Corpo Humano I
Corpo Humano I
Corpo Humano I
Corpo Humano I
Corpo Humano I
Volume 3 Adilson Dias Salles
2a edição
Alfred Sholl-Franco
Daniela Uziel
Cristiane Del Corsso
Luis Eduardo Díaz Giménez
Marisa Breitenbach
Masako Oya Masuda
Regina Coeli dos Santos Goldenberg
Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001
Tel.: (21) 2299-4565 Fax: (21) 2568-0725
Presidente
Masako Oya Masuda
Vice-presidente
Mirian Crapez
Material Didático
Departamento de Produção
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO
Adilson Dias Salles EDITORA PROGRAMAÇÃO VISUAL
Alfred Sholl-Franco Tereza Queiroz Sanny Reis
Daniela Uziel COPIDESQUE ILUSTRAÇÃO
Cristiane Del Corsso Cristina Maria Freixinho Fábio Muniz
Luis Eduardo Díaz Giménez
Marisa Breitenbach REVISÃO TIPOGRÁFICA CAPA
Masako Oya Masuda Elaine Bayma Fábio Muniz
Regina Coeli dos Santos Goldenberg Marcus Knupp PRODUÇÃO GRÁFICA
Patrícia Paula Andréa Dias Fiães
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO
INSTRUCIONAL COORDENAÇÃO DE Fábio Rapello Alencar
Cristine Costa Barreto PRODUÇÃO
Jorge Moura
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL
E REVISÃO
Zulmira Speridião
Marta Abdala
COORDENAÇÃO DE AVALIAÇÃO DO
Copyright © 2005, Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
MATERIAL DIDÁTICO
Débora Barreiros Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio
eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação.
COORDENAÇÃO DE LINGUAGEM S168c
Maria Angélica Alves Salles, Adilson Dias..
Corpo humano I. v. 3 / Adilson Dias Salles et al. – 2. ed. – Rio de Janeiro :
Fundação CECIERJ, 2008.
289p.; 19x26,5 cm.
ISBN: 978-85-7648-382-3
Governador
Sérgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO
NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO RIO DE JANEIRO
Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho Reitor: Aloísio Teixeira
Pré-requisitos
Para você acompanhar bem esta aula, é importante rever os conteúdos de
permeabilidade da membrana e transportes nas Aulas 9 a 14 de Biologia
Celular I, o conteúdo de células do sistema nervoso na Aula 10 de Biologia
Celular II, bem como o conteúdo de organização geral do sistema nervoso,
na Aula 6 desta disciplina.
Corpo Humano I | Lutar ou fugir?
8 CEDERJ
!
21
Estruturalmente, o sistema nervoso pode ser dividido em duas partes: o SN central (SNC)
e o SN periférico (SNP). O primeiro é o grande responsável pela integração e controle das
AULA
funções superiores do SN, além de possuir toda a circuitaria necessária para o controle
de todo ato voluntário ou reflexo. Já o SNP consiste em vias de fibras nervosas situadas
entre o SNC e todas as estruturas do corpo. Podemos dizer que os componentes do SNP
são (a) os 12 pares de nervos cranianos e (b) os 31 pares de nervos espinhais (esquema).
Funcionalmente, o SNP está dividido em:
Encéfalo
Cerebelo
Tronco encefálico
Medula espinhal
Sistema nervoso
periférico
Sistema nervoso
CEDERJ 9
Corpo Humano I | Lutar ou fugir?
Neurônio do SNA
John Langley (1853-1925), importante fisiologista britânico, foi o
que faz sinapses
criador do atual nome “sistema nervoso autônomo”, devido às
diretamente com
observações de grande independência de ação desta divisão em
seus órgãos-alvo.
relação ao restante do sistema nervoso, a partir dos seus estudos em
Os corpos destes
conjunto com Walter Gaskell (1847-1914). Outros nomes podem ser
neurônios ficam
vistos para este sistema, como: sistema nervoso visceral, vegetativo,
localizados nos
gânglios.
neurovegetativo, automático. Entretanto, até hoje o termo SNA
continua sendo o mais bem aceito e empregado, embora seja
conceitualmente limitado.
Neurônio pré-
Motoneurônio ganglionar
Gânglio
simpático
Gânglio ou plexo
Plexo intramural parassimpático
Músculo liso ou
Músculo estriado estriado cardíaco
esquelético
Sistema motor Sistema nervoso
somático autônomo
Figura 21.1: Organização básica celular do sistema nervoso autônomo. Podemos observar a diferença entre
a organização celular do sistema nervoso motor somático e a do autônomo: enquanto o motoneurônio faz
sinapse direto com o músculo, os neurônios do SNA fazem uma sinapse periférica em gânglios localizados
próximo ou no interior das vísceras, e os neurônios aí localizados farão contatos sinápticos com os músculos,
ou glândulas efetoras.
10 CEDERJ
Observamos, no SNA, três principais divisões anatômicas:
21
simpática, parassimpática e entérica. Em geral, costuma-se explorar mais
AULA
as ações sistêmicas das divisões simpática e parassimpática, uma vez que
o sistema nervoso entérico consiste exclusivamente de plexos nervosos
gastro-intestinais. Assim, o SNA entérico encontra-se isolado dos demais
componentes autônomos do ponto de vista anatômico e funcional, o que
levou os anatomistas e fisiologistas denominarem, esta terceira divisão,
“cérebro visceral”. Porém, o SNA entérico está sujeito a inervação
proveniente das outras divisões (simpático e parassimpático).
CEDERJ 11
Corpo Humano I | Lutar ou fugir?
Artéria facial
Glândula lacrimal
Glândula salivar
Gânglio cervical
superior
Artérias do membro
superior
C1 Traquéia / laringe
Gânglio cervical
médio Pele
Gânglio cervical
estrelado
Coração
T1
Glândulas
Gânglio adrenais Estômago
celiáco Artérias do membro
inferior
Fígado
Gânglio
Rim
mesentérico Pâncreas
T12 superior
L1
Gânglio Intestino
mesentérico
S1 inferior
C1 – Cervical 1
T1 - T12 – Torácica 1 a 12
L1 – Lombar 1
Bexiga S1 – Sacro 1
Genitália externa
Figura 21.3: Organização anatômica da subdivisão simpática autônoma. A maioria dos órgãos do nosso corpo
é inervada por fibras pós-ganglionares simpáticas, sendo a medula da glândula supra-renal o único caso de
inervação direta por terminais pré-ganglionares. As fibras pós-ganglionares têm origem na cadeia de gânglios
paravertebrais e em gânglios pré-vertebrais. Nos gânglios ficam localizados os neurônios pós-ganglionares,
responsáveis pela inervação dos vasos sangüíneos de todo o corpo, glândulas sudoríparas e folículos pilosos
cutâneos. Toda a origem dos neurônios pré-ganglionares está restrita aos segmentos torácicos e lombares da
medula espinhal, o que define, anatomicamente, este sistema como tóraco-lombar.
12 CEDERJ
Como as fibras simpáticas pré-ganglionares são envoltas por
21
mielina (mielínicas ou mielinizadas), as pequenas vias que formam o
AULA
ramo ventral do nervo espinhal são esbranquiçadas (ramos comunicantes
brancos) (Figura 21.2). Três vias podem ser percorridas pelas fibras
simpáticas pré-ganglionares após entrarem nos gânglios (Tabela 21.1):
a. Fazem sinapses com neurônios pós-ganglionares situados no
mesmo nível de entrada na cadeia paravertebral. Estas fibras inervam
efetores na pele (incluindo os músculos lisos na parede dos vasos sangüíneos,
MÚSCULO PILO-
glândulas sudoríparas e os MÚSCULOS PILO-ERETORES). Como em sua maioria ERETOR
são amielínicas, as vias formadas que passam pelos nervos espinhais têm um Musculatura lisa
responsável por
aspecto acinzentado (chamados ramos comunicantes cinzentos).
eriçar os pêlos no
b. Emitem fibras ascendentes e descendentes através do tronco corpo.
CEDERJ 13
Corpo Humano I | Lutar ou fugir?
Cápsula Mineralo-corticóides
Zona
glomerulosa Glicocorticóides e
gonadocorticóide
Zona
fasciculada Glicocorticóides e
gonadocorticóide
Zona
Glândula reticular
Adrenalina
adrenal
Medula
Noradrenalina
Terminação simpática
pré-glanglionar
21
AULA
Núcleo pré-ganglionar Fibra pré-ganglionar Gânglio Alvos
Núcleo de Edinger- Nervo oculomotor (III) Ciliar Músculos ciliar e circular da íris
Westphal
Núcleo dorsal do vago Nervo vago (X) Gânglios Musculatura lisa e glândulas das
e Núcleo ambíguo ou parassimpáticos e vísceras torácicas e abdominais
ventral do vago plexos intramurais até o colo ascendente (Figura 21.4)
!
As fibras parassimpáticas não passam ao
longo dos ramos dos nervos espinhais. Por
isto, as glândulas sudoríparas, os músculos
pilo-eretores e os vasos sangüíneos cutâneos
Músculo ciliar pupila não têm inervação parassimpática.
Glândula lacrimal
III
Glândula salivar
X
Coração
Estômago
Figura 21.4 : Organização da subdivisão parassimpática.
A distribuição da inervação parassimpática é menos
Fígado
ampla do que a do simpático, mas chega a quase todos
os órgãos do nosso corpo. As fibras pré-ganglionares
Pâncreas têm origem em núcleos do tronco encefálico e da por-
ção sacral da medula espinhal (S3, S4), o que confere a
Rim esta subdivisão a denominação anatômica de divisão
crânio-sacral. As fibras dos neurônios pré-ganglionares
Intestino
seguem até os gânglios localizados na periferia, na
S3 proximidade ou no interior do órgão a ser inervado.
S4 A partir dos gânglios, os axônios dos neurônios pós-
ganglionares seguem até o alvo final.
Bexiga
Genitália externa
CEDERJ 15
Corpo Humano I | Lutar ou fugir?
PLEXOS INTRAMURAIS Podemos dizer que este sistema é quase uma miniatura do sistema
Conjuntos de nervoso, com localização restrita à parede do trato gastro-intestinal.
neurônios localizados
no interior das paredes As redes reflexas presentes neste sistema auxiliam a contração da
do trato gastro-
musculatura associada e a produção de secreções. Neurônios aferentes,
intestinal.
interneurônios e motoneurônios estão presentes neste sistema de PLEXOS
MOVIMENTOS
INTRAMURAIS. As conexões simpática e parassimpática ao sistema entérico
PERISTÁLTICOS
permitem seu controle autônomo. O componente entérico do plexo
Contração seqüencial
e alternada da mioentérico de Auerbach auxilia no controle da atividade das camadas
musculatura
visceral que produz musculares, ao passo que aqueles presentes no plexo submucoso de
movimentos
ondulatórios
Meissner controlam a porção muscular da mucosa e as glândulas
direcionados, intestinais (Figura 21.5). Assim, o plexo mioentérico está envolvido
deslocando o alimento
desde o esôfago até o com a produção dos MOVIMENTOS PERISTÁLTICOS, enquanto a atividade do
intestino grosso.
submucoso relaciona-se com a secreção glandular.
16 CEDERJ
Plexo mioentérico
21
Inervação
AULA
Músculo liso
autonômica
Camadas de
Plexo mioentérico músculo liso
Plexo submucoso
Mucosa
Mucosa
Figura 21.5: Organização anatômica do sistema nervoso entérico representada em cortes transversais esquemáti-
cos do intestino. A rede intramural de inervação autônoma deve ser analisada como uma divisão importante
do SNA, apesar de pouco explorada e muitas vezes relegada ao estudo da digestão. Os plexos nervosos desta
divisão localizam-se entre as camadas musculares do trato digestório (plexo mioentérico), ou próximos à camada
mucosa (plexo submucoso). À esquerda, podemos observar as camadas separadamente.
ATIVIDADES
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RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 17
Corpo Humano I | Lutar ou fugir?
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RESPOSTA COMENTADA
SIMPÁTICO PARASSIMPÁTICO
Bronco-
Secreção salivar A maioria dos órgãos apresenta
constrição/
dilatação Bronco-dilatação inervação simpática e parassimpática,
com exceção de glândulas sudoríparas,
Vasoconstrição
periférica Bradicardia músculos pilo-eretores, medula adrenal
Taquicardia
Peristaltismo
e vasos sangüíneos periféricos, que são
Inibição do
e secreção
Sudorese peristaltismo
gástrica inervados apenas pelo sistema nervoso
e da secreção
gástrica simpático (inervação simples, exclusiva)
(Figura 21.6). Este tipo de inervação
Inibição da
secreção
biliar
dupla (e com efeitos antagonistas ou
Secreção biliar sinergistas) contribui para o controle
Produçaõ e Peristaltismo e
liberação de
glicose hepática
vasodilatação
intestinal
preciso da atividade do órgão (veja a
Secreção de
Tabela 21.3).
adrenalina e
noradrenalina Defecação
No caso de atividades antago-
Enchimento nistas, temos um sistema contrapondo-
da bexiga
Micção
se à ação do outro. Em geral, quando
a atividade de um cresce, a do outro
tende a diminuir (exemplo: inervação
18 CEDERJ
a estimulação simpática como a parassimpática levam à produção de
21
saliva, cuja diferença estará na quantidade e viscosidade.
AULA
Não existe uma ordem geral que indique ser a estimulação simpática
ou parassimpática excitatória ou inibitória em determinado órgão.
Entretanto, em sentido mais amplo, a estimulação parassimpática está
relacionada à manutenção das funções corporais sob condições normais
(HOMEOSTASE durante o repouso e a digestão), tais como diminuição dos HOMEOSTASE
batimentos cardíacos e a atividade digestiva. Conceito de
controle automático,
A estimulação simpática, no entanto, está relacionada à produção inconsciente e
de respostas capazes de preparar o indivíduo para uma atividade física dinâmico do meio
interno, desenvolvido
vigorosa (por exemplo, quando somos submetidos a uma situação por Claude Bernard
(1813-1878). A partir
estressante ou emergencial que pede um comportamento agressivo de observações, esse
ou defensivo). Reforçando isto, estados emocionais, como a ira ou renomado fisiologista
francês descreveu a
preocupação, geralmente estão acompanhados por uma atividade permanente tendência
dos organismos em
simpática aumentada (aceleração dos batimentos cardíacos, dilatação manter a constância
do seu meio interno.
brônquica etc.) e estão relacionados a respostas do tipo “luta ou fuga”.
Na Tabela 21.3, você pode observar a grande diversidade de respostas
autônomas nos órgãos de inervação simples ou dupla.
Cadeias simpáticas
a
Vagos
Nervos
Nervos simpáticos
simpáticos Nodo
S-A
Permeabilidade
Estimulação 1s ao cálcio
parassimpática
Atividade normal
b 1s Registro de
potenciais de
ação de células
Estimulação cardíacas
simpática Aumento da permeabilidade ao cálcio
– taquicardia
1s
Atividade simpática
Figura 21.7: Esquema do padrão de dupla inervação autônoma (a). A regulação da atividade cardíaca foi o
melhor exemplo estudado do padrão antagônico de respostas autônomas quando da dupla inervação. (b) Quando
há estimulação elétrica do nervo vago (inervação parassimpática), pode-se observar a alteração no padrão de
respostas elétricas cardíacas (bradicardia, diminuição da freqüência de batimentos cardíacos). Ao contrário, a
estimulação simpática leva ao aumento da freqüência de batimentos do coração (taquicardia), devido a uma
modificação no padrão de permeabilidade da membrana plasmática dos cardiomócitos durante os potenciais de
ação cardíacos.
CEDERJ 19
Corpo Humano I | Lutar ou fugir?
Vasos sangüíneos
pélvicos e de algumas
Vasoconstrição Vasodilatação Antagonista
glândulas (salivares,
digestivas)
20 CEDERJ
É interessante pensarmos sobre este trabalho de colaboração entre
21
a inervação simpática de cada órgão e a inervação da medula da supra-
AULA
renal. Quando falamos que alguém está agitado ou sob muita tensão,
em geral falamos que tal pessoa tem muita adrenalina no sangue. Essa
adrenalina nada mais é do que produto da secreção da medula das
glândulas supra-renais, que tem por objetivo intensificar as respostas
de cada órgão e de amplificar o número de alvos.
NEUROQUÍMICA DO SNA
CEDERJ 21
Corpo Humano I | Lutar ou fugir?
A norepinefrina tem mais efeito sobre os receptores α−andrenérgicos que sobre os β−andrenérgicos;
a epinefrina é igualmente eficaz na ativação dos receptores α e β−andrenérgicos.
ATIVIDADES
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RESPOSTA COMENTADA
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RESPOSTA COMENTADA
22 CEDERJ
21
ganglionares, o esquema muda um pouco. Os neurônios pós-ganglionares
AULA
do sistema parassimpático liberam acetilcolina, que irá atuar sobre receptores
muscarínicos (com ação metabotrópica) nos tecidos-alvo, ao passo que os
neurônios pós-ganglionares simpáticos nos órgãos de inervação dupla ocorre
a liberação de noradrenalina que irá atuar sobre receptores alfa- ou beta-
adrenérgicos, conforme o tipo celular, ao passo que em órgãos inervados
apenas pela divisão simpática teremos a liberação de acetilcolina e a resposta
do tecido-alvo sendo desencadeada por receptores muscarínicos.
Caso tenha sentido dificuldade em fazer esta classificação, volte ao texto e
reveja o conteúdo!
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RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 23
Corpo Humano I | Lutar ou fugir?
!
Biofeedback: O controle involuntário do SNA, às vezes, não é inteiramente
verdadeiro. A percepção do que ocorre no nosso corpo é muito limitada (pressão
arterial, batimentos cardíacos, freqüência respiratória etc.) e pode ser alterada
sem o controle de nossa consciência. Todavia, por meio do uso de instrumentos
eletrônicos, pesquisadores usam a técnica de biofeedback, o que torna possível a
monitorização de alguns feedbacks subconscientes. Esta técnica é uma promessa
para a terapêutica auto-administrada, a qual permite aos indivíduos aprender a
controlar, por exemplo, a freqüência cardíaca, aliviar dores de cabeça e controlar
ataques epiléticos.
24 CEDERJ
O TRONCO ENCEFÁLICO
21
AULA
Vários núcleos do tronco encefálico irão compor o primeiro nível
de controle autônomo, principalmente no nível do bulbo. Nesta região,
encontramos neurônios que regulam os sistemas digestório, respiratório
e cardiovascular. Temos em destaque o núcleo do trato solitário, que
participa de reflexos importantes para a homeostase (regulação da
motilidade intestinal, da freqüência respiratória e cardíaca). No caso
particular da pressão arterial, os mecanorreceptores ou barorreceptores,
(que respondem ao estiramento do vaso) localizados nos seios aórtico e
carotídeo (na aorta e na carótida, respectivamente) detectam a pressão
arterial e iniciam uma resposta no núcleo do trato solitário (Figura 21.8),
cujos neurônios inervam os núcleos de origem do nervo vago (dorsal e
ambíguo) e os núcleos bulbares de controle simpático. O complexo circuito
reflexo autônomo que se inicia é chamado reflexo barorreceptor.
Interneurônio inibitório
Gânglio
simpático
Figura 21.8 : O controle reflexo autônomo é exemplificado aqui através do reflexo barorreceptor. Este reflexo
tem o seu início nos barorreceptores aórticos e carotídeos, responsáveis pela detecção da variação da pressão
sangüínea. Após o processamento das informações sensoriais no nível do tronco encefálico, diferentes núcleos
(núcleo do trato solitário, simpático bulbar, dorsal e ambíguo) têm sua atividade modulada, de forma a propor-
cionar a manutenção da pressão arterial média.
CEDERJ 25
Corpo Humano I | Lutar ou fugir?
O HIPOTÁLAMO
26 CEDERJ
Por meio de uma observação mais detalhada do hipotálamo,
21
percebemos a existência de vários sistemas e fibras, o que permite
AULA
dividir o hipotálamo em uma área medial e outra lateral. Mas ele pode
ainda ser dividido em três planos frontais e seus respectivos núcleos.
O hipotálamo apresenta conexões muito complicadas e amplas, de difícil
identificação. Suas conexões com a hipófise são de grande importância,
pois a interação neuro-hipofisária é responsável por uma variedade de
eventos característicos do comportamento motivacional, emocional,
alimentar, sexual, dentre outros.
Podemos dividir as conexões eferentes com a hipófise em dois
grandes grupos (Figura 21.9):
1. Trato hipotálamo-hipofisário: é formado por fibras que se
originam nos neurônios grandes (magnocelulares) dos núcleos supra-
ópticos e paraventricular, e terminam na neuro-hipófise. As fibras
deste tracto, que constituem os principais componentes estruturais da
neuro-hipófise, são responsáveis pela liberação de transmissores neuro-
endócrinos.
2. Trato túbero-infundibular: é constituído de fibras que se
originam em neurônios pequenos (parvocelulares) localizados no núcleo
arqueado e áreas vizinhas do hipotálamo tuberal e terminam na eminência
mediana e base infundibular.
CEDERJ 27
Corpo Humano I | Lutar ou fugir?
Hipotálamo
Terceiro ventrículo
Corpo mamilar
Quiasma Hipotálamo
a óptico
Plexo primário da alça
longa do sistema de
vasos portal
Ártéria
hipofisária
Tronco
superior
infundibular
(anterior)
Eminência
mediana Plexo primário da alça
curta do sistema de
vasos porta
Sistema portal
(alça longa)
Veia eferente Hipófise posterior
(pars nervosa)
Hipófise anterior
(Pars distalis) Sistema portal Artéria hipofisária
(alça curta) inferior (posterior)
Neurônios periventriculares
Neurônios
monoaminérgicos
e supra-ópticos Hipófise
Terceiro ventrículo
Neurônios túbero-
hipofisários
SHA
Liberação de ADH E
Sistema portal
ocitocina
(alça longa)
Hipófise anterior
Hipófise posterior
(Pars distalis)
(Pars nervosa)
Hormônios
tróficos IHA
Veia eferente
c
Distribuição e características dos neurônios hipotalâmicos envolvidos nas funções da glândula hipófise.
Núcleo
Trato neuronal Produto de secreção
Tipo neuronal hipotalâmico
Figura 21.9: Circuito hipotalâmico-hipofisário. Em (a) e (b), podemos observar as vias vasculares e celulares de
comunicação entre o hipotálamo e a hipófise, respectivamente. A importância deste elo neuro-endócrino car-
acteriza estas estruturas como elementos-chave da homeostase. Em (c), observa-se a divisão hipotalâmica em
tratos nervosos, tipos celulares, núcleos hipotalâmicos e produtos de secreção.
28 CEDERJ
Um dado muito interessante foi descrito em 1932 pelo pesquisador
21
Stephen Ranson. Ele estimulou diferentes áreas do hipotálamo e observou
AULA
uma variedade de reações características da estimulação do SNA: modificações
no batimento cardíaco, pressão sangüínea e motilidade gastro-intestinal.
Em 1937, o cientista norte-americano James Papez (1883-1958) propôs a
existência de um substrato cortical para as emoções. Para ele, este substrato
seria uma formação filogeneticamente muito primitiva do córtex, chamada
de lóbulo límbico pelo médico francês Pierre Paul Broca (você aprendeu
sobre o processamento das emoções na Aula 12).
ATIVIDADE
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RESPOSTA COMENTADA
Você deve ter acertado que os centros de controle são o tronco encefálico,
cujos núcleos são responsáveis por vários reflexos autônomos; o hipotálamo,
que através de sua complexa rede de conexões com outras áreas encefálicas
exerce papel importante na regulação da homeostase e no controle
hormonal; estruturas límbicas, as quais influenciam, através da expressão
de diferentes comportamentos, as funções hipotalâmicas; córtex cerebral,
que, apesar de ser relacionado principalmente com funções superiores, está
implicado também em um possível controle voluntário sobre as funções
autônomas.
CEDERJ 29
Corpo Humano I | Lutar ou fugir?
30 CEDERJ
diminuição da temperatura corporal. Enquanto o hipotálamo anterior
21
(HA) encontra-se envolvido com a dissipação do calor e sua estimulação
AULA
provoca vasodilatação cutânea, sudorese e taquipnéia, o hipotálamo
posterior (HP) está relacionado à concentração de calor e sua estimulação
resulta em vasoconstrição, tremores e bradipnéia.
O sistema endócrino também atua na regulação da temperatura.
Após exposição a um ambiente frio, o sistema endócrino atua de modo
a desencadear um aumento na liberação de tiroxina. A tiroxina terá
como papel essencial alterar o metabolismo dos tecidos, aumentando-o,
de maneira que o organismo passará a gerar mais calor.
A alteração no valor absoluto deste ponto de ajuste térmico pode ser facilmente observada
quando da presença de pirógenos, substâncias capazes de induzir aumento da temperatura
(estado febril). A interleucina 1 (IL-1), nomeada inicialmente como um pirógeno endógeno,
é uma molécula que aparece em grandes concentrações quando há quadros infecciosos
(inflamatórios). Sua atuação se dá direta e indiretamente sobre a região anterior
hipotalâmica e sobre outras regiões hipotalâmicas responsáveis pela síntese e secreção
do hormônio de liberação de corticotropina, e possivelmente também sobre a secreção
de somatostatina e de hormônio de liberação do hormônio de crescimento. A ação da
IL-1 na área pré-óptica é caracterizada pelo aumento do ponto de ajuste térmico.
Dados experimentais e evidências substanciais têm sugerido uma função importante para
a vasopressina (também conhecida como hormônio antidiurético) como um mediador
antipirético. A área antipirética é inervada por neurônios provenientes da região
hipotalâmica anterior que utilizam a vasopressina como neurotransmissor. Injeções
intraseptais desta molécula promovem uma resposta antipirética semelhante àquela
induzida por drogas antiinflamatórias não-esteroidais (o ácido acetilsalisílico, AAS,
por exemplo). A liberação excessiva deste neuromodulador, resultante de um esforço
desgastante do organismo em combater o estado febril, pode resultar em convulsões.
Isto se deve ao acúmulo intraseptal deste sinalizador.
CEDERJ 31
Corpo Humano I | Lutar ou fugir?
32 CEDERJ
c. Modificação do equilíbrio hormonal: o comportamento
21
alimentar pode ainda ser alterado pela ação de determinados hormônios,
AULA
incluindo os esteróides sexuais, o glucagon, a insulina e o hormônio do
crescimento. Lesões hipotalâmicas extensas afetam, de maneira drástica,
alguns dos sistemas-controle hormonais (eixo hipotálamo-hipofisário),
o que resulta em distúrbios alimentares.
d. Ação sobre as fibras de passagem: lesões localizadas no HL
danificam fibras dopaminérgicas que formam a via nigro-estriatal (com
origem na substância negra e conexões no estriato). Tanto os corpos celulares
de neurônios hipotalâmicos quanto as fibras que passam por esta estrutura
estão relacionados com a regulação do comportamento alimentar. Podemos
dizer que lesões neste local resultarão em distúrbios alimentares.
Síndrome do hipotálamo
lateral: perda de peso
Normal
Lesões no
hipotálamo lateral
Lesões no hipotálamo
ventromedial
CEDERJ 33
Corpo Humano I | Lutar ou fugir?
!
Neurociência Interativa: Existem muitos recursos disponíveis online para expandir seus
conhecimentos (em inglês e português):
www.indiana.edu/~m555/ Esse site fornece diferentes visões do SN identificados e com
descrição de casos clínicos.
http://www.emc.maricopa.edu/faculty/farabee/BIOBK/BioBookNERV.html#AutonomicNervou
sSystem Livro virtual da Estrella Mountain Community College com imagens e textos sobre
a organização e o funcionamento do SN e do SNA.
http://www.pghs.org/science/rubin/anatomy/Autonomic%20Nervous%20System.htm Página
da Basic Human Anatomy Lecture and Lab, da Indiana University Bloomington, sobre anatomia
e fisiologia do SN.
http://faculty.washington.edu/chudler/nsdivide.html Site institucional com textos e práticas
de simples execução sobre fisiologia do SN e do SNA.
CONCLUSÃO
34 CEDERJ
ATIVIDADE FINAL
21
AULA
Vamos avaliar uma função autônoma? Com o auxílio de seu tutor ou de alguém
que saiba verificar a pressão arterial (PA), com um esfignomanômetro, você
poderá avaliar a capacidade do sistema nervoso simpático de regular a PA. Como
proceder? Verifica-se a PA em uma pessoa deitada e, a seguir, dois minutos depois
de colocá-la na posição de pé. Após realizar esta tarefa, correlacione o resultado
obtido com o conteúdo da matéria aprendida até aqui.
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__________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Como você deve ter observado, o normal é não se observar alterações significativas
na PA quando da realização desta tarefa. Entretanto, respostas anormais podem
incluir uma redução de mais de 30mmHg na PA sistólica (máxima) ou de mais
de 15mmHg na PA diastólica (mínima). Neste caso, para manter a normalidade,
o SNA simpático tem de atuar corretamente, para que mudanças na PA não
sejam notadas. Normalmente, o acúmulo de sangue nos membros inferiores e
no abdômen, quando a pessoa assume a postura ereta, leva a uma redução na
PA e, conseqüentemente, pode privar o encéfalo de um suprimento adequado de
sangue, o que poderia gerar uma síncope (desmaio). O papel do SNA simpático,
neste caso, é o de constrição dos vasos de capacitância (veias e vênulas dos
músculos estriados esqueléticos).
