Revista Esquina - A Nova Era Do Sexo PDF
Revista Esquina - A Nova Era Do Sexo PDF
Revista Esquina - A Nova Era Do Sexo PDF
a nova era do
SEXO
A mudança do comportamento sexual de jovens
e adultos. E os apelos do mercado pornográfico
EDITORIAL
tabu
Revista-laboratório do curso de Jornalismo
da Faculdade Cásper Líbero
Professor responsável
Heitor Ferraz Mello
Monitoria
Editora
a menos
Fernanda Patrocínio
Assistentes editoriais
Lidia Zuin e Thiago Tanji
Diagramação
Celeste Mayumi, Danilo Braga, Fernanda HEITOR FERRAZ MELLO
Patrocínio, Henrique Koller, Lidia Zuin,
Petrus Lee
Depois de falar de dinheiro e mente, resol- com violência, toda sua hostilidade).
Revisão vemos entrar em outro assunto sempre atual: Para esta edição, procuramos, então, ma-
Ana Júlia Castilho, Ana Lucia Silva, Ayana sexo. Ou melhor, um assunto atemporal, já pear os assuntos mais interessantes em torno
Trad, Lidia Zuin, Lucílio Correia e Thiago Tanji
que desde sempre o sexo existe. No entanto, do sexo: sua fatal relação com o dinheiro na
Participaram desta edição nos últimos anos, o universo do comporta- nossa sociedade, como o mercado e o turis-
Adriano Garrett, Alessandro Jodar, Alexandre
mento sexual vem passando por uma série de mo sexual; o novo comportamento sexual dos
Aragão, Aline Magalhães, Ana Carolina Neira, Ana
Gabriela Maciel, Ana Júlia Castilho, Ana Lucia Silva, transformações. Velhos tabus não são mais jovens (dos casais gays assumidos à preserva-
Ana Luísa Vieira, André Gonçalves, André problemas cabeludos. Já passamos pela revo- ção de virgindade); o perigo da Aids; o reflexo
Oliveira, André Sollitto, Anna Beatriz Pouza,
lução dos costumes dos anos 1960, mas seu do sexo na cultura (literatura, cinema, artes
Bárbara Ferreira, Bárbara Nór, Bruna Stuppiello,
Bruno Podolski, Caio Canavieira, Camila Baos, legado ainda é bastante confuso – e muitos plásticas e quadrinhos) e na vida cotidiana
Camila Lara, Camilla Ginesi, Carolina Rodrigues, não sabem direito o que fazer com ele. Neste número, feito na atribulação do se-
Caroline Rezende, Cínthia Zagatto, Danylo
No mundo dos jovens, um novo compor- mestre, a equipe da Esquinas – que também
Martins, Felipe Elias, Fernanda Gonçalves,
Fernando Antonialli, Gabriel Medeiros, Gabriela tamento já se afirmou há algum tempo, e não participou na confecção de outras revistas da
Capo, Giórgia Cavicchioli, Giovana Nunes, Giulia é preciso mais esconder uma opção sexual Cásper Líbero – se desdobrou para bolar as
Afiune, Guilherme Aleixo, Guilherme Profeta,
dos amigos e familiares. Na avenida Paulista, pautas e para fechar todas as matérias. Como
Gustavo Nárlir, Isabella Lubrano, Ítalo Fassín,
Ivan Oliveira, Jaqueline Gutierres, Jessica Fiorelli, centro financeiro da cidade, os casais gays são professor responsável, agradeço aos alunos
Jéssica Guimarães, Jessica Orsini, Juliana Ruiz, comuns, andando de mãos dadas, namorando que participaram deste número, apurando as
Julieta Mussi, Kaluan Bernardo, Laura Hauser,
tranquilamente (quer dizer, dentro da tran- matérias e ao Núcleo Editorial, em especial Fer-
Laura Salerno, Lays Ushirobira, Lidyanne Aquino,
Louise Solla, Luan de Sousa, Luana Fagundes, quilidade possível, pois os truculentos ainda nanda Araújo Patrocínio, Danilo Braga, Thiago
Lucas Menegale, Luíza Giovancarli, Luma existem e continuam dispostos a demonstrar, Tanji, Lidia Zuin e Petrus Lee.
Pereira, Maíra Roman, Maria Giulia Pinheiro,
Maria Zelada, Mariana Auresco, Mariana Ferrari,
Mariana Kindle, Marília Diniz, Matias Lovro, Mayara
Moraes, Michelle Rodrigues, Natália Cacioli,
Nathália Henrique, Nathalie Ayres, Patricia Alves,
Patrícia Homsi, Paulo Lutero II, Paulo Pacheco,
Pedro Samora, Rafael Rojas, Raquel Beer, Renata
Zanquetta, Rhaissa Bittar, Roberta Vilela, Rodrigo
Faber, Soraya Chantre, Suellen Fontoura, Thaís
Freire, Thaís Lima, Thais Sawada, Tomas Rosolino,
Vanessa Lorenzini, Vinícius de Melo, Vitor Valencio, No número 47, a
Viviam Kamfler, Viviane Laubé e Yolanda Moretto revista Esquinas
aborda o novo
Foto de capa: Guilherme Burgos
comportamento
Agradecimentos sexual presente
Celso Unzelte, Daniela Osvald Ramos, nos grandes
Igor Fuser, José Eugênio Menezes, Jorge
Paulino, Renato Essenfelder, Ricardo Muniz centros urbanos.
As doenças, o
Núcleo de Redação mercado e os
Avenida Paulista, 900 — 5º andar
01310-940 — São Paulo — SP novos fetiches
Tel.: (11) 3170-5874 adquiridos são
GUILHERME BURGOS
06 14 32
43 PORNOGRAFIA UNDERGROUND
Uma câmera na mão e rock n’ roll na cabeça: conheça o altporn SEÇÕES
29 SEX SHOP
44 IMPÉRIO DA PORNOCHANCHADA 34 ENSAIO
Um gênero quente do cinema nacional
53 ESPORTES
57 COMIDA
45 DO TRAÇO AO DESEJO
Anime, mangás e cosplay: um jeito diferente de realizar fantasias 59 CURIOSIDADES
61 CRÔNICA
48 ORGASMO NA PALAVRA 62 ALI NA ESQUINA
O escritor Marcelino Freire ensina como se faz um conto erótico
51 EU, SÁDICO?
O marquês de Sade e sua obra inquietante
Mudanças
na velha prática
6 ESQUINAS 1º SEMESTRE 2010
Entre pílulas, preferências diversas, prazer e
relacionamentos fugazes: a cara da nova sexualidade
REPORTAGEM ANA GABRIELA MACIEL, VIVIAM KAMFLER, CAROLINE REZENDE e MICHELLE RODRIGUES (1º ano de Jornalismo)
CAMILLA GINESI, RAQUEL BEER, IVAN OLIVEIRA, JAQUELINE GUTIERRES e VANESSA LORENZINI (2º ano de Jornalismo)
IMAGENS PETRUS LEE (1º ano de Jornalismo), THIAGO TANJI (2º ano de Jornalismo) e DANILO BRAGA (3º ano de Jornalismo)
A demanda pela conscientização não é A mobilização dos pais, apenas, não é su-
em todo atingida, já que se faz notável a inex- ficiente. É necessário também ressaltar a im-
periência da educação brasileira quanto à se- portância da participação dos orientadores.
xualidade. “O despreparo dos professores se Fazer da sala de aula um local de discussão
deve à falha do poder público em não pautar de valores e atitudes, favorecendo a forma-
o que cada faixa etária precisa aprender em ção crítica dos adolescentes. “O fundamento
relação ao sexo. Assim como as cartilhas que da educação formal é respeitar e ser respei-
trazem orientações sobre trânsito, é necessá- tado. Assim, tentamos guiar as crianças em
rio material sobre educação sexual”, ressalta direção à maturidade, no sentido de levá-las
Soraia Paro, de 43 anos, diretora do colégio a compreender a sexualidade e aceitar as di-
IV Centenário, no extremo sul paulistano. As ferenças”, acrescenta a educadora.
instituições de ensino tratam o tema de forma
superficial, só ensinando os aspectos biológi- DISCUTINDO AS RELAÇÕES No século XXI,
cos e deixando de lado o âmbito informativo, relacionamentos sem compromisso, sexo e
as discussões e até possíveis reformulações homossexualidade são realidades recorren-
de valores. “A instrução que a escola dá sobre tes no cotidiano. A grande oferta de informa-
comportamento sexual acaba sendo pautada ções, com o advento da internet, possibilita
pelos instintos do corpo docente. Se temos ao jovem buscar respostas para suas dúvi-
“A sexualidade é expressa uma aluna grávida, por exemplo, damos pa- das a respeito de relacionamentos. Por outro
lestras sobre o tema e abrimos debate com os lado, pais, filhos e diálogos sobre sexo pode
em pensamentos, alunos”, afirma Soraia. ser uma combinação assustadora. “No meu
fantasias, desejos, A família não costuma participar do pro-
cesso de educação sexual, devido ao cons-
caso, houve diálogo, porém, muitas vezes, os
pais têm uma rotina corrida e perdem etapas
crenças, atitudes, valores, trangimento que envolve o tema e a falta de do crescimento do filho, inclusive no desen-
naturalidade ao encará-lo. “Temos várias volvimento sexual”, comenta o estudante
atividades, práticas, regras influências, como a religiosa e os pudores. Philipe Biazzi, de 19 anos.
e relacionamentos. Cada Ainda somos fruto da educação de uma época A geração atual, além de buscar infor-
política de proibição total. Estamos agora ca- mações fora de casa, tende a confiar aos pais
cultura lida de um jeito” vando uma liberdade e devemos isso à Aids, suas curiosidades e dividir com eles as expe-
infelizmente e felizmente. O planeta todo riências. “Minha filha conversa abertamente
foi obrigado a falar de sexualidade, quebrar comigo, conta o que aconteceu na balada e
Marcelo Tonietti, doutor em Psicologia tabus e conversar”, explica Claudio Picazio. se ficou ou não ficou com alguém”, diz Maria
Marcos da sexualidade
Idade Contemporânea
(1789 até a atualidade)
Idade Moderna (1453 a 1789) A partir da segunda metade
Com o movimento renascentista, a Igreja do século XX, há a explosão
perde parte do poder. O sexo volta a ganhar da liberdade sexual. Marilyn
destaque, inclusive nas manifestações artísticas, Monroe se consagra como
através de pinturas e literatura erótica. símbolo de seu tempo.
Avanços científicos, como a descoberta das Nos anos 60, surge a pílula
doenças venéreas e a invenção da camisinha, anticoncepcional. Ao
revolucionam o conhecimento sobre sexo. mesmo tempo em que
Cresce o número de bordéis, inclusive para o Madonna surge na década
público homossexual. de 80 com músicas cheias
As discussões sobre a sexualidade são trazidas de insinuações sexuais, os
a público, sendo tema de debates nas escolas, primeiros casos de Aids são
nos hospitais e na política confirmados
Hostilidade depois do
armário
Mesmo em tempo de liberdade sexual,
a homofobia ainda faz parte do presente
REPORTAGEM ÍTALO FASSÍN (1o ano de Jornalismo) e PAULO LUTERO II (3o ano de Jornalismo)
COLABORAÇÃO FERNANDA PATROCÍNIO e LIDIA ZUIN (3o ano de Jornalismo)
praticada por homossexuais”, seja por o E OS DIREITOS? Ainda hoje, os gays estão tomado por um fundamentalismo religioso.
outro ser mais afeminado, masculinizado longe de terem os direitos à adoção e à união Os membros do nosso Poder Legislativo têm
ou de outra classe social. “Já fiquei com me- atendidos. A Constituição Federal do Brasil medo de ser rotulados de homossexuais e de
ninas mais masculinas, como já fiquei com não menciona os direitos de homossexuais. comprometer a sua reeleição”, aponta.
meninas mais femininas”, diz Maiara, que O que existe são avanços nos âmbitos esta-
concorda com João sobre a frequência do duais e municipais ou batalhas individuais SER HOMOSSEXUAL HOJE O modo de vida
preconceito entre gays e lésbicas. travadas com a Justiça. Sandro dos Santos contemporâneo, fruto da urbanização e do
passou pela experiência durante a adoção de fluxo de informações, faz com que as pessoas
UM MONSTRO “Não sou homofóbico, sou Vitor, em 1992. Sandro, que tem um namora- convivam com a diversidade em cidades cada
higiênico”, logo dispara o universitário, de do, não revelou sua homossexualidade à Jus- vez mais populosas. “Hoje está mais aberta à
19 anos, que prefere se identificar por T. Ele tiça e nem à assistente social. Não direta- questão da homossexualidade no convívio so-
considera natural a agressão física e verbal mente. “Foram à minha casa e viram a cama cial, o que acaba trazendo a violência à tona”,
aos homossexuais e diz que é livre para tal de casal. Perguntaram com quem eu morava diz Pierre.. Ele acredita que a mídia trabalha
violência. “Se falamos algo contra eles, já é e há quanto tempo nós morávamos juntos. no sentido oposto à diminuição do preconcei-
considerado um crime. Mais uma vez a liber- No fim, disseram: ‘Por nós, tudo bem, mas to, apresentando personagens gays caricatos.
dade de expressão, que é garantida pela de- você pode trocar a cama de casal por duas de A APOGLBT encaminha as vítimas de vio-
mocracia, vai para o lixo. Eu já bati em gays. solteiro?’”. Mudança essa para que os outros lência homofóbica aos advogados e órgãos pú-
Eles dizem que nós, que somos contra, temos assistentes sociais não implicassem com o blicos. Com menor frequência para o último,
algo de gay enrustido, preservado e guarda- fato de Sandro ser gay. “Posso até trocar, mas pois os agredidos costumam sofrer discrimi-
do. Não aceitam que não podemos simples- ninguém vai usar”, respondeu. nação dos próprios funcionários. Em caso de
mente não gostar”, explica. “Você é filho de bicha” é só uma das fra- humilhação, é aconselhado fazer um boletim
O estudante afirma ainda que sente asco ses com que Vitor convive no seu dia-a-dia. E de ocorrência direto na Delegacia de Crimes
em relação aos gays. “Acho que nojo e despre- como Sandro vai orientar seu filho sexual- Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).
zo são as palavras que mais definem isso. E mente? “Não vou”, ele afirma. “Se algum dia De acordo com a pesquisa feita pelo
ódio. É simples: existe o homem e a mulher ele quiser ser gay, eu vou adorar. Se ele for Grupo Gay da Bahia, no país, um homosse-
para procriar e carregar o nome da família. hétero, a culpa é dele, não é minha”, brinca. xual é morto a cada dois dias. Um projeto
O que os homossexuais fazem? Eles se dro- Algumas leis abrangem superficialmente de lei de união civil homoafetiva, da então
gam, espalham doenças – afinal, a maioria direitos homoafetivos. São elas: a Lei Maria da deputada Marta Suplicy, está no Congresso
tem HIV e outras doenças escrotas. E são tra- Penha e a lei do direito à pensão previdenci- há quinze anos. Mais recentemente, o Proje-
tados como especiais. Melhores que os héte- ária. A primeira trata do combate à violência to de Lei 122 tem gerado polêmica ao tentar
ros. Eles trazem vergonha e dor às famílias. doméstica e não se refere especificamente à criminalizar a homofobia, tramitando no Se-
E ainda há leis para protegê-los”, argumenta. homossexualidade, mas conceitua a família nado há quatro anos. “Uma experiência emo-
A homofobia é uma violência silenciosa, como uma unidade de afeto independente da cionalmente intensa e positiva com o objeto
ainda presente na sociedade contemporânea. orientação sexual. A outra permite a extensão do seu preconceito” – esta é a dica de Júlio
Gestos, comentários e piadas em relação à do direito de pensão previdenciária ao com- Nascimento para o fim da homofobia. A vio-
sexualidade alheia são exemplos da latência panheiro do mesmo sexo. “O pontapé inicial lência e a omissão provam que a intolerância
do preconceito. Quem comete tais atos está está sendo dado pelo Judiciário”, conta a ad- é a principal barreira a ser contornada para
passível de processo penal por humilhação vogada Maria Berenice Dias, especializada em que o Brasil deixe de ser o país que mais mata
pública, calúnia e difamação. Direito Homoafetivo. “Nosso Legislativo está homossexuais no mundo.
