada em estado razoável de conservação.
Em seu percurso a rodovia passa por quatro perímetros urbanos, a saber, Itacarambi, Rancharia, São João
das Missões e Manga. Para estas passagens urbanas, o projeto apresenta alternativas de contorno, para
aumentar a eficiência da rodovia e a segurança dos usuários e dos moradores ao longo desses perímetros
urbanos, estando previstas soluções de pavimentação e sinalização visando à segurança nestes locais.
Quanto ao ordenamento do uso e ocupação do solo na área de influência da rodovia foi previsto a atuação
do DNIT junto às autoridades municipais em duas fases. A primeira tendo como objetivo o estabelecimento
de diretrizes de uso e ocupação do solo na faixa lindeira, numa largura aproximada de 200m para cada
lado da via. Num segundo momento, as ações estarão voltadas para a elaboração ou adequação do Plano
Diretor Municipal.
O Projeto de Desapropriação em questão foi elaborado tendo por base a planta do projeto geométrico,
calculando-se a superfície ocupada por propriedades dentro dos limites de desapropriação da faixa de
domínio.
Inicialmente, foi realizado cadastramento em campo de todos os proprietários atingidos pela faixa de
domínio da rodovia. A faixa de domínio foi definida ao longo de todo o traçado, afastada 40 (quarenta)
metros do eixo da pista existente, totalizando uma largura de 80 (oitenta) metros na rodovia.
Com base na superfície ocupada por propriedades dentro dos limites de desapropriação foi realizada
análise de custos baseada em preços médios, cotados para segmentos homogêneos de ocupação de solo.
Tomando por base as diretrizes estabelecidas na IS-219 (publicação IPR/DNIT n°726 de 2006), o Projeto
de Desapropriação teve por objetivo identificar, quantificar e avaliar o custo das indenizações das
propriedades que interferem no Projeto da BR-135-MG; Trecho: Entr. BR-040/262/381 (Anel Rodoviário de
Belo Horizonte); Subtrecho: Manga (Acesso Norte) – Rancharia; Segmento km 77,1 ao km 105,1.
Cabe ressaltar que os custos apresentados não representam os custos reais da propriedade ou do imóvel a
ser desapropriado, simplesmente fornecem subsídios ao Órgão para o início do processo administrativo. As
propriedades foram identificadas com base nos levantamentos topográficos realizados em campo.
De acordo com o Projeto Executivo de Engenharia, a avaliação baseou-se nos preços de mercado de
terrenos e de benfeitorias, fornecidos pelas Prefeituras dos Municípios de Manga e São João das Missões.
A pesquisa de mercado na região, para fixação dos preços unitários adotados na avaliação dos terrenos a
serem desapropriados, foi efetuada em consultas nas Prefeituras Municipais de Manga e São João das
Missões. As informações coletadas permitem a diferenciação dos preços dos imóveis em função das
características dos mesmos.
Foram identificadas benfeitorias em imóveis lindeiros, na área da faixa de domínio. Existem 24 (vinte e
quatro) benfeitorias a serem desapropriadas no Acesso Sul a Manga, 14 (quatorze) no Acesso Sul a São
João das Missões, ambos em áreas urbanas.
Neste contexto, foram identificados, localizados e cadastrados 93 (noventa e três) imóveis com
interferências na diretriz do traçado do projeto. O custo total estimado é de R$ 141.127,66 (Cento e
quarenta e um mil, cento e vinte e sete reais e sessenta e seis centavos), sendo este parte integrante do
Projeto Executivo de Engenharia.