Catálogo Da Exposição Histórica Da Ocupação II
Catálogo Da Exposição Histórica Da Ocupação II
Catálogo Da Exposição Histórica Da Ocupação II
HISTÓRICA
DA
OCUPACÃO
/
II VOLUME
19 3 7
da
EXPOSIÇÃO
HISTÓRICA
DA
OCUPAÇÃO
DEP. LEG.
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s REPÚBLICA PORTUGUESA
MINISTÉRIO DAS COLÓNIAS
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EXPOSIÇÃO
HISTÓRICA
DA
OC UPAÇAO
II VOLUME
E POVOAMENTO
7
Assim correu a fase heróica da penetração, de carácter
sobretudo individual: quantas vezes um só português não
conquista, pela persuação e pelo prestígio pessoal, tribus
e reinos para os vir depor aos pés do seu rei! É que no cora-
ção de cada um dêsses arrojados exploradores iam, inteiras,
as aspirações imperiais e os ideais da civilização da sua pátria!
Mas a penetração não se féz só assim, caprichosamente,
ao sabor da imaginação e da vontade de portugueses isolados:
também revestiu outras vezes aspecto metódico, seguindo um
plano, ora por meio de entendimentos diplomáticos com os
soberanos locais, ora por lenta infiltração pacífica, ora sob a
forma de expedições punitivas ou visando a mera afirmação
de poderio. Era então o desenvolvimento inteligente de uma
politica, levado com persistência até estarem definitivamente
abertos e seguros os caminhos da civilização.
8
Persistem, ainda, se bem que às vezes ignoradas, afini-
dades étnicas, psicológicas e linguisticas então criadas. A
Guiné ficou para sempre associada à vida de Cabo Verde,
donde ainda agora provêm muitos dos seus funcionários e
dos capitalistas que a exploram. No Brasil estão fincadas in-
deléveis influências angolanas — ou não fôra Angola antiga-
mente uma espécie de dependência da sua economia e até da
sua administração. E Moçambique continua a ser o lugar
preferido pelos indianos para destino da emigração.
Foi pois com o auxilio dos homens de umas possessões
que povoámos outras. Mas nem só êsse processo usámos: for-
maram-se colónias brancas, sobretudo em Cabo Verde, na
índia e no Brasil, e pela aliança com os indígenas, multipli-
cámos os mestiços que no Brasil constituem uma camada im-
portantíssima da população.
Hoje o povoamento branco intensifica-se. Surgem cida-
des enternecedoramente portuguesas — no tipo, na língua e
na alma. Abre-se um novo ciclo no destino imperial da Lu-
sitânia: e olhando tudo o que já fizemos, antevemos o muito
que os séculos futuros esperam do vigor da nossa raça e da
persistência do nosso génio.
Marcelo caetano
9
Nas paredes quatro quadros de Cunha Barros, relativos à
expansão da ocupação portuguesa nos meados do século XIX,
um de Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe; outro de An-
gola; outro de Moçambique; e o último de Timor.
Nos quadros da escada e nas vitrinas das secções acham-se
expostos os seguintes documentos:
SECÇÃO I
10
N° 9 — Planta das ilhas de S. Vicente e de Santo Antão —
1798.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)
11
1774 como compensação do tratado de limites do
Brasil.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
12
N.° 28 — Plano da cidade de Santo António da Ilha do Prín-
cipe, por Joaquim de Sousa Braga— 1814.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
SECÇÃO II
Angola
13
jsj • 35 Gravura panorâmica da vila de Mossâmedes
1865. Feita pelo Coronel Fernandes da Costa
Leal.
(Cedida pela Sociedade de Geografia)
3 8 Planta
S. Felipe de Benguela — 1786. Contém a assinatura
do governador de Benguela, Alexandre José Bo-
telho de Vasconcelos.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)
3 9 Prospecto
Reyno de Angola, por Luiz Antonio S.\ Anno de
1808. „ ,
(Cedido pela Sociedade de Geografia)
H
N.® 43 — Memória sôbre o presídio de Cambambe— 1847.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)
15
N.o 49 —Cidade de S. Paulo de Luanda (reprodução foto-
gráfica).
(Cedida pelo Govêrno de Angola)
SECÇÃO III
Moçambique
16
N.° 58 — Aguarela representando uma vista da cidade de
Moçambique.
(Cedida pela Agência Geral das Colónias)
17
tuguesas — Moçambique, por António Cândido
Pedroso Gamito. Autógrafo. Setúbal, 2 de Janeiro
de 1850.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)
SECÇÃO IV
Macau e Timor
DIAPOSITIVOS
ANGOLA
— Muxima.
— Novo Redondo.
— Benguela.
— Colungo Alto.
— Catumbela.
— Sá da Bandeira.
— Cabinda.
— N'Dala Tando (actual Vila Salazar).
— Ambriz.
— Luanda — Mercado ao ar livre.
— Ambrizete.
— Mossâmedes.
19
MOÇAMBIQUE
TIMOR
Panorama de Viqueque.
Uma rua em Liquiçá.
Povoação em Lautem.
Povoação comercial em Maubara.
Um acampamento.
Uma rua em Dili.
Um trecho da povoação em Bobonaro.
Uma rua em Dili.
Uma povoação em Boibau.
Tranqueira e povoação de Bobonaro.
Uma rua de Dili.
Casas de Maubara.
777777777777777777777',
MAPA DA EXPANSÃO
DA LÍNGUA
21
séculos XVII e XVIII, no Oriente e Extrémo-Oriente, quando
estava já muito decadente o nosso poder político.
Em 1600, o mercador inglês W. Adams escrevia do Ja-
pão: «Eu fui levado numa das galés do rei à côrte, em Osaca,
onde reside o soberano, cérca de 18 léguas do lugar onde
estava o meu navio. A 12 de Maio de 1600, cheguei à grande
cidade do rei, o qual mandou que eu fôsse ao Paço... Levado
à presença do rei, êle fitou-me e pareceu bem disposto a meu
respeito. Falou-me por sinais, dos quais uns compreendi e
outros não. Por fim apareceu alguém que sabia falar portu-
guês. Por êle o rei preguntou-me de que pais eu era e o que
me fizera vir ao seu, tão afastado do dêlen [David Lopes,
A expansão da língua portuguesa no Oriente]. — Cêrca de
7724, A. Hamilton escrevia: «Um grande infortúnio nos es-
pera a nós Europeus que viajamos na índia, isto é, o desco-
nhecimento das suas línguas: elas são tão numerosas que um
século seria pouco tempo para as aprender tôdas. Eu não pude
encontrar uma pessoa em 10.000 habitantes da India que
fôsse capaz de falar suficientemente inglês; e pelo contrário
os Portugueses deixaram ao longo das costas vestígios da sua
língua, posto que muito corrompida; ela é a lingua que a
maior parte dos Europeus aprendem primeiro para comuni-
carem uns com os outros, assim como com os diferentes habi-
tantes da índia» [David Lopes, A expansão da língua portu-
guesa no Oriente].
A sua expansão no passado e no presente pode ver-se no
seguinte quadro que é o traslado do mapa em exposição na
sala.
A (côr encarnada)
1 — Portugal e Olivença
2 — Açores
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3 — Madeira
j — Cabo Verde
3 — Guiné Portuguesa
6 — S. Tomé e Príncipe
7 — A ngola
8 — Brasil
9 — Moçambique
10 — Diu
11 — Damão
12 — Goa
13 — Timor
14 — Macau
B (côr verde)
15 — índia: Bombaim.
16 _ China: Hong-Kong e Xangai.
z7 — Ilhas de Hawai: Honolulu.
18 — Estados-Unidos da América: Newark, Nova-Bedford,
Fall-River, Providence, Cambridge-Boston (Estados de
Leste); S. Francisco, Oakland e Sacramento (Califórnia)
C (côr alaranjada)
19—Cabo Verde
20 — Guiné Portuguesa
21 — S. Tomé e Príncipe
22 — Ano Bom
23 — Diu
23
— Damão
25— Baçaim, Taná, Bombaim e Chaúl
26 — Mangalor
27 — Cananor
28 — Mahé
29 — Cochim
30 — Ceilão
31 — Negapatão
32 — Malaca e Singapura
33 — Java: Tugo.
D (côr a/.ul)
U
51 — Bengala: Ugolim (ao sul de Calcutá)
52 — Birmânia: Rangune, Martabão, Tavoi e Mergui
53— Malaca e Singapura.
54 — Sião: Bangkok
55 — Java: Batávia
56 — Ilhas de Flores e Solor
57 — Molucas: Tidore, Ternate e Ambóino
58 — China: Cantão
59 — Japão: Nagasáqui.
DAVID LOPES
♦
-T7T77777'77777777'77'?y7',
VIAGENS DE CARACTER
CIENTÍFICO E POLÍTICO
28
bem a região entre Tete e Cazembe, esta no interior afri-
cano, entre Angola e Moçambique.
De facto, êle o seguiu até à morte e, depois, o Padre João
Pinto, continuador do malogrado Dr. Lacerda.
Porém, não conseguiram alcançar Angola. Chegados a
Cazembe, depois de lutas espantosas com doenças, traições dos
companheiros e serviçais, com fome e com sêde, já falecido o
Dr. Lacerda, Padre João Pinto mandou continuar a viagem
aos soldados brancos Paulo da Silva e Caetano da Costa. Mas
de Cazembe não saíram, porque o rei negro lho não permitiu.
E ali ficaram. Do Caetano da Costa nunca mais se soube.
Quanto ao Padre João Pinto e seus companheiros, o
tenente-coronel Nolasco e o citado Gonçalo Caetano, únicos
europeus, regressam a Tete. O heróico sacerdote fizera a via-
gem de Cazembe até ali em quatro meses, dezoito após a sua
partida, como parceiro dedicado do ilustre Dr. Lacerda e
Almeida. Êste verdadeiro mártir da Ciência e da Penetração
politica morrera em Cazembe a 18 de Outubro de 1798.
No valiosíssimo relatório dessa expedição, publicado pela
Agência Geral das Colónias e sob a autorizada direcção do
Dr. Manuel Murias, há notícias valiosas sôbre geografia, astro-
nomia, flora e fauna, antropologia e etnografia.
29
Noronha, capitão-general de Angola, por sua vez, indi-
cara a pessoa do tenente-coronel Francisco Honorato da Costa,
comandante da Feira de Cassange (perto de Malanje), para
levar a termo essa empresa.
Razões de variada ordem impediam o tenente-coronel
Honorato proceder, em pessoa, ao reconhecimento solici-
tado do Reino. O certo é que mandou fazê-lo por dois em-
pregados seus da Feira, Pedro João Baptista e Anastácio Fran-
cisco. O primeiro, indígena negro, inteligente e ousado, co-
mandou a expedição e cumpriu o que lhe fora determinado.
Saiu de Cassange em fins de 1802 e chegou aos Rios de Sena
9 anos depois, em 1811. Durante 4 anos os reteve na sua côrte
o régulo de Bomba, e outros 4 o de Cazembe.
Infelizmente, o tenente-coronel Honorato, feliz na esco-
lha dos dois aventurosos e dedicados pombeiros, não o foi no
modo como atendia às suas necessidades. Porém, feita a tra-
vessia, seguindo, sensivelmente, a rota do Dr. Lacerda, che-
garam a Tete em 2 de Fevereiro de 1811. Do curioso diário
de Baptista se colhe terem sofrido os esforçados pioneiros mui-
tas incomodidades e misérias pelo caminho, de que foram
responsáveis o próprio Honorato e o Governador de Tete.
Sabido é que a expedição regressou a Angola, donde partira,
em 1814! Da falta de recursos para a viagem de regresso se
queixa o valente Baptista, falta que se deve imputar ao citado
Governador de Tete.
Mais tarde, em 1 de Junho de 1831, partia de Tete para
Angola outra caravana de exploração até Cazembe, esta che-
fiada pelo major José Maria Correia Monteiro, que se féz
acompanhar do capitão António Cândido Pedroso Gamito.
O relatório da missão escreveu-o êste último, em livro que
denominou Muata Cazembe (Lisboa, 1834), muito valioso (l).
Numerosa era a companhia: mais de 400 homens. Nada
(') Esta obra foi recentemente editada pela Agência Geral das Coló-
nias. — (A. G. C.).
30
obstou a que, depois de longo caminho e chegados a Cazembe,
neste reino os detivesse o régulo durante largo tempo. Dai
escreveu o major Monteiro uma carta para Angola, que foi
recebida, de facto... mas passados 7 anos! No citado relatório
da expedição lêem-se inúmeras e valiosas informações de ca-
rácter político e cientifico, dignas de admiração.
Por motivos de ínfimos interesses de uma rica proprie-
tária de Golungo Alto, não conseguiu atravessar a Africa, de
Angola a Moçambique, o comerciante Joaquim Graça. Par-
tira éste em 24 de Abril de 1843, por incumbência do Gover-
nador de Angola Bressane Leite. Conseguiu fugir de Mua-
ta-Ianvo, onde chegara, escapando à traição armada por emis-
sários daquela proprietária. E regressou, açodado, a Angola,
sem, por isso, poder cumprir a sua missão.
Em 1852 nova tentativa executou o patriota, honrado e
heróico sertanejo António Francisco da Silva Pôrto, que tão
tràgicamente havia de suicidar-se, em i8po, no sertão, envôlto
na bandeira da Pátria e ao seu serviço.
Partindo de Belmonte, no Bié, e depois de ter atraves-
sado as regiões Lialui, Bungo, Zambeze, Lago Niassa, Pun-
gue e outras, chegou à cidade de Moçambique em 1853. Atin-
gira, portanto, as cabeceiras do Rio Zambeze, como lhe fôra
indicado.
O Império Colonial, o seu prestigio e a politica portu-
guesa ultramarina ficaram devendo a Silva Pôrto serviços que
a Nação jamais lhe pagou ou pagará!
O seu diário, valiosíssimo, revela-nos muitas noticias so-
bre as regiões que pisou na dura e longa viagem, uma das
mais notáveis que até hoje se fizeram.
Até que, em 1877, se abalançavam à emprêsa tanta vez
tentada, os inolvidáveis Brito Capelo, Roberto Ivens e Serpa
Pinto, os primeiros, oficiais da Armada, o último, capitão
de Infantaria.
Em 12 de Novembro daquele ano partiram de Benguela
os três exploradores. Chegados a Belmonte, localidade que já
31
mencionámos a propósito do sertanejo Silva Pôrto, separa-
ram-se desta forma: Capelo e lvens por um caminho, com des-
tino a Jaca, Serpa Pinto por outro, mais para o sul. Atraves-
sou êste último as terras onde nascem o Cuanza e o Zambeze,
habitadas pelos ambueles, luchazes e cuimbandes, chegou às
cataratas de Victoria, passando o Transvaal e o Natal.
De tudo o que observou e anotou, destacam-se as rectifi-
cações feitas aos documentos publicados por outros investi-
gadores, como Livingston. As observações de Capelo e lvens,
referentes à sua expedição às terras de Jaca, são deveras no-
táveis.
Em 1886-188j nova tentativa efectuaram êstes dois ofi-
ciais, desta vez por determinação do ministro da Marinha e
Ultramar, Manuel Pinheiro Chagas. Esta, como diz Quirino
da Fonseca foi a mais importante viagem de exploração efec-
tuada em África, pelos portugueses, até êsse tempo, devendo
apontar-se como notáveis circunstâncias, a visita às terras de
Garanganja, Catanga, do curso do Luapula, e a descida do
Zambeze, de Choa até ao Oceano Índico.
Tinham partido da vila de Mossâmedes (Angola) pas-
sando às terras de Chela, Huila e Hurnbe, as de entre os rios
Cunene e Cubango, costeando depois o Zambeze até Que-
limane.
Não devemos esquecer os nomes do oficial de Marinha
Augusto Cardoso, um dos companheiros de Serpa Pinto, e a
expedição de Henrique de Carvalho (1884) ao Muata-Ianvo.
Entre 1887-1889, são valiosas para a história do domí-
nio português em A fica as expedições de Paiva de Andrade
(Zambézia), Serpa Pinto (Tungue), António Maria Cardoso
(Niassa), Victor Cordon, Paiva Couceiro e outros.
A de Serpa Pinto, politicamente, foi das mais impor-
tantes (1889): tratava-se de procurar, por caminho de ferro,
ligação entre o lago Niassa e o mar. Esta expedição, compli-
cada e de grave repercussão na Inglaterra, que na Africa
mantinha largos interesses, originou fortes discussões em volta
32
do célebre mapa côr de rosa, traçado pelo Ministro Barros Go-
mes: de tudo nasceria, enfim, a afronta do ultimatum inglês,
já de todos bem conhecida. Obstava-se que se desse cumpri-
mento à ocupação, pelos Portugueses, de toda essa região
africana ou faixa entre Angola e Moçambique. A Conferên-
cia de Berlim (1885) e tratados imediatos impediram a exe-
cução dêsse plano.
A expedição fôra atacada pelos macololos, cuja acção a
Inglaterra fomentava, mas Azevedo Coutinho e Serpa Pinto
conseguem dominá-los. O que não conseguiram foi debelar
os maus informadores da nossa velha aliada, que exigiu de
Portugal a retirada das suas fôrças da região do Chire e da
terra dos macololos e machonos.
Quanto a Paiva Couceiro, um dos mais ilustres e herói-
cos dominadores de Africa, a sua acção foi das mais distintas.
Êle e Artur de Paiva confirmaram e estenderam o poderio
português nas regiões do Zambeze.
É digna de lembrança e de admiração a acção de Paiva
Couceiro na expedição ao Barotze (Bié). Tratava-se, agora,
de obter um ponto que servisse de ligação às duas províncias
de Angola e Moçambique.
É nesta época da História da Ocupação que morre o
her oiço sertanejo Silva Pôr to, que tão grandes serviços pres-
tou a essa expedição, com o seu prestigio invulgar entre os
sobas da região. Tal e tanto que, vendo-se injustamente jul-
gado por um dêles, preferiu morrer entre barris de pólvora a
que lançou fogo: a sua escrupulosa honestidade não venceria
o ultrage dessa injustiça! Morreu em defesa da Pátria e do
nome honrado de Portugal.
Mais chegadas ao nosso tempo são as excursões de reco-
nhecimento geográfico e limitação das fronteiras de Angola e
Moçambique (1912-1914): durante êsses trabalhos atravessa-se
a Africa de ocidente a oriente (1912-1913) e vice-versa (191 y
-1914). A expedição era comandada pelo glorioso marinheiro
Gago Coutinho.
