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A LITERATURA EM LÍNGUA ALEMÃ E O PERÍODO

DO EXÍLIO (1933-1945): A PRODUÇÃO LITERÁRIA, A


EXPERIÊNCIA DO EXÍLIO E A PRESENÇA DE EXILA-
DOS DE FALA ALEMÃ NO BRASIL
Izabela Maria Furtado KESTLER1

RESUMO: Este trabalho apresenta em sua primeira parte os principais aspectos da


história da literatura em língua alemã do exílio, que está intrinsecamente ligada à ins-
tauração do regime nazista na Alemanha em 1933 e na Áustria após a anexação deste
país à Alemanha em 1938. Nesta primeira parte são apresentadas também as principais
características desta literatura e as obras literárias mais relevantes deste período que se
estende até 1945. Em sua segunda parte, há uma apresentação concisa das condições do
exílio e da produção literária de exilados de fala alemã no Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Nacional-socialismo; literatura alemã do exílio; história do exí-
lio; exílio no Brasil; literatura do exílio no Brasil.

A LITERATURA EM LÍNGUA ALEMÃ DO EXÍLIO (1933- 1945)


Lá onde se queimam livros, um dia também se queimarão pessoas.
(HEINE apud STAGHUN. 1997, p. 54)

Introdução
A literatura em língua alemã do exílio é produto da ruptura violenta da evolução
literária na Alemanha e na Áustria e da fuga e concomitante exclusão dos autores de
seus respectivos países de origem (Alemanha a partir de 1933 e Áustria após a anexação
ao III Reich em 1938). Trata-se de uma literatura de resistência, no sentido mais
amplo da palavra (política, literária e artística), à instauração de um regime anti-
intelectual, anti-libertário, anti-liberdades individuais, em suma, absolutamente
anti-democrático: o nacional-socialismo. A produção literária dos exilados de fala
alemã deve ser abordada levando-se em conta não só a história do exílio com suas
diferentes fases, como também a história da ascensão, expansão e derrocada do III
Reich com a derrota alemã na II Guerra Mundial.

1
Departamento de Letras Anglo-Germânicas – Faculdade de Letras – UFRJ – 21941-590 – Rio de
Janeiro – RJ – izabela@alternex.com.br

Itinerários, Araraquara, 23, 115-135, 2005 115


Izabela Maria Furtado Kestler A literatura em língua alemã e o período do exílio (1933-1345)

Aspectos principais da história do exílio quer que estes caíssem em suas mãos, mas também, em geral trazendo-os de
lugares distantes para estabelecimentos criados única e exclusivamente com o
O exílio não é uma invenção do século XX. Há na história de todos os países objetivo de assassiná-los. Assassinatos em massa já haviam ocorrido antes, mas
e em todas as épocas relatos de perseguição e banimento de minorias. A nenhum assassinato em massa deste tipo. Este foi iniciativa da Alemanha e
emigração em massa de pessoas provenientes do III Reich é, entre os casos sobretudo de Hitler. (JÄCKEL & ROSCH, 1992, p. 11)
conhecidos, no entanto, única e singular. Nunca antes na história de um país A presença dos judeus alemães e austríacos na vida cultural de seus países até
ocorreu a emigração em massa dos representantes da cultura e da ciência de um 1933 e 1938 respectivamente foi de grande relevo. A perda profunda provocada pela
povo. (BERG et al., 1981, p.419) emigração e sobretudo pelo aniquilamento dos judeus para a vida cultural da Alemanha
A partir de 1933 tomaram o caminho do exílio cerca de 500.000 pessoas. O e da Áustria no pós-guerra é uma das conseqüências trágicas e irreparáveis do domínio
exílio dos escritores e intelectuais, assim como de outros grupos de pessoas, que nacional-socialista. Segundo o escritor judeu alemão Hans Sahl (1983, p. 418), havia
tiveram que abandonar a Alemanha, é apenas uma parte da história de perseguição, uma espécie de parentesco entre judeus e alemães que teria se iniciado após a
terror e morte engendrada pelo advento do nacional-socialismo na Alemanha. O advento emancipação dos judeus e se desenvolvido durante o século XIX, tendo alcançado
do nacional-socialismo, triunfante com a indicação pelo presidente Marechal Hindenburg seu ponto culminante nos anos 20 do século XX.
de Adolf Hitler para o cargo de primeiro-ministro (chanceler) da Alemanha no dia 31 A tragédia que vai se abater sobre os judeus alemães a partir de 1933 vai surpreender
de janeiro de 1933, assinala a chegada ao poder dos nacional-socialistas na Alemanha a grande maioria deles, que aliás compartilhavam com grande parte da burguesia alemã
pela via democrática como conseqüência quase natural da instabilidade e do radicalismo a absoluta falta de percepção política. Estatisticamente falando, segundo Hannah Arendt
políticos dos últimos anos da República de Weimar (1918-1933). A instauração do (1955), a perseguição e o extermínio dos judeus foi a aceleração insensata de um
regime nacional-socialista provocou em pouco tempo o êxodo em massa de escritores, processo inevitável. Havia na Alemanha em 1933 cerca de 400.000 judeus de
intelectuais de vários matizes políticos, artistas, cientistas, sindicalistas, políticos de nacionalidade alemã e 109.000 de outras nacionalidades, no total em torno de meio
quase todos os espectros (em primeiro lugar comunistas e sociais-democratas) e, com milhão, ou seja, eles eram 0,76 % da população. Além disto, havia cerca de 380.000
o correr dos anos, da minoria mais ameaçada (judeus alemães). No caso dos escritores pessoas de ascendência judaica (JÄCKEL & ROSCH, 1992, p.15).
e intelectuais, a maioria absoluta abandonou a Alemanha nazista em pouco tempo, Não cabe aqui fazer a crônica histórica da perseguição e extermínio dos judeus
saindo até outubro/novembro de 1933. na Alemanha e em todos os outros países europeus que caíram sob o domínio nacional-
A grande maioria dentre as 500.000 pessoas foram forçadas ao exílio em virtude socialista ou estavam sob sua esfera de influência. Resumo aqui os principais aspectos
da política anti-semita do III Reich. Calcula-se também que cerca de 30.000 pessoas da política nacional-socialista em relação aos judeus que pode ser dividida em duas
dentro deste universo de 500.000 eram opositores políticos ao regime nazista e que fases: de 1933 a 1941 houve a perseguição e exclusão; e de 1941 e 1945, o assassinato
cerca de 2.000 pessoas exerciam alguma forma de atividade literária. No tocante à dos judeus alemães e os dos países europeus em questão. Quanto às razões e desrazões
fuga em massa de alemães e austríacos de origem judaica, tal fato marca, de um lado, que levaram o Estado nacional-socialista a primeiro excluir os judeus da vida pública,
o fim da convivência entre alemães e judeus e entre austríacos e judeus e, de outro, tirar-lhes os direitos civis, interná-los em guetos, deportá-los finalmente para campos
com a implementação do holocausto na Alemanha, Áustria e em todos os outros de extermínio e implementar “racionalmente” o assassinato em massa de cerca de 6
países sob o domínio nazista, o término da presença judaica na vida cultural e política milhões de judeus europeus, menciono aqui as reflexões sobre este tema do sociólogo
da Europa. Ou seja, o holocausto não foi só mais um capítulo na longa história da Norbert Elias (1991, p.403-4):
diáspora dos judeus, mas sim o fim de todas as comunidades judaicas da Europa
Central e por fim o início de uma nova história para os judeus com a criação do Implementar a ‘solução final da questão judaica’ não tem nenhum fundamento
Estado de Israel em 1948. do tipo dos que comumente chamamos de ‘racional’ ou ‘realista’. Ela significa
simplesmente o cumprimento de uma crença profundamente enraizada que era
O assassinato dos judeus europeus na II Guerra Mundial foi sem par. Nunca central desde os inícios do movimento nacional-socialista. Segundo esta crença,
antes um Estado decidira aniquilar totalmente um grupo de pessoas por ele a grandeza atual e futura da Alemanha e da ‘raça ariana’, cuja personificação
determinado – inclusive idosos, mulheres, crianças e bebês sem qualquer tipo maior era o povo alemão, a ‘pureza da raça’. E esta ‘pureza’, pensada em termos
de exame de cada caso particular – e pusera em prática tal decisão com biológicos exigia o alijamento e se necessário o extermínio de grupos humanos
instrumentos de poder estatais, não só matando os membros deste grupo onde ‘de qualidade inferior’ ou inimigos, que poderiam prejudicar a raça ariana através

