Violência Na Sociedade Conteporânea PDF
Violência Na Sociedade Conteporânea PDF
Violência Na Sociedade Conteporânea PDF
Porto Alegre
2010
© EDIPUCRS, 2010
Rodrigo Valls
Rafael Saraiva
CDD 301.633
SUMÁRIO
Prefácio ..................................................................................................6
David Léo Levisky
Introdução ............................................................................................13
1
ROCHA, Z. Paixão, violência e solidão: o drama de Abelardo e Heloísa no contexto
cultural do século XII. Recife: UFPE, 1996. p. 10.
David Léo Levisky
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Uma gota de esperança
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David Léo Levisky
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Uma gota de esperança
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LEVISKY, D. L. Um monge no divã: a trajetória de um adolescer na Idade Média. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 2007.
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David Léo Levisky
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Uma gota de esperança
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INTRODUÇÃO
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especialista em Psicologia do Trânsito, examina os fatores que fazem do
trânsito um destes cenários propícios para a destrutividade.
Fechando o livro, Jacques Wainberg, Escritor, Professor e
Doutor em Comunicação, brinda-nos com um estudo sobre o papel que
a violência ocupa no processo da comunicação massiva. Assinala os
impactos afetivos e cognitivos de tal conteúdo e da TV, em particular,
na vida dos indivíduos e da sociedade. Entre eles, estão a catarse, a
ressonância, a desensibilização, a atenção, a intrusão, o mimetismo social
e a relação virtual estabelecida pelo público com os ‘amigos da mídia’.
Discute também o uso que os atores sociais fazem da violência para
atrair a atenção da imprensa, a atração que ela exerce nos intelectuais
e a reação radical que alguns grupos humanos tomam de viver sem TV.
Boa leitura.
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ALGUÉM PARA ODIAR
irão determinar experiências bem distintas para cada bebê, o que será
decisivo na formação da personalidade de cada um. Por exemplo, se
um bebê precisar esforçar-se muito para ser atendido, estabelecerá um
padrão contundente para demandar a satisfação de seus impulsos.
A personalidade será uma combinação da herança genética com
as influências familiares iniciais e as circunstâncias da vida posterior
de cada um. No início da vida, a relação de forças entre as diversas
pulsões é determinada pela bagagem de nascença. As intensidades
das pulsões variam de um indivíduo para outro, assim como todas as
demais características genéticas. Quem observar um berçário notará
que os bebês recém-nascidos já apresentam grandes diferenças de
temperamento, que vão desde o tipo quietinho, que pouco pede, até o
difícil de contentar. A índole de cada bebê expressa o predomínio do
amor ou do ódio na sua carga constitucional.
O temperamento é a expressão das intensidades e das com-
binações das pulsões que vão determinar as predisposições da perso-
nalidade, inclusive se será mais amistosa ou mais agressiva. Mas a
interferência do ambiente pode reforçar ou modificar a correlação entre
essas forças instintuais e as características que se cristalizarão como
padrões de satisfação dos impulsos, ou seja, os meios (através de quem
ou do que) e os modos (as peculiaridades). O ambiente exercerá essa
influência decisiva sobre o indivíduo durante toda a sua vida.
Os pioneiros da psicanálise inicialmente interessaram-se mais
pelas pulsões sexuais, devido às frequentes psicopatologias causadas
pela forte repressão sexual que vigorava na era vitoriana. O primeiro a
falar em pulsão de agressão foi Alfred Adler, em 1908 (apud HALL et
al. 2000). Inicialmente, Freud discordou da existência de pulsões com
a finalidade específica de agressão, mas as vivências, numa Europa
atormentada pela guerra, obrigaram-no a repensar o assunto. Em 1915,
publicou um artigo sobre a guerra e a morte (FREUD, 1915), em que
expressa o seu desespero diante da destrutividade humana; a palavra
decepção permeia todo o texto. Nesse mesmo ano, ele escreveu Luto e
Melan-colia e O Perecível.
