Aprendizagem e Desenvolvimento Infantil
Aprendizagem e Desenvolvimento Infantil
Aprendizagem e Desenvolvimento Infantil
Introdução
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Docente dos Cursos de Pedagogia e Licenciaturas da Universidade Sagrado Coração – USC. Pedagoga.
Psicopedagoga. Mestre em Educação pela UNICAMP. Doutoranda da Pós-Graduação em Educação, da
Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP; E-mail:
polianasantoscamargo@gmail.com
Desenvolvimento Infantil e Processos de Aprendizagem e Ensino: alguns olhares e contribuições 2
Profª. Ms. Poliana S. A. Santos Camargo
criança passou a ser recorrente. A partir do século XIX é possível observar uma
sistematização com relação à educação formal da criança. A formação de classes com
crianças da mesma faixa etária se constitui para o ensino graduado. Nesse momento a
disciplina era aplicada com agressividade, violência e rigidez tanto nas famílias quanto
nas escolas (RAPPAPORT; FIORI; DAVIS, 1981).
Mas a grande mudança ocorre a partir do século XX, também conhecido como
“Século da Criança”, com ingresso de muitas crianças nas escolas das sociedades
industrializadas. A partir daí buscou-se descrever o desenvolvimento infantil para
compreender como estas crianças aprendiam e quais os processos pedagógicos
pertinentes para cada faixa etária, o que impulsionou a articulação das áreas de
psicologia e pedagogia (SALVADOR et al., 1999; SALVADOR et al., 2000;
CARVALHO, 2002).
A partir de então a criança passou a ser estudada por vários pesquisadores com
objetivos de descrever e analisar os desenvolvimentos psicológico, físico, perceptual,
cognitivo, afetivo e social dessa tão importante e significativa fase do desenvolvimento
humano que é a infância (BEE, 1996; NEWCOMBE, 1999; PAPALIA; OLDS, 2000).
Deldime e Vermeulen (1999, p. 11) com seus estudos também afirmam que 'a criança é
o pai do homem’ e quanto os primeiros anos determinam o tipo de adulto que ela se
tornará”.
Contribuições de Freud
Contribuições de Piaget
Contribuições de Wallon
Contribuições de Vygotsky
conhece o mundo por intermédio da boca e sente um grande prazer ao colocar objetos
na boca, comer, sugar, morder e lamber. Como a criança ainda não tem consciência
sobre o que pode ou não fazer mal a ela, cabe aos pais e/ou responsáveis monitorar esse
processo, oportunizando situações de prazer, alimentação e exploração do mundo por
intermédio da boca. Durante a fase anal os movimentos intestinais são muito prazerosos
para as crianças. Ela começa a ter consciência do seu corpo e percebe que pode
controlar a retenção ou eliminação das fezes e da urina, ou seja, dos esfíncteres. A
criança se depara nesse período com o prazer de defecar/urinar ao mesmo tempo que vai
incorporando as primeiras noções de regras sociais, pois precisa compreender “que
existem momentos mais adequados para a sua realização e normas e regras que regulam
nossas condutas em sociedade” (PILETTI; ROSSATO, 2011, p. 58; SANTOS;
XAVIER; NUNES, 2009; RAPPAPORT; FIORI; DAVIS, 1981).
Segundo Piaget esta fase denomina-se como sensório-motora que vai do
nascimento até os 2 anos de idade. Nesse período a criança vai conhecer a se diferenciar
no mundo por meio das sensações e ações motoras, ou seja, “uma das funções da
inteligência será, portanto, nesta fase, a diferenciação entre os objetos externos e o
próprio corpo”. Aos poucos, a criança vai formando a noção do eu e se distingue dos
outros objetos existentes em seu ambiente. Um acontecimento muito significativo desse
período ocorre por volta dos 8 meses, quando a criança assimila a noção de
permanência do objeto, assim ela passa a considerar a existência de uma pessoa ou
objeto mesmo que eles estejam fora de seu campo perceptual imediato (RAPPAPORT;
FIORI; DAVIS, 1981, p. 67; SANTOS; XAVIER; NUNES, 2009).
A imitação é a forma de comunicação mais corriqueira ao longo do 1º. ano de
vida da criança. A inteligência se desenvolve por meio da “manipulação de objetos,
centra-se, portanto, em percepções e movimentos organizados pelo que Piaget chama de
esquemas de ação (agarrar, balançar, jogar o objeto)”. As relações entre causa e efeito
ainda não são percebidas. O egocentrismo ainda é uma característica forte desse
momento e interfere em sua maneira de relacionar-se com a realidade. “Ao longo desses
dois primeiros anos de vida a criança adquire noções de causalidade, espaço e tempo,
que são construídas pela ação” (PILETTI; ROSSATO, 2011, p. 73; SANTOS;
XAVIER; NUNES, 2009; RAPPAPORT; FIORI; DAVIS, 1981).