LAYS USHIROBIRA
NÃO EXISTE FÓRMULA para o amor, certo? Há ainda quem procure as aulas em virtu- namorávamos há oito anos. Com todo esse
Errado! Ao menos para Fátima Mourah, a má- de do modismo lançado pelas novelas. Fátima tempo, se não fizermos nada de diferente,
xima está longe de ser verdadeira, tanto que conta que a televisão tem um potencial muito cairemos na rotina”, revela Giselle.
se profissionalizou em desmistificar a arte grande no imaginário sexual das pessoas. As Fátima é categórica: “a mente é o maior
de seduzir. Há mais de uma década, ela tra- aulas de pole dance, por exemplo, estouraram órgão sexual”. Ela diz que a falta de orgas-
balha como personal sex trainer. Sua tarefa é graças à novela global “Duas Caras”, na qual mo entre as mulheres está mais relacionada
fornecer um verdadeiro treinamento sexual e a personagem Alzira, interpretada por Flávia ao quadro psicológico que com mau desem-
sentimental para os clientes. Alessandra, praticava a dança. penho do parceiro. “Quem tem esse tipo de
Sorridente e bem maquiada, Fátima ensi- Em média, as aulas mensais custam entre problema deve, antes de tudo, procurar um
na movimentos de pole dance às alunas, num cem e duzentos reais. Entretanto, o preço médico. Se não for nada clínico, trabalho o
sex shop localizado em Santo André, no ABC pode variar e há até quem faça verdadeiras lado emocional. A mulher precisa estar fami-
Paulista. Os passos são impecáveis e segu- extravagâncias por uma consulta. Ela lembra liarizada com o corpo, saber o que gosta, o
ros, frutos de 30 anos trabalhando como co- que uma cliente de Santos, no litoral paulista, que a incomoda e o que está sendo feito para
reógrafa. Ela fica atenta aos movimentos das fez questão de que Fátima estivesse presen- melhorar”, aconselha. Ela ainda frisa a impor-
aprendizes. “Meninas, sintam a música. É pre- te na despedida de solteira de uma amiga. A tância do diálogo na relação. “O casal tem de
ciso colocar além da técnica, a alma”. agenda estava apertada e disse que só pode- conversar para saber o que cada um gosta”.
Na década de 1990, a mãe de uma aluna ria atendê-la na madrugada. “Sem problemas.
pediu que montasse uma coreografia para Vou mandar um helicóptero para te buscar”, PESSOAL Fátima sofre da Síndrome de Bur-
strip tease, a fim de comemorar o aniversário disse a cliente. “Pensei que ela estava brin- nout, ou Síndrome do Esgotamento Profis-
de casamento. O sucesso foi tão grande que cando, mas mandou mesmo. Eu não aceitei sional, que se caracteriza por fadiga física
logo ela passou a lecionar, na própria acade- porque o tempo estava horrível para voar. Fui e mental, cuja origem está relacionada ao
mia, o curso “Strip tease, a arte da sedução”. com motorista, em um carro luxuoso, com trabalho. Ainda assim, ela tem energia para
Foi nesta época que começou a carreira como toda assistência que você imaginar”, revela. manter o casamento com o empresário Ar-
personal sex trainer. thur Oliveira. Quando está muito cansada
Desde então, a moradora da Vila Olímpia DESCOMPLICANDO A RELAÇÃO Seduzir, para uma relação sexual convencional, ela dá
tem estudado a sexualidade e comportamen- para a sex trainer é tarefa simples e natural. prazer ao marido, masturbando-o.
to humano. Escreveu os livros Sexo para mu- Mas adverte que é preciso ter alguns cuidados O casal se conheceu na academia. Fátima
lheres casadas e Sexo, amor e sedução; apre- na hora H. “A mulher que nunca fez nada para é dez anos mais velha que Arthur, caracte-
sentou o A gente precisa conversar na rádio o marido não pode chegar vestida de enfer- rística atraente para o empresário, que nutre
Nativa FM; foi colaboradora do “Boa de Cama”, meira, fazendo caras e bocas, em pleno final atração por mulheres mais velhas. Ele, por
exibido pelo canal a cabo Sexy Hot e partici- de campeonato de futebol. Aí ele vai cair na sua vez, ostentava um corpo malhado, para
pa de programas populares como Superpop e risada mesmo. Tem de haver uma mudança a alegria da personal. Arthur estava suado e
Ratinho. Ela ainda dá aulas de striptease, pole gradual”, recomenda. “Aliás, a sensualidade Fátima segurava uma toalha. “Me enxuga?”,
dance, ministra workshops e presta consulto- que eu ensino não tem nada a ver com botar o perguntou ele. Do convite, surgiu um sólido
ria personalizada. dedinho na boca. Sensual é trocar aquela lin- relacionamento de doze anos.
gerie bege horrorosa por algo mais atraente, Além de dançarina, Fátima foi também
SENSUALIDADE “Meu objetivo é fazer com é sentir-se à vontade e feliz com seu corpo”. modelo. “Sempre fui muito cortejada, sem-
que as mulheres despertem a energia femi- “Fá, vou completar dois anos de casada pre me senti um mulherão”, revela. Ela diz
nina que existe nelas. E isso não tem nada hoje e ainda não bolei nada. Me ajuda?”, per- nunca ter sofrido preconceito por ser per-
a ver com vulgaridade”, explica. As clientes gunta Giselle Muller, aluna da sex trainer. De sonal sex trainer. “A mídia sempre mostrou
a procuram por diferentes motivos. “Muitas imediato, Fátima resolve o problema. “Já ten- meu trabalho de uma maneira muita séria.
desejam melhorar o relacionamento com o tou usar a cadeira? [em referência a um passo Recebo convites e cantadas, mas qual mulher
parceiro, mas também há aquelas que que- de pole dance que faz uso do objeto] Você pode não recebe? Nunca aconteceu nada de desres-
rem resgatar a feminilidade que acaba sendo fazer dessa maneira”, exemplifica. A gerente peitoso”, destaca.
deixada de lado por conta do cotidiano da de recursos humanos, de 28 anos, procurou Fátima está tentando amenizar a jornada
mulher moderna”, conta. “A auto valorização os serviços da personal para apimentar a lua de trabalho, que não é fixa e inclui viagens
é ótima, porque a mulher deve se amar, sen- de mel. “Não parei mais, desde então. Faço por todo o Brasil. Prestes a completar 50 anos
tir que ela também pode ser sexy dentro de todos os cursos e hoje, inclusive, é meu ma- e mãe de um casal de filhos de 22 e 17 anos, se
um terninho. É algo que ela não leva só para a rido quem patrocina. A nossa relação melho- aposentar está fora de cogitação por enquan-
cama, é algo para a vida”, defende. rou muito, até porque antes de nos casarmos, to. “Me encontrei nesse trabalho”, conclui.
sobremesa
REFINADA
Ainda um tabu entre os jovens, a virgindade pode ser motivo de orgulho ou
vergonha. Mas uma coisa é certa: a conversa nunca esteve tão quente na sociedade
REPORTAGEM CAMILA BAOS, GABRIELA CAPO e RAFAEL ROJAS (1o ano de Jornalismo) BRUNO PODOLSKI e LUANA FAGUNDES (2o ano de Jornalismo) THAÍS LIMA (3o ano de Jornalismo)
IMAGENS GABRIELA CAPO (1o ano de Jornalismo)
“TODO MUNDO ACHA a primeira vez mais anos, como líder. Ele convive diariamente do as filhas menstruaram, coincidentemen-
preciosa. Tudo é diferente: novo. Mas depois com jovens cheios de dúvidas sobre família, te, no mesmo ano. A ginecologista Albertina
você acostuma, ‘desencana’ desse assunto”, religião, profissão – e, claro, sexo. Segundo afirma que a maioria das mães escolhe essa
resume Lívia da Silva, de 16 anos. A primeira a doutrina da igreja, a pessoa deve esperar fase para falar sobre sexo porque a mens-
relação sexual ainda é idealizada por garo- por um companheiro estável para estabele- truação simboliza a passagem da infância
tos e garotas. Mas, com os sonhos, também cer uma relação íntima. para a adolescência.
vêm dúvidas e contradições sobre o assunto. A ginecologista Albertina Takiuti afir- Na Igreja Batista da Água Branca,
Para Albertina Takiuti, ginecologista ma que não há evidências científicas que há quem já tenha transado. Apesar da visão
e coordenadora do Programa de Saúde do comprovem problemas físicos ou psicológi- conservadora sobre o assunto, a IBAB não
Adolescente do Estado de São Paulo, a nova cos para quem opta por se manter virgem condena os que já fizeram sexo e nem deixa
mentalidade da sociedade reflete nas mu- ou interromper a vida sexual por algum de acolhê-los, mas destaca a escolha de um
danças de concepção a respeito da virgin- tempo. Mas reconhece que seguir tal “estilo único parceiro. “Se você é maduro para es-
dade. “Se no passado sabíamos que a virgin- de vida” é uma tarefa difícil. “Vivemos uma colher com quem transar, é maduro para
dade era, para as mulheres, uma moeda de situação de fiscalização: o virgem por opção escolher que quer passar a vida toda com
troca, de valorização, sabemos que o ques- passa a ser fora do esperado”, comenta. aquela pessoa”, afirma Fabrício.
tionamento, hoje, ocorre num momento em As irmãs Lívia e Heloísa pensam que é
que a atividade sexual está fazendo parte do DISCUSSÃO Na Igreja Batista são passadas preciso amor para que ocorra o sexo, mas
início dos relacionamentos”, destaca. recomendações e não doutrinas aos jovens. não acham que deve ser feito somente de-
Porém, há grupos que defendem a casti- Júlia, de 25 anos, frequenta a igreja há 10 pois do casamento. “Você tem que aprovei-
dade. “Sexo é igual nitroglicerina. Ele pode e afirma: “Nenhum adolescente gosta de tar antes de casar, porque depois, tem mais
impulsionar um relacionamento, mas, se ouvir ‘não’ e nem de deixar algo que lhe responsabilidades com o marido. Você é
não lidarmos corretamente com isso, pode dá prazer. Para muitos, não há sentido em dele, digamos. Se você é solteira, normal,
‘explodir’ na mão de quem o pratica, geran- não fazer sexo nesse momento da vida”. Ela tem que aproveitar”, comenta Heloísa.
do consequências negativas” afirma Reinal- nota certa timidez das garotas quando se
do Júnior, 25 anos, estudante de Teologia. trata de sexo. “Hoje não há tanta diferença MÍDIA E SEXO Uma das maneiras de Sandra
Vindo de uma família evangélica, ele assim, mas os homens brincam e falam do orientar as filhas é pelo conteúdo de seria-
frequenta a Igreja Batista da Água Branca assunto com amigos desde cedo. O que não dos e novelas. Quando aparece algo com
(IBAB) há 3 anos. O estudante recorda uma ocorre tão naturalmente com as meninas”. conteúdo sexual, ela puxa assunto e inicia
metáfora que o pastor titular da IBAB, Ed Na casa de Lívia, entretanto, a discussão uma discussão. “Quando mostram muita
René Kivitz, cita: o sexo é como um pudim sobre sexualidade sempre esteve presente. coisa ou até mesmo fazem a gravidez na
de leite condensado. “Como toda boa sobre- Ela e a irmã, a estudante Heloísa da Silva, de adolescência ser algo bonitinho não acho
mesa, deve ser deixado para depois do almo- 13 anos, tiram as dúvidas com a mãe Sandra legal” e completa dizendo que “a mídia tem
ço. E o almoço é o casamento – com tudo o da Silva, de 48 anos, assistente social. “Elas que ter cuidado para tratar do assunto. Se
que ele acarreta”, enfatiza Reinaldo. se sentem à vontade para perguntar e me for educativo, ótimo. Mas se ela trata de
Ironicamente próxima a motéis, a igreja coloco à vontade também”, afirma. Sandra uma outra forma...”.
possui o pastor Fabrício dos Santos, de 32 relata que começou a tocar no assunto quan- O pastor Fabrício concorda que a mídia
Que
AIDS é essa
A banalização do sexo sem preservativo, as histórias dos portadores que enfrentam
o preconceito. E os avanços do tratamento de uma doença sem cura
REPORTAGEM SUELLEN FONTOURA (1º ano de Jornalismo) e CAIO CANAVIEIRA (2º ano de Jornalismo)
“ELES QUERIAM QUE eu fosse um HIVzi- do, vai ficando vivo”. Vinte anos passaram
nho tacanho, que não se impõe. Nunca me desde o diagnóstico e a esperança no futu-
viram magro e até perguntavam: ‘Que Aids ro passou a fazer parte de sua rotina. Ele
é essa?’”. Os amigos e familiares de Fabia- planeja adquirir independência financeira
no Gomes, 46, mostravam-se surpresos e encontrar uma parceira “Eu me considero
diante de sua condição. Soropositivo há 20 feliz, tenho sonhos”, diz Gomes. Hoje, ele
anos, ele próprio não imaginava que viveria não tem problema nenhum em divulgar o
tanto. Logo no início da entrevista, na Casa nome e mostrar o rosto. Seu objetivo é ali-
de Apoio Brenda Lee, o cearense sorri e diz: mentar uma nova visão sobre a Aids. “As
“Já sei, vocês querem saber como eu con- pessoas têm ainda a ideia de que uma pes-
traío HIV?”. Ele conta que três meses após soa com HIV está acabada, decrépita, com o
conhecer sua parceira, foram morar juntos. pé na cova. Um soropositivo pode ter pele,
Em uma tarde, ela ligou desesperada e o in- membros e corpo perfeitos”, explica.
formou que seu ex-marido tinha morrido
de Aids. Os dois fizeram o exame, e o resul- DROGAS E HIV O uso de drogas pode es-
tado, HIV positivo, transformou a vida do tar relacionado com a infecção pelo HIV,
ex-vendedor de enciclopédias. “Meu mundo em virtude do uso de seringas e dos efei- “As pessoas têm ainda
caiu. Ficamos um ano sem fazer sexo, com tos colaterais dos entorpecentes. “A pessoa
medo. A gente se achava sujo”, confessa. quando se alcooliza ou se droga perde a a ideia de que uma
pessoa com HIV está
Mesmo de maneira sutil, alguns familia- noção de segurança e não se previne”, ex-
res e amigos tinham reações preconceituo- plica Carmem Kobayashi, assistente social
sas. Os irmãos dele não queriam aceitar a
doença e até hoje não entendem. Na última
do ambulatório do Centro de Referência e
Treinamento sobre DST e Aids há dez anos. acabada, decrépita,
visita à Fortaleza, em março, Fabiano perce-
beu o medo que os irmãos ainda sentiam.
A dona de casa Deise Aparecida, 41
anos, aprendeu a enfrentar a droga e a
com o pé na cova. Um
“Depois que saía do banheiro, eles pegavam
um litro de cândida e limpavam tudo. Sepa-
doença. Em 1997, na época com 28 anos,
Deise tinha um emprego no setor jurídico
soropositivo pode ter
ravam talheres, pratos e copos”, revela. Sua
luta diária é contra a intolerância. “O pre-
das Casas Bahia, estava noiva, com a casa
comprada e mobiliada. No final do mesmo
pele, membros e corpo
conceito mata mais do que a doença e para ano, ela avistou um rapaz em um ônibus e perfeitos.”
enfrentá-lo você tem que ter humor, inteli- imediatamente se apaixonou. Desistiu do
gência e foco”, enumera. noivado para casar-se com o desconhecido
A previsão de um ano de vida, feita pelo
próprio Fabiano, não se cumpriu: “O tempo
e por influência dele passou a usar drogas.
“Não conhecia nada de droga. Entrei direto
Fabiano Gomes, portador do
passa e você percebe que não vai morren- na cocaína, depois me envolvi com o crack. vírus há 20 anos
REPRODUÇÃO
Eu tinha curiosidade, fui e provei”, recorda. Para Kobayashi, a primeira relação se-
O marido sabia que era HIV positivo e xual feminina e o sexo anal, sem preserva-
mesmo assim não contou a ela. Deise desco- tivo, tem maiores chances de adquirir HIV,
briu que estava contaminada três anos de- pois há maiores riscos de entrar em contato
pois. “Foi chocante quando descobri. Me en- com o sangue contaminado. Os casos em
volvi mais ainda com as drogas e tentei me idosos tem aumentado. “Nesta faixa etária
matar. Você para, esquece a família. Perdi as pessoas não tem o hábito de usar preser-
tudo: respeito, confiança, dignidade. Vendi vativo”, esclareceu a infectologista Renata
duas casas para comprar droga, cheguei a Dell’Agnolo.
ficar quinze dias acordada, sem comer, só Um fator positivo foi a diminuição da
me drogando”, confessa. Em 2004 o casal se contaminação vertical (de mãe para filho).
separou e, seis meses depois, Deise soube “Com todos os cuidados na gestação, existe
que o ex-marido havia morrido. “Morreu na uma chance menor que 2% da criança adqui-
rua, no chão, tuberculoso”, conta. rir o HIV”, ressalta a assistente social.
