Cartilha Da Ictiofauna

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Projeto Pacto Xingu

Ministério do Meio Ambiente (MMA)


Brasília (DF)
SEPN 505 Bloco B 1º andar - sala 115 - Asa Norte
CEP 70730-542
Tel: (61) 2018-1607

Diretor Nacional - Adalberto Eberhard


Coordenadora Nacional - Nazaré Soares
Gerente Nacional - Doraci Cabanilha de Souza
Equipe: Elaine Coelho, Marta Moraes, Nerivalda de Carvalho e Wiéner Souza.

São Félix do Xingu (PA)


Av. Duque de Caxias, s/n - Bairro Mundial (anexo ao prédio do IBAMA)
CEP 68.380-000 - São Félix do Xingu - Pará
Tel: (94) 3435-1123
Equipe em São Félix do Xingu: Márcia Gonçalves, Luiz Renato Lopes, Marco
Aurélio de Carvalho Silva e Konstantin Ochs

http://www.mma.gov.br/projeto-pacto-xingu
CARTILHA SOBRE OS
RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU,
MUNICIPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

Realização: Apoio:

Ministério do
Meio Ambiente
CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

FICHA TÉCNICA

TEXTO FOTOS
Luciano Fogaça de Assis Montag Leandro Melo Sousa
Victoria Judith Isaac Nahum Cleonice Maria Cardoso Lobato
Lilian Lund Amado Híngara Leão Sousa
Leandro Machado de Carvalho
Bárbara Heck Schallenberger REVISÃO
Cleonice Maria Cardoso Lobato Jeanne Gomes
Danielle Regina Gomes Ribeiro Marco Aurélio de Carvalho Silva
Esther Miriam Cardoso Mesquita Marta Moraes
Híngara Leão Sousa Nazaré Soares
Keila Renata Moreira Mourão
Morgana Carvalho de Almeida EDIÇÃO
Thiago Augusto Pedroso Barbosa Marta Moraes
Valéria de Albuquerque Oliveira
PROJETO GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO
MAPAS E IMPRESSÃO
Danusa Di Paula Nascimento da Rocha Gráfica Qualidade - Eduardo Silva
Naraiana Loureiro Benone
Paulo José de Oliveira Alves

DESENHOS
Ícaro Mourão Valente
Marcio Novelino

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CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

APRESENTAÇÃO

O projeto Pacto Municipal para a Redução do Desmatamento em São Félix do Xingu é uma inicia-
tiva do governo brasileiro, coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e pela Comis-
são Europeia (CE), executado em parceria com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO).

Além do âmbito da cooperação internacional, o projeto conta com o apoio das secretarias municipal
e estadual de Meio Ambiente, dentre outras instituições, como a Universidade Federal do Pará (UFPA),
organizações da sociedade civil e representações dos setores produtivo e privado.

O município de São Félix do Xingu, localizado no sudeste do estado do Pará, possui uma população
estimada em 2012 de cerca de 100.000 habitantes, e uma área de 84.607,39 km². É constituído pela
sede e quatro distritos (em 2012): Taboca, Nereu, Lindoeste e Ladeira Vermelha. A base da economia
do município é a pecuária de corte, possuindo o maior rebanho do Brasil, com mais de 1,7 milhões de
cabeças. Porém, a pesca, a atividade agrícola e os garimpos são também consideradas atividades eco-
nômicas importantes.

O município de São Félix do Xingu registra a existência de grandes conflitos, envolvendo questões
como: expansão fundiária, instalação de empreendimentos hidrelétricos e empreendimentos agrope-
cuários, extração ilegal de madeira, garimpos ilegais, além dos conflitos entre moradores da região, das
Unidades de Conservação, das Terras Indígenas e de outros usuários dos recursos naturais da região,
em particular os pescadores.

A partir de uma oficina promovida, em março de 2013, pelo Ministério do Meio Ambiente em parce-
ria com o Ministério da Pesca e Aquicultura e os usuários do Rio Xingu, ficou evidente a necessidade de
um estudo para pautar o ordenamento da pesca e buscar soluções para os conflitos existentes.

Surgiu, assim, o projeto “Diagnóstico dos Recursos Pesqueiros do Médio Rio Xingu, município de
São Félix do Xingu e Subsídios para o Manejo Sustentável”, apoiado pelo MMA e pela FAO, através de
uma parceria com pesquisadores da UFPA. O projeto tem como objetivo estabelecer uma base de
dados para subsidiar a formulação de medidas de gestão de longo prazo para a atividade pesqueira
sustentável na região.

A presente cartilha tem como finalidade resumir os resultados desse levantamento e os conheci-
mentos obtidos no projeto para ampla divulgação de todos os interessados.

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CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

A ATIVIDADE PESQUEIRA município pode ser maior, pois nem todos os


pescadores ativos visitam os portos frequente-
Na região de São Félix do Xingu existem dois mente.
tipos de pescarias comerciais: a pesca comercial
artesanal de consumo, que inclui a captura de Foram também registradas 253 embarcações
peixes para o consumo (alimentação), e a pesca de pesca, todas canoas de madeira, munidas
comercial para captura de peixes ornamentais com um motor de popa de eixo longo, conheci-
ou de aquariofilia. Além disso, existe a pesca das regionalmente como “rabeta”.
não comercial, que se subdivide em pesca de
subsistência e a pesca amadora ou esportiva.

Na pesca comercial ocorrem em média 1.500


desembarques por ano, nos portos de São Fé-
lix do Xingu, sendo 74,8% de pescarias de con-
sumo, 8% de pesca de peixes ornamentais e
17,2% nas quais houve captura tanto de espé-
cies de peixes para consumo quanto de peixes
ornamentais para a aquariofilia.

A modalidade de pesca mais frequente para a


captura do pescado é realizada com linhas de
mão (43%), seguido do uso de redes e linhas
com 25% (Figura 1).

25%

Redes e
linhas
Linhas 43%
PESCADORES E EMBARCAÇÕES Redes

Nos portos de São Félix do Xingu, foram con- 13%


Outros
tabilizados 208 pescadores que desembarcaram
seus pescados no município. Desse total, 54%
se dedicaram apenas à captura de espécies de 19%
consumo, 3% apenas espécies ornamentais e
43% espécies tanto de consumo quanto orna- Figura 1 – Principais modalidades de pesca realizadas pelos
mentais. Contudo, o número de pescadores no pescadores em São Félix do Xingu.

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CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

ORGANIZAÇÃO SOCIAL DA PESCA


EM SÃO FÉLIX DO XINGU
A Colônia de Pescadores em São Félix do Xin-
gu, chamada Z-65, é a principal forma de orga-
nização dos pescadores. Foi fundada em 2002 e
conta atualmente com 374 associados.

Em seu regimento interno estabelece:

• reuniões com os sócios a cada três meses;

• eleição para presidente com votação direta


dos associados a cada quatro anos.
- Características sociais dos pescadores
Tabela 1
Os requisitos para ter direito ao voto são: estar de São Félix Xingu.
em dia com as mensalidades e ter no mínimo
um ano de filiação à colônia. Item %
Filiação à Colônia 85%
Pesca de consumo 54%
Idade (média) 43
Nº Filhos (média) 3
Casados/União Estável 79,5%
Moradia/madeira 56%
Moram na zona urbana 78%

A PESCA COMERCIAL DE PEIXES


DE CONSUMO
O ESFORÇO DE PESCA
Chamamos de esforço de pesca o total de tra-
balho realizado para se obter uma determinada
captura. Para as pescarias de São Félix do Xingu
PERFIL SOCIAL DOS PESCADORES foi definido como:

Os pescadores de São Félix do Xingu são, na • O tempo total que se gastou com as pesca-
maioria, do sexo masculino (70%), com idade rias (em dias);
média de 43 anos e possuem cerca de três filhos.
• A soma do número de pescadores que se
dedicaram a pesca por dia.

