KARL Popper e A Teria Dos Mundos de Platão PDF
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Introdução
Platão, após fazer esta distinção en- Diante disso, pode-se concluir que a
tre dois mundos, aplica estes con- teoria das Idéias de Platão pretendeu
ceitos à esfera do ser humano, cons- sustentar que o sensível só pode ser
truindo uma concepção dualista de explicado mediante o recurso do su-
homem. Aliás, este ponto é muito pra-sensível, o relativo mediante o
importante para a compreensão da absoluto, o sujeito a movimento me-
Filosofia de Karl R. Popper, princi- diante o imutável, o corruptível medi-
palmente para saber quais foram as ante o eterno. Esta é a meta do pen-
bases para sua idéia de dualismo e samento de Platão, a busca de uma
mais tarde de pluralismo. “condição incondicionada” para o
conhecimento, o encontro com o ab-
O Mundo das Idéias ou Inteligível soluto fundamento da verdade. O
“verdadeiro ser” é constituído pela
“realidade inteligível”.
Platão chamou o conjunto de Idéias
de “Hiperurânio” (acima do céu), ter- Platão, à medida que vai escrevendo
mo usado na sua obra Fedro. Neste seus diálogos, vai desenvolvendo a
“mundo” existem idéias para todas as sua teoria sobre o Mundo das Idéias.
coisas (Idéias de valores estéticos, No Eutífron ele emprega pela primei-
Idéias de valores morais, Ideais de ra vez as palavras “idéia” e “eidos” no
entes corpóreos, etc). Estas idéias sentido de forma visível ou formato.
caracterizam a chamada “substân- Antes, porém, estas palavras já havi-
cia”, que é desprovida de cor, forma am sido conhecidas através dos es-
ou qualquer outro aspecto físico. O critos pitagóricos, com o sentido de
importante é que todas elas são in- modelo geométrico ou figura. A cada
corruptíveis e não estão sujeitas a novo escrito, vão surgindo novas
geração. idéias, aumentando ainda mais esta
esfera inteligível proposta por Platão.
Para Platão, ninguém poderia alcan-
çar este mundo “superceleste”, a não No Hypias Maior e no Banquete,
ser que possuísse as condições ne- Platão apresenta a idéia de Belo,
cessárias para tal feito, no caso, pos- comum a todas as coisas providas de
suir o conhecimento das verdadeiras beleza; no Fédon temos as idéias de
causas. Apenas o filósofo, aquele Justiça, Santidade (relativas à ética)
que consegue desenvolver a “parte e a idéias dos opostos (dia e noite,
mais elevada de sua alma” poderia calor e frio, etc), no Parmênides o
conhecer o Mundo Inteligível. Ele, ao
Platão representa esta sua teoria vê-lo e tocá-lo, pois ele tem um corpo e
usando de um artifício muito comum tais coisas são todas sensíveis; e as
à sua obra, a alegoria, no caso a de coisas sensíveis (...) estão sujeitas a
Er. Segundo esta alegoria, o pastor processos de geração e são geradas”.2
Er é conduzido pela deusa até o
mundo dos mortos, onde estão os Segundo Platão, o Demiurgo criou
poetas e os adivinhos. Lá ele vislum- este mundo por amor ao bem e por
bra as almas contemplando as Idéias “bondade”, portanto o mundo não
e partindo para escolher uma nova pode ser corrompido, pois não há
vida na Terra. Ao caminho da nova traço de corrupção em sua formação.
vida, as almas bebem da água do rio Entretanto, o mal vem da irredutibili-
Lethé, o rio do esquecimento (quem dade da “espacialidade caótica”, ou
escolhe uma vida de riquezas, bebe seja, da matéria sensível ao inteligí-
água em grande quantidade; quem vel (do irracional ao racional).
escolhe a vida de sabedoria, quase
Portanto, o mundo sensível, é uma
não bebe, e por isso na Terra, se
espécie de imitação do inteligível, tal
lembra de muitas coisas, inclusive do
qual uma pintura de uma árvore é
conhecimento verdadeiro.
uma imitação da árvore verdadeira.
mente, a partir das necessidades prio Platão não enxergavam tal plura-
apresentadas pelo homem. De uma lismo. Para Popper, Platão repre-
forma geral, o desenvolvimento do senta a fase “pré-histórica” do pen-
conhecimento objetivo trará novos e samento acerca dos mundos respon-
melhorados produtos da mente para sáveis pela existência das coisas.
o mundo, que serão transformados Logo, o caráter platônico da teoria
em soluções. popperiana é apenas o fato de que
ambos apresentam um pluralismo de
Popper conclui que o conhecimento mundos. Isto levou a novas leituras e
se dá pela interação entre o que a interpretações de outros pensadores,
mente desenvolve e como ela se ma- considerados até então dualistas.
nifesta no mundo. Esta mudança foi e ainda é muito útil
para a crítica que os pensadores plu-
A Interpretação popperiana da ralistas da mente fazem aos pensa-
teoria dos Mundos de Platão e a dores da corrente monista, que con-
sua importância na teoria dos sideram uma ameaça. No quarto ca-
três Mundos pítulo de O Conhecimento Objetivo
(1995) ele revela a seus leitores esta
Popper se mostra pluralista, ao deixar sua influência platônica, ressaltando
as concepções dualistas de corpo e apenas o caráter pluralista encontra-
mente, acrescentando uma terceira do na obra do autor grego.
esfera responsável pela produção de
Acompanho os intérpretes de Platão
todos os conhecimentos humanos, o
que sustentam serem as Formas ou
chamado Mundo 3. E como um bom
Idéias platônicas diferentes não só dos
pluralista, ele passa a ver e analisar
corpos e das mentes, mas também das
escritos de outros pensadores do
“Idéias da Mente”, isto é, das experiên-
passado a partir de sua ótica, procu-
cias conscientes e inconscientes: as
rando encontrar diferenças e similari-
Formas ou Idéias de Platão constituem
dades à sua teoria.
um mundo sui generis. Desejo fazer
Entre os nomes que se destacam dessa filosofia pluralista o ponto de
neste trabalho, se encontra o de partida da minha discussão, ainda que
Platão, considerado por Popper como eu não seja um platônico, nem um he-
uma grande referência aos seus es- geliano.5
tudos.
Mas se a contribuição, digamos posi-
O aspecto primordial que caracteriza tiva do pensamento de Platão à sua
a fundamentação platônica à teoria obra se resume apenas a este fator
de Popper é o fato de que Platão pluralista, Popper não deixa de com-
apresenta uma pluralidade de mun- parar os dois pensamentos, apre-
dos. Deve-se levar em conta de que
esta interpretação é feita por Popper. 5
Outros pensadores, inclusive o pró- POPPER, Karl. O Conhecimento Objetivo.
p.152
Referências Bibliográficas
POPPER, Karl R. Conhecimento Objetivo. São Paulo: Itatiaia Limitada -Ed. Universidade
de São Paulo. 1975.
______________ O Conhecimento e o Problema Corpo-Mente. Lisboa: Edições 70.
1996.
POPPER, Karl R. e ECCLES, John C. O Cérebro e o Pensamento. Campinas: Papirus.
1992