Para Wallon esse período é dividido em duas fases: o estágio impulsivo-
emocional (0 a 1 ano) e o estágio sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos) (MAHONEY;
ALMEIDA, 2000). No estágio impulsivo-emocional, o bebê se manifesta por meio de
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O período de 3 a 5 anos foi chamado de fase fálica por Freud. Nesse momento a
libido se localiza nos órgãos genitais. Meninos e meninas passam a perceber as
diferenças anatômicas que caracterizam e diferenciam cada um. Nessa fase, o complexo
de Édipo é acentuado. Freud inspirou-se na mitologia grega “o filho mata o pai e casa-se
com a mãe” para explicar a ligação/atração (energia pulsional) da criança pelo sexo
oposto (PILETTI; ROSSATO, 2011, p. 59; SANTOS; XAVIER; NUNES, 2009;
RAPPAPORT; FIORI; DAVIS, 1981).
Aos poucos a criança vai organizando seu pensamento de modo que passa a
compreender de forma lógica e organizada a realidade.
Segundo Wallon, no estágio categorial (6 a 10 anos) se intensifica a
diferenciação do “eu do não eu, o que é do seu ponto de vista do que é do outro” e um
grande avanço no desenvolvimento intelectual (PILETTI; ROSSATO, 2011, p. 108).
“Os progressos intelectuais dirigem o interesse da criança para as coisas, para o
conhecimento e a conquista do mundo exterior” (SANTOS; XAVIER; NUNES, 2009,
p. 69). A partir dos 9 anos acontece a “formação de categorias intelectuais como
elemento de classificação, o que vai permitir que a criança se posicione no mundo
utilizando categorias para ordenar a realidade” (MAHONEY; ALMEIDA, 2000, p. 53).
Santos, Xavier e Nunes (2009) apresentam um quadro geral apontando as
características físicas, cognitivas e psicossociais durante a terceira infância (6 a 11
anos):
Físico Cognitivo Psicossocial
O crescimento físico, se Nessa fase a criança se habilita O autoconceito evolui muito
comparado às etapas anteriores, para a formulação das operações, durante esta etapa se tornando
é mais lento, havendo diferenças tais como: a soma, a subtração, a mais realista. A co-regulação,
no ganho de peso e altura entre multiplicação e ordenação de transferência de controle do
meninos e meninas. O objetos em série. Consegue genitor para a criança, está num
desenvolvimento motor permite desenvolver raciocínio estágio intermediário. A energia
a participação em um número indutivo*, bem como superar é canalizada para atividades
maior de atividades. mudanças imediatas e considerar socialmente aceitas. A
a relação lógica envolvida nos participação dos pais durante
acontecimentos, porém ainda este período negociando regras e
apresenta dificuldade nas colocando limites é fundamental.
relações subjetivas e abstratas.
* (do particular para o geral)
Fonte: SANTOS, Michelle Steiner dos; XAVIER, Alessandra Silva; NUNES, Ana Ignez Belém Lima.
Psicologia do desenvolvimento: teorias e temas contemporâneos. Brasília: Liber Livro, 2009, p. 30.
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(...) a Psicanálise pode ser de grande relevância por contribuir para decifrar os
desejos do inconsciente, ajudando os educadores no seu cotidiano escolar.
Tornando, assim, manifestos os sentimentos profundos que influem e
determinam as relações com o outro, principalmente com aqueles aos quais o
indivíduo está ligado mais afetivamente. O mais importante na relação
educativa não é necessariamente o que o professor diz e faz, e sim o que ele é e
o que pode inconscientemente sentir, ficando os métodos pedagógicos
atrelados a tais sentimentos e aos desejos inconscientes das crianças. Para
Freud (1976), a função da educação é a de colaborar para que as crianças
aprendam a controlar seus instintos, seus impulsos, de maneira a coibir, proibir,
reprimir, para que as mesmas evitem sofrimentos maiores. (...) Freud critica
ainda a severidade aplicada na educação como influente na produção de
neuroses. Uma grande contribuição da Psicanálise diz respeito à aprendizagem
por identificação, pois mostra que através de modelos de pessoas que lhes
foram significativas, o ser humano motiva-se no sentido de equiparar a elas sua
autoimagem, motivo pelo qual, em geral quando uma criança “gosta” de um
professor tende a aprender mais e melhor sobre sua matéria ou disciplina.
Portanto, é necessário que o professor saiba sintonizar-se emocionalmente com
seus alunos, pois depende muito desse relacionamento e dessa empatia para
estabelecer um clima favorável ao ensino e à aprendizagem.
Segundo Mahoney e Almeida (2000, p. 86) destacam duas das lições entre as
mais importantes deixadas por Wallon, para nós educadores:
Considerações finais
Referências
______. Jogos para estimulação das múltiplas inteligências. 9.ed. Petrópolis: Vozes, 2001b.
ARIÉS. Philippe. História social da criança e da família. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. 7.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
CARVALHO, Maria Vilani Cosme de. A construção social, história e cultural do psiquismo
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SANTOS, Michelle Steiner dos; XAVIER, Alessandra Silva; NUNES, Ana Ignez Belém Lima.
Psicologia do desenvolvimento: teorias e temas contemporâneos. Brasília: Liber Livro, 2009.
SCHULTZ, Duane P.; SCHULTZ, Sydney Ellen. História da psicologia moderna. São Paulo:
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