As sequelas emocionais deixadas pela Primeira Grande Guerra
obrigaram os psicanalistas a se ocuparem das neuroses traumáticas –
ocasionadas por vivências tão insuportavelmente assustadoras, que a
mente não consegue processar – e das neuroses de guerra – causadas
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A expressão “posição depressiva” tem um significado bem diferente daquele que os psiquiatras
atribuem à palavra depressão.
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que fosse achado por um anjo mau. Dessa forma, acreditavam acalmar
o demônio e livrar-se dos próprios erros e males cometidos. O costume
de utilizar animais para descarregar a destrutividade humana persiste
até hoje, na rinha de galo, na tourada, na farra do boi.
Jesus Cristo foi o humano expiatório mais famoso da história da
humanidade. Tempos depois, aquele que o traiu, Judas, é que passou
a carregar os pecados do mundo. A malhação de Judas – tradição
medieval cultivada até hoje – é um ritual de expiação da culpa através
do linchamento daquele que representa a traição aos bons princípios.
Séculos mais tarde, foi a vez dos judeus serem utilizados como bodes
expiatórios pelos nazistas. Ao longo da história, surgiram muitos outros
alvos purificatórios, variando de acordo com o local e o período histórico.
Homens, como Mahatma Ghandi, John Lennon, são um tipo especial
de alvos humanos para o ódio humano. Ao assumirem publicamente
a defesa de princípios pacifistas, irritam profundamente aqueles que
se percebem fortemente destrutivos. Nenhum bem provoca inveja tão
imensa quanto a grandeza de caráter.
Outros critérios para eleição do bode expiatório estão
relacionados com o sentimento de ameaça. A escolha pode recair
sobre alguém que representa algo que o sujeito rejeita em si mesmo.
Por exemplo, o machão que alimenta ojeriza pelo homossexual, que
ele reprime com dificuldade em si mesmo. Ou aqueles que debocham
dos deficientes ou dos pobres. Nesses casos, o bode expiatório é
alvo de zombaria e de ridículo. Os mais fracos são escolhidos não
só por covardia, mas também porque esses agressores alimentam
profundo desprezo pela fragilidade humana. Outro tipo de ameaça
é a de que o outro possa tomar o lugar do sujeito. É o caso do
ódio que os nativos sentem pelos imigrantes, ou a perseguição
dos religiosos aos ateus. A prática de purificação através de bode
expiatório é uma atitude típica contra as ansiedades maníacas.
Mas se a carga genética e o ambiente permitirem um
desenvolvimento saudável, o indivíduo vai conseguir elaborar a posição
depressiva. O amadurecimento do ego possibilita que ele reconheça
o que o ambiente lhe proporciona de bom, que admita os próprios
impulsos destrutivos e que perceba a separação entre si e os outros.
Se o ambiente for suficientemente amistoso, o sujeito desenvolve
confiança e gratidão pelos outros e estabelece um protótipo de bom
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REFERÊNCIAS
FREUD, Sigmund. (1915) Los instintos y sus destinos. In: Obras
completas. Madrid: Biblioteca Nueva, 1981.
______. (1915) La represión. Ibidem.
______. (1915) Consideraciones de actualidad sobre la guerra y la
muerte. Ibidem
______. (1920) Mas allá del principio del placer. Ibidem.
______. (1929) El malestar en la cultura. Ibidem.
______. (1932) El porque de la guerra. Ibidem.
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VIOLÊNCIA INFANTO-JUVENIL,
UMA TRISTE HERANÇA
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
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VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS:
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Disciplina
Indisciplina
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Os meios de Comunicação
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A indisciplina escolar
Davis e Rego (1996) enfatizam que de fato os tempos atuais
pedem muitas mudanças no processo pedagógico e na relação professor-
aluno. Hoje os alunos vivem em um mundo diferente, desafiador, com altas
tecnologias, têm um tipo de vida rápido, excitante, típico de um início de
milênio. E não raramente encontramos escolas obsoletas que exigem que
seus alunos fiquem mudos e sentados uns atrás dos outros, sem olharem-
se nos olhos e que ainda tenham no professor, o detentor único do saber.
Parece um pouco repetitivo falarmos dessas escolas que parecem ser
retratadas no século XIX, no entanto, apesar de todas novas tendências,
muitas escolas continuam a retratar modelos tradicionais de ensino.