33
Enormíssimo é o valor dêste gigantesco feito, que cerra
brilhantemente o ciclo de tudo o que até então fizeram os
portugueses entre Angola e Moçambique.
E se não conseguiu Portugal obter essa sonhada faixa
de terras que fossem a natural ligação das duas grandes coló-
nias, ao menos ficou de todas as tentativas a certeza do esforço
incomparável dos portugueses em matéria de exploração
geográfica, científica e politica em terras que foram os pri-
meiros a descobrir, a civilizar e a cristianizar!
LUIZ DE PINA
34
SECÇÃO V
35
Honorato da Costa, quando chegaram è Vila de
Tete.
Cópia da carta do tenente-coronel Francisco Hono-
rato da Costa, que anuncia ao marechal José de Oli-
veira Barbosa a chegada dos seus pombeiros, vindos
de Tete com cartas do Governador. — Feira de Ma-
curi, 13 de Junho de 1814.
(Cedidas pelo Arquivo Histórico Colonial}
36
10 — Mapa de que se serviu o Dr. Lacerda e Almeida na
tentativa de travessia de Moçambique.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
DIAPOSITIVOS
HENRIQUE A. D. DE CARVALHO
39
Tornou a embarcar. Atravessou o Atlântico. Pôs pé em
terras africanas. Voltou à Baía. Aías regressou logo a Angola,
e seguiu para o interior, com uma caravana de sertanejos.
Contava apenas 22 anos de idade.
Finalmente! Encontrara a profissão que o seu génio am-
bicionava. O sertão africano, infindável, cheio de perigos e
de mistérios, de riquezas, de promessas e de traições, forne-
cer-lhe-ia tudo quanto exigia a sua natureza ávida de novi-
dades, de aventuras arrojadas e de acção.
Fascinado por essa Africa avassaladora e portentosa, a ela
ficou prêso para sempre.
Fixou-se no Bié, onde fundou, a 1.670 metros de alti-
tude, a sua famosa Póvoa de Belmonte, próximo do Rio
Cuito, no cimo dum suave outeiro, em situação climática e
panorâmica privilegiada. Até 1869 viveu ai. Nesse ano mu-
dou a residência para a sua fazenda de Bemposta, próximo
de Benguela. Mas em 1879 voltou a habitar a sua querida e
aprozivel povoação de Belmonte.
Lá estiveram hospedados Capelo e Ivens, e logo a seguir
Serpa Pinto, em 1878, no inicio das suas gloriosas explora-
ções. Serpa Pinto, em Como eu atravessei a Africa, elogia a
beleza da situação e a excelência estratégica da «Libata» de
Silva Pôrto, e faz menção especial, não só dos sicómoros enor-
mes que orlavam as ruas da cerca, mas também da alta sebe
de roseiras, constantemente floridas, que envolvia o formoso
laranjal sempre em fruto e flôr, a cuja sombra perfumada
durante dias sem fim, «arrastando ainda os membros tolhidos
das dôres, e queimado de febre», êle, Serpa Pinto, organizou
na mente, com verdadeiro heroísmo, o plano da expedição
temerária que depois realizou.
Tendo o Bié como centro de irradiação, Silva Pôrto per-
correu durante cinquenta anos, em todos os sentidos, os ser-
tões da Provinda.
É claro que o principal objectivo de quási tôdas essas
viagens era comercial. Mas isso mesmo torna mais digno de
W
mérito o desinteressado e esplêndido esforço compreensivo e
nacionalizador desenvolvido pelo glorioso sertanejo durante
aquêle meio século que em África lutou desajudado, porém
cheio de fé, contra tódas as adversidades. Tudo quanto viu,
ou que consigo mesmo se passou; muito do que ouviu e até
do que pensou, deu-se êle ao trabalho, ou melhor ao deleite,
de minuciosamente registar em livros e livros que escreveu.
Infelizmente, a humildade e a pobreza dos seus progeni-
tores, cuja memória Silva Pôrto sempre agradecidamente
abençou, não lhe haviam permitido senão cursar modestís-
simos estudos de primeiras letras, nos seus tempos da infân-
cia; nasceu pobre... e pobre morreu. Se não fora essa falta
de preparação cientifica, da qual não era culpado, os seus
curiosíssimos e numerosos volumes de Diários — que descre-
vem largamente a sua vida em Africa desde 1846 até 1890,
as suas múltiplas viagens, as regiões que repetidas vezes atra-
vessou, os povos que conheceu, os costumes que observou, os
sucessos de que foi testemunha presencial — constituiriam
uma obra completa e perfeita sobre a geografia, a história e a
■etnografia de Angola no século XIX.
Mesmo assim, o valor da colecção dos seus Diários é
apreciável. Permite reconstituir a Angola daqueles tempos,
e diz-nos, com todos os permenores, o que era o domínio
português e a politica dos governos da Metrópole em relação
àquela Província, no gravíssimo período histórico compreen-
dido entre os anos de 1846 e 1890; permite sobretudo render
consciente justiça a uma vida inteira de trabalho indefeso e
honesto, a que quási só corresponderam decepções e amar-
guras, mas que foi inalteravelmente norteado por sentimen-
tos nobilíssimos de brio, de honra, de amor à Pátria e de res-
peito a Deus.
Longe de Portugal, nunca o seu coração deixou de bater
em uníssono com o dos que por cá viviam. Lia muitos jornais
e revistas da metrópole: O Jornal do Comércio, a Correspon-
dência de Portugal, a Gazeta de Portugal, o Archivo Pitto-
4Í
resco, o Panorama, etc. Com o papel da Gazeta de Portugal,
de que Silva Pôrto possuía em Belmonte a colecção com-
pleta, foi que Serpa Pinto preparou os cartuxos para a sua
famosa expedição!
A alma tam portuguesa do Sertanejo amargurava-se com
a incompreensão, motivada pelo desconhecimento completer
das realidades, que os nossos políticos e governantes a cada
passo manifestavam a respeito dos problemas coloniais. Mor-
tificava-o, sobretudo, o desinteresse com que o País olhava a
riquíssima Província de Angola, em volta da qual rugiam as
mais torvas ambições.
Lamentava que se não fomentasse com inteligência o de-
senvolvimento do comércio, da agricultura e das artes nas
colónias. Verberava o abandono de «pontos no interior», nãa
só por éles terem custado «muito sangue e muito dinheiro»,
mas também porque êsse acto trazia como consequência
«o crescente desafôro dos selvagens em presença da nossa fra-
queza, mostrando-lhes que já não somos o que fomos».
Insurgia-se contra um jornal de Lisboa que chamava
pestífero ao clima de Angola, sem distinguir entre o litoral
e o interior. No Bié, ao clima è temperado, os ares puros, as
águas as melhores do mundo, há tudo o necessário à vida em
abundância», e, além disso, «indígenas aptos a receber e a
compreender, se necessário fôr, todos os ramos da variada
ciência humana». Prestava a justiça devida ao poder civili-
zador das missões religiosas e do comércio, mas sustentava
que meios pacíficos não bastariam para fazer cessar, duma
vez para sempre, as rebeldias dos selvagens. Era precisa tam-
bém uma decisiva acção militar.
A certo governador de Benguela que em 1863 mani-
festara a opinião de que ao domínio português em Africa se
devia limitar ao litoral», Silva Pôrto respondia que, embora
o nosso Govêrno tratasse de fortalecer o seu domínio nas ter-
ras da beira-mar, não devia esquecer-se de «continuamente o
estender, o mais que fôr possível», para o interior, «porque-
kl
se o não fizer a tempo fá-lo-ão os Inglêses». E acrescentava,
deixando transparecer uma intima revolta: — Se Angola fôsse
estrangeira talvez «o interior já de há muito que estaria ex-
plorado, comunicando-se ambas as Costas; quiçá que o solo
se achasse sulcado por caminhos de ferro, ou mesmo belas
estradas à falta daqueles... Mas isto è de Portugal, onde só se
trata de fúteis rivalidades, deixando que o estrangeiro nos
apupe com escárneo, levando a sua audácia ao ponto de nos
escarrar nas faces. Miséria! Maldição sobre os indiferentes
Cobiças numerosas e ferozes, estavam voltadas para o
vasto continente africano, algumas disfarçadas sob a capa
de humanitarismo.
Silva Pôrto, em 1885, ao oferecer à Sociedade de Geo-
grafia Comercial da sua nunca esquecida cidade do Pôrto, os
dez volumes dos seus Diários, intitulados Apontamentos dum
Portuense em África, dizia: — A Africa está a ser partilhada,
anão em favor da civilização dos seus povos, do que menos se
curará, mas em beneficio do único móvel que dirige esta cru-
zada: o interêsse. E Portugal, adormecido à sombra dos seus
louros, cônscio dos seus direitos de conquista e precedência,
descansa das suas fadigas gloriosas, e descuidadamente não vê
que outros se aproveitam do seu abandono». Silva Pôrto
afirma que Angola estava em perigo iminente, e para conju-
rar o mal só via um remédio: realizarem-se com urgência
algumas imprescindíveis medidas de fomento.
Deviam construir-se apronta e imediatamente» linhas de
caminho de ferro, não uma só e que se limitasse a ir até Am-
baca, como era do projecto, amas que siga a Cassange, e que
se ramifique desde logo por outros pontos centrais do maior
comércio da Africa, como o Bié, Bailundo, etc. E, com o cami-
nho de ferro, outras medidas de interêsse palpitante se deve-
riam levar a cabo, como garantia de braços ao agricultor e ao
industrial».
Numa carta datada de 21 de Maio de 1887 escrevia:
a A gora estamos cercados por todos os pontos. Temos estian-
43
geiros no Oeste, Leste, Sul e Norte, e então é preciso fazer
o mesmo que esta gente procura fazer, estabelecendo-nos nos
pontos centrais de maior nomeada. Se assim não fizermos o
nosso domínio central deu fim».
Porém era já demasiado tarde... Não haviam encontrado
eco em Portugal os repetidos avisos do velho, bondoso, hon-
rado e patriótico sertanejo, cuja inteligente perspicácia tudo
previra, enquanto os Conselheiros de Estado se obstinavam
na sua funesta miopia.
E, antes de volvidos três anos, poucas semanas depois do
«Ultimatum», Silva Pôrto num momento de desvario, su-
pondo talvez que tudo estava perdido, envolve-se na bandeira
portuguesa — a bandeira feita por suas próprias mãos e que
durante cinquenta anos o acompanhara em todas as viagens
através dos sertões africanos — envolve nela o seu corpo ven-
cido por imensa dôr moral, coloca-se entre numerosos barris
de pólvora, chega-lhes o fogo, e morre vitima das queima-
duras provocadas pela formidável explosão.
No Altar da Pátria, em significativo holocausto, supremo
protesto contra uma politica inepta e criminosa, o velho Ser-
tanejo imolara a própria vida.
A. DE MAGALHÃES BASTO
U
SECÇÃO VI
45
N." 4—Bandeira de Silva Pôrto. O grande sertanejo fê-la
por suas mãos e nela se embrulhou para morrer.
(Cedida pela Saciedade de Geografia/
DIAPOSITIVOS
SECÇÃO VII
46'
N.° 3 — Album de desenhos feitos pelo major Serpa Pinto e
referentes à sua viagem ao interior da África Aus-
tral _ 1877-78-79. — Volume III.
(Cedido pela Viscondessa de Serpa Pinto)
DIAPOSITIVOS
SERPA PINTO
Explorador, realizou a travessia científica do conti-
nente africano, de Benguela a Pretória (1877-1879).
Escreveu o livro «Como atravessei a África». Em 1884,
48
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chefiou uma expedição para estudar a comunicação
directa entre o lago Niassa e a costa de Moçambique
ao norte do Zambeze.
— Serpa Pinto durante a travessia.
— Atravessando um pântano.
— Sobas do Dombe na presença de Serpa Pinto.
— «Cora» companheira de Serpa Pinto nas explorações.
— Serpa Pinto ao concluir a travessia.
— El-rei D. Luiz I entrega uma medalha a Serpa Pinto.
Figuram nesta secção duas bandeiras:
N.° 1 — Bandeira da expedição de Serpa Pinto-Augusto
Cardoso ao Niassa em 1886.
N.° 2 — Bandeira nacional que acompanhou Serpa Pinto na
travessia da África, depois de se ter separado de
Capelo e Ivens no Bié. Entregue por Serpa Pinto à
Sociedade de Geografia de Lisboa em sessão solene
de 18 de junho de 1879.
(Cedida pela Sociedade de Geografia)
4
Na passagem para a 8.a secção, encontra-se a carta da
«Precedência dos Portugueses no Continente Africano», dese-
nhada por Lino António sôbre a carta anónima do século XVII
que constitue a prancha XXIV do Atlas do Visconde de San-
tarém.
Nêle estão indicados os seguintes fastos da penetração no
Continente Africano:
— 1415 — Tomada de Ceuta.
— 1434 — Viagem de Gil Eanes.
— 1482 — Viagens de Diogo Cão.
— 1560 — Viagens de Paulo Dias de Novais.
— 1587 — Viagem de Lopes Peixoto.
— 1617 — Viagens de Cerveira Pereira.
— 1787 — Viagens de Pinheiro Furtado.
— 1839 — Viagens de Pedro Alexandrino.
49
SECÇÃO VIII
50
N« 8 —Álbuns (2) do itinerário da viagem de Capelo e
Ivens, de Angola à Contra-Costa (1885).
<Cedido» pela Sociedade de Geografia)
DIAPOSITIVOS
51
— Os exploradores atravessando um rio.
— Material da expedição de 1877.
Panorama do memorável cortejo fluvial, na recepção
de Capelo e Ivens, em 16-9-1885, segundo um «cro-
quis» do príncipe real D. Carlos.
— Sessão solene na Sociedade de Geografia de Lisboa,
para a conferência dos exploradores Capelo e Ivens,
realizada no Real Teatro de S. Carlos («croquis» do
natural por Cristino).
52
SECÇÃO IX
53
tratado em Angola o explorador Dr. Livingston.
Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, 18
de Dezembro de 1855.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
54
DIAPOSITIVOS
ARTUR DE PAIVA
AUGUSTO CARDOSO
Explorador africano, acompanhou Serpa Pinto na ex-
pedição à África, em 1884, fazendo o percurso do
Mossuril a Quelimane (2.500 quilómetros).
Augusto Cardoso (expedição ao Niassa).
Residência de Augusto Cardoso (Lourenço Marques).
FREDERICO WELWITSCH
JOSÉ DE ANCHIETA
55
exploração, em Caconda (1897). Entre outros tra-
balhos, escreveu: «Traços geológicos da África Oci-
dental Portuguesa».
— Anchieta no seu laboratório.
FONSECA CARDOSO
Autor de numerosas memórias de antropologia colo-
nial, deixou ainda apontamentos referentes a vários
grupos, coordenados e publicados, posteriormente à
sua morte, pelo Prof. Dr. Mendes Correia.
JOÃO DE RESENDE
Representante em Manica, da Companhia de Moçam-
bique, realizou diversas viagens no interior da provín-
cia, tratou com os régulos e esforçou-se por evitar
que as aluviões auríferas fossem exploradas por ele-
mentos estrangeiros.
56
SECÇÃO X
57
suas expedições ao Niassa e ao país dos Namar-
rais.
(Cedido pela Sociedade de Geografia}
DIAPOSITIVOS
VICTOR CORDON
Governador do Ambriz e do Novo Redondo, dirigiu
a construção da ponte sôbre o Lucala. Realizou explo-
rações em Moçambique, inaugurando na foz do Sa-
nhati, em 1889, as aringas Luciano Cordeiro e Vila
Amélia.
— Partida da expedição às terras da lacca.
59
— A expedição em terras da lacca.
— Construção do Quilombo.
— Na residência de N'Dumba.
— Sob a tempestade.
— Ataque à expedição.
— Cachoeira Caballo.
— Através do Bié.
60
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I NSTRUÇÃO
62
outra medida isolada — tais como a criação dum museu,
duma livraria e dum jardim botânico em Macau (1838), ten-
tativa que se estendeu a Angola — è necessário esperar que
na metrópole se refunda o ensino pela reforma de 1844 (dec.'
com força de lei de 20 de Setembro), para que nas colónias
se opere reflexamente um tal ou qual progresso. Por essa
reforma foi o ensino dividido em dois graus distintos, esta-
belecendo-se pela primeira vez, ainda que somente como as-
piração, a obrigatoriedade do ensino primário. Criou-se,
como organismo director, o conselho superior de Coimbra, e
alargou-se a instrução ao sexo feminino.
Estes princípios, que caracterizam a reforma de 1844,
foram tornados extensivos às colónias pelo ministro da mari-
nha e do ultramar, J. Falcão, em 18 de Agosto do ano se-
guinte. Em cada uma das possessões ultramarinas foi insti-
tuído um conselho inspector de instrução primária e uma
escola principal, na qual eram também ministrados conheci-
mentos elementares de comércio e indústria, bem como esco-
las primárias gerais, em número correspondente às necessi-
dades da população. Os lugares de professores passaram a
ser providos por concurso, os seus vencimentos foram fixados
em harmonia com as condições locais e, no fim de 25 anos de
serviço, foi-lhes reconhecido o direito à jubilação.
Começava a generalizar-se definitivamente nas colónias o
ensino primário, pondo-se à frente dêsse movimento a índia
e Macau, onde por essa época chegaram a esboçar-se as primei-
ras tentativas de implantação do ensino secundário. Tam-
bém, como esforços exercidos no sentido da criação do en-
sino feminino, se podem registar medidas tomadas em 1846
em Macau, em 1852 em Mossâmcdes, em 1856 em S. Tomé
e em Santiago de Cabo Verde, no ano seguinte na Vila da
Praia, em 1858 em Damão e em 1861 em Diu.
Na índia é criado em Outubro de 1858, como primeira
pedra lançada para o estabelecimento do ensino secundário
no Ultramar, o liceu de Nova-Goa, e ainda uma escola nor-
C3
mal; e em Macau, passados quatro anos, funda-se uma escola
de pilotagem. . , . ,•
Mendes Leal, considerando aos escolas primarias o ali-
cerce e a base da instrução pública e um agente de civiliza-
ção que, pelo influxo dos progressos humanos, deve merecer
a mais esmerada solicitude e aturados desvelos a todas as
autoridades», impulsiona activamente a sua multiplicação.