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CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

Em 2013, o esforço de pesca teve dois picos de Entre os meses de novembro a março ocorreu
maior intensidade (Figura 2): uma diminuição do esforço e produção total na
região, em função do defeso, regulamentação
• Um no período de cheia do rio, entre abril e maio; federal que proíbe a pesca comercial de algumas
• Um período de seca, entre setembro e outubro. espécies neste período.

Em 2013, as principais espécies desembarcadas,


em São Félix do Xingu, pela pesca comercial ar-
tesanal de consumo foram: tucunaré (Cichla
melanie) (21,9%), pescada branca (Plagioscion
squamosissimus) (21,6%), surubim (Pseudo-
platystomas punticfer) (9,9%), pacu (Myloplus
rubripinnis) (9,5%), fidaldo (Ageneiosus iner-
mis) (8,4%), curimatã (Prochilodus nigricans)
(6,3%) e ariduia (Semaprochilodus brama)
(6,1%), aracu (Anostomidae) (2,4%), piranha
(Serrasalmus rhombeus) (2,8%) e cachorra
Figura 2 - Representação da evolução do esforço de pesca (Rhaphiodum vulpinus) (3,9%).
de consumo e da vazão do rio Xingu em São Félix do Xingu,
em 2013. O RENDIMENTO PESQUEIRO -
CAPTURA POR UNIDADE DE ESFORÇO
A PRODUÇÃO DE PESCADO A captura por unidade de esforço (CPUE), quan-
do bem determinada, representa a quantidade
Em 2013, a produção total de pescado desem-
de peixes que foi retirada do ambiente ao longo
barcado em São Félix do Xingu foi de 132 tonela-
do tempo, por cada pescador. É uma medida de
das, com dois picos de maior produção ao longo
produtividade que estima tanto a abundância de
do ano, um nos meses de cheia e outro nos me-
peixes no rio como a eficiência do pescador em
ses de seca (Figura 3).
obter esses pescados. É calculada através da di-
visão da captura (quilos de pescado) pelo esfor-
ço de pesca (pescador x dias de pesca).

Figura 3 - Representação da evolução da produção de pesca


de consumo e da vazão do rio Xingu em São Félix do Xingu,
em 2013.

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CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

Em 2013, a média anual da CPUE em São Félix à vazão do rio, ou seja, quanto maior a vazão e
do Xingu foi de 19,7 quilos de pescado por pes- consequentemente mais alto o nível do rio, me-
cador para cada dia de pesca. Os maiores valo- nor o envolvimento nas pescarias de ornamen-
res observados foram no mês de agosto, com tais (Figura 5).
quase 30 kg de pescado por pescador e por dia,
e o menor valor no mês de janeiro, com 11,5 kg/
pescador x dia (Figura 4).

Figura 5 - Representação da evolução do esforço de pesca


ornamental e da vazão do rio Xingu em São Félix do Xingu,
em 2013.

A PRODUÇÃO DE PESCADO
Figura 4 - Representação da evolução de produtividade de
pesca-CPUE de consumo e da vazão do rio Xingu em São A produção total de peixes ornamentais é regis-
Félix do Xingu, em 2013. trada em número de exemplares capturados (nú-
mero de peixes). No ano de 2013, o município de
Podemos dizer que esse indicador demonstra que, São Félix do Xingu registrou o desembarque de
nos meses de seca do rio, os peixes são mais facil- 1.951 indivíduos (Figura 6).
mente capturados, sendo o mês de agosto o que
apresentou maior captura dos peixes.

As pescarias com rede foram mais produtivas no


mês de julho e as pescarias com linha de mão
no mês de agosto.

A PESCA COMERCIAL DE PEIXES


ORNAMENTAIS
O ESFORÇO DE PESCA
Figura 6 - Representação da evolução da produção total da
No ano de 2013, foram registradas 346 viagens pesca ornamental e da vazão do rio Xingu em São Félix do
de pesca para a captura de peixes com a finalida- Xingu, em 2013.
de uso ornamental ou de aquariofilia.

O esforço de pesca neste período foi inverso

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CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

As arraias leopoldi (Potamotrygon leopoldi),


motoro (Potamotrygon motoro) e orbyanyi (Po-
tamotrygon orbygnyi) totalizaram 66,3%, os
acaris picota ouro (Scobinancistrus aureatus)
totalizaram 16,5% e o assacu pirarara (Pseuda-
canthicus cf. leopardus) 5,9%. Essas são as
espécies mais capturadas na região.

A quantidade de peixes ornamentais comerciali-


zados segue o mesmo padrão de esforço, com
um máximo de produção nos meses de estiagem
de setembro a novembro. Figura 7 - Representação da evolução da produtividade de
pesca-CPUE ornamental e da vazão do rio Xingu em São Fé-
O RENDIMENTO PESQUEIRO OU lix do Xingu, em 2013.
CAPTURA POR UNIDADE DE ESFORÇO
(CPUE) A COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO

O rendimento ou produtividade das via- A comercialização do pescado ocorre no próprio


gens para a captura dos peixes ornamen- município, para o consumo local, e regionalmen-
te, para a revenda. Os peixes ornamentais são
tais é expressa em indivíduos (quantidade
todos exportados para fora do estado do Pará.
de peixes) capturados por pescador e por dia
de pesca. As espécies capturadas pela pesca de consumo
que atingiram os maiores valores de compra fo-
No município de São Félix do Xingu, o maior va- ram: o surubim, seguido pelo tucunaré, fildago
lor de rendimento observado ocorreu no mês de e pescada.
novembro, com dois indivíduos por pescador e
- Características sociais dos pescadores
Tabela 2
por dia de pesca. O rendimento pesqueiro foi
de São Félix Xingu.
nulo nos meses de fevereiro e março, na cheia
do rio (Figura 7). Preço Preço Preço
Peixe de consumo médio mínimo máximo
(R$/kg) (R$/kg) (R$/kg)

Surubim/pintado 7,28 2,00 12,00


Tucunaré 6,95 2,00 15,00
Fidalgo 6,34 2,00 12,00
Pescada/pescada branca 5,91 2,00 12,00
Ariduia/jaraqui 4,88 2,00 10,00
Pacu/pacu branco 4,82 1,50 10,00
Aracu/piau-flamengo 4,29 2,00 10,00
Piranha/piranha preta 3,55 1,00 10,00
Curimata 3,44 1,00 10,00
Cachorra 3,24 1,00 10,00

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CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

Na pesca ornamental, as arraias são os peixes de a cidade de São Félix do Xingu até a terra indí-
que possuem os maiores valores de comerciali- gena Apyterewa. Foram mapeados 104 pesquei-
zação (Tabela 3). ros, que correspondem a 52,8% do total. Esse
setor do rio está localizado até 125 km a jusante
Tabela 3 - Preços das principais espécies de pei-
da cidade (Figura 8).
xes ornamentais pescadas na região de São Fé-
lix do Xingu, no ano de 2013.

Preço Preço Preço


Peixe ornamental médio mínimo máximo
(R$/ind) (R$/ind) (R$/ind)

Acari assacu pirarara 30,00 20,00 35,00

Acari picota ouro/cutia


4,29 4,00 5,00
ouro
Arraias 216,03 40,00 400,00

A renda bruta média do pescador da região é en-


tre R$ 900,00 e R$ 1.000,00 por mês, para todas
as modalidades, com grande variação entre os
diferentes pescadores, dependendo da intensi-
dade de captura e dos aparelhos de pesca.

OS PESQUEIROS E OS LOCAIS DE
INTERESSE PARA A PESCA EM SÃO
FÉLIX DO XINGU
Os pesqueiros são conhecidos como os locais
de melhor captura do pescado, ou seja, os lo-
cais de maior produção e, consequentemente,
Figura 8 - Representação dos pontos de pesca nos rios Xin-
os mais rentáveis para a economia. gu e Fresco, município de São Félix do Xingu.