Indisciplina escolar não pressupõe movimentação de alunos,
mostrar curiosidade e espírito crítico e inovador, mas, sim, se indispor
com as regras e limites solicitados pela escola para um saudável convívio
social no qual impere o respeito e a dignidade do ser humano.
Ao contrário do que muitos educadores podem pensar, negociar
e buscar normas que satisfaçam o coletivo e que contemplem a relação
professor-aluno, não significa abrir mão da autoridade. Significa, apenas,
abrir mão do autoritarismo. O papel da escola e do professor é mais difícil
hoje, porque a sociedade caminha acentuadamente para o individualismo,
que vive uma profunda crise de valores e a escola não pode se furtar
de dividir conhecimentos sobre convivência, cooperação, solidariedade,
generosidade, complacência, amizade, respeito mútuo e valorização do
outro. E não há didática para ensinar valores: o aprendizado se dá na
forma como o professor se mostra e na sua postura.
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Violência nas escolas
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O PAPEL DA EDUCAÇÃO
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Violência nas escolas
· Bullying
O termo Bullying, de acordo com a ABRAPIA –
(Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância
e à Adolescência), compreende todas as formas de atitudes
agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem
motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes
contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro
de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos
entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as
características essenciais, que tornam possível a intimidação
da vítima.
O que poderemos fazer para minimizar essa violência: Não
permita em hipótese alguma que seu aluno chame seus colegas
de “baleia” ou “elefante” por eles serem obesos. Você não pode
imaginar o rombo emocional que esses apelidos provocam no
solo inconsciente; Não lhes permita falarem pejorativamente dos
defeitos físicos e da cor da pele dos outros. Essas brincadeiras
não são ingênuas. Segundo Cury (2003), isso produz graves
conflitos que não se apagam mais, só se reeditam. Discriminação
é um câncer que mancha nossa história há séculos. E essa é
uma violência e um crime inafiançável.
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· Avaliação
Alguns educadores fazem do momento da avaliação um
momento de violência contra seus alunos. É o momento em
que o professor poderá mostrar o seu poder e subjugar os seus
alunos. Nem todos os educadores percebem de quão violenta
poderá ser uma prova para o educando.
Werneck (1995, p.95) resume assim a avaliação:
· Dificuldades de Aprendizagem
Cada vez torna-se mais comum, até por termos mais acesso
ao conhecimento científico, encontrarmos em nossas salas de
aula alunos com dificuldades de aprendizagem e faz parte do
nosso trabalho ajudá-los a transpor essas barreiras, quando
essas crianças são delegadas à sua própria sorte estaremos
cometendo não só uma violência como uma atrocidade para a
vida futura desse educando.
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· Necessidades Especiais
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· Agressões Domésticas
· Aluno x Aluno
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· Pais x Professores
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REFERÊNCIAS
______. Dos pais para os filhos. v. 5. São Paulo: Victor Civita, 1970.
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SALK, Lee. O que os pais devem saber. São Paulo: Círculo do Livro
S. A., 1982.
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JUVENTUDE E VIOLÊNCIA:
ONDE FICA O JOVEM NUMA
SOCIEDADE “SEM LUGARES?”
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Juventude e violência
Acidentes Acidentes
Homi- Sui- Homi- Sui-
Naturais Externas Total de Naturais Externas Total de
cídio cídio cídio cídio
transporte transporte
Norte 38,7 61,3 100 15,1 32,3 4,1 88,2 11,8 100 3,8 4 0,6
Nor-
33,7 66,3 100 13,9 35,1 2,9 91 9 100 2,5 2,9 0,5
deste
Sudeste 23,7 76,3 100 15,6 46,2 2,8 90,7 9,3 100 2,4 3,2 0,5
Sul 24,5 75,5 100 26,4 33,5 6,3 90,7 9,3 100 3,5 2,1 1,1
Centro
25,5 74,5 100 23 37,7 5,8 86,7 13,3 100 5,1 4 1
Oeste
Total 29,7 72,1 100 17,1 39,7 3,6 90.4 9,6 100 2,8 3 0,6
1
A partir de 1979, o Ministério da Saúde passou a implementar o Subsistema de Informação sobre
Mortalidade (SIM) cujas bases de dados foram utilizadas para elaboração da pesquisa Mapa da Vio-
lência: os jovens do Brasil, desde a sua primeira versão, em 1996, até a última publicada em 2006.