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da miscigenação, sobretudo o alijamento e extermínio de pessoas de ascendência 1933, é o marco principal da exclusão da produção literária que não convinha aos
judaica. Hitler e seus seguidores nunca esconderam que consideravam os judeus desígnios do nacional-socialismo.
os piores inimigos deles e da Alemanha. Para tanto não precisavam de nenhum
tipo especial de comprovação: pois era sua crença que a natureza assim o
determinara através da ordem mundial e de seu criador. Eles acreditavam que os
As fases do exílio
judeus, graças às suas características raciais inatas, não poderiam deixar de odiar
o povo ariano-alemão superior e que, se lhes fosse permitido, iriam arruinar Nós que íamos trocando de países
este povo. mais freqüentemente que de sapatos
através das guerras de classes, desesperados
É importante mencionar aqui que o início do êxodo em massa de escritores se
dá não imediatamente após a nomeação de Hitler, mas sim com o incêndio criminoso quando lá havia tão somente injustiça e nenhuma revolta
do Reichstag (Parlamento) na noite de 27 para 28 de fevereiro de 1933. Nesta mesma (BRECHT, 1986, p. 94)
noite tem início a perseguição, o terror e o aprisionamento de escritores e intelectuais
de esquerda, assim como de oposicionistas ao regime. A seqüência de acontecimentos A história geral do exílio passa por três fases (DURZAK, 1973), ligadas
(dissolução e proibição de todos os partidos políticos, implantação do regime ditatorial, diretamente à consolidação do regime nacional-socialista, à anexação da Áustria, à
criação de organismos oficiais de controle e censura de publicações e de toda atividade eclosão da II Guerra Mundial e à conseqüente invasão dos países vizinhos à Alemanha
artística) vem demonstrar que a fuga dos escritores e intelectuais não fora uma pelos exércitos nazistas. A primeira fase, que vai de 1933 a 1938, é denominada de
precipitação. O regime nacional-socialista, na percepção da maior parte da exílio na sala de espera. Ou seja, os exilados em sua maioria se refugiavam nos países
intelectualidade, não era igual a qualquer outro tipo de governo autoritário. “O objetivo próximos à Alemanha aguardando a queda do regime nazista. Os principais países de
do nacional-socialismo não era tomar o lugar do opositor político, mas sim realizar asilo desta fase são: França, Tchecoslováquia, Áustria, Suíça, Holanda, União Soviética
uma espécie de ‘ajuste de contas’ na tradição das lutas religiosas” (RÖDER & e Inglaterra.
STRAUSS, 1980, p. xxxv). A maior parte dos exilados refugiou-se, no entanto, nos dois primeiros países
Além disso, o nacional-socialismo pretendia não só o poder político, mas citados, os quais em função da estabilidade de seus respectivos sistemas democráticos
também – e este aspecto é o mais importante no tocante à literatura – o poder permitiam e, no caso da Tchecoslováquia, até incentivavam as atividades políticas
ideológico, ou seja, impor sua “Weltanschauung” em todos os campos culturais. dos exilados. A preferência pela proximidade geográfica explica-se também pelo fato
Aqui não é o lugar para se analisar em profundidade no que consistia exatamente de que inicialmente era consenso entre os exilados de todos os grupos que o nacional-
essa “Weltanschauung”. A par das teorias da suposta superioridade racial do povo socialismo teria uma vida curta no poder. Nestes países de asilo, escritores e intelectuais
alemão, e sobretudo do anti-semitismo – este último é o fator que distingue o juntamente com grupos políticos desenvolveram sobretudo atividades políticas de
nacional-socialismo do fascismo italiano – a principal característica do nacional- denúncia do nacional-socialismo. Jornais foram criados e editoras dos países de asilo
socialismo é sua oposição a toda e qualquer idéia política que enseje o respeito às se dispuseram a publicar obras do exílio. É importante mencionar neste contexto,
normas democráticas e à manutenção do estado de direito. entre outros, os jornais literário-políticos Die Sammlung, editado por Klaus Mann na
Holanda, Mass und Wert, sob a direção de Thomas Mann na Suíça, assim como o
No tocante à literatura, basta lembrar que o nacional-socialismo e seus intelectuais
Pariser Tageszeitung. A editora mais importante desta primeira fase foi a Querido-
preconizavam uma literatura voltada aos pretensos valores “eternos” da raça alemã
Verlag de Emanuel Querido, um judeu holandês de origem portuguesa, que publicou
(LOEWY, 1990, p. 328). Dentro do contexto do pensamento e da práxis do nacional-
em Amsterdam escritores renomados, como Lion Feuchtwanger, Ernst Toller, Alfred
socialismo, ou seja, de estímulo e fomento de uma política artística, literária e cultural
Döblin e Heinrich Mann.
de sustentação ideológica do regime, não havia lugar para escritores, artistas e intelectuais
compromissados ou com a tradição humanista ou com o questionamento moderno do Nesta primeira fase, observa-se uma tendência generalizada de politização da
início do século XX. A queima ritual dos livros de autores dos mais variados matizes – literatura e de correspondente engajamento político dos autores. Em Paris, por exemplo,
desde a comunista Anna Seghers até o humanista Stefan Zweig –, patrocinada pelo foi criada sob a direção de Heinrich Mann a Deutsche Freiheitsbibliothek (Biblioteca
Ministério da Propaganda sob o comando de Josef Goebbels e com a ajuda decisiva das da Liberdade Alemã) com as obras de todos os autores “queimados” no 10 de maio
universidades e dos estudantes em todas as cidades universitárias no dia 10 de maio de de 1933. O engajamento político dos escritores de várias gamas do espectro político

