A Liturgia Pentecostal
A Liturgia Pentecostal
A Liturgia Pentecostal
Gostaria de acrescentar que esse sinal (glossolalia) deve ter sido tremendamente
encorajador para a igreja de Lucas, como é para inúmeros cristãos contemporâneos.
Expressava a ligação que tinham com a igreja apostólica e confirmava a identidade de
cada membro como profeta do fim dos tempos. Acho interessante que tantos crentes de
igrejas tradicionais de hoje reajam negativamente à ideia da glossolalia como um sinal
visível. Perguntam com frequência: Será que devemos mesmo enfatizar um sinal visível
como as línguas? Não obstante, esses mesmos cristãos participam de uma forma litúrgica
de adoração que está cheia de sacramentos e imagens; uma forma de adoração que
enfatiza sinais visíveis. Sinais são valiosos quando eles apontam para algo significativo.
Lucas e sua igreja claramente entendiam isso.[4]
Veja que a glossolalia, como aponta magistralmente Menzies, serve como uma espécie
de sinal litúrgico. É uma ligação em continuidade entre a igreja contemporânea e a igreja
primitiva. O pentecostalismo sempre alimenta a esperança que a igreja primitiva seja o
modelo para a os nossos dias. Nesse sentido, a língua não é apenas uma ligação com os
céus em oração, mas também é uma forma de continuidade em comunhão e missões com
os primeiros cristãos. É comum no culto pentecostal lembrar que a igreja “nasceu no
Pentecostes”. Dessa forma, o pentecostal se sente como parte da continuidade dessa
comunidade.
Outro ponto a ser destacado é o uso do corpo na liturgia protestante. O corpo agora passar
a ser parte também da celebração. O culto protestante tradicional desprezava de tal forma
o corpo que qualquer movimento era lido como mundanismo e sacrilégio. É o que
podemos chamar de maniqueísmo litúrgico ou mesmo legalismo cúltico. Essa mudança é
outra influência do pentecostalismo e é de natureza positiva. Embora saibamos dos
exageros com o corpo embriagado no emocionalismo como movimentos conhecidos
como “bênção de Toronto” ou “retete”, é importante lembrar que o ser humano é integral.
O culto não pode ser voltado apenas ao homem interior. O corpo também comunica
nossas emoções e recebe instruções.
O culto cristão não é meditação, não é aula, não é seminário. O culto não é apenas do
e para o intelecto. Embora o culto envolva a instrução, o ensino, a doutrina, ele será
incompleto sem o elemento emocional. O homem é um ser emocional, antes mesmo de
ser racional. Se isso é verdade em culturas mais mergulhadas na modernidade, o que
dizer então da realidade brasileira? Vivemos numa cultura fortemente marcada pela
emoção. Isso não é depreciativo nem exultante, mas é apenas nossa realidade. O culto
pentecostal resgatou a importância da emoção. É certo que muitos leitores logo
pensarão nos exageros emocionais, mas é importante destacar que o formalismo
também é um excesso. O teólogo e filósofo James K. A. Smith lembra:
Negar o elemento emocional do ser humano não é prudente, nem correto com a Revelação
bíblica. Ao mesmo tempo, o culto pentecostal não pode ser uma baderna de vaidades. Há
a necessidade de ordem e decência. O uso e o abuso dos dons espirituais necessitam de
disciplina conforme orientação das Escrituras, especialmente em 1 Coríntios 14. Mas, não
custa lembrar, apesar de todos os erros e exageros, defeitos e dificuldades, o
pentecostalismo trouxe um culto mais autêntico para o protestantismo como um todo.
Embora fossem igrejas conservadores na doutrina, muitas igrejas tradicionais eram
racionalistas na adoração. Há casos passados onde pessoas foram disciplinadas porque
testemunham uma cura no ambiente do culto. Ora, tal atitude lembra quem nos
Evangelhos?