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n os n os n os n os n os n os n os n os
10 a 12 a 14 a 16 a 18 a 20 a 22 a 24 a
Idade
2
Aqui é pertinente evidenciar que mantém-se a utilização da categoria raça/cor conforme utilizada
pelo autor, pois a considero enquanto uma construção social e não ligada a diferenças biológicas
que imponham hierarquias de acordo com a cor da pele.
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3
Os dados citados neste trabalho, bem como a pesquisa completa sobre o sistema de atendimento
socioeducativo no Brasil estão disponíveis no site da Secretaria Especial de Direitos Humanos,
que pode ser acessada através do seguinte endereço: http://www.presidencia.gov.br/estrutura_pre-
sidencia/sedh/.arquivos/.spdca/texto_explicativo.pdf
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Juventude e violência
4
A medida de semiliberdade é a menos aplicada de todas as modalidades, sendo inclusive inexis-
tente nos estados do ES, MT e TO. Agrega-se ainda o fato de que 17 estados não possuem vagas
nem lotação para semiliberdade feminina. Segundo informações desse relatório, os levantamentos
anteriores já haviam sinalizado a baixa aplicação da medida de semiliberdade, o que foi reitera-
do na pesquisa mais atual (2006), uma vez que para cada adolescente cumprindo essa medida
encontram-se nove em regime de internação (SEDH, 2006, p. 5-6).
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REFERÊNCIAS
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VIOLÊNCIAS CONTRA A MULHER
BASEADA NO GÊNERO, OU A TENTATIVA
DE NOMEAR O INOMINÁVEL
INTRODUÇÃO
1
Artigo I da Convenção ratificada no Brasil em 27.11.95.
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2
FARIA, Ernesto (Org.). Dicionário Escolar Latim-Português. 4. ed. Rio de Janeiro: Departamento
Nacional de Educação/Ministério da Educação e Cultura, 1967.p. 1067.
3
ZALUAR, A. M. Violência e Crime. In: MICELI, Sergio (Org.). O que ler na Ciência Social brasilei-
ra (1970-1995). São Paulo: Editora Sumaré/ANPOCS, 1999, v. 1, p. 15-107. p. 28.
4
GAUER, Ruth Chittó. Fenomenologia da violência. Curitiba: Juruá, 2003.p. 13.
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5
SCHAIBER, Lilia Blima et al. Violência dói e não é direito: A violência contra a mulher, a saúde e
os direitos humanos. São Paulo: Editora UNESP, 2005. pp. 46-49.
6
BOURDIEU, Pierre. A dominação Masculina. Traduzido por: Maria Helena Kühner. 4 ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
75
Violências contra a mulher...
7
IZUMINO, Wania. Delegacias de Defesa da Mulher e Juizados Especiais Criminais: mulheres, vio-
lência e acesso à justiça. XXVIII Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências
Sociais – ANPOCS. Caxambu, Minas Gerais, 26 a 28 de outubro de 2004. CD-ROM.
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8
IZUMINO, Wania. Violência contra as Mulheres e Violência de Gênero: Notas sobre Estudos Fe-
ministas no Brasil. In: revista E.I.A.L. Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe, Vol.
16, n. 1, 2005, p. 147-164.
9
Idem.
10
SOARES, Bárbara Musumeci. Mulheres Invisíveis: violência conjugal e as novas políticas de se-
gurança pública. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
11
Idem, pp. 125-126.
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12
Idem. p. 157.
13
Idem, p. 177.
14
Ibidem, p. 177.
15
SOARES, Bárbara Musumeci. Mulheres Invisíveis: violência conjugal e as novas políticas de se-
gurança pública. pp. 156-157. Conforme a autora, a National Family Violence Survey, aplicada nos
Estados Unidos em 1975 e reaplicada em 1985, utilizando uma mostra de 2.143 e 6.002 famílias,
respectivamente, revelou, entre outros dados, que 12,4% dos maridos haviam agredido suas espo-
sas e 11,6% das mulheres agrediram seus maridos.
