Parecer Jurídico - Tributário

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO PARÁ

CURSO BACHARELADO EM DIREITO

ANNA LUIZA FERNANDES DE MORAES;

LUIZA HENRIQUES FONSECA

PARECER JURÍDICO ACERCA DA MODIFICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO


MUNICIPAL NO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DE PIRABAS/PA.

Belém/PA

2021.2
Anna Luiza Fernandes de Moraes;

Luiza Henriques Fonseca

PARECER JURÍDICO ACERCA DA PROPOSTA DE MODIFICAÇÃO DA


LEGISLAÇÃO MUNICIPAL NO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DE
PIRABAS/PA.

Trabalho de Direito Tributário I, apresentado


ao Centro Universitário do Pará – CESUPA,
como requisito parcial para obtenção de nota
da 1ª Avaliação.

Belém/PA
2021.2
PARECER JURÍDICO

Belém/PA, 01 de outubro de
2021.

I. RELATÓRIO:

O presente parecer tem o intuito de realizar uma análise acerca do Imposto Sobre
Serviços – ISS, que discute a respeito da informalidade da prestação de serviços e o
número reduzido de contribuintes. Nesse sentido, fazer-se-á, primeiramente, uma breve
síntese sobre o ISS, posteriormente a isso, será elencada os argumentos acerca da
viabilidade jurídica das proposições realizada pela empresa de consultoria, bem como da
modificação da legislação municipal e, por fim, uma explanação acerca do
posicionamento da dupla.

II. FUNDAMENTAÇÃO:

A partir da análise acerca do Imposto Sobre Serviços (ISS), é notório que este
consiste em tributo de competência dos municípios e Distrito Federal e incide sobre os
mais diversos serviços, é devido por qualquer pessoa jurídica ou física que preste os
serviços previstos na legislação (art. 43 da CTN). Logo, inclui as empresas prestadoras
de serviços e os profissionais autônomos.

Assim, cumpre destacar que cabe aos municípios disciplinar o valor do ISS sobre
os serviços prestados nos seus limites territoriais, respeitadas as alíquotas (percentual com
que um tributo incide), previstas na Lei Complementar 116/200, valendo a sua exposição:

Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:


III - Serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II,
definidos em lei complementar. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 3, de 1993);

Art. 8o. As alíquotas máximas do Imposto Sobre Serviços de Qualquer


Natureza são as seguintes:
II – demais serviços, 5% (cinco por cento).
Art. 8o-A. A alíquota mínima do Imposto sobre Serviços de Qualquer
Natureza é de 2% (dois por cento). (Incluído pela Lei Complementar
nº 157, de 2016)

Ainda, ressalta-se que os municípios possuem autonomia para conceder isenção


de imposto de ISS para determinadas empresas, a título de incentivo fiscal ou ainda, para
determinados serviços, como forma de estímulo à economia local.

1. Parecer sobre a proposta de modificação da legislação municipal do


Município de São João de Pirabas/PA.

Primeiramente, no que tange a temática trazida à baila acerca da alteração pela


Prefeita do Município de São João de Pirabas/PA, por meio de lei municipal, das alíquotas
do ISS, de maneira que os contribuintes formais observem a alíquota de 3% (três por
cento) e os contribuintes informais, quando identificados, observem a alíquota de 5%
(cinco por cento), verifica-se a inconstitucionalidade, tendo em vista o princípio
constitucional da isonomia ou igualdade, que visa garantir tratamento de forma
igualitária a todos através da lei, conforme versa o conteúdo do art. 150, II, da CF:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

(...)

II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se


encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em
razão de ocupação profissional ou função por eles exercida,
independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos
ou direitos;

Sendo assim, não se vislumbra a possibilidade de alteração por lei municipal das
alíquotas do ISS para observar percentuais diferentes aos contribuintes, independente se
estes são informais ou formais, devendo ser respeitado o limite do poder de tributação,
uma vez que existem outras maneiras de ser realizada a fiscalização, sem atingir
distinções, tendo em vista que ambos contribuintes se encontram em situação equivalente.

Ainda, cumpre destacar que o tributo é uma receita pública derivada instituída
em lei e cobrada mediante atividade administrativa, que tem por objetivo uma prestação
pecuniária compulsória, que não se constitua sanção de ato ilícito.
A partir deste prisma, cumpre observar igualmente, a disposição apresentada no
Art. 3º do Código Tributo Nacional, o qual leciona a respeito do que é considerado tributo
e destaca que o imposto não deve ser aplicado como forma de sanção. Senão, vejamos:

Art. 3º. Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou


cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato
ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada.

Portanto, o próprio conceito de tributo expressamente afasta a possibilidade de


sanções a atos ilícitos serem consideradas tributos, uma vez que este não possui
característica punitiva, aplicando-se a multa quando o objetivo for sobrepor um atributo
punitivo e confiscatório. Assim, cumpre observar o princípio “pecúnia non olet”, que
significa literalmente que o tributo não tem cheiro, ou seja, atos ilícitos não podem ser
fatos geradores de tributos, entretanto, os rendimentos resultados de atividades/serviços
ilícitos podem estar sujeitos à tributação, conforme o art. 118 do CTN:

Art. 118. A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se:

I - da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos


contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como da natureza do seu
objeto ou dos seus efeitos;

II - dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos.