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Izabela Maria Furtado Kestler A literatura em língua alemã e o período do exílio (1933-1345)

(BETZ, 1986) se faz notar, por exemplo, no apoio quase irrestrito a uma política de cultural. Não cabe aqui traçar um painel do drama e das freqüentes tragédias ocorridas
frente popular, protagonizada por comunistas, socialistas e políticos liberais e/ou nesta segunda fase. Basta mencionar aqui os suicídios dos seguintes escritores e
conservadores na luta contra o nacional-socialismo, e que tinha como modelo o governo intelectuais nesta fase do exílio: Ernst Toller, Walter Hasenclever, Walter Benjamin,
de frente popular na França (1935-1939); assim como na participação de vários Kurt Tucholsky e Ernst Weiss (RÖDER & STRAUSS, 1980).
escritores na defesa da República – até mesmo na qualidade de soldados – na guerra A terceira fase (1940 a 1945) denominada fase ultramarina, é marcada pela
civil travada de 1936 a 1939 entre o governo republicano e as tropas franquistas na dispersão dos exilados em quase todos os continentes. Os EUA acolheram a grande
Espanha. Participar desta guerra do lado dos republicanos era considerado pelos maioria dos exilados, enquanto a América Latina recebeu cerca de 86.000 exilados,
exilados como uma forma de deter o avanço do nacional-socialismo e do fascismo na dentre os quais uns 16.000 vieram para o Brasil (VON ZUR MÜHLEN, 1988).
Europa. Havia também centros de exílio em Shanghai (China), assim como Turquia, África
Não cabe aqui traçar todas as linhas de atividade política e cultural de escritores do Sul, Austrália, Palestina (ainda sob mandato britânico) e até na Nova Zelândia.
e intelectuais. É importante assinalar, no entanto, que este primeiro período do exílio Em todos estes países de asilo, a maior parte dos escritores produziu obras
foi, em termos literários, artísticos e culturais, o mais frutífero. Com o correr dos significativas, as quais em sua maioria não chegaram a ser editadas durante a época
anos, as condições de vida de escritores e intelectuais deterioram-se paulatinamente, do exílio. Só em alguns países (México, Argentina, EUA, e na Europa e União Soviética)
sobretudo a partir de 1937-1938. Com o aumento da recessão e do desemprego ao foram criadas editoras especializadas na propagação da literatura do exílio.
longo dos anos 30, França, Suíça e outros países de asilo passam a restringir a concessão Pode-se afirmar neste contexto que o exílio significou para todos os autores uma
de vistos de permanência assim como licenças de trabalho para os exilados. Aumenta, ruptura profunda em suas respectivas biografias. Mencionamos a seguir os principais
por outro lado, a emigração sobretudo de judeus alemães da Alemanha, principalmente problemas para a produção literária de todos estes autores. O problema principal foi
após o pogrom (denominado pelos nazistas de “noite dos cristais”) e a queima de sem dúvida a perda do público leitor da Alemanha e Áustria. Dentro deste quadro,
sinagogas em toda a Alemanha, realizada na noite de 9 para 10 de novembro de 1938. praticamente todos tiveram prejuízos materiais com a carência de editoras nos países
Com a anexação da Áustria em março de 1938, o número de exilados, que a esta de asilo e com a perda definitiva do vínculo com as editoras dos países de origem.
altura já não são mais bem-vindos em nenhum país da Europa, cresce geometricamente. Grande parte sofreu durante todo o período do exílio um processo de empobrecimento
A anexação da Áustria marca assim o fim do primeiro período do exílio. e, em muitos casos, de pauperização. Todos se queixavam não só da perda do contato
O segundo período (1938 a 1940) é o da fuga em massa de todos os grupos de cotidiano com a língua materna, como também do afastamento forçado da vida cultural
exilados para países ultramarinos. Em março de 1939 a Tchecoslováquia, que abrigava alemã. Em alguns casos, o isolamento, sobretudo nos países de asilo ultramarinos da
grande número de exilados, é invadida. Os grupos provenientes deste país e da Áustria terceira fase, provocado não só por dificuldades de aculturação nos respectivos países
tentam se refugiar na França e Inglaterra. Finalmente, em 1º de setembro de 1939, de asilo como também por questões materiais, levou muitos autores ao desespero e à
tem início a II Guerra Mundial com a invasão alemã da Polônia. Em maio de 1940 quebra da produção literária.
ocorre então a invasão da Holanda, Bélgica, Luxemburgo e da França, a qual após a
rendição assinada no dia 22 de junho de 1940 fica dividida em duas partes: a parte Características principais da produção literária do exílio
norte do país até o sul de Paris é ocupada pelas tropas alemãs, enquanto a parte sul
permanece “livre” sob o comando do governo colaboracionista do Marechal Pétain, o Entre os pesquisadores da literatura do exílio não há consenso até hoje sobre um
chamado governo de Vichy. Este governo é denominado colaboracionista, por ter aspecto central: se há ou não uma estética específica desta literatura (HERMAND,
colaborado ativamente com os esforços nazistas sobretudo no que diz respeito não só 1979, p. 65). Ou seja, se é lícito se falar de uma literatura do exílio com uma estética
à deportação de alemães refugiados na França para campos de concentração e prisões própria ou se só é possível falar da existência de obras literárias surgidas no exílio.
na Alemanha, como também no tocante à deportação dos judeus franceses. A invasão Esta questão parece ainda não ter sido respondida a contento no bojo dos estudos
e ocupação da França provocam então a fuga em massa dos exilados (só na França germanísticos produzidos na Alemanha. É importante sublinhar aqui que de 1949 a
viviam cerca de 55.000 exilados alemães), que de Marselha, no sul da França, tentam 1990 houve duas Alemanhas (República Federal da Alemanha e República Democrática
obter vistos para países fora da Europa, os quais por sua vez criavam todo tipo de Alemã) aliadas respectivamente ao bloco ocidental e ao bloco soviético. Tal divisão
empecilhos na concessão de vistos aos exilados. Dentro deste quadro desesperador e insere-se no panorama geopolítico mundial da assim chamada Guerra Fria. Cada uma
de luta pela sobrevivência, não causa espanto a ausência de qualquer tipo de atividade