CEDERJ 35
22
AULA
Sangue: quando ser
leva-e-traz é fundamental
Meta da aula
Apresentar os componentes do sangue e suas características:
as células sangüíneas, suas funções e seus processos de
formação, centrando-se no estudo das hemácias.
objetivos
Pré-requisitos
Para entender esta aula, é importante relembrar as
características do tecido ósseo e também rever os
conhecimentos adquiridos sobre o sistema respiratório e as
trocas gasosas, vistas nas Aulas 1, 5 e 6 de Corpo Humano II.
Corpo Humano I | Sangue: quando ser leva-e-traz é fundamental
Água 90 – 91%
Proteínas:
Albumina 54% das proteínas plasmáticas
6,5 – 8%
Globulina 38% das proteínas plasmáticas
Fibrinogênio 7% das proteínas plasmáticas
Carboidratos, lipídios,
aminoácidos, hormônios,
Outras substâncias 1 – 2%
eletrólitos, uréia, creatinina,
ácido úrico.
38 CEDERJ
A albumina corresponde a 54% das proteínas plasmáticas e, por
22
não se difundir através do endotélio dos vasos, permanece no sangue,
AULA
propiciando que a água também fique retida no compartimento vascular,
contribuindo para a pressão osmótica do sangue. A pressão osmótica,
devido à presença de albumina, denominada pressão coloidosmótica,
contribui para manter o volume sangüíneo. Quando a pressão
coloidosmótica do plasma cai, ocorre saída de água dos vasos para o
espaço entre as células (espaço intersticial), causando o edema (inchaço)
no corpo.
A albumina também tem como função o transporte de várias
substâncias no sangue, como, por exemplo, os hormônios sexuais.
!
É importante você relembrar
A direção e magnitude do movimento da água através das paredes dos
capilares é resultante das pressões hidrostática e osmótica que existem
através da membrana. Um aumento da pressão hidrostática intracapilar
favorece o movimento do líquido do vaso para o espaço intersticial (edema),
enquanto um aumento na concentração de partículas osmoticamente
ativas dentro dos vasos, como albumina, sódio e glicose, favorecem o
movimento dos líquidos do espaço intersticial para dentro dos vasos.
ATIVIDADE
___________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
___________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 39
Corpo Humano I | Sangue: quando ser leva-e-traz é fundamental
Como você vai ver mais adiante, a força da gravidade dificulta o retorno
venoso nos membros inferiores. Assim, a pressão hidrostática é maior
nessa região, porém a pressão coloidosmótica impede a saída de água
para os tecidos. Quando a pressão coloidosmótica cai, a associação de
maior pressão hidrostática com menor pressão coloidosmótica provoca
o aparecimento de edema nos membros inferiores.
VOLUME SANGÜÍNEO
ATIVIDADE
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
40 CEDERJ
CÉLULAS SANGÜÍNEAS
22
AULA
Do volume total de sangue, 55% é constituído pelo plasma e 45%
pelas células sangüíneas, hemácias, leucócitos e plaquetas, também chamados
elementos figurados do sangue. Veja na Figura 22.1, imagem de um esfregaço
de sangue em lâmina de vidro, observada ao microscópio óptico.
Plaquetas
CEDERJ 41
Corpo Humano I | Sangue: quando ser leva-e-traz é fundamental
Procedimento
– Limpe a polpa digital do indivíduo com água e sabão.
– Com a lanceta ou agulha descartável, faça uma punção na polpa digital e colete o
sangue, encostando o microtubo à gota de sangue. Se não houver microtubo capilar,
colete sangue da veia do braço do indivíduo a ser analisado, com a seringa, e coloque em
um tubo de ensaio pequeno (nesse caso, 2 ou 3mL de sangue são suficientes).
– Quando o microtubo encher por capilaridade, coloque uma pequena quantidade de
massa de modelar na extremidade por onde o sangue fluiu.
– Coloque na centrífuga, tomando o cuidado para equilibrar com tubo de igual volume,
com sangue ou com água. Centrifugue por dez minutos na velocidade de 2.500 rotações
por minuto. Caso não tenha centrífuga, deixe os tubinhos com sangue em repouso por
uma hora, até que haja separação entre plasma e células.
Após esse procedimento, o sangue terá dois compartimentos; um mais escuro, constituído
pelas células (hemácias, em sua maioria), que se depositam no fundo do tubo por ação
da gravidade; a parte líquida e amarelada é constituída pelo plasma. Agora é só medir
com uma régua, para saber quantos centímetros têm o volume total de sangue e o
compartimento celular. Atribuindo 100% ao volume total, o percentual ou os centímetros
correspondentes ao compartimento celular são o hematócrito.
Plasma (55% do
sangue total)
Leucócitos do creme
leucocitário e plaquetas
(1% do sangue total)
Elementos
figurados
Eritrócitos (45%
do sangue total)
Figura 22.2: Compartimentos do sangue. Observe a porção celular e o plasma, quando o sangue
é colocado em um tubo de ensaio. O porcentual de células no sangue é o hematócrito.
42 CEDERJ
ATIVIDADE
22
AULA
3. Foi coletado sangue de um indivíduo e colocado em um tubo de
ensaio (pode também ser colocado em tubo capilar). Após alguns
minutos, as células sangüíneas se depositaram na parte inferior do
tubo. Nesse momento, foram medidos, com uma régua, os centrímetros
correspondentes ao volume total do sangue e quantos centrímetros
mediam a parte correspondente às células. Sabendo-se que o sangue
total mediu 5cm e o volume celular 2cm, qual o hematócrito desse
indivíduo?
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______________________________________________________________
______________________________________________________________
_______________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Esse cálculo é uma regra de três simples: a medida do volume total de sangue,
que no caso é 5cm, equivale a 100%; o volume de células correspondente
a 2cm, pela regra de três, equivale a 40%; portanto, o hematócrito é 40%.
Lembre-se de que o hematócrito é o percentual de células em determinado
volume de sangue.
CARACTERÍSTICAS DO SANGUE
CEDERJ 43
Corpo Humano I | Sangue: quando ser leva-e-traz é fundamental
HEMATOPOIESE
(Células-tronco comprometidas)
Célula-progenitora pluripotente
Célula-
progenitora
mielóide
Célula-
progenitora (?)
linfóide
Timo
Monoblasto
Célula B
(Células maduras)
Megacariócito
Reticulócito
Célula T Plasmócito
Plaquetas
Linfócitos Monócito
Eosinófilo Basófilo Neutrófilo
Eritrócito
ou hemácia
Leucócitos Macrófago
44 CEDERJ
As células sangüíneas possuem um tempo de vida variável,
22
sendo substituídas continuamente, dependendo do grau de destruição.
AULA
A formação das células sangüíneas é um processo denominado hematopoiese
ou hemopoiese, que ocorre nos chamados órgãos hematopoiéticos, que
compreendem a medula óssea e o sistema linfóide.
Você pode observar na Figura 22.3 que o sangue apresenta três
linhagens de células diferentes: as hemácias, os leucócitos e as plaquetas,
que se originam a partir de uma célula-mãe única, denominada célula
pluripotente, célula-tronco (stem cell, em inglês) ou célula CD34+.
A partir do sexto mês de vida intra-uterina, a hematopoiese ocorre na
medula óssea, onde as células pluripotentes estão se diferenciando em
células maduras para serem lançadas na corrente sangüínea, dependendo
do tempo de vida e do grau de destruição de cada uma. No período pré-
natal e ao nascer, o indivíduo ainda tem medula óssea formadora de células
sangüíneas em quase todos os ossos. Essa medula é muito vascularizada
e funcionante, sendo chamada medula vermelha. À medida que deixa de
ser ativa, é preenchida por tecido adiposo, sendo chamada de medula
amarela. Após os cinco anos de idade, só a medula dos ossos esponjosos
como vértebras, esterno, costelas e pelve participam da hematopoiese.
O microambiente medular é fundamental para a hematopoiese,
sendo constituído por células em diversos estágios de diferenciação e
por células do estroma, que secretam proteínas da matriz extracelular e
fatores estimulantes e moduladores da formação de células sangüíneas.
A desregulação desse mecanismo normal pode levar à parada da
proliferação, causando atrofia da medula óssea, ou à proliferação
anômala. As mutações genéticas decorrentes de radiações, infecções virais
e alguns produtos químicos podem ser acompanhadas de crescimento
exagerado e autônomo (neoplásico) das células do sangue, gerando
doenças como leucemia e linfoma.
CEDERJ 45
Corpo Humano I | Sangue: quando ser leva-e-traz é fundamental
!
Saiba um pouco mais sobre a hematopoiese
Em torno da 3a e 4a semanas de vida intra-uterina, o sistema de alimentação fetal sofre
uma modificação radical. O feto deixa de receber nutrientes através da parede do útero
e passa a alimentar-se diretamente através do sangue da mãe. Para isto, é indispensável
um eficiente sistema transportador. Ao completar um mês, o embrião já possui um sistema
vascular semelhante ao do adulto e já tem um coração rudimentar, que bombeia sangue
para o corpo em formação. Desde o início do segundo mês, o sangue já está presente, com
suas hemácias, leucócitos e plaquetas. No saco vitelino, por volta da 3a semana de gestação,
tem início a formação dos vasos sangüíneos e dos glóbulos vermelhos do embrião. A partir
desse período, quando os vasos estão formados, quem se encarrega de fabricar novos
glóbulos vermelhos são as células reticulares presentes no interior dos vasos. Esse processo
de formação do sangue que ocorre no mesoderma é, ao que parece, o único exemplo de
fabricação de hemácias no interior de vasos. Durante o resto da vida fetal, os glóbulos
vermelhos serão fabricados fora dos vasos. Após o terceiro mês de vida fetal, a formação do
sangue se processa, em particular no fígado e também no baço; é a chamada fase hepática
da hematopoiese fetal. Entre os vasos sangüíneos e as células que compõem esses órgãos,
localiza-se o mesênquima, tecido derivado do mesoderma. É a partir daí que se formam
os glóbulos vermelhos do feto. Um pouco mais tarde, aproximadamente na metade do
período de vida fetal, a medula óssea começa a desempenhar o papel de estrutura produtora
de sangue. Tem início a fase mielóide (de myelos,que significa medula) de produção do
sangue, que, em regra, continua durante toda a vida extra-uterina. Em casos especiais em
que o organismo exige maior quantidade de sangue, o fígado e o baço podem retomar a
atividade de formadores de sangue. O mesmo pode ocorrer no caso de destruição extensa
da medula óssea, por irradiação intensa, tumores ou agressão por drogas tóxicas.
ERITRÓCITOS OU HEMÁCIAS
46 CEDERJ
Como descrito na Aula 16 de Bioquímica I, a hemoglobina é
22
uma proteína constituída por dois pares de cadeias polipeptídicas,
AULA
cada uma delas ligada a uma unidade de heme, formado por uma
estrutura denominada anel tetrapirrólico, que contém um átomo
de ferro ligado ao oxigênio (Figura 22.5). Assim, uma molécula
de hemoglobina pode transportar quatro moléculas de oxigênio.
A síntese de hemoglobina depende da disponibilidade de ferro
para a síntese de heme. Como 80% do ferro do organismo está
contido na hemoglobina, uma diminuição de sua oferta resulta em
diminuição da hemoglobina. Observe, na Figura 22.6, o metabolismo
do ferro no organismo. Cerca de 20% do ferro são armazenados na
medula óssea, no fígado e no baço. O ferro, além de ser absorvido
no intestino delgado, também é reciclado no organismo, quando
as hemácias envelhecidas são destruídas pelos macrófagos no baço.
O ferro passa novamente para o
Ferro dietético
plasma, é transportado por uma
proteína denominada transferrina
e, ao chegar à medula óssea, é
incorporado às novas moléculas Ferro
absorvido
de hemoglobina. Uma parte do
ferro transportado na corrente Fígado
Ferro plasmático
sangüínea pode se depositar no (Transferrina
plasmática)
fígado, também ligado a uma
proteína, formando um complexo
Armazenamen-
denominado ferritina. Ferro to na forma de
reciclado ferritina
β1
Baço
Perda de ferro
através de san- Eritrócitos
gramento gastro- senescentes
Fe
intestinal
α2 α1
CEDERJ 47
Corpo Humano I | Sangue: quando ser leva-e-traz é fundamental
!
Você sabia?
A ferritina pode ser usada como um indicador das
reservas de ferro no organismo? Em anemias decorrentes
da falta de ferro, seus níveis no sangue estão baixos,
sinalizando a necessidade de reposição de ferro.
48 CEDERJ
destruição excessiva das hemácias, os níveis de bilirrubina não-conjugada
22
aumentam e impregnam a pele, dando-lhe uma coloração amarelada,
AULA
denominada icterícia.
ERITROBLASTO
Núcleo
Mitocôndrias
Núcleo eliminado
RETICULÓCITO
Mitocôndrias
eliminadas
CEDERJ 49
Corpo Humano I | Sangue: quando ser leva-e-traz é fundamental
Eritropoetina
Liberação
Proliferação Maturação Sangue
Medula Óssea
Rim
Sensor
de O2
Reticulócitos
Célula-
tronco
Precursor
eritróide
Baixa tensão comprometido
de oxigênio
tecidual Expulsão
do núcleo
Eritrócitos
Massa eritrociária maduros
Figura 22.8: A eritropoiese e sua regulação pelo teor de oxigênio nos tecidos.
!
Outro fator que leva ao aumento do número de hemácias é viver em locais
com altitudes muito elevadas. Nessas regiões, a pressão de O2 é menor
que ao nível do mar, requerendo uma quantidade maior de hemácias
para suprir as necessidades de oxigenação dos tecidos. Os habitantes dos
Andes, por exemplo, têm hematócrito maior que o dos cariocas.
50 CEDERJ
ATIVIDADE
22
AULA
4. Você já observou que os jogadores brasileiros de futebol,
quando vão jogar em La Paz, na Bolívia, necessitam chegar com
vários dias de antecedência, para não terem baixo rendimento
durante o jogo? Tente explicar.
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RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 51
Corpo Humano I | Sangue: quando ser leva-e-traz é fundamental
!
Você já aprendeu que o ferro é um importante constituinte da hemácia. Ele é fornecido
pela dieta que contém uma quantidade média de 14mg; porém, só 5 a 10% dessa
quantidade são absorvidos no intestino delgado. Ao chegar ao estômago, o ferro se liga
a diversas substâncias, mas o ambiente ácido do estômago possibilita a transformação
do ferro, da forma ferrosa para a forma férrica, facilitando a sua absorção pelo intestino.
Nas aulas do sistema digestivo, você terá oportunidade de rever esse assunto. A vitamina
B12, também chamada cianocobalamina, contida em vegetais e na carne vermelha, se
liga a uma glicoproteína produzida pelas células gástricas, chamada fator intrínseco, que
auxilia no seu transporte através do intestino delgado até ser absorvida na porção final
do íleo. Os folatos, sais de ácido fólico, estão presentes nos vegetais verde-escuros, como
agrião, couve e espinafre.
Existem uma série de palavras e nomenclatura novas a serem aprendidas que são
relacionadas às hemácias. Vale a pena lembrar o significado da origem da palavra, pois
facilita o aprendizado.
52 CEDERJ
22
Você sabia que...
AULA
1 – o tipo de dieta interfere na absorção de ferro? Os ovos dificultam a
absorção intestinal, enquanto o leite e a carne a facilitam.
2 – indivíduos com gastrite atrófica apresentam diminuição na produção
do fator intrínseco e, conseqüentemente, apresentam anemia perniciosa
ou megaloblástica, pois a vitamina B12 não consegue chegar à borda da
célula intestinal para ser absorvida?
3 – indivíduos com insuficiência renal apresentam anemia por baixa
produção de eritropoietina, podendo fazer uso de eritropoietina injetável,
sintetizada por engenharia genética, para estimular a medula óssea e
voltarem a ter um número maior de hemácias?
ATIVIDADE
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_________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 53
Corpo Humano I | Sangue: quando ser leva-e-traz é fundamental
TIPOS SANGÜÍNEOS
A – presença do antígeno A;
B – presença do antígeno B;
AB – presença dos dois antígenos;
O – ausência dos dois.
!
A compatibilidade Rh merece atenção em situações de gestação, se a mãe for Rh-negativa e o feto
for Rh-positivo, por herança paterna. Eritrócitos Rh-positivos do feto podem entrar na circulação
materna no momento da separação placentária, após o parto, e induzir a formação de anticorpos
Rh-positivos no organismo materno. No caso de uma nova gestação de feto Rh-positivo, os anticorpos
da mãe podem atingir o feto pela placenta e provocar aglutinação e destruição de suas hemácias. Essa
situação é chamada eritroblastose fetal. Ela também pode ocorrer em adultos quando transfundidos
por sangue Rh incompatível por mais de uma vez.
54 CEDERJ
22
Os indivíduos do grupo O são chamados doadores universais, já que não
possuem antígenos do sistema ABO, enquanto as pessoas pertencentes ao
AULA
grupo AB+ são chamadas receptoras universais porque seus plasmas não
têm anticorpos para os antígenos do sistema ABO e Rh. Veja, na Tabela
22.2 a e b, os tipos de sangue que cada indivíduo portador de um tipo
sangüíneo específico pode receber.
FENÓTIPO GENÓTIPO
A AO
A AA
O OO
B BO
B BB
AB AB
Tabela 22.2.b: Observe os tipos sangüíneos que são compatíveis e podem ser
recebidos por indivíduos portadores de cada um dos tipos de sangue (sistemas
ABO e Rh)
A+ A+ ou A– ou O–
A– A– ou O–
B+ B+ ou B– ou O–
B– B– ou O–
AB + AB+ ou AB– ou O–
AB – AB– ou O–
O+ O+ ou O–
O– O–
CEDERJ 55
Corpo Humano I | Sangue: quando ser leva-e-traz é fundamental
A doação de sangue é considerada um gesto de cidadania, uma vez que salva muitas vidas. Contudo,
existem algumas exigências para um indivíduo poder doar sangue.
Condições mínimas para doar sangue:
– Idade entre 18 e 60 anos;
– Peso acima de 50kg;
– Nunca ter contraído doenças contagiosas ou de risco, como malária, sífilis, hepatite, doença de
Chagas, diabetes mellitus, AIDS, doença cardíaca, convulsões, hipertensão arterial grave, câncer,
colagenoses e lepra;
– Não ter tido gripe e/ou febre nos últimos sete dias;
– Não estar gestante;
– Não ter recebido transfusão nos últimos dez anos;
– Não ter realizado cirurgia nos últimos meses;
Prazo para doações:
Os homens podem doar sangue a cada 60 dias e as mulheres a cada 90 dias.
Alimentação no dia da doação:
– De manhã, tomar café normalmente.
– À tarde, almoçar evitando alimentos gordurosos e comparecer três horas após a refeição.
ATIVIDADE
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
56 CEDERJ
LEUCÓCITOS
22
AULA
Os leucócitos são células sangüíneas que protegem o organismo
contra invasões de agentes estranhos. No sangue, existem cerca de quatro a
dez mil por mililitro. Os leucócitos circulam em quantidade menor do que
as hemácias, numa proporção de um leucócito para cada 660 eritrócitos.
Podem ser divididos em vários tipos celulares com características específicas.
Os leucócitos granulócitos, assim denominados por possuírem grânulos
ricos em enzimas, podem ser classificados em neutrófilos, eosinófilos e
basófilos. Os leucócitos agranulócitos são classificados em monócitos e
linfócitos. Veja, na Figura 22.9, os diferentes tipos de leucócitos.
Os leucócitos constituem o principal mecanismo de defesa contra
as infecções. Os granulócitos e monócitos são células móveis que migram
para o local da lesão, atraídos por substâncias denominadas quimiotáxicas,
liberadas dos microrganismos ou por destruição celular. Quando eles as
alcançam, promovem fagocitose, destruindo-as por ação enzimática.
Os neutrófilos são os mais abundantes leucócitos no sangue. Existem
dois tipos de neutrófilos: os bastonetes (imaturos) e os segmentados
(maduros). Os neutrófilos ajudam o organismo a combater infecções
bacterianas e fúngicas, fagocitando partículas estranhas. Quando a infecção
bacteriana é aguda, há maior solicitação dos neutrófilos da medula, e ocorre
aumento dos neutrófilos imaturos no sangue, os bastonetes.
Os eosinófilos são encarregados de matar parasitas e destruir
células cancerosas; e estão também envolvidos nas respostas alérgicas.
Os basófilos também participam em respostas alérgicas.
Os linfócitos são divididos em dois tipos principais: os linfócitos T,
que auxiliam na proteção contra as infecções virais e conseguem detectar e
destruir algumas células cancerosas, e os linfócitos B, que se transformam
em células produtoras de anticorpos (células plasmáticas ou plasmócitos).
Os linfócitos são células com núcleo grande e sem grânulos citoplasmáticos.
São responsáveis pela imunidade humoral, através dos linfócitos B,
produtores de anticorpos contra diversos agentes estranhos ao organismo
e pela imunidade celular, através dos linfócitos T. Detalhes sobre as ações
dessas células podem ser lidos na disciplina Imunologia.
Os monócitos fagocitam células mortas ou lesadas e proporcionam
defesas imunológicas contra muitos organismos infecciosos.
CEDERJ 57
Corpo Humano I | Sangue: quando ser leva-e-traz é fundamental
!
Durante o desenvolvimento fetal, os leucócitos se originam de uma célula-
tronco primitiva na medula óssea. Após o nascimento, os granulócitos
e monócitos continuam a ser produzidos na medula óssea, enquanto
os linfócitos passam a ser produzidos nos linfonodos, baço e timo, que
constituem os órgãos linfóides (volte à figura sobre a hematopoiese e
reveja a formação dos leucócitos).
Acidófilo Basófilo
PLAQUETAS
O que é hemograma?
Quando queremos avaliar as células sangüíneas recorremos ao exame
denominado hemograma, que avalia o número dos diferentes tipos
de células sangüíneas, o volume das hemácias e também o teor de
hemoglobina presente nelas. Na Tabela 22.3, você poderá avaliar os
valores dos diferentes tipos de células.
58 CEDERJ
Tabela 22.3: Valores das células sangüíneas presentes no hemograma. Observe que os eritrócitos, leucócitos e
22
plaquetas não têm valor fixo, e sim uma faixa de variação que é considerada normal, pois existe variabilidade
entre os indivíduos
AULA
Células Sangüíneas Número de Células/µL % dos Leucócitos
CONCLUSÃO
CEDERJ 59
Corpo Humano I | Sangue: quando ser leva-e-traz é fundamental
ATIVIDADE FINAL
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
RESUMO
60 CEDERJ
22
A eritropoiese, processo de formação da hemácia ou eritrócito, é estimulada pela
AULA
eritropoietina. Essa substância é um hormônio renal, liberado quando há baixos
teores de oxigênio nos tecidos, sendo também estimulado pela testosterona.
Fatores nutricionais, como ferro, vitamina B12 e ácido fólico garantem a produção
de hemácias com satisfatório teor de hemoglobina.
A hemácia apresenta antígenos na sua membrana, que caracterizam os diferentes
tipos sangüíneos. Os principais sistemas usados para identificar as hemácias e
orientar as transfusões de sangue são ABO e Rh.
Os leucócitos são células sangüíneas fundamentais para a defesa contra agentes
agressores e as plaquetas são fundamentais para o processo de coagulação.
LEITURAS COMPLEMENTARES
CEDERJ 61
Corpo Humano I | Sangue: quando ser leva-e-traz é fundamental
SITES RECOMENDADOS
MOTTA JUNIOR, Manoel Carlos de. Células do sistema imune. Disponível em: <http:
//ioh.medstudents.com.br/imuno2.htm>. Acesso em: 24 out. 2005.
62 CEDERJ
23
AULA
Hemostasia: a garantia da
fluidez do sangue
Metas da aula
Apresentar o processo de hemostasia e sua importância
fisiológica, descrevendo suas diferentes fases, que
constituem a formação e dissolução do cóagulo.
Comentar a fisiopatologia de algumas doenças
decorrentes de alterações no processo de hemostasia.
objetivos
Pré-requisitos
Para melhor entendimento desta aula,
você necessitará dos conhecimentos sobre sangue e
células sanguíneas, contidos na Aula 22, e sobre vasos
sanguíneos e circulação sanguínea, apresentados nas
Aulas 21 e 26 desta disciplina.
Corpo Humano I | Hemostasia: a garantia da fluidez do sangue
INTRODUÇÃO Você aprendeu no ensino médio e vai rever, nas aulas de Corpo Humano I,
que no homem e nos mamíferos em geral, o sistema circulatório é fechado.
O sangue circula dentro dos vasos, e fornece nutrientes e oxigênio para as células,
removendo os produtos do metabolismo celular. Portanto, é fundamental para
as células que o sangue possa percorrer por todos os tecidos, nutrindo-as.
O organismo utiliza mecanismos para garantir que o sangue se mantenha
fluido e, assim, possa circular normalmente. Por outro lado, quando há lesão na
parede do vaso, que possa ameaçar o fluxo sanguíneo, o organismo também
HEMOSTASIA aciona mecanismos de controle para corrigir essa situação. Durante esta aula,
(do grego hemo = você verá como ocorre esse mecanismo, que recebe o nome de HEMOSTASIA.
sangue + stasia =
estase, parada) Ele envolve uma série de etapas, em que vários fatores atuam para formar e
É a interrupção do
fluxo sanguíneo.
dissolver coágulos.
Sabe-se hoje que o
significado fisiológico
da hemostasia não HEMOSTASIA: CONCEITUANDO MELHOR...
se restringe apenas
à parada do fluxo
sanguíneo, mas o nome Você já deve ter sofrido um corte na pele, que sangra inicialmente,
foi mantido. mas depois cessa. Esse é o processo de hemostasia atuando. Quando há
ruptura na parede do vaso, o sangue pode extravasar. Para impedir essa
perda, o processo de coagulação do sangue entra em ação, interrompendo
total ou parcialmente a passagem do sangue naquela região. Quando se
pensa em interrupção do fluxo sanguíneo, a primeira idéia que nos vem
à mente é a formação de um coágulo.
Porém, cuidado! O termo hemostasia não pode ser simplesmente
sinônimo de coagulação.
O coágulo formado, embora tenha a função de impedir a perda
sanguínea, não pode se perpetuar, pois os tecidos localizados após ele
terão prejuízo na irrigação sanguínea. Para resolver esse problema, a
hemostasia continua atuando, a fim de que ocorra a ativação de fatores
que agem para dissolver o coágulo e restaurar o fluxo sanguíneo
nos tecidos. Fisiologicamente, a hemostasia envolve um conjunto de
substâncias ativadoras e inibidoras que agem para garantir a fluidez do
sangue, ou seja, permitir que em situações normais o sangue permaneça
líquido no interior dos vasos. Quando a fluidez é ameaçada por uma
ruptura do vaso, o seu tamponamento imediato é necessário, devendo
ser revertido assim que o vaso seja restaurado.
64 CEDERJ
Como você já deve ter concluído, a hemostasia envolve um processo de
23
ISQUEMIA
formação e de destruição do coágulo. Você verá que na hemostasia participam É a palavra
AULA
fatores localizados na parede dos vasos, células sanguíneas específicas (as utilizada para
situações em que
plaquetas) e proteínas produzidas no fígado (fatores de coagulação). ocorre diminuição
do fluxo
Quando o mecanismo de hemostasia está danificado, podem sanguíneo em
ocorrer hemorragias severas, causando anemia ou a formação de coágulos um determinado
tecido. Por
permanentes, o que promove obstáculo ao fluxo de sangue e provoca exemplo, a angina
ou dor no peito
ISQUEMIA nos tecidos. resulta da isquemia
no miocárdio,
quando há baixa
! no fluxo sanguíneo
Saiba um pouco sobre a descoberta da hemostasia coronariano,
que é o sistema
Aristóteles, filósofo grego que viveu entre 384 a.C. e 322 a.C., embora tenha ficado arterial que nutre o
mais conhecido por seus estudos sobre lógica e teoria do conhecimento, fez estudos músculo cardíaco.
sobre animais e relatou as primeiras observações sobre a “natureza fibrosa do
sangue”. Muito tempo depois, em 1731, o médico Petit apresentou a hipótese de
que uma hemorragia só cessava quando havia coagulação do sangue. Havia então
o conceito, sem maior detalhamento sobre o mecanismo da coagulação. Em 1904,
os pesquisadores Morawitz, Fuld e Spiro conseguiram elaborar uma teoria mais
consistente sobre a hemostasia, associando a liberação de substâncias pelo tecido
lesado (tromboplastina) com a ativação de fatores plasmáticos (protrombina).
Essa teoria só foi comprovada em 1952, pelos cientistas Bettlein, Bailey e Lorand.
Os estudos, entretanto, continuam e têm avançado no sentido de identificar todas
as moléculas envolvidas na coagulação. Isso é importante, pois o conhecimento
profundo de Fisiologia auxilia no desenvolvimento de fármacos que possibilitem
o tratamento de pacientes portadores de alterações na coagulação do sangue. Por
exemplo, em pacientes com infarto do miocárdio recente, situação decorrente da
formação de coágulos nas coronárias, o uso da estreptoquinase ativa a plasmina,
dissolvendo o coágulo.