Ela tinha receio de contaminar outras
pessoas. “Se eu cortava o dedo, não fazia COMPORTAMENTO Apesar da educação
mais comida. Tinha o meu copo, meus ta- sexual e preventiva, muitos parceiros não
lheres, meu prato. Usava só aqueles. Eu utilizam o preservativo ou o usam apenas
tinha preconceito comigo mesma. Hoje, não nos primeiros meses. Kobayashi diz que
tenho vergonha da doença, mas tenho medo as pessoas são preconceituosas, mas que
da discriminação e do preconceito”. elas mesmas não se cuidam. “O HIV não
Em janeiro de 2005 sua vida se transfor- tem cara, às vezes nem a própria pessoa
mou novamente. “Descobri que estava grávi- sabe que é portadora”. E completa: “inclusi-
da. Pesava menos de 40 quilos com o filho na ve casais em que ambos são portadores de
barriga. Na época, eu vivia só para a droga”. O HIV devem usar preservativo, pois existem
pai da criança, mais jovem que ela e também vírus diferentes e a mistura de dois tipos
soropositivo, não quis assumir o bebê. “Eu pode fazer com que o paciente que antes
pensei: ‘como uma pessoa sozinha, viciada reagia ao tratamento passe a não reagir. É
e doente poderia criar um filho?’”, indagou. a dupla contaminação”. Segundo a infecto-
“Foi um milagre que fez com que eu desistis- logista, para cada caso diagnosticado, exis-
se da possibilidade de suicídio ou aborto. Fiz tem aproximadamente outros dois que não
o pré-natal e parei de usar drogas”, relata a sabem seu estado sorológico.
REPRODUÇÃO
dona de casa. O filho, hoje com quatro anos, Dados de 2009, divulgados pelo Minis-
é HIV negativo. tério da Saúde apontam um aumento de jo-
Deise também falou sobre os efeitos co- vens portadores, com uma proporção de 10
laterais que a medicação provoca no organis- mulheres para cada 8 homens. A explicação
mo. “Os remédios são fortes. Você fica com para a taxa elevada se deve principalmente
estômago pesado e mal-estar. Há oito meses às relações sexuais sem compromisso. R.M.,
eu tinha abandonado tudo, mas peguei os re- 21 anos, universitário, explicou por que se
médios de volta e recomecei. Tenho que viver relaciona sem preservativo. “Na hora a gen-
pelo meu filho, ele precisa de mim; é nele que te nem pensa: já pegou várias e chega um
busco força todo o dia.” Hoje, ela mora com momento que você quer transar e, se apare-
o filho e o atual esposo, que é HIV negativo. ce a oportunidade, vai como dá. Sem contar
“Eu me considero uma pessoa feliz, porque que é menos incômodo”, declara.
Deus me deu um milagre: meu filho”, afirma. B.P., de 19, anos também analisa suas
relações sem preservativo “Foi pelo calor
DEFINIÇÃO/DADOS A Aids é o estágio do momento. Mas se pudesse teria feito com
avançado do vírus HIV, sigla em inglês que, camisinha, porque não dava pra saber se ele
significa Vírus da Imunodeficiência Huma- tinha alguma doença. E logo, veio o medo de
na. Caracteriza-se por atacar as células de engravidar”, desabafa.
defesa do organismo e enfraquecer o in-
divíduo, tornando-o suscetível às doenças TRATAMENTO Segundo o relatório da
oportunistas, como a tuberculose e a pneu- UNAIDS, órgão das Nações Unidas de com-
monia, que levam o paciente à morte. bate à doença, a terapia com antirretroviral
Uma pessoa pode ter o HIV e não mani- aumentou de 7%, em 2003, para 42%, em
festar sintomas: o chamado soropositivo. No 2008. A Secretaria da Saúde oferece um
Brasil, a doença chegou em 1982 e segundo serviço de aconselhamento: o Disque DST e
o Ministério da Saúde, até junho de 2009, AIDS. “Quem liga são aquelas pessoas que
houve cerca de 545.000 casos de HIV com estão com a carga do dia anterior, às vezes,
217.091 mortes. até do mesmo dia. Transaram e a camisinha
a compulsão do desejo
Descubra quais são os sintomas que caracterizam a dependência REPORTAGEM NATHÁLIA HENRIQUE e
sexual, uma doença crônica e pouca conhecida VITOR VALENCIO (2o ano de Jornalismo)
O GOLFISTA TIGER WOODS, os atores Mi- tamento sexual. Tal excerto serviu de base
chael Douglas e Pamela Anderson, além dos para Sigmund Freud desenvolver hipóteses
personagens Austin Powers e Samantha sobre sexualidade infantil, bissexualismo
Jones do seriado americano Sex and the City. e o complexo de Édipo. Ainda hoje há dúvi-
Estes são alguns nomes famosos da nossa das sobre o enquadramento ou não da com-
cultura que são viciados em sexo. O que soa pulsão sexual como doença. “A visão mais
como diversão para uns, pode ser, na ver- aceita entre os especialistas é a de que este
dade, um transtorno silencioso e fatal. “A é um transtorno do controle dos impulsos”,
compulsão se manifesta de acordo com o esclarece Scanavino. Um método desenvolvi- Os sete critérios utilizados para
passado do indivíduo e é desencadeada por do pelo psiquiatra americano Aviel Goldman diagnosticar a dependência
recorrência de abuso ou exposição a situa- avalia o comportamento dos pacientes afim
ções eróticas na infância”, explica o psiquia- de identificar padrões que caracterizem a O método desenvolvido pelo psiquiatra
tra Marco Scanavino. Especialista do Ambu- dependência sexual. (Veja o quadro) Aviel Goldman baseia-se no comportamento
latório de Pacientes com Compulsão Sexual Felizmente há tratamento para este de- do indivíduo nos últimos doze meses. A
do Hospital das Clínicas de São Paulo, ele sequilíbrio. O Projeto Sexualidade, conhe- ocorrência de três dos itens abaixo classifica o
ainda afirma que a adolescência ou a desco- cido por ProSex, funciona no Instituto de paciente como compulsivo sexual.
berta da sexualidade de cada indivíduo são Psiquiatria do HC. O médico Scanavino diz
os períodos mais recorrentes dos primeiros que “inicialmente, o tratamento consiste em • Tolerância ao sexo, aumentando a frequência
sinais do transtorno. consultas individuais com psicoterapeuta. e intensidade.
O diagnóstico e o reconhecimento da Após ser diagnosticado, o paciente passa
disfunção dificultam-se, pois o dependente por uma fase de implantação de medicação • Ansiedade, irritação e inquietude em períodos
não consegue discernir o limite entre o de- a fim de diminuir a libido. No nível mais curtos de abstinência.
sejo e a compulsão sexual. “Normalmente, o avançado, ele começa a participar da psi-
comportamento de pessoas com disfunção coterapia em grupo, dividida em dezesseis • Vida coletiva prejudicada devido ao gasto de
sexual é linear, ou seja, tem o mesmo tipo de sessões, que podem durar de quatro a cinco tempo excessivo com a prática sexual.
conduta baseada no extremismo”, esclarece meses”. Como não há clínicas especializa-
o médico. O constrangimento da situação e das em compulsão sexual, o tratamento em • Desistência de atividades sociais,
a crença na falha de caráter do viciado difi- grupo é visto como a alternativa mais efi- ocupacionais ou recreativas.
cultam a avaliação. “Há quem justifique a caz. O acompanhamento é constante e exige
compulsão pelo prazer e pela libertinagem”, atenção integral do paciente e do profissio- • Tentativas mal sucedidas de redução ou
diz Scanavino. nal, pois o distúrbio não tem cura. controle do desejo.
Desde a Antiguidade existem relatos de No cérebro do dependente o sistema moti-
comportamento sexual incomum. No entan- vacional e de recompensa é comprometido, o • Prejuízo na vida social, isolamento, perda de
to, somente no século XIX os desvios sexuais que prejudica a liberação de dopamina – subs- amigos e laços familiares.
tornaram-se assunto da medicina. O neurolo- tância responsável pela sensação de prazer.
gista alemão Richard von Krafft-Ebing (1840- Em momentos de medo, insegurança ou ten- • Continuidade da atividade sexual, apesar
1902), autor de Psychopathia Sexualis, desen- são, o viciado recorre ao sexo para uma des- de apresentar problemas sociais, financeiros,
volveu os conceitos de sadismo, masoquismo carga súbita de prazer. Quando o efeito passa, psicológicos ou físicos: este é o grau mais
e fetichismo em um estudo sobre compor- os medos voltam ainda mais intensos. elevado do transtorno.
REPRODUÇÃO
Conhecido como “diamante azul”, o
Viagra representa um risco para os
jovens que optam pelo consumo para
se livrar das inseguranças na cama
A pílula da discórdia
Criados para auxiliar A IMPOTÊNCIA SEXUAL ou disfunção erétil
tem transformado homens em vítimas. Pes-
sas psicológicas, orgânicas – ou ambas. No
caso de adolescentes, por exemplo, ela pode
os que sofrem de quisas revelam que 152 milhões deles en-
frentam dificuldades para obter ou manter
estar associada principalmente à inseguran-
ça com a própria sexualidade. “Eu já havia fa-
Tais obstáculos levam ao chamado “uso Outro ponto é que, de acordo com as leis mente absorvido que o remédio, que, nesse
recreativo”, no qual a ingestão dos medica- brasileiras, os medicamentos de estímulo caso, não vai ter tanto efeito. Além disso, o
mentos se torna uma constante. Esta forma de sexual só podem ser adquiridos mediante álcool, em pequenas doses, é estimulante;
consumo preocupa, pois, segundo Yabusaki, prescrição médica. Contudo, são poucos os em altas doses, causa depressão. Faz per-
já existe um grau de dependência para a pes- locais que cumprem esta exigência e a venda der o apetite sexual e, consequentemente, a
soa se achar capaz de se relacionar, o que é de- costuma ser indiscriminada. “Nunca foi ne- ereção”, explica Abdo. Mesmo assim, muitos
sastroso. “Se o jovem se depara com uma situ- cessário o uso de atestado médico. Inclusive, jovens insistem no consumo. “Já usei Via-
ação em que não vai se medicar, ele vai para a os vendedores brincam na hora de vender o gra, Ciális e Levitra. Em todas essas vezes,
relação extremamente angustiado ou prefere estimulante, por verem que quem está com- inclusive, eu estava sob efeito do álcool”,
nem mais ir. O remédio acaba exercendo um prando é um jovem”, afirma E.D., 18 anos. assume E.D.
papel importantíssimo no estado emocional Arnaldo Cividanes, urologista pós-gra-
dele, ou seja, ele não está mais sozinho: é ele AS CONSEQUÊNCIAS DO USO Os efeitos duado pela Unifesp e também membro da
e o medicamento”, observa o psicólogo. colaterais associados não se mostram tão SBU, ressalta que, apesar de incomum, há
Não é comum que a parceira seja informa- nocivos. Por serem hipotensores, os esti- um problema grave que pode advir da utili-
da sobre o uso de estimulantes. Para Yaku- mulantes são capazes de provocar queda de zação de estimulantes sexuais: o priapismo,
saki, quando a mulher descobre, o primeiro pressão, o que acarreta leve tontura, dor de ereção prolongada que persiste apesar da
pensamento é de que ela não seja desejada, o cabeça e congestão nasal. Como também são ejaculação. Esse quadro, contudo, somente
que não está necessariamente de acordo com vasodilatadores, há a possibilidade de ocor- ocorre por uma complicação prévia do in-
a realidade. Para que o medicamento funcio- rer certas reações cutâneas: vermelhidão, ca- divíduo e que pode ser potencializada pelo
ne, é preciso que haja atração. “Quando con- lor nas bochechas e orelhas. Pode haver, ain- consumo. “Se a rigidez peniana se mantiver
tei para minha namorada, ela disse que não da, dores musculares e estomacais. Tudo, no por mais de quatro horas, o caso deve ser
precisávamos daquilo, porém eu tomei e não entanto, geralmente muito leve e contorná- tratado como emergência urológica”, alerta
houve reclamação”, relata N. D. vel, de acordo com Abdo. “Eu normalmente o especialista.
sinto que o Viagra deixa o corpo bem quente, Quando a discussão se concentra em
A COMPRA DOS ESTIMULANTES O preço literalmente: as orelhas, o peito, tudo”, relata julgar o desempenho do Viagra e seus seme-
médio dos estimulantes é de R$50,00 por E.D. Entretanto, os efeitos podem diferir. No lhantes, é um consenso entre os profissionais
comprimido, portanto, o próprio custo im- caso de L.R., ele perdeu a sensibilidade du- a opinião de que eles facilitam a vida dos
plica que seus consumidores possuam bom rante a relação. “Era difícil manter o pênis homens. “É importante frisar que os medi-
nível econômico. “Até mesmo o jovem que ‘em pé’, porque eu não sentia nada”, conta. camentos são ótimos e que trouxeram uma
tem condições de comprar o medicamento Já a combinação entre Viagra e álcool série de benefícios para a vivência da sexua-
terá um gasto muito alto, caso queira usá-lo não é fatal, mas negativa. “Existe uma con- lidade. A minha ressalva é que eles precisam
com frequência”, comenta Yabusaki. corrência de absorção: o álcool é mais facil- ser bem utilizados”, conclui Yabusaki.
Prazer
que vem de dentro
Sangue correndo pelo corpo, sensação de euforia crescente, respiração
ofegante, batimentos cardíacos acelerados. Saiba mais sobre o orgasmo
REPORTAGEM DANYLO MARTINS (1o ano de Jornalismo), LUIZA GIOVANCARLI e RHAISSA BITTAR (2º ano de Jornalismo);
MARIA GIULIA PINHEIRO (3o ano de Jornalismo)
“É MENOS COMPLICADO do que nós ima- corpo. Sinto todo o meu corpo contrair bem
ginamos, mas é preciso tirar todas as mi- rápido. Dura pouco, mas é uma sensação que
nhocas da cabeça. Eu já tinha gozado com não tem como descrever. Não tem igual, é bom
o toque de um parceiro, mas nunca havia demais”, relata a radialista G., 22.
conseguido sentir prazer na penetração. E Na mulher, o processo é mais lento e gra-
com ele eu senti. Percebi que estávamos ali dual. “Entra-se no estado de perda de con-
pra dar prazer um pro outro. Consegui re- trole muscular voluntário e as mãos, pés e
laxar e me entregar. Gozei.” A professora C. rosto podem se mexer sozinhos. A região
B., 32, conta entusiasmada sobre a primeira perineal (canal vaginal) também apresen-
vez que teve um orgasmo com o publicitário ta contrações involuntárias e os mamilos
D. B., 31, seu marido há oito anos. ficam enrijecidos”, define a ginecologista e
O orgasmo é um processo sensitivo ca- obstetra Maria Silvia Coronado. “Lembro-
racterizado por intenso prazer físico e con- me bem da primeira vez que eu senti. Uma
trolado pelo sistema nervoso autônomo. Os sensação que foi crescendo aos poucos.