Por decreto de 50 de Novembro de 1869, Rebelo da Sil-
va organiza de novo o ensino no Ultramar, dividindo-o em
primário, secundário e superior, alargando o número de esco-
las e impondo novos métodos de orientação pedagógica.
Quanto ao ensino técnico, estabelece-se na índia um instituto
para o ensino agrícola, industrial e comercial (i8ji), e cria-se
em Luanda o ensino profissional.
Sucedem-se largamente as medidas tendentes ao desen-
volvimento do ensino primário; e, em Abril de 1888, é o
liceu de Nova Goa equiparado aos liceus metropolitanos,
sendo aprovado o seu regulamento privativo em Julho de
1894, depois alterado em 1899.
*
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65
SECÇÃO XI
Instrução
66
normais em Bardez e Salcete (4 de Outubro. Sá da
Bandeira). O Govêrno de Angola recebe instruções
para elaborar um plano de ensino primário (23 de
Novembro. Sá da Bandeira).
1861 — lnstituiu-se em Diu a instrução primária para o sexo
feminino (15 de Janeiro).
1862 — Criação da primeira escola de pilotagem em Macau.
1864 — Criação de cinco escolas primárias em Timor (28 de
Julho).
1866 — Estabelecimento de uma aula de língua portuguesa
para chinas no Colégio de S. José, de Macau (Coelho
do Amaral).
1869 — Reorganização da instrução pública (30 de Novem-
bro — Rebelo da Silva).
1871—Criação dum instituto profissional na índia (11 de
Novembro — Jaime Moniz).
1873 — Principia o ensino profissional em Angola.
1893 — Criação dum Liceu Nacional em Macau (27 de Ju-
lho— Neves Ferreira) e do Instituto Rainha D. Amé-
lia, em Lourenço Marques (19 de Outubro).
1904 —Autorizada em Cabo Verde, Angola e Moçambique a
criação de escolas de português e línguas indígenas,
contabilidade, comércio e noções de cultura (R. Gor-
jão).
1906 — Organização do ensino profissional em África (18 de
Janeiro — Moreira Júnior).
1907 — Aprovado o regulamento da Escola de Artes e Ofícios
de S. Tomé (Aires de Orneias).
1908 — Aprovado o regulamento de ensino profissional em
Cabo Verde (31 de Dezembro).
191 1 —Criação da Escola Nacional para o sexo feminino de
Nova Goa (29 de Março) e da Escola Prática Comer-
cial e Industrial 5 de Outubro em Moçambique (5 de
Outubro).
1913 — Delineamento da reforma geral do ensino em Angola,
67
preconizando a criação do ensino secundário (Norton
de Matos).
1914 — Criação duma escola de agrimensores, em Moçambi-
que (28 de Agosto — J. J. Machado).
68
dre Luiz Keiling, das missões católicas do Espírito
Santo.
(Cedida pelas Missões do Espirito Santo)
69
DIAPOSITIVOS
POLÍTICA MÉDICA
E SANITÁRIA
71
aplicar a terapêutica adequada que já seja conhecida, e tam-
bém para conseguir encontrá-la, colaborando para este fim
na série da investigações científicas que têm sido feitas nos
domínios da patologia exótica.
Vem de longe o cuidado que se tem dado ao ensino dos
médicos que têm que exercer a sua profissão nas Colónias.
Fomos a primeira nação colonizadora que fundou no Ultra-
mar uma Escola Médico-Cirúrgica; estabelecêmo-la em Nova-
-Goa para habilitar os naturais da índia Portuguesa a exer-
cer a clinica nêsse território. Os seus professores têm cola-
borado activamente nos estudos de investigação médica, têm
sido devidamente apreciados e publicados os seus trabalhos,
muitos dos quais constituíram o objecto de comunicações
cientificas em congressos nacionais e internacionais.
Quando o número dos profissionais médicos era ainda
escasso na Metrópole, e muito poucos poderiam ter a inten-
ção de, depois de terminada a sua formatura, irem exercer
a sua profissão nas Colónias, os nossos Governos estabelece-
ram um subsídio para os alunos durante o seu curso na Fa-
culdade de Coimbra ou nas Escolas de Lisboa e Pôrto, com
o fim de lhes permitir que o concluíssem, contraindo os alu-
nos a obrigação de, por um certo tempo, irem exercer a sua
profissão no Ultramar. Por êste modo se conseguiu manter
a assistência médica nas Colónias, e estes profissionais, assim
alistados, não só pelo exercício da sua clinica mas também
pelas suas valiosas indicações sôbre a forma de evitar as doen-
ças reinantes nessas regiões, contribuíram valiosamente para
manter na maioria dos habitantes a saúde, portanto as boas
condições para o trabalho e bom êxito de colonização. Al-
guns destes profissionais puderam colaborar activamente nas
investigações sôbre doenças tropicais e no combate contra as
endemias dominantes, obtendo resultados de valor, que vin-
cularam o nome português neste ramo das ciências médicas.
Tornou-se depois muito maior o número de profissionais
que se habilitam todos os anos com o curso das nossas Facul-
72
dades de Medicina de Coimbra, Lisboa e Pôrto, e deixou de
ser necessário subsidiar alunos a-fim-de obter clínicos para
prestar os seus serviços nas nossas Colónias
Foram notáveis neste período os progressos alcançados
pelo estudo e investigação cientifica nos diferentes ramos da
patologia dos climas quentes; descobertas muito importantes
se fizeram, e manifestou-se evidente a necessidade de ampliar
os conhecimentos desta especialidade que resumidamente
eram professadas nos cursos gerais de medicina. Fundaram-
-se nos diversos países colonizadores escolas de medicina tro-
pical e a nossa, uma das primeiras, começou a funcionar em
iço 2.
Persistiu como tal 32 anos, até 1935, tendo então pela
lei 1920, de 29 de Maio do mesmo ano, sido criado o Instituto
de Medicina Tropical, com o fim de poder dar maior desen-
volvimento ao ensino, para o que se aumentou o número das
Cadeiras, se desdobrou em duas a de parasitologia e ento-
mologia e se atribuiu a cada uma delas um professor efec-
tivo e um professor auxiliar; elevou-se também o mímero dos
preparadores e ajudantes de preparador. Mantiveram-se dois
assistentes e aconselhou-se a admissão de assistentes livres
não remunerados.
Todas estas medidas demonstram a boa politica sanitária
dos nossos Governos, agora pela orientação dada pelo Es-
tado Novo ainda melhorada.
Está portanto bem demonstrada a capital importância
que os nossos dirigentes têm dado à assistência médica nas
colónias, crentes no principio fundamental de que não é possí-
vel uma boa colonização sem procurar manter a saúde a todos
os que vivem nessas regiões de clima rigoroso.
Proporcionando assim o maior desenvolvimento à ins-
trução médica, nesta especialidade, facilitar-se-a a alta mis-
são de que, como terapeutas e higienistas, tem de exercer os
profissionais nos nossos domínios ultramarinos.
Muitos foram os alunos que se habilitaram na nossa an-
7.1
tiga Escola de Medicina Tropical, durante os longos anos
que ela viveu e muitos serão, de-certo, aqueles que cursarão
o novo Instituto.
Além dêste impulso ao ensino, os nossos Governos têm
dado o devido valor à nossa colaboração nos trabalhos de in-
vestigação sôbre patologia tropical, e têm procurado pro-
mover e auxiliar a realização de missões de estudo nas nossas
colónias e de combate contra as endemias aí reinantes, luta
esta orientada pelas conclusões sôbre a terapêutica, a etio-
logia e a profilaxia a que as missões de investigação científica
têm chegado.
Antes de fundada a Escola de Medicina Tropical de
Lisboa teve lugar, em 1901, a nossa primeira missão médica
de estudo da moléstia do sono, que fêz as suas investigações
na ilha do Príncipe e depois em Angola e publicou o seu rela-
tório em 1904. Foi chefiada pelo colega Aníbal Bettencourt y
então director do Instituto Bacteriológico Câmara Pestanay
e dela fizeram parte Aires Kopke, Correia Mendes, Gomes
de Rezende e um preparador.
A segunda missão portuguesa de estudo desta doença,
em 1904-1905, foi já feita pela Escola de Medicina Tropical
e constituída apenas por Aires Kopke, professor de Parasito-
logia da mesma Escola e um preparador. Os seus trabalhos
incidiram especialmente sôbre a terapêutica e com prio-
ridade se demonstrou o grau de eficácia do atoxil no trata-
mento dos doentes que dela sofriam, vitimas de infecção pelo
tirpanosoma gambiense.
A nossa terceira missão de estudo desta tripanosomiase
humana, missão que foi proposta pela Escola de Medicina
Tropical, trabalhou em 1908 na ilha do Principe sob a di-
recção de Aníbal Correia Mendes, então director do labora-
tório do Hospital de Luanda e dela fizeram parte os colegas
Damas Mora, Silva Monteiro e Bruto da Costa. O seu rela-
tório foi publicado em 1909.
A quarta missão continuou no Príncipe em 1914-1914
7//
05 trabalhos da antecedente, teve como chefe Bruto da Costa
e como colaboradores os colegas Firmino Sant'Ana, Correia
dos Santos e Araújo Alvares.
Estes trabalhos portugueses que mereceram o justo
apreço dos profissionais estrangeiros de maior renome que
se aplicavam então ao estudo destes assuntos, demonstraram
com prioridade o êxito do atoxil como agente terapêutico
nos casos de moléstia do sono em que não houvesse ainda a
invasão do sistema nervoso central, o valor desta substância
na profilaxia da tripanosomiase humana, e a última missão
conseguiu, pela sua persistência e energia na aplicação das
medidas adequadas, o saneamento da ilha do Príncipe onde
esta moléstia humana devida ao vírus gambiense desapa-
receu como endemia. O seu relatório foi publicado em 1913
e depois traduzido em inglês e novamente publicado.
Uma quinta missão proposta pela Escola de Medicina
Tropical em 1923, efectivou-se em 1927-1928 na Colónia de
Moçambique. Verificou a existência da moléstia do sono, de-
vida ao vírus rodesiense, numa parte importante da zona
oeste do nosso Niassa. Foi constituída por Aires Kopke, chefe,
e nela colaboraram valiosamente os colegas Aníbal de Maga-
Ihãis, Saraiva de Aguilar e Fontoura de Sequeira. Pelo chefe
da missão e Dr. António Aires, médico-veterinário, foi abor-
dado o problema de transmissão de tripanosimíases dos bo-
vinos em extensas áreas do distrito de Lourenço Marques até
Katuane e no de Inhambane até Vilanculos, onde se não tem
encontrado a môsca tsé-tsé habitual vector de algumas destas
enzootias.
O relatório em português dêstes trabalhos foi comuni-
cado à Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa e depois
apresentado à Conferência Internacional sobre a doença do
sono reunida em Paris em Novembro de 1928. Foi traduzido
em inglês e publicado pela Sociedade das Nações.
De 1930 a 1932 inclusive, foram pela Escola de Medi-
cina Tropical executadas outras missões de estudo em refe-
75
rência ao paludismo, à febre biliosa-hemoglobinúrica, à an-
quilostomíase e às tripanosomiases humanas e dos animais.
Encarregaram-se destes trabalhos os professores José de Ma-
galhãis, Firmino Sant'Ana e Fontoura de Sequeira, em Cabo-
-Verde, S. Tomé e Guiné. Fontoura de Sequeira verificou,
com segurança, a existência da moléstia do sono na nossa
Guiné, que ai deve grassar desde longa data, mas de forma
relativamente benigna em muitos casos, e nestes, segundo
julga, espontâneamente curável. Êste relatório foi publicado
em português e francês.
O Govêrno Português encarregou-me como professor da
Escola de Áledicina Tropical, de o representar, como seu
delegado, nas Conferências internacionais sobre a doença do
sono que tiveram lugar, a primeira, com duas sessões, em
Londres, 1907-1908; a segunda, igualmente em Londres, 1927,
e a terceira em Paris, 1928. Nesta última também tomou
parte, como delegado, o Dr. António Aires, médico-veteriná-
rio. As de 1927 e 1928 foram promovidas pela Sociedade das
Nações. Em todas elas apresentámos trabalhos originais e
tomámos parte nas discussões e votações, conforme consta das
respectivas actas.
Como sequência da reunião de 1927 em Londres orga-
nizou-se uma Comissão Internacional de investigação que tra-
balhou em Eutebe sob a direcção do Dr. Duke, director do
respectivo laboratório, e da qual fizeram parte os colegas La-
vier (França), Van-Hoof (Bélgica), Klein (Alemanha), Peruzzi
(Itália) e Máximo Pratas (Portugal). Os trabalhos muito im-
portantes desta Comissão foram publicados no seu relatório
em 1928 pela Sociedade das Nações.
Colaboraram a Escola de Medicina Tropical de Lisboa e
vários médicos das nossas Colónias e da armada nos Con-
gressos internacionais de Medicina, 1906 em Lisboa, 1907
em Berlim, 1909 em Budapest, 1917 em Londres, 1927 em
Luanda, 1928 no Cairo, 1971 em Paris e 1972 em Marselha.
A assistência médica a colonos e indígenas tem sido pro-
76
gressivamente melhorada em todas as nossas Colónias, pro-
curando preencher-se devidamente os Quadros dos Serviços
de Saúde, multiplicando e aperfeiçoando as instalações hos-
pitalares gerais e as enfermarias para indígenas, criando bri-
gadas de combate contra a moléstia do sono e outras ende-
mias e epidemias. Nesta luta têm sido incansáveis muitos dos
nossos colegas que exercem a sua profissão nessas regiões, e
foram obtidos resultados notáveis, especialmente o que se
alcançou em Angola sob a orientação do colega António Da-
mas Mora, então director dos Serviços de Saúde nessa Colónia.
Uma bela demonstração de todo êste esforço foi feita
na Exposição Colonial Portuguesa, Pôrto, 1934, e è conti-
nuada agora nesta Exposição Histórica da Ocupação que se
deve à grande iniciativa de Sua Excelência o Ministro das
Colónias, Dr. Francisco Vieira Machado.
Lisboa, 31 de Maio de 1937.
AIRES KOPKE
77
SECÇÃO XII
78
23 de Setembro de 1906 — Mandado executar um regi-
mento para serviço interno do Hospital D. Carlos I, de Timor.
Combate à doença do sono—1901—Missão à Ilha do
Príncipe, chefiada pelo Dr. Aníbal de Bettencourt. «Portugal
foi a nação colonizadora que iniciou a série dos estudos mo-
dernos sôbre a doença do sono» (Aires Kopke, Política sani-
tária do Império) 24 de Abril de 1902 (Teixeira de Sousa).
Criação do Hospital Colonial e da Escola de Medicina Tropical
em Lisboa.
1904 — Primeira missão médica da Escola-Angola. 1905
— A Escola ensaia o Atoxil em animais experimentalmente
infectados com tripanosomas. «...A primeira a empregar êste
produto químico no tratamento.» (Aires Kopke, ob. cit.).
1908 — Missão à Ilha do Príncipe dirigida pelo Dr. Correia
Mendes. 17 de Abril de 1911 —Providências para combater
a doença do sono na Ilha do Príncipe. 14 de Outubro de
1911 —É mandado organizar nos principais centros de popu-
lação do ultramar um serviço de profilaxia de doenças tropi-
cais, 1913 — Nova missão médica à Ilha do Príncipe, chefiada
pelo Dr. Bernardo F. Bruto da Costa, de que fizeram parte os
Drs. Firmino Sant'Ana, Correia dos Santos e Araújo Álvares.
Esta missão contribuiu poderosamente para a solução dum pro-
blema que tinha delicados aspectos nacionais.
Nas duas vitrinas desta secção expõem-se os seguintes
livros e documentos:
79
debaixo da protecção do Sargento-mor e Gover-
nador da mesma Capitania, Francisco Paim da
Câmara e Orneias (1791).
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial>
81
N° 13 1.» Conferência internacional sôbre a doença do
sono. (Londres, 1907) — Representante de Portu-
gal, Dr. Aires Kopke).
jsj« 14 1 » Missão de estudo da moléstia do sono ao Prín-
cipe e Angola — Aires Kopke, Aníbal Bettencourt,
Correia Mendes, Gomes de Rezende, Braz de Gou-
veia — 1901-1902.
N." 15 — Visita do Coronel J. J. Machado, Governador Geral
da índia, ao hospital militar de Goa — 1900.
N.° 16— Hospital em S. Tomé.
N.° 17 Interior de uma enfermaria da Roça Pôrto Real
(Príncipe).
IM » 18 Pôsto sanitário de São Salvador do Congo.
N o i9 Senzala-enfermaria (Camatambo).
fsj 0 20— Casas primitivas do pôsto sanitário da Banga.
t\|.° 21—Senzala-enfermaria (Golungo Alto).
N o 21 Senzala-enfermaria do pôsto sanitário de Cama-
batela.
N.° 23 — Concentração de indígenas em Camabatela para o
tratamento da doença do sôno.
N.° 24 Hospital provisório de Lourenço Marques (princí-
pios do século XIX).
N.° 25 — Doentes junto da ambulância do Ambrizete.
N.° 26 — Pôsto sanitário de Quilalo.
N.° 27 — Doentes para consulta (pôsto sanitário do Dande).
N.° 28 — Senzala-enfermaria de Massangano.
N.° 29 — Um pôsto volante de concentração.
N.° 30 Dissertações inaugurais sôbre assuntos de sanidade
colonial apresentadas à Escola Médico-Cirúrgica do
Pôrto:
82
— Higiene colonial (Ilhas de S. Tomé e Principe)
— Joaquim M. dos Santos Junior— 1907.
— A doença do sono — Joaquim Aires Lopes de
Carvalho— 1906.
— Breve estudo sôbre etiologia e profilaxia do
paludismo — António Loureiro Dias—1901.
— Higiene alimentar nos países quentes — Júlio
Barbosa Nunes Pereira— 1896.
— Considerações gerais sôbre o impaludismo —
Rodolfo Augusto da Silva Teles— 1898.
— Alimentação e regime nos países quentes —
Pinho e Cruz — 1901.
— A peste da índia (ligeiros apontamentos para
a sua história) —António Xavier da Rocha
Pinto— 1901.
— Principais teorias sôbre a natureza do béri-
béri — António Rodrigues Pinto—1875.
— Etiologia das febres intermitentes e patoge-
nia da sua periodicidade — José de Passos Es-
teves Lisboa — 1877.
— A tísica pulmonar nos climas quentes — Por-
fírio Teixeira Rebelo— 1882.