ATIVIDADE
CEDERJ 65
Corpo Humano I | Hemostasia: a garantia da fluidez do sangue
RESPOSTA COMENTADA
FASES DA HEMOSTASIA
Em alguns livros e artigos científicos, você pode observar outra definição para as
etapas da hemostasia, nos quais se substitui a denominação “fase” por “tempo”.
Assim, teríamos o tempo parietal, que corresponde às fases vascular e plaquetária; o
tempo plasmático, que corresponde à fase coagulante, e o tempo trombodinâmico,
que corresponde à fase de fibrinólise. Independente do nome, o importante é que
você compreenda cada etapa da formação e dissolução do coágulo, conhecendo
os fatores envolvidos.
66 CEDERJ
!
23
No início do processo de hemostasia, o papel do vaso e seu endotélio é fundamental.
AULA
Nesse momento, acho que ajudaria se você relembrasse algumas características da
morfologia dos vasos. Os vasos sanguíneos podem ser classificados em pequenos,
médios e grandes, sendo normalmente constituídos por três camadas: íntima
(que entra em contato com o sangue), média e adventícia (a mais externa).
A camada íntima dos vasos é formada por células endoteliais, as quais se dispõem
em camada contínua. Abaixo do endotélio há o subendotélio, constituído por
membrana basal, elastina e microfibrilas. Envolvendo o endotélio e subendotélio,
encontra-se a camada média, constituída por fibras colágenas, células musculares
lisas e fibroblastos. A camada adventícia é constituída por tecido conjuntivo e
pequenos vasos que vão nutrir as células desses vasos. Veja, na Figura 23.1, as
camadas constituintes dos vasos.
Endotélio
Camada média
Fibras musculares
Camada adventícia
Vaso nutriente
FASE VASCULAR
CEDERJ 67
Corpo Humano I | Hemostasia: a garantia da fluidez do sangue
ATIVIDADE
RESPOSTA
68 CEDERJ
!
23
Os mecanismos hemostáticos diferem entre as espécies animais. Nos animais
AULA
menos complexos, como os invertebrados, a vasoconstricção e adesão/agregação
plaquetárias são suficientes para corrigir um sangramento. Em mamíferos que têm
circulação com baixa pressão, há necessidade de formação de um coágulo mais
resistente no vaso lesado, para que o tamponamento seja efetivo.
ATIVIDADE
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 69
Corpo Humano I | Hemostasia: a garantia da fluidez do sangue
FASE PLAQUETÁRIA
!
Na Aula 22 você teve oportunidade de aprender que o número normal de
plaquetas no sangue varia entre 150 mil e 450 mil/mm3. Cabe agora comentar
mais algumas de suas características. As plaquetas são resultantes da fragmentação
dos megacariócitos na medula óssea. Cada megacariócito forma 2.000 a 3.000
plaquetas. Do total de plaquetas existentes no homem, 2/3 estão na circulação e
1/3 no baço. Como você pode observar na Figura 23.2, as plaquetas têm forma
discóide e são desprovidas de núcleo; porém, têm metabolismo próprio. Embora
desde 1882 tenha sido descrita a participação da plaqueta na formação do
coágulo, só com o advento da microscopia eletrônica foi possível analisar melhor
sua estrutura e elucidar a sua função na coagulação. Ela tem a capacidade de emitir
prolongamentos (pseudópodes) e de se estirar sobre superfícies rugosas. Existe na
plaqueta uma região chamada “zona periférica”, onde existem receptores para
receber e transmitir os estímulos para as funções de aderência e agregação durante
o processo de hemostasia. As plaquetas apresentam grânulos e corpos densos que
contêm substâncias secretadas pelas próprias plaquetas, além de mitocôndrias
responsáveis pelo metabolismo energético e um sistema tubular denso que produz
prostaglandinas. As plaquetas também produzem um fator mitogênico que age
estimulando a proliferação das células musculares lisas dos vasos.
70 CEDERJ
Antiplasmina plaquetária – impede a dissolução do cóagulo;
23
Enzimas lisossômicas – com atividade fibrinolítica;
AULA
Tromboxane A2 – promove vasoconstricção e também é agre-
gante plaquetário.
Plaquetas
2.000 - 3.000
plaquetas
Baço
7-10 dias 1/3
seqüestrado
2/3
Megacariócito
circulação
ATIVIDADE
RESPOSTA
CEDERJ 71
Corpo Humano I | Hemostasia: a garantia da fluidez do sangue
FASE COAGULANTE
Sistema intrínseco
intrínseco. Essas vias representam
a participação de diferentes
XIIa
XII compostos, mas ambas promovem
a ativação do fator X. Esse, na
XI presença do cálcio, transforma
XIa
Sistema extrínseco protrombina em trombina,
a qual ativa a transformação
IX
IXa
do fibrinogênio em fibrina.
VIIa VII
A fibrina formada caracteriza
a etapa final da formação do
X X
Antitrombina III coágulo, necessitando apenas
haver estabilidade nessa rede de
fibrina, que recobre o aglomerado
Protrombina Trombina
de plaquetas. O fator XIII
Fibrina (monômero)
age na estabilidade da fibrina.
Fibrinogênio
A Figura 23.4 ilustra o coágulo
Fatores vitamina K-dependentes Fibrina (polímero)
completamente formado.
72 CEDERJ
23
AULA
Figura 23.4: Fotografia do coágulo
ao microscópio eletrônico. Observe
a rede de fibrina que recobre
as plaquetas e retém algumas
hemácias.
II Protrombina Fígado
CEDERJ 73
Corpo Humano I | Hemostasia: a garantia da fluidez do sangue
ATIVIDADE
RESPOSTA
74 CEDERJ
se converte em trombina), transformam o plasminogênio em plasmina.
23
Esta digere a fibrina presente no coágulo e também o seu precursor no
AULA
sangue, o fibrinogênio, além de inibir os fatores V, VII, XII e a protrombina
(Fator II). É curioso observar que a trombina, que transforma o
fibrinogênio em fibrina, na etapa final de formação do coágulo, também
ativa o plasminogênio, iniciando o processo de dissolução do coágulo.
O controle da hemostasia ocorre não só pelo sistema fibrinolítico,
que age sobre o coágulo já formado, mas utiliza também mecanismos
anticoagulantes que atuam para controlar a formação do coágulo. Várias
enzimas presentes no plasma inibem ou neutralizam fatores coagulantes.
Por exemplo, a antitrombina III inativa a trombina e o fator X. O processo
é realmente complexo, pois a própria fibrinólise também é controlada.
Citando outro exemplo, a α2-antiplasmina, rapidamente inativa a plasmina
circulante, limitando a fibrinólise do coágulo local. A Figura 23.5 pode
auxiliá-lo a compreender melhor esse processo.Você vai perceber, ao longo
das aulas de Corpo Humano, que o organismo é uma máquina fantástica
que utiliza um controle bastante elaborado e refinado para garantir a sua
sobrevivência frente às adversidades.
Ativadores do plasminogênio
Plasminogênio Plasmina
Inibidor da α2-plasmina
Inibidores do plasminogênio
e seus ativadores
Figura 23.5: O sistema fibrinolítico e seus moduladores. As setas com linha cheia
indicam ativação e as pontilhadas indicam inibição.
CEDERJ 75
Corpo Humano I | Hemostasia: a garantia da fluidez do sangue
O plasminogênio pode ser ativado por duas vias: a intrínseca e a extrínseca. Na forma intrínseca, participam
substâncias presentes na circulação, como o fator XII e o complexo pré-calicreína/ cininogênio. Como você pode
deduzir, os próprios fatores coagulantes, quando ativados, ativam em paralelo os fatores responsáveis para dissolver
o coágulo. A via extrínseca se faz pela presença de ativadores nos tecidos, produzidos pelas células endoteliais ou
tecidos com baixa oxigenação.
Para você ter uma idéia geral do processo de hemostasia, observe agora a Figura 23.6. A Figura 23.6.a mostra a
adesão e agregação plaquetárias; a Figura 23.6.b mostra a etapa coagulante que resulta na formação da fibrina;
a Figura 23.6.c ilustra a degradação do coágulo.
a Colágeno
fator de von
Willebrand (FvW) Fator VIII
Tromboxano A2
Plaqueta
VIII a
FvW / fVIII ADP
X Xa
Cascata da
coagulação
Células
endoteliais Colágeno
Agregação
Subendotélio planetária
b PROTROMBINA c TROMBINA
Produtos da
degradação da fibrina
Via
X Xa
intrínseca
Fibrinogênio
Fatores Ativadores do
teciduais plasminogênio
Fibrina
Plasminogênio
76 CEDERJ
ATIVIDADE
23
AULA
6. O inibidor do ativador de plasminogênio (a sigla utilizada
é PAI), quando em altas concentrações, está associado à
ocorrência de trombose venosa, coronariopatia e infarto do
miocárdio, podendo ser dosado no sangue como índice de
risco de doença cardiovascular. Agora que você já aprendeu
como ocorre a fibrinólise, explique por que o aumento do PAI
causa trombose.
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
RESPOSTA
CEDERJ 77
Corpo Humano I | Hemostasia: a garantia da fluidez do sangue
78 CEDERJ
V – a hemofilia é uma doença hereditária que decorre de alteração
23
nos fatores de coagulação; seu portador apresenta hemorragias ao menor
AULA
traumatismo inclusive hemorragias espontâneas. A hemofilia B é a mais
comum e resulta de alteração no fator IX. A hemofilia A é mais rara e
decorrente da deficiência do complexo Fator VIII / Fator de von Willebrand.
Os distúrbios hemorrágicos são severos. O tratamento consiste na transfusão
de concentrado do fator de coagulação que está comprometido.
CONCLUSÃO
CEDERJ 79
Corpo Humano I | Hemostasia: a garantia da fluidez do sangue
ATIVIDADE FINAL
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
RESUMO
80 CEDERJ
23
proteínas desencadeiam uma reação de ativação em cascata, envolvendo cerca de
AULA
13 fatores que resultam, como etapa final, na transformação do fibrinogênio em
fibrina. Essa proteína recobre as plaquetas, consolidando o coágulo. Em paralelo
à formação deste, o organismo aciona mecanismos para dissolvê-lo, ao mesmo
tempo em que o endotélio vascular está sendo regenerado. Portanto, a hemostasia
requer a ativação seqüencial de vários fatores, cujas etapas são denominadas
fases da hemostasia: vascular, plaquetária, coagulante e fibrinólise. Essas fases são
cuidadosamente controladas pelo organismo através do equilíbrio na ativação de
fatores ativadores e inibidores, cujo objetivo é impedir perda sanguínea quando
há lesão na parede vascular, mas também não permitir que o coágulo formado
para tamponar a hemorragia seja definitivo e dificulte o fluxo sangüíneo e
conseqüentemente a oxigenação dos tecidos.
O estudo do processo de hemostasia e o profundo conhecimento de sua
fisiologia permitem entender mecanismos de doenças, garantindo a prevenção e
o tratamento de doenças que cursam com hemorragia ou hipercoagulabilidade.
A doença cardiovascular é a principal causa de morte nos países desenvolvidos e
em desenvolvimento, e o seu controle certamente resultará no aumento da vida
média da população mundial. O esquema a seguir mostra as fases da hemostasia,
com seus principais eventos e as substâncias envolvidas.
Fases da hemostasia:
Espasmo vascular
VASCULAR (endotélio)
Vasocontricção
Ativação plaquetária
Colágeno Fator de von Willebrand
Formação do tampão plaquetário,
Prostaglandinas
aderência e agregação das plaquetas
PLAQUETÁRIA
Adesão e agregação
Tromboxane A2
ADP
Formação do coágulo de fibrina
insolúvel. Ativação da via intrínseca
COAGULANTE ou extrínseca da coagulação
Formação da fibrina estável
Fatores de coagulação (I à XIII)
Reação em cascata
Prod. hepática / Vit. K - dependentes
Retração do coágulo
CEDERJ 81
Corpo Humano I | Hemostasia: a garantia da fluidez do sangue
LEITURAS COMPLEMENTARES
SITES
www.msd-brazil.com/msd43/m_manual/mm_sec14
www.hemonline.com.br/sangue.htm
www.hemonline.com.br/hematopo.htm
www.corpohumano.hpg.ig.com.br/circulacao/ciculacao.html
www.afh.bio.br/cardio/Cardio5.aspioh.medstudents.com.br/imuno2.htm
www2.uerj.br/~micron/atlas/Conjuntivo/fundamentos.htm
82 CEDERJ
24
AULA
Por onde circula o sangue?
Metas da aula
Apresentar os compartimentos líquidos do organismo.
Introduzir a organização geral e as funções do aparelho
circulatório, como um todo, e de cada um
de seus componentes.
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
objetivos
Pré-requisitos
Para acompanhar esta aula, você vai precisar de alguns conceitos fundamentais
de química (conceito de concentração), transporte de substâncias nos seres
vivos e organização geral do corpo de metazoários, aparelho circulatório e
excretor. Caso você encontre alguma dificuldade, você poderá recorrer à aula
sobre soluções de Elementos de Química Geral, aula sobre transportes através
de membrana de Biologia Celular I e as aulas sobre os aparelhos circulatório e
excretor nos metazoários, particularmente mamíferos, da Introdução a Zoologia.
Corpo Humano I | Por onde circula o sangue?
A ÁGUA NO ORGANISMO
84 CEDERJ
ONDE FICA A ÁGUA NO NOSSO CORPO?
24
AULA
Se você perguntar ao seu vizinho onde podemos encontrar água
no corpo humano, ele provavelmente responderá que é no sangue e nas
veias! Certamente, esta é uma das formas como se apresenta a água.
A propósito, quando um leigo diz “veias” ele provavelmente está se
referindo aos vasos sangüíneos de maneira geral e não especificamente
às veias. Porém, onde mais tem água?
CEDERJ 85
Corpo Humano I | Por onde circula o sangue?
ATIVIDADE
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
86 CEDERJ
RESPOSTA COMENTADA
24
A primeira informação de que você precisa para fazer essa atividade é saber
AULA
o seu peso. Se você for homem o percentual de água é em torno de 60% e
se for mulher, 55%. Lembre-se das porcentagens do volume total que cabe
a cada um dos compartimentos: intracelular (2/3 do total) e extracelular
(1/3). Este último por sua vez inclui os compartimentos vascular(1/12 do
total, isto é, 1⁄4 X 1/3) , e intersticial, 3/12 do valor total). Verifique se você
fez os cálculos adequados, relendo o final da Introdução desta aula.
Os cálculos que fizemos fornecem apenas uma estimativa dos volumes dos vários
compartimentos líquidos. Estes volumes podem ser determinados experimentalmente
em uma pessoa.
Como determinar o volume de um compartimento se não posso esvaziá-lo e, se, além
disso, não apresenta uma forma geométrica definida? Uma técnica muito utilizada em
biologia baseia-se no principio da diluição. Vamos entender como é isso.
Você aprendeu em Química que a concentração de uma substância em solução representa
a quantidade dessa substância presente em uma unidade de volume da solução. Isto
se expressa assim:
Concentração = massa/volume, ou seja: C = m/vol. Se você conhecer dois dos três
parâmetros - concentração, massa e volume - poderá calcular o terceiro efetuando uma
única operação. Dessa forma, você poderia calcular a quantidade de uma determinada
substância contida em um certo volume de uma solução fazendo: m = C (concentração
da substância na solução) x volume (da solução).
Vamos então determinar o volume total de água no sangue de uma pessoa. Como
proceder? Precisamos apenas encontrar alguma substância que possa ser injetada em
quantidade conhecida na circulação, sem causar nenhum dano, e que seja capaz de
se distribuir homogeneamente por todo o seu sangue, e também que não saia do
compartimento vascular. Um método utilizado em laboratório consiste em retirar uma
amostra de sangue da pessoa, marcar (as hemácias) com uma substância radioativa
(por exemplo crômio-51) e medir a concentração (C1) da radioatividade dessa amostra.
A seguir, reinjetar na veia do paciente um volume conhecido (V 1) deste sangue
marcado, aguardar alguns minutos para que as hemácias marcadas se distribuam
homogeneamente por todo o compartimento vascular (isto é, pelo volume total de
sangue da pessoa), retirar uma nova amostra do sangue e medir a radioatividade (C2)
nessa nova amostra.
Como toda a radioatividade presente no sangue desta pessoa provém da amostra
injetada, e as hemácias não atravessam a parede dos capilares, permanecendo confinadas
ao compartimento vascular, podemos dizer que:
Vs = (V1 x C1)/C2
Observe que para utilizar este método é fundamental que o marcador utilizado
não seja tóxico, que não interfira no volume a ser medido, que fique confinado ao
espaço cujo volume se quer determinar e que ele não seja secretado nem removido
do compartimento em estudo, isto é, que todo o marcador injetado, e somente este
permaneça no compartimento em questão durante os procedimentos necessários para
a medida.
CEDERJ 87
Corpo Humano I | Por onde circula o sangue?
ATIVIDADE
88 CEDERJ
A barreira entre o compartimento vascular e o intersticial é a parede
24
dos vasos. A troca de líquidos entre estes dois compartimentos ocorre
AULA
através da parede capilar, local em que há, em condições normais, livre
trânsito de água e pequenas moléculas aí dissolvidas: íons inorgânicos
(como sódio, potássio, cálcio, magnésio, bicarbonato, cloreto, fosfato),
glicose, gases etc, mas não de moléculas maiores como a albumina
(proteína encontrada em maior concentração no plasma sangüíneo).
Na Aula 25, você conhecerá a estrutura desta parede. Observe que aqui
falamos de fluxo de solução que passa do compartimento com maior FILTRAÇÃO
energia potencial para aquele de menor energia potencial. A natureza Fluxo passivo
de solução do
dessa energia potencial será detalhada na Aula 29. Quando a solução compartimento
vascular para o
passa do compartimento vascular para o interstício, este fluxo é chamado interstício.
FILTRAÇÃO e quando é o inverso, do interstício para o compartimento
REABSORÇÃO
vascular, fala-se em REABSORÇÃO.
Fluxo passivo
Graças a esse permanente fluxo de líquido entre os compartimentos de solução do
interstício para o
vascular e intersticial, a composição do líquido intersticial é semelhante
compartimento
à do plasma, exceto no que se refere às proteínas retidas no compar- vascular.
timento vascular.
ATIVIDADE
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 89
Corpo Humano I | Por onde circula o sangue?
90 CEDERJ
A a b
24
AULA
B Meio
externo
C
Concentração de
nutrientes
Concentração de
nutrientes
Distância Distância
Figura 24.2. A: Organismo unicelular livre em meio aquoso: (a), a concentração de substância consumida pelo
organismo diminui no seu entorno; (b), substância produzida ou excretada pelo organismo; quanto mais perto
maior a sua concentração. As setas indicam o sentido do fluxo, dos locais de maior concentração para os de
menor concentração, por difusão. B: Numa colônia constituída por muitos seres unicelulares há pouca renovação
do meio na região central, pois a difusão através dos estreitos espaços entre os indivíduos é lenta. Isto pode
inviabilizar a vida dos indivíduos situados no centro da colônia, devido à escassez de nutrientes, como mostrado
pela linha grossa no gráfico da figura. A linha pontilhada indica o nível mínimo de nutrientes necessários no
meio para a manutenção das células. C: Esquema de um tecido com uma rede de capilares no espaço entre as
células, mantendo as concentrações de nutrientes em nível adequado no tecido todo.
CEDERJ 91
Corpo Humano I | Por onde circula o sangue?
92 CEDERJ
ATIVIDADE
24
4. Levando em conta as principais funções do aparelho circulatório, comente
AULA
duas conseqüências na vida de uma pessoa, cuja função circulatória tenha
sido reduzida abaixo do seu nível normal.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
__________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Se a pessoa tiver uma vida sedentária, com pouca atividade física e a redução
da função circulatória não for muito grande, ela pode não perceber nada
de anormal na sua vida quotidiana. Mas ao fazer um esforço físico, como
subir uma escada mais rapidamente do que o habitual, correr ou carregar
uma sacola de mercado um pouco mais pesada aparecerão sinais como: 1.
sensação de cansaço aos menores esforços; 2. sensação de falta de ar. Se
o comprometimento funcional for maior, esses sinais podem ocorrer mesmo
em repouso. Estes sintomas estão relacionados com o déficit de nutrientes
nas células e a falta de oxigênio nos tecidos.
Observe que neste caso, de nada adiantará a pessoa se alimentar mais
nem respirar oxigênio puro, porque muito provavelmente não há desnutrição
nem falta de oxigênio nos pulmões e nem no sangue arterial. O que há é
uma redução do transporte dos nutrientes e oxigênio até as células por
diminuição do fluxo sangüíneo para os tecidos devido ao comprometimento
do aparelho circulatório que não está sendo capaz de bombear sangue na
taxa necessária. Por isto, se for feita uma análise do sangue venoso, serão
observados diminuição tanto dos nutrientes como do oxigênio, e aumento
dos produtos excretados.
A situação só poderá ser revertida melhorando a função circulatória.
CEDERJ 93
Corpo Humano I | Por onde circula o sangue?
Aorta
(95mmHg)
94 CEDERJ
Vamos agora analisar o sistema formado pelo coração e pelos
24
CIRCULAÇÃO
vasos sangüíneos esquematizado na Figura 24.3. O sentido normal do PULMONAR
AULA
fluxo de sangue dentro do coração, é dos átrios para os ventrículos; Circuito que leva
o sangue venoso
não há comunicação entre o lado direito e esquerdo. Assim, os lados para os pulmões e
traz sangue arterial
direito e esquerdo do coração funcionam como duas bombas separadas.
de volta para o
O direito bombeia sangue para a CIRCULAÇÃO PULMONAR e o esquerdo, para coração.
96 CEDERJ
24
Por definição, o débito cardíaco (usualmente expresso em L/min) pode ser
calculado multiplicando-se o volume sistólico pela freqüência cardíaca ,
AULA
comumente expressa em batimentos por minuto (bpm):
DC=VS X fc
ATIVIDADE
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
______________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 97
Corpo Humano I | Por onde circula o sangue?
Tecido fibrosos
Composição
da parede
Endotélio
Tecido elástico
Músculo liso
Tecido fibroso
Figura 24.4: Representação esquemática da composição da parede e das dimensões de vários seg-
mentos da arvore vascular, destacando algumas regiões em particular: aorta, artérias, arteríola,
capilar, vênula, veia e veia cava.
98 CEDERJ
ARTÉRIAS
24
AULA
Qual é a principal função do sistema arterial? A cada contração, o
ventrículo esquerdo lança para a aorta um jato de sangue a uma pressão
que atinge 120 mmHg ou mais. Isso provoca a distensão da parede
da aorta que é elástica e cria um gradiente de energia que promove o
escoamento do sangue para a periferia. Durante a diástole, a parede da
aorta gradualmente retrai em direção ao seu estado de repouso. Com
isto, devolve a energia armazenada durante a sístole, e, com a válvula
aórtica fechada, o sangue continua fluindo para a periferia.
Neste processo, a pressão na aorta cai gradativamente até cerca de
80mmHg no final da diástole. Assim, as artérias, além de se constituirem em
condutos para a circulação do sangue, têm papel importante como reservatório
de pressão, transformando o fluxo pulsátil do sangue que sai do VE durante
a sístole, em um fluxo contínuo durante todo o ciclo cardíaco.
A pressão de 120 mmHg, valor máximo alcançado durante a
PRESSÃO SISTÓLICA
sístole ventricular, é chamada PRESSÃO SISTÓLICA (PS) ou máxima, e os 80 (PS)
mmHg alcançados ao final da diástole, é chamada PRESSÃO DIASTÓLICA Também chamada
pressão máxima, é
(PD) ou mínima. Verifica-se, assim, que a pressão sangüínea na aorta o maior valor que
oscila ciclicamente entre esses dois valores. Esse perfil pulsátil de pressão a pressão arterial
alcança durante
persiste em parte da árvore arterial, podendo alcançar amplitudes maiores o ciclo cardíaco,
coincidindo com
em alguns segmentos como a artéria femoral. A partir deste nível, é o pico da sístole
ventricular.
progressivamente atenuado de modo que nos capilares a pressão não
mais oscila ficando estável ao longo do tempo. Assim, o sangue chega PRESSÃO
aos capilares sistêmicos com uma pressão estável (não pulsátil) de cerca DIASTÓLICA (PD)
Também chamada
de 30 mmHg e um fluxo contínuo (não intermitente), diferente portanto,
pressão mínima,
do que acontece na raiz da aorta, o que torna a troca de fluidos nos é o menor valor
de pressão arterial
capilares um processo estável e contínuo. e coincide com o
final da diástole.
Outro papel muito importante das artérias é representado pelo
segmento arteriolar, principal local de regulação da pressão arterial,
devido a sua capacidade de variar o diâmetro da luz e, portanto, a
resistência oferecida ao fluxo de sangue.
CEDERJ 99
Corpo Humano I | Por onde circula o sangue?
CAPILARES
VEIAS
100 CEDERJ
24
ATIVIDADES
AULA
6. Uma característica importante da aorta e artérias de maior calibre é a
sua elasticidade. Discuta as conseqüências sobre o trabalho do VE, e sobre
as pressões sistólica e diastólica na aorta, se houver uma diminuição da
elasticidade da aorta.
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__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 101
Corpo Humano I | Por onde circula o sangue?
30
15
Figura 24.5: O gráfico superior mostra a área de secção transversa total da árvore
vascular. O gráfico inferior mostra a velocidade linear do sangue em cada segmento.
Observe que a velocidade é mínima nos capilares, onde a área de secção transversa
é máxima. Isto ocorre porque o fluxo é o mesmo em todos os segmentos.
102 CEDERJ
ATIVIDADE
24
8. Construir uma maquete com massinha ou papel maché representando
AULA
um canal estreito e fundo que ramifica em vários braços de mesma
profundidade e diâmetros variáveis e que depois juntam e dão origem
novamente a um único canal, com um diâmetro maior do que o inicial.
Dê uma pequena inclinação à sua maquete, com o canal mais estreito na
parte mais alta e alimente com água proveniente de uma torneira.
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__________________________________________________________________
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RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 103
Corpo Humano I | Por onde circula o sangue?
ATIVIDADE
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________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
104 CEDERJ
24
RESPOSTA COMENTADA
AULA
A porcentagem do fluxo que irriga cada órgão varia constantemente
dependendo da sua atividade, seu comportamento, estado emocional,
etc. Exemplo: se você está terminando um lauto almoço, a fração que
irriga o leito vascular do seu tubo digestivo e fígado deve aumentar
e a que irriga o músculo da perna diminuir. Se você está com muito
calor, deve aumentar a fração que irriga a pele em detrimento do fluxo
que vai para outras partes e assim por diante.
Para fins práticos de estudo de fluxo, define-se, para cada PRESSÃO MÉDIA
Valor de pressão
segmento vascular um valor único de pressão que represente a pressão que faz o mesmo
arterial pulsátil. Esse valor único de pressão é chamado PRESSÃO MÉDIA, trabalho feito pela
pressão arterial
atingindo cerca de 95 mmHg na aorta. que é pulsátil. Na
faixa de freqüência
O que acontece com a pressão média à medida que o sangue flui cardíaca normal, a
pelo leito vascular? Se você respondeu que ela vai caindo à medida que pressão média (PM)
pode ser calculada
o sangue escoa pelos vasos, você acertou (lembra-se da Figura 24.3?). da seguinte forma:
PM = (PS+2PD)/3
Esta queda reflete a dissipação de energia ao longo do trajeto, devido onde PS = pressão
sistólica, PD,
à resistência ao fluxo de sangue. Quanto maior a resistência oferecida
pressão diastólica.
por um dado segmento, maior a queda de pressão observada. Na Isto, porque a
diástole dura
Figura 24.6 você pode acompanhar como a pressão média diminui ao aproximadamente
2/3 do ciclo
longo da árvore vascular. Observe que a pressão diminui muito pouco cardíaco e
na aorta, até chegar às artérias, onde ocorre uma queda importante, a sístole, 1/3.
CEDERJ 105
Corpo Humano I | Por onde circula o sangue?
ATIVIDADE
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Punciona-se as veias por elas serem locais de baixa pressão (de 5 -10
mmHg). Nas artérias, onde a pressão média é de cerca de 90 mmHg, os
riscos de uma hemorragia são muito maiores.
106 CEDERJ
O coração contém nas suas cavidades, cerca de 5% do volume
24
total de sangue, quando em diástole. O restante se distribui na proporção
AULA
aproximada de 2/3 na circulação sistêmica e 1/3 na circulação pulmonar.
Esta proporção é mantida por uma série de fatores reguladores. Na
circulação sistêmica, observa-se que a maior parte do sangue está no
segmento venoso (vênulas e veias) que comporta cerca de 75%, cabendo
ao segmento arterial apenas 15% e aos capilares os 10% restantes.
Por isto diz-se que as veias são o reservatório de volume no aparelho
circulatório. Alguns órgãos, como o fígado e baço, constituem-se também
em reservatórios de sangue importantes.
Na circulação pulmonar, as veias também contêm um volume
maior de sangue, mas esta diferença é menor: 65% nas veias, 30% nas
artérias e 5% nos capilares.