O levantamento dos pesqueiros mais frequenta- Na porção de rio que se estende desde a cidade
dos pelos pescadores da região de São Félix do de São Félix do Xingu até cerca de 140 km a mon-
Xingu revelou uma grande diversidade de locais tante da mesma, foram mapeados 56 pesqueiros
de pesca. que correspondem a 28,4% do total.
No total foram localizados 197 pontos de pesca, O rio Fresco é o principal afluente do rio Xingu na
em três áreas distintas: Rio Xingu (a jusante da região. Nesta porção do rio foram mapeados um
cidade), Rio Xingu (a montante da cidade) e Rio total de 37 (18,8%) dos pesqueiros.
Fresco.
Alguns pesqueiros ficam nas proximidades de
A jusante é a porção de rio que se estende des- Unidades de Conservação e/ou de terras indíge-

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CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

nas, o que indica territórios que potencialmente consumo foram: fidalgo (Ageneiosus inermis);
podem ter conflitos de pesca, pois nessas áreas pacus (várias espécies de Serrasalmidae); pes-
existe uma restrição de pesca para pescadores cada (Plagioscion spp.); tucunaré (Cichla spp.)
não-moradores desses locais (Figura 8). e curimatã (Prochilodus nigricans).

Como se observa o consumo de pescado é mui-


to importante para a segurança alimentar da po-
CONSUMO DE PESCADO E OUTRAS pulação dessa região (Figura 9).
FONTES DE PROTEÍNA ANIMAL
A proteína de origem animal é muito importante
na alimentação da população, seja da zona rural
ou urbana de São Félix do Xingu.

A carne de gado foi o alimento consumido com


mais frequência (50% dos dias monitorados),
seguido do peixe (37%) e ovos de galinha (27%).

Figura 9 - Peixes mais consumidos pela população de São


Félix do Xingu.

CONFLITOS DA PESCA EM SÃO


FÉLIX DO XINGU
A região do município de São Félix do Xingu é
particularmente marcada por muitos conflitos.
Trata-se de uma região com muitas Unidades
O pescado foi o alimento proteico consumido
de Conservação, terras indígenas, grandes fa-
em maior quantidade pela população, uma taxa
zendas, cujos donos geralmente não moram na
média de 138 gramas por pessoa por dia ou 50
região, além de um grande contingente de pes-
quilos por pessoa por ano. Este valor é três ve-
soas que têm origem em outras localidades.
zes a média mundial de consumo de pescado,
de, aproximadamente, 15 kg por pessoa por ano. Isto contribui para a falta de tradições fortes liga-
Carne de gado e frango também são alimentos das à cultura local e ao território e explica o espí-
muito consumidos. rito de competição entre diferentes atores, pelo
domínio dos benefícios e facilidades da região,
As espécies de peixes mais utilizadas para o
inclusive o acesso aos recursos naturais.

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CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

PESCADORES x FAZENDEIROS
Esse é o mais grave e importante conflito esta-
belecido. Ao longo dos rios Xingu e Fresco há
muitas fazendas destinadas à criação de gado
de corte, cujos donos não permitem o acesso ao
rio, para os pescadores. Mesmo que isto seja ile-
gal, alguns pescadores respeitam essa norma, já
que o uso da força é comum nestes casos. Isso
gera um grande conflito pelo uso do território de
pesca entre pescadores e fazendeiros (ou seus
empregados).

Os conflitos identificados foram:

PESCADORES x INDÍGENAS
O conflito ocorre em função de muitos pesca-
dores da região almejarem pescar em áreas do
rio, que ficam dentro dos limites ou próximos
de terras indígenas, onde a legislação não per-
mite. Contudo, o que de fato pode ser visto é a
Algumas fazendas possuem placas, informando
existência de uma relação de tolerância e até de
sobre a proibição de pescar e caçar na área do
parceria econômica entre ambos os grupos.
entorno da fazenda.

PESCADORES x GARIMPEIROS
Esse conflito tem a ver com o grande impacto
gerado na água nas proximidades dos garimpos,
o que afeta a pesca no rio.

PESCADORES COMERCIAIS x
PESCADORES ESPORTISTAS
Determinados conflitos de interesses pelo
uso dos recursos pesqueiros e do território
foram registrados por esses dois grupos de
pescadores, principalmente no que diz respeito

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CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

à alocação das capturas em locais proibidos. te restritivas e impedem a pesca comercial arte-
sanal em vastas áreas dos corpos hídricos. Isso
Contudo, nesse caso, os dois segmentos de- também resulta em conflitos, pois os locais de
senvolvem também uma parceria econômica. pesca seriam bastante restritos se a legislação
Os pescadores esportistas, às vezes, contratam fosse cumprida à risca. No entanto, inúmeros
informalmente os pescadores profissionais da locais de pesca foram constatados ao longo dos
região para servir como guias, para auxiliar na rio Xingu e Fresco (Figura 10). Negociações com
captura de iscas ou peixes, no aluguel das suas as autoridades devem ser conduzidas com ur-
embarcações e costumam pagar pelo dia traba- gência para vencer essas dificuldades e garantir
lhado. aos pescadores profissionais uma atividade le-
gal e digna. A preservação dessa atividade, cul-
PESCADORES COMERCIAS x
turalmente arraigada na região, é uma garantia
PESCADORES CLANDESTINOS
de conservação. A proibição da pesca levaria um
Diferentes dos pescadores esportistas, foram grande contingente de pessoas a buscar outras
identificados os pescadores denominados local- atividades que poderiam ser mais degradantes,
mente de “turistas clandestinos”. Esses chegam como as que geram desmatamento ou poluição
à cidade em grandes grupos, oriundos dos esta- por garimpos.
dos de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Distrito
Federal e do município de São Geraldo do Ara-
guaia (PA). Apesar de não possuírem o Registro
Geral da Atividade Pesqueira (RGP), realizam a
pesca de forma proibida com o uso de malhadei-
ras, além da pesca esportiva para o lazer.

Acampam nas margens do rio e pescam entre


oito e dez dias, principalmente durante os me-
ses de estiagem. A captura é realizada com re-
des de malha, equipamento proibido para esse
tipo de pescaria, e chegam a capturar até 50 kg
de pescado por dia e por pescador.

Nesse caso, ocorre grande mortandade de pei-


xes de baixo valor comercial e de pequeno por-
te, que são rejeitados e, por isto, enterrados nas
praias que se formam no período do verão. Isso
foi relatado pelos pescadores para o igarapé do
Triunfo, mas os pescadores dizem haver ocor-
rências desse tipo de infração em outros locais.

LEGISLAÇÃO
A legislação pesqueira da região possui normas
estabelecidas tanto pelo governo federal, como
Figura 10 - Áreas permitidas (azul) e proibidas (vermelho)
pelo municipal. As regras municipais são bastan- para a pesca de São Félix do Xingu.