— Influência da navegação e dos países quentes
na marcha da tísica pulmonar — António
José Gonçalves—1885.
— Sôbre o tratamento da malária — Alberto de
Queiroz — 1895.
DIAPOSITIVOS
83
Hospital «Dr. Carvalho» — Timor.
Hospital de S. Vicente —Cabo Verde.
Hospital «Miguel Bombarda» — Lourenço Marques.
Hospital de Ambriz.
Hospital de Quelimane.
Hospital «Maria Pia» — Luanda.
Velho Hospital de Moçambique.
Hospital «D. Amélia» — Mossâmedes.
Z222Z2222222ZZZ2Z2ZZZ1
SOCIEDADE DE
GEOGRAFIA
85
primeira inteligente manifestação do renascimento da nossa
politica colonial.
Foi graças aos constantes esforços da Sociedade de Geo-
grafia, que, ao realizar-se a Conferência de Berlim, Portugal
pôde apresentar provas incontestáveis do seu regresso à acti-
vidade colonizadora.
Vem depois um período de luta contra a injusta expan-
são de certos países nas regiões africanas que nós tínhamos
descoberto, e onde mantinhamos soberania, embora precária
por vezes, e è na Sociedade de Geografia que se forma o
núcleo de resistência, que leva protestos ao estrangeiro, incre-
pa os nossos governantes e suscita em todo o pais um movi-
mento de entusiasmo pela continuação da nossa vocação colo-
nial.
Abre-se o período da delimitação convencional dos nos-
sos territórios africanos e é ainda a Sociedade de Geografia
a grande auxiliar dos Governos nos estudos daqueles com-
plexos problemas.
Incansàvelmente, a patriótica Sociedade exalta os nossos
heróis das campanhas de Africa, mantêm no espirito pú-
blico o interêsse pela acção colonial e dedica-se ao trabalho
construtivo do estudo da nova administração ultramarina.
Foi com êsse intuito que em içoi promoveu o primeiro
Congresso Colonial Nacional, que contribuiu largamente
para a criação da nossa Escola Colonial e que realizou várias
exposições coloniais de propaganda e estudo.
A Sala Portugal da Sociedade de Geografia ia tornando-
-se valioso Museu Colonial, e ali se realizavam as grandes
homenagens aos mais ilustres servidores do Império, como os
exploradores Serpa Pinto, Augusto Cardoso, Capelo e Ivens,
aos valentes militares, como o coronel Galhardo, o grande
Mousinho de Albuquerque, o vencedor dos vátuas, Sousa
Machado, chefe da expedição ao Mataca, João de Azevedo
Coutinho, o heróico marinheiro vencedor de tantos combates,
Alves Roçadas, o conquistador do Cuamato, etc.
86
Os créditos ganhos pela Sociedade de Geografia dão-lhe
um tal prestigio, que El-Rei D. Carlos se declara seu pro-
tector e preside à Sessão Magna do Centenário da Índia, pro-
movido pela Sociedade, e dois anos depois à comemoração
do quarto Centenário da descoberta do Brasil. Sempre que
algum estrangeiro em destaque vem a Lisboa, visita a Socie-
dade de Geografia como preito à acção colonial portuguesa.
Os soberanos, como o Rei Eduardo de Inglaterra, o Im-
perador Guilherme da Alemanha, o Presidente Loubet de
França, o Rei de Saxe, o Presidente dos Estados Unidos do
Brasil, ao virem a Lisboa, sempre prestaram homenagem à
grande defensora da acção colonial portuguesa, sendo home-
nageados nas suas salas com notáveis recepções em que o
Chefe do Estado e os Govêrnos do pais tomaram parte.
A acção da Sociedade de Geografia na solução de diver-
sos problemas coloniais mantém-se sempre com grande activi-
dade, precedendo muitas vezes a acção dos Governos. Foi
assim, por exemplo, que a Sociedade enviou uma missão
vacinica ao planalto de Benguela, que criou um prémio para
o melhor estudo sôbre a doença do sono, etc. No capitulo das
relações externas a persistente acção da Sociedade de Geogra-
fia tem assegurado a representação de Portugal em inúmeros
Congressos, mantém um valioso intercâmbio cientifico com
grande número das Sociedades suas congéneres, e frequente-
mente rectifica os erros e falsas interpretações publicadas
no estrangeiro sôbre a politica colonial portuguesa.
No pais, a Sociedade de Geografia é sem dúvida a mais
prestimosa inspiradora do nosso ambiente colonial. Basta re-
lembrar a criação da Semana das Colónias e o seu progressivo
desenvolvimento, para justificar esta asserção, aliás confir-
mada pela criação do Dia da Metrópole nas nossas oito coló-
nias, do intercâmbio escolar entre as escolas da Metrópole e
as das Colónias, da celebração do Congresso da Colonização,
etc.
Como público testemunho da gratidão do pais pelos ser-
87
viços patrióticos da Sociedade de Geografia distinguiram-na
os Governos com o seu reconhecimento como Sociedade de
Utilidade Pública, com a Grã-Cruz de Cristo e com o grande
Oficialato da Ordem do Império. Bem ganhas foram tais
distinções pela Sociedade, que por mera devoção patriótica
agremia tantos bons portugueses ao serviço do Império e tem
sempre prestado aos serviços oficiais o seu concurso generoso
e desinteressado.
A Sociedade de Geografia é, na verdade, uma associa-
ção cientifica mas com um carácter nitidamente colonial. O
seu Estatuto é bastante elástico para que ela tenha podido
ser e seja uma Sociedade popular eminentemente patriótica.
Embora consagrando uma parte da sua acção à activi-
dade cientifica, reserva a Sociedade de Geografia uma grande
parte a uma acção de propaganda e de realizações em ma-
téria colonial. Isto explica a sua inegável popularidade e a
sua crescente influência nas nossas colónias. Alheia a con-
trovérsias politicas ou confessionais, ela não soube esquecer
o valor dos nossos missionários na obra colonizadora portu-
guesa, tendo frequentes vezes celebrado a sua acção de sacri-
fício e dedicação patriótica, tendo até lançado as bases de
uma associação de protecção às missões nacionais e às obras
de assistência aos indígenas.
Através as vicissitudes politicas que atormentaram o
pais, a Sociedade de Geografia soube sempre manter uma
independência que lhe grangeou o respeito de todos pelos
serviços assinalados que ia prestando à causa colonial.
A Sociedade de Geografia tem constituído pouco a pouco
um valioso museu histórico, etnográfico, geográfico e peda-
gógico das colónias portuguesas. No dia em que o Estado
construir enfim êsse Palácio das Colónias, que se impõe como
consagração do grande esforço colonial português e como sím-
bolo da unidade politica e moral do Império, as colecções da
Soicedade de Geografia constituirão uma base incomparável
para o Museu Colonial Português. O mesmo diremos da sua
88
excelente Biblioteca especialisada em assuntos coloniais, que
será uma das riquesas espirituais do Palácio das Colónias.
Seria imperdoável esquecimento que a pessoa que subscreve
estas singelas linhas, e, que há cêrca de nove anos tem o hon-
roso encargo de presidir à Sociedade, não recordasse com
palavras de gratidão e de saudade os nomes dos dois Secre-
tários Perpétuos da Sociedade, Luciano Cordeiro e o Almi-
rante Ernesto de Vasconcelos, a cujo inteligente e dedicado
csfôrço se deve em grande parte a proveitosa acção da Socie-
dade de Geografia.
Durante a sua vida, já longa, a Sociedade de Geografia
tem exercido a missão que se propôs nos seus Estatutos com
actividade, dedicação, e com verdadeira paixão por aquêle
principio, que é o seu maior ideal, e que vem a ser a defesa
<e o engrandecimento de Portugal, daquele Portugal de
Aquém e de Além Mar, que constitue a gloriosa Nação
Portuguesa.
90
190 0 Presta a derradeira homenagem a Luciano
estrénuo defensor do património colonial.
190 1 Promove o 1.° Congresso Colonial Nacional.
1906— Inaugura a Escola Colonial.
Organiza a 1 .* Exposição de Produtos Coloniais.
191 2 Organiza a 2.1 Exposição de Produtos Colon
1913 _ Cria a Comissão Permanente de protecção aos indí-
genas das colónias portuguesas.
191 4 Envia uma missão vacínica ao planalto de
Institue um prémio ao melhor estudo sôbre a doença
do sono.
Na vitrina estão expostos:
N.* 1—Medalhas:
Sociedade de Geografia de Lisboa — Het Ned. Co-
mité ter Herd. v. H. 30 Jarig Bestaan v. H.
Aardruksk. Gen. te Lissabon. 1875 — 10 Nov.—
1905 (4 ex.).
Michael de Ruiter Provinciarum — Medalha co-
memorativa da morte do Almirante Ruyter, repro-
duzida por ocasião do seu tricentenário (Março de
1907) e oferecida à Sociedade de Geografia pelo
Govêrno dos Paises Baixos; sendo entregue pelo
Ministro Van Eys, em 15 de Abril de 1907 —
E. de V (2 ex.).
Rainha D. Amélia —A Pátria honrai que a Patria
vos contempla — 6-10-907 (1 ex.).
République Française — Souvenir de la première
fête nationale de 1'exposition, 30 Juin 1878 (1 ex.).
Congrès International de Géographie. Le Cairé,
1925 (1 ex.).
Vir probus. — Praestantissimus Civis. — Sapientia
Aedificavit Sibi Domum (1 ex.).
Real Academia de Ciências y Artes de Barcelona. —
Fundada en 1764 reinando Don Carlos III. Rei-
91
nando Don Alfonso XIII celebrose el CL aniversario
de su fondation—1914 (1 ex.).
Descobrimento da índia. — Quarto Centenário —
1498-1898 (1 ex.).
Academia de Ciências de Portugal. — Medalha An-
tónio Cabreira— 18-111-1922 (1 ex.).
Geologorum Conventus — IX — MDCCCIII —
Áustria. (1 ex.).
International Geographical Congress — Cambridge
— 1928 (1 ex.).
S. Geogius Equitum Patronus. — Intempestate Se-
curitas (1 ex.).
Marquês de Pombal (1 ex.).
Oeuvre National de I'Enfance — sous le haut pa-
tronage de L. L. M. M. le Roi & la Reine. — Loi du
5 Septembre 1919 (1 ex.).
Faculdade de Medicina de Lisboa — 1,° Centenário
da Fundação da Régia Escola de Cirurgia—1825-
-1925 (2 ex.).
Franz Joseph I, Kaiser von Oesterreich, Koenig von
Boehmen, etc., Apost. Koenig von Ungarn. Dem
Fortschritte Weltausstellung — 1873 — Wien.
(5 ex.).
IV Centenario de la vuelta al Mundo— 1522-1922
(1 ex.).
Exposition International d'Anvers— 1930 (2 ex.).
Congrés International d'Histoire. — Paris—1900
(1 ex.).
D. Luiz I, Rei de Portugal e dos Algarves — D. Ma-
ria de Sabóia, Rainha de Portugal e dos Algarves —
XXVII Setembro 1862 (lex.).
1." Centenário da Guerra Peninsular— 1908-1914.
— Ao valor e patriotismo do povo português —
1808-1814 (1 ex.).
1862 Londino. — Honoris causa (1 ex.).
92
République Française. — ExDOsition Universelle —
1 8 8 9 — Société d e Céographie d e Lisbonne
(5 ex.).
République Française — Exposition Universelle —
1889 Musée des Colonies a Lisbone (2 ex.).
République Française — Exposition Universelle —
1889 Musée Colonial de Lisbonne (7 ex.).
Instituto Geográfico e Histórico da Baía. Quar-
to Centenário do Descobrimento do Brasil — 1500-
-1900 (1 ex.).
Za Chlvbne Wvniki Pracy. — Miedzynarodowa
Wystawa Komvnikacji Tvrystvki. — Poznan
1930 (1 ex.).
E. F. São Paulo — Rio de Janeiro. — Brasil 1906 —
E. F. São Paulo — Rio Grande — Brasil (1 ex.).
D. Pedro V. Rei de Portugal e dos Algarves. D. Ste-
phania, Rainha de Portugal e dos Algarves. — 29
Abril 1858 (1 ex.).
Talent de bien faire. — A Cidade do Pôrto ao In-
fante D. Henrique—1394 — Cinquentenário
1894 (1 ex.).
Por Mares Nunca D'Antes Navegados — A Camões
a Sociedade de Geografia de Lisboa 1880
(1 ex.).
Exposition International — Rio de Janeiro. 1922-
.1923. — Brasil 7 de Setembro 1882-1922. — In-
dependência ou Morte! (1 ex.).
Centro Literário. — Academia Cearense. — Insti-
tuto do Ceará. — Comemoração do Tricentená-
rio da vinda dos primeiros portugueses ao Ceará.
1603-1903 (1 ex.).
Ateneu Comercial do Pôrto— 1885. Aos in-
trépidos e perseverantes exploradores Brito Capelo
e Roberto Ivens—1884-1885 (1 ex.).
93
Colónias Portuguesas. — Exposição Insular e Colo-
nial — Pôrto 1894 (1 ex.).
Associação dos Empregados no Comércio do Rio
de Janeiro—1880 (1 ex.).
Exposition Universelle — Agriculture - Industrie -
Beaux-Arts. Paris 1855 — Napoleon III Empereur
(2 ex.).
Opening Van den Delagoa Baai Spoorweg — Neder-
landsche Zuig — Afrikaansche Spoorweg — Maats-
chappij — 1895 (1 ex.).
Ao Ministro da Justiça Francisco António da Veiga
Beirão — Associação Commercial do Porto Pro-
jecto de Código Commercial— 1887 (1 ex.).
Exposition Universelle de 1867 a Paris. — Conseil
des Colonies portugaises. — Recompenses. — Napo-
leon 111 Empereur (1 ex.).
Leopold II, Roi des Beiges — Protecteur de (expo-
sition — Exposition Universelle. — Anvers — 1885
(7 ex.).
A Colónia Portuguesa em Pernambuco congratu-
la-se com o Povo Brasileiro pelo lanço amplíssimo
que acaba de juntar ao Templo da Humanidade. —
Lei n.° 3.353 de 13 de Maio de 1888 — Paz — Li-
berdade— Trabalho — Prosperidade (1 ex.).
Inauguração do novo edifício. —29 de Outubro de
1910. Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
1810-1910 (1 ex.).
Napoleon III Empereur — Exposition Universelle
— Paris 1867 (1 ex.).
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Lança-
mento da pedra fundamental do novo edifício
1905 (1 ex.).
A Luiz de Camões a Pátria reconhecida. — 10 de
Junho de 1880. Tricentenário de Camões. — Lis-
boa (1 ex.).
Zanzibar Exhition—1905 (1 ex.).
Dana — Jordomsejling—1928-1929-1930 (1 ex.).
A. E. Nordenskiold — A. A. I. Palander. — Invia
Tenaci Nulla Est Via.— Oras Asiae Boreales Pri-
mum Circumnavigations. — Reg. Acad. Scient.
Suec.— 1879 (1 ex.).
Descobrimento do Caminho Marítimo para a India.
— Gloriam Inclyto Navigator Vasco da Cama.—
1498-1898 (1 ex.).
Cristobal Colon descubrió el nuevo Mundo el doce
de Octubre de mil cuatrocientos noventa y dos, rei-
nando en Castilla y Aragon Dona Isabel y Don Fer-
nando.— Quarto centenário—1892 (1 ex.).
Wilhelm II Deutscher Kaiser. — Landwirtschaf-
liche Austellung Dar-Essalâm Deutsch Ostafrika —
1904 (1 ex.).
Société de Géographie de Marseille — La Société
de Géographie de Marseille à la Société de Géogra-
phie de Lisbonne — 1879 (2 ex.).
Congresso Cientifico Internacional Americano.—
Reunido en Buenos Aires con motivo de la Conme-
moración dei Centenario de la Revolución de Mayo
de 1810.— Julio de 1910. — Sociedad Cientifica
Argentina.— 1872 (1 ex.).
Terceiro Centenário de Camões— 10 de Junho de
1880.— Assentamento da Pedra Fundamental do
novo edifício. — Gabinete Português de Leitura no
Rio de Janeiro (1 ex.).
Al. v. Humboldt. — A. Bonpland. — 1799-1804 —
XVI Internati. Amerikanisten-Kongress. Stuttgart
18-23 August 1904 (1 ex.).
D. Pedro V, Rei de Portugal — Palácio de Cristal
Portuense. Inaugurado por El-Rei D. Pedro V em
3 de Setembro de 1861 (1 ex.).
95
A Província de Angola saúda Capelo e Ivens —
1883 — Moçambique 25 Junho, 3 h. e 1 m. Minis-
tro da Marinha. Lisboa. Êxito completo; cumpri-
mento ordens recebidas; viagem região Lagos; ori-
gens Luabo Luapula, caminho comercial entre nos-
sas províncias; seguimos Loanda, Capelo Ivens
(1 ex.).
Ao Povo Luso-Brasileiro. — 1500-1900. Pôrto Se-
guro da Ilha da Vera Cruz 3 de Maio. Pedro Álva-
res Cabral. — Descobridor do Brasil (2 ex.).
Exposição Internacional. — Pôrto, 1865. — Gloria
Victoribus (1 ex.).
Sous I'Auguste Patronage de S. M. Fouad ler. Roi
d'Egipte — 14ème. Congrès International de Na-
vigation — Le Caire. — 1926 (3 ex.).
Société de Géographie. — Fondée à Paris en 1821.
— Hommage a la Société de Géographie de Lis-
bonne a 1'occasion de son Cinquentenaire— 1925
(1 ex.).
Aangebo den door de Vice-Consuls van Portugal
in de Nederlanden. — Aan Baron Rosenthal ter
herinnering aan zijne aanstelling tot Consul-Gene-
raal van Portugal in de Nederlanden door Z. M. der
Koning van Portugal. — 1877 — 29 December —
1902 (1 ex.).
XV Congresso Internacional de Medicina — Lisboa
19-26 Abril de 1906 (1 ex.).
Placa de Grande-Oficialato da Ordem do Império
Colonial Português, com que foi condecorada a So-
ciedade de Ceografia de Lisboa, na sessão solene de
encerramento da Semana das Colónias, realizada
em 8 de Maio de 1935 (1 ex.).
Placa da Crã-Cruz de Cristo, com que a Sociedade
de Ceografia foi agraciada por Decreto-lei de 29 de
Março de 1928 (1 ex.).
2— Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, sé-
rie 1 a 54 (Colecção de 44 volumes) — Quarenta
e quatro volumes, encadernação de luxo.