órgãos sexuais possuem diversos nervos Imagens de paisagens iam surgindo na
que enviam informações ao cérebro sobre minha cabeça até que um prazer absurdo
o que está sendo sentido. As sensações va- me domou e foi como se eu tivesse me unido
riam dependendo do local em que a pessoa a algo maior, ao mundo todo”, suspira L. S.,
está sendo tocada e duram, geralmente, 26, dentista.
poucos segundos. Ainda há certo tabu sobre o orgasmo
No corpo masculino, o orgasmo está re- feminino, mas os avanços contra o precon-
lacionado diretamente ao processo de eja- ceito sobre o tema são notáveis. O casal de
culação. Para o urologista João Afif Abdo, aposentados R.P., 76, e I.P., 82, encontraram
membro titular da Sociedade Brasileira de
Urologia (SBU), são dois fenômenos diferen-
um ao outro após 30 anos viúvos e perce-
bem nitidamente a mudança na liberdade
“Sinto todo o meu
tes, mas que se ligam intimamente. “A ejacu-
lação é de natureza física no qual você emite
da busca pelo prazer. “Foi no meu segun-
do casamento que me dei conta do que
corpo contrair bem
uma substância, o esperma, para o exterior. era aquele amor escrito por Jorge Amado. rápido. Dura pouco,
Já o orgasmo, por sua vez, é sensitivo, no Antes, não acreditava que o amor podia ser
qual você tem o prazer máximo”, completa. daquele jeito, aquela paixão que chega a dar mas é uma sensação
O orgasmo no homem ocorre simulta- febre e aquela entrega ao companheiro.”, de-
neamente ao processo ejaculatório – con- clara R.P. Ela faz questão de passar adiante que não tem como
trações sucessivas e rápidas da vesícula se-
minal, liberando o esperma. Abdo explica
o que aprendeu. “Eu falo para a minha neta,
‘quando a gente ama, faz do ato uma coisa descrever. Não tem
que essa é a fase mais intensa do ciclo de
resposta sexual masculino.
sublime’. Temos que ter liberdade pra sentir
esse prazer e não, ‘ah, isso é pecado’”.
igual, é bom demais”
“É o ponto máximo do clímax, na ativida- Para ser alcançado, o orgasmo tem al-
de sexual do homem”, afirma. “É uma sensa- gumas exigências: calma, entrega e concen-
ção que vem de ‘lá’ e se espalha para o resto do tração. Varia muito de pessoa para pessoa, G., 22 anos
O limite é a
privacidade
Tudo pode acontecer numa casa de swing, desde que fique por lá
REPORTAGEM ROBERTA VILELA (1o ano de Jornalismo); ISABELLA LUBRANO e VITOR VALENCIO (2o ano de Jornalismo)
ALESSANDRO JODAR (3o ano de Jornalismo)
VITOR VALENCIO
VULGARIDADE, DIVERSÃO OU PRAZER.
Muitas são as opiniões sobre as casas de
swing. Famosas por promoverem trocas de
casais e permitirem o envolvimento sexu-
al casual e descompromissado, estes locais
ainda aguçam a curiosidade das pessoas. No
banheiro de uma dessas casas, sob o nome
fictício de Diego, o funcionário de 25 anos
logo avisa que o estabelecimento é o lugar
certo para quem quer “ver muita mulher pe-
lada”. Para preservar a identidade dos entre-
vistados, todos os nomes que aparecem ao
longo da reportagem são de cunho ficcional.
As casas de swing muitas vezes ficam
conhecidas como “baladas liberais”. Em
São Paulo, esses estabelecimentos adotam
o termo como um eufemismo contra o in-
cômodo do rótulo. “Escolhemos esse nome,
mas vocês podem chamar de casa de swing
sem problema nenhum”, declara Denise, ge-
rente da Vogue Club, localizada em Moema.
Na verdade, os dois nomes funcionam como
marketing: de “suingueiros” os fregueses são
elevados à condição de “liberais” – são pou-
cos os que assumem frequentar tais clubes.
Edson, que mora em Guarulhos, prefere
ir às casas de swing paulistanas. “Vai que eu
encontro algum conhecido... Quero preser-
var a imagem da minha esposa”, preocupa-
se. Ele, inclusive, conta que já chegou a en-
contrar um colega de trabalho durante uma
noite. O constrangimento de ambos só se
resolveu quando ele chegou a conclusão de
que era melhor relaxar, afinal “se ele está me
vendo aqui, eu também estou vendo ele”. Pois
é, pouca coisa está mais cercada por um ar de
clandestinidade do que o swing. Mas, pen-
Discreta, a balada protege a intimidade dos frequentadores sando bem, isto também faz parte do fetiche.
Clube Ga10
(sábados) – Rua Francisco Borges, 126, Bom
Retiro.
Casais: 70,00 / Mulheres: 20,00 / Homens: 150,00
(Consumo incluso)
Nefertiti
(sextas) – Rua Texas, 235, Brooklin.
Casais: 90,00 / Mulheres: 30,00 / Homens: 300,00
(Não incluso consumo)
Marrakesh
(sábado) – Al. dos Arapanés, 1.237, Moema.
Casais: 80,00 / Mulheres: 40,00 / Homens: 200,00
(Não incluso consumo)
é simples: uma piada ou um comentário sobre A sala mais disputada nessa casa tam- pouco antes de contar o caso de um senhor
si, muita conversa, para só depois, quem sabe, bém é a da troca de casais. Ao som baixo de baixinho que, acompanhado da esposa, dei-
ver se não “rola um swing”. “Jesus Cristo”, de Roberto Carlos, um casal xava a casa lá pelas duas horas da manhã.
Luciana e Sandro, namorados há nove de cerca de sessenta anos de idade protago- Era a primeira vez do casal e, por isso,
anos e frequentadores assíduos de casas de niza uma cena de exibição sexual. Ela, uma marido e mulher preferiram não participar
swing, consideram outros clubes mais pesa- distinta senhora de cabelos brancos e blusa do swing – o que não quer dizer que eles
dos. “Na Marrakesh, você entra no quarto de florida, faz sexo oral num senhor, que man- não aproveitaram a experiência. “Não fize-
swing e seu pé nem encosta no chão. A galera tém pendurado no pescoço o par de óculos mos nada, mas a gente viu cada coisa que já
já vai te pegando”, comenta Sandro. para vista cansada. Enquanto isso, outras fica em pé [excitado]! Aí quando chega em
No labirinto, por outro lado, a conversa pessoas assistem à cena, parando de vez em casa, até quebra a cama!”, disse o senhor.
não é o mais importante. Quem se aventura quando para se masturbar ou também fazer Encabulada, a senhora deu-lhe um tapinha
por ali pode encontrar partes do corpo de sexo oral no companheiro. na nuca e sorriu.
anônimos dispostas em orifícios nas pare- Naquela mesma noite, um pouco antes
des, os chamados glory holes – braços, mãos ORGASMOS A RODO “KY e vaselina você e não muito longe dali, um casal subia as
e o que mais couber. “Aqui sempre entra al- encontra a rodo no fim das festas”, comenta escadas rumo aos quartos privativos do se-
guma coisa pelo buraco”, brinca Jaime. As uma das responsáveis pela higiene do local, gundo andar. “Calma, que eu estou com a
pessoas não se olham muito nos olhos, mas, que admite não gostar de limpar a casa aos perna bamba!”, reclamou a mulher obesa
ainda assim, a sensação permanente é de domingos, quando há um grande churrasco para o parceiro. Diante da insistência do
estar sendo avaliado. Tanto é que, momen- à luz do dia. A empolgação da festa acaba companheiro em apressá-la, ela se explicou:
tos depois, vem uma apalpada nas nádegas, “esquentando” a piscina os cômodos do clu- “Você pensa que é fácil, é? Pensa que é fácil
dada por sabe lá quem – a penumbra do la- be. “Cada quarto esbaforido, com um monte ficar de quatro?”. Não havia mesmo dúvidas
birinto dificulta a identificação e auxilia a de homem e mulher em cima da cama, que de que, naquela casa de swing, os casais se
extroversão dos mais tímidos. a gente entra. Deus me livre!”, riu a mulher sentiam à vontade.
SEX SHOP
TEXTO MARIA ZELADA LIDYANNE AQUINO (2º ano de Jornalismo)
ANA JÚLIA CASTILHO e MARIANA FERRARI (3º ano de Jornalismo)
Fantasia
de 20 a 40 anos, que vêm acompanhadas de amigas. “A primeira vez que
eu entrei em um sex shop foi por curiosidade e vi uns brinquedinhos”,
conta a estudante Melissa Rodrigues, de 22 anos, que acabou voltando
para buscar as bolinhas de óleo que, ao serem colocadas na vagina,
explodem. “Nossa, são muito boas”, completa.
à venda
O receio de ser descoberto comprando num sex shop faz com que
muitos clientes paguem suas compras à vista, para que não fique
nenhum rastro de sua passagem por este tipo de lojinha. Assim, uma
tendência em algumas empresas é a entrega dos produtos a domicí+lio,
de forma a adaptar o sex shop ao cliente. “Nós queremos ser uma
loja diferente. Como a maioria destes estabelecimentos tem cabine,
vamos construir um café dentro da boutique”, relata Elisandra Grana,
vendedora da Erotika Sex Shop, na Consolação. A loja já foi palco
Entre 10 e 850 reais: criatividade e de histórias inusitadas. “Uma vez, um senhor de 86 anos levou um
masturbador. Pensei: ‘Nossa, tá subindo ainda?’. Mas, na segunda visita,
erotismo para todos os bolsos ele queria uma massagem erótica. Falei que era uma vendedora e não
fazia”, comenta.
Vibradores, bonecas infláveis, algemas e chicotes. Um universo de Ainda segundo vendedores do Emporium Sex, preço não parece ser
desejos condensados entre quatro paredes. Apesar de existirem desde a problema. Um vibrador pode variar de 70 a 850 reais, dependendo da
década de 1960, os sex shops ainda são vistos como lojas que vendem marca e da textura. Aliás, é o produto mais vendido na loja tanto para
apenas artigos pornográficos ou direcionados para prostitutas – o que é homens, quanto para mulheres. Há ainda uma novidade no mercado
puro preconceito. O intuito dos objetos oferecidos é promover prazer de que vem atraindo muitos compradores: um vibrador que funciona com
uma forma divertida – como o sexo deve ser. controle remoto e que custa 400 reais. Os famosos bonecos infláveis
também não saem baratinho: com entrada de boca e ânus e um pênis
Em geral vendem-se os itens mais conhecidos: camisinhas de diferentes de borracha acoplado, o boneco inflável masculino Big John pode ser
tipos, sabores e tamanhos a preços acessíveis (dificilmente um pacote levado para casa por 500 reais.
com três itens sai por mais de 10 reais), DVDs, fantasias e lingeries
eróticas, acessórios e jogos para mais de uma pessoa, como os famosos No entanto, a grande novidade no mercado do sexo é o curso de
dadinhos com ações e posições sexuais. Alguns sex shops também pole dance. Febre recente em vários motéis, a dança no pilar atiça a
comercializam livros ficcionais e de auto-ajuda envolvendo temas da curiosidade de muitas pessoas. A partir desta tendência, alguns sex
sexualidade, óleos comestíveis com sabor de caipirinha, canudos em shops promovem aulas aos seus clientes. No Emporium Sex, ela é única
formato de pênis ou cartões eróticos. e semestral, com duração de três horas, para homens e mulheres e custa
300 reais. “Precisa ter certo cuidado, um equilíbrio, mas ao mesmo tempo
Há quem use a boa e velha desculpa da curiosidade para entrar numa mexer com a criatividade do cliente”, comenta Valéria Chagas, vendedora
dessas lojas. Segundo representantes do Emporium Sex Shop, de São da seção de sex shop da Loja Gall Moda Íntima. E haja criatividade!
Inocência
interrompida
O abuso sexual infantil é um dos crimes mais recorrentes no país.
Instituições diversas lutam para amenizar o problema
NO BRASIL, A CADA 15 segundos uma comum em cidades do litoral, e principal- alguém, diz ter sido abusada sem que isso
criança é abusada sexualmente. Este dado mente na época de festas como o Carnaval, necessariamente tenha acontecido. A linha
levantado pela Associação de Jovens Maka- por conta da permissividade que é prega- que separa o fato da possibilidade do ato é
nudos de Javeh, entidade que combate esse da pela sociedade nesse período”, conta. tênue e cabe ao Conselho apurar a veracida-
crime no país, revela uma violência que cres- Segundo ela, o pedófilo pode ser descrito de da denúncia. Caso confirmada, o menor
ce cada vez mais. “Quanto mais gente der a como sendo uma pessoa que faz parte do é encaminhado à justiça e, se apresentar in-
‘cara a tapa’, mais rápido a gente acaba com círculo doméstico da criança. “É alguém que dícios físicos de abuso, é levado a hospitais
esta história”, afirma Tiago Torres, presi- gosta de frequentar festas infantis, clubes, que trabalham especificamente com estes
dente e fundador da instituição paulistana. e, ocasionalmente, levá-las em casa. São ge- casos, como o Pérola Byington.
Dentre os 65 milhões de menores de ralmente introvertidos, muito compreensi- “A criança fica com vergonha. Ela acha
idade brasileiros, cerca de 975 mil sofreram vos e imersos no universo infantil”, destaca. que o problema é ela. Sente-se culpada”,
este tipo de violência. Os números foram No entanto, completa, há alguns pedófilos afirma Gonçalves. Aceitar a sexualidade na
divulgados pela ONG liderada por Torres e ocasionais, que encaram o ato como uma es- criança é muito complexo já que até o sécu-
pela Operação Blessing Brasil, e baseados em pécie de “aventura sexual”. Nesse caso, não lo XIX os jovens eram considerados anjos e
pesquisas feitas pela UNICEF (United Nations há como traçar um perfil detalhado. retratados como tal. Com Freud e a psicaná-
Children’s Fund), além de informações ofi- lise esses mitos começaram a se dissolver.
ciais do Ministério da Justiça. Os dados não TABUS E PRECONCEITOS “É um tema que Mas ainda assim chegamos ao século XXI
são absolutos e a falta de denúncias faz com não é de hoje. Era muito comum ter relatos na cheios de tabus e preconceitos. Cabe, então,
que o conhecimento dos casos seja parcial. própria família, em que a avó, bisavó casou ao homem contemporâneo debater tal pro-
“Há muitos focos em que este tipo de com 14 anos”, diz o líder da Childhood. Gon- blema e erradicá-lo.
abuso pode estar infiltrado. No turismo, por çalves ainda destaca que existe algo de bastan-
exemplo, nas vias rodoviárias, nas obras em te cultural na violência sexual infantil. Em al-
municípios e nas escolas”, lista Itamar Ba- gumas comunidades é considerado plausível
tista Gonçalves, coordenador sênior da ONG que a filha tenha a primeira relação sexual
Childhood, que foi fundada no Brasil pela com o pai. Segundo ele, a frase comum nesses
rainha Sílvia, da Suécia. Ele enfatiza que é casos é: “A filha é minha e eu que vou iniciar”.
preciso trabalhar de forma coletiva para As crianças costumavam ser tratadas
combater tal violência. como objetos: eram de alguém, normalmente
dos pais. É muito difícil mudar essa mentali-
FOCO Os grandes focos do abuso infantil dade para que as pessoas enxerguem jovens
concentram-se nas regiões norte e nordes- e adolescentes como cidadãos de direito. Se-
te do Brasil. Contudo, a violência se alas- gundo o Conselho Tutelar da Sub-prefeitura
tra por todo o país. “A gente não precisa ir de Pinheiros, em São Paulo, a maioria dos
para o norte do país. Aqui em São José dos casos de abuso são intra-familiares. “Os vi-
Campos [município do interior paulista], vão zinhos, a escola e os próprios membros da
chegar 7 mil operários...”, conta Gonçalves, família denunciam a violência”. Para a psica- SERVIÇO - Denúncias e Contato
deixando a frase no ar. Segundo ele, quando nalista, isto fez com que as crianças ficassem
um município recebe tantos funcionários, a mais espertas. “Não houve evolução no con- Disque 100: Tem a tarefa de atender,
localidade pode virar um foco de abuso in- ceito, houve uma mudança de visão da socie- encaminhar e acompanhar as denúncias de
fantil. Assim, é essencial o cuidado e a pre- dade”, atenta Fani Hisgail. Com a atenção que abuso sexual.