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CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

Legislação Federal

LEIS, PORTARIAS
DATA DA
E INSTRUÇÕES NORMA- ÓRGÃO ASSUNTO REGULAMENTA/DISPÕE/STABELECE
PUBLICAÇÃO
TIVAS
Dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da
29 de junho de Nova Lei da Pesca e Aquicultura e da Pesca, regula as atividades pesqueiras, revoga a Lei
LEI Nº 11.959 MPA
2009 Aquicultura nº 7.679, de 23 de novembro de 1988, e dispositivos do Decreto-Lei
nº 221, de 28 de fevereiro de 1967, e dá outras providências.
Art. 1º As Colônias de Pescadores, as Federações Estaduais e a
Confederação Nacional dos Pescadores ficam reconhecidas como
13 de junho de PR/Casa
LEI Nº 11.699 Colônias de Pesca órgãos de classe dos trabalhadores do setor artesanal da pesca, com
2008 Civil
forma e natureza jurídica próprias, obedecendo ao princípio da livre
organização previsto no Art. 8º da Constituição Federal.
28 de fevereiro Explotação e Estabelece diversas normas para o transporte e exportação de peixes
LEI Nº 3 MPA / MMA
de 2012 transporte vivos.
Regulamenta o Art. 27, § 6º, inciso I, da Lei nº 10.683, de 2003,
dispondo sobre a atuação conjunta dos Ministérios da Pesca e
Competência Aquicultura e do Meio Ambiente nos aspectos relacionados ao uso
conjunta dos sustentável dos recursos pesqueiros.
13 de outubro
DECRETO Nº 6.981 MPA/MMA Ministérios da Pesca Art. 1º Este Decreto regulamenta a competência conjunta dos
de 2009
e Aquicultura e do Ministérios da Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente para, sob a
Meio Ambiente coordenação primeiro, com base nos melhores dados científicos e
existentes, fixar as normas, critérios, padrões e medidas de ordena-
mento do uso sustentável dos recursos pesqueiros.
Espécies ameaça-
Art. 1º Reconhecer como espécies ameaçadas de extinção e
das de extinção,
INSTRUÇÃO NORMATIVA De 21 de maio espécies sobreexplotadas ou ameaçadas de sobreexplotação, os
MMA sobreexplotadas
Nº 5, de 2004 invertebrados aquáticos e peixes, constantes dos Anexos a esta
ou ameaçadas de
Instrução Normativa.
sobreexplotação
Captura, transporte
Art. 1º Estabelecer normas, critérios e padrões para a explotação
INSTRUÇÃO NORMATIVA 3 de janeiro de e comercialização
MPA/MMA de peixes nativos ou exóticos de águas continentais com finalidade
INTERMINISTERIAL Nº 001 2012 de peixes orna-
ornamental ou de aquariofilia.
mentais
INSTRUÇÃO NORMATIVA Altera redação dos Arts. 3º, 6º e 8º da Instrução Normativa Intermi-
De 28 de feve- Alterações a INI Nº
INTERMINISTERIAL MPA/ MPA/MMA nisterial nº 01, de 3 de janeiro de 2012, publicada no Diário Oficial da
reiro de 2012 001/2012
MMA N° 3, União de 4 de janeiro de 2012, seção 1, páginas 26 a 42.
Art. 1º Estabelecer normas, critérios e procedimentos para a inscrição
Registro Geral da
INSTRUÇÃO NORMATIVA 29 de junho de de pessoas físicas no Registro Geral da Atividade Pesqueira - RGP
MPA Atividade Pesqueira
Nº 6 2012 nas categorias de Pescador Profissional Artesanal e de Pescador
- RGP
Profissional Industrial.
Art. 1º Fica proibido, anualmente, no período de 1º de outubro a 31
INSTRUÇÃO NORMATIVA 30 de setembro de março, a pesca, o transporte, a armazenagem, o beneficiamento e
MMA Defeso tambaqui
N°35 de 2005 a comercialização do tambaqui (Colossoma macropomum) na bacia
hidrográfica do rio Amazonas.
Art.1º Estabelecer normas, critérios e padrões para a exploração com
INSTRUÇÃO NORMATIVA De 22 de outu- Captura de arraias
IBAMA finalidade ornamental e de aquariofilia de exemplares vivos de raias
Nº 204, bro de 2008 ornamentais
nativas de água continental, Família Potamotrygonidae.
Art.1º Estabelecer critérios e procedimentos para a concessão de
Concessão de licen-
ISTRUÇÃO NORMATIVA 19 de novembro Licença para a venda de exemplares vivos de raias nativas de água
MPA ça para venda de
Nº 19 de 2013 continental, Família Potamotrygonidae, para fins de ornamentação e
arraias ornamentais.
de aquariofilia.
Art. 1º Estabelecer normas de pesca para o período de proteção à re-
5 de novembro produção natural dos peixes, na bacia hidrográfica do rio Amazonas,
PORTARIA Nº 48 IBAMA Defeso
de 2007 nos rios da Ilha do Marajó, e na bacia hidrográfica dos rios Araguari,
Flexal, Cassiporé, Calçoene, Cunani e Uaça no Estado do Amapá.

15
CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

Legislação Estadual
LEIS, PORTARIAS
DATA DA
E INSTRUÇÕES ÓRGÃO ASSUNTO REGULAMENTA/DISPÕE/STABELECE
PUBLICAÇÃO
NORMATIVAS
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a Política Pesqueira e Aquícola em todo o território
do Estado do Pará, com o objetivo de promover o ordenamento, o fomento e a
fiscalização da pesca e da aquicultura; a exploração sustentável e a recuperação
dos ecossistemas aquáticos; e o desenvolvimento econômico, social, cultural e pro-
fissional dos que exercem a atividade pesqueira e aquícola, bem como das comu-
Política de Pesca e
25 de janeiro de nidades envolvidas. Parágrafo único. Constituem áreas de exercício da atividade
Lei Nº 6.713 ALE/PA Aquicultura do
2005 pesqueira e aquícola, quando couber e observada a legislação federal aplicável,
Estado do Pará
as águas continentais e interiores, a plataforma continental, o mar territorial, a zona
economicamente exclusiva sob jurisdição nacional e o alto mar, de acordo com atos
e tratados internacionais firmados pelo Brasil, salvo as demarcadas para reservas
biológicas ou do patrimônio histórico e aquelas definidas como áreas de exclusão
para a segurança nacional e o tráfego aquaviário.
Art. 1º Fica instituído o segundo domingo do mês de julho, como o “Dia Estadual
14 de setembro
Lei Nº 6.901 ALE/PA Dia do Pescador do Pescador”, uma homenagem a todos esses trabalhadores rurais, de todas as
de 2006
regiões do Estado do Pará.
09 de dezembro Política de Pesca Art. 1º - Para os efeitos desta Lei, considerasse pesca esportiva, a praticada com
Lei Nº 6.167 ALE/PA
de 1998 Esportiva fins recreativos, cujo o produto não será objeto de comercialização.
Art. 1º As normas estabelecidas neste Decreto integram a Política Estadual de Pes-
Regulamenta a
24 de janeiro de ca e Aqüicultura e serão, obrigatoriamente, observadas na definição e execução
Decreto Nº 2.020 ALE/PA Política de Pesca e
2006 de quaisquer programas e projetos, de iniciativa pública ou privada, realizados no
Aquicultura
território do Estado do Pará.
Regulamenta a Lei
Estadual nº 6.167, Art. 1º - Constituiu atividade de pesca esportiva a praticada através da modalidade
06de julho de
Decreto Nº 3.551 de 7 de dezembro “pesque e solte”, com fins exclusivamente recreativos, vedada a comercialização
1999
de 1998, e dá outras de seu produto.
providências.
Institui o Programa
de Gestão Ambiental Art. 1º - Fica instituído o Programa Estadual de Gestão Ambiental da Pesca Es-
06 de julho de
Decreto Nº 3.553 ALE/PA da Pesca Esportiva portiva – PEGAPE, vinculado à Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio
1999
– PEGAPE, e dá Ambiente e sob a suspensão da Secretaria Especial do Estado de produção.
outras providências.

Legislação Municipal

LEIS, PORTARIAS
DATA DA
E INSTRUÇÕES ÓRGÃO ASSUNTO REGULAMENTA/DISPÕE/STABELECE
PUBLICAÇÃO
NORMATIVAS
Estabelece as seguintes Zonas de Proteção Ambiental:
• Do porto da Mineração São Francisco até a Aldeia Krokaimora;
• Igarapé Triunfo, desde a cachoeira Xateturu até a cachoeira do Urubu.
• São Francisco, do Porto Estrela até a fronteira com Altamira.
• Rio Fresco, em toda a sua extensão.
Prefeitura
- Nestas áreas fica proibida a pesca com fins comerciais no leito do rio
10 de outubro Municipal de Zonas de Proteção
LEI Nº 57 Xingu e seus afluentes.
de 1997 São Félix do Ambiental
É permitida a pesca artesanal quando praticada com linha de mão, para
Xingu
subsistência;
É permitida a pesca esportiva quando praticada com linha de mão e
qualquer forma de mergulho, sem fins comerciais.
É proibido pescar em qualquer igarapé do município de São Félix do
Xingu para fins comerciais.