DIAPOSITIVOS
97
MAPA DOS DESCOBRIMENTOS
i _ navegadores e descobridores
100
tarina, até ao Cabo da Boa Esperança, incluindo todo o curso
navegável do Zaire, e. nu costa Sul, a caminho do Índico, até
ao Rio do Infante; são ainda exploradas e visitadas as costas
do Golfo da Guiné. A passagem daquele último cabo, por
Bartolomeu Dias, é o segundo marco milenário dos Desco-
brimentos.
Os mais notáveis mareantes desta época áurea, todos da
mais rija têmpera joanina, foram: Diogo de Azambuja, Diogo
Cão, Pêro Anes, Pêro Escobar ou Escolar, Bartolomeu Dias,
João Infante, Pêro de Alenquer, Duarte Pacheco Pereira, os
Sousas (Gonçalo e Rui), Pêro Vaz da Cunha (o Bisagudo) e
João Fernandes Labrador.
Com a construção do Castelo dc S. Jorge da Mina, nêste
reinado do maior dos nossos chefes do Estado, ainda as nave-
gações para o Golfo da Guiné se incrementam.
101
orientais, então estudadas, praticadas e sempre aperfeiçoadas
pelos mareantes dos nossos navios, foram depois adoptadas
por todas as marinhas.
a) África
102
8) Francisco Barreto a Sofála, Monomotápa, Chicova e
Manica.
ç) Duarte Lopes ao Congo.
10) PJerónimo Lôbo e Francisco Pais ao Nilo Azul.
11) P.' Jerónimo Lôbo e Mendes à Abissínia.
b) Ásia)
c) América
d) Austrália
103
Ill — CONQUISTADORES
AFONSO DE ALBUQUERQUE
10k
Carta dos descobrimentos, navegação e conquistas. —
Ensaio histórico-cartográfico, (compilação, coordenação e pin-
tura) de Ventura Ferreira.
Enquadramento central (parte geográfica) em estilo de
portulano (6m,00x5m,90), contendo a representação de:
1) as de:
Álvaro Fagundes
Bartolomeu Dias
David Melgueiro
Diogo Dias
Diogo Cão
Duarte Pacheco Pereira
Estêvão Gomes
Fernão de Magalhãis
Gaspar Corte Real
Jorge Álvares.
Jorge de Abreu e Francisco Serrão
João Vaz de Torres
João Martins
Pedro Álvares Cabral
Vasco da Gama
Volta da Mina.
b) Descobrimentos anotados
1) Ilhas:
Madeira
Açores
Ceilão
Socotorá
105
S. Tomé
S. Helena
Ascensão
Tristão da Cunha
Papuas
Mascarenhas
Celebes.
2) Continentes:
Cabo Bojador até S. Jorge da Mina, Golfo Pérsico,
Golfo de Bengala, Norte da China e Japão.
b) Sul da Mauritânia
106
CULTURA COLONIAL
108
ção de uma cultura e de uma doutrina coloniais entre os
que primeiro nela colaboram cncontram-se os melhores no-
mes dos homens de acção e dos homens do espirito — e esta
distinção ê difícil entre nós — numa palavra nos melhoies
homens de Portugal.
De homens de acção criadores de uma verdadeira cul-
tura colonial basta citar Eduardo Costa — um dos maiores
em tudo.
E nos centros de cultura nacional — em Lisboa, como
no Pôrto e em Coimbra — espontâneamente, por iniciativa
de alguns valores notáveis ou por criação do Estado come-
çam a realizar-se aqueles organismos criadores e mantenedores
de cultura sem os quais ela é dispersa actividade de indiví-
duos sem resultado eficaz.
Entre esses organismos é justo citar, já pelo valor que
representou no seu início, ja pela constante acção cultuial
que manteve sempre, a Sociedade de Geografia de Lisboa. E e
justo citar o nome de Luciano Cordeiro como o verdadeiro
criador e o forte impulsionador dêsse grande organismo de
cultura que tantos serviços prestou e presta à nossa acção
colonial.
Outros organismos — espontâneamente formados — po-
deriam ainda ser citados.
Algumas revistas em que se congregaram tantas activida-
des de cultura deveriam ser referidas. Actividades cientifi-
cas (como a de Júlio Henriques no Jardim Botânico de
Coimbra) deveriam também ser indicadas.
Não pode, porém, sem omissão que poderia ser in-
justa, fazer-se aqui o que teria de ser um estudo completo,
num verdadeiro livro, das manifestações da cultura colonial
portuguesa.
Marca-se apenas a sua existência e a sua natural direc-
triz. Esta, após as criações isoladas do passado, após o apare-
cimento espontâneo de organismos de cultura e seus meios
de expansão na Imprensa caminha desde os fins do sé-
109
culo XIX e princípios do século XX para a formação dos ver-
dadeiros órgãos da cultura colonial — os Institutos Cientí-
ficos de Investigação e o Instituto de Criação de Cultura e de
Ensino em que tôda esta cultura deve reflectir-se, desenvol-
ver-se, criar a sua ciência própria (a ciência colonial) e, pelo
ensino, facilitar aos futuros homens de acção a base de estu-
dos necessária para que ela seja perfeita.
A consciência desta necessidade e a força desta tendên-
cia espontânea agem por igual na criação da Escola Colonial,
criação a que devemos, por justiça, deixar unidos os nomes
do Rei D. Carlos e do Ministro Moreira Júnior.
Nessa Escola se agrupam desde 1906 os mais altos espí-
ritos e grandes valores de acção colonial. Nela se revê e se
cria a doutrina de Administração Colonial, com Tomaz de
Aquino de Almeida Garrett, Carneiro de Moura e outros.
Nela, pela primeira vez e com alta superioridade, se ela-
bora uma Ciência de Colonização. É da mais elementar jus-
tiça citar, grande entre tantos nomes notabilissimos, o nome
do Professor Lourenço Cayolla, primeiro criador dessa
ciência, como tal, com o seu corpo de doutrina e sistemati-
zação, no nosso país.
É também de elementar justiça dizer que o primeiro
tratado de «Politica Indígena» e a primeira criação dessa
ciência como ciência, tiveram origem em Portugal e na Escola
Colonial, honrando o nome do Professor Lopo Vaz de Sam-
paio e Melo.
Outros muitos nomes — o de todos os seus professores,
na verdade — haveria a citar como demonstração de que, em
todos os campos, houve e há nessa Escola uma criação cons-
tante de cultura colonial. Não é isso possível aqui, só me
cabendo lembrar que a publicação de uma «Biblioteca Colo-
nial» que reunisse as obras feitas pelos professores e diplo-
mados da Escola Superior Colonial seria a melhor maneira
de prestar justiça a tantos e que tanto a merecem.
A elevação da Escola Colonial a Escola Superior Colo-
110
nial pelo Ministro João Belo e a obra ali continuada e
desenvolvida pelos seus professores e diplomados afirmam a
existência em Portugal — e isto é da mais alta importância —
de um grande organismo de cultura que pode enfim dar
corpo à Cultura Colonial — em todas as suas ciências — e
levar, pelo seu ensino, a todos os homens de acção colonial a
cultura que lhes é necessária como base da própria acção.
Dos institutos de investigação científica e das escolas
técnicas (como o Instituto de Medicina Tropical), de museus,
das actividades de cultura colonial dispersas nos outros orga-
nismos de cultura portugueses, e da Escola Superior Colo-
nial — como base de todos êsses estudos e criação de cultura
que os sintetiza — pode nascer e nascerá a Universidade Co-
lonial, finalidade natural de uma actividade cultural que de
há tanto se vem manifestando em Portugal.
A obra do presente será — mercê da renovação total do
pais feita por um nacionalismo forte e inteligente — o natural
complemento do seu passado.
Digamos apenas, para terminar, que foi através de todos
estes organismos de cultura e pela acção persistente de todos
os valores que neles colaboram que se fêz a melhor propa-
ganda das colónias, aquela que as mostra ao País, como uma
obra a construir e a fazer perfeita, pensando e agindo, escre-
vendo e trabalhando, criando, sempre, pela cultura e pela
acção.
111
SECÇÃO XIV
Cultura Colonial
112
vier Pinto, professor da Escola Superior Colonial
(falecido).
N.° 8—João Martins Delgado, professor da Escola Supe-
rior Colonial (falecido).
N.° 9 — Manuel da Costa Dias, professor da Escola Superior
Colonial (falecido).
N.° 10 — Tomaz de Aquino de Almeida Garrett, professor da
Escola Superior Colonial (falecido).
113
N." 16— Luciano Cordeiro — Questões histórico-coloniais
(Cedido pela Agtncia Geral das Colónias)
N.° 17 — Angola e Congo, por F. A. Pinto (Conferência rea-
lizada na Sociedade de Geografia Comercial do
Pôrto, em 1886).
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)
N." 18 — Contribuições para o estudo da flora africana, por
J. A. Henriques.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
N.° 19—Plantas da borracha e da guta-percha, por J. A.
Henriques.
(Cedido pela Agência Geral das Colónias)
N.° 20—Portugal nos mares, por Oliveira Martins.
(Cedido pela Agência Geral das Colónias)
N." 21 — Bosquejo das possessões portuguesas no Oriente,
por Joaquim Pedro Celestino Soares.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
íu
N.° 28 — Estudos sobre as províncias ultramarinas, por An-
drade Côrvo.
(Cedido pela Agência Geral das ColóniasJ
DIAPOSITIVOS
(Século XVIII)
115
AUGUSTO RIBEIRO
Fundador do «Comércio de Portugal».
Deputado em 1887 e 1890.
Professor da Escola Colonial.
Como historiógrafo e cientista colonial, deixou, entre
outros, os seguintes trabalhos: «Études et observations mé-
téorologiques aux colonies du Portugal; Missions et explo-
rations portugaises du XV au XIX siècle»; «Du regime fidu-
ciaire et du crédit foncier aux colonies portugaises» ; «Os Aço-
res e os descobrimentos modernos: os Cortes Reais».
Foi autor, também, dum memorando acêrca do trabalha
indígena em S. Tomé.
Í16
FRANCISCO MANUEL DE MELO
Conde de Ficalho
J. DE ANDRADE CORVO
J. J. LOPES DE LIMA
j. P. DE OLIVEIRA MARTINS
Historiador.
Autor, também, de estudos de economia colonial como
«O Brasil e as colónias portuguesas» e «Portugal nos mares».
Sendo deputado em 1883, apresentou um projecto sôbre
fomento rural.
Ministro da Fazenda em 1892.
j. V. BARBOSA DU BOCACE
118
sessões portuguesas da África Ocidental que existem no Mu-
seu de Lisboa»; «Fauna de Angola», etc.
Foi lente de zoologia da antiga Escola Politécnica; vice-
-presidente da Academia Real das Ciências de Lisboa, ministro
da Marinha e Ultramar (1883) e dos Negócios Estrangei-
ros (1890).
LOURENÇO CAYOLLA
LUCIANO CORDEIRO
M. A. MOREIRA JÚNIOR
no
2.A GALERIA
777777777777777777777^,
ADMINISTRAÇÃO COLONIAL
m
ção absoluta e da unificação legislativa, distribuiu os servi-
ços relativos às colónias pelos diversos ministérios, e a Consti-
tuição de 22 só se referia ao Brasil. Restabelecido o regime
absoluto, a lei de 3 de Outubro de 1833 restabelecia as antigas
secretarias de Estado, mas a morte de D. João VI e a gueria
civil traziam a Carta Constitucional e a vitória definitiva do
regime constitucional. Na Carta, à-parte a defeituosa enume-
ração geográfica do art. 2.0, não havia qualquer referencia aos
domínios ultramarinos: foi o que Garrett chamou «.libeial
silêncio»; na reorganização dos Ministérios, em 28 de Julho
de 1834, foram outra vez os serviços relativos ao ultramar
distribuídos pelos restantes ministérios. Já antes, por decreto
de 30 de Agôsto de 1833, fora extinto o Conselho Ultrama-
rino, cujas funções eram incompatíveis com o princípio de
separação dos poderes. Por um momento o novo regime tem
a intuição do problema e cria a Secretaria de Estado dos
Negócios do Ultramar (lei de 23 de Abril de 1834) mas logo
a fada para curta vida destinando-a a ser anexada a outra,
como, por decreto de 2 de Maio realizou, ficando o Minis-
tério da Marinha e Ultramar que, com diferentes vicissitudes
chegou a 1911. O decreto de 8 de Outubro de 1910, que esta-
beleceu as designações dos Ministérios, deu ao antigo Minis-
tério da Marinha e Ultramar a designação de Ministério da
Marinha e Colónias, e o de 27 de Maio de 1911 reorganizou
os serviços que, finalmente, foram em 23 de Agosto dêsse ano
separados dos da Marinha, passando a constituir um Minis-
tério próprio.
Numerosas foram as reorganizações por que passaram os
serviços centrais da administração colonial durante este século
de regimes representativos, sem que valha a pena enumerá-
-las. Far-se-á excepção para o decreto de 13 de Fevereiro de
1843 (José Falcão) que organizou a secção do Ultramar da
Secretaria de Estado segundo o critério geográfico, organi-
zação que durou até 1839, mas foi abandonada, seguindo tôdas
as restantes organizações o critério de distribuição das repar-
125
tições por serviços e não por colónias. No entanto, a predi-
lecção dos colonialistas ia para a distribuição dos serviços por
colónias: nêsse sentido se manifestou Eduardo Costa na sua
notável Memória de 1901, a sub-comissão da Sociedade de
Geografia que em 1912 elaborou um parecer sôbre o assunto
e até o Ministro Cerveira Albuquerque no seu Relatório do
mesmo ano. Só, já fora do período de que nos ocupamos, o cri-
tério administrativo foi abandonado, na reorganização de
1920; no entanto pela lei de 30 de Junho de 1913 a Direcção
Geral de Fazenda das Colónias dividia-se em duas reparti-
ções, segundo o critério de distribuição geográfica, abando-
nado, porém, em 1917.
Outro facto a reter é o da mudança de designação. Não
só a ligação dos serviços das colónias à Marinha era comba-
tida, tendo Emídio Navarro advogado a sua ligação ao Alinis-
tério dos Estrangeiros, mas a designação de províncias ultra-
marinas era, pelos tratadistas considerada imprópria e até
inconveniente, pois os autores estrangeiros a apontavam como
simbolizando a nossa política excessivamente assimiladora.
A essa inspiração se deveu a designação de 1911 e, justifi-
cando-a, escrevia Cerveira Albuquerque no citado Relatório:
«implica a ideia de que as colónias devem ficar sob a influên-
cia de um regime especial e por tanto não devendo ser consi-
derada como parte integrante da Metrópole, mas como cons-
tituindo o nosso império colonial.»
Fastidioso seria falar de todos os organismos auxiliares
do Ministério, que, aliás, não indicaria novos traços a esta
vista geral. Mencionaremos todavia o mais importante deles
pela sua tradição, pois antecede a própria criação do Minis-
tério da Marinha e Conquistas, e pelas suas elevadas funções:
referimo-nos ao Conselho Ultramarino. Já vimos como o
constitucionalismo o suprimiu em 33. Fontes, porém, resta-
beleceu-o em 3/ e com tão largas atribuições que em parte
caia no mesmo vício de confusão de poderes e em alguns
casos se sobrepunha à Secretaria de Estado, podendo corres-
126
ponder-se directamente com os governadores das colónias.
Não se manteve assim e foi sucessivamente remodelado até
que, em nome da pobreza do Tesouro, foi em 1868 trans-
formado em Junta Consultiva do Ultramar. Ferreira do Ama-
ral, em 92, remodelou-a e introduziu a innovação de vogais
eleitos, indirectamente, como representantes das colónias,
procurando adaptá-la a funções de informação por intermédio
de indivíduos conhecedores das condições e problemas locais.
Passou em 1911 a Conselho Colonial e absorveu os restantes
organismos consultivos do Ministério, sendo-lhe então atri-
buídas principalmente as funções de Tribunal Adminis-
trativo.
Ao Ministro e Secretário de Estado da Marinha e Ultra-
mar, colocado à frente desta administração, não dava a orgâ-
nica constitucional maiores ou diferentes poderes do que con-
cedia aos seus colegas das outras pastas, com a diferença real
que êle tinha os seus administrados e executores das suas
ordens a milhares de quilómetros e que essas ordens levavam
meses a atingi-los. Não curara a Carta, inspiração de letrados
e burgueses, dêsse pormenor; possível é, mesmo, que longe do
espirito dos seus autores estivesse a idèia de os aplicar aos do-
mínios e conquistas. Logo a Constituição de 38 procurou re-
mediar a deficiência inserindo um título X denominado Das
Províncias Ultramarinas e dando a possibilidade de para elas
serem feitas leis especiais, e ao Ministro a de decretar as pro-
vidências urgentes quando não estivessem reunidas as cortes.
Caída a Constituição pela contra-revolução cabralina, veri-
ficou-se que era preciso manter essas disposições, para o que
se fizeram o decreto de 2 de Maio de 1842 e a lei de 2 de
Maio de 1843, esta com a brava oposição das cortes e ambos
de tão duvidosa constitucionalidade que foi preciso, mais
tarde, introduzir os seus preceitos no Acto Adicional de 32,
constituindo o seu art. 13.".
A sombra das disposições dêste artigo se fêz a quási tota-
lidade da legislação para as colónias, invocando a urgência,
127
que nem sempre era muita, e o facto de estarem encerradas
as côrtes, também frequente.
E pode dizer-se que toda a actividade legislativa e regu-
lamentar da monarquia constitucional se desenvolve em volta
dos §§ i.° e 2° do art. 15° do Acto Adicional: os governos,
aproveitando o primeiro para poderem legislar para o ultra-
mar fora do processo moroso e raras vezes bem orientado das
assembleias parlamentares, e condicionando o segundo, que
permitia que os governadores pudessem tomar providências
urgentes sem esperar pela decisão do govêrno, de forma a
reduzir-lhe ao mínimo a iniciativa, regulamentando a aplica-
ção do § 2." do art. 13.0 pelos decretos de 14 de Agôsto de
1856 e 28 de Dezembro de 1882.
O decreto de 23 de Abril de 1835 substituíra os «gover-
nadores e capitãis generais» por simples governadores, que
reuniriam as atribuições administrativas e militares asem con-
tudo terem ingerência alguma nos negócios judiciais».