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16
Idem, p. 177.
17
GREGORI, Maria Filomena. Cenas e queixas: um estudo sobre mulheres, relações violentas e a
prática feminista. São Paulo: Paz e terra, 1992. p. 138-139.
79
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da queixa por parte das vítimas, além das providências, geralmente, não
criminais solicitadas, ao Estado, pelas mulheres vítimas de violência.
Perante esse novo cenário, o conceito de gênero, popularizado
por Joan Scott como “um elemento constitutivo das relações sociais,
baseado em diferenças percebidas entre os sexos; (...) uma forma
primária de significação das relações de poder”,18 passou a ser utilizado
para se compreender as complexidades das denúncias. A utilização da
categoria gênero introduz nos estudos sobre violência contra as mulheres
um novo termo para discutir tal fenômeno social: “violência de gênero”.
Nesse período, surgem novos estudos sobre violência contra as
mulheres, os quais enfatizam o exercício da cidadania das mulheres e
o acesso destas à Justiça. Entretanto, tais estudos ainda não superam
as dificuldades teóricas relativas à conceituação de violência contra as
mulheres e violência de gênero, pois não abandonam totalmente a ideia
do patriarcado, ocasionando confusão de conceitos.
A terceira corrente teórica sobre violência contra as mulheres,
chamada de relacional, visa a relativizar a perspectiva “dominação-
vitimização”. O trabalho que melhor exemplifica essa corrente é o de
Maria Filomena Gregori, intitulado Cenas e Queixas e publicado nos
anos 9019. A autora, baseando-se em sua experiência como observadora
e participante do SOS-Mulher de São Paulo, entre fevereiro de 1982 e
julho de 1983, identificou e analisou as contradições entre as práticas
e os discursos feministas na área de violência conjugal, bem como os
depoimentos das mulheres que sofreram violência. De acordo com
Gregori, o discurso feminista do SOS-Mulher percebe a mulher como
vítima da dominação masculina, a qual acarreta a violência conjugal.
Logo, a libertação da mulher dependeria da sua conscientização
enquanto sujeito autônomo e independente do marido (homem), o que
seria obtido por meio das práticas de conscientização feminista.
Contudo, Gregori observa que, inversamente a essa
perspectiva, as mulheres atendidas pelo SOS-Mulher não buscavam,
necessariamente, a separação de seus parceiros. A autora entende que
não há uma simples dominação das mulheres pelos homens; estas não
18
“Talvez fosse melhor dizer que gênero é um campo primário no qual ou através do qual o poder
é articulado” (SCOTT, Joan. Gender: a useful category of historical analysis. In: Gender and the
Politics of History. New York. Columbia University Press, 1988, p. 42-44).
19
GREGORI, Maria Filomena. Cenas e Queixas: um estudo sobre mulheres, relações violentas e a
prática feminista. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1993.
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20
GREGORI, op. cit., p. 134.
21
Op. cit., p. 183.
22
Op. cit., p. 184.
81
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IZUMINO, Wania. Delegacias de Defesa da Mulher e Juizados Especiais Criminais: mulheres, vio-
lência e acesso à justiça. XXVIII Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências
Sociais – ANPOCS. Caxambu, Minas Gerais, 26 a 28 de outubro de 2004. CD-ROM.
24
Idem.
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28
Sobre esse tema específico, ler: LARRAURI, Elena. ¿Por qué las mujeres maltratadas retiran las
denuncias? In: Mujeres y Sistema Penal: violência doméstica. Montividéu: B de F, 2008. p.127.
29
Idem, p. 127-128.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Elisa Girotti Celmer
REFERÊNCIAS
ARRAZOLA, Laura Susana Duque. Ciência e Crítica Feminista. In:
ALCÂNTARA, Ana Alice Alcântara; BACELLAR, Cecilia Maria (orgs.).
Feminismo, ciência e tecnologia. Salvador: UFBA, 2002.