16
CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

LEIS, PORTARIAS
DATA DA
E INSTRUÇÕES ÓRGÃO ASSUNTO REGULAMENTA/DISPÕE/STABELECE
PUBLICAÇÃO
NORMATIVAS
Dispõe sobre a criação do Conselho Municipal e Fundo Municipal de Turismo e Meio
Ambiente
O Conselho Municipal de Turismo e Meio Ambiente – CMTMA
• Tem caráter permanente e deliberativo
• É composto por representantes governamentais e não governamentais (que de-
vem ser eleitos em Assembleia Geral.
• Deve aprovar as políticas do Turismo e Meio Ambiente,
Conselho e • Deve definir prioridades de aplicação e execução dos programas e projetos muni-
Prefeitura Mu-
13 de agosto Fundo Municipal cipais relativos ao Turismo e Meio Ambiente,
LEI Nº 118 nicipal de São
de 1999 de Turismo e • Deve ter um regimento interno.
Félix do Xingu O Fundo Municipal de Turismo e do Meio Ambiente – FMTMA
Meio Ambiente
• Tem a finalidade de incrementar as ações ambientais e turísticas.
• Possuem recursos provindos de ONGs, empresas, pessoa física, doações, au-
xílios, aplicação financeira, convênios, vendas e publicações ligadas ao FMTMA.
CAPITULO III – DA POLÍTICA AMBIENTAL
A política ambiental do município de São Félix do Xingu
• Será dada por meio de implementação do turismo, defesa do meio ambiente e
capacitação da mão-de-obra do setor.
Dispõe sobre a regulamentação da Atividade da Pesca Amadora
• A pesca amadora é aquela exercida com a finalidade de turismo, lazer e desporto;
• Fica estabelecida a quantidade máxima de 25 kg de peixe mais uma matriz por
turista.
Prefeitura Mu- • A Licença de Pesca Amadora é documento comprobatório de autorização e é emi-
LEI Nº 127 1999 nicipal de São Pesca Amadora tido pelo órgão público municipal competente.
Félix do Xingu É proibida a comercialização ou industrialização da produção capturada.
É permitido a captura apenas com linha de mão, puçá, caniço simples ou com molinete
ou carretilha, anzóis simples e garatéias naturais e artificiais.
Na pesca subaquática é permitido o uso da arma de mergulho.
É proibido a captura de espécies em extinção ou ameaçadas de e tinção.
Dispõe sobre a captação, transporte e comercialização de produtos derivados da Pes-
ca Amadora e Profissional no município de São Félix do Xingu
Proibido: a pesca com aparelhos, apetrechos, técnicas e métodos que comprometem
o equilíbrio das espécies, como as armadilhas tipo: tapagem, cercado, curral, rede
malhadeira, tarrafa, espinhel, pinda- bóia, jiqui e quaisquer outros métodos conside-
rados predatórios.
• Fica estipulado a quantia máxima de 1000 quilogramas por semana para toda e
qualquer produto derivado da pesca.
Prefeitura Mu- Captação, • As Associações ou Colônia de pescadores profissionais e os estabelecimentos
DECRETO Nº 803 2005 nicipal de São transporte e comerciais deverão solicitar a SEMATUR a autorização para comercialização do
Félix do Xingu comercialização pescado.
• Os pescadores amadores só poderão transportar para fora do município a quan-
tidade de 10 quilogramas e mais um exemplar, desde que respeitem os tamanhos
mínimos. É proibido: a pesca profissional nos igarapés: Bom Jardim, Baú, Floresta,
São Francisco, Mucura, Xadazinho, Riozinho, Maguari, Araraquara, Tabão, Triunfo,
Primavera, São Sebastião, Rio Pardo e todos os demais afluentes que formam as
bacias do rio Xingu, Rio Fresco e Rio Iriri.
Fica totalmente proibido: a atividade pesqueira nas áreas indígenas e a comercializa-
ção dos produtos dessa atividade.
Institui o novo código Municipal de Meio Ambiente. Revoga a Lei Complementar Nº
11/2003
Na atividade pesqueira é proibido a utilização de quaisquer tipos de malha ou espinhel
Prefeitura Mu- Código municipal durante o período de piracema.
LEI COMPLEMEN- 25 de maio de
nicipal de São de Meio Am- Na pesca esportiva é permitido a modalidade de pesque e solte, com captura e trans-
TAR Nº 016 2007 porte de até dez quilos de peixe inteiro e uma espécie para o consumo próprio.
Félix do Xingu biente
Nas reservas e sítios pesqueiros fica proibido o uso dos seguintes apetrechos consi-
derados predatórios: anzóis com farpa, zagaias, arpões, rede de malha, explosivos e
substâncias químicas, aparelhos elétricos e substancias tóxicas naturais.

Prefeitura Mu- Dispõe a proibição de comercialização e/ou vendas de ilhas, praias fluviais temporá-
1º de junho de Comercialização
LEI Nº 382 nicipal de São rias e terrenos marginais dos rios Xingu e Fresco, nos limites do perímetro urbano de
2009 e/ou vendas São Félix do Xingu.
Félix do Xingu
Prefeitura Mu-
2 de junho de Dispõe a proibição de retirada de areia dos leitos dos Rios Fresco e Xingu, no âmbito
LEI Nº 383 nicipal de São Retirada de areia
2009 do perímetro urbano de São Félix do Xingu.
Félix do Xingu

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CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

OS PEIXES DOS RIOS XINGU igapó), onde tem grande quantidade de alimento;
E FRESCO
3) migrações ontogenéticas (ou de crescimen-
Nos rios da Amazônia podemos encontrar o to): onde, pelo menos, uma das fases de vida do
maior número de espécies de peixes de água peixe (jovem ou adulto) ocorre em um hábitat di-
doce do mundo, onde os pesquisadores acredi- ferente do ocupado no restante da vida.
tam que tenham entre 3.500 e 5.000 espécies
As espécies de peixes migradores podem ser
de peixes. Essa grande diversidade se dá pela
divididas em dois grandes grupos: as de planície
existência de diferentes ambientes tais como,
(terras baixas), como o jaraqui e curimatã, que
igarapés, rios, lagos, igapós, várzea, praias, pe-
migram centenas de quilômetros, e as de longa
drais, corredeiras e baías.
distância, que incluem os grandes bagres, como
dourada e piramutaba, que migram milhares
de quilômetros.

O fato de os peixes serem migradores torna-os


importantes bioindicadores, pois é possível, por
eles medir a qualidade do ambiente, já que seu
crescimento, tempo de vida e desenvolvimento
reprodutivo podem ser alterados em virtude de
mudanças do ambiente.

O crescente aumento de atividades humanas


nos ambientes aquáticos, como o assoreamen-
to das áreas marginais em virtude de retirada da
vegetação ciliar, poluição, pesca descontrolada
Durante a cheia dos rios, muitas espécies de e a destruição de áreas de desova e criadouros,
peixes se movimentam entre esses diferen- tem despertado preocupação nos pesquisado-
tes ambientes para reprodução e alimentação. res, governos e na sociedade, pois estaria cau-
Quando esses movimentos são repetidos, es- sando a rápida diminuição de diversas espécies
sas espécies são conhecidas como migradoras. de peixes que, além de serem importantes na
Os pesquisadores reconhecem três tipos de mi- alimentação das comunidades, realizam um pa-
grações dos peixes: pel fundamental para o ambiente.