Pelo decreto de 7 de Dezembro de 1836, de Vieira de
Castro, foram os «domínios africanos» divididos em três go-
vernos gerais, de Cabo Verde e Guiné, Angola e Moçam-
bique, um govêrno particular constituído por S. Tomé e
Principe e o Estado da índia, que constituía outro govêrno
geral, ficando a divisão dêstes govêrnos em distritos para
oportuna regulamentação. Estabelecia êste decreto, a que
já se chamou, com justiça, a primeira carta orgânica do
ultramar, as atribuições de governadores e conselhos de
govêrno.
Sucede-lhe em i86g o decreto de 1 de Dezembro, de
Rebêlo da Silva. Pretendia o legislador traduzir nêsse decreto,
que foi seguramente o de mais longa vigência na adminis-
tração ultramarina, o princípio da descentralização. «Con-
fiando à acção local o plano e os meios de execução em assun-
tos valiosos e chamando-as ao exame e decisão das questões
que principalmente devem interessá-la, tende esta reforma a
costumar as possessões a contarem para a solução dêstes gra-
128
ves problemas com o recurso dos próprios, da sua inteligência
e os seus cabedais».
O diploma de Rebelo da Silva continha com efeito os
germes de um desenvolvimento administrativo que poderia
conduzir a uma descentralização sem demasiadas peias, mas
sem exageros. Seria, porém, exigir muito supor que numa
época em que na metrópole se acentuava a tendência para
a centralização podia em relação à administração colonial, tal
como a permitiam os textos constitucionais, adoptar-se uma
mentalidade diferente. A unificação legislativa, a aplicação
dos códigos administrativos metropolitanos nas colónias inu-
tilizava as intenções do diploma fundamental, do decreto de
1869. Por outro lado, o decreto de 20 de Dezembro de 1880,
extinguindo as juntas de fazenda que existiam no ultramar e
mandando aplicar nas colónias o regulamento geral da con-
tabilidade pública de 31 de Agosto de 1881 e o regulamento
geral da administração de fazenda de 1870, acentuava a cen-
tralização. Fàcilmente se verificou a impraticabilidade dêsses
regulamentos no ultramar e por isso o decreto de 7 de No-
vembro de 1889 põe em vigor o primeiro regulamento de
fazenda para as colónias, mas nêsse e nos diplomas seguintes
vão colocar-se em conflito duas orientações: a do orçamento-
logista que exige a ordem nas contas e a fiscalização das des-
pesas e a do administrador colonial que quere que o gover-
nador tenha possibilidade de iniciativa e seja a primeira auto-
ridade na colónia. Seria possível conciliar as duas exigên-
cias, mas por infelicidade prevaleceu durante largo tempo
o critério de subordinar o governador ao funcionário de
fazenda. Contra êsse sistema se levantaram, clamorosamente,
as mais autorizadas vozes: António Enes, Mousinho, Eduardo
Costa...
A realidade tem os seus direitos e consegue prevalecer
às vezes sôbre os sistemas... Sob a pressão das circunstâncias
teve de se verificar que os poderes do governador eram insufi-
cientes e que o Ministro da Marinha e Ultramar, que tudo
129
dirigia do sen gabinete, estava muito longe para deliberar
com rapidez. Recorreu-se então ao sistema dos comissários
régios, em quem foram delegados os poderes que o art. 15." do
Acto Adicional conferia ao executivo nos casos de urgência.
Assim, foram nomeados António Enes e Mousinho, para Mo-
çambique, o infante D. Afonso, como vice-rei, e Neves Fer-
reira para a tndia.
Estes actos marcam o inicio de nova época na adminis-
tração colonial. Em 1895, António Enes não se limitara, se é
lícito empregar tal verbo a respeito dessa emprêsa, a conse-
guir, pela valentia dos oficiais e soldados cuja direcção lhe
fôra confiada, a submissão dos indígenas de Moçambique:
promulgara disposições administrativas que tinha mostrado a
vantagem da administração exercida directamente, na pró-
pria colónia, e não através dos ofícios e dos telegramas.
Mousinho, que lhe sucedeu no cargo, seguira a mesma
orientação. Mas essa orientação contrariava a tradição buro-
crática, e o decreto de 7 de Julho de 1898 vinha declarar que
«a delegação de faculades do poder executivo aos comissários
régios se deve entender por forma que não invada atribui-
ções constitucionalmente fixadas e só pode por isso com-
preender aquêles que legalmente pertencem ao ministro e
secretário de Estado e não requerem o concurso dos outros
ministros»... Perante êste decreto, Mousinho entendeu que
«a acção e a iniciativa do comissário régio ficavam anuladas
e a província passaria de novo a ser administrada quási direc-
tamente pela secretaria de Estado» e demitiu-se.
A orientação descentralizadora, um momento contraria-
da pela tradição burocrática, já não poderia parar.
No Congresso Colonial de 1901 fêz-se ela ouvir clara-
mente, sobretudo na Memória de Eduardo Costa. Em 1907
um dos companheiros de Mousinho, Aires de Orneias, era
ministro da Marinha e Ultramar e publicava a reorganização
administrativa de Moçambique que punha em prática, na-
quela colónia, os princípios de descentralização e especiali-
130
zação administrativa e supremacia do governador em relação
aos serviços de fazenda.
Não foi possível alargar então, devido aos acontecimentos
políticos da época, as excelentes disposições dêsse decreto de
23 de Maio de 1907 às outras colónias, com as modificações
exigidas pelas circunstâncias locais, mas proclamada a Repú-
blica a nova constituição declarava no art. 67." que una admi-
nistração das províncias ultramarinas predominará o regime
de descentralização, com leis especiais adequadas ao estado de
civilização de cada uma de elas» e no art. 85° incumbia o pri-
meiro Congresso da República de «elaborar as leis orgânicas
das províncias ultramarinas».
Não se ocupou êsse primeiro congresso, até 1914, de dar
cumprimento a êste dever constitucional, prova de quanto as
assembléias parlamentares são impróprias para tarefas dessa
natureza. Por isso, em 1914, o Dr. Almeida Ribeiro, ao tempo
ministro das Colónias, apresentou as suas propostas de leis
orgânicas de administração financeira e da administração civil
das províncias ultramarinas, precedida de um muito notável
relatório, substituindo as leis orgânicas para cada uma das
províncias, que o Congresso não elaborara, por Bases às quais
se subordinariam os diplomas orgânicos que o Poder Exe-
cutivo decretaria para cada uma das colónias. Dando a cada
colónia suficiente descentralização, e fazendo, de cada uma,
uma «entidade financeira autónoma sob a superintendência
e fiscalização da Metrópole» as leis n.0' 277 e 278, em que as
propostas do Dr. Almeida Ribeiro se converteram, davam
às colónias condições de administração suficientemente des-
centralizada e de organização financeira própria, acautelando,
porém, os direitos e interêsses da Metrópole.
Como em relação ao decreto de 1869 a regulamentação
posterior e, aqui, também o desequilíbrio que se seguiu à
guerra, vieram a exagerar as consequências do regime esta-
belecido por essas Bases. Elas não deixam, por isso, de repre-
sentar uma notável obra legislativa e o resultado final da
131
orientação preconizada por uma geração de legisladores e colo-
nialistas: Rebelo da Silva, Paiva Manso, Júlio de Vilhena,
Enes, Mousinho, Orneias e Eduardo Costa, para só falar dos
maiores e dos já desaparecidos.
A nomeação dos comissários régios foi o primeiro passo
para um sistema de administração colonial que teve como
remate as Bases Orgânicas de 1914.
132
SECÇÃO I
Administração Colonial
133
Regime absoluto
(Século XIX)
Órgãos auxiliares:
Conselho Ultramarino, Mesa da Consciência e Ordens
Administração local:
Governadores e capitãis-generais
Ouvidores (1811), Junta de Melhoramentos de Agricul-
tura (1810), Cabo Verde e S. Tomé
Monarquia constitucional
m
Corpos consultivos
Administração local
Regime republicano
1910
(8 de Outubro)
Corpos consultivos
Conselho colonial
Administração local
135
Lei n.° 277
(15 de Agosto de 1914)
Autonomia moderada
136
1900. Macau — João M. Ferreira do Amaral — 1846. Visconde
de S. Januário—1872. General Eduardo Marques—1908.
A. Machado— 1910. Timor — A. de Castro— 1859. A. Fran-
cisco Costa— 1887. Cipriano Forjaz— 1890. J. Celestino da
Silva— 1805. Filomeno da Câmara— 1911.
A enumeração dos objectos segue nas vitrinas que iniciam
a 2." galeria.
N.° 14-A — Relatório do Ministro da Marinha e Ultramar,
Visconde de Sá da Bandeira, apresentado às Cortes
e mostrando o estado dos nossos domínios ultra-
marinos.
N.° 15-A— Relatório do Ministro e Secretário dos Negócios
da Marinha e Ultramar (F. F. Dias Costa), apre-
sentado à Câmara dos Senhores Deputados na ses-
são legislativa de 1898.
(Cedido pela Agência Geral das Colónias)
137
apresentado na Câmara dos Senhores Deputados na
Nação portuguesa em sessão legislativa de 1905»
pelo Ministro e Secretário do Estado dos Negócios
da Marinha e Ultramar, Manuel António Moreira
Júnior.
(Cedidos pela Agência Geral das Colónias/
138
— Condecoração de Kim-Khanh (Grande Império
de Anam).
N.° 25 — Caixa de prata contendo uma mensagem dirigida
ao Conselheiro J. J. Machado (1897-1900) pelos
povos de Salsete.
(Cedido pelo Engenheiro Almeida Lima)
139
N.° 31-A — Pedaço de carril da linha do Caminho de Ferro
de Mossâmedes (1905).
N.° 32 — Caderneta de apontamentos do Governador Geral
de Angola, Dr. António Duarte Ramada Curto,
contendo: «Diplomas e factos mais dignos de men-
ção da Administração Superior de Angola— 1897-
-1900».
(Cedida por António Ramada Curto)
DIAPOSITIVOS
(Século XVIII)
U0
AIRES DE ORNELAS
Condecorações
Uí
ANTÓNIO DUARTE RAMADA CURTO
Condecorações
Í42
1909 — De novo ministro dos Negócios Estrangeiros.
1910 — Continuou a regência das suas cadeiras na Escola do
Exército e no antigo Instituto Industrial.
Condecorações
tk3
1863 — Governador de Mossâmedes, pela segunda vez.
1869 — Chega a Moçambique para governar a Zambézia, fale-
cendo então.
Condecorações
Í44
Condecorações
— Cavaleiro e Oficial da Ordem de Sant'lago.
— Oficial da Ordem de Aviz.
— Medalha Militar de Prata do Comportamento
Exemplar.
Condecorações
— Conselheiro.
— Oficial e Comendador da Ordem de S. Bento de
Aviz.
— Cavaleiro da Tôrre e Espada e de Sant'lago.
— Medalhas de Ouro, de Bons Serviços e dos Serviços
no Ultramar.
— Medalha de Comportamento Exemplar.
JOÃO BELO
1896/1897 — Tomou parte nas operações de Moçambique.
1900 — Capitão dos portos de Moçambique.
1902 — Tomou parte nas operações do Bàrué e nas de repres-
são da escravatura no distrito de Moçambique.
1Í5
1904 — Serviu na Divisão Naval do Índico.
1906 — Comandante da esquadrilha de Gaza.
1907 — Chefe da Delegação Marítima de Inhampura.
1908 — Presidente da comissão municipal de Gaza.
1909 — Administrador do concelho de Chai-Chai.
1910 — Presidente da comissão administrativa para a cons-
trução, exploração e administração do caminho de
ferro de Chai-Chai a Manjacaze.
1913 — Chefe do gabinete do Governador Geral de Moçam-
bique.
1914 — Comandante da esquadrilha do Zambeze.
Falecido em 1928, sendo Ministro das Colónias desde
1927.
Condecorações
Condecorações
— Carta de Conselho.
— Oficialato e Comenda da Ordem de S. Bento de
Aviz.
U7
— Medalha de Ouro de Serviços Relevantes no
Ultramar.
— Grande Oficialato de Aviz.
— Oficialato de Sant'lago.
JÚLIO DE VILHENA
U8
— Foi Conselheiro efectivo do Conselho de Estado, vogal
do Supremo Tribunal Administrativo e Vice-Presi-
dente da Academia Real das Ciências de Lisboa.
U9
Entendendo que a ocupação só pela fôrça das armas
podia tornar-se efectiva, deu origem à política de
expedições militares sucessivas.
Condecorações
151
telas acaudilhadas, o marechal, ao serviço daquelas mesmas
convicções que tinham justificado a sua presença nas lutas
a que a convenção de Évora-Monte pôs epílogo, decidia-se a
uma nova campanha, doutra espécie. As rimas de papel que
a sua laboriosa pena cobriu, existentes no Arquivo Histórico
Colonial, permitem-nos medir sem êrro a amplitude, o ritmo
do fôlego e do pensamento que por elas, fôlha a fôlha, passou.
Não era, «não podia ser — conforme o juízo de Oliveira Mar-
tins, — um condottieri como Saldanha, nem um politico
como Palmela, nem simplesmente um instrumento militar
como Terceira, nem tampouco um tribuno, ídolo revolucio-
nário, como Passos». Debaixo da farda que vestiu, havia, po-
rém, com os seus exigentes latejos e princípios morais, — e
era-o mesmo nas suas durezas, — uma sorte de filósofo de
estilo estóico. Fiel às próprias idéias, obstinou-se nelas para
que lhe servissem de rigorosa pauta, delas fêz a raiz dos seus
actos, das suas atitudes, antepondo-as sempre aos sufrágios e
aos fumos endeusadores da popularidade. Fácil lhe fôra, por
isso, e de seu natural, atingir o extremo dessas idéias. Se se
houvesse de esquematizar-lhes o desenvolvimento, não descon-
viria por certo, ao intento, imaginá-lo pela inflexibilidade da
linha recta. É de supor que Sá tenha assim encontrado, ao
cabo, a apelar para a sua generosa têmpera, o negro dos enge-
nhos do açúcar, absurdo valor fiduciário em remotas transac-
ções de sertão. Que lógica séria o faria conformar-se com um
oportunismo indefinidamente dilatório e a existência de fer-
ros, os do pobre africano, sem comparação bem mais cruéis
do que aqueles de que, ao romper da aurora de 20, o fragor
da queda, despedaçados, trespassava o alaúde de Garrett,
pasmo, surpreendido:
152
A visão pungitiva dum ser humano, de que se praticava
a caça, preciosa e gratuita espécie como o animal do marfim,
trazido, depois, em manadas ao embarcadoiro dos impérios
negreiros, associava-se no espirito de Sá da Bandeira o pano-
rama duma Africa sem colonização merecedora de tal nome,
no seu infinito maninho e de intactas riquezas naturais, onde
em geral o branco, depressa conquistado pela bruteza do trá-
fico, não sentia mais que os árabes e os mouros das almadias
e das cáfilas, a pesarem-lhe sôbre os ombros, responsabili-
dades de civilizador. Desta maneira se lhe apresentou à inte-
ligência, na sua complexidade, o problema ultramarino. Mos-
tram-no o que legislou e o que compôs, à margem dos seus de-
cretos, inaugurando uma nova politica colonial.
Ministro naquele ano de 1836, de sedições de quartel
trazidas por outros luzidos marechais à rua, de agitação po-
pular, de conspirações no Paço, o do assassínio de Agostinho
José Freire, vitimado às mãos da populaça, na ocasião em
que, — consoante estampa o episódio o Portugal Contempo-
râneo, — de espadim afivelado, com os crachás sôbre a farda
vermelha, brunido, seguia Pampulha fora, de sege, em direc-
ção a Belém, donde o chamava a senhora D. Maria da Gló-
ria — dava com o decreto ditatorial de 10 de Dezembro, proi-
bitivo do grande negócio da exportação de escravos, o pri-
meiro passo na sua corajosa politica abolicionista. Esta pas-
sagem do respectivo relatório à Rainha, significava de resto
uma discreta exortação a mais: «Como preliminar indispen-
sável de tôdas as providências que, para êste fim, de acordo
com as Côrtes Gerais da Nação, Vossa Majestade não deixará
de dar em sua alta sabedoria, religião e humanidade»... As
Côrtes, porém, não padeciam da mesma mania do marechal.
aComo maníaco, realmente, — conta Lourenço Caiola — o
considerou muito tempo a grande maioria dos seus contem-
porâneos, desviados em preocupações muito diferentes». Com
efeito quando em 1842, na Câmara dos Pares, se levantou a
anunciar que ia remeter para a mesa o projecto, que mais
153
tarde transformaria em proposta ministerial, a grave assem-
bléia portou-se como se se tratasse de simples matéria de
campanário, — os cavacos dos grupos continuaram até o pri-
meiro discurso florido ferir os ouvidos, as atenções. O projecto
caiu em esquecimento. Sá é que, na sua teima, o não largou
mais de mão, voltando a renová-lo em 1845, 1848 e 1851. Que
montava que o decreto de 36 tivesse já provocado da parte
de negreiros e especuladores desaforada resistência? Se Aracati,
governando a província de Moçambique (1837-18)8) — eis
um caso característico — desistira de aplicá-lo, tamanha opo-
sição se lhe levantou ao propósito, soubera contudo fazê-lo o
novo governador Joaquim Pereira Marinho. À Inglaterra,
que só em 1820 emancipou os escravos das suas colónias,
também lhe fôra preciso tempo para nelas pôr côbro à mer-
cancia de negros. Não obstante isso, e a-pesar-do tratado de
1842, que de boa vontade subscrevêramos, Palmerston empe-
nhava-se em fazer crêr ao mundo que éramos relapsos e que
os seus navios e forças de desembarque praticavam a polícia
em águas e terras de soberania portuguesa em Africa, por mo-
tivo da nossa indiferença, se não acontecia carecermos de meios
de autoridade para impor aquilo a que as estipulações daquele
acordo nos obrigavam. A voz de Herculano, e não fôra até ali
a única, intervindo em 1840, na discussão da resposta ao dis-
curso da Coroa, invectivava: uPorque se acusa o povo portu-
guês de ser traficante de escravos, quando apenas vinte, trinta
ou quarenta navios andam nesse detestável tráfico de carne
humana e de servidão? Quando êsses mesmos vinte, trinta ou
quarenta navios, são tripulados por gente de diversas nações?»
Estamos chegados a 1838.