30
ARRAZOLA, Laura Susana Duque. Ciência e Crítica Feminista. In: Feminismo, Tecnologia e Ci-
ência, p, 71.
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A VISIBILIDADE DA VIOLÊNCIA E A VIOLÊNCIA DA
INVISIBILIDADE SOBRE O NEGRO NO BRASIL
1
De acordo com a nomenclatura oficial utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística/IBGE.
A visibilidade da violência...
2
“O mesmo que navio negreiro. A denominação alude às condições em que eram transportados os
africanos escravizados para as Américas. Resulta da adjetivação do substantivo ‘tumbeiro’, transpor-
tador de cadáveres, indivíduo que conduzia mortos à tumba ou sepultura” ( Cf. Lopes, 2004, p. 659).
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3
Cf. LOPES, naquele período: “Das guarnições dos navios de guerra brasileiros, 50% dos efetivos
eram pretos, 30% mulatos, 10% de ‘brancos ou quase brancos’”. (2004, p.187).
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4
O marco desse pensamento é o livro Systema naturae, de Charles Linné, 1778. Cf. Hernandez:
2005, p. 18.
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REFERÊNCIAS
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“PRISÃO VIOLÊNCIA”: UMA
ANÁLISE DO APRISIONAMENTO
DO SUJEITO CONTEMPORÂNEO
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Viviane Leal Pickering
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“Prisão violência”
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Viviane Leal Pickering
1
Em Além do Princípio do Prazer, Freud (1920) define pulsão de morte (Tanatos) e pulsão de vida
(Eros), referindo que a pulsão de vida abarcaria as pulsões sexuais e a autoconservação. A pulsão
de morte teria, como finalidade, a redução de toda a carga de tensão orgânica e psíquica – logo,
seria uma volta ao inorgânico. Essa pulsão pode manifestar-se dentro do indivíduo (autodestruição),
ou externamente (pulsões destrutivas). A agressividade construtiva seria a defesa utilizada como
motor para conquistas, fazendo prevalecer a pulsão de vida. A pulsão de vida e de morte coexistem,
fundidas. Podem, contudo, também aparecer desfusionadas. Por meio da coesão, Eros visa a reu-
nir, enquanto Tanatos, com a força da repulsão, tende a destruir as ligações.
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“Prisão violência”
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Viviane Leal Pickering
2
Art.1: A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença de decisão criminal
e proporcional; a esta lei aplicar-se-á igualmente ao preso provisório e ao condenado para har-
mônica integração social do condenado e do internado. Art.14: A assistência à saúde do preso e
do internado, de caráter preventivo e curativo compreenderá atendimento médico, farmacêutico e
odontológico. Art. 28 O trabalho do condenado, dever social e condição de dignidade humana, terá
finalidade educativa e produtiva.
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Viviane Leal Pickering
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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“Prisão violência”
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que lhes são semelhantes, que ora podem ser agressores e ora vítimas
dessa violência desenfreada – e às vezes, as duas coisas ao mesmo tempo.
A sociedade carece, não só de políticas voltadas à saúde,
educação, moradia, mas políticas voltadas ao sujeito que, cada
vez mais se encontra aprisionado, dentro e fora dos cárceres, pela
violência. A sociedade como um todo precisa encontrar-se com seus
diversos segmentos e dialogar com todos seus integrantes – sujeitos
contemporâneos – para que eles possam se enxergar e serem
enxergados, nessa “condição violência”.
Assim, talvez seja possível criar caminhos e alternativas, para
esse enfrentamento das doenças, misérias e violências do humano,
nesta sociedade atual.
REFERÊNCIAS
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“Prisão violência”
110
AS VÍTIMAS DO ÓDIO:
VIOLÊNCIA, ESTADO E VULNERABILIDADE
SOCIAL NO BRASIL
Por Aline Winter Sudbrack
INTRODUÇÃO
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Aline Winter Sudbrack
1
BM - é a sigla utilizada para Brigada Militar.