ATIVIDADE
11. Quando você doa sangue em um banco de sangue são retirados 500 mL
de sangue. Diga qual desses segmentos - veias, artérias ou capilares - terá
seu volume diminuído nos primeiros momentos após a doação?
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
O segmento que terá seu volume diminuído nos primeiros momentos após a
doação, é o venoso, pois as veias constituem o reservatório de sangue.
CONCLUSÃO
CEDERJ 107
Corpo Humano I | Por onde circula o sangue?
ATIVIDADES FINAIS
Identifique:
2. o reservatório de volume;
3. o reservatório de pressão;
Indique:
7. o valor do fluxo em cada um dos três circuitos sistêmicos que você desenhou;
108 CEDERJ
24
RESPOSTA COMENTADA
AULA
VD
Aorta
Rim
Veia
renal Artéria
renal
Músculo
esqulético
Todos os demais
tecidos
Figura 24.7: Esquema da circulação sistêmica mostrando três leitos vasculares disp-
ostos em paralelo, identificando o circuito renal, o do músculo esquelético e todos
os demais tecidos representados em conjunto. Observe que o débito cardíaco se
divide nos três circuitos cabendo a cada um, uma fração do DC, conforme esta no
texto: 25% para a circulação renal e 20% para a musculatura esquelética. A soma
dos fluxos nos três circuitos deve totalizar o DC, que é de 6L/min. P: conexão com
o circuito pulmonar.
CEDERJ 109
Corpo Humano I | Por onde circula o sangue?
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
110 CEDERJ
24
RESUMO
AULA
- Em média, cerca de 60% do peso corporal do homem é água. 2/3 está no
compartimento intracelular 1/3 no extracelular. Deste último, 1⁄4 está no
compartimento vascular e 3⁄4 no interstício. Existe constante troca de líquidos
entre estes compartimentos.
- O aparelho circulatório no homem é fechado, composto de coração, vasos
sangüíneos e linfáticos. O coração é a bomba propulsora que joga sangue para o
sistema de vasos, que funcionam como vias de condução do sangue, mas não só.
Os vasos participam da regulação deste fluxo.
- A circulação pulmonar e sistêmica estão dispostas em série, o débito nos dois
circuitos sendo iguais.
- O sistema arterial é um reservatório de pressão (alta pressão) e o venoso (baixa
pressão), reservatório de volume.
- A velocidade de trânsito do sangue é maior na aorta e nas veias cavas e mínima nos
capilares, em função das diferenças das áreas de secção total destes segmentos.
- A pressão média da aorta é de 95mmHg e diminui em direção às veias cavas
(2 mmHg), sendo que as maiores quedas de pressão acontecem nas pequenas
artérias e arteríolas.
- A volemia no homem de 70 kg é de cerca de 5 litros, dos quais 5% está contido no
coração. Do restante, 2/3 fica na circulação sistêmica e 1/3 na circulação pulmonar.
Na circulação sistêmica, a maior fração, 75% fica nas veias, 15% nas artérias e
10% nos capilares. Na circulação pulmonar, 65% nas veias, 30% nas artérias e 5%
nos capilares.
CEDERJ 111
25
AULA
De Harvey a Noel Rosa, o
sangue que circula
Meta da aula
Descrever a localização e a estrutura externa e
interna do coração humano.
objetivos
Pré-requisito
Para um bom entendimento desse tema você deverá rever a Aula 24
(Organização Geral do Sistema Circulatório).
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
1. Coração
Artérias
2. Vasos sangüíneos Capilares
MEDIASTINO
Veias
Localiza-se na região 3. Vasos linfáticos
Timo
da cavidade do Baço
tórax, entre os dois 4. Órgãos linfáticos
Tonsilas
pulmões, no qual Linfonodos
5. Medula óssea vermelha
situam-se o coração Agregados linfóides difusos
e outras estruturas.
VENOSA
AMIGO É COISA PRA SE GUARDAR DO LADO ESQUERDO
Adjetivo relacionado
às veias, isto é, a DO PEITO. O CORAÇÃO!
qualquer vaso em que
o fluxo de sangue, em O coração é um órgão situado no MEDIASTINO e é responsável pelo
seu interior, se dirija
ao coração. movimento contínuo do sangue, criando um fluxo através dos vasos
sangüíneos. Pesa, em média, 280 a 340 g (no homem) e 230 a 280 g (na
ARTERIAL mulher). A cada minuto, com o indivíduo em repouso, bate 70 vezes por
Adjetivo relacionado
às artérias, ou seja, a
minuto (100.800 vezes por dia). Realiza um incessante bombeamento
qualquer vaso em que do sangue, transferindo-o de uma rede de chegada (VENOSA) e uma outra
o fluxo de sangue, em
seu interior, se afaste rede de saída (ARTERIAL). Além de atuar como uma bomba propulsora,
do coração.
o coração ainda produz um hormônio denominado FATOR NATRIURÉTICO,
114 CEDERJ
Essa função de bombeamento foi poeticamente retratada por
25
NOEL DE
NOEL ROSA, em 1932, com a música “Coração-Samba Anatômico”: MEDEIROS ROSA
AULA
“Coração/Grande órgão propulsor/Distribuidor do sangue venoso e (1910-1937)
Nascido no bairro de
arterial/.../ Não estás do lado esquerdo/Nem tampouco do direito/Ficas Vila Isabel, no Rio de
no centro do peito...” Janeiro, foi um dos
maiores compositores
Mas, afinal, o coração fica no “centro do peito”? ou, segundo da música popular
brasileira, embora
Noel, do lado esquerdo, como cantaram MILTON NASCIMENTO e FERNANDO tenha falecido
BRANDT, em “Canção da América”: “Amigo é coisa pra se guardar/Do ainda jovem. Em
1930, ingressou na
lado esquerdo do peito/Dentro do coração...”? Faculdade Nacional
de Medicina da
Na verdade, o coração fica no plano mediano do corpo, logo Universidade do
Brasil (atual UFRJ),
atrás do osso esterno, com uma maior parte de seu volume situada do
mas abandonou os
lado esquerdo do tórax. estudos dois anos
depois, envolvido
Na Figura 25.1, podemos ver o tórax aberto com o coração, com a boêmia e
com a música. Em
localizado no mediastino. 1932, compôs a
música “Coração-
Samba Anatômico”,
Pulmão esquerdo para registrar sua
Pulmão direito curta passagem pela
Medicina.
MILTON NASCIMENTO
Cantor e compositor
da música popular
brasileira, nascido no
Rio de Janeiro, em
1942, mas criado,
desde os dois anos de
Coração (mediastino) idade em Três Pontas,
Minas Gerais.
Músculo diafragma
FERNANDO BRANDT
Grande letrista da
Figura 25.1: Cavidade do tórax aberta mostrando, na linha média, o coração (no música popular
mediastino) e, de cada lado, os pulmões. O músculo diafragma separa as cavidades brasileira, parceiro de
torácica e abdominal.Fonte: www.sdmesa.sdccd.net Milton Nascimento em
vários sucessos. Nasceu
em Belo Horizonte,
MG, em 1946.
CEDERJ 115
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
Posterior
Miocárdio
Pulmão Pulmão
direito esquerdo
Pericárdio
parietal
(lâmina dupla)
Pericárdio
visceral
(epicárdio)
Anterior
116 CEDERJ
a artéria aorta destina o sangue para todo o corpo, excetuando a maior
25
parte dos pulmões que são supridos pela artéria pulmonar. As Figuras
AULA
25.3 e 25.4 mostram a morfologia externa do coração.
A. aorta
Base A. pulmonar
A. aorta V. cava superior
A. pulmonar
V. cava superior
V. E.
V. cava inferior
V. cava inferior
Ápice V. D.
Figura 25.3: Coração e os vasos da base Figura 25.4: Coração e os vasos da base
mostrados pela face anterior. A = átrio; V = mostrados pela face posterior. A = átrios; V =
ventrículo; D = direito; E = esquerdo. Fonte: ventrículos; D = direito; E = esquerdo. Fonte:
www.pimaheart.com www.pimaheart.com
!
O termo drenar significa remover e, daí, a drenagem dos tecidos é
uma função das veias. Em contrapartida, o termo irrigar significa:
levar água e nutrientes e, assim, a irrigação dos tecidos é um papel
desempenhado pelas artérias.
ATIVIDADE
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
CEDERJ 117
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
RESPOSTA COMENTADA
A. E. Septo interventricular
Septo interatrial
A. D. V. E.
Figura 25.5: Seção oblíqua do coração, mostrando
as camadas de sua parede, bem como a localização
dos septos interatrial e interventricular. A = átrio; V. D.
V = ventrículo; D = direito; E = esquerdo. Fonte:
www.healthopedia.com/ pictures/normal-heart.html
Epicárdio
Miocárdio
Endocárdio
118 CEDERJ
O músculo cardíaco (miocárdio) é um tipo de músculo estriado,
25
SINCÍCIO
formado por células individualizadas. No entanto, estas células Trata-se de um
AULA
apresentam conexões entre suas membranas (junções comunicantes ou tecido com variados
núcleos sem limites
junções “gap”), de tal forma que um estímulo aplicado a uma delas entre os citoplasmas.
Contudo, em um
provoca uma excitação de todas as outras, fazendo o miocárdio agir sincício funcional,
como uma unidade funcional (SINCÍCIO funcional). como o do
miocárdio, as células
são individualizadas,
Os termos pericardite, miocardite e endocardite são mas funcionam como
usados nos casos de inflamação em cada uma das um conjunto sincicial
camadas do coração. graças às junções
comunicantes entre
as suas celulas.
!
Os termos pequena e grande circulação, empregados para
designar as circulações pulmonar e sistêmica, respectivamente,
devem ser evitados, pela falta de consistência funcional.
A circulação pulmonar, por exemplo, mostra maior capacidade
de acumular volume de sangue do que a sistêmica.
CEDERJ 119
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
Cordoalha
coração tem um único sentido e isso é garantido pela
tendínea existência de sistemas valvares.
Os sistemas valvares do coração podem ser
observados na Figura 25.6.
Músculo
papilar Existem quatro VALVAS cardíacas que se
localizam entre os átrios e os ventrículos e entre os
Figura 25.6: Desenho de uma seção oblíqua
do coração revelando os quatro sistemas ventrículos e as artérias pulmonar (lado direito) e aorta
valvares. Fonte: my.webmd.com/content/
pages/9/1675 (lado esquerdo). As valvas entre átrios e ventrículos são
denominadas atrioventricular direita (ou tricúspide) e
atrioventricular esquerda (ou bicúspide ou ainda valva
VALVAS
mitral). As valvas entre os ventrículos e as artérias
Sistema de folhetos
situado entre átrios recebem os nomes das artérias (pulmonar e aórtica).
e ventrículos e entre
os ventrículos e as
grandes artérias que Chamamos de cúspide (ou de válvula) a cada uma das membranas
permite a passagem que constitui o corpo da valva. Na tricúspide e na bicúspide existem
do sangue no sentido três e duas cúspides, respectivamente. O termo mitral deriva de
fisiológico, mas Mitra, um ornamento que o Papa utiliza na cabeça, em grandes
impede o retorno eventos, e cuja forma se assemelha à da valva em questão.
sangüíneo.
MÚSCULOS PAPILARES Mas como as valvas abrem e fecham as passagens? Para que você
Cordões constituídos possa entender melhor, vamos reduzir o seu tamanho, caro aluno, e colocá-
por músculo
cardíaco, situados lo no interior da veia cava superior. Calma, estaremos acompanhando você
no interior dos
ventrículos direito com câmeras de TV e com uma seringa para resgatá-lo! Você repentinamente
e esquerdo, fixados é projetado em uma grande sala. Este é o átrio direito que está relaxando a
em suas paredes
internas e cuja parede para recebê-lo. Seja bem-vindo! A pressão no átrio aumenta, com
função é garantir que
as valvas tricúspide e a chegada do sangue. Quando essa pressão for maior do que a pressão no
mitral não virem ao
interior do ventrículo direito, o sangue vai se deslocar em direção à cavidade
contrário, mantendo
o fechamento. ventricular. Esse movimento vigoroso do sangue irá colidir com as cúspides
da valva tricúspide que assim se abrirão e lá vai você! Agora olhe a sua
CORDOALHAS
TENDÍNEAS volta. Você acabou de chegar ao ventrículo direito, parece uma caverna
Correspondem a cheia de troncos musculares em toda a volta, lembrando uma floresta bem
tendões dos músculos
papilares que se fechada. Esses troncos carnosos são os MÚSCULOS PAPILARES e repare que em
fixam nas bordas das
cúspides.
suas extremidades possuem finos tendões chamados de CORDOALHAS TENDÍNEAS
que se fixam às cúspides.
120 CEDERJ
Voltaremos a eles já. Aproveite e tire algumas fotos enquanto o
25
ventrículo está relaxado. Em um determinado momento, o ventrículo
AULA
direito começa a contrair, aumentando a pressão em seu interior até
o instante em que a pressão ventricular supera as pressões no interior
da artéria pulmonar e do átrio direito. Nesse momento, o sangue será
novamente projetado contra o orifício de saída da artéria pulmonar,
forçando a valva pulmonar a abrir. Mas, simultaneamente, o sangue
também será projetado de volta ao próprio átrio, forçando a valva
tricúspide a virar do avesso. Mas aí entram em ação os músculos papilares
e suas cordoalhas. A contração deste sistema trava as cúspides em uma
determinada posição de fechamento, impedindo que virem para o outro
lado. Se isso ocorresse, o sangue retornaria ao átrio e seria um “Deus
nos acuda”! Assim, com a vedação atrial garantida pelos músculos
papilares, só existe uma saída possível: a artéria pulmonar. A passagem
do sangue do ventrículo direito para a artéria pulmonar provoca uma
SÍSTOLE
queda na pressão dentro do ventrículo e um aumento na pressão dessa
Fase do ciclo do
artéria. Essa diferença de pressão pulmonar força o sangue de volta coração na qual o
ao ventrículo, colidindo com a valva pulmonar que, assim, se fecha. sangue é ejetado pelos
dois ventrículos para
E lá vai você, brejeiro e frajola, para o interior dos pulmões. Ao chegar aos o interior das artérias
correspondentes.
pulmões, você começara a escutar o som de um vento. O que é isso? O ar
que entra e sai dos alvéolos e que vai levar oxigênio ao sangue e remover DIÁSTOLE
parte do gás carbônico (CO2). Repare como o sangue a sua volta que era Fase do ciclo do
escuro (venoso) adotou a cor de um vermelho mais vivo (arterial). E ai, coração na qual o
sangue chega aos dois
zipt, zapt, zum! Lá vai você de novo para o interior de uma das quatro ventrículos, originado
dos átrios.
veias pulmonares (duas em cada pulmão). Já marejado de tanta viagem
você chega em uma nova sala: o átrio esquerdo. Ai todo o processo
que você passou no lado direito vai se repetir,
apenas com pressões muito maiores. O que A. pulmonar
isso significa? Eu temia que você perguntasse! Aorta
Prepare o capacete e as joelheiras que você
vai ser tornar uma bala de canhão e vai ser AE
jogado com muita força no interior da aorta, AD
CEDERJ 121
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
ATIVIDADES
122 CEDERJ
25
(A) Valva mitral aberta ( ) VD enchendo de sangue (diástole)
AULA
(B) Valva aórtica aberta ( ) Sangue impedido de retornar ao AD
RESPOSTA COMENTADA
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 123
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
ENDEMIA
Palavra de origem Não confunda hipertrofia do miocárdio normal com aumento
grega – Endemos – que do tamanho do coração. Existem situações, como a DOENÇA DE
significa “característica CHAGAS, que o coração mostra-se extremamente grande, mas o
de um povo, de uma miocárdio é ineficiente no bombeamento, por estar acometido
determinada região”. pela enfermidade.
124 CEDERJ
Veja a imagem de um coração com um corte Átrio esquerdo
25
Átrio direito
passando pelas quatro câmaras na Figura 25.8.
AULA
Pode-se ver, em um primeiro momento, que a
Ventrículo
espessura do miocárdio atrial é bem menor do que esquerdo
a do miocárdio ventricular, em ambos os lados do
coração. Isso significa que o esforço que os átrios
fazem para encher os ventrículos é pequeno, não
exigindo contrações muito fortes. O enchimento dos Ventrículo
direito
ventrículos faz-se pela entrada do sangue diretamente
Figura 25.8: Esquema de uma seção no coração
das veias, sem permanecer muito tempo nas cavidades
mostrando as diferenças de espessura das suas
atriais. A contração dos átrios contribui apenas com quatro câmaras. Fonte: www.healthopedia.com/
pictures/normal-heart.html
30% do enchimento final dos ventrículos e, por isso,
o seu miocárdio não contrai com muito vigor.
Já os ventrículos precisam ejetar o sangue para as artérias pulmonar
e aorta, cujas pressões são relativamente elevadas. Assim, para vencer a
resistência das artérias, os ventrículos precisam contrair com muito mais
força do que os átrios e, o seu miocárdio, é submetido a sobrecargas de
trabalho que leva a um aumento da massa muscular.
Agora veja: será que os dois ventrículos têm a mesma espessura?
Se você reexaminar a Figura 25.8, poderá perceber que a resposta é:
não! A parede do ventrículo esquerdo é muito mais espessa do que a do
ventrículo direito. Por quê? Será que a artéria aorta é mais resistente ao
enchimento sistólico do que a artéria pulmonar? E será que esta diferença
impõe esforços mecânicos desiguais nos dois ventrículos? E... quem sabe
essa seria a causa da diferença entre as duas massas ventriculares? É, quem
sabe? Pois, caro aluno, segure-se bem na cadeira para uma revelação: é
isso mesmo! Os ventrículos esquerdo e direito ejetam o mesmo volume
de sangue no interior das artérias aorta e pulmonar, respectivamente,
mas com diferentes pressões. Como a pressão no interior da aorta é
muitas vezes maior do que a pressão pulmonar, a pressão no ventrículo
esquerdo tem que subir muito mais do que a do ventrículo direito, e aí,
seu miocárdio trabalha com mais força. Eis a diferença!
Mas espere lá! Se a pressão no interior da artéria pulmonar é baixa,
em relação à pressão aórtica, o que ocorreria se houvesse um aumento
na pressão pulmonar e seu valor se aproximasse dos níveis da aorta?
O que você acha? Essa diferença de espessura entre os dois ventrículos
seria muito grande ou suas paredes teriam espessuras bem próximas?
CEDERJ 125
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
E isso seria normal? Vamos por partes. Se isso ocorresse é claro que as
duas paredes ventriculares seriam muito parecidas em espessura, pois
os regimes de trabalho não seriam muito diferentes. Mas isso ocorre
em pessoas normais? Sim, isso ocorre em duas situações fisiológicas nas
quais a pressão no interior da artéria pulmonar torna-se bem elevada: no
coração fetal e na adaptação do coração à vida nas grandes altitudes!
Como os pulmões do feto estão colapsados (maciços e sem ar),
a pressão pulmonar é elevada, pois os vasos que passam no interior
dos pulmões estariam mais fechados e com maior resistência. No caso
da altitude, a reduzida pressão de oxigênio na atmosfera, em regiões
elevadas, provoca modificações na parede da artéria pulmonar e de seus
ramos que leva a um aumento em sua pressão interna, exigindo maior
esforço do ventrículo direito em contrair e, assim, após algum tempo,
ocorrerá um aumento da espessura da parede desse ventrículo. Essas duas
condições normais produzirão uma reduzida diferença entre as espessuras
das paredes dos dois ventrículos. São duas situações fisiológicas na
adaptação humana a ambientes especiais. Assim, se perguntarem a você
qual das paredes do coração é mais espessa, responda, com ar de triunfo:
Depende! Estamos falando em quem? Você vai arrasar!
Analisando ainda as dimensões das cavidades do coração,
podemos observar que a maior espessura da parede ventricular esquerda
tem como conseqüência uma cavidade menor. O aspecto oposto pode
ser encontrado no ventrículo direito. Qual a relação entre o volume da
cavidade ventricular e o desempenho do coração como bomba? Pode-se
perceber que o ventrículo esquerdo é uma câmara com paredes espessas
e cavidade de pequeno volume e este padrão é bem adequado para
produzir pressões elevadas, ou seja, os níveis de pressão necessários ao
esvaziamento na aorta. Já o ventrículo direito revela um padrão oposto,
isto é, uma parede mais delgada e uma câmara com maior volume e,
por essas razões, ajusta-se como uma câmara de volume, armazenando
volumes maiores de sangue, mas gerando pressões mais baixas.
126 CEDERJ
25
ATIVIDADE
AULA
4. Dois pesquisadores da Academia Russa de Ciências Médicas,
Kolokol’chikova e Korol’kov, em 1976, realizaram um experimento no qual
colocaram ratos machos adultos, durante 20 dias (5 horas por dia), em uma
câmara especial que simulava as condições encontradas a 6000 metros de
altitude (baixa da pressão de O2) e compraram esses animais com outros
com as mesmas características, mas que não foram submetidos ao teste
na câmara (grupo controle). Verificaram que, após esse período, ocorreu
uma hipertrofia no ventrículo direito dos animais testados em relação ao
grupo de controle. Cerca de 40 dias após o experimento ter encerrado, a
massa muscular do ventrículo direito dos animais testados e do grupo de
controle foi semelhante, como ocorrera antes de iniciado o experimento.
Pede-se que você explique por que houve esta hipertrofia e por que motivo
o processo foi desfeito 40 dias depois de cessado o estímulo.
____________________________________________________________
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RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 127
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
Artéria coronária
Artéria aorta
esquerda
Artéria circunflexa
Artéria
pulmonar
Artéria
interventricular
anterior Figura 25.9: Vista anterior do coração
com as artérias coronárias e seus princi-
pais ramos. Observe que as artérias são
sempre acompanhadas por veias. Fonte:
www.your-doctor.net
Artéria
coronária
direita
Artéria
pulmonar AE Veia cava superior
AD
Artéria
circunflexa Veia cava
inferior
Artéria coronária
direita
128 CEDERJ
A entrada do sangue nas artérias coronárias ocorre, predomi-
25
ISQUEMIA
nantemente, durante a diástole, pois na sístole o miocárdio contrai Consiste na presença de
AULA
e há alguma dificuldade para o sangue penetrar em parede. uma sensação dolorosa,
em qualquer tecido,
A posição dos orifícios de entrada das artérias coronárias, no interior das quando a oferta de
oxigênio é reduzida
cavidades das válvulas aórticas, também dificulta a entrada do sangue a níveis críticos. As
durante a sua passagem na sístole. alterações bioquímicas
decorrentes dessa
Qualquer obstáculo que impeça a nutrição do miocárdio (como uma deficiência liberam, no
tecido, substâncias que
obstrução por placa de gordura ou por um coágulo no interior da artéria estimulam receptores
de dor. Quando
coronária ou em um de seis ramos) pode desencadear uma deficiência de
ocorre no coração, a
oxigenação e, conseqüentemente, um sofrimento do tecido, com perda situação é conhecida
como angina de peito
da capacidade de bombeamento e comprometimento da circulação. Isso (angina = dor). Não há,
contudo, morte celular,
é que se chama de ISQUEMIA ou de INFARTO DO MIOCÁRDIO. mas apenas sofrimento
transitório. Na
linguagem coloquial, a
INFARTO (OU ENFARTE) isquemia do miocárdio
é impropriamente
Consiste na existência de morte celular decorrente da referida como
falta de oxigênio oferecido ao tecido. Quando ocorre no “princípio de infarto”.
coração é conhecida como infarto do miocárdio, o que na
linguagem leiga é chamada de “ataque do coração”.
ATIVIDADE
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RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 129
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
Nó sinoatrial
Tronco
atrioventricular
(feixe de His)
Feixes Internodais
Ramo esquerdo
130 CEDERJ
O REITOR VAI ME CHAMAR E AGORA? ACELERA MARCA-
25
PASSO!
AULA
Contudo, a atividade do marca-passo cardíaco confere ao coração
uma freqüência fixa, ou seja, se deixássemos por conta dele, nosso coração
ficaria “batendo” 70 vezes por minuto. E quando nos emocionássemos
ao receber o diploma de formatura? E quando estivermos correndo?
INERVAÇÃO
E quando estivéssemos dormindo serenamente? Será que essa freqüência AUTÔNOMA OU
fixa seria adequada? É claro que não, ela seria insuficiente quando SISTEMA
estivéssemos em momentos de estresse e seria excessiva no repouso Nervoso Autônomo
– grupos de neurônios
restaurador. Prepare seu coração para essa revelação: o marca-passo responsáveis pelo
controle da função
não previu isso! E agora, o que fazer? Como o organismo resolveu esse das vísceras.
problema? Rápido, o Reitor já vai chamar meu nome! Tenho que acelerar.
DIVISÕES SIMPÁTICA
Calma, caro aluno. Para que o coração seja acelerado em sua atividade E PARASSIMPÁTICA
motora, preparou-se uma estratégia: os nervos! Sim, o coração é suprido Componentes do
sistema nervoso
com uma inervação autônoma, isto é, existem AS DIVISÕES SIMPÁTICA e
autônomo que, em
PARASSIMPÁTICA do SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO (SNA) que liberam no coração grande parte dos
casos, mostram
a NORADRENALINA e a ACETILCOLINA, respectivamente, em caso de necessidade. efeitos opostos.
E o que esses transmissores fariam no coração? Teriam alguma ação
NORADRENALINA
sobre o marca-passo? Isso mesmo! O sistema simpático age acelerando
Neurotransmissor
o ritmo do marca-passo e, assim, a freqüência cardíaca aumenta e, desse liberado nas vísceras
pelos neurônios
modo, você poderá correr e receber, enfim, o seu merecido diploma pós-ganglionares da
divisão simpática do
lá no palco do teatro. Parabéns! E, com a sensação serena do dever
SNA e por células
cumprido, você poderá, enfim, dormir à noite, o sono dos justos, pois o secretoras da
medula da glândula
parassimpático, agindo no seu marca-passo, vai desacelerá-lo, reduzindo supra-renal.
a freqüência. Então, revendo essa questão, os neurônios não originam os
ACETILCOLINA
sinais elétricos. Essa é uma função do marca-passo. Mas o marca-passo
Neurotransmissor
não pode variar a freqüência. Essa é uma função dos neurônios! liberado nas
vísceras pelos
Além dos efeitos dos neurônios simpáticos e parassimpáticos neurônios pós-
ganglionares da
sobre o marca-passo, o organismo conta, ainda, com a ADRENALINA ea
divisão paras-
noradrenalina, liberadas, no sangue, pela secreção da glândula supra- simpática do SNA.
CEDERJ 131
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
ATIVIDADE
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
__________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
132 CEDERJ
A. carótida externa
25
A. carótida interna
V. jugular interna
AULA
A. carótida comum
V. subclávia A. Subclávia
Coração
V. auxilar
A. auxilar
V. cefálica
A. aorta
V. braquial
A. braquial
V. basílica A. renal
V. mediana do cotovelo A. ilíaca comum
V. renal A. ilíaca interna
V. ilíaca externa
A. ilíaca externa
V. femoral
A. femoral profunda
V. poplítea
A. femoral
A. poplítea
A. safena parva
A. tibial
A. dorsal do pé
Figura 25.12: Principais artérias e veias (da circulação sistêmica) do corpo humano, mos-
trando que, de maneira geral, as veias acompanham as artérias tendo as mesmas denomi-
nações. Fonte: www.med.umich.edu
CEDERJ 133
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
Em pessoas vivas é possível estudar o coração, bem como os vasos sangüíneos, sem perfurar o
corpo ou colocar a pessoa, de alguma forma, em risco: trata-se do estudo com ultra-som. Ondas
sonoras inaudíveis são emitidas e, em seguida, captadas por um aparelho que constrói, na tela
de um computador, as imagens estáticas e dinâmicas do sistema circulatório, permitindo que se
realizem estudos anatômicos e fisiológicos.
O chamado efeito color-doppler introduz uma cor à imagem do sangue e informa sobre a
direção e o sentido do fluxo sangüíneo. O exame é também chamado de Eco (porque a imagem
é formada pela reflexão do som em uma superfície) e pode ser realizado para o estudo de outros
sistemas do organismo.
Mas que tipos de tecido estão presentes na parede das artérias? Vamos examinar
a Figura 25.13.
Tunica adventitia
Tecido conjuntivo
Tunica intima
Endotélio
Tunica media
Figura 25.13: Esquema de uma seção transversal de uma artéria com as camadas de sua parede.
Fonte: http://www.lab.anhb.uwa.edu.au/.anhb.uwa.edu.au/mb140/CorePages/Vascular/Vascular.htm
25
ou seja, as arteríolas (arteríolas = pequenas artérias), apresentam uma A variação de calibre de
AULA
um vaso, independente
determinada quantidade de músculo liso em sua camada média. Como da sua natureza ativa
esses músculos podem contrair e relaxar, o calibre dessas artérias pode (músculo liso) ou passiva
(tecido elástico), influencia
aumentar ou diminuir e, assim, surgem os termos vasodilatação e tanto a pressão quanto
o fluxo sangüíneo no
vasoconstricção, respectivamente. Contudo, nas artérias maiores, a interior desse vaso.
camada média é de natureza elástica e, daí, a variação de calibre ocorre,
mas é de natureza passiva, por estiramento e recolhimento elástico.