1) migrações reprodutivas: quando o movimen-


to dos peixes entre os ambientes ocorre, princi-
palmente, no início da enchente, em direção às
IMPORTÂNCIA DE SABER QUANDO
nascentes dos rios, onde os peixes irão desovar e
OS PEIXES SE REPRODUZEM
garantir a sobrevivência dos filhotes em um local REPRODUÇÃO DOS PEIXES
com menos predadores e mais oxigênio;
A maioria das espécies de peixes apresenta uma
2) migrações alimentares: quando ocorre a migra- época específica para reprodução. Geralmente,
ção dos peixes para as áreas alagadas (várzea ou as gônadas (órgãos reprodutivos) começam a se

18
CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

desenvolver antes do período de cheia e ama- pinhos de nadadeira) ou com base nas medidas
durecem quando as condições do ambiente são de comprimento dos peixes.
boas para a sobrevivência dos filhotes.
Informações sobre o crescimento de uma popu-
A cheia dos rios amazônicos proporciona o au- lação podem ser usadas para facilitar o enten-
mento de alimento e de áreas usadas para deso- dimento sobre variações no crescimento e na
va e berçário pelos peixes. Assim, a reprodução sobrevivência dos peixes em um determinado
de muitos peixes acaba sendo influenciada pela ambiente, ajudando a compreender fatores que
cheia do rio. afetam o sucesso no recrutamento. As ativi-
dades de desova ou mudanças nas condições
ambientais durante as estações de seca e cheia
TAMANHO MÍNIMO DE CAPTURA atuam como fatores restritivos ao crescimento.

Não só entender quando o peixe se reproduz,


mas entender também em qual tamanho ele
começa a se reproduzir, é fundamental para a
proteção das espécies e do ambiente.

O tamanho de cada peixe é relacionado com o


seu período reprodutivo e serve para estimar o
tamanho da primeira maturação das gônadas, o
qual corresponde ao comprimento quando os
peixes estão desovando.

O tamanho de primeira maturidade sexual é


uma das principais informações para elaboração
de estudos de manejo, pois permite calcular o
tamanho mínimo permitido para a pesca, garan-
tindo, assim, que a explotação de uma espécie
seja sustentável.
O objetivo desse estudo foi obter características
biológicas dos peixes e, a partir dessas carac-
ESTRUTURA E CRESCIMENTO DOS terísticas, sugerir formas de manejo sustentável
PEIXES para a pescaria dessas espécies e, assim, garan-
tir que sempre haja peixe para ser pescado.
Para estimar o crescimento de uma população
Ao longo desse estudo, indivíduos de oito espé-
de peixes é necessário determinar a idade e as
cies de peixes foram medidos em seu compri-
taxas de crescimento, as quais podem ser calcu-
mento total (cm) na hora em que estavam sen-
ladas por meio de análises em estruturas duras
do desembarcados nos portos, cujos tamanhos
(escamas, pequenas estruturas duras localiza-
médios, mínimos e máximos estão descritos
das na cabeça dos peixes, chamadas de otólitos,
na Tabela 4.
vértebras, ossos que cobrem as brânquias e es-

19
CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

Tabela 4 – Oito espécies que tiveram seu com- dantes e mais frequentes para os estudos de
primento total medidos em desembarques na biologia reprodutiva.
região de São Félix do Xingu.

Comprimento total
Peixe de consumo Médio Mínimo Máximo
(cm) (cm) (cm)
Tucunaré (Cichla melanie) 36 26 63
Pescada branca
44 29 64
(Plagioscion squamosissimus)
Fidalgo
52 41 67 Figura 11 – Métodos de captura dos peixes nos rios Xingu e
(Ageneiosus inermis)
Fresco no município de São Félix do Xingu.
Surubim
65 58 60
(Pseudoplatystomas punticfer)
Essas 12 espécies também são as mais captu-
Pacu branco
(Myloplus rubripinnis)
29 17 40 radas na pesca de subsistência ou comercial na
região. As mesmas tiveram seu sexo identifica-
Ariduia
34 26 44 do (macho ou fêmea) pela observação das gô-
(Semaprochilodus brama)
Curimatã (Prochilodus nigricans) 29 23 39 nadas (órgão reprodutivo) (Figura 12), o qual foi
avaliado quanto ao estágio reprodutivo (período
Piau (Leporinus fasciatus) 31 21 38
de desova).

BIOLOGIA DOS PEIXES DO XINGU E


FRESCO
Foram realizadas seis expedições de coleta em
ambientes de lagoa, remanso e igapó (quando
presente), ao longo dos rios Xingu e Fresco no
município de São Félix do Xingu, estado do Pará,
sendo três dessas expedições durante a cheia
do rio e três durante a descida da água.

Os peixes foram capturados com o uso de diver-


sos tipos de apetrechos de pesca: rede de ema-
lhe, isca artificial em anzol e uso de ceva com
milho (Figura 11).

Após a captura, todos os peixes foram identifi-


cados pelos pesquisadores e tiveram o compri-
mento padrão (CP), focinho ao início da cauda,
comprimento total (CT), do focinho ao final da Figura 12 – Fotos das gônadas (ovas) em diferentes estágios
cauda e o peso (g) medidos. Dentre as espécies reprodutivos de uma das espécies estudadas nos rios Xingu
coletadas foram selecionadas as 12 mais abun- e Fresco.

20
CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

A atividade reprodutiva das espécies diminuiu a partir do mês de março, indicando que o período re-
produtivo acontece com maior intensidade no período anterior ao mês de fevereiro (Figura 13), nos
períodos de enchente e cheia.

Figura 13 – Índice gonadossomático (atividade reprodutiva)


dos peixes coletados no período de fevereiro a agosto de
2014 em São Félix do Xingu, Pará.

PRINCIPAIS ESPÉCIES
DOS RIOS XINGU
E FRESCO

21
CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

TUCUNARÉ

Nome científico: Cichla melaniae Kullander & Importância na região: Pesca amadora/esporti-
Ferreira, 2006. va, comercial e de subsistência.

Ordem Perciformes – Família Cichlidae

Dieta: Peixes.

Período de desova: Todos os períodos.

Migração: Local (menos de 100 km).

Tamanho mínimo para captura: 25 cm.

Ecologia: O tucunaré alimentar-se de outras es-


pécies de peixes menores. Atinge cerca de 75
cm. Sua desova é parcelada (várias vezes ao lon-
go do ano) e apresenta uma sutil sintonia com o
início do período de enchente. Seu tamanho mé-
dio de primeira maturação sexual (quando estão
aptos à desova) é de 24,96 cm. Como a maioria
dos peixes da família Cichlidae, durante a repro-
dução os tucunarés formam pares, colocando
seus ovos em troncos, galhos ou substratos du-
ros e protegendo-os de eventuais invasores. A
distribuição da sua abundância nos rios Xingu e Figura 14 – Mapa de ocorrência do tucunaré nos rios Xingu
e Fresco. A estrela representa o município de São Félix do
Fresco é apresentada na Figura 14. Xingu e os círculos os locais onde os peixes foram coleta-
dos, de acordo com a abundância em cada local.

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CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

PESCADA BRANCA CORVINA

Nome científico: Plagioscion squamosissimus Importância na região: Pesca comercial e de


(Heckel, 1840). subsistência.

Ordem Perciformes – Família Sciaenidae.

Dieta: Crustáceo.

Período de desova: Todos os períodos.

Migração: Local (menos de 100 km).

Tamanho mínimo para captura: 25 cm.

Ecologia: A pescada branca atinge até 80 cm e


habita as margens de rios e lagos. Possui hábito
carnívoro, alimentando-se de peixes, camarões,
insetos e outros invertebrados aquáticos. Apre-
senta desova parcelada nos períodos de vazante
e seca e o tamanho de primeira maturação se-
xual ocorre com 22,25 cm de comprimento pa-
drão. Durante o período reprodutivo, os machos
produzem sons (“roncos”) possíveis de serem
ouvidos fora da água. A espécie vive próximo ao
fundo e se alimenta de peixes e camarões. A
distribuição da sua abundância nos rios Xingu e Figura 15 – Mapa de ocorrência da pescada nos rios Xingu e
Fresco. A estrela representa o município de São Félix do Xin-
Fresco é apresentado na Figura 15. gu e os círculos os locais onde os peixes foram coletados,
de acordo com a abundância em cada local.

