ABUD, KATIA Formação Da Alma e Do Caráter Nacional
ABUD, KATIA Formação Da Alma e Do Caráter Nacional
ABUD, KATIA Formação Da Alma e Do Caráter Nacional
na Era Vargas
Resumo
Abstract
Since History has been structured as a school matter, the formation and strenghtness
of a national identity feeling became the main goal of its teaching. The issue of
brazilian identity was always a problem among intelelectuals and professionals in the
first half of this century. The ones who were a part of public organizations, used
History as a vehicle to their ideas, that were incorporated by programs and school
manuals. These programs and manuals gave a special highlight to brazilian people's
formation, Brazil's territorial integrity as well its cultural unity.
Key words: National Identity; School Books; Vargas' Era.
Desde 1925, ano da Reforma Rocha Vaz, os programas de ensino secundário eram
formulados pelos professores catedráticos e aprovados pelas congregações do
Colégio Pedro II e dos estabelecimentos estaduais de ensino secundário, que haviam
obtido a equiparação àquele, após o cumprimento de uma série de formalidades. As
escolas equiparadas deviam adotar, sem nenhuma modificação, a seriação de
matérias estabelecidas para o Pedro II, cabendo-lhes apenas a elaboração de
programas próprios.
Neles, o conteúdo estava disposto por série e procurava abranger a História Geral,
do Brasil e da América. Tais programas vigoraram até 1942, quando reforma
promovida por Gustavo Capanema, novo ministro da Educação, mudou a grade
curricular atribuindo uma maior carga horária às matérias do campo das
humanidades.
O índio, objeto dos livros didáticos, era ainda o nativo encontrado pelos portugueses
no século XVI, não o índio degradado pela conquista européia, que persistia em
sobreviver, nos séculos posteriores. Esse índio não poderia ser uma das raízes, mas
poderia simbolizar as nossas origens do "bom selvagem", mitificado nas páginas de
José de Alencar, Gonçalves Dias e de outros escritores indianistas. Esse "selvagem"
com código de honra medieval, de físico semelhante ao homem branco, seria o índio
de quem os livros didáticos falavam, como se já estivesse completamente
desaparecido e sem nenhuma relação com seus vilipendiados descendentes, nossos
contemporâneos.
O componente de nobreza da nossa formação viria do índio, que não teria aceito a
escravidão, que enfrentava bravamente os obstáculos da floresta e os
inimigos. Historiadores de renome, como Alfredo Ellis Jr., professor catedrático de
História do Brasil na USP, afirmavam que no Planalto de Piratininga, onde se localiza
São Paulo, havia se formado uma "sub-raça superior, a planaltina", resultante do
cruzamento entre portugueses e índios16. Essa sub-raça superior tinha por oposição
a mestiçagem "híbrida" do Nordeste, onde, do cruzamento dos senhores de engenhos
com suas escravas, havia surgido uma sub-raça inferior, constituída de mulatos que
tendiam a desaparecer, pois enquanto híbridos, eram pouco prolíficos. Resta lembrar
que Alfredo Ellis Jr. foi autor de livros didáticos...
Por isso tudo, os livros didáticos, de acordo com a orientação dos currículos,
dedicavam significativo espaço aos primeiros habitantes, abordando o tema
inspirados nas linhas das publicações de Instituto Histórico e Geográfico do Brasil. Os
textos davam grande importância às origens dos habitantes da América pré-
colombiana, à distribuição dos grupos pelo Brasil e ao seu estágio cultural no
momento do encontro com os portugueses.Procurava-se valorizar a produção
indígena encontrada na pesquisa arqueológica, "que mais parecem produto da
indústria adiantadíssima de povos civilizados do que artefatos de bárbaros"17.
(...) segundo Roquette Pinto (...) a constituição antropológica do povo brasileiro era:
Brancos ...............51%
Mulatos ...............22%
Caboclos .............11%
Negros.................14%
Índios.....................2%.19
Mais ainda, os jesuítas teriam salvado a "civilização" ao conseguir, com seus aliados,
rechaçar os tamoios confederados e firmar a paz de Iperoig, evitando assim que os
índios destruíssem vilas portuguesas, já instaladas nas terras conquistadas.
Notas
1
LOVE, J. A locomotiva: São Paulo na federação brasileira.1889-1937. Rio de Janeiro,
Paz e Terra, 1982, passim. [ Links ]
PÉCAULT, D. Os intelectuais e a política no Brasil: entre o povo e a nação. Trad. Maria
Júlia Golwasser. São Paulo, Ática,1990, p. 72. [ Links ]
2
CHAUÏ, M. de S. "Ideologia e educação". In Educação e Sociedade. São Paulo, nº
05, 1980, pp. 24-40. [ Links ]
3
TORRES, A. O problema nacional brasileiro. São Paulo, Ed. Nacional, 1933,
p.179. [ Links ]
4
VIANNA, e F. J. DE OLIVEIRA. Populações meridionais do Brasil: História,
organização e psicologia. 5ª ed., Rio de Janeiro, José Olímpio Ed., 1952,
passim. [ Links ]
5
TORRES, A. op. cit., p. 183.
6
CAMPOS, F. Educação e cultura. Rio de Janeiro, José Olímpio, 1940.
passim. [ Links ]
7
AZEVEDO, F. A educação pública em São Paulo: problemas e discussões. Inquérito
para o Estado de São Paulo em 1926. São Paulo, Pioneira, 1927. [ Links ]
8
Apud: CARDOSO, I.R. A universidade da comunhão paulista. São Paulo,
Cortez/Autores Associados, 1981, p. 231. [ Links ]
9
FURET, F. "A História na cultura clássica". In A oficina da História. Trad. Adriano
Duarte Rodrigues. Lisboa, Gradiva, s/d., p. 133. [ Links ]
10
Idem.
11
PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro. Rio de Janeiro, Imprensa Oficial, 1936, p. 13. [ Links ]
12
HOLLANDA, G. de. Um quarto de século de programas e compêndios de História
para o ensino secundário brasileiro. 1931-1956. Rio de Janeiro, INEP/Ministério da
Educação, 1957, p. 18. [ Links ]
13
Apud: HOLLANDA, G. de. op.cit., p.16.
14
TAPAJÓS, V. História do Brasil. 12ª ed., São Paulo, Cia Ed. Nacional,
s/d. [ Links ]
15
GOMES, A. História do Brasil para a quarta série fundamental. 2ª ed., São Paulo,
Edições e Publicações Brasil, 1941, p. 49. [ Links ]
16
Ellis Jr. publicou suas pesquisa sobre a formação da população do Planalto de
Piratininga num livro intitulado, na primeira edição, de Raça de Gigantes, e nas
edições subsequentes, de Primeiros Troncos Paulistas.
17
Ladislau Neto, Apud: MAGALHÃES, B. de. História do Brasil para a segunda série
dos cursos clássico e científico. 2ª ed., Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves/
Editora Paulo de Azevedo Ltda., 1955, p. 34. [ Links ]
18
MAGALHÃES, B. de. op. cit., p. 50.
19
GOMES, A. op. cit., p. 216.
20
Programas de 1931 (Curso fundamental). In HOLLANDA, G. de. op. cit.,
p.279. [ Links ]
21
Idem, p. 285.
22
Apud: GOMES, A. op. cit., p. 121.
23
GOMES, A. op. cit., p. 125.