venção dentro das empresas contratantes. o assunto levanta atualmente, sobretudo na Blog: www.estaacontecendoagora.com
A psicanalista Fani Hisgail, autora do mídia, a partir do momento em que há um ONG Childhood: www.wcf.org.br
livro Pedofilia: um estudo psicanalítico, lem- suposto caso de pedofilia, segundo a autora, Conselho Tutelar: na cidade de São Paulo
bra que, pela extensão do Brasil, é difícil “todo adulto é culpado”. existem vários conselhos tutelares que podem
formar uma operação efetiva para conter o De acordo com o Conselho Tutelar, há in- ser indicados pelo Disque 100 ou pelo site
crime. “A ocorrência desta violência é mais clusive casos em que a criança, induzida por www.prefeitura.sp.gov.br
Passaporte
para o prazer
A prática do turismo sexual. Entre jantares, compromissos profissionais e
negócios, há tempo para algo a mais
REPORTAGEM CAMILA LARA, FELIPE ELIAS, JULIETA MUSSI e MATIAS LOVRO (2o ano de Jornalismo)
IMAGENS MATIAS LOVRO (2o ano de Jornalismo)
DIZEM QUE A PROSTITUIÇÃO é a profissão da indústria do sexo está voltada a essas pes- Num país onde o salário mínimo vale 510
mais antiga do mundo. Há séculos, o turismo soas. Trazidos por questões profissionais à ci- reais, a profissão pode ser tentadora para algu-
sexual já era conhecido pelos viajantes que dade, alguns executivos, após comparecerem mas garotas. Mayara veio do Pará para traba-
usavam tal prática. Seja em países europeus aos seus compromissos e assinarem contra- lhar como babá em casa de família. Hoje, não
– a Holanda possui um distrito dedicado a tos, preferem ser recebidos nos hotéis em que ganha menos que 6000 reais por mês; paga o
essa atividade na capital, Amsterdam –, em estão hospedados por algo além de um jantar flat em que mora, outra casa na capital, onde
nações do sudeste asiático, como a Tailândia na conta do chefe. Esses empresários vêm a deixa seu cachorro, e ainda envia dinheiro à
e a Indonésia, ou em terras latino-america- São Paulo e pensam “Não vou passar batido. família, que não tem conhecimento de seu tra-
nas, onde a prostituição voltada aos viajantes Por que não aproveitar?”, conta a garota de balho. “Meus pais nem desconfiam da minha
move milhares de dólares todos os anos. programa Mayara Costa, de 30 anos. profissão”, diz. De acordo com ela, contratar
O turismo sexual está fortemente pre- Hoje, a forma mais rentável de divulgar acompanhantes durante viagens de negócio
sente também no Brasil. Por aqui, não há leis serviços sexuais é através de anúncios em não é uma atividade sempre mal-vista dentro
que incriminem a prostituição em si. Quem sites especializados. O M.Class, que está no das empresas. “Muitos clientes chegam até
fornece ou utiliza os serviços não vai para a ar há 10 anos, é considerado o melhor nesse mim indicados pelos próprios chefes”.
cadeia. Mas a atividade se torna ilegal a par- mercado específico. “As meninas que você O turismo sexual não necessariamente
tir do momento em que alguém contrata e encontra lá são bonitas e educadas. Você se limita ao sexo. Há meninas contratadas
agencia pessoas para atuar nesse campo. O pode facilmente levá-las a um restaurante e para acompanhar os executivos em eventos
artigo 229 do Código Penal brasileiro con- ninguém dirá que são garotas de programa”, empresariais, passando-se por namoradas ou
dena quem mantém estabelecimentos onde conta um empresário da cidade de Santos, amigas. Por vezes, são levadas até em viagens.
ocorra exploração sexual – os velhos prostí- que acessa frequentemente o site e sobe a “Costumo ser contratada para ir ao teatro ou a
bulos – levando a pena de dois a cinco anos serra somente para se divertir com as “ami- jantares, e já passei até virada de ano na praia
na prisão, além de multa. Já o artigo 231, de- guinhas”, como as define. com a família do cliente”, conta Mayara, que
termina que é ilegal – promover ou facilitar No ramo há três anos, Mayara gasta cerca mantém contato com muitos deles, o que lhe
a entrada, no território nacional, de alguém de 800 a 1500 reais mensais com esse tipo garante freguesia e até amizades.
que nele venha a exercer a prostituição ou de propaganda na internet. É procurada e Mas como tais viajantes chegam até essas
outra forma de exploração sexual, ou a saída contratada para atender clientes em hotéis meninas? Em países como Alemanha e Itália,
de alguém que vá exercê-la no estrangeiro”. ou no flat que mantém no Jardins, bairro de existem agências de turismo que já pensam
Não coincidentemente, o turismo sexual classe média alta paulistano. Com preços que no cliente antes mesmo da compra das pas-
na cidade de São Paulo acompanha o perfil da variam de 200 a 400 reais (o táxi incluso na sagens. Os pacotes são oferecidos aos estran-
metrópole. Na capital mais rica e desenvolvida conta), ela satisfaz quem pode pagar por uma geiros com “opcionais” a gosto de cada um.
da América Latina, onde negócios milionários companhia diferente. “Atendo muito gringo e Esses turistas vão para cidades como Forta-
são fechados e executivos de alto escalão fre- executivo”, garante. “Aliás, são os melhores: leza, Natal e Recife, onde achar uma garota
quentam reuniões importantes, grande parte não reclamam do preço e te respeitam muito”. de programa é tão fácil quanto se refrescar
com uma água de coco. Nesses polos sexuais, diz ter, atualmente, uma grande e fiel fre-
até mesmo donos de hotéis, pousadas e taxis- guesia. Frisa, ainda, que é amiga de pessoas
tas participam dos esquemas de prostituição, influentes na sociedade paulistana. Os car-
que por vezes envolvem menores de idade. No ros de luxo estacionados em frente ao local
sul do país, por exemplo, a Casa de Massagem só reforçam o perfil dos clientes. Entretanto,
da Inês, em Blumenau (SC), disponibiliza em a empresária nega comercializar qualquer
seu site preços e ainda promete: “Se preferir tipo de serviço sexual. “A casa não vende
duas meninas, vai rolar de tudo entre elas e nem facilita sexo. Vende massagem sensual
você por 210 reais, durante uma hora.” e sensualidade. Isso aqui não é um puteiro”,
Em São Paulo, muitas casas de prostituição enfatiza, e completa dizendo que “se quises-
rodeiam os aeroportos de Guarulhos e Congo- se, poderia negociar com a prefeitura e com
nhas. Assim, garante-se o conforto do viajan- a polícia e lucrar muito mais, como cafetina”.
te tão logo ele desembarca. Um ex-empregado Contraditoriamente, por telefone, um
de hotel em Guarulhos, que preferiu não se atendente passa os preços das salas, que va-
identificar, confidencia que já foi designado riam entre 140 e 200 reais, e os valores pelos
a contratar prostitutas para hóspedes, que quais se contrata as garotas para “massagens
as escolhem em uma revista publicada para e o algo mais”, nas palavras dele. Logo que
redes hoteleiras. Os funcionários ganham chegam, os clientes são recepcionados e têm
cerca de 50 reais por agendamento. A própria acesso a um catálogo de profissionais. Nas
Mayara começou trabalhando em uma casa fotos, muitas estão nuas e em poses provo-
de massagem próxima a Congonhas. Conse- cantes, como se medidas de busto e quadril
guiu o emprego através de um anúncio e ga- fossem fatores determinantes para uma boa
rante ter trabalhado com fins sexuais. “Eles massagem. Assim que escolhida a menina,
colocam no jornal ‘recepcionista’, mas eu já o cliente é levado a uma sala reservada. Lá,
tinha uma noção. Os clientes que ligam ge- de acordo com a empresária, massagens de
ralmente sabem que a casa oferece sexo, mas diversos tipos são oferecidas – entre elas a
já cheguei a fazer só massagem”, conta. Lá, tailandesa, em que o cliente e a massagista
reuniu sua primeira cartela de clientes. ficam nus durante a sessão. “O cliente fica à
vontade para ter ereções, mas não oferece-
TRATAMENTO ESPECIAL A reportagem pro- mos sexo. Se acontece, é sem conhecimento
curou conhecer um desses “spas” e ouvir o da casa”, insiste a dona.
que os responsáveis teriam a dizer. Locali- Semanalmente, às quartas-feiras, eventos
zado em uma casa no bairro do Campo Belo, reservados são promovidos para os melhores
em rua residencial e bem cuidada, com uma clientes. “É um esquenta para o futebol, eles
fachada discreta, pintada em cores claras, adoram”, conta a empresária. Nesses happy
onde quase não se consegue ver o nome do hours, suas meninas estão sempre presentes.
local. A simplicidade contrasta com o segu- Ao descrevê-las, reforça que há funcionárias
rança de quase dois metros de altura parado bonitas e “um pouco mais disponíveis”. Em
em frente à porta principal. Ao entrar, no contrapartida, é enfática ao dizer que dispen-
entanto, a sala de espera dá espaço a um am- saria a menina caso descobrisse que o cliente
biente mais exótico, com cores fortes, luzes tenha saído satisfeito demais. Para ela, não há
baixas e velas acesas por todos os cantos. fundamentos nessa crença de que as sessões
Decepcionada com o fato de Esquinas tratar- de massagem em sua clínica envolvam sexo,
se de uma publicação laboratorial universi- uma vez que isso pode ocorrer em qualquer
tária, a “empresária do ramo estético”, dona lugar e situação. “É algo que pode acontecer
do estabelecimento, deixou de lado o modo até mesmo em um consultório dentário”.
desbocado com o qual recebeu os repórte- Não é à toa que São Paulo é considerado
res a princípio e assumiu um tom maternal. um dos mais completos centros urbanos do
“Quando se formarem, venham fazer uma mundo e que os principais conglomerados
reportagem séria aqui, para eu ganhar muito empresariais – e uma ou outra casa de mas-
dinheiro”, falou, rindo. sagem – se estabeleçam na cidade. Por aqui,
Ela abriu as portas da clínica de “cuida- pode-se encontrar de tudo e mais um pouco.
dos masculinos” há quatro anos – embora Bons teatros, bons restaurantes, bons hotéis.
conste no site oficial que a casa tenha mais Mas, falando em business, o que importa são A garota de programa Mayara Costa
de 15 anos de experiência no mercado – e ótimos dentistas e excelentes massagistas. ganha pelo menos seis mil reais por mês
Sexshoot
Vale do
Pornô
Fatos, números e curiosidades de uma indústria que fatura 12 bilhões de
dólares nos Estados Unidos e um bilhão de reais no Brasil
FAMOSA POR SER um centro de pes- econômica de 2008, empresas do ramo se INTERNET Você já acessou um site pornô? A
quisas tecnológicas desde o início do juntaram para pedir ajuda ao Congresso dos probabilidade é maior se quem está seguran-
século XX, a área do Vale do Silício, Estados Unidos. Lideradas por Larry Flint, do esta revista é homem, já que eles somam
nos Estados Unidos, viu o surgimen- dono da revista Hustler — primeira publica- cerca de 77% dos visitantes. A maioria, po-
to das principais empresas de internet ção a estampar pornografia hardcore —, as rém, ainda tem vergonha de admitir.
nos anos 1980 e 1990. Mas o que Google, produtoras e editoras clamaram que “em Segundo estudo publicado por Benjamin
Yahoo! e companhia não esperavam é que a tempos difíceis, os americanos procuram en- Edelman, economista da Universidade de
indústria de tecnologia digital seria crucial tretenimento para relaxar”. O anúncio oficial Harvard, os politicamente conservadores são
para o desenvolvimento de outro importan- acrescentava que “cada vez mais, o tipo de en- os que mais consomem pornografia online.
te polo econômico americano: o “Vale do tretenimento que procuram é pornográfico. “Através de uma das maiores distribuidoras
Silicone”, trocadilho com o nome da região A indústria pornô foi ferida pela crise como de entretenimento adulto, obtive uma lista
(Silicon Valley). todo mundo”. Por fim, diziam eles, “quere- de CEPs associados a assinaturas de cartões
Seis cidades compõem a área, responsá- mos uma ajuda de cinco bilhões de dólares”. de crédito”, conta o pesquisador, explicando
vel por cerca de 80% da produção de filmes Antes que os adeptos mais conservadores do como obteve o perfil desses compradores.
pornográficos norte-americanos: Burbank, Partido Republicano tivessem um infarto, o Mesmo com o crescimento das vendas
Calabasas, Glendale, Hidden Hills, Los An- Congresso rejeitou a proposta. pela internet, o carro-chefe da pornografia
geles e San Fernando, todas do Estado da O tenente-coronel aposentado Dave continua sendo o DVD. De acordo com os
Califórnia. A indústria pornô é tão forte na Cummings, do exército americano, é a dados mais recentes publicados pela AVN,
região que cerca de 30 milhões de dólares são prova de que não há preconceitos no mer- em 2008, a internet respondeu por 2,8 bi-
arrecadados anualmente através de impostos cado pornográfico. Nascido em 13 de março lhões de dólares, enquanto aluguéis e vendas
ligados às produções eróticas. de 1940, ele é considerado o ator mais velho representaram 3,6 bilhões.
Durante os anos 90, os lucros com vendas em atividade pela Adult Video News (AVN) Para a especialista em internet, Zabet Pat-
e aluguéis de filmes subiram de 1,6 bilhão de — instituição que reúne informações sobre terson, existe um motivo para que os homens
dólares para 4,2 bilhões. Na última década, a a indústria. Segundo Cummings, trabalhar consumam mais pornografia que as mulhe-
indústria pornô norte-americana movimen- em frente às câmeras não é uma questão de res. No texto “Consumindo pornografia na
tou em média 12 bilhões de dólares anuais beleza nem de músculos, apenas de eficiên- era digital” (“Going On-line: Consuming
— incluindo filmes, brinquedos e publica- cia. Ele desenvolve esse ponto de vista no pornography on the digital era”, capítulo
ções eróticas. O desempenho se equipara, texto Como se tornar um astro pornô. Fora a publicado no livro Porn Studies, lançado pela
por exemplo, ao da indústria de videogames. aposentadoria de 50 mil dólares anuais, ele Duke University Press, 2004) , ela revela que
A produção pornográfica atingiu um ganha aproximadamente 140 mil dólares o homem falha mais em encontrar a “mulher
nível tão profissional que, durante a crise com seus filmes. ideal”, azssim, recorre não apenas à porno-
grafia na web, como a todo tipo de material logos Donn Byrne e Kathryn Kelley, no texto
Nos sex shops, o carro-chefe dos produtos
pornográficos continua sendo os DVDs
erótico. “O panorama mostra um pânico só- “Pornografia e pesquisa sexual” (“Pornogra-
cio-cultural sobre o que podemos chamar de phy and sex research” – capítulo publicado
objeto de escolha correto”, afirma. no livro Pornography and sexual aggression,
lançado pela editora Academic Press, 1984).
RAÍZES E RESTRIÇÕES Em 1968, o então pre- Andy Warhol, precursor do movimento
sidente dos Estados Unidos Lyndon Johnson pop art, foi um dos primeiros a gravar em
instituiu a Comissão sobre Obscenidade e vídeo um ato sexual que ganhou notoriedade.
Pornografia. O objetivo era estudar os efeitos A obra Blow job, de 1964, mostra o rosto de
desses dois elementos “no público e, particu- um jovem, DeVeren Brookwalter, enquanto
larmente, nos menores de idade, e as relações recebe sexo oral. No filme, gravado em preto
com crimes e outros comportamentos an- e branco, não é possível saber se o parceiro
tissociais”. Na mesma década, a Dinamarca é homem ou mulher. A exposição Mr. Ameri-
se tornou pioneira ao eliminar todas as leis ca, que ficou em cartaz de 20 de março a 23
restritivas no que dizia respeito à produção e de maio de 2010 na Pinacoteca de São Paulo,
distribuição de materiais eróticos. expôs Blow job pela primeira vez no Brasil.