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CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

FIDALGO MANDUBÉ, BOCA-LARGA, PALMITO

Nome científico: Ageneiosus inermis (Linnaeus, Importância na região: Pesca comercial.


1766).

Ordem Siluriformes – Família Auchenipteridae.

Dieta: Crustáceo e peixes.

Período de desova: Enchente.

Migração: Distância média (100 a 1.000 km).

Tamanho mínimo para captura: 35 cm.

Ecologia: Peixe carnívoro que vive em rios e


alimenta-se principalmente de pequenos crustá-
ceos e peixes. Possui porte grande (até 50 cm
e 2 kg). É um migrador de curtas distâncias e
apresenta uma diferenciação entre os machos e
fêmeas: na época reprodutiva, os machos apre-
sentam um enrijecimento dos barbilhões (bigo-
des) e do primeiro raio da nadadeira dorsal. A
distribuição da sua abundância nos rios Xingu e
Fresco é apresentada na Figura 16.

Figura 16 – Mapa de ocorrência do fidalgo nos rios Xingu e


Fresco. A estrela representa o município de São Félix do Xin-
gu e os círculos os locais onde os peixes foram coletados,
de acordo com a abundância em cada local.

24
CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

PACU-BRANCO PACU

Nome científico: Myloplus rubripinnis


Müller & Troschel 1844.

Ordem Characiformes – Família Serrasalmidae.

Dieta: Onívoro com preferência de frutos e se- Importância na região: Pesca comercial, de
mentes. subsistência e amadora/esportiva.
Período de desova: Enchente.

Migração: Distância média (100 a 1.000 km).

Tamanho mínimo para captura: 15 cm.

Ecologia: Se alimenta basicamente de vegetais


(principalmente frutas e folhas) que encontra
nas margens calmas dos rios. Machos e fêmeas
apresentam, como principal diferença, o desen-
volvimento dos primeiros raios da nadadeira anal
maiores nos machos. Começam a reprodução a
partir dos 15 cm de comprimento total e sempre
nos períodos de enchente das águas. A distribui-
ção da sua abundância nos rios Xingu e Fresco é
apresentada na Figura 17.

Figura 17 – Mapa de ocorrência do pacu-branco nos rios Xin-


gu e Fresco. A estrela representa o município de São Félix
do Xingu e os círculos os locais onde os peixes foram coleta-
dos, de acordo com a abundância em cada local.

25
CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

SURUBIM PINTADO

Nome científico: Pseudoplatystoma punctifer


Castelnau 1855.

Ordem Siluriformes – Família Pimelodidae.

Dieta: Peixe.

Período de desova: Enchente.

Migração: Distâncias médias (100 a 1.000 km).

Tamanho mínimo para captura: 80 cm.

Ecologia: É carnívoro e se alimenta principal-


mente de outros peixes, crustáceos e insetos.
Vivem principalmente nas margens calmas
dos rios e em corredeiras. Começa a repro-
dução a partir dos 72 cm de comprimento to-
tal, durante os meses de janeiro e fevereiro,
quando migra para o leito dos rios para se
reproduzir.

Importância na região: Pesca amadora/esporti-


va, comercial e de subsistência.

26
CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

JARAQUI ARIDUIA

Adulto

Juvenil

Nome científico: Semaprochilodus brama


(Valenciennes, 1850).

Ordem Characiformes – Família Prochilodontidae

Dieta: Detritos. Importância na região: Pesca comercial e de


subsistência.
Período de desova: Enchente.

Migração: Distância média (100 a 1.000 km).

Tamanho mínimo para captura: 20 cm.

Ecologia: O jaraqui habita a margem de rios e


lagos e possui hábitos detritívoros, consumindo
algas, detritos e micro-organismos associados.
É uma espécie migradora de curtas distâncias.
Quanto à reprodução, possui desova total no
período de enchente e tamanho de primeira ma-
turação sexual de 22 cm. A distribuição da sua
abundância nos rios Xingu e Fresco é apresenta-
da na Figura 18.

Figura 18 – Mapa de ocorrência do jaraqui nos rios Xingu e


Fresco. A estrela representa o município de São Félix do Xin-
gu e os círculos os locais onde os peixes foram coletados,
de acordo com a abundância em cada local.

27
CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

CURIMATÁ CURIMATÃ; CURIMBA; QUEBRA-GALHO; GRUMATÃ; CURICA; PAPA-TERRA.

Nome científico: Prochilodus nigricans Agassiz, Importância na região: Pesca comercial e de


1829. subsistência.

Ordem Characiformes – Família Prochilodontidae

Dieta: Detritos.

Período de desova: Enchente.

Migração: Distância média (100 a 1.000 km).

Tamanho mínimo para captura: 25 cm.

Ecologia: O curimatá atinge até 45 cm de com-


primento e peso até 3 kg. Habita margens de
rios e lagos. É uma espécie que forma cardu-
mes e empreende longas migrações. Apresenta
hábitos detritívoros, consumindo algas, detritos,
micro-organismos e matéria orgânica. Possui de-
sova total no período da enchente e o primeiro
tamanho de maturação sexual ocorre por volta
de 25 cm. A distribuição da sua abundância nos
rios Xingu e Fresco é apresentada na Figura 19.

Figura 19 – Mapa de ocorrência do curimatá nos rios Xingu


e Fresco. A estrela representa o município de São Félix do
Xingu e os círculos os locais onde os peixes foram coleta-
dos, de acordo com a abundância em cada local.

28
CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

PIAU-FLAMENGO ARACU-FLAMENGO, ARACU; PIAU; FLAMENGUISTA.

Nome científico: Leporinus fasciatus Bloch Importância na região: Pesca comercial e de


1794. subsistência.

Ordem Characiformes – Família Anostomidae

Dieta: Vegetais.

Período de desova: Enchente.

Migração: Distância média (100 a 1.000 km).

Tamanho mínimo para captura: 15 cm.

Ecologia: São peixes que se alimentam principal-


mente de insetos, camarões e pequenos frutos.
Vivem nas margens dos rios que têm bastante
vegetação e também em corredeiras. Sua repro-
dução ocorre durante a subida e pico das águas
(entre os meses de dezembro e maio), quando
migram para as áreas alagadas que se formam. A
maior parte dos piaus são migradores e estes são
capturados durante a migração anual. A distribui-
ção da sua abundância nos rios Xingu e Fresco é
apresentada na Figura 20.
Figura 20 – Mapa de ocorrência do aracu nos rios Xingu e
Fresco. A estrela representa o município de São Félix do Xin-
gu e os círculos os locais onde os peixes foram coletados,
de acordo com a abundância em cada local.

29
CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

PIRANHA PRETA PIRANHA

Nome científico: Serrasalmus rhombeus


Linnaeus 1766.

Ordem Characiformes – Família Serrasalmidae.


Importância na região: Pesca comercial e de
Dieta: Peixes. subsistência.

Período de desova: Todos os períodos.

Migração: Local (menos de 100 km).

Tamanho mínimo para captura: 20 cm.

Ecologia: É um peixe essencialmente carnívoro,


se alimentando principalmente de outros pei-
xes. Os jovens são mais claros, com manchas
escuras. Pode alcançar 40 cm de comprimento
e pesar até 4 kg, sendo considerada a maior pi-
ranha da Amazônia. Em São Félix do Xingu foi
mais encontrado nas lagoas, porém vive em áre-
as profundas de rios e corredeiras. Começam
sua reprodução com cerca de um ano de vida e
comprimento de, aproximadamente, 15 cm. Re-
alizam a desova mais de uma vez por ano, com
pico no período de enchente do rio. A distribui- Figura 21 – Mapa de ocorrência da piranha-preta nos rios
Xingu e Fresco. A estrela representa o município de São Fé-
ção da sua abundância nos rios Xingu e Fresco é lix do Xingu e os círculos os locais onde os peixes foram
apresentada na Figura 21. coletados, de acordo com a abundância em cada local.