113
As vítimas do ódio
2
Por sua vez, a violência simbólica é uma violência que se exerce com a cumplicidade tácita da-
queles que a sofrem e também, freqüentemente, daqueles que a exercem na medida em que uns e
outros são inconscientes de a exercer ou a sofrer.
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Aline Winter Sudbrack
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As vítimas do ódio
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Aline Winter Sudbrack
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As vítimas do ódio
3
O termo estigma refere-se a : 1 deformidades físicas ; 2 culpas de caráter individual : vontade fraca,
paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade, sendo essas inferidas a
partir de relatos conhecidos de, por exemplo, distúrbio mental, prisão, vício, alcoolismo, homossexua-
lismo, desemprego, tentativas de suicídio e comportamento político radical. 3 estigmas tribais de raça,
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Aline Winter Sudbrack
nação e religião que podem ser transmitidos através de linhagem e contaminar por igual todos os
membros de uma família. Em todos os exemplos de estigma encontram-se as mesmas características
sociológicas. “um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social cotidiana possui
um traço que pode-se impor à atenção e afastar aqueles que ele encontra, destuindo a possibilidade
de atenção para outros atributos seus. Ele possui um estigma, uma característica diferente da que
havíamos previsto. Nós e os que não se afastam negativamente das expectativas particulares em
questão serão por mim chamados de normais.” (GOFFMAN 1988)
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O TRÂNSITO: UM PALCO PARA A VIOLÊNCIA
A VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO
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O trânsito
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O trânsito
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O trânsito
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O trânsito
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O trânsito
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Aurinez Rospide Schmitz
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O trânsito
CONCEITO DE TRAUMA
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
1
Tsunami é uma onda gigante gerada por distúrbios sísmicos, que possui alto poder destrutivo
quando chega à região costeira. A palavra vem do japonês “tsu” (porto, ancoradouro) e “nami”
(onda, mar), ocorreu, em 2004, na Ásia.
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O trânsito
REFERÊNCIAS
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Aurinez Rospide Schmitz
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MÍDIA E VIOLÊNCIA:
A LUTA CONTRA A DESATENÇÃO
E A SONOLÊNCIA DAS MASSAS
O que está em jogo na comunicação de massa é a atenção do
público. Não são poucos os veículos que desejam, todos os dias, capturar,
em algum grau, os sentidos da audiência. Esse tipo de propósito é, em
boa medida, comercial. Na verdade, o que a mídia deseja é conquistar
os olhos e os ouvidos das pessoas para vendê-los aos anunciantes.
No entanto, tal tarefa não é fácil. O que predomina no público é
a desatenção, sua falta de interesse e a dificuldade no processamento
da informação. Afinal, são tantas as luzes a piscarem à frente dos olhos
das pessoas, tantos os ruídos a clamarem por audição, tantos os atores
desejando a persuasão e o controle das emoções das multidões que
a única rota de fuga dessa gente é desligar a mente. Um clic cognitivo
e emocional. A audiência acaba observando esses estímulos como
sonâmbulo. Vê, mas não enxerga o que se passa ao redor. No fundo, tal
comportamento opaco é um ato de autodefesa.
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Jacques A. Wainberg
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Mídia e violência
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AÇÃO TEATRAL
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Mídia e violência
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CAVALEIROS DO APOCALIPSE
Percentual
Tempo de
do Total -
Categoria de Notícias Transmissão
Frequência
Outro 5,8%
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Mídia e violência
Como ocorre no caso do noticiário nacional, também o
internacional dá preferência à violência. Presta-se atenção à paz
somente nos casos em que ela seja resultado ou venha acompanhada
de algum ato heroico e dramático. Já os conflitos internacionais e o
terrorismo estão entre os tópicos com maior tempo de transmissão
desse tipo de noticiário.