Livros também já foram proibidos. Só em
1933 – Ulisses, de James Joyce, pode ser co- MADE IN BRAZIL Mesmo com expressivo
mercializado nos Estados Unidos – 19 anos mercado consumidor e aumento de vendas,
após ser escrito. Outro exemplo é O Amante a indústria pornô no Brasil está em crise. No
de Lady Chatterley, do inglês David Lawrence. auge da produção, entre 2005 e 2006, quase
Lançado em 1928, o romance só começou a 30 produtoras lançavam mensalmente seus
ser produzido na Inglaterra em 1960. filmes. Atualmente, o número é significativa-
Aos poucos, praticamente todas as res- mente menor. De acordo com Evaldo Shiroma,
trições foram removidas em lugares como presidente da Associação Brasileira de Em-
Europa, Estados Unidos e Brasil. “Talvez um presas do Mercado Erótico (Abeme), há entre
mecanismo melhor seja o mesmo de leis fe- oito e dez empresas dominando o mercado.
derais que protegem consumidores contra a “É impossível concorrer”, diz João An-
ingestão de substâncias potencialmente pe- drade, dono da extinta produtora Pleno Pra-
rigosas, alertando sobre os riscos atribuídos zer. “No meu caso, havia um gargalo no meio
a um produto específico”, escrevem os psicó- da produção. O DVD chegava às banquinhas
A indústria do cinema
pornô se sustenta sem
incentivos fiscais no país
piratas ao mesmo tempo em que era lança- não há como afirmar que o consumo de por- corpos mais incríveis e incomuns”. O objetivo
do nas locadoras”. Segundo Andrade, a Pleno nografia aumentou, no mundo ou no Brasil”. é “não apenas causar excitação no espectador,
Prazer teve sobrevida com as bancas de jor- O diretor José Gaspar, que levou “celebrida- mas também medo, fascínio, nojo, riso e dese-
nal com o seguinte esquema: após dois anos des” como Alexandre Frota e Rita Cadillac ao jo. Tudo ao mesmo tempo”, conclui.
de vendas em locadoras, era feita uma nova mundo dos filmes pornôs, acredita ser um dos A indústria pornô brasileira arrecada cerca
capa para o filme ser comercializado ao lado responsáveis pela profissionalização do ramo. de um bilhão de reais por ano, sem incentivos
das revistas, pois pelos pubianos e mamilos Conhecido como J. Gaspar, dirigiu filmes da fiscais, de acordo com a Abeme. Gaspar acre-
são proibidos de ser exibidos em bancas. produtora Brasileirinhas. Seu primeiro trabalho dita que esse dinheiro foi suficiente para sin-
No documentário Pornô S/A, apresentado foi Sonhos, de 1997. Com Gothic, 2004, recebeu gularizar o cinema pornô. A pornografia, diz o
como trabalho de conclusão de curso na Facul- o AVN Awards, em Las Vegas, - considerado o diretor, “é uma das poucas indústrias audiovi-
dade Cásper Líbero em 2009, os entrevistados Oscar no cinema pornográfico. suais que se auto-sustenta”. Para ele não deve-
são unânimes em confirmar o declínio da indús- ria haver incentivos fiscais para nenhuma obra
tria pornográfica brasileira. Entre eles, está o ator PECULIAR “Uma vez a gente entrou na onda de audiovisual, “apesar de ser o único jeito de se
Rogê Ferro, que “nos tempos áureos” afirma ter fazer filmes com gordinhas”, conta o jornalis- fazer cinema no Brasil”.
ganho “mais de 300 mil reais só com pornô”. ta João Andrade. Ele explica que a experiência Mesmo que o horizonte apocalíptico que
Para Evaldo Shiroma, o panorama de mu- não deu certo. A atriz gordinha tinha asma e se desenha seja confirmado e a indústria por-
dança não é favorável. “Creio que qualquer precisava pausar a gravação sempre que as cri- nográfica desapareça completamente — o que,
tentativa de reversão do quadro depende de ses atacavam. “A solução foi começar a escon- convenhamos, é improvável —, sempre haverá
pesquisa e investimento”. Porém, o pesquisa- der a bombinha dela embaixo do travesseiro, pessoas ávidas por encontrar vídeos e fotos de
dor Jorge Leite Júnior, da UFSCar (Universida- pra agilizar o processo”, recorda. outras pessoas nuas ou em atos sexuais. Essa
de Federal de São Carlos), acredita que “houve Estudioso da pornografia auto-intitulada vontade, aliada à internet, confirma a tese de
um aumento de produções em formato digital bizarra, Jorge Leite Júnior, afirma que ela “é a que “uma câmera na mão e uma ideia na cabe-
e uma maior facilidade de acesso via internet”. versão pornô dos freak shows, onde eram apre- ça” são mais que suficientes para saciar todo
Contudo, ele ressalta, “sem dados confiáveis, sentadas pessoas com as capacidades ou os um mercado consumidor.
ALTPORN
Pornografia Underground
O diferencial do estilo altporn está na fuga dos REPORTAGEM JESSICA FIORELLI, LOUISE SOLLA e VINÍCIUS
CORPOS TATUADOS, ROUPAS escuras, muito gar seu nome verdadeiro. Segundo pesquisa A stripper Chris Lima é um exemplo da
couro e cintos de rebites. Tudo isso aliado aos do Ibope de 2008, 28% das pessoas que conso- interação. Foi em uma festa que o produtor
cabelos coloridos, em homens e mulheres. mem pornografia na internet são mulheres. a conheceu e decidiu convidá-la para par-
Piercings nos lábios, na língua, no septo e em Apesar da popularidade do altporn nos ticipar de um dos vídeos. Chris não topou
outros lugares inusitados. Esta é a imagem de Estados Unidos, o Brasil possui poucos sites fazer pornô, mas produziu um making off
um ensaio fotográfico altporn. O termo em in- focados no gênero. Rufião explica que a idéia de um ensaio fotográfico com os garotos da
glês é a abreviação de pornografia alternativa e de produzir para este mercado surgiu devido Xplastic. “Para mim, foi apenas um trabalho
surgiu nos Estados Unidos na década de 1990. ao interesse comum entre ele e mais dois ami- erótico, mas para os homens, tudo é consi-
A primeira publicação totalmente voltada para gos – Tatão, 34 anos, e Barbellax, 32 anos. “Em derado pornografia”, conta ela.
este estilo foi a revista Blue Blood, lançada em 1998, tínhamos uma banda e costumávamos Histórias relacionadas às subculturas ro-
1992, que contava com imagens eróticas de falar de pornografia durante os ensaios. Mais teirizam as produções altporn. Encontram-
modelos que possuíam visual ligado ao estilo até do que música”, comenta. O trio percebeu se fetiches como relações entre lésbicas, ma-
musical gótico e punk. Este tipo de pornogra- que o interesse em pornô poderia gerar um soquismo e cultura nerd. No caso do Xplastic,
fia, porém, apenas se popularizou com a difu- filme. Com uma câmera emprestada, eles as ideias para os vídeos surgem a partir de
são do conteúdo pela internet. compraram algumas bonecas Stacy – simila- conversas, desejos e de situações considera-
Além da ligação com o mundo do rock, o res à Barbie – e fizeram o primeiro vídeo do das apenas interessantes de serem filmadas.
estilo foge de estereótipos encontrados em fil- grupo, chamado Plastic Lesbians. A música underground é notável na pro-
mes pornôs convencionais. O altporn explora A princípio, pensavam em criar uma re- dução deste segmento erótico. Em um dos
diferentes artes corporais, como tatuagens e vista, pois ter um site não era tão simples na vídeos, a trilha sonora é composta por uma
piercings, além de mostrar a beleza desta es- época. Começaram a divulgar o material que música de Al J. Heid, cantor americano de
tética. Tal subcultura erótica procura escapar produziam em blogs gratuitos, sem muita pre- blues e indie rock. A canção era “Red Head
do conceito de belo instaurado pela mídia. tensão. Hoje, o Xplastic se hospeda nos portais Devil”. “A música funciona para dar o clima
Contudo, há vários consumidores que de- UOL e Vírgula. O investimento em manuten- que queremos para a cena e para divulgar o
fendem que a diferença da produção vai além ção e em produção sai do bolso dos próprios trabalho das bandas”, explica Rufião.
do caráter estético. Para eles, há uma ideolo- produtores. Porém, nenhum deles sabe dizer No entanto, a maior parte da propaganda
gia por trás do vídeo que valoriza a figura fe- quanto gastam com o site. Discretos, eles não é feita pelos próprios usuários. Driley Moura,
minina. “A mulher não é vista apenas como revelam os lucros, mas garantem que pos- 24 anos, é um exemplo. “Fiquei sabendo do
objeto, nos filmes altporn”, afirma Carla suem outros empregos para manter a renda. estilo e do Xplastic por causa de alguns ami-
Cunha, de 31 anos, frequentadora do site bra- gos. Gostei da estética e hoje frequento o
sileiro Xplastic, o mais popular do segmento. O PROCESSO Produzir por conta própria site”, comenta a fotógrafa. Além da indicação
Este talvez seja o principal motivo para que o deixa os donos livres para escolherem os boca a boca, redes sociais como Twitter são
site tenha mais acessos de meninas do que a atores. “Muitas pessoas entram em contato também utilizadas para divulgação.
indústria pornográfica habitual. “Nosso por- com a gente para participar de um filme, mas O altporn é uma dica para quem procura
tal possui 30% de compras de vídeos por mu- existem casos que nós convidamos”, explica fugir do óbvio, por mostrar uma estética não
lheres”, comenta Rufião, de 34 anos, um dos Rufião. “Nosso contato com o público do site, popular ainda considerada diferente. Prova
fundadores e diretores do portal que, como através da internet e das redes sociais, per- que há espaço para todos os gostos no mundo
os outros criadores do site, prefere não divul- mite esse tipo de aproximação”, completa. da pornografia.
Império da
pornochanchada
Entre a nudez e a ousadia gênero cinematográfico se
mostra como o espelho social de uma época
REPORTAGEM FERNANDA GONÇALVES (1o ano de Jornalismo) e ADRIANO GARRETT (2o ano de Jornalismo)
DESDE OS ANOS 70, existe o senso-comum sificar as pornochanchadas como alienantes. 40 e 50, que se utilizavam de um humor po-
de desqualificação da pornochanchada, “A postura do Cinema Novo era correta pelo pular e ingênuo. Faziam parte dessa verten-
gênero do cinema brasileiro. Vistos como ponto de vista político. A maioria desses fil- te estrelas como Oscarito e Grande Otelo.
pornográficos, os filmes dessa vertente mes era muito reacionário e machista”, expli- O acréscimo do “porno”, então, serviu para
não apresentavam cenas de sexo explícito: ca André Gatti, professor de cinema. “A por- vulgarizar a denominação. “Chanchada
a principal característica dessas produções nochanchada possui leitura simples, alegre também já era, de certa forma, um termo
estava no foco erótico das narrativas. e festiva, com a única pretensão de divertir o chulo”, diz Reichenbach.
Para Ênio Gonçalves, que atuou em oito fil- público, sem aprofundamentos psicológicos Apesar das críticas, o gênero tinha o que
mes do gênero, como As Intimidades de Analu e existenciais que caracterizam outros gêne- mais precisava para sobreviver: a adesão de
e Fernanda (1980) e A Noite das Bacanais (1981), ros do cinema”, complementa Carlos Mossy, um público fiel. A partir de Os Paqueras
“a nudez parcial e simulação de sexo eram um dos ícones da pornochanchada, que tam- (1969), filme considerado início da porno-
apresentadas de maneira tão ingênua que não bém trabalhou no Cinema Novo. chanchada, sucessos foram se consolidan-
causariam grande escândalo atualmente”. O O regime militar, contudo, acabou colabo- do e isso incentivou o nascimento de uma
diretor Carlos Reichenbach, que trabalhou em rando com a produção desses filmes. Enquan- indústria voltada para o gênero. “Com o
dois filmes do segmento e foi responsável pela to o Instituto Nacional do Cinema,(que mais tempo, os exibidores passaram a exigir que
direção de fotografia de outras 25 pornochan- tarde se tornou Embrafilme) incentivava a determinados filmes tivessem insinuações
chadas, afirma que, “conforme a censura di- produção interna, havia também censura por de sexo e mulheres nuas”, lembra o diretor
minuía, o humor ficava cada vez mais pesado, parte da Polícia Federal. Mas a censura política de fotografia Virgilio Roveda.
mas o que existe agora é muito mais agressivo foi mais dura que a censura moral. “Era mais Ao ter como público-alvo principal as clas-
do que havia na época”. importante proteger o Estado que proteger a ses C e D, a pornochanchada se limitava aos
A segunda metade do século XX foi mar- moral das senhoras de família e de suas filhas cinemas do centro de São Paulo. “Esses filmes
cada pela chamada revolução sexual, que virgens e recatadas”, comenta Flavia. As cotas passavam em salas dos grandes centros urba-
demandou um mercado de produtos mais fixas do INC para exibição de filmes nacionais nos e eram consumidos por pessoas de baixa
ousados quando o assunto era sexo. Para (cerca de 56 dias por ano em 1967 e 112 dias renda e desempregados, de um modo geral”,
Flávia Seligman, autora da tese inédita O em 1975) impulsionou novos investimentos afirma Gatti. Flavia faz analogia ao contar que
Brasil é feito de pornôs: o ciclo da pornochan- na pornochanchada, que alcançou grande pú- o preço da entrada, na época, corresponde a
chada no país dos governos militares, “esses blico. Mossy relembra que, na época, o gênero menos de quatro reais. “A pornochanchada
filmes surgiram naturalmente pela tradição tomava 50% do mercado cinematográfico, en- não era feita para uma elite intelectualmen-
da comédia popular (chanchada) na cultura quanto hoje nem se aproxima dos 10%. te comprometida. Ela não é nada mais que o
brasileira, associada à mudança comporta- espelho antropológico do cidadão brasileiro”,
mental que a revolução sexual imprimia”. AS ORIGENS O próprio nome pornochan- reforça Mossy. Reichenbach explica que os
Cineastas como Glauber Rocha e Nelson chada é um termo pejorativo que a crítica admiradores chegavam a se identificar com
Pereira dos Santos, que acreditavam no cine- atribui aos filmes, fazendo alusão às chan- os personagens e, com isso, “perdiam seus
ma como expressão política, chegaram a clas- chadas, comédias urbanas das décadas de próprios preconceitos”.
QUADRINHOS
Do traço ao
desejo Do Japão para o mundo, animes
e mangás hentai surpreendem o
público com suas peculiaridades
REPORTAGEM ANDRÉ GONÇALVES e YOLANDA MORETTO( 1o ano de Jornalismo) BÁRBARA FERREIRA, CAROLINA RODRIGUES,
THAIS SAWADA e PAULO PACHECO (2o ano de Jornalismo); LIDIA ZUIN e VIVIANE LAUBÉ (3o ano de Jornalismo)
NUMA PÁGINA, A GAROTA de uniforme comenta. Ela afirma que a linha que separa consumidores. “É como ir a uma seção de fil-
escolar está esperando chegar a próxima es- o hentai das publicações sexualmente menos mes pornográficos em uma videoteca. Filmes
tação de metrô. Na outra, esta mesma garota impactantes são os desvios e as taras que há de lésbicas seriam, em tese, para o segmento
está sendo masturbada por um passageiro. Os nos mangás pornográficos. de lésbicas, mas não: a maioria dos interessa-
mangás são quadrinhos japoneses que podem Quem explica com mais detalhes é Cris- dos é homem. A mesma coisa acontece com
trazer histórias infantis e toda uma gama de tiane Sato, presidente da Abrademi (Asso- os mangás hentai”, explica a autora.
narrativas sexuais. A este segmento dá-se o ciação Brasileira de Desenhistas de Mangá A sociedade japonesa, conta Luyten, pos-
nome hentai, que significa “pervertido”, em e Ilustrações). “O mangá pornô mostra de sui um lado reprimido. Para ela, o ser humano
japonês. Além de carregar estereótipos, como maneira gráfica as práticas sexuais social- pode exteriorizar a repressão – chorando ou
o da mulher com seios grandes, os mangás mente aceitáveis. Já o hentai exibe tais ativi- gritando – ou interiorizá-la. “O que mais ex-
podem ilustrar relações homossexuais entre dades com cenas de violência, algo que não cita, muitas vezes, em um anime ou em um
homens (yaoi) e entre mulheres (yuri). pode ser considerado mentalmente saudá- mangá, é ver um homem que adora transar ou
Autora do livro Mangá: o poder dos quadri- vel. Há muitas cenas de estupro e pedofilia, estuprar uma menina com aqueles uniformes
nhos japoneses, a professora e pesquisadora por exemplo”, esclarece Sato. do secundário japonês. Ele está estuprando,
em HQ, Sonia Luyten, afirma que o porno- No Japão, os títulos são classificados por na verdade, o sistema educacional. Ou ho-
gráfico começa quando o erótico termina e é idade, gênero e opção sexual. As publicações mens que têm o maior tesão de que a mulher
essa a condição que vale para outras manifes- não eróticas voltadas para o público masculi- o coloque no peito. Ele mama, põe o chapeuzi-
tações artísticas, como o cinema e a literatura. no são chamadas shounen, enquanto as shou- nho de bebê, e ele sente muito prazer na suc-
“Mino Manara é um desenhista italiano que jo são destinadas às mulheres. Nos mangás ção do seio da mulher. É a figura da mãe. Isso
tem as mulheres mais lindas do universo eró- eróticos e pornôs, também há segmentação, é uma repressão, um prazer, repúdio ao pai. É
tico, mas não é pornográfico, não é explícito”, ainda que isso não defina os verdadeiros uma imagem muito complexa”, diz.
transar com uma eu já falo logo: ‘Se o pai ou a mãe não enche-
rem meu saco, eu vendo’. De vez em quando
rência determina a sexualidade da pessoa e
vice-versa. No caso do yaoi, isto é o que mais
THAIS SAWADA
de acordo com o que a JBC quer trazer para
o Brasil. Trazemos comédias leves com uma
pegada de erotismo, que são as ero comedy”,
declara o editor-chefe Marcelo Del Greco.
palavra
orgasmo na
REPORTAGEM ANA CAROLINA NEIRA, NATÁLIA CACIOLI e PATRÍCIA HOMSI (1o ano de Jornalismo)
MAYARA MORAES (2o ano de Jornalismo) GUILHERME PROFETA, LUMA PEREIRA e NATHALIE AYRES (3o ano de Jornalismo)
IMAGEM MAYARA MORAES (2o ano de Jornalismo) e LUMA PEREIRA (3o ano de Jornalismo)
COM UM SIMPLES anúncio de garota pro- foi o aspecto que a motivou a participar do
grama, na página de classificados do jornal, Soltando a Língua, pois “realmente queria
pode se fazer um bom conto. E um conto fazer um curso que envolvesse literatura e
bastante apimentado. A sugestão partiu escrita”. O administrador Sérgio Augusto
do escritor Marcelino Freire aos 30 partici- Alves, de 46 anos, decidiu se matricular na
pantes da oficina literária Encontro de Lite- oficina porque achou interessante “a idéia
ratura e Erotismo, que aconteceu no SESC de escrever e falar de coisas eróticas em um
Pinheiro, no começo deste ano. O objetivo grupo”. Já Vivian chamou atenção durante
do projeto era fazer com que os participan- curso, pois a motivação para se inscrever foi
tes refletissem sobre o corpo, as sutilezas e diferente da dos outros alunos. “Ela queria
transformações que o envolvem, e como ele saber, conhecer um pouco mais da literatu-
tem sido retratado na literatura. ra erótica, para vender melhor os seus pro-
A oficina de escrita literária Soltando a dutos”, conta Freire.