Sendo assim, percebe-se que a alteração por meio de lei municipal, das alíquotas
do ISS, de maneira que os contribuintes formais observem a alíquota de 3% (três por
cento) e os contribuintes informais, quando identificados, observem a alíquota de 5%
(cinco por cento) é inconstitucional, em razão de infringir o princípio da isonomia e
igualdade, bem como em razão de que o tributo representa um dever assumido pelo
particular, que não constitui sanção de ato ilícito.

2. Da aplicação das novas alíquotas ainda no ano de 2021, respeitando


apenas o prazo de 90 dias entre a publicação da norma e a exigência
das alíquotas segundo a nova Lei, ademais aplicando-se
retroativamente as alíquotas reduzidas por Lei

Em seguida, a empresa de consultoria aborda sobre a aplicação das novas


alíquotas ainda no ano de 2021, respeitando apenas o prazo de 90 dias entre a publicação
da norma e a exigência das alíquotas, ademais aplicando-se retroativamente as alíquotas
reduzidas por Lei.

Nessa perspectiva, conclui-se igualmente inconstitucional, observado


primeiramente o da princípio da anterioridade do exercício e o princípio da anterioridade
nonagezimal o primeiro, obsta a eficácia imediata de norma tributária que institua ou
majore tributo existente, o que não impede a eficácia, no mesmo exercício, de norma que
reduza desconto para pagamento de tributo ou que altere o prazo legal de recolhimento
do crédito e o segundo, determina que o fisco só pode exigir um tributo instituído ou
majorado decorridos 90 (noventa) dias da data em que foi publicada a lei que os instituiu
ou aumentou, conforme expõe o art. 150, inciso III, item “b” e “c” da CF,
respectivamente:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

(...)

III - cobrar tributos:

b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a


lei que os instituiu ou aumentou;
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido
publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na
alínea b;

Nessa lógica, não deve ser aplicado anterior ao prazo estipulado na previsão
legal, para que a aplicação não produza efeito surpresa aos contribuintes, portanto, os
princípios devem ser observados cumulativamente, para que somente seja aplicado no
exercício seguinte necessariamente observando o prazo de 90 (noventa dias) da data que
foi publicada a lei que o instituiu ou aumentou.

Outrossim, no que tange a aplicação retroativa das alíquotas reduzidas por lei,
conforme observado no dispositivo, deve ser aplicado o princípio da irretroatividade
tributária, o qual assegura que a lei não poderá atingir fatos passados, impedindo que
arbitrariedade cause danos aos contribuintes, garantindo assim, segurança jurídica, nos
termos do o art. 150, III, “a” da CF e o art. 105 do CTN:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
III - cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da
vigência da lei que os houver instituído ou aumentado;

Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos


geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos aqueles cuja
ocorrência tenha tido início, mas não esteja completa nos termos do
artigo 116.

Nesse sentido, tendo em vista que a presente proposta não se enquadra em


nenhuma das exceções do art. 116 do CTN, bem como afronta os princípios da
anterioridade nonagesimal, anterioridade do exercício e da irretroatividade, não será
possível a aplicação das novas alíquotas ainda no ano de 2021, respeitando apenas o prazo
de 90 dias entre a publicação da norma e a exigência das alíquotas, ademais aplicando-
se retroativamente as alíquotas reduzidas por lei por ser inconstitucional.

3. Da Facilitação a formalização permitindo que os prestadores de alguns


serviços muito utilizados pela Administração Municipal (encanadores, pintores,
entre outros) paguem até metade do valor do ISS devido trimestralmente prestando
tais serviços diretamente à Prefeitura:

A ideia de que os servidores da Administração Municipal paguem até a metade do


valor do ISS é nula, uma vez que deve prevalecer a justiça tributária, inexistindo distinção
entre os contribuintes, sendo vedado o tratamento desigual.

Nesse sentido, narra o artigo 150, inciso II da Constituição Federal, a demonstração


de que é impossibilitado qualquer tratamento desigual entre os contribuintes que se
encontrarem em situação equivalente.

Sendo assim, diante do contexto apresentado, verifica-se que a concepção de que


os trabalhadores da Administração Pública paguem a metade da alíquota transfigura-se
inviável, tendo em vista que fere o princípio da constitucional da isonomia adotar um
tratamento desigual, aplicando imposto de um valor divergente apenas para uma parte
dos contribuintes.

4. Da relação ao ITBI – Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis “inter


vivos” (CF/88, art. 156, II), dado o baixo potencial arrecadatório deste tributo, a
Consultoria recomendou a realização de acordo com o Estado do Pará, transferindo
esta competência tributária ao Estado pelo prazo de cinco anos mediante o
pagamento, do Estado ao Município, de R $1 milhão por ano:

Diante da proposta narrada, cumpre observar o artigo 7º do CTN, o qual aduz que
a competência tributária é indelegável, inexistindo a possibilidade de transferir o imposto
supracitado.

Nesse sentido, a Constituição Federal leciona em seu artigo 156, II expressamente


que a cobrança do ITBI é realizada pelo Município, assim vejamos:

“Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos


sobre:

II - transmissão inter vivos, a qualquer título,


por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou
acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto
os de garantia, bem como cessão de direitos a sua
aquisição”;

Diante do exposto, aplica-se o princípio da indelegabilidade, no qual os entes são


incapazes de delegar a sua competência, inexistindo a possibilidade de transportar a
competência da cobrança de ITBI para os Estados, sendo inviável tal proposta.

III. CONCLUSÃO

Destarte, considera-se a proposta de modificação da lei municipal do Município


de São João de Pirabas do Estado do Pará INCONSTITUCIONAL, no que tange às
proposições apresentadas, tendo em vista que não estão em consonância com a legislação.

É o parecer.

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