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das Alemanhas interpreta este período do exílio e da produção literária do exílio de vanguarda moderna e do expressionismo (considerada por ele como literatura
grosso modo conforme seu respectivo campo ideológico. burguesa decadente), Seghers, Brecht e os outros postulavam a continuidade e
Na República Federal da Alemanha, todas as obras de historiografia literária aprofundamento dos parâmetros da literatura moderna. Em relação a Lukács, é
dedicavam pelo menos um capítulo à produção literária do exílio, ou seja, abordavam interessante observar que as concepções defendidas por ele situavam-se dentro do
esta produção sob o pano de fundo da época histórica do exílio, furtando-se no contexto político de formação de um movimento de frente popular antifascista,
entanto a apontar ou indicar se houve ou não uma estética própria do exílio. As obras preconizado na época pela União Soviética, o qual previa o trabalho conjunto de
de historiografia literária, publicadas na República Democrática Alemã, por outro grupos de quase todos os matizes políticos sob a égide do partido comunista.
lado, denominavam a produção literária do exílio de um modo geral como literatura Tais concepções vão influenciar anos mais tarde a produção literária da República
antifascista. Ou seja, ao qualificar politicamente esta produção literária, a historiografia Democrática Alemã, na qual as teorias lukácsianas serão dominantes (ENDERLE-
literária da extinta República Democrática Alemã não só entronizou grande parte da RISTORI, 1998, p. 1016). Isto explica por um lado, porque a literatura em língua
produção literária do exílio no cânone da formação de uma literatura socialista, como alemã do exílio, como exposto acima, foi denominada de literatura antifascista,
também excluiu aquela produção literária do exílio que não se adequava à criação de tornando-se um dos pilares oficiais da fundação de uma literatura socialista naquele
uma literatura socialista de língua alemã, como foi o caso das obras do exílio que se país. E esclarece também, por outro lado, porque aquela produção literária do exílio,
inscrevem no contexto dos experimentos da modernidade literária (BARCK et al., comprometida com os experimentos modernos, é excluída do cânone literário.
1984). Após a unificação das duas Alemanhas, a questão aventada acima sobre a Ainda que não haja consenso sobre a especifidade estética da literatura do
existência ou não de uma estética específica da produção literária do exílio também exílio, há no entanto consenso no tocante ao fato de que o exílio produziu obras
não foi respondida na última obra abrangente mais recente sobre a produção literária extremamente significativas. Os temas das obras da literatura do exílio estão ligados
do exílio (STEPHAN, 1998, p. 39). intrinsecamente aos fatos instauradores desta literatura: à ascensão do nacional-
Ainda que pareça não ser possível responder esta questão, apresento a seguir socialismo, à permanência deste no poder, ao trabalho político de esclarecimento
alguns aspectos fundamentais desta produção literária. É sabido que experimentos sobre o verdadeiro caráter do nacional-socialismo nos países de asilo, às condições
formais no âmbito da modernidade literária já estavam sendo abandonados antes da adversas de sobrevivência no exílio, e, por fim, às dificuldades de aculturação nos
ascensão dos nazistas em 1933, pois grande parte dos autores já tinha desde meados países de asilo.
dos anos 20 abandonado o Expressionismo e produzia obras mais realistas dentro do No primeiro grupo temático encontram-se obras de denúncia do terror instalado
que se convencionou chamar de tendência da Nova Objetividade (“Neue Sachlichkeit”). na Alemanha e de esclarecimento sobre o nacional-socialismo, dentre as quais destacam-
No campo da esquerda, sobretudo dentro da União de Escritores Proletário- se: Die Moorsoldaten. 13 Monate Konzentrationslager (Os soldados do pântano. 13
revolucionários do Partido Comunista Alemão, já começara a se consolidar nos anos meses de campo de concentração) de Wolfgang Langhoff, publicada em 1935; ...wird
de 1930 e 1931 a tendência à adoção irrestrita dos princípios do Realismo Socialista, mit dem Tode bestraft (E será punido com a morte) de Heinz Liepmann de 1935;
tal como propagado pela política literária da União Soviética. Finalmente, em 1934, Die braune Pest (A peste marrom) de Frank Arnau de 1934 e a obra coletiva mais
durante o I Congresso Soviético de Escritores em Moscou, o Realismo Socialista é conhecida e traduzida para vários idiomas, Braunbuch über Reichtagsbrand und
declarado a teoria literária oficial a ser seguida por todos os escritores enquanto membros Hitlerterror (Livro marrom sobre o incêndio do Reichstag e o terror hitlerista),
dos partidos comunistas do mundo todo. publicado em 1934 (STEPHAN, 1998, p. 39).
Ainda na primeira fase do exílio, em 1937 e 1938, ocorre o assim chamado As lutas políticas em outros países da Europa durante os anos 30, sobretudo o
Debate sobre o Expressionismo, Realismo e Modernismo, travado nas revistas literárias levante comunista na Áustria em 1934 e a guerra civil espanhola de 1936 a 1939
do exílio Wort (Moscou) e Neue Weltbühne (Paris), de um lado, por Georg Lukács e, também serão tematizadas em várias obras, dentre as quais: Der Weg durch den
de outro, por Anna Seghers, Bertolt Brecht, Hans Eisler e Ernst Bloch. O debate se Februar (O caminho através de fevereiro) de Anna Seghers, sobre o levante em
concentra em torno da questão sobre que fases da literatura burguesa deveriam ser Viena e Salzburg, publicada em 1935; e as obras sobre a guerra civil espanhola, Der
preservadas como herança e incorporadas a um modelo em gestação no exílio de Tod des Don Quijote (A morte de Dom Quixote) de Rudolf Leonhard de 1938,
literatura antifascista. Enquanto Lukács defendia a idéia da manutenção e preservação Torquemadas Schatten (A sombra de Torquemada) de Karl Otten de 1938, e Die
da litertura de herança humanista, ou seja, basicamente a dos autores realistas do Kinder von Gernika (As crianças de Guernica) de Hermann Kesten de 1939. A
século XIX e dos autores do classicismo alemão, e a concomitante exclusão da literatura