CEDERJ 135
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
ATIVIDADE
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
ESFIGMOMANÔMETRO __________________________________________________________
Aparelho usado __________________________________________________________
para medir a pressão
arterial. A palavra
vem do grego e RESPOSTA COMENTADA
significa: esfigmo =
pulso; manometria = Antes de escrever a sua resposta, libere o coitado do voluntário do sofrimento,
medir a pressão.
soltando o ar do aparelho e dando a ele uma chance de voltar para casa,
levando o braço junto! Agora vamos à resposta!
Quando você insuflou o ar no interior do manguito, a elevada pressão no
aparelho superou tanto a pressão arterial quanto a venosa e, assim, artérias
e veias do braço ficaram comprimidas e o fluxo do sangue de e para porções
mais distantes do membro superior, pelas artérias e veias, respectivamente,
ficou impedido, por alguns segundos. A dor e a dormência, assim como o
desaparecimento do pulso radial, podem ser explicados pelo bloqueio do fluxo
arterial. A vermelhidão e a dilatação das veias são sinais de um bloqueio no
retorno do sangue venoso.
136 CEDERJ
OLHANDO NO MICROSCÓPIO
25
AULA
Na Figura 25.14 pode-se observar um esquema simplificado da
microcirculação.
Artérias
Veia
Vênula
Metarteríolas
Capilares
Arteríolas
Vênula
Anastomose
arteriovenosa Figura 25.14: Esquema da microcircula-
ção. Observe a localização dos esfíncteres
Esfíncteres pré-capilares que controlam a entrada
ou não do sangue no leito capilar. Fonte:
www.bg.ic.ac.uk
Pré-capilares
CEDERJ 137
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
138 CEDERJ
uma dilatação venosa. Este processo, se mantido algum tempo, afasta
25
as válvulas (uma da outra) e reduz a sua eficiência, permitindo que
AULA
o sangue possa retornar de onde veio. Em segundo lugar, ocorre um
aumento na pressão do sangue no interior das veias que se propaga
até as vênulas e aos capilares, podendo ocorrer acúmulo de líquido no
intestino levando à inchação ou edema. Persistindo a anomalia pode
haver comprometimento das trocas de substâncias no nível do capilar
podendo levar à morte da células.
ATIVIDADE
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_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 139
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
Capilares linfáticos
Arteríola Vênula
Fluxo linfático
Vasos linfáticos
140 CEDERJ
25
Uma extensa rede de capilares linfáticos está situada
superficialmente, logo abaixo da pele, na hipoderme, e por essa
AULA
razão as substâncias que devem ser absorvidas pelos capilares
linfáticos são injetadas superficialmente sob a pele, usando uma
agulha fina e curta.
chama de “íngua”.
CEDERJ 141
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
Timo
É uma estrutura situada no interior do tórax de crianças, em
contato com o coração e, principalmente, com os vasos da base, e que
desaparece até a adolescência. Sua função é o reconhecimento de todas as
substâncias existentes no organismo do indivíduo (self). Muitos linfócitos,
produzidos na medula óssea vermelha, entram no ambiente tímico e
sofrem processos de diferenciação constituindo clones de linfócitos T
(Tímicos) que vão povoar o sistema linfático para o resto da vida. Os
linfócitos que não passam por este processo formam clones de linfócitos
B que têm outras funções (como a produção de anticorpos). A defesa
do organismo depende de uma complexa interação entre os linfócitos T
e B. Como aparecerão em Imunologia. Na Figura 25.18, pode-se ver a
localização e a estrutura do timo.
Córtex
Medula
Timo
Septos
Baço
Como mostra a Figura 25.19, o baço é um órgão situado
no abdome, à esquerda e atrás do estômago, apresentando grande
importância na defesa orgânica, pela presença, em sua estrutura de
linfócitos e macrófagos. Apresenta, ainda, a função de controlar
a qualidade das células sangüíneas. Células sangüíneas antigas ou
defeituosas são destruídas pelo baço.
142 CEDERJ
25
AULA
Veia
Artéria
Polpa branca
Polpa vermelha
Baço
Amígdalas
São estruturas com o formato ovalado, situadas
na entrada da faringe e do sistema respiratório, como se
Palato
pode observar na Figura 25.20. Em sua estrutura estão
situadas as células de defesa do nosso organismo que Amígdalas
CEDERJ 143
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
ATIVIDADES FINAIS
1. Faça um breve resumo a respeito das vias (vasos da base) que fazem o sangue chegar
e sair do coração, especificando as regiões do corpo supridas por essas vias.
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RESPOSTA COMENTADA
2. Descreva como o sangue chega aos átrios e passa para os ventrículos e daí para
as grandes artérias, bem como o comportamento das valvas (abrindo e fechando).
Utilize os termos sístole e diástole em sua descrição.
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_______________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
144 CEDERJ
3. Examinando uma seção longitudinal de um coração adulto normal, podemos
25
observar que o miocárdio atrial é mais delgado do que o ventricular e que a
AULA
parede do ventrículo esquerdo é mais espessa do que a do ventrículo direito. Por
que existe essa diferença de espessura da parede dessas câmaras?
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RESPOSTA COMENTADA
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RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 145
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
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RESPOSTA COMENTADA
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RESPOSTA COMENTADA
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RESPOSTA COMENTADA
146 CEDERJ
AUTO-AVALIAÇÃO
25
AULA
Como você pode estudar, a circulação de substâncias no nosso corpo, pelo interior
dos vasos e bombeado pelo coração, possibilita, dentre outras coisas, que os
sistemas orgânicos sejam integrados harmonicamente, da mesma forma que
você estudou em relação aos neurônios. Assim, qualquer interferência no fluxo
de substâncias pelos vasos comprometerá a nutrição de determinado tecido que
poderá morrer.
MOMENTO PIPOCA
SITES RECOMENDADOS
CEDERJ 147
Corpo Humano I | De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula
148 CEDERJ
Coração: O que tem a ver
26
AULA
com eletricidade?
O coração elétrico
Metas da aula
Introduzir o estudo da atividade elétrica no
coração, relacionando com a morfologia
do coração estudada na Aula 25 e discutir a
sua importância na função cardíaca.
objetivos
Esperamos que, após estudar esta aula, você seja capaz de:
• explicar por que o coração pode continuar a contrair espontaneamente,
mesmo fora do corpo;
• explicar por que o coração pode ser considerado um sincício funcional;
• identificar os dois tipos de potencial de ação no coração, relacionando-os
com as estruturas onde eles ocorrem;
• distinguir as fases dos PAs cardíacos, os principais fluxos iônicos associados
a estas fases e a função destas fases na fisiologia do coração;
• compreender como um agente externo pode regular a freqüência cardíaca;
• reconhecer o papel da bomba sódio-potássio para o funcionamento normal
do coração;
• identificar as ondas do eletrocardiograma humano normal e correlacioná-las
com a seqüência de propagação da despolarização e da repolarização nas
câmaras cardíacas;
• identificar o ritmo cardíaco normal em um eletrocardiograma.
Pré-requisitos
Se você tiver alguma dificuldade em acompanhar esta aula, dê
uma olhada nas seguintes aulas: Biologia Celular I, Aula 2, Biologia
Celular II, Aulas 2, 6 e 10, e Corpo Humano I, Aula 21, além das aulas
anteriores de aparelho circulatório.
Corpo Humano I | Coração: O que tem a ver com eletricidade? O coração elétrico
INTRODUÇÃO Quem nunca sentiu as batidas do próprio coração? Você já pensou que, mesmo
quando não se dá conta, ele está sempre batendo? A cada batimento o coração
joga sangue, sem descanso, para uma extensa rede de vasos, ao longo de toda
a sua vida. Você já parou para pensar como isto acontece?
Se você observasse um coração humano trabalhando em câmera lenta, veria
que ele vai aumentando de tamanho à medida que suas câmaras vão recebendo
sangue até que, em um dado momento, os dois átrios e, logo depois, os dois
ventrículos contraem-se vigorosamente. Após a contração, átrios e ventrículos
relaxam, pouco a pouco, enchendo-se de sangue outra vez, repetindo a mesma
seqüência de eventos.
Como esse padrão se mantém, minuto após minuto, por toda a vida? Quem
comanda esses eventos?
É o que veremos a seguir.
150 CEDERJ
com a segunda maior freqüência intrínseca, assume o comando, e assim
26
sucessivamente com os demais marca-passos. Por isso, o coração é dotado
AULA
de automatismo e continua funcionando mesmo fora do corpo.
CEDERJ 151
Corpo Humano I | Coração: O que tem a ver com eletricidade? O coração elétrico
152 CEDERJ
ATIVIDADE
26
1. Vamos imaginar que um grupo de células ventriculares de trabalho do
AULA
seu coração adquiriu, por um instante, as propriedades de marca-passo,
isto é, tornou-se capaz de gerar impulsos elétricos em uma freqüência
maior do que os marca-passos normais. O que acontecerá com o ritmo
do seu coração? Procure responder as seguintes perguntas:
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________________________________________________________________
________________________________________________________________
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RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 153
Corpo Humano I | Coração: O que tem a ver com eletricidade? O coração elétrico
26
REPOUSO
Diferença de potencial
AULA
Todas as células apresentam um POTENCIAL DE REPOUSO que pode ser transmembrana (entre
o citoplasma e o meio
medido com dois eletródios e um GALVANÔMETRO fechando o circuito. extracelular), que existe
em todas as células.
Na Figura 26.2, em A-I, os dois eletródios estão colocados na O interior da célula é
negativo em relação
solução externa onde se encontram as células miocárdicas. Como o ao meio externo.
potencial eletroquímico nos dois pontos da solução externa é o mesmo, O potencial de repouso
tem valores variados,
o galvanômetro não registra diferença de potencial, isto é, indica 0 mV, dependendo do tipo de
célula, e varia de –20 a
como mostrado no traçado inferior em B-I. Em A-II, um dos microeletródios –30 mv até –90 a –95
mV, sendo o citoplasma
foi inserido na célula. O outro eletródio é mantido sempre fora da célula negativo em relação ao
meio extracelular.
e é chamado eletródio de referência. Agora, o galvanômetro registra
uma diferença de potencial negativa (perto de –80 mV, veja em B-II) no GALVANÔMETRO
Equipamento que
eletródio intracelular em relação ao eletródio de referência. Este potencial permite medir diferença
corresponde ao potencial de repouso da célula. de potencial elétrico
entre dois pontos em
Em A-III, o disparo de um POTENCIAL DE AÇÃO (PA) promove um circuito elétrico.
As células excitáveis
extracelular. Veja em B-III, no traçado inferior. Diz-se que houve uma – como, por exemplo,
DESPOLARIZAÇÃO; o potencial intracelular chega a valores que vão de +20 a células musculares e
nervosas – quando
+40mV no músculo ventricular. Ao cabo de algum tempo não só cessa a estimuladas,
respondem ao
entrada, mas começa a saída de íons com carga positiva (A-IV). Com isto, estímulo com uma
alteração transitória
gradualmente se restabelece a negatividade do potencial no interior da do potencial de
repouso, chamada
célula (B-IV). Diz-se que ocorre uma REPOLARIZAÇÃO quando o potencial de potencial de ação.
O potencial de
repouso é restabelecido (veja em A-V, e também em B-V, que o potencial ação tem um curso
temporal definido
transmembrana voltou ao mesmo valor de B-I). e estereotipado,
com amplitude e
O traçado mostrado na Figura 26.2.b representa o potencial de durações definidas
e reprodutíveis,
ação dos cardiomiócitos de trabalho, tanto atriais quanto ventriculares, e característico para
também, do feixe de His e das fibras de Purkinje. Entre elas, há diferenças cada tipo celular.
Tabela 26.1
Concentração Concentração
Íon
extracelular mM intracelular
Na+ 145 10
K+ 4 135
Ca++ 2 ~ 10 – 4
156 CEDERJ
Um fator importante na determinação da taxa de despolarização da fase
26
0 é o valor do potencial de repouso. Quanto mais negativo o potencial de
AULA
repouso, mais canais de sódio são abertos no momento da estimulação,
logo mais rapidamente acontece a despolarização e, conseqüentemente,
maior a velocidade de condução.
b. A seguir, observa-se uma rápida e curta repolarização, fase 1,
que leva até a fase de platô.
c. Fase 2, também chamada platô, característico dos PAs cardíacos,
durante o qual há influxo de cálcio pelos canais de cálcio tipo L. Este
cálcio tem papel fundamental para dar início à contração, como veremos
na próxima aula.
d. O platô é terminado por uma repolarização final (fase 3) que
leva o potencial transmembrana em direção ao potencial de repouso,
graças ao grande efluxo de potássio pelos canais de potássio.
EXCITABILIDADE
e. Finalmente, termina o PA, restabelecendo-se o potencial de
Neste contexto, este
repouso, fase 4, que nestas células, é de -80 a -90 mV (negativo no interior termo está sendo
utilizado como a
da célula), graças a um tipo particular de canal de potássio. É fundamental capacidade da célula
que o potencial de repouso seja mantido negativo, pois ele determina a de responder a um
estímulo, produzindo
EXCITABILIDADE do miocárdio. Quanto menos negativo o potencial de repouso, um potencial de ação.
a b
Figura 26.3: Potenciais de ação cardíacos: (a) Potencial de ação típico do coração (massa muscular e tecido de
condução ventricular) destacando as diferentes fases. (b) Potencial de ação lento de uma célula marca-passo
do nódulo sinoatrial.
CEDERJ 157
Corpo Humano I | Coração: O que tem a ver com eletricidade? O coração elétrico
ATIVIDADE
RESPOSTA COMENTADA
158 CEDERJ
é muito menor do que a de sódio que entra durante a fase 0 do PA da
26
musculatura de trabalho. Por isto, a fase 0 do potencial de ação do NSA
AULA
e NAV é muito mais lenta e o PA tem menor amplitude (pico ˜ +10 mV),
sendo estes potenciais chamados potenciais lentos. Eles se propagam mais
lentamente do que os potenciais de ação da musculatura de trabalho e dos
tecidos de condução ventriculares. Observe, também, que nessas células
não existe o platô, tão característico do PA do miocárdio de trabalho.
POTENCIAL DIASTÓLICO
A fase 3, ou fase de repolarização, é causada pela saída de potássio da MÁXIMO (PDM)
célula trazendo o potencial de membrana para um máximo de negatividade O valor mais negativo
da fase 4 nas células
(POTENCIAL DIASTÓLICO MÁXIMO), que no nó sinusal é de cerca de -60 mV. marca-passo, ao final
A partir daqui, repete o ciclo começando com a fase 4. do PA precedente.
!
Lembre-se de que o canal de sódio é responsável pela
despolarização do potencial de ação rápido e o canal de
cálcio pela despolarização do potencial de ação lento.
Além disso, o potencial de ação das células marca-passo
não apresenta as fases 1 e 2.
ATIVIDADE
__________________________________________________________________
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___________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 159
Corpo Humano I | Coração: O que tem a ver com eletricidade? O coração elétrico
Figura 26.4: Esquemas de registro de dois ciclos sucessivos de PA do marca-passo sinusal, mostrando situações
de aumento e diminuição de freqüência cardíaca.
160 CEDERJ
Na Figura 26.4 você pode ver como isso acontece. Em A, o traçado
26
(a) apresenta dois ciclos de potenciais de ação marca-passo em condições
AULA
basais. O traçado (b) mostra que a aplicação da adrenalina (que é ao mesmo
tempo um hormônio secretado pela supra-renal e o neurotransmissor do
sistema simpático), leva a uma aceleração da fase 4, fazendo com que
o limiar seja alcançado em menos tempo diminuindo o intervalo entre
potenciais de ação sucessivo; com isto, aumenta a freqüência cardíaca. Em
contraste, veja no traçado (c) como a acetilcolina, o neurotransmissor do
sistema parassimpático, torna muito mais lenta a despolarização diastólica,
fazendo com que aumente o intervalo entre dois PA sucessivos, diminuindo
assim a freqüência de disparo do marca-passo.
Portanto, variar a taxa de despolarização da fase 4 é uma das
formas de variar a freqüência cardíaca.
De que outras formas se pode variar a freqüência cardíaca?
Observe a Figura 26.5.B. Ela mostra as duas outras alternativas.
Uma das possibilidades é, a partir da situação basal em (b), alterar o
valor do potencial limiar (PL), mantendo constante a taxa de despolarização
diastólica da fase 4. Se o limiar se deslocar para potenciais mais negativos
(PL1), na Figura 26.4.B, a freqüência aumenta (a), e se deslocar para valores
mais positivos demoraria mais para que o limiar de disparo do PA seja
alcançado e, portanto, diminuirá a freqüência de disparo.
A terceira forma é alterar o potencial diastólico máximo (PDM). TAXA DE
Com os demais parâmetros (taxa de despolarização diastólica e o DESPOLARIZAÇÃO
DIASTÓLICA LENTA
potencial limiar) mantidos constantes, tornando o PDM mais negativo,
(FASE 4)
diminui a freqüência de disparo (leva mais tempo para alcançar o limiar). Inclinação da fase
Veja na Figura 26.4.B, o traçado (c). O inverso acontece se o PDM for 4 do potencial de
células marca-passos.
mais positivo.
POTENCIAL LIMIAR
Os três fatores, taxa de despolarização diastólica lenta (fase 4),
Potencial a partir do
potencial limiar e nível do potencial diastólico máximo podem ser alterados
qual é deflagrado o
de diferentes formas. A freqüência de disparo resulta da combinação final PA (começa a fase 0).
desses parâmetros.
CEDERJ 161
Corpo Humano I | Coração: O que tem a ver com eletricidade? O coração elétrico
ATIVIDADE
4. Quando você leva um susto, seu coração dispara. Agora que você
aprendeu como é regulada a freqüência cardíaca, enumere as etapas que
levam ao aumento da freqüência cardíaca.
________________________________________________________________
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_______________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
162 CEDERJ
No caso do Na+ e do K+, existe, na membrana plasmática, um
26
transportador ativo, chamado bomba de Na/K, uma ATPase que, à
AULA
custa de energia metabólica, remove o excesso de sódio do citoplasma
e repõe o potássio. Para o cálcio, existem outros mecanismos que serão
mencionados na próxima aula.
O que acontece no caso hipotético de a Na+/K+- ATPase parar
de funcionar ou diminuir a atividade? O citoplasma apresentaria um
acúmulo progressivo de Na+ e perda progressiva de K+, com conseqüente
redução das diferenças de concentrações destes íons nos meios intra e
extracelular. Esta redução leva à diminuição do potencial de repouso da
célula (menos negativo), tornando-a cada vez menos excitável.
!
Atenção! O ECG é o registro da atividade cardíaca
obtido na superfície do corpo. É, portanto, um registro
extracelular, diferente do registro do potencial de ação,
que é um registro intracelular.
CEDERJ 163
Corpo Humano I | Coração: O que tem a ver com eletricidade? O coração elétrico
Átrio b
Figura 26.5: Esquema mostrando a seqüência de ativação do coração e a sua relação com as principais ondas do
eletrocardiograma. As setas claras sobre o coração indicam o sentido de propagação do PA a partir do nó sinusal
em direção aos ventrículos. O registro (a) foi obtido em uma célula do nó sinusal; o registro (b), em uma célula
atrial; o (c), no nó atrioventricular; o (d), em uma fibra de Purkinje e o (e), em uma célula ventricular. O registro
(f) é o eletrocardiograma (ECG). O eixo horizontal é uma escala de tempo e é a mesma para todos os traçados.
O eixo vertical é uma escala de voltagem.
164 CEDERJ
Continue a deslizar o esquadro e verá que, alguns milissegundos depois,
26
aparecerá o PA do átrio (b), um pouco depois, o do nó AV (c), algum
AULA
tempo depois o PA das fibras de Purkinje (d) e, finalmente, do músculo
ventricular (e). Esta é exatamente a seqüência de ativação normal que
acabamos de aprender.
Agora, vamos imaginar que ao mesmo tempo que os registros
intracelulares estavam sendo feitos, fizemos também o registro do ECG.
O resultado está mostrado em (f). Vamos agora voltar com o esquadro
até a estaca zero e repetir o exercício anterior de deslizá-lo para a direita
e, desta vez, observar a relação temporal entre os PAs e as ondas do ECG.
A primeira onda que aparece no ECG é lenta e de baixa amplitude e é
chamada onda P. Observe que a fase 0 (despolarização) do PA atrial coincide
com a onda P. A segunda onda do ECG é mais rápida e de maior amplitude
e é chamada “complexo QRS”. Verifique com quais potenciais de ação ele
coincide no tempo. O complexo QRS coincide com a despolarização do
músculo ventricular e também das fibras de Purkinje. Finalmente, a onda
mais lenta do ECG aparece coincidente com a repolarização ventricular
e das fibras de Purkinje e é chamada onda T.
Podemos então inferir que a onda P do ECG representa o
processo de propagação da despolarização nos átrios, o complexo QRS,
a propagação da despolarização ventricular e a onda T, o processo de
repolarização ventricular.
Não se mencionam as fibras de Purkinje quando se trata das
ondas ventriculares, complexo QRS e T, porque a massa ventricular é
infinitamente maior do que a das fibras de Purkinje, ficando o seu sinal
encoberto pelo sinal ventricular no ECG convencional.
Vocês devem ter sentido falta, no ECG, dos sinais relativos aos PAs
dos nós sinusal e atrioventricular e também do feixe de His (cujo PA não
está mostrado nesta figura). Pois bem, a razão da ausência de qualquer
onda no ECG associada a esses eventos é a mesma dada para as fibras
de Purkinje: a massa de tecido nestas estruturas e o tipo de PA (lento,
no caso dos dois nós) fazem com que os sinais por elas gerado no meio
extracelular seja muito pequeno para ser detectado no ECG.
Visto isso, torna-se claro por que a seqüência de aparecimento
destas ondas, as suas amplitudes e durações, bem como os tempos que
as separam, dão informações sobre o processo de ativação do coração.
CEDERJ 165
Corpo Humano I | Coração: O que tem a ver com eletricidade? O coração elétrico
166 CEDERJ
Assim, é possível tirar conclusões sobre o ritmo cardíaco e a
26
seqüência de ativação analisando um único traçado. No entanto, o ECG
AULA
pode fornecer muito mais informações, e para isso é necessário analisar
em várias derivações, mas este tema foge ao escopo deste curso. Àqueles
que quiserem um pouco mais de aprofundamento, recomendamos a
leitura do boxe explicativo a seguir e, posteriormente, qualquer um dos
livros indicados para leitura complementar.
Talvez fique mais fácil entender o conceito de derivações do ECG se você imaginar que elas
representam observadores posicionados em diferentes locais para observar o movimento de
uma bola. Para simplificar, vamos pensar em duas pessoas, os dois goleiros, A e B, nos seus
postos. Se o goleiro A disser “a bola está se afastando de mim” e o B disser “a bola está se
aproximando de mim”, saberemos, sem ver a bola ou o campo, que a bola está se movendo
no sentido geral de A para B.
Como o campo é bidimensional, ou seja, é uma superfície, com estas duas informações não
seremos capazes de saber se a bola está caminhando pelo centro do campo, pela direita ou
pela esquerda. Como ter esta informação? Precisaremos de observadores localizados nas
laterais do campo.
Vamos colocar mais dois observadores, C e D, nas laterais, sobre a linha do meio do campo, o
C à direita e o D, à esquerda de A. Agora, com o mesmo movimento da bola, descrito acima,
vamos supor que o observador C diga: "a bola vem direto para mim" e o D diga "ela está se
afastando de mim". Juntando, agora, as quatro informações, você, que não está vendo nem
o campo nem a bola, saberá que esta saiu de A, dirigindo-se para o outro lado do campo,
desviado para a direita.
Pois bem, para acompanhar o caminhar da atividade elétrica pelo coração (que não é nem
uma linha, nem uma superfície, mas é tridimensional), são colocados seis “observadores”
(derivações), para acompanhar o movimento em um plano, o plano frontal (acompanhe
a Figura 26.6.a para identificar este plano) e seis outros “observadores” (derivações) para
acompanhar o mesmo movimento em outro plano, ortogonal em relação ao primeiro, que é
o plano horizontal (Figura 26.6.b).
Assim, analisando o sinal “visto” por estas derivações em conjunto, pode-se ter uma imagem da
ativação elétrica percorrendo todo o coração, da mesma forma que fizemos com o movimento
da bola visto pelos quatro observadores.
Os locais em que os eletródios são posicionados para a obtenção destas derivações são pontos
fixos na superfície do corpo do paciente, definidos utilizando-se referências anatômicas.
Assim, para o plano frontal, os eletródios são colocados nos punhos e no tornozelo esquerdo
(o quarto eletródio da perna direita serve como referência). Estes eletródios definem o que
são chamadas as seis derivações dos membros. Destas seis, três são unipolares e são chamadas
aVR, aVL e aVF, porque correspondem aos potenciais medidos respectivamente no braço
direito (right), braço esquerdo (left) e perna esquerda (foot). Essa terminologia, baseada
na língua inglesa, é utilizada internacionalmente. Observe a Figura 26.6.a e repare que o
complexo QRS é positivo – dirigido para cima – em aVF e negativo – dirigido para baixo – em
aVR. É o equivalente, no exemplo da bola, em que o observador B via a bola se aproximar
dele (positivo), e o observador A via a bola se afastar dele (negativo). Observe o sentido de
propagação indicado pela seta grossa sobre o coração na Figura 26.6.a e veja que faz todo
sentido, desde que se convencione que será positiva a onda que se aproxima do observador e
negativa a que se afasta do observador, como fizemos antes. E esta é exatamente a convenção
usada para a interpretação do eletrocardiograma!
CEDERJ 167
Corpo Humano I | Coração: O que tem a ver com eletricidade? O coração elétrico
Um mesmo fenômeno pode ser visto de formas inversas se observado de pontos opostos!
Juntando as duas observações e sabendo onde os observadores estão posicionados, dá para
saber o movimento real!
Temos também as derivações I, II e III, chamadas bipolares, porque representam as diferenças
de potencial entre dois pontos, como você pode ver na Figura 26.6.a, pelas linhas conectando
os dois pontos do par com sinais (+) de um lado e (–) do outro:
Estas seis derivações avaliam a propagação da atividade elétrica cardíaca no plano frontal.
Ela representa o sentido geral de propagação da ativação no ventrículo. Conforme mostrado
pela seta grossa: o sentido normal é da direita para a esquerda.
As outras seis derivações avaliam a propagação elétrica cardíaca no plano horizontal e são
chamadas V1, V2, V3, V4, V5 e V6 (Figura 26.6.b). A partir da análise dos dois planos, é possível
ter a visão tridimensional da propagação da atividade elétrica no coração.
a b
Figura 26.6: ECG no plano frontal (A), indicando os locais de onde se obtêm os registros aVL, aVR, aVF e I,
II, III. As linhas finas que ligam os pontos representativos dos ombros esquerdo, direito e perna esquerda
ao coração indicam que os potenciais aVL, aVR e aVF são registros unipolares medidos em relação a um
potencial de referência, 0. Os segmentos de reta finos terminados em barras grossas que unem os eletró-
dios dos membros, dois a dois, indicam que o registro colocado sobre esta linha é bipolar. Ele é obtido
medindo-se o potencial do lado identificado com o sinal (+) em relação ao ponto indicado com (-). No
plano horizontal (B): V1, V2, V3, V4, V5 e V6 indicam a posição dos eletródios. Estes registros são todos
unipolares. Observe, no corte horizontal mostrado na parte superior, que os pontos de obtenção de sinal
indicados de V1 a V6, juntamente com o centro do coração, definem um plano aproximadamente hori-
zontal. Os números 2, 3 e 4 identificam os espaços intercostais, uma das referências anatômicas utilizadas
para a localização dos eletródios. Os traçados de ECG mostram registros reais obtidos em um paciente
normal nestas derivações.
168 CEDERJ
Agora que você aprendeu o significado de cada onda e dos
26
intervalos do ECG, observe como se faz o registro de ECG e analise
AULA
alguns traçados para treinar. Vamos à Figura 23.7.
a b
Figura 26.7: O eletrocardiograma. (a) “Paciente” submetido ao exame eletrocardiográfico mantido em repouso,
com os eletródios devidamente posicionados. Esta foto foi feita durante uma aula prática, sendo ambos, “pa-
ciente” e “técnico”, alunos de pós-graduação do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, UFRJ. (b) Exemplos
de eletrocardiogramas. As cabeças de seta indicam a onda P; os asteriscos indicam o complexo QRS e as setas
finas indicam a onda T em um eletrocardiograma normal (1). Note o período de repetição dos complexos QRS
sucessivos do eletrocardiograma em duas outras situações: (2) diminuição do período (taquicardia – freqüência
cardíaca elevada); (3) aumento do período (bradicardia – freqüência cardíaca reduzida); (4) dois episódios de
extra-sístoles ventriculares ou batimentos ventriculares prematuros; (5) taquicardia ventricular. A escala de tempo
é a mesma para todos os traçados. A menor divisão corresponde a 40 ms.
CEDERJ 169
Corpo Humano I | Coração: O que tem a ver com eletricidade? O coração elétrico
170 CEDERJ
do momento esperado para o batimento normal comandado pelo nó sinusal.
26
Pessoas normais podem eventualmente apresentar um ou outro batimento
AULA
ventricular prematuro. No entanto, se sua ocorrência for muito freqüente,
é altamente recomendável buscar ajuda médica para um diagnóstico e
tratamento apropriados, pois elas podem progredir para taquicardia
ventricular, mostrada no traçado 5, que requer pronto tratamento.