Língua ficou a cargo do escritor Marcelino
Freire. “Já no nome a gente brincou com a HÍMEN LITERÁRIO A criação do Soltando a
temática erótica. É muito comum as pessoas Língua e a participação de diversos tipos de
terem bloqueio para escrever sobre o assun- pessoas representou a quebra da primeira
to”, esclarece o escritor. Uma das propostas barreira para conversar sobre sexo e explo-
foi possibilitar que o aluno rompesse bar- rar uma de suas manifestações. O próximo
reiras, de maneira a elaborar textos eróticos obstáculo seria transpor o bloqueio da es-
de qualidade. “É muito normal que o pessoal crita, mas o conhecimento da técnica nem
use chavões, frases feitas. Eu até brinco que sempre é o suficiente para produzir um
todo conto erótico sempre tem a frase ‘des-
ceu a mão pelas coxas’”, brinca Freire.
texto erótico. Marcelino Freire, mesmo com
vasta experiência, nunca escreveu um conto
“É muito normal que o
O gênero e a gratuidade do curso pos-
sibilitaram a participação de um público
desta temática. “Tem umas cenas explícitas
que eu coloco em algum momento de amor,
pessoal use chavões,
variado, “pessoas que se interessam mesmo porque a personagem está pedindo. Mas eu frases feitas. Eu até
pela literatura; que não escrevem conteúdos não conseguiria fazer um conto todo eró-
eróticos, mas querem saber; estudantes e tico por uma questão de não ter um clima. brinco que todo conto
professores”, explica o contista. Entre tantos Não consigo trabalhar”, admite.
alunos, “o mais curioso foi uma vendedora Para os alunos da oficina, o trato com erótico sempre tem a
de produtos eróticos”, Freire recorda. Era
Vivian Pereira da Silva Vieira, 29 anos, que
as palavras não foi o único problema. O
receio de falar sobre sexo também foi con- frase ‘desceu a mão
ingressou no curso principalmente por ele
ser gratuito. “Eu não tinha capital para isso
siderado na hora de escrever. Vivian conta
que, antes do curso, criava obstáculos para
pelas coxas’”
e queria muito fazer”, relata a vendedora. compor narrativas de conteúdo sexual.
Sandra Regina Santos, jornalista de 42 “Esse bloqueio é aquele que Marcelino fala
anos, explica que a literatura erótica não em que temos que ‘soltar o verbo’, usar as Marcelino Freire, escritor
A literatura crítica
escondido”, diz. Além disso, Freire conside-
ra que “escrever é, sobretudo, linguagem, o
cuidado com a palavra”.
Karen Stolz, que leciona Escrita Criativa
na Pittsburg State University, concorda, e
Apesar dos tabus que permeiam o sexo, o ser fortalecimento da Inquisição, iniciada em 1231, a assinala o cuidado que um escritor deve ter
humano sempre tentou expressar o desejo nudez e o sexo foram duramente repreendidos com as descrições. “Não é bom usar termos
libidinoso. Há relatos de objetos que remetem entre os clérigos. Giovanni Boccaccio, um dos românticos demais para partes do corpo,
ao erotismo desde 30000 a.C. Na Grécia Antiga, maiores autores da época, foi perseguido por mas também não abuse de palavras cientí-
cenas eróticas eram citadas na mitologia, como heresia pela produção de seu livro, Decamerão, ficas”, aconselha a professora. “Usar frases
as peripécias do deus olímpico Zeus, que amou que continha sátiras envolvendo a Igreja. Ainda feitas para anatomia, principalmente as vul-
diversas mortais e imortais e era conhecido assim, a produção continuou, passando pela gares, é outro jeito de tornar o conto mais
por seus disfarces de sedução. Os gregos Inquisição e pela França revolucionária, com pornográfico”, alerta.
encaravam com naturalidade representações os iluministas. No século XVIII, destaca-se a Ela, que já escreveu contos eróticos para
de sexo e nudez. Os romanos, por sua vez, eram literatura erótica do Marquês de Sade, cuja a revista americana Playgirl, uma versão fe-
habituados com esculturas eróticas. produção literária mostrou mais um viés para minina da Playboy, destaca que é preciso se
No Império Romano a literatura erótica se retratar a sexualidade. certificar se a trama é completa e “não exis-
desenvolve com Ovídio e seu Ars Amatoria, Hoje o tema é ainda um tabu. Mesmo com as te apenas devido às cenas de sexo. Mostre
um manual sobre sexo. Contemporãneo e idas e vindas, há avanços nessa área da literatura também como a vida sexual dos persona-
semelhante à este, há o mais famoso livro sobre que só os tempos atuais poderiam trazer, como gens interfere em outros aspectos de suas
sexo, o Kama Sutra. Escrito na Índia, no século a participação feminina. De acordo com a vidas”, ensina.
2 d.C, por Mallanaga Vatsyayana , a obra possui poetisa Alice Ruiz, a produção erótica feita por O limite entre a pornografia e o erotis-
ilustrações e detalhes de mais de 500 posições mulheres “faz com que se comece a conhecer a mo é tênue. “O que existe é a boa e a má li-
sexuais. Ele faz parte do livro Kama Shasta, que libido feminina. Antes disso, tudo que se sabia teratura”, enfatiza Freire. É nas entrelinhas
versa sobre a busca do prazer em geral. a respeito, (com raras exceções) era escrito por que residem os atrativos de uma história
Durante a Idade Média, porém, o catolicismo homens. Portanto, nada se sabia”. sexual bem contada, sem sobrar nem faltar.
reprimiu severamente qualquer sensualidade. Proibido ou banal, implícito ou explícito, o erotismo A necessidade de transpor os desejos em
Só na Idade Moderna o tema voltou a ser ainda se baseia naquilo que não é dito, mas texto sempre esteve presente no ser huma-
abordado, mas com grande represália. Com o sugerido. Naquilo que está por debaixo dos lençóis. no. Sendo assim, o sexo é feito de várias for-
mas: de tato, prazer, beijos e palavras.
Eu, sádico?
Polêmico, o marquês de Sade se destaca na história da literatura ocidental
devido à desinibição e variações com que retratava o sexo em sua ficção
REPORTAGEM ANA LUÍSA VIEIRA, JULIANA RUIZ, GIOVANA NUNES, GIULIA AFIUNE, MARÍLIA DINIZ (1o ano de Jornalismo)
e BÁRBARA NÓR (2o ano de Jornalismo) COLABORAÇÃO THIAGO TANJI (2º ano de Jornalismo)
“Falastes-lhe [...] de Jesus Cristo, como se esse diversas vezes com um canivete e despejou
velhaco fosse alguma coisa senão um farsan- cera quente nos cortes. Considerado um do-
te e um celerado, dissestes a ela que foder era ente mental, passou os últimos anos de sua
pecado, ao passo que foder é a ação mais de- vida no sanatório de Charenton.
liciosa do mundo [...]”. Sade também foi perseguido por suas
A Filosofia na Alcova – Marquês de Sade ideias políticas. Durante a Revolução Fran-
cesa, foi detido por criticar a violência e a
MESMO PASSADOS QUASE duzentos anos pena de morte instaurada pelos rebeldes. Já
de sua morte, que ocorreu em 1814, as ideias no Império, a razão foi uma suposta ofensa
do francês Donatien Alphonse François de pessoal a Napoleão, cujo governo, na opi-
Sade, o marquês de Sade, continuam cho- nião de Sade, era corrupto. “Prefiro que você
cando o público. Considerado um escritor acredite que sou libertino do que um crimi-
“maldito”, seus livros só começaram a ser noso”, escreveu certa vez em uma carta à
publicados durante o século XX. Transgres-
sor e explícito, o sexo para Sade representa-
sua primeira esposa, Renée-Pélagie.
O sádico contraria as
va a libertação do homem. Acima de qual-
quer valor, moral ou religioso.
O SADISMO O marquês viveu e produziu sua
obra em um período marcado pelas instabi-
visões tradicionais
Criava-se a figura do libertino, que bus-
cava o prazer na crueldade e na dor. Mesmo
lidades políticas e ideológicas na Europa. Na
França, sua terra natal, tais contradições eram
do sexo e do amor e a
sendo membro da nobreza da França, o
escritor passou um terço de sua vida em
evidentes. Enquanto camponeses e burgueses
– o chamado Terceiro Estado – trabalhavam e
concepção católica que
prisões devido as suas práticas libertinas. pagavam impostos, a nobreza, improdutiva, encara o sexo como
A mais grave delas foi o estupro de Rosa detinha todos os privilégios sociais. O di-
Keller, a quem açoitou com um galho, feriu nheiro público era gasto em privilégios para pecado
ESQUINAS 1º SEMESTRE 2010 51
“Não vos espanteis com
REPRODUÇÃO
as blasfêmias: um dos
seus maiores prazeres é
injuriar a Deus quando
fico de pau duro”
Sade foi preso durante a Revolução Francesa devido às duas ideias trangressoras
a aristocracia e para o rei. Insatisfeitos com limites, em que tanto o prazer de quem ‘hu- em que a mais famosa obra do marquês foi
essa situação, os membros do Terceiro Estado milha’ quanto o de quem é ‘humilhado’ tem escrita. “Vale lembrar que a alcova – espaço
pegaram em armas e instauraram a Revolu- que estar presentes”, explica. privilegiado da experiência libertina – é um
ção Francesa, que depôs o monarca e seus No romance Filosofia na Alcova, publi- aposento localizado estrategicamente entre
princípios absolutistas. cado clandestinamente em 1795, a persona- o salão, onde reina a conversação, e o quar-
Sade analisou, como poucos, as peculia- gem Eugénie é levada a um castelo para ser to, destinado ao amor”, frisa. Com base no
ridades de seu tempo, formulando um sis- iniciada à educação libertina. Cenas de sexo filósofo metafísico francês, Yvon Belaval, a
tema de ideias alternativo às duas correntes se misturam aos discursos que criticam os autora afirma estar na alcova o encontro en-
vigentes na época, a cristã e a iluminista, costumes da época e sustentam a filosofia tre a filosofia e o erotismo.
se livrando das convenções éticas e morais. do prazer absoluto. A pesquisadora destaca ainda no deslo-
Para o escritor, a real condição humana era A linguagem, além de explícita, era mui- camento dos sentidos: as idéias corrompi-
baseada na hipocrisia, no preconceito, na tas vezes herética, profanando o nome do das por intermédio do corpo e o corpo que
corrupção, no egoísmo e aa crueldade. Deus católico: “Não vos espanteis com as se corrompe por meio das idéias. Tal carac-
Assim, em suas obras, o escritor descre- blasfêmias: um dos seus maiores prazeres é terística evidencia-se na própria construção
via práticas condenadas, como a sodomia e injuriar a Deus quando fico de pau duro. Pa- textual de Sade, oscilando entre a discussão
a associação entre crueldade e prazer, tão rece que meu espírito, então mil vezes mais filosófica e as cenas lúbricas. Para a unidade
importante em sua obra que o nome do exaltado, execra e despreza muito mais que entre pensamento e corpo, Eliane dá o nome
marquês deu origem ao termo “sadismo”. O essa quimera nojenta”. de “filosofia lúbrica”.
sádico contraria veementemente as visões Para a sexóloga, Sade não foi o principal No texto “O efeito do obsceno”, Eliane
tradicionais, tanto a do sexo como fator ine- precursor da liberdade sexual. Na obra do afirma que a ficção de Sade e de seus contem-
xoravelmente ligado ao amor, como a con- marquês, a mulher usufrui uma pseudo-liber- pornaeos é “marcada pela diversidade formal,
cepção católica que encara o sexo como pe- dade, que existe apenas enquanto não preju- só veio perturbar uma possível definição li-
cado, aceitável apenas quando possui fins dica ou interfere no prazer masculino. “Sua terária da pornografia”. Assim, dificulta-se a
reprodutivos. Além disso, é individualista: central contribuição foi dizimar o mito de que distinção de uma literatura erótica ou pornô
mais do que não se importar com o prazer sexo precisa ser delicado e angelical, ele pode na obra do marquês.
do parceiro, ele deseja o seu sofrimento acontecer com agressividade”, esclarece. Entre pensamento e atos sexuais e liberti-
para alcançar o próprio gozo. nos, compõe-se a obra do marquês que ainda
No entanto, a sexóloga Ana Maria Fon- NA ALCOVA Na obra Lições de Sade – en- hoje escandaliza aos mais pudicos. Sexo
seca Zampieri diz que hoje em dia, esta de- saios sobre a imaginação libertina (Editora grupal, uma pitada de dor e escândalos para
finição de sadismo é limitada. “As práticas Iliminuras, 2006), a pesquisadora Eliane sociedade européia do século XVIII, Sade fez
sádicas atuais envolvem muitas normas e Robert Moraes atenta a importância do local uma literatura, na verdade, libertária.
dilemas da
TEXTO LUAN DE SOUSA, RODRIGO FABER, THIAGO TANJI e TOMAS ROSOLINO (2º ano de Jornalismo)
concentração
Sexo nem sempre é bem vindo nas vésperas de uma competição.
As opiniões divergem: precisa de tanto foco assim?
FOTO DE GIULIANO GOMES - GAZETA PRESS
FOTO DE MARCO FERRELI - GAZETA PRESS
SÓCRATES
Um dos atletas que mais defendeu a liberdade dos jogadores
foi Sócrates, mentor da “Democracia Corintiana” na década de
1980. Nesse movimento, a equipe podia escolher se iria para RONALDO
a concentração ou não. As festas e relações sexuais estavam
liberadas. A tática rendeu dois títulos paulistas ao clube Em 2004, Ronaldo, que hoje é centroavante do Corinthians, revelou o motivo de suas
alvinegro. Mesmo após deixar o futebol, o jogador continuou a exibições futebolísticas, que lhe renderam o apelido de “Fenômeno”. Em entrevista à
fazer severas críticas à reclusão dos jogadores. revista QG, o jogador, na época no Real Madrid, disse que fazer sexo antes das partidas
o motivava a jogar melhor.
FOTO DE DJALMA VASSÃO - GAZETA PRESS
VAGNER LOVE
Em 1986, o ex-atacante e hoje treinador, Renato Gaúcho vivia um bom
momento em sua carreira. Selecionado para a Copa do Mundo daquele
ano, que seria disputada no México, o jogador tinha totais condições de
ser o titular da equipe. Contudo, o técnico Telê Santana, conhecido por
sua rigidez, acabou cortando-o do grupo. O motivo: havia chegado à
concentração depois do horário combinando. Junto com Gaúcho estava
o lateral-direito Leandro, que sofreu a mesma punição.