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peça de Bertolt Brecht, Die Gewehre der Frau Carrar (Os fuzis da sra. Carrar), durante a II Guerra, sobretudo por autores mais velhos, que, partindo de sua
encenada em Paris em 1938, aborda com técnicas realistas a conclamação à resistência autobiografia, tentam reconstruir o mundo em que cresceram e viveram mas que
antifascista durante a guerra civil. desaparecido, como por exemplo: Die Welt von gestern (O mundo de ontem) de
As condições de vida no exílio, o isolamento, o empobrecimento e também a Stefan Zweig, uma das últimas obras escritas por este autor antes de seu suicídio em
necessidade de resistir e de continuar lutando pela restauração democrática na Petrópolis em 1942, assim como Ein Zeitalter wird besichtigt (Uma época é revista)
Alemanha, e a partir de 1938 na Áustria, são temas recorrentes da literatura do de Heinrich Mann, publicada em 1946.
exílio. Dentre as obras mais representativas, destacam-se: Flucht in den Norden É interessante observar também que várias obras escritas no exílio representam
(Fuga para o norte) de 1934 e Der Vulkan. Roman unter Emigranten (O vulcão. a continuação de projetos iniciados antes de 1933. Alguns destes autores não
Romance entre emigrantes) de 1939, ambas de Klaus Mann; Der Abgrund (O conseguiram concluir seus projetos ambiciosos, como por exemplo Robert Musil, que
abismo) de Oskar Maria Graf de 1936; Emigranten (Emigrantes) de Fritz Erpenbeck ao morrer na Suíça em 1942, deixou em aberto o terceiro volume de sua obra
de 1937; Der Reisepass (O passaporte) de Bruno Frank de 1937; Der Umbruch monumental Der Mann ohne Eigenschaften (O homem sem qualidades), iniciada em
oder Hanna und die Freiheit (A transformação ou Hanna e a liberdade) de Alice 1930 (CORINO, 1973, p. 259). Entre os projetos concluídos, é importante sublinhar
Rühle-Gerstel de 1937/38 assim como Exil (Exílio) de Lion Feuchtwanger de 1940 que eles adquirem características que não teriam, caso seus autores não estivessem
(THIELKING, 1998, p. 1076). Com a continuação do exílio e a paulatina banidos. Exemplar é o caso da tetralogia de inspiração bíblica Joseph und seine
deterioração das condições de vida surgem posteriormente outras obras, escritas Brüder (José e seus irmãos) de Thomas Mann. Os três primeiros volumes, Die
em sua maioria nos países de asilo de ultramar, que tematizam a fuga dramática da Geschichten Jaakobs (As histórias de Jacó), Der junge Joseph (O jovem José) e
França, dentre as quais deve-se mencionar o romance Transit (Em trânsito) de Joseph in Ägypten (José no Egito), são lançados na Alemanha respectivamente em
Anna Seghers, publicado no México em 1944 e que expõe as dificuldades quase 1933 e 1934, sendo que o último em tiragem pequena em 1936. A concepção da
intransponíveis para se conseguir vistos para países fora da Europa, assim como o tetralogia, concluída com o volume Joseph der Ernährer (José o provedor) em 1940,
relato autobiográfico de Lion Feuchtwanger, Unholdes Frankreich (França indigna), data do início de 1930. É precisamente no último volume que Thomas Mann, na
editado também no México em 1942. época exilado nos EUA, faz de seu protagonista um homem maduro, empenhado em
Um outro grupo significativo de obras procura apresentar tentativas de explicação solucionar as questões práticas e também em auxiliar seu próprio povo. Neste último
sobre as causas do advento do nacional-socialismo, passando em revista a época romance, Thomas Mann se afasta do modelo tão recorrente em sua obra do indivíduo/
anterior ao III Reich: a República de Weimar (1918-1933) no caso da Alemanha e o artista/gênio desligado das responsabilidades sociais e sobretudo abominando qualquer
Império Habsburgo no caso da Áustria. Dentre estas é importante assinalar as seguintes envolvimento com a vida política. Na mesma época de conclusão da tetralogia, o
obras: Die Geschwister Oppermann (Os irmãos Oppermann) de Lion Feuchtwanger próprio autor se empenhava nos EUA, através de conferências proferidas em muitas
de 1933; November 1918 (Novembro de 1918) de Alfred Döblin, escrito entre 1938 e cidades norte-americanas, assim como em locuções transmitidas pela BBC de Londres
1943 e publicado somente em 1950; Nach Mitternacht (Após a meia-noite) de Irmgard para a Alemanha, em conclamar e defender a democracia. É importante mencionar
Keun de 1937; Das Beil von Wandsbeck (O machado de Wandsbeck) de Arnold aqui que Thomas Mann aplaudiu com entusiasmo a eclosão da I Guerra Mundial,
Zweig, escrito entre 1938 e 1943 e publicado em 1947; Die Kapuzinergruft (A cripta saudada na época também como um acontecimento libertador pela grande maioria de
dos capuchinhos) de Joseph Roth de 1938, que trata da ascensão e queda de uma escritores e intelectuais de fala alemã. Para enfatizar seu entusiasmo, ele escreveu
família aristocrata na antiga Áustria imperial (THIELKING, 1998, p. 1074). naquela ocasião uma obra intitulada Betrachtungen eines Unpolitischen
(Considerações de um apolítico).
Dentro deste contexto de obras, encontram-se também aquelas que antes e
depois do início da II Guerra Mundial elaboram teorias de explicação do fascínio do Dentro do contexto de preferência por formas mais realistas de literatura e do
nacional-socialismo sobre o povo alemão, destacando-se entre estas: Mephisto. Roman conseqüente abandono de experimentalismos estéticos, é digno de nota que o gênero
einer Karriere (Mephisto. Romance de uma carreira) de Klaus Mann de 1936; do romance histórico é um dos mais cultivados pelos autores do exílio. Tal opção
Doktor Faustus de Thomas Mann, publicada em 1947; assim como Das siebte Kreuz propiciava traçar paralelos históricos, analogias e análises históricas multiperspectivadas.
(A sétima cruz) de 1942 e Die Toten bleiben jung (Os mortos permanecem jovens) Dentre estes romances destacam-se: Die Saat (A semente) de Gustav Regler de 1936,
de Anna Seghers, editada somente em 1949. Há também uma série de obras escritas sobre as lutas camponesas; os dois romances de Heinrich Mann sobre o reinado justo