E finalmente, no traçado 5, você pode ver o ECG de um paciente
em que se observa uma seqüência de ondas completamente diferentes, de
grande amplitude. Estas ondas representam uma seqüência de ativações
ventriculares comandadas pelo marca-passo ectópico: fala-se em episódio
de taquicardia ventricular. Você se lembra do caso hipotético mencionado
na Atividade 1 em que um grupo de células ventriculares de trabalho
adquirem atividade marca-passo? É assim que você detecta este fenômeno
através do ECG.
ATIVIDADE
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 171
Corpo Humano I | Coração: O que tem a ver com eletricidade? O coração elétrico
172 CEDERJ
Outros aspectos importantes são a morfologia e as amplitudes, bem
26
como a relação entre elas, que podem informar a respeito dos sentidos
AULA
predominantes de espalhamento da atividade elétrica, principalmente,
na massa muscular ventricular.
RESUMO
O coração tem uma atividade elétrica cíclica intrínseca, que se propaga por ele
como um todo através de junções comunicantes. Diferentes regiões do coração
têm distintos mecanismos para a gênese da atividade elétrica. Porém, em todos
os locais, o início da atividade obedece a um só comando do marca-passo natural.
O ritmo intrínseco do coração, dado pelo seu marca-passo, é regulado pelo sistema
nervoso autônomo e por hormônios. Isso permite que a atividade cardíaca seja
adequada às necessidades do organismo.
Os sinais elétricos gerados por essa atividade podem ser captados na superfície
do corpo em pontos definidos por convenção. O registro destes sinais é o
eletrocardiograma, ECG. A análise do ECG permite diagnosticar alterações no
ritmo e na condução da atividade elétrica.
ATIVIDADE FINAIS
(a) O coração dos mamíferos é dotado de ritmo próprio de contração que não
pode ser alterado por nenhum fator extrínseco ao coração. Por isto, diz-se que
ele é dotado de automatismo.
CEDERJ 173
Corpo Humano I | Coração: O que tem a ver com eletricidade? O coração elétrico
(d) Existem vários marca-passos no coração, cada um com sua freqüência intrínseca
própria. O ritmo cardíaco é ditado por aquele que tiver a maior freqüência
intrínseca que é o nódulo sinusal.
RESPOSTA COMENTADA
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
RESPOSTA
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
174 CEDERJ
4. A indústria farmacêutica desenvolveu um grande número de drogas utilizadas
26
como antiarrítmicos, ou seja, para tratar pacientes cujo coração não funciona
AULA
no ritmo normal. Quinidina, diidropiridinas, adenosina e sotalol são algumas
delas. Observe que todas estas substâncias interferem com algum canal iônico.
A quinidina é um bloqueador de canal de sódio, as diidropiridinas são bloqueadoras
de canal de cálcio tipo L, os derivados de adenosina ativam um tipo especial de
canal de potássio (tem ação similar à da acetilcolina, o neurotransmissor do sistema
parassimpático) e o sotalol, bloqueador de canal de potássio. Na tabela a seguir,
diga em que região do coração e em que fase do potencial de ação (0, 1, 2, 3 ou 4)
age cada uma delas. Diga também qual vai ser a conseqüência funcional da ação
de cada uma delas separadamente. A seguir, justifique sua resposta.
Conseqüência
Droga Ação Local Fase de PA
funcional
Bloqueador de canal
A Quinidina,
de sódio
Bloqueador de canal
B Diidropiridinas
de cálcio tipo L
Bloqueador de canal
Sotalol
D de potássio
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 175
Corpo Humano I | Coração: O que tem a ver com eletricidade? O coração elétrico
– No PA lento, que ocorre nos dois nós, sinusal e AV, o canal de cálcio
tipo L é o responsável pela fase 0. Como a diidropiridina bloqueia este
canal, a fase 0 vai se tornar mais lenta, comprometendo a condução do
PA nestes dois locais. Se a dose for muito alta, pode parar a atividade
nestes dois nós, pois aqui o canal de cálcio tipo L é o único responsável
pelo PA. Portanto, as diidropiridinas vão atuar em todo o coração.
C. Adenosina: Como tem efeito similar à acetilcolina – que é o
neurotransmissor do sistema parassimpático –, vai agir nos dois nós.
No nó sinusal, tornando mais lenta a fase 4, com isso diminuindo a
freqüência cardíaca; no nó sinusal e no AV, diminuindo a amplitude
e também a taxa de despolarização da fase 0 do PA lento destes
locais. Este último efeito acontece porque existe nestes nós (e também
nos átrios) um tipo especial de canal de potássio que é ativado por
adenosina. Se, canal de potássio é ativado, há a saída de potássio
(portanto é repolarizante), o que se opõe à despolarização por entrada
de cálcio: a conseqüência é um PA de menor amplitude e fase 0 mais
lenta. Com isto, a propagação do PA lento vai ficar comprometida nos
dois nós.
D. Sotalol: A repolarização ocorre por abertura de canais de potássio
e saída de potássio da célula. Se a droga bloqueia este canal, a
repolarização será retardada. A conseqüência é que vai aumentar a
duração dos potenciais de ação de todo o coração.
176 CEDERJ
RESPOSTA COMENTADA
26
Verifique, na Figura 26.6, se você acertou. A onda P, de baixa amplitude
AULA
e lenta, representa a propagação da despolarização pelos dois átrios.
O complexo QRS, formada por três ondas muito rápidas, com amplitude
bem maior que a onda P, representa a propagação da atividade elétrica na
massa muscular dos dois ventrículos. A onda T, uma onda lenta, de amplitude
intermediária entre a onda P e o complexo QRS, de duração maior do que
estas, representa a repolarização ventricular. Entre a onda P e o complexo
QRS e entre este último e a onda T, a linha deve ficar no mesmo nível que
fica durante a diástole, entre dois ciclos sucessivos.
COMENTÁRIO
LEITURAS RECOMENDADAS
BERNE, M.B., LEVY, M.N., KOEPPEN, B.M., STANTON, B.A. Fisiologia, 2004, 5 ed.
CEDERJ 177
27
Coração: a bomba que
mantém a vida.
Acoplamento excitação-
AULA
contração, a contração
cardíaca e sua regulação
Metas da aula
Apresentar a descrição do acoplamento excitação-
contração e da contração no coração.
Explicar a regulação da contração no coração e estabelecer
relações entre o conteúdo desta aula com
o das três aulas anteriores.
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
objetivos
Pré-requisitos
Você não deverá encontrar dificuldade nesta aula se tiver visto, antes,
as Aulas 6 (Junções ancoradouras e junções comunicantes)
e 11(A célula muscular) de Biologia Celular II, e as Aulas 21 (Sistema
nervoso autônomo), 18 (... A dinâmica dos nossos músculos),
24 (Por onde circula o sangue?), 25 (De Harvey a Noel Rosa,
o sangue que circula) e 26 (O coração elétrico) de Corpo Humano I.
Corpo Humano I | Coração: a bomba que mantém a vida. Acoplamento excitação-contração,
a contração cardíaca e sua regulação
INTRODUÇÃO Até agora você estudou como as células marca-passo do nó sinoatrial geram,
espontaneamente, potenciais de ação que se propagam através das várias
regiões da massa muscular do coração, em seqüência ordenada, ciclo após
ciclo, como os diversos instrumentos de uma orquestra. Agora, você vai estudar
como esta atividade elétrica promove a contração sincronizada das células
miocárdicas, permitindo que o coração bombeie sangue.
Se estimularmos uma fibra muscular cardíaca e fizermos um registro simultâneo
do potencial de ação e da contração observamos que, primeiramente, começa o
potencial de ação. A contração ocorre logo a seguir (Figura 27.1). Se a ativação
elétrica for inibida, a contração não acontecerá, embora o inverso – potencial
de ação sem contração – possa acontecer. Conclui-se, assim, que a atividade
elétrica é essencial para o desencadeamento da contração cardíaca.
180 CEDERJ
27
Nos vertebrados existem três tipos de músculo: o esquelético, o
liso e o cardíaco. O músculo esquelético, popularmente conhecido
AULA
como “músculo”, o responsável pela manutenção da postura e pelos
movimentos do nosso corpo, incluindo a locomoção, os movimentos
respiratórios, expressão facial, fala etc. O músculo liso entra na
constituição da parede de órgãos ocos como os vasos sangüíneos,
tubo digestivo, útero, bexiga etc. A sua contração e relaxamento
alteram a tensão, o tônus da parede e, conseqüentemente,
o volume e a pressão no interior destes órgãos. O músculo
cardíaco ou miocárdio é exclusivo do coração e é responsável pelo
bombeamento de sangue. Ao longo desta aula você conhecerá as
suas particularidades.
CEDERJ 181
Corpo Humano I | Coração: a bomba que mantém a vida. Acoplamento excitação-contração,
a contração cardíaca e sua regulação
a b
182 CEDERJ
!
27
Se você tiver dúvida quanto às diferentes técnicas de
microscopia ótica e eletrônica mencionadas nesta aula,
AULA
dê uma olhadinha nas aulas de Biologia Celular I, onde
os princípios e as vantagens de cada método para cada
situação são explicados.
Figura 27.3: Papel do cálcio e do complexo troponina/tropomiosina na contração do músculo cardíaco. (a) Situação
em que há pouco Ca2+ livre no citoplasma. (b) Quando a concentração intracelular livre de Ca2+.
CEDERJ 183
Corpo Humano I | Coração: a bomba que mantém a vida. Acoplamento excitação-contração,
a contração cardíaca e sua regulação
Figura 27.4: O ciclo de contração. Figura principal: Como acontece o movimento elementar: 1. ligação miosina-
actina; 2 e 3. torção da miosina e deslizamento da miosina em relação a actina; 4. miosina volta à sua forma
original. Inserto: Ciclo mostrando os processos moleculares envolvidos na produção do movimento.
184 CEDERJ
Figura 27.4), a ATPase da miosina é ativada, hidrolisando o ATP que
27
está ligado à própria miosina, liberando fosfato e energia neste processo.
AULA
O ADP formado continua ligado à miosina (esta etapa está representada
no passo 2). A energia liberada é utilizada para produzir um dobramento
na molécula de miosina (passos 2 e 3). Este dobramento produz um
movimento na porção globular da miosina, exatamente a porção ligada
à actina. A conseqüência é o deslizamento da miosina em relação à actina
no sentido longitudinal, produzindo um movimento como indicado nos
passos 3 e 4, na figura principal. Este é o fenômeno unitário, básico do
processo da contração. Neste ponto, a afinidade da miosina pelo ADP
diminui, sendo este substituído por ATP ( como indicado na transição
passo 3 para 4 no ciclo da Figura 27.4). Esta mudança faz com que a
interação actina-miosina se desfaça e a porção globular da miosina volte à
sua posição original em relação ao eixo do filamento de miosina (passo 4),
isto é, o dobramento da molécula de miosina é desfeito. Assim, está tudo
pronto para começar um novo ciclo com a mesma molécula de miosina
interagindo, agora, com o sítio seguinte do filamento de actina, bastando
para que isto aconteça, que tenha cálcio suficiente no citoplasma para
manter o sítio de ligação da actina livre.
Portanto, a contração constitui-se numa seqüência de eventos
que pode ser assim resumida:
1. aumento da concentração de cálcio no citoplasma;
2. ligação do cálcio à troponina;
3. mudança conformacional do complexo troponina-tropomiosina
e exposição do sítio de ligação da miosina no filamento de actina;
4. ligação da porção globular da miosina à actina;
5. hidrólise do ATP ligado à miosina, por ação da ATPase da
própria miosina com liberação de fosfato e energia;
6. deslocamento do filamento da miosina em relação ao filamento
de actina, à custa de consumo de energia;
7. substituição do ADP por ATP na miosina;
8. miosina desliga da actina;
9. nova ligação da mesma molécula de miosina na posição
subseqüente do filamento de actina, repetindo o processo, a partir da
etapa 4. Enquanto o cálcio citoplasmático for mantido alto, as etapas
de 4 a 9 se repetem, a cada ciclo, a miosina ligando-se ao sítio seguinte
da actina.
CEDERJ 185
Corpo Humano I | Coração: a bomba que mantém a vida. Acoplamento excitação-contração,
a contração cardíaca e sua regulação
!
1. O íon cálcio é o elemento chave para dar início a este processo uma
vez que todos os demais componentes necessários para a contração se
encontram disponíveis no citoplasma do miócito, exceto o cálcio em
concentração suficiente para se ligar à troponina-C.
2. O mecanismo da contração muscular está magnificamente mostrado
no DVD da série ENSINANDO CIÊNCIA com ARTE, volume 2, A Contração
Muscular, produzido pela equipe do Professor Leopoldo de Meis do
Departamento de Bioquímica Médica – UFRJ. Vale a pena conferir.
Você vai ganhar muito mais do que a economia de tempo! Verifique
se tem no seu pólo!
ATIVIDADES
_________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
186 CEDERJ
27
AULA
Concluindo: O que diferencia o músculo cardíaco do músculo esquelético, nos
pontos abordados nesta aula, são a sua organização estrutural e a forma como
são estimulados para se contraírem.
O músculo cardíaco é formado por células individualizadas que se comunicam entre
si, o coração como um todo, comporta-se como um sincício funcional, por isto basta
que haja uma região marca-passo para comandar a contração do órgão inteiro.
Além disso, o marca-passo é parte do próprio coração, sendo formado por células
musculares dotadas de automatismo: geram potenciais de ação, continuamente,
de forma autônoma e automática. Por isso não precisa de estímulo externo para
contrair.
O músculo esquelético é formado por um grande numero de fibras, cada fibra sendo
um sincício verdadeiro. Não há comunicação elétrica entre as fibras; cada uma
delas tem inervação própria por uma fibra motora. Para que um músculo inteiro se
contraia é necessário que todas as fibras sejam estimuladas pelas fibras motoras,
individualmente e ao mesmo tempo. Por não ser dotado de automatismo, estímulo
externo para contrair.
Quanto ao mecanismo básico de contração, os dois músculos são semelhantes.
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 187
Corpo Humano I | Coração: a bomba que mantém a vida. Acoplamento excitação-contração,
a contração cardíaca e sua regulação
188 CEDERJ
pelo cálcio citoplasmático. A captação de cálcio do citoplasma é feita
27
por uma ATPase, dependente de cálcio e magnésio, também chamada
AULA
bomba de cálcio.
O RS tem duas porções distintas: retículo longitudinal constituído
por túbulos que correm longitudinalmente, ao longo da célula, que se
interligam e se conectam às cisternas, porções dilatadas, em fundo de
saco. Existe uma íntima relação das cisternas do RS com os túbulos T,
formando as tríades, que estão abundantemente distribuídas por todo
o citoplasma, na imediata vizinhança dos sarcômeros.
A Figura 27.5 mostra, esquematicamente, a região de uma tríade,
com os seus dois componentes: túbulo T e cisterna terminal, e a relação
da tríade com o sarcolema (membrana plasmática) e também com as
miofibrilas, já que essa é a estrutura fundamental para o acoplamento
excitação-contração. À esquerda, estão representados os eventos que
acontecem no momento em que estão ocorrendo a ativação elétrica,
excitação, e a contração (veja o potencial de ação desenhado juntamente
com a contração). À direita, estão representados os eventos que acontecem
para produzir o relaxamento.
Em uma célula em repouso, a concentração citoplasmática de
cálcio livre é muito baixa (da ordem de 10-8 a 10-9 moles por litro)
e os canais de cálcio do RS ficam, em sua maioria, fechados, havendo
pouco vazamento de cálcio do retículo para o citoplasma. Durante o
PA, quando ocorre influxo de cálcio pelos canais de cálcio tipo L, sua
concentração nas proximidades das tríades aumenta (Figura 27.5,
Excitação/Contração, 1) e atinge níveis suficientes no citoplasma para
se ligar aos receptores de rianodina (os canais de cáclio do RS) levando
à sua abertura (Figura 27.5, Excitação/Contração, 2). Com isto, há uma
liberação maciça de cálcio do RS para o citoplasma, fazendo com que a
concentração de cálcio na vizinhança das proteínas contráteis alcance os
valores requeridos para ativar a contração (Figura 23.5, Excitação, 3).
Resumindo: o potencial de ação que se propaga pela membrana
plasmática, ao ser acompanhado por influxo de cálcio, serve, por meio
deste, como um gatilho para promover uma grande liberação de cálcio
do estoque intracelular representado pelo RS, aumentando o cálcio
citoplasmático. Por sua vez, o cálcio citoplasmático se liga à troponina
C, permitindo a interação entre a miosina e a actina; desta alteração
resulta a contração.
Nosso próximo passo é saber como termina a contração.
CEDERJ 189
Corpo Humano I | Coração: a bomba que mantém a vida. Acoplamento excitação-contração,
a contração cardíaca e sua regulação
!
Para você ter uma idéia de como a concentração de cálcio livre no citoplasma
é baixa, basta que se lembre das concentrações dos outros dois cátions
inorgânicos importantes na composição da célula: o potássio, com cerca
de 1,5x10-1 moles por litro e o sódio cuja concentração é em torno de 10-
2 moles por litro, comparado com a faixa de 10-8 a 10-9 moles por litro
do cálcio. Anote que a manutenção da concentração de cálcio livre no
citoplasma nestes níveis baixos é fundamental para a vida da célula, pois
como você aprendeu em Biologia Celular II, o cálcio é uma das principais
moléculas sinalizadoras na fisiologia celular. Mesmo quando se fala em
aumento da concentração de cálcio durante a contração, usualmente ela fica
na faixa de 10-7 moles por litro o que significa que durante a contração, há
um aumento de 10 a 100 vezes na concentração de cálcio livre no citoplasma!
Mas mesmo assim, sua concentração é ainda infinitamente menor do que
a de sódio ou potássio.
190 CEDERJ
O RELAXAMENTO
27
AULA
O que é necessário para que ocorra o relaxamento? Se você
respondeu que é necessário que o cálcio livre no citoplasma diminua,
você acertou. De fato, para que o relaxamento ocorra é necessário que
o cálcio citoplasmático seja reduzido aos níveis de repouso, para que a
sua ligação com a troponina-C seja desfeita e miosina e actina não mais
possam interagir.
Como isso acontece? Acompanhe na Figura 27.5, Relaxamento.
A fase de influxo de cálcio do PA dura cerca de 200-300 milésimos de
segundo, quando começa a repolarização, que diminui drasticamente o
influxo de cálcio (Figura 27.1). Além disto, a célula dispõe de um grande
número de mecanismos no sentido de manter baixa a concentração de
cálcio no citoplasma, pois este íon participa de uma infinidade de processos
metabólicos, não sendo a vida compatível com níveis de cálcio citoplasmático
permanentemente altos como os alcançados durante a contração.
Dentre os mecanismos de extrusão de cálcio da célula no músculo
cardíaco, podemos enumerar (você conhece todos eles da Aula 12,
Transporte Ativo, de Biologia Celular I):
1. a bomba de cálcio ATPase do retículo sarcoplasmático (SERCA)
que transporta ativamente o cálcio do citoplasma de volta para o interior
do retículo;
2. a bomba de cálcio ATPase do sarcolema que remove o cálcio
do citoplasma para o meio externo e;
3. o trocador sódio–cálcio, um antiporte que transporta cálcio
para fora da célula à custa da entrada de sódio por difusão segundo seu
gradiente de concentração.
Assim, os níveis de cálcio citoplasmático caem rapidamente após
o fim do PA, levando ao fechamento dos canais de cálcio do RS e a volta
do cálcio aos níveis baixos de repouso (Figura 27.5, Recuperação, 4),
o que põe fim à interação miosina-actina, levando ao relaxamento do
músculo (Figura 27.5, Recuperação, 5).
Para o perfeito funcionamento da circulação, a contração e o
relaxamento são importantes. A importância da contração é mais fácil
perceber: ao contrair, o coração bombeia sangue. Para compreender a
importância do relaxamento do miocárdio, basta lembrar que o máximo
CEDERJ 191
Corpo Humano I | Coração: a bomba que mantém a vida. Acoplamento excitação-contração,
a contração cardíaca e sua regulação
de sangue que o coração pode bombear, por maior que seja sua força de
contração, é o volume que está contido nele no momento da contração.
E o grau de enchimento do coração depende basicamente do seu perfeito
relaxamento durante a diástole, facilitando o retorno e acomodando
maior volume de sangue.
ATIVIDADES
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
192 CEDERJ
DE ONDE VEM O ATP INDISPENSÁVEL PARA A FUNÇÃO
27
CARDÍACA?
AULA
No músculo cardíaco, o ATP é obtido majoritariamente pela
via aeróbica através da rápida oxidação de glicose e ácidos graxos nas
mitocôndrias, por isto mesmo muito abundantes no músculo cardíaco.
Quase todos estes substratos são captados do sangue circulante porque
a reserva de substrato no miocárdio é muito pequena.
A necessidade de captar do sangue, tanto o oxigênio quanto os
substratos explica a alta densidade de capilares no miocárdio, onde existe,
praticamente, um capilar para cada fibra muscular, como vocês aprenderam
na Aula 24. É bom lembrar também que o consumo de energia pelo miocárdio
é muito grande devido ao trabalho contínuo de contração e relaxamento (60
ciclos por minuto)!! Eis porque qualquer distúrbio na circulação do coração
(circulação coronariana) pode ser fatal. O músculo cardíaco como qualquer
outro tecido, morre, se privado de fonte de energia. O grande problema é
que, praticamente, não há regeneração deste tecido. O músculo necrosado é
substituído por tecido conjuntivo
fibroso, perdendo o coração
Como podemos manter boa circulação do coração? Uma forma muito
parte da massa muscular com importante e ao alcance de todos é a atividade física moderada.
Analisando os resultados de experiências em animais e também com
conseqüente diminuição da sua voluntários, podemos concluir que uma atividade física moderada
capacidade de contração. rotineira é um importante fator de prevenção de doença coronariana,
que consiste basicamente de “entupimento” dos vasos. Um exemplo de
atividade moderada seria uma caminhada diária de 2,5 km em cerca de
40 min, pelo menos 4 dias na semana. Veja como é fácil contribuir com
sua saúde. Associar, a esta atividade, uma alimentação bem balanceada
com proporção adequada de macro e micronutrientes e fibras já é um
excelente começo. Se você não for fumante e tiver um ritmo de vida
com baixos níveis de stress, melhor ainda!
ATIVIDADE
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
CEDERJ 193
Corpo Humano I | Coração: a bomba que mantém a vida. Acoplamento excitação-contração,
a contração cardíaca e sua regulação
RESPOSTA COMENTADA
O conjunto formado
de unidades motoras ativadas: o aumento da força de contração é conseguido
por um moto-neurônio por meio do recrutamento de um número maior de UNIDADES MOTORAS.
e todas as fibras
musculares por ele Vimos, na aula passada, que os miócitos se comunicam, formando
inervadas.
um grande sincício funcional de modo que, em cada ciclo de contração,
todas as células miocárdicas são ativadas e contraem. É possível regular
a força de contração neste caso? Somente variando a força desenvolvida
por cada célula é possível promover esta regulação.
194 CEDERJ
Podemos dividir os mecanismos reguladores da força de contração
27
do miocárdio em dois grupos: os que são inerentes ao músculo cardíaco
AULA
(intrínsecos) e os externos ao coração (extrínsecos).
Relação estiramento-tensão
CEDERJ 195
Corpo Humano I | Coração: a bomba que mantém a vida. Acoplamento excitação-contração,
a contração cardíaca e sua regulação
196 CEDERJ
Por que a força de contração depende do grau de estiramento de
27
repouso do músculo?
AULA
É o que veremos a seguir.
Observe a Figura 27.7. Ele representa o esquema de um sarcômero em
repouso, em diferentes graus de estiramento. Verifique que a sobreposição
entre os filamentos finos e grossos varia com o grau de estiramento. Em
a, estiramento ótimo, que permite interação actina miosina máxima.
Em b, quando pouco estirado, e em c, quando superestirado, as interações
actina-miosina não se fazem com a sua máxima eficiência, levando ao
desenvolvimento de menor força de contração.
ATIVIDADE
6. Agora que você aprendeu como a força desenvolvida por uma tira de
músculo cardíaco depende do grau de estiramento inicial do músculo,
faça a transposição da situação para o ventrículo esquerdo. Descreva, em
seguida, como você poderia, experimentalmente, demonstrar a lei do
coração ou a lei de Starling.
___________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
CEDERJ 197
Corpo Humano I | Coração: a bomba que mantém a vida. Acoplamento excitação-contração,
a contração cardíaca e sua regulação
RESPOSTA COMENTADA
198 CEDERJ
A regulação da força de contração por meio deste
27
a
AULA
desenvolvida pelo coração a cada ciclo cardíaco. O aumento
de força por esse mecanismo é portanto, imediato: voltou
mais sangue para o coração e distendeu mais os ventrículos,
aumentou a força de contração e ejetou este volume maior.
ATIVIDADE
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
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_______________________________________________________________
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CEDERJ 199
Corpo Humano I | Coração: a bomba que mantém a vida. Acoplamento excitação-contração,
a contração cardíaca e sua regulação
RESPOSTA COMENTADA
200 CEDERJ
Efeito da freqüência e ritmo
27
AULA
Além da relação estiramento-tensão, há mais dois fatores intrínsecos
que regulam a força de contração cardíaca: a freqüência e o ritmo cardíaco.
A força de contração do músculo ventricular é máxima em torno de 120
bpm, progressivamente decrescendo tanto para freqüências maiores como
para menores. Lembre-se de que a freqüência basal normal no ser humano
situa-se entre 60 e 80 bpm. Portanto, o simples aumento de freqüência poderá
levar a uma maior força de contração, constituindo-se em mais uma forma de
reserva cardíaca (no sentido de capacidade de aumentar o débito cardíaco).
Quanto ao ritmo, observa-se que um ciclo extrassistólico desenvolve, em
geral, uma força maior do que um ciclo normal, ao passo que o primeiro
ciclo pós-extrassistólico desenvolve, uma força menor do que a basal. Em
ambos os casos de controle da força, os mecanismos envolvidos referem-se
a maior ou menor disponibilidade de cálcio no citoplasma, sendo, portanto,
independentes do grau de enchimento ventricular.
Mecanismo nervoso
CEDERJ 201
Corpo Humano I | Coração: a bomba que mantém a vida. Acoplamento excitação-contração,
a contração cardíaca e sua regulação
Hormônio
202 CEDERJ
e inotrópico positivos) e são também importantes vias efetoras das
27
aferências dos receptores cardiovasculares. Já os hormônios tireoideanos
AULA
- que também aumentam a freqüência cardíaca e a força de contração -
não são importantes na regulação cardíaca. Porém suas ações se somam
no equilíbrio ativação/inibição já referida. Assim, observa-se que em uma
pessoa com diminuição da função tireoideana, a freqüência e a força de
contração cardíacas estão diminuídas, o oposto acontecendo com pessoas
com hiperfunção tiroideana.
Vários outros hormônios e outras substâncias atuam sobre a
força de contração do coração. Os glicosídios cardíacos (utilizados para
tratamento de insuficiência cardíaca) e AGONISTAS beta-adrenérgicos que AGONISTA
aumentam a força de contração e bloqueadores de canal de cálcio do Substância que tem
o mesmo efeito de
tipo L, como as diidropiridinas e a adenosina, que diminuem a força de um neurotransmissor
contração, são alguns exemplos. Todas estas substâncias são utilizadas atuando sobre o
seu receptor (deste
como medicamentos em situações bem definidas. neurotransmissor).
CEDERJ 203
Corpo Humano I | Coração: a bomba que mantém a vida. Acoplamento excitação-contração,
a contração cardíaca e sua regulação
Figura 27.9: Parte ascendente da curva débito sistólico versus volume diastólico final
em: (0), condições basais; (+), na presença de agentes inotrópicos positivos e (-)
na presença de agentes inotrópicos negativos.
204 CEDERJ
ATIVIDADES
27
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
AULA
RESPOSTA COMENTADA
9. Suponha uma pessoa com a função cardíaca normal em repouso. Diga o que
acontece com os parâmetros a seguir, nos primeiros momentos que se seguem
ao início de uma corrida muito rápida. Cite o mecanismo que leva ao efeito
observado.
b. retorno venoso
e. freqüência cardíaca
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 205
Corpo Humano I | Coração: a bomba que mantém a vida. Acoplamento excitação-contração,
a contração cardíaca e sua regulação
CONCLUSÃO
RESUMO
206 CEDERJ
27
força máxima. Quando as interdigitações forem maiores ou menores, resultarão
AULA
em menos força.
- São mecanismos intrínsecos de controle da força de contração do coração a
relação estiramento-tensão (lei de Starling), freqüência e ritmo cardíacos.
- Os mecanismos extrínsecos de regulação da força de contração são: sistema
nervoso autônomo, simpático (ativador, inotrópico positivo) e parassimpático,
(inibidor, pouco funcionante no ventrículo) e hormônios (adrenalina, nor-
adrenalina e tiroxina, ativadores, inotrópicos positivos).