No mesmo dia em que por procuração se realizou em
Berlim, o casamento de el-rei D. Pedro V com Estefânia de
Hohenzollern-Sigmaringen — um idílio que duraria quási
apenas duma primavera à outra — levava Sá da Bandeira à
assinatura o decreto que aboliu definitivamente a escravatura
em Portugal e seus domínios ultramarinos. Representava
m
para o soberano a melhor dádiva dos esponsais. Com que
profunda efusão o assinava, apaixonado e compassivo — fe-
liz!... Também êle, naquela ocasião, alcançava, na intimi-
dade pacenga, uma difícil vitória, cobrando a sua liberdade
de amar. «Dieu m'a soutenu — confiava-se, depois, em carta
de que Júlio de Vilhena encontrou, na Ajuda, o rascunho —
dans cette lutte qui pendant longtemps aigrit mes relations
domestiques, et au lieu de ce qu'on nome communément un
brillant parti, il m'a fait trouver un bon parti qui vaut bien
mieux que cela». Aziagos destinos não tardariam a conjurar-se
para o triste desfecho do breve idílio régio. Efectivamente na-
quele ano de noivado desdobrara-se sobre o pais a asa negra da
colera-morbus; surgira uma questão irritante, a das irmãs da
Caridade; e, por causa do apresamento da barca negreira
Charles et George, surpreendida a traficar em águas de Mo-
çambique, enviara o Govêrno francês ao nosso um «ultima-
tum». Na emergência de nada nos valera o acôrdo anglo-luso
de 1842. A questão fechou-se, contava depois D. Pedro V ao
parente Leopoldo da Bélgica, «muito tristemente para nós.
A Inglaterra deixou fazer»... Por isso noutra carta, em dia
de Ano Novo, a tristura do Rei confidenciava nestes termos:
«L'année qui vient de s'écouler, mêlée de joies — essas mes-
mas prestes a fenecerem-se, mal êle o podia suspeitar! — et de
grandes contrariétés, ne me laisse point de régret»... Em Ju-
lho de 1859, a alma de Estefânia elevava-se da terra, ainda
nas vestes brancas do noivado.
Já D. Luiz tinha subido ao trono, quando o marechal
com o diploma de 25 de Janeiro de 1869, relativo à redução
do prazo para termo da condição de escravo, rematou a por-
fia que inquebrantàvelmente sustentara durante alguns lus-
tros. Se não tínhamos sido os primeiros a emancipar o negro,
não éramos os últimos — advertia. «À data dos nossos decre-
tos de emancipação, ainda a escravatura se exercia em vários
países civilizados.» Tinha sido o mais afortunado dos refor-
madores do regime. Mousinho da Silveira, enxotado do poder
155
antes que tivesse concluído a sua obra, acabara naquele
desolado isolamento que segue sempre os grandes insucessos.
Haviam pretendido uma vez atenuar-lhe o desfavor, colo-
cando-lhe sobre os ombros o manto de arminhos do pariato.
Recusou-o porém, ucalou-se, e sumiu-se», no dizer de Oli-
veira Martins. No extremo fio dos seus dias, Sá da Bendeira
compondo, talvez para que jàmais a História viesse a per-
der-se em conjecturas ou dúvidas sôbre o tom da sua alma, o
próprio epitáfio para o cemitério de Santarém, exarava, com
sinceridade: «Servindo o seu pais, serviu as suas convicções;
morre satisfeito, a Pátria nada lhe deve.))
AMADEU CUNHA
156
SECÇÃO II
157
Regulamento de 2 de Janeiro de 1855:
Proibir a emigração de negros para as possessões france-
sas das ilhas da Reunião e Maurícia.
/58
1874 — Expedição ao Infusse e Quivolane. Aprisionamento de
pangaios e fuga de Mucusso-Omar (13 de Dezembro).
1885 — Submissão do xeque de Sangage à fôrça de desem-
barque do guarda-marinha João Coutinho, ido na
canhoneira «Vouga».
1888 — Bloqueio de navios de guerra portugueses, desde o
Rovuma até Lourenço Marques, por motivo do comér-
cio de negros e de armas praticado pela gente de
Zanzibar.
1897 — A lancha-canhoneira «Marracuene» limpa de embar-
cações negreiras o canal de Angoche.
1902 — Acção intensiva da marinha de guerra portuguesa na
costa de Moçambique.
1903 — O capitão J. Augusto da Cunha ataca e queima a
povoação do negreiro Farelay e monta o posto for-
tificado da Boila.
1910 — Operações do comando do coronel Massano de Amo-
rim. Dâmaso Marques aprisiona o Farelay, Ibraímo e
outros.
159
N.° 5 — Relatório e projecto para a abolição gradual da
escravatura nas Ilhas de S. Tomé e Príncipe, reme-
tido para Lisboa em 3 de Agosto de 1852. Tem no
fim cópia da carta do Visconde de Sá da Bandeira
acompanhando o projecto e a resposta.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
160
DIAPOSITIVOS
JOSÉ ESTIVÃO
). B. DE ALMEIDA GARRETT
CONDE DE SAMODAIS
161
ANTÓNIO ALVES MARTINS (Bispo de Viseu)
POLÍTICA INDÍGENA
163
dos seus domínios, quer para lhes utilizar o trabalho no
comércio a que de princípio se dedicaram, quer para os con-
verter à fé cristã, arrancando-os da barbárie em que os ha-
viam encontrado.
m
dos aspectos mais interessantes da vida indígena colonial de
então.
Alimentando-se fàcilmente da terra, (cultivada sobre-
tudo pelas mulheres), sem exigências de vestuário e higiene,
entregue a superstições e práticas selvagens, e vivendo das
guerras e das rapinas, nem talvez de outra forma o indígena,
nessas épocas, pudesse ser levado a um trabalho regular e
produtivo, trabalho que aliás os brancos não podiam exe-
cutar, em vista dos rigores e inclemências do clima.
Trataram, no entanto, e desde logo, os portugueses de
melhorar por tôdas as formas a condição dos indígenas, quer
temperando com provisões legislativas, entre elas, as contidas
nas Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, a triste
condição dos escravos, quer chamando esta e tôdas as outras
classes de indígenas à fé cristã, quer ainda espalhando entre
êles as primeiras noções de civilização, levando-lhes para tanto
os primeiros animais domésticos, modificando-lhes os usos e
costumes primitivos, dando-lhes conforto, assistência e bem-
-estar, criando-lhes necessidades pelo consumo de produtos
europeus, despertando nêles o amor da família e o culto do
trabalho, e chamando-os, enfim, à civilização e ao progresso.
Nêsse patriótico objectivo, ficou Portugal devendo desde
logo aos missionários e às Missões Religiosas os mais assina-
lados serviços.
Efectivamente, como já algures tive ocasião de dizer, no
luminoso período das descobertas e conquistas e mal extintos
ainda os últimos ecos das façanhas e vitórias dos nossos guer-
reiros e navegadores, desde logo as missões religiosas portu-
guesas começaram a desempenhar um papel do maior relêvo
na vida colonial, percorrendo os missionários as nossas coló-
nias em tôdas as direcções, construindo igrejas e capelas, fun-
dando aqui e além seminários e colégios, abrindo escolas e
oficinas, difundindo a nossa língua, enraizando nos indígenas
o amor a Portugal, fazendo estudos científicos do mais ele-
vado alcance, completando enfim, com o prestígio da Cruz,
165
a obra gloriosa e vastíssima que a Espada abrira à Nação
Portuguesa. E, talvez mais que os nossos actos de adminis-
tração directa, foram êles que concorreram para que ainda
hoje se mantenham, com os limites com que os possuímos, os
territórios que constituem o nosso vasto Império Colonial, —
o quarto Império por nós fundado.
Numa cruzada santa de abnegação e desinterêsse, não
haja dúvida, êles civilizaram os indígenas e engrandeceram
a Pátria.
Reporta-se especialmente ao século XIX a Exposição
Histórica da Ocupação, iniciativa a todos os títulos feliz do
actual Ministro das Colónias, Sr. Dr. Vieira Machado, e mais
um importante serviço a juntar a tantos outros que o Pais
já lhe está devendo.
Caracterizado por um alto espirito nacionalista, este no-
tável empreendimento alcança todo o período constitucional
da Monarquia até aos primeiros anos da proclamação da Repú-
blica. E, sendo um dos objectivos pôr em evidência, nêste pe-
ríodo de tempo, os factos mais notáveis da nossa administração
colonial e os homens que, durante éle, pelo seu heroísmo ou
tacto político, mais se distinguiram sob os pontos de vista
militar, administrativo, económico e social, compreende-se
bem que a Exposição Histórica da Ocupação não pudesse
deixar de consagrar às raças indígenas uma atenção muito
particular.
«Colonizar é essencialmente tratar do negro», disse-o,
num dos seus discursos, o anterior Ministro das Colónias,
Sr. Dr. Armindo Monteiro, e, na verdade, os indígenas das
nossas colónias, desde sempre, mereceram à Metrópole e aos
próprios colonos os mais especiais cuidados e atenções.
Nem doutra forma se explica o amor que êles desde sem-
pre manifestaram a Portugal e o facto de êste dominar, com
pequeníssimas guarnições militares, os milhões de indíge-
nas que se encontram espalhados pelas suas colónias de Africa
e Timor.
166
Com o advento do chamado regime constitucional, o siste-
ma da sujeição ou exploração cede o passo ao sistema político
de assimilação, centralização ou de govêrno directo, considera-
das as nossas colónias como simples províncias ultramarinas, e
os indígenas seus habitantes, como cidadãos portugueses, go-
zando dos mesmos direitos ou regalias que os cidadãos por-
tugueses da Metrópole, sem distinção de raça, côr ou religião.^
Haviam-lhes garantido esse direito os artigos i.°, 2.0 e 145.
da Carta Constitucional da Monarquia de 29 de Abril de
1826, e os Actos Adicionais de 5 de Julho de 1852, 24 de
Julho de 1885 e 5 de Abril de 1896: mas, não seria justo
esquecer que, já anteriormente, o grande Marquês de Pombal
havia suprimido as diferenças que se faziam entre os indígenas
das colónias e os nacionais da Metrópole, decretando a igual-
dade entre uns e os outros e estabelecendo severas penas para
todos aquêles que pretendessem manter uma tal distinção.
Baseado na Declaração dos Direitos do Homem de 1789,
uma das características dêste sistema era a representação das
províncias ultramarinas no Parlamento, precisamente nas
mesmas condições das províncias metropolitanas, constituindo
umas e outras um todo uno e indivisível, com as mesmas leis
e as mesmas regras de administração.
Pretendeu-se assim adaptar à nossa civilização as popu-
lações indígenas das colónias, sob o conceito filosófico de que
o homem, qualquer que seja o lugar do seu nascimento ou
residência, por isso mesmo que é homem, tem direitos natu-
rais, inalienáveis e imprescritíveis, cujo exercício é indispen-
sável ao desenvolvimento da sua personalidade.
Sem embargo de semelhante igualdade, várias reacções se
começaram de operar, e várias diferenciações foi necessário
estabelecer, sob o ponto de vista das leis civis, criminais, fis-
cais e administrativas, entre europeus e indígenas, consoante
os usos e costumes dêstes últimos e as concepções, tão dife-
rentes, do direito aplicável; e até em alguns pontos se che-
garam a publicar códigos privativos dos seus usos e costumes,
Í67
por não ser possível aplicar as leis metropolitanas aos indí-
genas das respectivas regiões.
São prova disto os códigos dos índios das Novas Conquis-
tas, Damao e Diu, dos chins de Macau, nas questões de com-
petência do procurador dos negócios sínicos, dos indígenas
de Timor, nas causas entre êles, dos grumetes da Guiné, dos
baneanes, batias, parses, mouros, gentios e indígenas de Mo-
çambique, nas questões entre uns e outros, etc..
O século XIX é particularmente interessante, debaixo do
ponto de vista da protecção às raças indígenas e dos altos
benefícios por estas auferidos das medidas publicadas.
Largamente espoliado na África, Asia e Oceania —para
o que tinham servido de óptimos pretextos, primeiro a usur-
pação espanhola, e sucessivamente, as guerras da Restaura-
ção, da Sucessão e as Invasões francesas, — e, perdido em 7 de
Setembro de 1822 o Brasil, essa obra-prima da colonização
portuguesa, na frase de Leroy Beaulieu, nem por isso Por-
tugal pôde voltar desde logo as suas atenções para os territó-
rios que restavam e que ainda constituíam um grande Impé-
rio colonial.
As lutas do liberalismo disso o impediram; e, para cúmulo,
a publicação, pelo Govêrno de D. Pedro IV, do Decreto Dita-
torial de 28 de Maio de 1834, que extinguiu as Ordens e
Congregações Religiosas, veio vibrar um golpe profundo no
chamamento à civilização dos indígenas, e cujo atraso era
ainda manifesto.
E foi preciso que êsse e idênticos diplomas fôssem mais
tarde virtualmente revogados, para que de novo Portugal
pudesse contar, na grande obra da sua colonização, com o
poderoso auxilio que os missionários e missões religiosas sem-
pre lhe haviam dispensado.
Tempos decorreram.
O agitado período das lutas liberais havia findado há
muito; nas nossas colónias tinham acabado os monopólios do
comercio, sendo substituídos por um regime de relativa liber-
168
dade económica, as restrições industriais haviam desapare-
cido, bem como os impostos exagerados, tinham melhorado
consideràvelmente os meios de comunicação com a Metrópole
e dentro das próprias colónias, e as explorações agrícolas de
há muito tinham entrado em equação, como elementos de
riqueza e de progresso.
E, desta maneira, pôde de novo o Estado Português consa-
grar-se à protecção e civilização dos indígenas das suas coló-
nias, promulgando em seu favor medidas cada vez mais efi-
cazes, cuidando desveladamente da sua saúde, instruindo-os
e educando-os em escolas e oficinas e tornando-os, enfim,
cidadãos úteis a si e ao seu Pais.
Outorgados, como lhes haviam sido, os mesmos direitos e
deveres dos portugueses metropolitanos, um assunto impor-
tante havia a resolver, ou seja o magno problema da escra-
vatura, que foi sem contestação o facto culminante e o mais
notável de toda a politica indígena durante o século XIX.
Portugal, aliás, já dêsse problema se havia ocupado muito
anteriormente, e por uma forma a mais nobre e elevada.
Com efeito, depois de ter promulgado a Carta Régia de
7 de Fevereiro de 1701, em que se tomaram importantes me-
didas protectoras dos escravos, Portugal publicou, antes que
qualquer outro país do Mundo, o Alvará com fôrça de lei de
iç de Setembro de 1761, proibindo no Reino a carga e des-
carga de escravos e concedendo a liberdade a todos os que aí
fôssem introduzidos passado um ano após a sua publicação;
e, onze anos mais tarde, o Alvará com fôrça de lei de 16 de
Janeiro de 1773, que considerava, dai em diante, como livres
todos os filhos de mãis escravas.
Extinguia-se, desta maneira, a escravatura em todo o ter-
ritório metropolitano.
E, pelo que diz respeito às Colónias, — assunto que lar-
gamente tratei no meu livro «O Trabalho Indígena nas Ilhas
de S. Tomé e Principe» e de que para aqui transcreverei
alguns trechos, — a verdade é que, se não coube a Portugal
169
a prioridade da abolição, é no entanto certo que o nosso Pais
enfileirou sempre na vanguarda das nações que mais se esfor-
çaram por abolir o tráfico dos escravos, a escravidão e tôda e
qualquer condição servil.
E tanto assim que, quando a Inglaterra de i8oy, à voz po-
tente de Wilberforce, desfraldou por sua vez o estandarte da
libertação, Portugal tomou logo com a Nação aliada, pelo
Tratado de Aliança anglo-luso de 19 de Fevereiro de 1810,
assinado no Rio de Janeiro, o compromisso de publicar as
mais enérgicas medidas para chegar à abolição do comércio
dos escravos em todos os lugares da Costa de Africa, situados
ao norte do Equador; comprometendo-se também a aboli-lo
totalmente nos restantes domínios do Ultramar, tão depressa
as circunstâncias lho permitissem.
E, mais tarde, tendo Lord Robert Stewart, Visconde de
Castlereagh, proposto, no célebre Congresso de Viena de
1815, conjuntamente com a liberdade de navegação em todos
os rios do continente africano, a abolição do tráfico, e, sendo
esta proposta aceita, em princípio, por tôdas as nações colo-
niais contratantes, Portugal nada mais fêz do que ratificar,
ai e no Tratado celebrado em 22 de Janeiro do mesmo ano,
o compromisso assim tomado, o qual figurou novamente na
Convenção adicional àquele Tratado de 28 de Julho de 18 iy,
no Alvará com força de lei de 26 de Janeiro de 1818 e nas
Portarias Régias de 22 e 26 de Outubro de 1835.
Atravessando Portugal nessa época um período de guerras
civis, nem sempre os compromissos tomados puderam ser
mantidos, e nem sempre as medidas repressivas do tráfico
dos escravos puderam ser respeitadas. Daí o aparecimento do
Decreto ditatorial de 10 de Dezembro de 1836, mediante o
qual o tráfico dos escravos foi definitivamente abolido em
todo o Ultramar português, tanto ao norte como ao sul do
Equador e sem as reservas e excepções que haviam ficado
consignadas no Alvará de 26 de Janeiro de 1818.
Pertence a iniciativa dêste Decreto ao Visconde, depois
170
Marquês de Sá da Bandeira, um dos homens mais notáveis da
colonização portuguesa e incontestàvelmente o homem que
mais pugnou pela extinção de todas as formas de escravatura.
Seis anos mais tarde, e depois de largamente versado o
problema abolicionista entre as duas chancelarias, era fir-
mado entre Portugal e a Inglaterra o célebre Tratado de
3 de Julho de 1842, pelo qual se estabeleceram os Cruzeiros
Navais, com reciprocidade de buscas a bordo dos navios sus-
peitos, e as Comissões Mixtas, para o julgamento em última
instância de todas as questões de escravatura.
A éste, outros Tratados internacionais se seguiram, como
foram — o Acto de Berlim de 26 de Fevereiro de 1883, a Con-
ferência de Bruxelas de 2 de Julho de 1890 e o Convénio com
a Inglaterra de 20 de Maio de 1891, (os dois primeiros revistos
no Tratado de Saint Germain en Laye de 10 de Setembro
de 1919), nos quais as Potências signatárias dêstes Tratados,
possuidoras de territórios africanos, se obrigaram a exercer
uma acção mais enèrgicamente repressiva, não ja tanto no
tráfico dos escravos há muito abolido, mas da escravidão e
da condição servil, nas vastíssimas regiões do interior de Afri-
ca, onde, a bem dizer, só há pouco mais de meio século para
cá os países coloniais começam a ter uma ingerência efec-
tiva, quanto ao seu domínio e ocupação.