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Izabela Maria Furtado Kestler A literatura em língua alemã e o período do exílio (1933-1345)

de Henrique IV na França, Die Jugend des Königs Henri Quatre (A juventude do rei Condições do exílio e da produção literária do exílio de escritores de fala alemã
Henrique IV) e Die Vollendung des Königs Henri Quatre (O aprimoramento do rei no Brasil
Henrique IV) de 1935 e 1938; Der falsche Nero (O falso Nero) de Lion Feuchtwanger
de 1936; Neuer Cäsar (O novo César) e Königin Christine von Schweden (Rainha Do contingente total de 500.000 refugiados, como já foi exposto acima,
Cristina da Suécia) de Alfred Neumann, publicados respectivamente em 1934 e aproximadamente 86.000 conseguiram asilo em países latino-americanos. O mais
1936; assim como o romance inacabado de Bertolt Brecht Die Geschäfte des Herrn importante país de asilo foi a Argentina, que acolheu cerca de 45.000 refugiados
Julius Caesar (Os negócios do sr. Júlio César), escrito entre 1937 e 1939 e publicado (VON ZUR MÜHLEN, 1988, p. 333). O Brasil foi o segundo país de asilo mais
em 1950 (THIELKING, 1998, p. 1075). importante, acolhendo apenas cerca de 16.000 refugiados de fala alemã (KESTLER,
Sobretudo na terceira fase do exílio, alguns autores vão tematizar seus respectivos 1998; KESTLER, 2003). Enfatizo o advérbio “apenas”, já que, proporcionalmente
países de asilo, assim como as dificuldades de aculturação. Neste grupo de obras cito ao tamanho do país, o Brasil acolheu muito menos pessoas do que poderia ter feito.
as seguintes: Der Ausflug der toten Mädchen (O passeio das meninas mortas) e Die Este fato deve-se não só à conjuntura político-econômica – Era Vargas, Estado Novo,
Hochzeit von Haiti (O casamento no Haiti) de Anna Seghers, que vieram a lume recessão econômica, simpatia declarada do governo Vargas pelos regimes fascista
respectivamente em 1946 e 1949; Entdeckungen in Mexiko. Reportagen (Descobertas italiano e nazista alemão –, mas também e sobretudo à impiedosa política de imigração
no México. Reportagens) de Egon Erwin Kisch, publicado em 1945; o ciclo de poemas do governo brasileiro. Com a instauração do Estado Novo em 1937, a política imigratória
Bäume am Rio de la Plata (Árvores no Rio da Prata) de Paul Zech, publicado em é marcada por forte tendência anti-semita, manifesta nas circulares secretas e
Buenos Aires em 1937; Brasilien, ein Land der Zukunft (Brasil, um país do futuro) memorandos enviados pelo Itamarati às representações consulares brasileiras na Europa
de Stefan Zweig, publicado em 1941; e Ulrich Becher com seu ciclo de poemas mais procuradas por refugiados, que eram em sua maioria apátridas (CARNEIRO,
narrativos Brasilianischer Romanzero (O Romanceiro brasileiro), escrito no Brasil 1988). Os fundamentos ideológicos da legislação imigratória de cunho xenófobo e
e que só veio a lume em 1962 na República Federal da Alemanha. anti-semita foram as teorias racistas pseudocientíficas amplamente propagadas no
Brasil. Interligadas a essas teorias estavam os debates em torno do assim chamado
Completando o panorama da literatura do exílio, menciono aqui os romances
caráter nacional brasileiro e as campanhas de nacionalização, ainda que forçada, das
que podem ser enquadrados sob a rubrica da literatura trivial ou de gosto popular,
colônias de imigrantes alemã, japonesa e outras, estabelecidas há décadas no Brasil.
que tiveram grande sucesso na época. Dentre estes, encontram-se as obras dos
Aqui não é o lugar para se apresentar um painel amplo destes debates e das teorias
autores Vicky Baum, Erich Maria Remarque e Emil Ludwig (THIELKING, 1998,
racistas em voga na época. Saliento no entanto que
p. 1077).
É importante assinalar que muitas das obras do exílio, sobretudo as obras líricas, As ideologias do caráter nacional brasileiro seguem bem de perto o esquema
só vieram a lume após 1945, e que diversas peças de teatro, como por exemplo das doutrinas européias. Numa primeira fase, aparece a revelação da terra e, já
grande parte das obras de Bertolt Brecht, também só foram encenadas depois do fim no século XVIII, o sentimento nativista. Este ainda não é o nacionalismo, pois
revela mais a idéia de local de nascimento que a reivindicação de unidade nacional.
do exílio de seus autores.
Esta aparecerá com a Independência e o Romantismo, e neste caso acompanha
Concluindo, sem no entanto pretender ter respondido a contento a questão o esquema estabelecido pelo romantismo alemão. [...] Uma terceira fase que se
levantada no início: ainda que a literatura do exílio não tenha conseguido alcançar inicia por volta de 1880, e só terminará na década de 1950. Esta é, a rigor, a fase
uma estética própria, segundo a maioria dos pesquisadores, é inegável que da ideologia do caráter nacional brasileiro. É nesse período que a teoria racial é
aceita pelos autores brasileiros e aqui servirá – como inicialmente na Europa -
os experimentos literários dos ‘autores banidos’ possibilitam, analisados para justificar o domínio das classes mais ricas. Além disso, as teorias raciais
metodicamente, uma compreensão melhor e sobretudo crítica da história alemã permitem aos ideólogos explicar o atraso do Brasil pela existência de raças
do século 20. Eles são uma fonte para uma outra descrição e elaboração da inferiores e de mestiços. (LEITE, 1976, p. 325-6).
realidade. (KLEINSCHMIDT, 1982, p. 36-7)
Na década de 30 com a recessão econômica, tais teorias raciais se tornaram
Para ilustrar as dificuldades enfrentadas por grande parte dos autores do exílio moda. Tratava-se de excluir as “raças ruins” da formação da nação brasileira, a qual
na assim chamada fase ultramarina, farei a seguir a uma curta apresentação das só deveria ocorrer com o concurso das “raças boas”. Segundo os teóricos racistas,
características principais do exílio e da literatura do exílio no Brasil. somente uma nação “racialmente” homogênea com uma só língua e cultura estaria