Quem teve um destino menos duro foi Vagner “Love”. O atual
centroavante do Flamengo recebeu o apelido quando ainda estava nas
categorias de base do Palmeiras, em 2003. Durante a preparação para
a Copa São Paulo de Futebol Júnior, Love foi pego com uma mulher
dentro do quarto da concentração, em um hotel na cidade paulista de
São José dos Campos. Foi suspenso por alguns jogos, mas logo retornou
a equipe. E ganhou a alcunha de “artilheiro do amor”.
REPRODUÇÃO
PARREIRA e FELIPÃO DUNGA e MARADONA
Em 2002, Luís Felipe Scolari apoiou o regime de concentração para o Mundial “Nem todo mundo gosta de sexo, de tomar vinho ou de sorvete”. A frase dita
no Japão. O treinador proibiu a seleção de sair durante a noite e barrou a entrada pelo técnico da seleção brasileira, Dunga, não só apimentou as discussões a
de mulheres, mesmo namoradas ou esposas, no hotel. Coincidência ou não, respeito da concentração como serviu de provocação aos nossos eternos rivais
o Brasil foi campeão invicto. Vampeta, ex-volante do Corinthians e da seleção no futebol. Isso porque, dias antes, o técnico da Argentina, Diego Armando
pentacampeã, afirma que “na cultura da bola, no esporte em geral, o contato Maradona, havia liberado churrasco, vinho, doces e mulheres durante a
com mulheres na concentração nunca foi permitido. Essa disciplina não é só do preparação dos jogadores para a Copa do Mundo da África do Sul. Só fez uma
Felipão, mas dos técnicos em geral”, garante. Já na Copa da Alemanha em 2006, ressalva: os atletas só poderiam se relacionar com suas parceiras fixas.
o técnico da seleção, Carlos Alberto Parreira, deu liberdade aos atletas para se Ao contrário de Don Diego, Dunga adotou uma postura menos liberal em
divertirem na noite européia. Naquele ano, o Brasil fez uma má campanha e foi relação aos seus comandados, proibindo relações sexuais na concentração.
eliminado nas quartas de final pela França. A mídia e os torcedores apontaram a Contudo, já afirmou que, durante as folgas, poderiam ter liberdade para fazer o
conduta liberal como um dos motivos para o fracasso. que quiserem. Mas, preferencialmente, com moderação.
Não só no futebol...
FOTO DE PUPO - GAZETA PRESS
JEFFERSON SABINO
O atleta brasileiro de salto triplo, que disputou juvenil do São Caetano. “No vôlei, a gente treina
as Olimpíadas de 2008 e os Jogos Pan- horas antes dos jogos. Então, se fizéssemos um
americanos do Rio de Janeiro, não acredita que regime muito rigoroso, levaríamos os jogadores Durante os jogos de Pequim,
o sexo prejudique o desempenho esportivo. a um desgaste tanto físico quanto emocional.
“Na Vila Olímpica, tem muita gente que curte Períodos muito prolongados de convivência que ocorreram em 2008, 80 mil
se divertir, fazer sexo, isso é normal, já que prejudicam os relacionamentos”, afirma. Sobre preservativos foram cedidos
todos somos seres humanos. Meu treinador as relações sexuais, ele também tem uma
só recomendava cuidado com a bebida e o opinião positiva: “O sexo é uma atividade física para os esportistas que estavam
cigarro. O sexo era liberado até momentos como qualquer outra e não irá prejudicar seu na Vila. Após o fim do torneio, o
antes da competição”, recorda. desempenho. Ao contrário, esse é um ótimo
Quem também sustenta essa opinião é Flávio mecanismo para o atleta aliviar suas tensões
estoque já estava esgotado
Rebustini, mestre em Educação Física pela Mas tudo tem limites, não tem como passar a
Unesp e que já foi treinador da equipe de vôlei noite inteira na gandaia”.
volúpia
nos embalos da
Dança do ventre
A dança oriental, também contemplada em
cerimônias religiosas, prova que o sensual e o
vulgar não precisam caminhar juntos. Desperta
a libido e deixa a mulher ainda mais feminina,
sedutora e misteriosa. Os movimentos exigem
concentração, flexibilidade e leveza.
Zouk/Lambada
O primeiro, caribenho, é considerado a nova
lambada, mas com passos mais lentos. A dança
é marcada pelo envolvimento. Atrativo entre
casais que desejam “apimentar” a relação.
Tango
Desejo e corpos entrelaçados: o baile é
exibicionista e o casal troca carícias enquanto
expectadores tornam-se voyeurs da sensualidade.
O ritmo é essencialmente apaixonado.
REPRODUÇÃO
Longan: fruta com o
chef
princípio ativo do Viagra
Libido à moda do
Da mesa à cama, alimentos intensificam a forma de sentir prazer
“Eu quero um ovo de codorna pra comer/O espumas do mar depois que Chronos cor- concentram vitaminas que podem ajudar
meu problema ele tem que resolver/Eu tô tou e jogou os genitais de Urano, seu pai, no no metabolismo. Temperos como cravo, noz
madurão/Passei da flor da idade/Mas ainda mar. A partir de então, surgiu a crença de moscada, canela, coentro e anis também
tenho alguma mocidade,/Vou cuidar de que todo alimento vindo do mar pode incre- podem estimular o apetite sexual, assim
mim/Pra não acontecer” mentar a relação. Algumas frutas, legumes, como outras funções do organismo.
(Trecho da música “Ovo de Codorna”, de Luiz especiarias e até mesmo bebidas alcoólicas O dionisíaco vinho também entra na
Gonzaga) também podem se encaixar nesta categoria. lista dos afrodisíacos. Além de eliminar ini-
As comidas consideradas afrodisíacas bições como toda bebida alcoólica, contém
O amor se conquista pela boca. Pelo não são exclusivamente estimulantes sexu- polifenóis. Essas substâncias aumentam o
menos é isso o que a cultura popular vem ais. Na verdade, a maioria possui substân- fluxo sangüíneo nos vasos periféricos e,
transmitindo há gerações. Se essa for a regra, cias que podem ativar todo o sistema neuro- consequentemente, melhoraram o funcio-
preparar um prato estimulante pode ser boa lógico e físico das pessoas. “Estes alimentos namento dos órgãos reprodutores. Contudo,
ideia. Foi exatamente por causa disso que as existem na prática, pois não são reconheci- não adianta exagerar. Aquilo que podia ser
comidas afrodisíacas ganharam força com dos pela FDA (Administração Americana de romântico pode se tornar constrangimento
o passar do tempo. Diversos restaurantes Comidas e Drogas)”, conta o nutricionista na hora H. “O álcool é um depressor, por isso
apostam no sucesso desses alimentos no Froébio da Silva, que trabalha na Compa- quando é consumido demais pode causar
cardápio e aproveitam para criar um clima nhia Athletica de Ribeirão Preto e é especia- impotência sexual”, orienta o nutricionista
durante as refeições. Pode ser que os clien- lista em nutrição esportiva. Froébio da Silva.
tes não saiam de lá prontos para ir para a Silva ainda esclarece que há diversas ex- A lista ainda traz ovo de codorna – que,
cama, mas já pode ser o primeiro passo. plicações para a associação dessas comidas segundo a crendice popular, como a ave
O termo “afrodisíaco” é derivado da à estimulação sexual. Geralmente, o motivo copula diversas vezes em curto espaço de
mitologia grega. Mais precisamente, do é que algumas frutas e carnes são ricas em tempo, ela transmite este vigor aos ovos pro-
nome de Afrodite, também conhecida como zinco, elemento precursor do hormônio se- duzidos – e os tradicionais amendoim, catu-
Vênus. A história conta que ela nasceu das xual testosterona. Bananas, pêras e ameixas aba, guaraná e chocolate. Este dois últimos
CURRY
Este é um dos pratos mais pedidos no restaurante Tele-
Thai e custa R$30. O curry é um ensopado quente com
especiarias típicas trituradas. O sabor picante, como o
da pimenta, colabora com o aumento da frequência car-
díaca. À base de leite de coco, pode ter variações, como
o keng massaman (cebola, cenoura, batata e castanha de
caju), o keng ped (que tem como complementos abacaxi,
uvas, beringela e limão kaffir), o keng kiaw waan (be-
rinjela lião kaffir e manjericão tailandês) e o keng pa-
nang (maçã e cenoura, considerado picante).
LONGAN
A fruta de origem asiática contém alto teor de fósforo,
substância que estimula o sistema neurotransmissor e
físico e vitamina E, que tem a função de antiesterilidade e
melhora na circulação do sangue. Além disso, há o ferro e
cálcio, que propiciam uma alimentação rica e nutritiva. É
utilizada também na medicina chinesa para o tratamen-
to de anemia, cólicas estomacais e atua como regulador
da temperatura corporal. No Mercado Municipal de São
Paulo, o quilo pode ser comprado por R$ 90,00.
MANGOSTIM
Também originário da Ásia, é chamado de “fruta da rai-
nha” pois, segundo a lenda, foi considerada a fruta mais
gostosa do mundo pela rainha inglesa Victoria. O sabor
é doce e levemente ácido e a textura é semelhante à da
lichia. Possui grande concentração de zinco, mineral uti-
lizado na produção do Viagra, e ajuda na produção de tes-
tosterona no organismo. O preço do quilo pode variar de
acordo com a época do ano, mas se aproxima de R$ 80,00.
PEQUI
Drink de longan com vodka Endereços de lugares É rico em vitaminas C, que fortalece as paredes dos
vasos sanguíneos e garante a boa circulação dos gló-
Coloque cerca de 10 longans sem Amazon Frutas Exóticas bulos vermelhos. Além disso, o pequi fornece doses de
as sementes no liquidificador Mercado Municipal de São Paulo – Rua K, Loja 18 potássio, vitamina E, cálcio e magnésio, podendo ser in-
Rua Cantareira, 306 gerido cozida com frango, em licores e doces. O quilo da
Adicione 3 ou 4 gotas de limão e Telefone: (11) 3228-2524 polpa do pequi chega a custar R$ 150,00.
cubra com bastante gelo picado
G. Frederico e Cia. Ltda PITAIA
Adicione 2 doses de vodka de boa Mercado Municipal de São Paulo – Rua F, Loja 21 Este fruto tem origem brasileira e seu nome quer dizer
qualidade e açúcar à gosto Rua Cantareira, 306 “fruta escamosa”, devido à viscosidade da casca. Há três
Telefone: (11) 3208-1854 tipos de pitaia: com casca amarela, com a coloração in-
Bata no modo pulsar deixando terna branca ou vermelha. Famoso no Mercadão de São
em pedacinhos bem pequenos Tele-Thai Culinária Tailandesa Paulo pela barraca de frutas exóticas, Roberto Pereira
e despeje em uma taça deixando Rua Caiubi, 1442, Perdizes afirma que o efeito afrodisíaco é eficaz por causa das
derramar parte da espuma Telefone: (11) 3676-1774 substâncias que a fruta possui. “Todos os tipos de pi-
taia contém o zinco, que realmente estimula as células
Raspe a espuma com a espátula e Thaï Gardens e é essencial ao corpo humano, além de restabelecer o
sirva com uma longan fresca na Av. Nove de Julho, 5871, Jardim Paulista organismo”, explica. O quilo da pitaia amarela custa R$
borda do copo Telefone: (11) 3073-1507 120,00; já o da branca e da vermelha custam R$70,00.
REPRODUÇÃO
REPRODUÇÃO
Uma arte
ERÓTICA
Casado com Cicciolina, o artista Jeff Koons faz exposição com teor sexual
Feira livre
Erótika Fair: onde sexo, negócios e diversão se encontram
Em seis dias, duas vezes por ano, o Mart Center na Vila Guilherme (SP)
consegue reunir 20 mil visitantes para falar sobre o mercado erótico. Este é a
Erotika Fair, cuja 16ª edição aconteceu em abril, sob o lema “Erotismo também
é cultura”. Lá é possível conferir mostras de arte, shows, palestras e produtos
ligados ao universo do sexo.
A feira foi criada por Evaldo Shiroma, presidente da Associação Brasileira das
Empresas do Mercado Erótico (Abeme). Segundo ele, hoje, o público é formado
por 55% de homens e 45% de mulheres, sendo os casais responsáveis por
metade das visitas. Mas nem sempre foi assim: em 1997, na primeira edição, 95%
do público era masculino. “Isso é reflexo do consumidor erótico atual. O público
feminino é responsável por 75% da demanda no Brasil”, explica.
A ideia para a feira surgiu após a constatação de Shiroma da ausência de um
evento que representasse tal mercado. Em uma entrevista informal ele percebeu
que 95% das pessoas eram curiosas a respeito de sex shops, mas nunca tinham
ido a um. Segundo ele, “o Brasil movimenta cerca de R$ 1 bilhão por ano e não foi
afetado pela crise mundial. O mercado nacional ainda tem muito que crescer. Os
EUA, por exemplo, gera em torno de R$ 12 bilhões ao ano”.
No escurinho do cinema
Cine Paris: do glamour à extravagância sexual no centro de São Paulo
A UMA QUADRA do cruzamento das avenidas com o mesmo tema. Nestes compartimentos, os Dono da comunidade do orkut “Cinemões
Ipiranga e São João, um painel chama a atenção: chamados glory holes, orifícios feitos nas paredes, de São Paulo”, Glamm destaca que “há públicos
“Cine Paris – o mais completo cine privê. Som e permitem que os usuários exponham a genitália a específicos para algumas salas, mas isso não é
projeção digital, ar condicionado”. Ali, na Praça da quem oferecer sexo oral. regra”. Existem as seguintes divisões: os cinemas
República, está uma das mais de vinte salas de O que até 30 anos atrás era um reduto de de “pegação”, frequentados por gays; os de “travas”,
cinema pornôs do centro. glamour, hoje é marcado pela degradação. por travestis; e os de “racha” – por prostitutas. Os
No local, por 19 anos, funcionou o Cine Arcades, Tráfico de drogas, prostituição e mendicância são públicos geralmente não se misturam, deixando
que mudou de nome no início da década de 1990. comuns nos arredores dos cinemas do centro. evidente a classificação de cada cinema.
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Ocymar Obrigadas a trocar os filmes convencionais pelos E de tudo acontece nas salas. “Já vi um homem
dos Santos, responsável pelo estabelecimento, pornôs estas salas passaram a atender o novo sem as pernas se arrastando entre as fileiras do
tomou a atitude para cortar gastos. “A intenção público da região: gays, travestis e prostitutas. cinema para fazer sexo oral; um senhor de uns
era continuar com o convencional, mas o cinema 90 anos andando de calcinha e coturnos; idosas
estava totalmente no vermelho. Aí resolvemos CINEMA LIBERTINO Os cinemas que exibem fazendo sexo; homens acima de qualquer suspeita
colocar o erótico”, disse. A mudança para o filmes pornôs possuem um público fiel. Juninho usando calcinha, salto alto, batom...”, relata Glamm.
serviço oferecido hoje aconteceu somente em Glamm frequenta as salas há dezoito anos em A única sala do Cine Paris possui 188 poltronas,
2006, quando a programação exclusivamente busca de sexo descompromissado e aponta que e as paredes pretas dão um ar misterioso. Ali
pornográfica foi adotada. o preconceito contra os homossexuais é a prin- a promiscuidade na tela e na platéia cria uma
As projeções são contínuas, dia e noite, sete cipal causa da popularidade dos ditos cinemões. atmosfera densa, adorada por muitos. “Tesão” é a
dias por semana. Os filmes em cartaz não têm “Você não vê o cinema hétero, a boate hétero, o palavra que Glamm usa para definir os cinemões.
horário definido: quando um termina, começa o bar hétero; mas o cinema gay, a boate gay, o bar
próximo e o espectador pode permanecer ali o gay existem, por conta da dificuldade do homos- CINE PARIS
tempo que quiser. O Paris, como outros cinemas sexual em interagir com outros sem ser posto para Av. Ipiranga, nº 808, República
do gênero, oferece um dark-room aos clientes - sala fora, ou ser visto com olhar de desaprovação pelos São Paulo – SP
sem iluminação, onde é possível praticar o sexo heterossexuais. Os cinemas cumprem essa função, (11) 32239805
anônimo. Atrás da bilheteria, há cabines privativas de aproximar homens que não precisam se repri- Todos os dias, 24h por dia
e individuais com outras opções de filmes, porém mir para fazer sexo com outros homens”, explica. Entrada R$8,00
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