- Em condições basais, há um equilíbrio entre os fatores inotrópicos positivos e
negativos e a força de contração fica estável. Havendo qualquer alteração, por
exemplo – atividade física, emoções muito intensas – há o predomínio dos fatores
inotrópicos positivos, aumentando a força de contração. Já durante o sono, por
exemplo, há o predomínio dos fatores inotrópicos negativos diminuindo a força
de contração.
Nas duas últimas aulas, você aprendeu as bases moleculares e celulares para o
funcionamento do coração. Na próxima aula, você vai aprender como efetivamente
funciona o coração como um órgão, dentro de um sistema.
LEITURAS RECOMENDADAS
1. COSTANZO, L.S. Fisiologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2 ed., 2004.
2. Berne, M.B., Levy, M.N., Koeppen, B.M., Stanton, B.A. Fisiologia, 5 ed., 2004.
CEDERJ 207
28
AULA
Ciclo cardíaco:
o sangue vai e volta
Metas da aula
Apresentar os principais eventos do ciclo cardíaco através da análise
do curso temporal dos seguintes parâmetros: pressão nas câmaras
cardíacas, pressão nos vasos de saída (aorta e artéria pulmonar),
volume do ventrículo esquerdo e bulhas cardíacas.
Discutir os mecanismos de regulação do débito cardíaco.
objetivos
Pré-requisitos
Para entender esta aula, você precisa ter compreendido as Aulas 24
a 27 desta disciplina, nos seguintes aspectos: a organização geral do
sistema circulatório, a organização anatômica das câmaras e valvas
cardíacas, a importância da excitação elétrica e sua relação
com a contração do coração.
Corpo Humano I | Ciclo cardíaco: o sangue vai e volta
INTRODUÇÃO Após termos visto a organização geral e a função do Aparelho Circulatório e estudado
os mecanismos celulares e moleculares da contração do miocárdio, vamos agora
observar os eventos mecânicos que acontecem no coração como um órgão.
Esta pode ser uma aula muito simples se você conseguir “ver” as coisas
acontecendo no coração em câmara lenta. Caso contrário ela poderá
ser complicada, pois o caminho da memorização neste caso não levará a
lugar nenhum. Vale, portanto, um esforço para efetivamente ver o coração
funcionando, mesmo que seja na sua imaginação. É importante observar e
relacionar as alterações nos valores de pressão e volume nos gráficos com a
imagem do coração, à medida que você for lendo o texto. Nós vamos ajudá-lo
com esquemas. Além disso, você poderá contar também com a ajuda da aula
na WEB, e nos sites cujos endereços constam no final da aula.
A seqüência de eventos repetitivos de
sístole (contração) e diástole (relaxamento)
do coração ao exercer o seu papel de
bomba constitui o ciclo cardíaco.
Uma pessoa em repouso tem a freqüência
cardíaca de aproximadamente 70 bpm.
Isso significa que um ciclo inteiro é
completado em menos de um segundo.
Quais são as fases do ciclo? Pela ótica da
função do coração como uma bomba,
focando portanto nos ventrículos,
podemos dividir o ciclo em duas fases:
sístole e diástole.
!
Não se esqueça de que o
sangue caminha sempre do
local de maior energia (em
Sístole geral, sinônimo de maior
pressão) para os de menor
energia (ou pressão).
Figura 28.1: Representação gráfica de dois ciclos cardíacos sucessivos, relacionando os seguintes
parâmetros (de cima para baixo): Pressão no ventrículo esquerdo (VE), aorta e átrio esquerdo (AE);
volume do VE; Fonocardiograma e Eletrocardiograma (ECG). A, fase de enchimento ventricular
passivo, B, fase de contração atrial, C, fase de contração isovolumétrica do VE, D, fase de ejeção
e E, fase de relaxamento isovolumétrico. B1 e B2, primeira e segunda bulhas. (modificado de
Berne and Levy; Principles of Physiology, 3RD Edition, 2000).
210 CEDERJ
Vamos começar a observação do ciclo cardíaco a partir do
28
momento em que o coração todo está em diástole, em repouso (fase
AULA
A, na Figura 28.1). Como vocês sabem, os lados direito e esquerdo do
coração contraem e relaxam simultaneamente de modo que tudo que
será descrito para o lado esquerdo do coração estará acontecendo de
forma similar, no mesmo momento, no lado direito. Por isso, na maior
parte do tempo estaremos falando do lado esquerdo do coração uma vez
que queremos enfatizar a circulação sistêmica. A grande diferença entre
o lado direito e o esquerdo do coração diz respeito à pressão máxima
gerada no momento da sístole ventricular: 120 mmHg para o VE e 25
mmHg para VD.
Enchimento Ventricular Passivo (Fase A na Figura 28.1)
Vamos então começar visualizando o ventrículo esquerdo relaxado,
em diástole. Observe o esquema de coração na Figura 28.2.
Aorta
r
Válvula
ona
Figura 28.2: Representação esquemática do coração, tricúspide
Pulm
mostrando as quatro câmaras: átrios direito (AD) e (aberta) AE
esquerdo (AE), ventrículos direito (VD) e esquerdo AD
Válvula
(VE), as valvas atrioventriculares, tricúspide e mitral
e as valvas semilunares, pulmonar e aórtica. Fase de mitral
enchimento ventricular passivo. Observe que as valvas (aberta)
semilunares estão fechadas e as valvas atrioventricula- Válvula
res estão abertas. As quatro câmaras estão relaxadas pulmonar Válvula
VD VE
recebendo sangue. (fechada) aórtica
(fechada)
CEDERJ 211
Corpo Humano I | Ciclo cardíaco: o sangue vai e volta
212 CEDERJ
O passo seguinte é a contração ventricular. Você se lembra de que
28
a atividade elétrica que dispara a contração se propaga dos átrios para os
AULA
ventrículos? Pois bem, com o início da contração ventricular, a pressão
no seu interior sobrepuja a pressão atrial que provoca o fechamento
da valva mitral. Este fechamento repentino faz com que o fluxo de
sangue seja interrompido bruscamente. O fechamento das valvas mitral
e tricúspide (que ocorrem quase ao mesmo tempo) produz um som que
é chamado primeira bulha cardíaca. A primeira bulha demarca o início
da contração ventricular.
ATIVIDADE
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 213
Corpo Humano I | Ciclo cardíaco: o sangue vai e volta
Aorta
Válvula
mitral
Pulmonar
Válvula (fechada)
pulmonar AE
(fechada)
AD
Válvula
Válvula aórtica
tricúspide VE (fechada)
VD
(fechada)
214 CEDERJ
abaixo de 5 mmHg; mas na fase de contração isovolumétrica, C, a
28
pressão aumenta muito rapidamente, facilmente ultrapassando os cerca
AULA
de 80 mmHg da aorta. Quando a pressão do VE se torna maior do que
a da aorta, a valva aórtica se abre e imediatamente o sangue que estava
represado no VE jorra para a aorta. Com isso, há uma rápida queda
no volume do VE. Encerra-se assim a fase de contração isovolumétrica
e se inicia a fase de ejeção. Observe primeiro o esquema mostrado na
Figura 28.5. Os ventrículos continuam contraídos, com as valvas mitral
e tricúspide fechadas, mas, agora, com as valvas aórtica e pulmonar
abertas, de modo que há um grande fluxo de sangue para as artérias
respectivas, conforme indicado pelas setas brancas.
Aorta
Válvula
mitral
Pulmonar
(fechada)
AE
AD
Válvula VE
tricúspide VD
(fechada)
Contração
ventricular
(ejeção)
VOLUME DIÁSTOLICO lado direito do coração. O fechamento das valvas pulmonar e aórtica
FINAL (VDF) produz um som chamado “segunda bulha” que corresponde ao “tá” do
Volume de sangue tum-tá.... referido na Atividade 1. A segunda bulha, portanto, marca o
contido em um dos
ventrículos ao final fim da fase de ejeção. Marca também o início da fase de relaxamento
de uma diástole, ou
seja, imediatamente isovolumétrico, pois o relaxamento continua agora com as quatro valvas
antes de uma sístole. fechadas: as semilunares acabaram de fechar e as atrioventriculares ainda
estão fechadas, pois ainda a pressão ventricular é maior do que a atrial,
que é muito baixa (perto de zero).
216 CEDERJ
passivo. Lembre-se de que, durante as fases de contração isovolumétrica,
28
ejeção e de relaxamento isovolumétrico, os átrios relaxados estavam
AULA
continuamente recebendo sangue sem passá-lo para os ventrículos.
Aorta
Figura 28.6: Representação esquemática do coração na
fase de relaxamento isovolumétrico. Observe que com os
Pulmonar
ventrículos relaxados (parede mais fina e branca), todas
as valvas ficam fechadas. Isto leva a uma grande queda
de pressão ventricular, pois é como se tivéssemos um AE
recipiente fechado cujas paredes procuramos puxar para AD
1
fora. Tende a formar um vácuo, não é mesmo? Pois é a 1
situação dos ventrículos nesta fase. Os átrios continuam 2 2 Válvula mitral
ainda relaxados, recebendo sangue de volta. (fechada1 → aberta2)
VE
Válvula tricúspide VD
(fechada1→ aberta2)
!
O sangue leva cerca de 30 segundos para circular pelo corpo
todo e voltar ao coração e cerca de 8 segundos para ir até
os pulmões e voltar ao coração.
CEDERJ 217
Corpo Humano I | Ciclo cardíaco: o sangue vai e volta
ATIVIDADE
2. Veja algumas animações sobre o ciclo cardíaco nos sites abaixo. Se você
não tiver acesso a internet, agende no seu pólo um horário para utilizar um
computador ligado à rede.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
218 CEDERJ
OS SONS DO CORAÇÃO
28
AULA
Existem várias formas simples utilizadas desde sempre para
saber se uma pessoa apresenta algum problema no funcionamento do
coração. Uma delas consiste em ouvir (auscultar) os sons produzidos
pelo coração.
Você aprendeu, nesta aula, que o coração normal produz som em
pelo menos dois momentos durante o ciclo cardíaco: são a primeira e a
segunda bulha. No entanto, elas não são os únicos sons do coração. Quem
nunca ouviu falar de sopro no coração? Pois bem, estes são também sons
produzidos no coração. Vamos ver então como são produzidos e o que
a presença deles pode indicar sobre o funcionamento do coração.
O que as bulhas e os sopros podem nos ensinar sobre o
funcionamento do coração?
Começando então pelas bulhas: a ocorrência de uma seqüência
aproximadamente regular do tum-tá.....tum-tá.......tum-tá....tum-
tá.....tum-tá nos informa que o ritmo do coração está regular. Se você
contar o número de tum-tás por um certo tempo poderá calcular a
freqüência cardíaca e avaliar se está normal, taqui- ou bradiácardico.
Um ouvido mais apurado e educado do médico poderá identificar se
o intervalo entre o tum e o tá está normal ou alterado, se a qualidade
do som (timbre, freqüência e intensidade) das bulhas está normal ou
alterado etc. Viu quanta coisa você pode analisar apenas ouvindo o
tum-tá do coração? Agora, para a partir desta análise tirar conclusões
sobre o funcionamento do coração, é fundamental que você consiga
“ver” o coração funcionando e saber em que fase do ciclo eles ocorrem
e o que dá origem a esses sons (e isto você já sabe: o tum, a primeira
bulha, é produzido pelo fechamento das valvas atrioventriculares e o tá,
pelo fechamento das válvas aórtica e pulmonar.
Se você fizer a ausculta em uma pessoa que acabou de fazer um
sprint (100 metros rasos por exemplo), você poderá ouvir um outro ruído
seguindo a segunda bulha, algo como tum-tásssss. Este ruído extra é a
terceira bulha. No fonocardiograma da Figura 28.1, esta bulha aparece
como pequenas oscilações logo depois da segunda bulha, B2, coincidindo
com a fase de enchimento passivo rápido do ventrículo. O que dá origem
a essa bulha? Bem, o que se segue à segunda bulha? É o relaxamento
isovolumétrico do ventrículo, durante o qual é difícil imaginar que
CEDERJ 219
Corpo Humano I | Ciclo cardíaco: o sangue vai e volta
220 CEDERJ
o sopro diastólico. Viu quanta coisa é possível descobrir conhecendo
28
os fenômenos mecânicos que acontecem durante um ciclo cardíaco e
AULA
ouvindo atentamente os sons do coração? E você viu que não precisa
muito para ouvir o som do coração.
Você pode ouvir vários destes sons nos sites abaixo:
http://www.eerp.usp.br/cursos/1RuidosCardiacos/fonosemio.htm
Site em português da Universidade de Brasília, Faculdade de Ciências da
Saúde, Departamento de Clínica Médica). Está bem interessante e contém
vários áudios de auscultas cardíacas. Sons das bulhas em condições
normais e patológicas.
http://sln.fi.edu/biosci/monitor/heartbeat.html. Ouça as bulhas
cardícas em várias frequências cardíacas diferentes. No site ainda há
outros links com imagens, sons em situações patológicas. O site está em
inglês mas tenho certeza que você encontrará os sons.....
http://www.cvmbs.colostate.edu/clinsci/callan/index.html. Site
em inglês, da Universidade do Colorado, com ruídos cardícos (além de
ruídos respiratórios e outros) em várias espécies de mamíferos.
http://www.manuaisdecardiologia.med.br/Semiologia/bulhas.htm.
Site em português com áudio das bulhas cardíacas.
ATIVIDADES
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
A alteração que você terá de fazer na Figura 28.1 para que ela represente
a circulação pulmonar está na escala da ordenada (do eixo Y) das curvas de
pressão. A pressão máxima do VD e, conseqüentemente também da artéria
pulmonar é 25 mmHg, em oposição aos 120 mmHg observados no VE e
aorta. Com pequenas aproximações, podemos dizer que todo o resto pode ser
representado pelas mesmas figuras que representam o lado esquerdo.
CEDERJ 221
Corpo Humano I | Ciclo cardíaco: o sangue vai e volta
RESPOSTA COMENTADA
Para que você tenha clareza dos fenômenos mecânicos que acontecem no
coração durante um ciclo cardíaco, é muito importante que consiga visualizar
as várias etapas do processo e seja capaz de associar os fenômenos que
acontecem no coração com a variação de parâmetros que podem ser
medidos, como a pressão nos átrios, ventrículos e aorta e o volume ventricular.
Para fazer esta atividade, vale muito a pena você dar uma olhada nos “sites”
citados ao longo da aula além de consultar a Figura 28.1.
RESPOSTA COMENTADA
222 CEDERJ
28
6. Suponha que durante um experimento realizado com uma cobaia, tenha
AULA
havido um erro no procedimento cirúrgico e sido criada uma pequena comu-
nicação direta entre a artéria e a veia pulmonar. Que alteração você espera
encontrar na quantidade de oxigênio no sangue arterial desse animal?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 223
Corpo Humano I | Ciclo cardíaco: o sangue vai e volta
ATIVIDADE
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
224 CEDERJ
28
RESPOSTA COMENTADA
AULA
Como o coração bombeia para o corpo o sangue que recebe, pois ele
não é um reservatório de volume, o primeiro fator que precisa ser aumenta-
do é o retorno venoso. Feito isto, o aumento do débito cardíaco depende da
freqüência cardíaca e do volume sistólico. Isto porque, DC (débito cardíaco) =
fc (freqüência cardíaca) x VS (volume sistólico). Aumento de fc é usualmente
feito por aumento do tônus simpático e diminuição do tônus parassim-
pático. O aumento do volume sistólico segue dois mecanismos básicos:
o intrínseco (lei de Starling) pois com o aumento do retorno venoso, há
maior enchimento ventricular, maior volume diastólico final, portanto,
maior força de contração dentro da faixa de compensação. A importância
deste fator pode ser minimizada se a freqüência cardíaca aumentar muito,
pois com menos tempo de enchimento, diminui o volume diastólico final.
O outro fator é basicamente dependente do balanço simpático/
parasimpático. Com o predomínio do simpático, há um aumento impor-
tante na contração miocárdica e, portanto, da fração de ejeção, para
um mesmo grau de enchimento ventricular. Este efeito é chamado efeito
inotrópico positivo como visto na aula anterior.
CONCLUSÃO
CEDERJ 225
Corpo Humano I | Ciclo cardíaco: o sangue vai e volta
RESUMO
226 CEDERJ
29
AULA
Os vasos e o trânsito de
substâncias vitais
Metas da aula
Introduzir fundamentos de hemodinâmica e os mecanismos que regem a
distribuição do débito cardíaco pelos diferentes leitos vasculares.
Apresentar os mecanismos de troca de substâncias nos capilares e os fatores
responsáveis pelo retorno venoso.
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
objetivos
Pré-requisitos
Para um bom rendimento no estudo desta aula, você precisa conhecer os
conteúdos das Aulas 24, “A água no corpo humano. Por onde circula o
sangue?”, e 25, “De Harvey a Noel Rosa, o sangue que circula”.
Corpo Humano I | Os vasos e o trânsito de substâncias vitais
INTRODUÇÃO Nesta aula, vamos conhecer os vários fatores que influenciam o fluxo de sangue
através dos diferentes segmentos da árvore vascular e os principais mecanismos
de troca de substâncias entre o sangue e os tecidos.
228 CEDERJ
29
Observe que a equação 1 é exatamente igual à expressão que define o fluxo de
carga, ou seja, a corrente elétrica ( I ) em um circuito que contém um gerador e
AULA
uma resistência. É a famosa Lei de Ohm, V = RI, de que a maioria das pessoas que
alguma vez na vida aprenderam os rudimentos de Eletricidade no curso de Física
se lembrará. Observe a Figura 29.1.a: a corrente elétrica (I) que passa através do
circuito é diretamente proporcional à diferença de voltagem criada pelo gerador
entre os pontos 1 e 2, isto é, (V1 - V2), e é inversamente proporcional à resistência
(R) do circuito. Em outras palavras, I= V/R, quanto maior a diferença de potencial
e menor a resistência, maior será a corrente.
P2
Aorta
R
1 2
b P1 VE
a I
Fluxo (Q)
V1 – V2 P1 P2
Vasos (R)
V1 – V2 P – P2
I= Q= 1
R R
Figura 29.1: A Lei de Ohm aplicada ao sistema cardiovascular. (a): Esquema de um circuito elétrico onde a cor-
rente (I) passa através da resistência (R ), pois há uma diferença de potencial entre os pontos 1 e 2 (onde V1 > V2);
(b): de maneira análoga, o fluxo sangüíneo (Q) ocorre através dos vasos (R) no sentido indicado pela seta (→),
impulsionado pela bomba cardíaca, que gera uma pressão P1 no VE maior que a pressão P2 na aorta, mostrado
em cima, e embaixo, a lei aplicada ao longo de um vaso.
230 CEDERJ
Temos, então, os três principais elementos que definem a resistência
29
ao fluxo: dois relacionados com a geometria do tubo, comprimento e área
AULA
de seção transversa, e um relacionado com o líquido, a viscosidade.
Pelo que vimos antes, aprendemos que quanto maiores o
comprimento do tubo e a viscosidade do líquido, menor será o fluxo,
portanto são fatores que aumentam a resistência; quanto maior a área de
seção transversa, maior o fluxo, portanto, menor a resistência. Ou seja:
Q = Pπr4/8ηL . (3)
!
A Lei de Poiseuille foi escrita para um fluxo
não-pulsátil de um fluido homogêneo
através de tubos rígidos.
CEDERJ 231
Corpo Humano I | Os vasos e o trânsito de substâncias vitais
tal que DC, débito cardíaco, Pao, pressão média na raiz da aorta, PAD,
pressão no átrio direito e RST, resistência da circulação sistêmica.
Se estivermos tratando da perfusão de um determinado órgão ou
tecido, P1 será a pressão na artéria que irriga este órgão/tecido, e P2, a da
veia correspondente. Assim, o aumento de resistência por vasoconstricção
arteriolar resulta em diminuição de fluxo para esse leito, o inverso
acontecendo com diminuição de resistência, por vasodilatação arteriolar.
ATIVIDADE
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
232 CEDERJ
29
RST = Pao/DC, ou seja, RST = 90mmHg/DC (4)
AULA
O gradiente de pressão na circulação pulmonar é da ordem de 15mmHg
(pressão média na artéria pulmonar menos no átrio esquerdo):
RP = P/DC, ou seja, RP = 15mmHg/DC (5)
Dividindo-se a equação 4 pela equação 5, teremos a relação entre as
resistências nos dois circuitos, uma vez que o DC é o mesmo nos dois.
RST / RP = 90 mmHg/15 mmHg = 6,
ou seja, a resistência da circulação sistêmica é seis vezes maior do que a
da circulação pulmonar, daí a pressão desenvolvida pelo VE ser cerca de 6
vezes maior do que a desenvolvida pelo VD, pois ambos mobilizam o mesmo
fluxo de sangue que é o débito cardíaco.
CEDERJ 233
Corpo Humano I | Os vasos e o trânsito de substâncias vitais
Observe a Figura 29.2, na qual você pode ver em (a) um vaso com
um fluxo de 5L/min, que se divide em cinco vasos de mesma resistência,
dispostos em paralelo. Qual será a distribuição do fluxo entre esses vasos?
Como os ramos são iguais, deve ir 1L/min para cada um, e a soma dos
fluxos dos cinco ramos será de 5L/min, ou seja, igual ao fluxo do vaso
único que deu origem a eles, certo? É isso mesmo.
L/min
a 1
1
5 L/min 5 L/min
1
L/min
1 0,6
b
1 1,1
5 L/min 5 L/min
1,1
1,1
234 CEDERJ
A regulação da resistência nos diferentes leitos vasculares para
29
promover essa redistribuição de fluxo é feita por meio do controle das
AULA
áreas de seção transversa dos diferentes circuitos e envolve a participação
da musculatura da parede dos vasos.
CEDERJ 235
Corpo Humano I | Os vasos e o trânsito de substâncias vitais
ATIVIDADE
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
236 CEDERJ
Dois mecanismos básicos que contribuem para determinar os
29
fluxos sangüíneos nos diferentes leitos vasculares coexistem:
AULA
• Mecanismos que atuam a distância e que, uma vez acionados,
atingem todas as regiões do corpo.
• Mecanismos locais, representados por substâncias vasoativas e
fatores físicos de ação local, que atuam diretamente sobre o músculo liso
das arteríolas e pequenas artérias circunvizinhas. Por isso, podemos ter ao
mesmo tempo regiões com vasoconstricção e outras com vasodilatação
através desses mecanismos.
Esses dois mecanismos básicos, de ação a distância e de ação local,
atuam simultaneamente, por vezes, em sentidos opostos. O resultado
final sobre o tônus vascular depende do mecanismo predominante que
é característico para cada leito vascular em particular.
Regulação neural
CEDERJ 237
Corpo Humano I | Os vasos e o trânsito de substâncias vitais
Regulação endócrina
238 CEDERJ
Fator Natriurético Atrial (FAN): Este hormônio é liberado pelos
29
NATRIURÉTICO
cardiomiócitos atriais quando os átrios são distendidos, por aumento de Substância que
AULA
volume de sangue circulante ou por acúmulo de sangue. Ao contrário promove eliminação
de sódio pelos rins.
da ação dos hormônios que acabamos de descrever, o fator natriurético
atrial promove vasodilatação, levando à queda da resistência dos DIURÉTICO
Substância que
vasos, aumento de fluxo, aumento da filtração capilar e transposição
promove eliminação
de fluidos para o espaço intersticial. Como o próprio nome sugere, ele de água pelos rins.
Mecanismo miogênico
CEDERJ 239
Corpo Humano I | Os vasos e o trânsito de substâncias vitais
acerca de qual substância seria a mais importante, mas várias delas são
conhecidas: dióxido de carbono, K+, ácido láctico, adenosina e outros
metabólitos do ATP.
Fatores físicos
29
3. Você já reparou que, após uma corrida intensa, suas pernas ficam com
AULA
uma cor vermelha acentuada? Explique a origem dessa vermelhidão.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 241
Corpo Humano I | Os vasos e o trânsito de substâncias vitais
Você já ouviu dizer que o infarto do miocárdio em pessoas jovens é muito mais grave do que em
pessoas idosas? Pois é o que as estatísticas mostram. Sabe por quê? É que, nos idosos, a presença
de circulação colateral é bem maior do que nos jovens. Assim, havendo um entupimento de
uma coronária no jovem, toda a região irrigada por aquele vaso ficará sem perfusão, com as
conseqüências que isso traz: morte celular e substituição do miocárdio por tecido conjuntivo. Já em
uma pessoa idosa há a possibilidade de que a região irrigada pelo vaso entupido seja perfundida
por uma via colateral, minimizando os danos advindos do entupimento da via principal. Como
se formam esses colaterais? Por meio da angiogênese (formação de vasos), que, no coração, vai
ocorrendo a partir de uma certa idade. Falando genericamente, a angiogênese, formando novos
capilares, acontece naturalmente durante todo o crescimento. Já no adulto a angiogênese tem
papel importante em várias situações: durante a cicatrização de ferimentos, durante o crescimento
do revestimento uterino logo após a menstruação, após microinfartos ou hipóxias sustentadas
no miocárdio etc. que levam à liberação de fatores que estimulam a angiogênese.
O exercício físico também induz angiogênese, que acompanha o crescimento da massa tanto
da musculatura esquelética quanto do coração, garantindo irrigação adequada nesses músculos
que sofrem hipertrofia (aumento de massa tecidual por aumento do tamanho das células) por
aumento de atividade.
242 CEDERJ
Componentes da microcirculação
29
AULA
Funcionalmente, os componentes do sistema microvascular podem
estar arranjados em série ou em paralelo e podem ser classificados em vasos de
resistência, vasos de troca, vasos anastomóticos e vasos de capacitância.
Vasos de resistência: Estão presentes em territórios pré e
pós-capilares. Entre os elementos de resistência pré-capilar encontram-
se as pequenas artérias, arteríolas e esfíncteres pré-capilares.
Os vasos pós- capilares incluem as vênulas musculares e pequenas veias.
Vasos de troca: Os capilares e as vênulas constituem os principais
locais de troca de substâncias entre o sangue e os tecidos, sendo que
a maior parte é realizada na extremidade venosa dos capilares,
pois a permeabilidade à água e solutos é maior nessa porção. Levando-
se em conta a ultra-estrutura, os capilares anatômicos podem ser
classificados em três tipos (em ordem crescente de permeabilidade à
água): contínuos, fenestrados (presentes em locais especializados em
troca de fluidos como rins, intestino, glândulas etc.) e descontínuos
(nos locais em que moléculas maiores, como as proteínas plasmáticas
e hemácias, precisam migrar entre o sangue e o tecido (fígado, baço e
medula óssea).
Vasos anastomóticos: São definidos como todos os elementos que
fazem uma ponte (curto-circuito) pela circulação efetiva de troca, entre
eles os canais preferenciais e as anastomoses arteriovenosas. Os primeiros
estão presentes principalmente no mesentério e têm fluxo contínuo, ao
contrário do fluxo intermitente dos capilares verdadeiros. Os vasos
anastomóticos da pele estão envolvidos no controle de temperatura.
Vasos de capacitância: As pequenas veias são os principais
elementos capacitivos do sistema vascular. Caracterizam-se pela sua
grande complacência e pelo fato de ocorrerem em número muito elevado,
o que as torna reservatórios de volume, estimando-se que 70% do volume
sangüíneo total esteja armazenado nesses vasos.
CEDERJ 243
Corpo Humano I | Os vasos e o trânsito de substâncias vitais
ATIVIDADE
Um chumacinho de algodão
Roteiro
244 CEDERJ
29
alguns vasos se abrem, enquanto outros se fecham espontaneamente.
AULA
Essa vasomotricidade pode ser acentuada com as manobras que alteram
o tônus da musculatura lisa vascular. Para demonstrar isso escolhemos,
nesta atividade, utilizar variações de temperatura, mas poderia ser também
feito utilizando substâncias vasoativas, como as listadas na Tabela 29.1.
Com a água gelada, os vasos ficam mais finos, e diminui a velocidade
de deslocamento das hemácias. Com um pouco de sorte, você poderá
ver que alguns vasos que antes estavam abertos agora estão fechados, o
sangue passando apenas por vasos mais largos, que são as anastomoses
arteriovenosas. Já com o calor, os vasos ficam mais abertos, aumentando
o fluxo e também o número de vasos abertos.
Trocas transcapilares
Difusão
Pinocitose
CEDERJ 245
Corpo Humano I | Os vasos e o trânsito de substâncias vitais
Filtração
246 CEDERJ
Arteríola Vênula
Como você pode observar na Figura 29.3, há
29
a Pressão
hidrostática
predomínio da pressão hidrostática (representada capilar
AULA
pela linha descendente, Phc, contínua) sobre a Capilar
oncótica (representada pela linha horizontal, πo
Pressão
pontilhada) na parte arteriolar do capilar, enquanto Pressão
oncótica
há predomínio da pressão oncótica na parte final, (πpl)
πpl
Figura 29.3: Esquema mostrando filtração e reabsorção de
fluido ao longo do capilar. (a): Situação normal: Phc, pressão
hidrostática capilar que diminui progressivamente do lado PH (V)
arteriolar para o venular. Queda de cerca de 15mmHg, confira
π
na escala àesquerda. o , pressão oncótica, devido às pro-
teínas plasmáticas. As setas indicam a diferença entre essas
duas pressões. As setas para cima indicam predominância da
pressão hidrostática capilar, havendo, portanto, filtração, ou
seja, saída de fluido para o interstício. As setas para baixo c
indicam predomínio da pressão oncótica sobre a hidrostática
capilar, indicando, portanto, reabsorção. (b): Formação de
PH (A)
edema devido a um aumento na pressão venosa (c):, forma-
ção de edema por diminuição da concentração de proteínas
plasmáticas.