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apta para enfrentar e vencer os desafios da época. Por essa razão, realizou-se também Brasil em anos anteriores, Zweig escreveu uma das obras mais famosas dos anos 40:
a partir dos anos 30 uma política de nacionalização forçada das minorias étnicas, que Brasil, um país do futuro. Nesta obra, Zweig, enquanto refugiado atormentado pela
culmina, no caso da minoria de origem alemã, com a proibição do uso público da perda inexorável de seu mundo, descreve em tons ingênuos e emotivos um país
língua alemã e com o fechamento de jornais e editoras alemães em 1941 aparentemente livre dos preconceitos raciais, um eldorado da miscigenação e da
(OBERACKER, 1941). Além disto, o decreto de 12 de março de 1938 já proibira o tolerância entre as raças. Embora o pesquisador Jeff Lesser (1994, p. 97) afirme que
funcionamento de “filiais” brasileiras de partidos estrangeiros e quaisquer atividades o livro tenha sido uma forma de pagamento em troca do visto concedido pelo governo
político-partidárias de estrangeiros. Destes fatos depreende-se que a política de brasileiro, insinuando que a obra teria sido encomendada pelo famigerado Departamento
nacionalização forçada afetou profundamente não só aquelas minorias étnicas que de Imprensa e Propaganda da ditadura Vargas, o mais renomado biógrafo de Stefan
eram seu alvo principal – minorias alemãs, japonesas, italianas e outras –, mas também Zweig, Donald Prater, rejeita tal interpretação: embora o livro sobre o Brasil “de uma
a própria assimilação e aculturação dos refugiados de fala alemã. O decreto supracitado certa forma tenha sido pago pela hospitalidade do governo, que algumas vezes cobriu
impossibilitou desta forma a criação em bases legais de organizações anti-fascistas de despesas de estadia e viagens” (PRATER, 1981, p.155), não se pode de forma alguma
exilados assim como a abertura de editoras para a divulgação da literatura dos escritores afirmar que se trata de uma obra encomendada.
de fala alemã exilados no Brasil. Ao contrário do que aconteceu no México e na
Da primeira viagem em 1936 resultou o ensaio ‘Pequena viagem ao Brasil’,
Argentina, os escritores exilados não puderam, por razões legais, fundar uma editora
escrito em nove partes. [...] Este pequeno ensaio é o cerne da monografia sobre
própria e nem publicar obras em alemão em editoras brasileiras. Além disso, a
o Brasil redigida em 1940-1941. Já em 1937 o autor escreve para o editor
declaração de guerra do Brasil às potências do Eixo (Alemanha e Itália) em agosto de brasileiro Abrahão Koogan sobre a intenção de ampliar este ensaio, para que
1942 atinge indistintamente refugiados e membros das minorias étnicas provenientes possa ser editado em forma de livro. Assim percebemos que Brasil: país do
destes países. futuro foi uma obra planejada com antecedência e que não surgiu como mera
Quanto aos escritores e intelectuais, pode-se de um modo geral constatar que a retribuição pelo visto de permanência concedido pelo governo brasileiro em
grande maioria veio para o Brasil só a partir de 1938 e em muitos casos somente 1940, ou como propaganda encomendada pelo governo Vargas, segundo críticas
porque a emigração para os Estados Unidos não era possível. O Brasil portanto não de alguns jornalistas e publicistas na época do lançamento da obra e sustentadas
era para a grande maioria o país de asilo desejado. Algumas das obras literárias ou até hoje [...]. (HERBERTZ, 2001, p. 49)
ensaísticas dos escritores e intelectuais exilados foram, em função da proibição da Além desta obra, Zweig concluiu em Petrópolis sua autobiografia Die Welt von
publicação de obras em alemão, traduzidas e publicadas em francês ou em português. gestern (O mundo de ontem) e a pequena Schachnovelle (Tabuleiro de xadrez). O
Além disso, grande parte das obras escritas no Brasil só foi publicada no original nos duplo suicídio de Stefan Zweig e sua esposa em 1942 ilustra de forma cabal a tragédia
países de fala alemã após a II Guerra ou permaneceu inédita até hoje. O fato de que do exílio.
poucos escritores e intelectuais representativos e conhecidos se exilaram no Brasil Há, como já mencionado acima, algumas obras literárias de importância, dentre
explica também a pouca importância do país como local de produção de literatura do as quais destacam-se o romance autobiográfico de Marthe Brill (1894-1969), Der
exílio. Dentre os escritores mais representativos, encontram-se Stefan Zweig (1881- Schmelztiegel (O caldeirão de culturas), publicado somente em 2002 na Alemanha,
1942); Paula Ludwig (1900-1974), autora de ampla obra lírica; Leopold von assim como a autobiografia romanceada, inédita até hoje, Seidenraupen (O bicho-
Andrian-Werburg (1875-1951), poeta pertencente ao círculo de Stefan George e de da-seda), de Hugo Simon (1880-1950). Hugo Simon foi uma importante personalidade
Hugo von Hofmannsthal na Viena da virada do século XIX para o XX; e o poeta, da vida política e cultural da República de Weimar (KESTLER, 1994a).
romancista e dramaturgo Ulrich Becher (1910-1990). Nem Paula Ludwig nem Leopold
Os intelectuais mais representativos fizeram suas respectivas carreiras e se
von Andrian-Werburg escreveram ou publicaram no Brasil. Stefan Zweig, por outro
tornaram conhecidos após a II Guerra no Brasil. Os mais importantes foram: Otto
lado, era na época o escritor de fala alemã mais conhecido e apreciado no Brasil, pois
Maria Carpeaux (1900-1978), jornalista, ensaísta, crítico literário e enciclopedista;
desde 1932 suas obras vinham sendo traduzidas para o português e publicadas pela
Herbert Moritz Caro (1906-1991), tradutor de muitas das obras mais importantes da
Editora Koogan no Rio de Janeiro. Não cabe aqui narrar as suas vindas ao Brasil na
literatura em língua alemã do século XX; Anatol Rosenfeld (1912-1973), ensaísta,
década de 30, amplamente festejadas pela imprensa. Importante é assinalar que em
crítico literário, autor de várias obras sobre a história do teatro e da literatura alemã,
agosto de 1941 ele e sua esposa Lotte se fixam definitavamente no Brasil e alugam
professor de teoria teatral e o principal introdutor das teorias do teatro dialético de
uma casa em Petrópolis (DINES, 1981). Inspirado pelas viagens empreendidas no
Bertolt Brecht no Brasil (KESTLER, 1994b); Vilém Flusser (1920-1991), filósofo,

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Izabela Maria Furtado Kestler A literatura em língua alemã e o período do exílio (1933-1345)