30
CARTILHA SOBRE OS RECURSOS PESQUEIROS DO MÉDIO RIO XINGU, MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO XINGU (PARÁ)

SARDINHA SARDINHA-PAPUDA, ARUIRI, SARDINHA-CHATA.

Nome científico: Triportheus auritus Valenciennes


1850.

Ordem Characiformes – Família Triportheidae.


Importância na região: Pesca e subsistência.
Dieta: Onívora.

Período de desova: Enchente.

Migração: Distância média (100 a 1.000 km).

Ecologia: São peixes que se reúnem em cardu-


mes e que se alimentam, principalmente, de ma-
terial vegetal, insetos e detritos. Sua reprodução
ocorre no período de enchente do rio (de feverei-
ro a abril). A distribuição da sua abundância nos
rios Xingu e Fresco é apresentada na Figura 22.

Figura 22 – Mapa de ocorrência da sardinha nos rios Xingu e


Fresco. A estrela representa o município de São Félix do Xin-
gu e os círculos os locais onde os peixes foram coletados,
de acordo com a abundância em cada local.

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BICUDA PIRAPUCU

Nome científico: Boulengerella cuvieri (Agassiz,


1829).

Ordem Characiformes – Família Ctenoluciidae.


Importância na região: Pesca e subsistência.
Dieta: Peixes.

Período de desova: Cheia e enchente.

Migração: Distância média (100 a 1.000 km).

Tamanho mínimo para captura: 25 cm.

Ecologia: A bicuda é uma espécie comedora de


pequenos peixes que habita a calha e a margem
dos rios durante o dia. Atinge 70 cm de com-
primento. Quanto à reprodução, possui desova
total, nos períodos de cheia e de enchente, e
tamanho de primeira maturação sexual com 25
cm. A distribuição da sua abundância nos rios
Xingu e Fresco é apresentada na Figura 23.

Figura 23 – Mapa de ocorrência da bicuda nos rios Xingu e


Fresco. A estrela representa o município de São Félix do Xin-
gu e os círculos os locais onde os peixes foram coletados,
de acordo com a abundância em cada local.

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MANDUBÉ LANGUI, MANDUBÉZINHO.

Nome científico: Ageneiosus ucayalensis


Castelnau 1855.

Ordem Siluriformes – Família Auchenipteridae.


Importância na região: Pesca comercial e de
Dieta: Crustáceos e peixes. subsistência.

Período de desova: Enchente.

Migração: Distância média (100 a 1.000 km).

Ecologia: É um peixe carnívoro que vive prin-


cipalmente perto do fundo de rios, onde se
alimenta de invertebrados e peixes. Começa
a sua reprodução na enchente e suas fêmeas
começam a se reproduzir a partir dos 10 cm. A
distribuição da sua abundância nos rios Xingu e
Fresco é apresentada na Figura 24.

Figura 24 – Mapa de ocorrência do mandubé nos rios Xingu


e Fresco. A estrela representa o município de São Félix do
Xingu e os círculos os locais onde os peixes foram coleta-
dos, de acordo com a abundância em cada local.

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CONTAMINANTES AQUÁTICOS
A contaminação da água se dá pela introdução de micro-organismos, substâncias químicas e ou resídu-
os através de (ver Figura 25):

Esgotos domésticos: a decomposição da ma-


téria orgânica provoca o aumento do número
de bactérias, consumindo o oxigênio disponível
para os organismos aquáticos.

Lixo: diminui a entrada de luminosidade, matan-


do os organismos fotossintetizantes.

Indústrias: lançam resíduos químicos nos rios,


que prejudicam a vida dos organismos aquáti-
cos.

Navios Petroleiros: acidentes petrolíferos lan-


çam resíduos químicos nos rios, que prejudicam
a vida dos organismos aquáticos. Além disso,
introduzem espécies através da água de lastro,
prejudicando as espécies locais.

Garimpos: promovem acúmulo de contaminan-


tes nas águas, solo e sedimentos, favorecendo
os processos de bioacumulação (Figura 26) e de
biomagnificação (Figura 27). Desta forma, me-
tais que são bioacumulados nos organismos e
não são metabolizados e eliminados por eles,
são transferidos para os seus consumidores ao
longo da cadeia alimentar. Tais consumidores
podem ser outras espécies aquáticas ou seres
humanos. Ao longo dessa transferência trófica,
os metais vão aumentando de concentração de
acordo com a posição do animal na cadeia. Esse
é o chamado processo de biomagnificação. É
por isso que animais do topo da cadeia, como os
carnívoros, tendem a ter concentrações maiores
de metais.

Figura 25 – Principais fontes de poluição aquática.

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Tempo de exposição: idade dos organis- Os solos das regiões mais afetadas pela contami-
mos, quanto mais velho mais tempo foi nação de Cr são Canópus e Chico Rogério, com
exposto. teores máximos que chegam até 340 mg/kg. A
contaminação por Cr também foi observada na
terra do fundo dos rios da região de Canópus (rio
Xingu) e Rio Fresco, indicando um acúmulo por
deposição dos metais liberados pela atividade
de garimpo. A figura abaixo (Figura 28) mostra a
Figura 26 – Representação esquemática do processo de variação do acúmulo de metais pesados no solo
bioacumulação. das regiões estudadas, onde são observados os
maiores níveis para os metais pesados Cr, Ni e
Pb em Canópus.
Diferentes níveis tróficos: do que se
alimenta e o quanto se alimenta. Metais no solo

Figura 27 – Representação esquemática do processo de


biomagnificação

CONTAMINAÇÃO POR METAIS


PESADOS NO RIO XINGU
A atividade de mineração na região de São Félix
do Xingu levou ao acúmulo de metais pesados,
principalmente no solo e no sedimento dos rios.

Os principais metais/metalóides encontrados Figura 28 – Distribuição comparativa (médias) de me-


nesta região são Cromo (Cr), Chumbo (Pb), Ní- tais no solo em São Félix do Xingu. Ao lado direito
da figura constam as referências do Conama para os
quel (Ni), Cobre (Cu) e Arsênio (As). Dentre os distintos metais. Maiores círculos significam concen-
metais analisados na região, Cr é o que aparece trações maiores dos elementos.
em níveis maiores, indicando que a atividade de
garimpo provocou a liberação desse elemento O Cr também é encontrado em valores acima
químico em altas concentrações no solo da re- do estabelecido pelo Conselho Nacional do
gião explorada. Meio Ambiente (Conama) nas regiões de Ca-

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nópus e no Rio Fresco, no sedimento do fun- Metais na água do rio


do do rio (Figura 29). Além do Cr, o Ni também
revela-se presente nessas mesmas regiões,
em níveis acima do estabelecido pelo CONA-
MA, na terra do fundo dos rios Xingu e Fresco
(Figura 29).

Metais no fundo do rio

Figura 30 - Distribuição comparativa (médias) de me-


tais na água do rio em São Félix do Xingu. Ao lado
direito da figura constam as referências do CONAMA
para os distintos metais. Maiores círculos significam
concentrações maiores dos elementos.

Figura 29 - Distribuição comparativa (médias) de me-


tais no fundo do rio em São Félix do Xingu. Ao lado
direito da figura constam as referências do CONAMA
para os distintos metais. Maiores círculos significam
concentrações maiores dos elementos.

Além do acúmulo dos metais pesados nos solos


e sedimentos foram avaliados diversos metais
nas águas dos rios Xingu e Fresco. Nas análises,
destaca-se o metalóide Arsênio em níveis mais
elevados em todos os locais nas águas dos rios
(Figura 30; piscina de garimpo).

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REFERÊNCIAS / LITERATURA SUPLEMENTAR


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www.fishbase.org
http://wikipeixes.com.br/
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Realização: Apoio:

Ministério do
Meio Ambiente

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