πpl
PH (V)
CEDERJ 247
Corpo Humano I | Os vasos e o trânsito de substâncias vitais
ATIVIDADE
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
248 CEDERJ
RETORNO VENOSO
29
AULA
Após passar pelos capilares onde aconteceram as trocas de
água e outras substâncias, o sangue já transformado em venoso volta
para o átrio direito. A principal força propulsora é a diferença entre a
pressão na árvore vascular e no coração direito, uma energia de cerca
de 10mmHg.
De que outros fatores depende o retorno venoso? Além da força
propulsora anterior, existem vários fatores que auxiliam a volta do sangue
para o coração. São eles:
• o efeito bombeador da contração dos músculos da perna
• o tônus da parede das veias
• as válvulas venosas
• o adequado esvaziamento e relaxamento do ventrículo direito
ATIVIDADE
6. Vamos fazer uma pausa para você ver uma válvula venosa funcionando
no seu corpo. Calma, não precisa ficar apreensivo, não vamos dissecar
sua veia! Sente-se confortavelmente em uma cadeira e apóie a palma
da mão esquerda (ou a direita, se for canhoto) sobre a perna e deixe-
a completamente relaxada. Você consegue ver vasos sangüíneos
relativamente calibrosos, de coloração azulada, no dorso de sua mão?
Você está vendo suas veias. A seguir, escolha a mais proeminente e longa
dessas veias e apóie firmemente a ponta do dedo médio da mão direita
(ou esquerda, se for canhoto) na parte mais distal desse vaso (mais
próximo dos dedos). A seguir, apóie-o com o polegar da mão direita
(esquerda, se não for destro) sobre a veia, encostado ao dedo médio, e
faça um movimento suave mas firme sobre esta veia, na direção oposta
do seu dedo médio (no sentido da periferia para o centro), mantendo o
CEDERJ 249
Corpo Humano I | Os vasos e o trânsito de substâncias vitais
dedo médio firme na mesma posição. O que aconteceu? Você consegue ainda
ver a veia proeminente? Se você fez as manobras corretamente, não deve
estar vendo a veia. Todas as demais veias continuarão cheias, mas a que você
manipulou, não. O que aconteceu?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Se este vaso é uma veia, o sangue caminha por ela, da periferia para o centro.
Com o movimento feito com o polegar, empurramos o sangue que estava
contido nesse segmento em direção ao coração. Por que o sangue não volta
a encher esse pedaço? É porque as válvulas venosas aí presentes impedem o
refluxo. E o que fazer para encher essa veia novamente de sangue? Bem, aí é
mais fácil: basta você retirar o dedo médio que imediatamente o sangue, que
está voltando dos dedos, encherá essa veia novamente!
250 CEDERJ
Finalmente, o maior esvaziamento do VD, durante a sístole, faz o seu
29
efeito aumentando a força propulsora, pois quanto melhor o esvaziamento
AULA
ventricular no ciclo precedente e mais completamente relaxado durante a
diástole, menor será a pressão do lado direito do coração.
ATIVIDADE
7. Nesta atividade, você deve pedir para que uma pessoa, de preferência
magra, se sente e deixe o braço relaxado, pendente. Observe as veias
intumescidas. A seguir, peça para que ela leve a mão até a altura do
próprio coração. O que aconteceu com as veias? A seguir, peça para que
ela estique completamente o braço para cima, colocando a mão no alto,
e observe as veias novamente. Anote o que viu e tente explicar a razão
das diferenças observadas.
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 251
Corpo Humano I | Os vasos e o trânsito de substâncias vitais
a b
5 – 37=
Os valores de pressão com os quais trabalhamos na -32mmHg 95 – 37=
-58mmHg
fisiologia do aparelho circulatório se referem a valores medidos
com o paciente deitado, em posição horizontal. Nessa situação,
60cm
como todos os elementos envolvidos (coração, artérias e veias)
estão praticamente na mesma altura, as pressões medidas se 2mmHg 100m Hg
95 100 95 Pé
5t88 = 93mHg
95t88 = 183mHg
5 2 5
Veias
Artérias
Paciente deitado b
a
Figura 29.5: Efeito da gravidade sobre as pressões intravasculares. À esquerda estão indicados os valores de
pressão arterial em (a) e venosa em (b), com o paciente deitado, referenciados à pressão atmosférica. Os valores
de pressão estão indicados pelas alturas das colunas líquidas. À direita, (c), com o indivíduo de pé, aos valores
de pressão indicados em (a) e (b), próprios do sistema circulatório, somam-se algebricamente as pressões hidro-
státicas devido ao efeito da gravidade. Observe os valores de pressão nos pés e na cabeça. Observe também o
efeito dessas pressões sobre o lado venoso, representado à esquerda: acúmulo de sangue nas partes mais baixas
e colapso das veias nas partes mais altas do que o coração (Modificado de Circulação e respiração, Fundamentos
de Biofísica e Fisiologia, Paes de Carvalho, A e Fonseca Costa, A,1974, Rio de Janeiro.)
252 CEDERJ
Vamos analisar a Figura 29.5 para entender esse ponto. Nas duas
29
figuras à esquerda, em que se mostram as pressões médias nas artérias
AULA
(a) e veias (b), indicamos os valores com os quais temos trabalhado em
todas as aulas. Observe que se a pressão média na raiz da aorta for de
93mmHg, nas artérias da cabeça e dos pés teremos uma pressão arterial
média de cerca de 88mmHg. Por outro lado, a pressão média nas veias
cavas será de 2mmHg, e nas veias dos pés e da cabeça, aproximadamente
5mmHg. Observe agora o que acontece quando essa pessoa se põe de
pé, como mostrado em (c). Vamos supor que esse homem tenha 1,80m
de altura. Nesse caso, a diferença de altura entre o pé e o coração será de
cerca de 1,20m, ou seja, a pressão nos vasos sanguíneos, tanto artérias
como veias, será acrescida de uma pressão equivalente a 1,20m de H2O,
ou seja, 88mmHg (120mmH2O/13.4, que é a densidade do Hg). Já a
pressão nos vasos da cabeça é diminuída em cerca de 37mmHg, supondo
uma diferença de altura entre o coração e a cabeça em torno de 50cm.
Do ponto de vista da energia para a promoção do fluxo sangüíneo
pelo aparelho circulatório, o efeito da gravidade não traz nenhum
problema, porque os mesmos valores são acrescidos tanto no lado arterial
quanto no venoso, de modo que as diferenças de pressão necessárias para
o fluxo de sangue permanecem inalteradas. No entanto, essa coluna de
líquido produz efeitos circulatórios muito importantes nas veias, cujas
paredes são altamente complacentes. Pelos números apresentados antes,
a pressão venosa nos pés poderá atingir até cerca de 94mmHg, enquanto
nas veias da cabeça será de cerca de -32mmHg (uma pressão negativa!!!,
ou seja, abaixo da pressão atmosférica).
Estes valores de pressão explicam tanto o acúmulo de sangue nas
veias da mão colocada no alto quanto o colapso delas quando a mão
é colocada abaixo do coração, que você viu na Atividade 5 e que foi
mostrado na Figura 29.4.
Na verdade, a pressão nos vasos do cérebro não cai tanto devido à
proteção oferecida pela caixa craniana, mas é certamente menor do que
na altura do coração. O resultado é que há uma tendência ao colapso
das veias do pescoço e da cabeça e de acúmulo de sangue nas veias
dos membros inferiores quando o paciente fica de pé. Veja também na
Figura 29.5.c. Daqui resultam a importância da compressão exercida
pela contração dos músculos das pernas e das válvulas venosas para
promover o retorno venoso.
CEDERJ 253
Corpo Humano I | Os vasos e o trânsito de substâncias vitais
CONCLUSÃO
ATIVIDADES FINAIS
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
254 CEDERJ
RESPOSTA COMENTADA
29
Embora o comprimento do percurso percorrido pelo sangue e a viscosidade
AULA
deste sejam também elementos determinantes da resistência vascular, o
parâmetro utilizado pelo organismo para alterar a resistência é a área de secção
transversa. Na verdade, é o único parâmetro passível de mudança, e isto é feito
variando o tônus da musculatura lisa vascular. E é muito interessante que essa
regulação seja feita dessa forma porque o raio do vaso entra elevado à quarta
potência na determinação da resistência vascular (veja a Lei de Poiseuille).
Isso o torna um mecanismo muito poderoso: pequenas alterações do tônus
da musculatura lisa, produzindo alterações significativas na resistência.
RESPOSTA COMENTADA
Produto Via
Substâncias lipofílica (gases do ar,
Membrana plasmática
lipídios)
Água Poros (capilares contínuos e fenestrados)
CEDERJ 255
Corpo Humano I | Os vasos e o trânsito de substâncias vitais
RESPOSTA COMENTADA
256 CEDERJ
perfusão é vital, como coração e cérebro. Nestes dois órgãos, tanto
29
os fatores locais como os neurais favorecem a vasodilatação nessa
AULA
situação: os fatores locais são metabólitos vasodilatadores, e o fator
neural, a ativação simpática, que através da liberação da noradrenalina
leva a vasodilatação. Aqui, a noradrenalina interage com receptores
do tipo beta e não alfa como na maioria dos vasos. Isso garante o
fluxo sangüíneo em ambos os órgãos vitais.
RESUMO
CEDERJ 257
Pressão arterial: por que ela
30
AULA
às vezes sobe tanto?
Regulação da pressão arterial
Meta da aula
Explicar os mecanismos que atuam no controle da pressão
arterial, integrando neste processo os conceitos de balanço
do volume do líquido extracelular e as propriedades do
coração e dos vasos, introduzidos nas aulas anteriores.
objetivos
Esperamos que, após o estudo desta aula, você seja capaz de:
• identificar os fatores determinantes da pressão arterial;
• identificar a relação existente entre a pressão arterial e o conteúdo
de sódio corporal;
• prever os efeitos das variações de volume do líquido extracelular sobre
a pressão arterial;
• identificar os mecanismos responsáveis pelos ajustes rápidos
da pressão arterial;
• compreender a importância do reflexo dos barorreceptores carotídeo
e aórtico no controle rápido da pressão arterial;
• construir um diagrama em que sejam colocados os vários elementos
que interferem na pressão arterial e estabelecer a relação entre eles;
• medir pressão arterial em uma pessoa pelo método de Riva Rocci
e explicar os princípios sobre os quais se baseia este método
de medida;
• reconhecer a importância da utilização regular, segundo prescrição
médica, dos medicamentos utilizados para o tratamento da
hipertensão arterial.
Pré-requisitos
Aulas 24, 28 e 29 de Corpo Humano I.
Corpo Humano I | Pressão arterial: por que ela às vezes sobe tanto?
Regulação da pressão arterial
PS
Pressão (mmHg)
PD
Idade (anos)
260 CEDERJ
metros rasos em uma olimpíada.
Vamos então passar para a segunda pergunta: Pelo que estudamos
30
nas aulas anteriores, o fluxo de sangue para a circulação sistêmica depende
AULA
da pressão arterial (você deve lembrar que DC=Pa/RST, conforme a Aula 29).
Portanto, a pressão arterial média é um parâmetro que deve ser finalmente
regulado para mantê-lo dentro de uma determinada faixa de valores para
garantir a perfusão adequada dos tecidos. Se a pressão média for muito
CHOQUE
baixa, pode não haver perfusão de órgãos vitais, levando ao que se chama
Termo médico que
CHOQUE. E por que a pressão arterial não pode ser muito alta? Não seria indica situação
de alarme onde a
melhor? Afinal, quanto mais alta a pressão, melhor perfusão de todos os perfusão tecidual
órgãos? A resposta é NÃO e as razões são várias. Uma delas você aprendeu fica comprometida
e as células sofrem
na Aula 28: a pressão arterial representa a pós-carga contra a qual o VE com o processo
de isquemia
deve jogar sangue a cada contração. Quanto maior a pressão, mais trabalho – nesse caso, o
tipo de choque é o
o coração precisará fazer para ejetar um determinado volume sistólico.
hipovolêmico.
Assim, se a pressão média for mantida permanentemente mais alta do que
a faixa de normalidade, o coração estará sendo submetido a permanente ATEROSCLEROSE
Depósito de
sobrecarga, o que poderá levá-lo a uma gradual perda de função. A outra gordura na parede
razão muito importante é que em regime de alta pressão, as paredes das das artérias (placa
de ateroma),
artérias estarão submetidas permanentemente a um estresse aumentado, ocasionando
uma diminuição
com excessivo estiramento e expostas a uma velocidade sangüínea progressiva
do seu lúmen.
aumentada, o que pode provocar lesões (especialmente nas coronárias e
vasos do cérebro, rim e retina), podendo levar à ATEROSCLEROSE, causando,
em casos graves, infarto no miocárdio, acidente vascular cerebral, danos
nos rins, comprometimento da visão etc.
ATIVIDADE
_______________________________________________________
_______________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 261
Corpo Humano I | Pressão arterial: por que ela às vezes sobe tanto?
Regulação da pressão arterial
Você pode fazer uma analogia com a câmara de ar do pneu para entender melhor esta idéia.
Quando o pneu está murcho, a pressão dentro dele é igual à atmosférica, por isto o manômetro,
que mede a pressão do pneu, tomando como base a pressão atmosférica, marca zero. Ao encher
o pneu, inicialmente o manômetro continuará a marcar 0. A partir de um certo momento, a
pressão no interior da câmara começa a subir. Isto acontece quando o volume de ar excede a
capacidade do compartimento. No caso do pneu, quando isto acontece, a parede distende porque
ela é elástica e assim comporta um volume maior sob pressões bem maiores do que a atmosférica.
A elasticidade das paredes faz com que, para um determinado incremento de volume, a pressão
aumente menos do que aumentaria se a parede fosse rígida!
262 CEDERJ
!
30
É importante lembrar que existe um equilíbrio entre os compartimentos vascular e
AULA
intersticial, com permanente troca de líquidos entre os dois, pois ambos juntos representam
o compartimento extracelular. Quando aumenta o volume do líquido extracelular, aumenta
de ambos os componentes: vascular e intersticial. E quando aumenta o volume de líquido
do compartimento vascular, aumenta a volemia. Por esta razão, por vezes utilizamos os três
termos indistintamente no contexto desta aula, mas é importante ter claro o que significa
cada um deles.
FEEDBACK OU
RETROALIMENTAÇÃO
O componente central do mecanismo de controle da pressão Mecanismo de
arterial é o efeito que a pressão arterial exerce sobre a excreção de controle de sistema
em que o próprio
sódio e água pelos rins. Sabe-se que o aumento prolongado da pressão parâmetro a ser
controlado interfere
arterial induz um aumento na excreção de sódio e água pelos rins, de no processo. Se o
feedback for negativo,
modo que, se a ingestão destes dois componentes permanecer a mesma,
o valor do parâmetro
o resultado será uma diminuição, do volume extracelular, portanto do é comparado a um
valor de referência
volume de sangue, o que segundo acabamos de aprender resultará em (chamado set point).
Se estes valores não
uma diminuição da pressão arterial. O raciocínio inverso também é forem iguais, serão
verdadeiro e é desta forma que a pressão arterial é mantida constante, disparados processos
no sentido de
a longo prazo, em torno do valor aproximado de 100 mmHg, em uma igualá-los. O valor de
referência da pressão
pessoa normal. Este processo é conhecido como o mecanismo de FEEDBACK arterial é entre 90 e
rim/fluidos corporais ou mecanismo de pressão/natriurese/diurese. 95 mmHg.
CEDERJ 263
Corpo Humano I | Pressão arterial: por que ela às vezes sobe tanto?
Regulação da pressão arterial
AULA
Arteríola
Bowman Células aferente
justaglomerulares
Glomérulo Células
justaglomerulares Cápsula de
Arteríola Bowman
eferente
Túbulo Mácula
proximal Mácula
densa
densa
Túbulo
distal Túbulo
distal
Glomérulo
b
Alça de
Henle Arteríola aferente
Duto
coletor
a
CEDERJ 265
Corpo Humano I | Pressão arterial: por que ela às vezes sobe tanto?
Regulação da pressão arterial
ATIVIDADE
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_____________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
266 CEDERJ
Por isto, é o mecanismo responsável pela manutenção da pressão arterial
30
a longo prazo.
AULA
Além deste mecanismo o rim interfere na pressão arterial por ser
o local de produção de uma enzima, a renina, que participa do sistema
renina/angiotensina/aldosterona (SRAA).
Sistema renina-angiotensina-aldosterona
Supra-renal
CEDERJ 267
Corpo Humano I | Pressão arterial: por que ela às vezes sobe tanto?
Regulação da pressão arterial
268 CEDERJ
ATIVIDADE
30
3. Um jovem saudável, com cerca de 60 Kg de peso sofreu um acidente e
AULA
perdeu rapidamente cerca de 1 litro de sangue. Foi levado à emergência
de um hospital e imediatamente atendido. Ao primeiro exame
observou-se que estava com a pele fria e pálida, a freqüência cardíaca
era de 100bpm e a pressão arterial, 130 mmHg (PAS) e 100 mmHg
(PAD). Perguntado sobre sua pressão arterial habitual, afirmou ter feito
um exame de rotina recentemente, quando estava com pressão arterial
de 120 mmHg (PAS) e 80 mmHg (PAD). Os valores dos parâmetros
medidos estão normais?
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Pelo que aprendemos até agora, o paciente está taquicárdico (pois a faixa
normal de freqüência cardíaca é de 60 a 80 bpm) e a pressão sistólica
está dentro da faixa de normalidade, mas a pressão diastólica está acima
do normal (veja a Tabela 30.1). Como é possível ter perdido 1 litro de
sangue e estar com a pressão mais alta? Será que estas alterações têm
alguma relação com a hemorragia? Ou são exclusivamente conseqüências
do estado emocional do paciente? Veja a seguir.
CONTINUANDO A ATIVIDADE 1
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
__________________________________________________________________
CEDERJ 269
Corpo Humano I | Pressão arterial: por que ela às vezes sobe tanto?
Regulação da pressão arterial
Corpúsculos
Evento inicial ↓ Pressão arterial aórticos
Barorreceptores carotídeos
Receptor ↓ e aórticos
+ –
eferente eferente
↑ Simpático ↓ Parassimpático
+ –
Efetuadores
Vasos Coração
Tônus
↑ ↑ Tônus veias Miocárdio Mosa
arteriais
b
270 CEDERJ
30
Estes receptores são inervados respectivamente pelos nervos vago,
(barorreceptores aórticos) e glossofaríngeo (barorreceptores carotídeos)
AULA
que constituem a via aferente do arco reflexo, e levam a informação
para o centro cardiovascular no bulbo (centro de integração). Daqui
saem mensagens através do sistema nervoso autônomo (via eferente) no
sentido de alterar o balanço simpático/parassimpático, em função dos
sinais provenientes dos receptores. Se o receptor estiver sendo pouco
ativado, haverá predominância do simpático (aumento da atividade
simpática e depressão da parassimpática) e inversamente, se o receptor
estiver superativado, haverá o aumento do parassimpático e diminuição
do simpático, com os efeitos esperados sobre os órgãos efetores, coração !
e vasos. Este mecanismo de controle da pressão arterial constitui o O nervo vago contém vias
aferentes, como esta que
chamado barorreflexo de regulação da pressão arterial e é o mecanismo parte dos mecanorreceptores
e também quimiorreceptores
mais importante de controle rápido da PA. da croça da aorta, e vias
Quando há uma queda na pressão arterial como no caso da eferentes, como a via motora
do sistema parassimpático,
Atividade 1, os barorreceptores são pouco ativados, diminui o número que inerva o coração.
de impulsos que estes receptores enviam ao bulbo. Como conseqüência,
o centro cardiovascular ativa o simpático e inibe o parassimpático. O
resultado final é o predomínio do simpático no coração e vasos, o que
leva a três efeitos imediatos:
1. No reservatório de volume constituído pelo leito venoso, o
aumento do tônus simpático leva ao aumento do tônus da musculatura da
parede venosa. Isto leva a uma diminuição de sua capacidade, induzindo
um aumento do retorno venoso.
2. No coração, observa-se aumento da freqüência cardíaca e da
força de contração ventricular que, associado ao aumento do retorno
venoso, leva a um aumento do débito cardíaco. Como PA=DCxRST um
aumento de DC leva a aumento da PA.
3. No leito arterial, o predomínio simpático leva a uma constrição
das artérias e arteríolas por aumento do tônus da musculatura da parede,
na maioria dos leitos vasculares. Disto resulta aumento da resistência
vascular periférica. Novamente, como PA = DCxRST, o aumento de RST
leva também ao aumento da PA. É importante lembrar que a constrição
arterial não ocorre de forma uniforme em todos os locais, sendo muito
intensa nos músculos esqueléticos e na pele, por exemplo (daí a palidez
e a sensação de pele fria, observada no nosso paciente com hemorragia).
CEDERJ 271
Corpo Humano I | Pressão arterial: por que ela às vezes sobe tanto?
Regulação da pressão arterial
272 CEDERJ
Como você pôde perceber, acompanhando a Atividade 1, a
30
resposta através do barorreflexo é muito rápida, sendo, por isso muito
AULA
importante para os ajustes imediatos da PA, face a variações bruscas
de pressão.
ATIVIDADE
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_______________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
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Corpo Humano I | Pressão arterial: por que ela às vezes sobe tanto?
Regulação da pressão arterial
ATIVIDADE
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30
RESPOSTA COMENTADA
AULA
Evento inicial: aumento da PA; conseqüências: 1. estiramento dos
barorreceptores aórticos e carotídeos; 2. aumento da atividade destes
receptores; 3. aumento de atividade na via aferente dos nervos vago
e glossofaríngeo; 4. o centro cardiovascular inibe o simpático e ativa o
parassimpático; 5. predominância parassimpática no coração e diminuição
da atividade simpática nos vasos; 6. diminuição do tônus da parede das
veias, retenção de sangue nas veias, diminuição de retorno venoso; 7.
Diminuição do débito cardíaco; 8. diminuição da freqüência cardíaca e da
força de contração cardíaca, que levam à diminuição do débito cardíaco;
9. vasodilatação arterial, diminuição da resistência periférica, que também leva à
queda da PA. Por esta seqüência de eventos, dá para perceber que o aumento
inicial de pressão, causado pela manobra experimental, ativou um sistema
de controle baseado em retroalimentação negativa (ou feedback negativo)
que traz a PA de volta para os seus níveis normais. Observa-se, assim, que o
próprio organismo exerce uma função auto-reguladora em pontos-chave do
corpo, prevenindo-se assim contra alterações rápidas da PA.
CEDERJ 275
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Regulação da pressão arterial
Excreção de água
Vasodilatação ↓ Débito cardíaco e sódio na urina
↓ RVP ↓volume do sangue
Resultado final
Figura 30.5: Mecanismos básicos de regulação da pressão arterial. Observe as respostas a uma
intervenção hipertensora. RT, resistência periférica (+) ativação.
ATIVIDADE
6. Nesta atividade, vamos medir a pressão arterial. Caso você não disponha
dos meios de fazer esta atividade em casa, não se preocupe. Poderá fazê-la
no dia da atividade presencial obrigatória, no seu pólo.
276 CEDERJ
30
!
AULA
Lembre-se de que enquanto o manguito estiver comprimindo
o braço do paciente, a parte do braço distal ao manguito está
com a circulação interrompida. Por isto, é muito importante
que a pressão seja mantida apenas o tempo para fazer as
medidas (alguns segundos). Se tiver que repetir a operação
ou estiver encontrando dificuldade para fazer a medida,
desinsufle o manguito completamente, deixe passar alguns
minutos e tente novamente.
Q=0
Pressão
no manguito > PS
a
Fluxo turbilhonar
Pressão
Estetoscópio no manguito
entre PS e PD
c
Fluxo laminar
Pressão
Figura 30.6: Esquema da técnica Riva-Rocci no manguito < PD
de aferição da PA. Note a escala à esquerda
(em mmHg), onde os valores variam de 120
a 80 mmHg em um adulto normal. Observe d
à direita como a artéria é ocluída pela com-
pressão exercida pelo manguito durante
este procedimento.
CEDERJ 277
Corpo Humano I | Pressão arterial: por que ela às vezes sobe tanto?
Regulação da pressão arterial
278 CEDERJ
30
menor do que a pressão diastólica. Neste momento, você deixará de ouvir
AULA
qualquer som relacionado com o fluxo de sangue, pois a partir deste
momento, a artéria não estará sendo comprimida e por isto, o fluxo terá
voltado a ser laminar como você pode ver na Figura 30.6.d. A pressão
indicada no manômetro do manguito no momento em que você cessar
de ouvir o som corresponde à PD.
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Corpo Humano I | Pressão arterial: por que ela às vezes sobe tanto?
Regulação da pressão arterial
NORMAL
Ótimo ≤120 e ≤ 80
Normal ≤130 e ≤ 85
Normal alto 130 – 139 e/ou 85 – 89
HIPERTENSÃO
280 CEDERJ
O distúrbio mais freqüente da pressão arterial é a hipertensão
30
arterial. Trata-se na maioria dos casos de uma doença crônica para a
AULA
qual não existe cura. O que é possível fazer é um controle no sentido
de manter a pressão arterial nos níveis adequados. E isto se consegue
através do controle da dieta (lembre-se do mecanismo pressão/natriurese/
diurese) e da utilização de medicamentos. Por isto, é muito importante a
compreensão de que se você for hipertenso, os valores de PA só se mantêm
na faixa normal se o tratamento for continuado, sem interrupção. Pois o
que os medicamentos fazem é, através de sua ação, manter controlado,
dentro dos níveis normais, o volume de água extracelular e, portanto, o
volume de sangue, e o tônus da parede das artérias. Estes medicamentos,
uma vez ingeridos, passam para a circulação através da qual atingem os
tecidos onde atuam, mas são continuamente metabolizados e excretados de
modo que necessitam de constante reposição através da sua ingestão. Daí
também a importância de seguir cuidadosamente a dosagem recomendada
e a periodicidade de sua ingestão para que os efeitos desejados sejam
alcançados. Sabe-se, também, que a questão da manutenção da pressão
arterial dentro da faixa de normalidade tem muito a ver com os hábitos
de vida, alguns sendo favoráveis a sua manutenção e outros, altamente
predisponentes a uma hipertensão. Veja na Figura 30.7, e também nos
endereços listados na Bibliografia, alguns destes pontos.
O que fazer
• Frutas frescas
• Verduras frescas
• Aves
Bebida
Sedentarismo • Pescados
Estresse • Carnes magras Exercícios
• Cereais
Figura 30.7: Ilustrações diversas de fatores de risco (à esquerda) e medidas preventivas (à direita).
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Corpo Humano I | Pressão arterial: por que ela às vezes sobe tanto?
Regulação da pressão arterial
CONCLUSÃO
ATIVIDADES FINAIS
RESPOSTA COMENTADA
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Pressão arterial
média do sangue
AULA
Volemia Bomba cardíaca Resistência periférica Capacidade venosa
Ingestão de Excreção de
água e sódio água e sódio
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Regulação da pressão arterial
RESPOSTA COMENTADA
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RESUMO
AULA
A pressão arterial é um parâmetro muito importante, pois dela depende que o
débito cardíaco seja adequado para manter a perfusão de todos os tecidos. Portanto,
sua manutenção na faixa entre 90-95 mmHg é fundamental. O mecanismo que
permite que a PA seja mantida ano após ano dentro desta faixa normal é o controle
exercido pelos rins sobre o volume de líquido extracelular, através do mecanismo
de feedback pressão/natriurese/diurese. Este mecanismo, no entanto, não dá conta
de corrigir rapidamente as variações que acontecem a todo o momento na vida
cotidiana das pessoas, por ser um processo muito lento (2 a 4 dias para completar
o processo). Assim, existem mecanismos neurais e hormonais que permitem fazer
estas correções rapidamente (em segundos). Dentre estes mecanismos, destaca-se o
reflexo barorreceptor que age muito rapidamente corrigindo ciclo a ciclo a pressão
arterial. O distúrbio mais freqüente envolvendo pressão arterial é a hipertensão
que, na maioria dos pacientes, é de causa desconhecida.
LEITURAS RECOMENDADAS
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Regulação da pressão arterial
SITES RECOMENDADOS
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Corpo Humano I
Referências
Aula 21
LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios. 2. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2004. 698 p.
MARTIN, John H. Neuroanatomia: texto e atlas. 2. ed. São Paulo: Arte Médica, 2002.
Aula 24
BERNE, M.B. et al. Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
Aula 25
288 CEDERJ
Aula 28
AIRES, Margarida de Mello. Fisiologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999.
SPENCE, Alexander P. Anatomia humana básica. 2. ed. São Paulo: Manole, 1991. 713p.
Aula 29
AIRES, Margarida de Mello. Fisiologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999.
CARVALHO, Antonio Paes de; COSTA, Ayres Fonseca. Circulação e respiração. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1974.
Aula 30
CEDERJ 289
código
código
de barras
de barras
978- 85- 7648- 382- 3