ensaísta e professor de teorias da comunicação; Paulo Rónai (1907-1992), tradutor, na composição das peças de teatro Samba (1950) e Der Herr kommt aus Bahia (O
ensaísta, latinista e enciclopedista; e o casal Egon Wolff (1910-1991) e Frieda Wolff Senhor vem da Bahia) (1958), que numa versão posterior tem o título de Makumba
(1911- ), autores de vasta obra sobre a história dos judeus no Brasil. (1968), da maior parte dos poemas da coletânea Reise zum blauen Tag (Viagem ao
As obras publicadas no Brasil, além daquelas de Stefan Zweig, são em sua dia azul) (1946), assim como dos contos Die Frau und der Tod (A mulher e a
maioria: coletâneas de ensaios pseudo-filosóficos (Die Totalschau des Universums, morte) (1969) e Fussballleidenschaft des Napoleon Bonaparte (A paixão pelo
em 1945, de Walter Menzl); ensaios literários (A cinza do purgatório em 1942 e futebol de Napoleon Bonaparte) (1983). Em todas estas obras, o autor descreve
Origens e fins, em 1943, de Otto Maria Carpeaux); obras sobre a questão judaica um mundo de estranhezas, de paisagens mágicas e às vezes ameaçadoras. Os
(Judeus te contemplam!, em 1945, de Erich Fraenkel); romances históricos e/ou de brasileiros têm nomes fantasiosos (em sua maioria de origem romana ou grega:
entretenimento traduzidos para o português (À sombra do Corcovado, em 1941, de Agamenon, Napoleão, Capitulina, Orestes, etc.). Entregam-se ao hipnotismo dos
Frank Arnau e Beaumarchais, o aventureiro do século da mulher, em 1942, de Paul transes da macumba e ao poder da magia negra, o que exemplificaria o misticismo
Frischauer); relatos autobiográficos (À la recherche du monde perdu, em 1944, de dos brasileiros. O transe se repete também no carnaval, quando o rufar dos tambores
Susanne Eisenberg-Bach e Mil destinos da Europa, em 1943, de Karl von Lustig- e a cadência ritmada da música levam as pessoas ao delírio. A ignorância e a
Prean); e por fim três biografias elogiosas de Getúlio Vargas, escritas por encomenda miséria proliferam na cidade como a raiva entre os cães vira-latas no Romance dos
do Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo pelos autores Paul cachorros raivosos. A linguagem do autor é carregada de adjetivos, as imagens são
Frischauer, Wolfgang Hoffmann-Harnisch e Hans Klinghoffer. quase barrocas, as descrições da natureza são impregnadas de medo e fascinação.
Os heróis das peças e contos são peregrinos num mundo exótico e ameaçador. A
A única obra escrita e publicada em alemão no Brasil nos anos 40 foi o poema
natureza surge sobretudo no Brasilianischer Romanzero como um locus amoenus,
narrativo Das Märchen vom Räuber, der Schutzmann wurde (“O conto de fadas
um paraíso terrestre em contraposição ao inferno da cidade do Rio de Janeiro. O
sobre o assaltante que se tornou policial”) de Ulrich Becher, mimeografada com
estilo do autor é sobrecarregado de imagens exóticas, alusões mitológicas e
uma tiragem de 500 exemplares e distribuída pela Notbücherei deutscher
construções sintáticas incomuns, sobretudo nos romances do Brasilianischer
Antifaschisten in Rio de Janeiro (Impressora de emergência dos alemães anti-fascistas
Romanzero (SOUSA, 1996).
no Rio de Janeiro). Esta impressora foi fundada por Willy Keller, diretor de teatro
também exilado no Brasil, em 1943. Por razões de ordem material, esta foi a única Ulrich Becher nunca foi em vida um autor muito conhecido. Segundo um de
obra publicada pela Impressora. A difusão desta pequena obra se restringiu aos seus críticos, Dieter Bachmann (1970), Becher pertence à geração de autores que foi
simpatizantes da causa anti-fascista e aos membros da Notgemeinschaft deutscher “devorada” pela II Guerra Mundial. Era jovem demais e desconhecido quando partiu
Antifaschisten (Associação de Emergência dos Alemães Anti-fascistas), liderados para o exílio. Após o término da Guerra, ele e outros de sua geração não conseguiram
também por Willy Keller. Neste poema narrativo, o autor traça o perfil de Adolf se firmar no panorama literário do pós-guerra dos países de fala alemã (BRUHN &
Hitler como gângster, bandido e líder de um bando de assaltantes, que é convocado LANGE, 1986).
pelos poderosos para conter e eliminar a revolta dos trabalhadores. Depois de Concluindo esta curta apresentação, menciono aqui dois exilados que não
sufocada a revolta, o grupo de bandidos toma o poder. Durante sua curta estada no conseguiram vir para o Brasil. O primeiro foi Walter Benjamin. O também exilado
Brasil (1941-1944), Ulrich Becher escreveu quatro dos cinco romances do Erich Auerbach, um dos mais importantes teóricos da literatura do século XX, escreveu
Brasilianischer Romanzero (Romanceiro brasileiro), publicado em 1962 em a Walter Benjamin em 23 de setembro de 1935, informando-lhe que tinha proposto
Hamburg/Alemanha. A obra é composta de cinco romances, sendo que o primeiro seu nome às instâncias competentes no Brasil para o cargo de docente da Universidade
e o último são os mais longos: Romance dos cachorros raivosos do Rio, Romance de São Paulo, então em fase de criação. Auerbach tinha sido informado sobre essa
da floresta estranha, Romance da árvore vermelha, Romance da morte do beija- vaga em 1934 e, na carta de 1935 a seu amigo Walter Benjamin, ele comunica
flor, e Romance do encontro com João Damasceno Baunilha. também que infelizmente nada se concretizara (SPIELMANN, 1989; BARCK, 1988).
Além disso, Becher escreveu no Brasil grande parte do poema narrativo Die A provável carta de resposta de Benjamin a Auerbach não é conhecida.
Ballade von Franz Patenkindt. Romanze von einem deutschen Patenkind des Também Thomas Mann não conseguiu vir para o Brasil. Ele se correspondia
François Villon in fünfzehn Bänkelsängen (“A balada de Franz Patenkindt. Romança com o antigo diretor de teatro de Viena, Karl von Lustig-Prean, que se encontrava em
de um afilhado alemão de François Villon em quinze canções ambulantes”), editada São Paulo, a quem manifestou, numa carta de 8 de abril de 1943, o desejo de conhecer
somente em 1980 em Munique/Alemanha. A estada no Brasil inspirou-o também a terra natal de sua mãe, pois ele estava consciente da influência do sangue latino e

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Izabela Maria Furtado Kestler A literatura em língua alemã e o período do exílio (1933-1345)

sabia o que, como artista, devia a essa influência. E por isso ele esperava, “após a BECHER, U. Franz Patenkindt: Romanze von einem deutschen Patenkind des François
perda da pátria paterna, conhecer sua pátria materna” (MANN, 1976, p.718). A Villon in fünfzehn Bänkelsängen. Munique: Universitas, 1980.
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ABSTRACT: This paper presents in its first part the major aspects of the history of BRUHN, R.; LANGE, T. Heldentum und Mythos im Werk des Schriftstellers Ulrich
the German exile literature, which is intrinsically connected with the establishment Becher. 1986. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Comunicação e Ciência da
of the nazi-regime in Germany in 1933 and later in Austria after the annexation of Literatura, Universidade de Osnabrück, Osnabrück.
this country to Germany in 1938. It is also included in the paper, the major
characteristics of this literature and the most relevant literary works of the period CARNEIRO, M. L. T. O anti-semitismo na era Vargas: fantasmas de uma geração (1930-
that extends as late as 1945. In its second part, there is a brief presentation of the 1945). São Paulo: Brasiliense, 1988.
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