Caso 5 - Vitor Manuel Franciulli de Lima Castro
Caso 5 - Vitor Manuel Franciulli de Lima Castro
Caso 5 - Vitor Manuel Franciulli de Lima Castro
Nº USP 8995519
Grupo 14.A
Argumentos do Contribuinte
Justamente pelo fato da base de cálculo compor o fato gerador e a incidência do tributo em si,
exprimiu-se que haveria violação à anterioridade. Com as modificações sucessivas perpetradas
pelo Ministério da Fazenda, o contribuinte não teria como saber, com antecedência, os valores
a serem pagos a título do imposto e, assim, ficaria ameaçada a sua segurança jurídica. Citou
julgado do STF em favor da anterioridade como cláusula pétrea.
Defendeu-se que a irretroatividade também seria atacada, na medida que os valores fixados em
portaria estariam mirando fato gerador anterior à vigência da lei que alterou os parâmetros para
a sua tributação. Em relação à igualdade, a lei a fere na medida que iguala situações de
subsistência e comércio de produtos agrários, a diferença de alíquotas sem motivo aparente e
aplicaria, em escala nacional, estas alíquotas para regiões em que o seu cultivo é mais ou menos
propício.
Argumentos do Fisco
O Fisco, por sua vez, alega que o princípio da legalidade foi observado, ao respeitar dispositivo
constitucional que autoriza a União a instituir tributo cujo fato gerador não fora discriminado
nas suas previsões, além de ser estabelecido por lei complementar.
O critério de 10 hectares, por sua vez, estaria respeitando o critério da capacidade contributiva,
pois o tamanho de tal propriedade abarcada implicaria riqueza produzida grande o suficiente
para que o contribuinte disponha de uma parte dela a título de imposto. Sob esse critério,
também expressa-se que não houve outorga ao Executivo para definir o alcance da tributação,
não havendo efetiva perda de segurança jurídica por parte do contribuinte.
Além disso, defende que a base de cálculo do imposto está prevista na lei complementar,
delegando-se ao Executivo apenas a sua determinação, isto é, a fórmula algébrica para se chegar
no valor a se tributar. Cita o §2º do art. 97 do CTN, que determina que a atualização monetária
da base de cálculo do imposto não importa sua majoração; muito menos alteração de alíquotas.
Argumenta, também, que a estrutura do tributo não viola a reserva de lei, já que a administração
tributária pode e deve se pronunciar em relação às condições para se aplicar e lei e conduzir,
efetivamente, a cobrança prevista por ela. A divulgação anual de valores e a determinação da
fórmula algébrica para se chegar no “valor de mercado” são exemplos do alegado.
Por fim, argui que o princípio da anterioridade fora respeitado, pois a Lei Complementar,
instituindo imposto que não se enquadra nas exceções constitucionais, respeitou a prazo de 90
dias após promulgação da lei e a regra do exercício financeiro seguinte para entrar em vigor.
Decisão
A razão é do contribuinte.
Diante dos fatos analisados, decide-se que houve violações aos princípios da legalidade, da
igualdade, da função social da propriedade e do livre exercício de qualquer atividade econômica.
“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
Tal limitação constitucional ao poder de tributar, cuja regulamentação nos termos do art. 146,
II da Constituição, encontra-se no CTN, no seu art. 97, cujo texto é, respectivamente, trazido:
(...)
(...)
IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos artigos
21, 26, 39, 57 e 65;”.
No caso analisado, não houve erro ao estabelecer-se o “valor de mercado”, já que o Decreto
não inovou nesta matéria. O seu artigo 3º, nos termos do enunciado do exercício, repetiu os
mesmos termos da Lei Complementar. O equívoco deu-se na delegação quanto a definir o que
seria este termo, assim como as variáveis a serem observadas na sua determinação. Esta matéria
é de competência de lei, e não de portaria.
“Forma crescente de desrespeito ao Princípio da Legalidade que deve ser apontada é quando o
próprio Legislativo – com o beneplácito de parte dos tribunais – abriu mão de seu dever de
tratar, sem qualquer interferência do Poder Executivo, da matéria tributária. A Constituição
Federal não prevê tal delegação. Ao outorgar ao Poder Executivo o poder para definir o alcance
da tributação, ofende o Poder Legislativo o princípio da separação dos poderes, acarretando
perda da liberdade e da segurança jurídica do contribuinte.”1.
“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
Ora, parece claro que o agricultor familiar nunca vai ter as mesmas condições contributivas que
o comercial. As alíquotas iguais para os dois, em lugar de uma tributação progressiva, é injusta
e contraria disposição da Carta Maior.
1
SCHOUERI, Luís Edurado. Direito Tributário. 5ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015, p. 322.
2
Ibid., p. 345 e 346.
“A igualdade não se mede apenas a partir da capacidade contributiva: é possível haver efeitos
indutores diversos, impostos pela mesma lei, a contribuintes com idêntica capacidade
contributiva. Nesse caso, importará examinar se há fator (diverso da capacidade contributiva)
que justifique a discriminação.”3.
Por fim, há princípios de ordem econômica que são desrespeitados, referentes à Função Social
da propriedade e do Livre Exercício de Qualquer Atividade Econômica, previstos no art. 170, III
e parágrafo único da Constituição:
“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios:
(...)
(...)
O primeiro princípio citado aplica-se na defesa do pequeno agricultor. Este, em sua posição
hipossuficiente, é tutelado pelo poder público no sentido de possibilitar a sua subsistência e o
atendimento às demandas de consumo interno do país. Exemplo disto é o art. 185 da
Constituição, que declara insuscetível de desapropriação a pequena propriedade rural:
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não
possua outra;”.
O critério de 10 hectares, conforme exposto pelo contribuinte, é muito reduzido para aplicação
do tributo. Engloba, de fato, o pequeno produtor, que terá de sofrer oneração extra à sua
atividade, sem qualquer tratamento diferenciado. A função social da propriedade, então, será
mais difícil de ser mantida e, nas devidas proporções, o tributo pode agravar ainda mais o
problema do êxodo rural e do abastecimento do mercado interno.
“O Princípio da Liberdade de Exercício de Atividades Econômicas não pode ser deixado de lado,
quando se consideram normas tributárias indutoras, já que, se a intervenção tributária for
3
Ibid., p. 349.
efetuada no sentido de criar óbices a uma atividade empresarial, então a norma tributária
indutora que assim atuar deverá ter sua constitucionalidade questionada.”4.
Para todos os efeitos, não houve violações aos princípios da anterioridade e da irretroatividade,
já que, do caso concreto, não foi possível extrair desrespeito no sentido de tributar-se o fato
gerador sem observar os critérios do exercício financeiro seguinte e dos 90 dias necessários à
produção de efeitos, nem a possibilidade de tributar fatos geradores pretéritos. As disposições
do Ministério da Fazenda, embora ungidas de inconstitucionalidade, respeitaria tais critérios ao
aguardar o prazo para entrada em vigor e ao mirar fatos geradores ainda a ocorrer, em
conformidade com as alíneas do art. 150, III da Lei Maior:
“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
II - cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver
instituído ou aumentado;
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou;
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou, observado o disposto na alínea b;”.
É como voto.
4
Ibid., p. 388.