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Frequência das
Tempo total de Ranking por estórias nas
transmissão em tempo de manchetes das Descrição
segundos transmissão notícias de ambas
as emissoras
Tensão e Conflitos
4.361 3 18 (1)
Internacionais
3.194 4 17(2) Terrorismo Internacional
Nº. de atores
TVG TVC %
mencionados
1 0 1 1,0
2 36 28 66,0
3 9 13 22,7
4 5 3 8,2
5 1 0 1,0
6 1 0 1,0
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Mídia e violência
Percentual
total:
Frequência Frequência
Frequência Frequência total em total/ 820
TVG TVC ambos os (Número
canais total de
itens nos
telejornais)
Violência física contra
15 34 49 5,9
pessoas é noticiada
Violência física contra
pessoas é mostrada nas 6 6 12 1,5
notícias
Assassinato de pelo menos
uma pessoa é relatado no
noticiário
1 pessoa 34 4,1
2 pessoas 5 0,6
5 pessoas 4 0,4
4 pessoas 3 0,3
7 pessoas 3 0,3
8 pessoas 3 0,3
6 pessoas 2 0,2
3 pessoas 1 0,1
Referência verbal ao
assassinato de pelo menos
uma pessoa é relatada no
noticiário
1 pessoa
34 12
2 pessoas
5 0,6
5 pessoas
4 0,4
4 pessoas
3 0,3
7 pessoas
3 0,3
8 pessoas
3 0,3
25 pessoas
3 0,3
6 pessoas
2 0,2
18 pessoas
2 0,2
54 pessoas
2 0,2
Média – 2.598
2 0,2
Mediana- 3
A morte de pelo menos uma
pessoa é mostrada visualmente 3 0,3
(incluindo o corpo da vítima ou
partes do corpo)
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Percentual
total:
Frequência Frequência
Frequência Frequência total em total/ 820
TVG TVC ambos os (Número
canais total de
itens nos
telejornais)
Pelo menos uma pessoa
ferida é relatada no noticiário
1 pessoa 11 1,3
2 pessoas 5 0,6
4 pessoas 3 0,3
3 pessoas 2 0,2
9 pessoas 1 0,1
60.000 pessoas 1 0,1
Média – 1.851
Mediana- 4
Pelo menos uma pessoa
ferida é mostrada visualmente
1 pessoa 9 8 17 1,2
2 pessoas 2 0 2 0,2
Prejuízo à propriedade é
13 8 21 2,5
relatado oralmente
Consequências da violência
4 7 11 1,3
são relatadas verbalmente
Consequências da violência
0 6 6 0,7
são mostradas visualmente
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Mídia e violência
O impacto da TV, num país pouco letrado como o Brasil, é óbvio. O
veículo alcança hoje 94,5% dos domicílios brasileiros, pouco mais do que
o rádio (88,1%) e bem mais que o computador (26,6%).[2] O jornal circula
pouco, embora seja marcante sua influência na elite intelectual do país.
Tabela 8- Jornais: exemplares/ mil habitantes
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Jacques A. Wainberg
RESSONÂNCIA
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Mídia e violência
Tal receituário tem sido respeitado. Nos breves minutos do telejornal, há,
em essência, informação emocional, sensacional.
OS INTELECTUAIS
A violência tem sido também muito prezada por uma boa parcela
de ilustres intelectuais, personagens midiáticos por excelência. A força
destruidora dos atos de força os comove, pois lhes dá a impressão
de que o novo que tanto almejam só poderá nascer e surgir sobre as
cinzas do velho mundo destruído. Também surpreende a adesão de
muitos deles ora a genocidas, ora a homicidas e ora ainda a ditadores
disfarçados de gazelas angelicais. Talvez o que os atraia é a radicalidade
e a declarada propensão ao martírio de tais personagens da história.
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CELEBRIDADE E AMIZADE
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CONCLUSÃO GERAL
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REFERÊNCIAS
ANDERSON, Craig A. et al. The influence of media violence in
youth. Psychological Science in the Public Interest. v.4. nº.3.,
december, 2003.
BIRESSI, Anita & NUNN, Heather. Vídeo Justice: Crimes of Violence. In:
Social/Media Space. Space and Culture. 2008. v.6. 276p.
GERBNER, G.; GROSS, L.; MORGAN, M.; & SIGNORIELLI, N. (). Living
with television: the dynamics of the cultivation process. In: BRYANT, J.
& ZILLMAN, D. (Eds). Perspectives on media effects. Hilldale, NJ:
Lawrence Erlbaum Associates, 1986. p. 17-40.
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