Sob o pretexto da civilização das populações indígenas
e do melhoramento das suas condições materiais e morais, até
as missões religiosas estrangeiras, dos mais diferentes credos
e confissões, passaram a ser admitidas nas nossas duas coló-
nias de Angola e Moçambique.
Especialmente o Acto de Berlim, além do mais, veio
criar uma nova teoria de direito colonial internacional, me-
diante a qual os direitos históricos e tradicionais das nações
coloniais, isto é, os que provinham das descobertas e conquis-
tas, foram substituídos pelos direitos de ocupação, real e efec-
tiva, dos territórios coloniais.
Certo, com o objectivo de se associarem os indígenas de
171
Africa à civilização, ai se estabeleceu que as Potências signatá-
rias «deviam abrir o interior do continente africano ao comér-
cio, fornecendo aos seus habitantes os meios de instrução e
ainda às missões e às emprêsas tendentes a espalhar conheci-
mentos úteis», assim como deviam «assegurar a existência, nos
territórios por elas ocupados, duma autoridade suficiente, para
fazer respeitar os direitos adquiridos, e, sendo preciso, as liber-
dades do comércio e do trânsito».
O cumprimento destas cláusulas acarretou para o nosso
Pais dificuldades de tôda a espécie, entre elas um incidente,
cujas consequências o nosso patriotismo ainda hoje recorda
bem dolorosamente e por virtude do qual nos vimos forçados
a pôr de lado o célebre «.Mapa Côr de Rosa», em que entra-
vam territórios que, por todos os títulos, nos pertenciam, e
que exploradores portugueses, como o Dr. Lacerda e Almeida,
Serpa Pinto, Capelo, Ivens e tantos outros haviam percorrido
em tôdas as direcções.
Todavia, se por um lado aquelas cláusulas nos trouxe-
ram os maiores amargores, por outro lado fizeram surgir
entre nós, na ocupação efectiva, delimitação e pacificação das
nossas colónias de Africa e Timor, uma plêiade brilhantís-
sima de colonialistas, cujos feitos épicos vieram relembrar os
nossos antigos guerreiros e conquistadores e encher ao mesmo
tempo de prestigio o nome de Portugal.
A história nunca poderá esquecer, além do nome de
El-Rei D. Carlos, o grande animador dessa cruzada benemé-
rita, os nomes aureolados de Mousinho de Albuquerque,
António Enes, Eduardo Galhardo, João Coutinho, Paiva Cou-
ceiro, Aires de Orneias, Eduardo Costa, João de Almeida,
Freire de Andrade, Eduardo Marques, Vieira da Rocha,
oficiais e civis, a cujos actos de bravura e heroísmo a Expo-
sição Histórica da Ocupação vem dar o devido relêvo.
Se, internacionalmente, o Govêrno Português intervinha
e assinava todos estes Tratados, internamente, promulgava
uma longa série de diplomas, não só destinados à efectivação
172
das medidas ai acordadas, mas ainda a melhorar a condição
social dos indígenas das nossas colónias e seu chamamento à
civilização e à liberdade.
São em grande número os diplomas publicados, — leis,
cartas de lei, decretos, portarias régias ou simples regula-
mentos,— e impróprio seria mencioná-los a todos num tra-
balho desta natureza, bem como referir as variadíssimas medi-
das tomadas para atingir aqueles objectivos, entre as quais
avulta a criação das Curadorias dos Indígenas, e das Cura-
dorias e Juntas Protectoras dos Escravos e Libertos.
Destacarei apenas para aqui: — a Lei de 24 de Julho
de 1856, determinando que nascessem livres nas províncias
ultramarinas os filhos de mulher escrava (idênticamente ao
que, para a Metrópole, fôra legislado pelo Alvará de 16 de
Janeiro de 1773), — o Decreto com fôrça de lei de 29 de
Abril de 1858, publicado no dia do casamento de El-Rei
D. Pedro V com a Rainha Estefânia de Hohenzollern-Sigma-
ringen, o qual dispunha que, 20 anos depois, ou fôsse a par-
tir de 29 de Abril de 1878, ficaria totalmente abolido o estado
de escravidão em todas as nossas colónias, — o Decreto de 25
de Fevereiro de 1869, também da autoria do Marquês de Sá
da Bandeira, pelo qual foi definitivamente abolido o estado
de escravidão em tôdas as possessões portuguesas do Ultra-
mar, e a Carta de Lei de 29 de Abril de 1875, referendada
pelo então Ministro Andrade Corvo, e mediante a qual foi
extinta em todo o Ultramar português tôda e qualquer con-
dição servil.
E, embora não diga pròpriamente respeito a assuntos de
escravatura, seria grande injustiça não recordar aqui o De-
creto Orgânico das Províncias Ultramarinas de 1 de Dezembro
de 1869, da autoria do grande estadista Rebêlo da Silva, que,
reformando, num ensaio de prudente descentralização, a
nossa administração colonial, inseriu medidas e princípios os
mais salutares sob o ponto de vista da politica indígena, e bem
assim os Decretos, publicados entre 1894 e 1898, que, na Pro-
173
víncia de Moçambique, instituíram os Comissários Régios.
É assim que, com rigor, se pode dizer que, se Portugal
não foi a primeira nação a abolir o tráfico, a escravidão e a
condição servil nos seus territórios de Além-mar, também não
foi das últimas, pois que, à data dos seus decretos de extinção,
ainda ela existia, arreigada, nas colónias doutros países civi-
lizados.
Simultâneamente, com aquela Carta de lei, e em sua
execução, foi publicado o Regulamento Geral do Trabalho
Indígena de 20 de Dezembro do mesmo ano, em que ficaram
cuidadosamente regulados os contratos de trabalho, com cláu-
sulas as mais liberais e humanitárias (entre elas a da repa-
triação), confiada a tutela dos trabalhadores a autoridades es-
peciais, e em que se lhes deu, a par da mais ampla liberdade
da escolha do serviço, patrão e local do trabalho, tôdas as ga-
rantias para a efectivação dos seus direitos.
Extinta definitivamente a escravatura, indispensável se
tornava regularizar por esta forma o trabalho indígena nos
nossos domínios ultramarinos, sem dúvida o mais importante
capitulo da política indígena de tôdas as nações coloniais.
E, de facto, não sendo possível utilizar no comércio, in-
dústria e sobretudo na agricultura da maior parte das nossas
colónias de plantação ou exploração (ao contrário do que su-
cede com as colónias de povoação, como foi o Brasil), o traba-
lho dos europeus, devido ao clima, que em pouco tempo der-
ruba os organismos mais robustos e sãos, mister se tornou
aproveitar a mão de obra indígena ou mesmo do trabalho de
outras raças que possam resistir aos climas tropicais, ficando
tão somente os europeus a desempenhar o papel de guias e
dirigentes.
Devido à sua natural indolência e preguiça, ao preto é,
por via de regra, antipática e odiosa qualquer espécie de tra-
balho regular, e daí as enormes dificuldades que o problema
revestiu logo após a extinção da escravatura.
E foi, precisamente a fórmula mais suave desse trabalho,
m
em que num todo harmónico se conjugou o interêsse dos
patrões com a liberdade dos indígenas, os seus caracteres
étnicos e o seu temperamento especial, que a Lei de 29 de
Abril de 1875 e o Regulamento de 20 de Dezembro do mesmo
ano encontraram tudo dentro dos mais sãos princípios de colo-
nização e humanidade.
E foi ainda, animado dos mesmos princípios rasgada-
mente liberais e filantrópicos, que Portugal publicou poste-
riormente algumas outras medidas, melhorando e aperfei-
çoando o trabalho indígena nas suas Colónias, como nenhuma
outra nação as tem mais liberais, mais justas e mais humani-
tárias.
Nem significam outra coisa as muitas leis, decretos, porta-
rias e regulamentos publicados sôbre tão importante matéria,
posteriormente ao ano de 1875 e ainda dentro do período cor-
respondente ao sistema politico de assimilação ou centraliza-
ção, o qual, como é sabido, vai desde o advento do regime cons-
titucional até à Carta Orgânica da Província de Moçambique,
aprovada por decreto com fôrça de lei de 23 de Maio de 1907,
da autoria do Conselheiro Aires de Orneias, ou mesmo até à
publicação, em 1914, das primeiras Bases Orgânicas da Admi-
nistração Civil e Financeira, da autoria do então Ministro,
Conselheiro Dr. Almeida Ribeiro, abrangendo consequente-
mente todo o período a que particularmente respeita a Expo-
sição Histórica da Ocupação. Qualquer dêstes decretos são já
vasados em moldes acentuadamente descentralizadores.
São, todos aquêles, diplomas deveras interessantes; mas
dêles me permito citar aqui apenas o Regulamento Geral do
Trabalho Indígena de 21 de Novembro de 1878, os Decretos
de 21 de Dezembro de 1882 e 26 de Dezembro de 1889, os
Regulamentos Gerais de 9 de Novembro de 1899, 29 de Ja-
neiro de 1903, 23 de Abril de 1908, 31 de Dezembro do
mesmo ano, 17 de Julho de 1909, o Decreto regulamentar
com fôrça de lei de 27 de Maio de 1911, os Decretos de 8 de
Fevereiro, 16 de Setembro e 1 de Outubro de 1913, e o Regu-
175
lamento Geral do Trabalho Indígena de 14 de Outubro
de 1914.
Foi na plena consciência das medidas tomadas e fiel-
mente executadas que o Govêrno Central pôde oficialmente
dizer, no ano de 1906, que: «em todo o tempo o Govêrno Por-
tuguês cuidou atenta e dedicadamente de proteger e favo-
recer os indígenas das suas colónias, procurando inspirar-lhes
a compreensão dos deveres e virtudes do trabalho, sem pre-
juízo, antes com tôdas as garantias, de homens livres, tornan-
do-os úteis a si, às colónias e ao País, — que os contratos dos
trabalhadores indígenas nas colónias portuguesas são cele-
brados segundo regras e preceitos perfeitamente regulares e
legais, sob a fiscalização imediata das autoridades, e que
o Govêrno Português nem por um momento esqueceu os
seus altos deveres como potência colonial, antes pelo contrário
procurou sincera e lealmente cumpri-los, a bem da causa da
civilização e da humanidade, de que foi desde remotas eras o
mais extrénuo defensorn, (Vid. pág. 11 da Memória Justifi-
cativa sôbre o Trabalho Indígena nas Colónias Portuguesas,
que tão grande eco teve nos meios coloniais estrangeiros).
Tudo isto se passava nos últimos anos em que o sistema
politico de assimilação ou centralização vigorou em Portugal,
embora já a êsse tempo se viessem notando tendências aberta-
mente descentralizadoras.
Alcançando até essa época a Exposição Histórica da
Ocupação, deveriam porventura terminar aqui estas minhas
já tão longas considerações.
176
da política indígena, eu não resisto a jazer aqui umas, ainda
que ligeiras, referências acerca das mais importantes dessas
reformas e da posição actual do Estado Português em rela-
ção aos indígenas dos nossos territórios de Além-Mar.
Como è sabido, uma das primeiras leis que a República
mandou aplicar às Colónias foi a Lei da Separação das Igre-
jas do Estado de 28 de Abril de 1911, que extinguia as Or-
dens religiosas e os Estabelecimentos de formação missionária
em todo o território português, tendo o decreto n.° 253, de
22 de Novembro de 1913, que ai a mandou aplicar, criado em
substituição as missões civilizadoras ou missões laicas, e trans-
formado mais tarde o Real Colégio das Missões Ultramari-
nas de Sernache do Bonjardim no Instituto de Missões Civi-
lizadoras ou Missões Laicas.
Foi um gravíssimo êrro que se cometeu e cujas conse-
quências se não fizeram esperar.
De facto, expulsos os padres congreganistas portugueses
e os estrangeiros das mesmas ordens que obedeciam às auto-
ridades portuguesas, as missões e os padres estrangeiros, cató-
licos e não católicos, que os Tratados de Berlim e Bruxelas
nos haviam forçado a aceitar dentro das nossas colónias de
Africa, começaram de afluir ali em tão grande quantidade
que, em 1930, na nossa Colónia de Moçambique, ao lado de
500 estabelecimentos religiosos estrangeiros, entre missões,
sucursais e escolas, ricos e bem providos de tudo, existiam
apenas 30 estabelecimentos portugueses!
Esta desnacionalizante invasão estrangeira e a circunstân-
cia de, entre 1911 e 1922, nenhuns padres congreganistas e
muito poucos padres seculares portugueses terem ido para as
nossas duas Africas, fez abrir os olhos a muita gente que se
obstinava em os conservar fechados à própria evidência dos
factos.
Entretanto, as Missões Laicas e o seu Instituto de Ser-
nache do Bomjardim faliam estrondosamente.
E todas estas circunstâncias levaram o então ministro
177
das Colónias, sr. Comandante Rodrigues Gaspar, numa inte-
ligente visão política, a publicar, em 1919, os seus Decretos
n.0' 5.239, 5.778 e 6.322, publicando-se depois os n.°* 7.600,
de 21 de Junho de 1921, e 8.351, de 26 de Agôsto de 1922,
os quais, embora com insuficientíssimas dotações, vieram no
entanto permitir a vida das missões religiosas, pela relativa
protecção oficial que lhes dispensava.
Triunfante a revolução militar de 28 de Maio de 1926,
desde logo o Govêrno da Ditadura procurou remediar os
males causados, e, no intuito de restaurar, em tôda a sua
eficiência, as missões religiosas portuguesas, como instrumen-
tos de civilização e influência nacional, extinguiu definitiva-
mente as tais missões laicas e publicou o Decreto n." 12.485,
de 13 de Outubro de 1926, que aprovou o Estatuto Orgânico
das Missões Católicas Portuguesas de Africa e Timor, ainda
vigente, mediante o qual foi fixado o regime jurídico dessas
missões, como pessoas morais, em si e nas suas relações com
os estabelecimentos de formação missionária, e concedidos a
umas e aos outros os subsídios indispensáveis ao bom desem-
penho da sua missão.
Mais tarde, os mesmos patrióticos princípios foram fixa-
dos nos artigos 23° e 24° do Acto Colonial e artigos 247.0 e
248." da Carta Orgânica do Império Colonial Português.
E, assim, o Portugal de outrora que, em lances de heroís-
mo e maravilha, levou D. Afonso Henriques ao milagre de
Ourique e D. Nuno Alvares Pereira ao de Aljubarrota, o Por-
tugal da Fé e do Império, de novo pôde associar as missões
religiosas portuguesas aos seus altos objectivos nacionalistas e
cristãos, de ensinar, proteger e civilizar os indígenas dos seus
territórios.
A França, na Exposição de Vincennes, deu um lugar de
honra às missões religiosas, construindo para elas um Pavi-
lhão especial na grande Avenida das Colónias; e a «Sala da
Fé», tão criteriosamente mandada erigir na Exposição Histó-
rica da Ocupação, mostrará sem dúvida a todos os que ali
178
forem os valiosos serviços de que aos missionários são deve-
dores os indígenas das nossas colónias, e, duma maneira geral,
a colonização portuguesa.
Beneméritos da Fé, beneméritos da Pátria!
Ao mesmo passo que o Govêrno da Ditadura colocava no
seu verdadeiro lugar as missões religiosas portuguesas, ia pa-
ralelamente alterando o regime jurídico anterior, que sujei-
tara os indígenas das nossas colónias às mesmas leis civis, poli-
ticas e administrativas da Metrópole; e, atendendo às pró-
prias condições da sua existência simples e primitiva, man-
dava codificar os preceitos dos seus usos e costumes, e conser-
var as suas instituições e autoridades gentílicas.
É de justiça notar-se que já em 1914 0 Conselheiro
Dr. Almeida Ribeiro, nas suas Bases Orgânicas, chegara a
estabelecer, pela primeira vez numa lei de fundo, a distinção
entre o indígena civilizado ou assimilado, gozando os mesmos
direitos que qualquer cidadão da Metrópole, e o indígena
rude e selvagem, que se torna preciso chamar gradualmente
ao nosso convívio e civilização.
Estabelecera-se ai que os Governadores Gerais ou de Co-
lónia eram os protectores natos dos indígenas dentro das res-
pectivas colónias, a mandara-se elaborar, em cada uma delas,
códigos de usos e costumes, a-fim-de estes serem devidamente
considerados e respeitados; tendo sido estes preceitos repro-
duzidos, com mais ou menos variantes, na Lei n.° 552-D de
29 de Maio de 1916, nas Cartas Orgânicas que, em obediên-
cia àquelas Bases, foram publicadas em cada uma das Coló-
nias, nas leis n.0' 1.003 e 1.022, de 7 e 20 de Agosto de 1920,
e ainda no Decreto n.° 7.008, de 9 de Outubro de 1920, que
codificou as Bases anteriores, diploma êste completado e alte-
rado pelo Decreto n.° 7.030, de 16 de Outubro do mesmo
ano, e pelas leis n.0' 1.130, de 26 de Março de 1921, e 1.311,
de 13 de Dezembro de 1923.
Sem embargo, nenhum dos códigos ordenados de usos e
costumes se chegou a fazer; e foi o Govêrno da Ditadura que,
179
encarando finalmente o problema indígena pelo seu verda-
deiro prisma, publicou (não falando já nas Bases Orgânicas
da Administração Colonial, aprovadas por Decretos-Leis
n.0' 12.421, de 2 de Outubro de 1926, e 15.241, de 24 de
Março de 1928, hoje revogadas), uma série de diplomas orgâ-
nicos, que são bem uma honra e um brasão para a Adminis-
tração Portuguesa Ultramarina, sob o ponto de vista da polí-
tica indígena.
Refiro-me ao Estatuto Civil, Politico e Criminal dos In-
dígenas de Angola e Moçambique, aprovado por Decreto
n. 12.555, de 25 de Outubro de 1926, substituído mais tarde
pelo Estatuto aprovado por Decreto n.° 16.455, de 6 de Feve-
reiro de 1929, ao Código do Trabalho Indígena nas Colónias
Portuguesas de Africa, aprovado por Decreto n.° 16.199, de
6 de Dezembro de 1928, o Decreto n." 16.454, de 6 de Feve-
reiro de 1929 (relações de direito privado entre indígenas e
não indígenas), o Decreto n.° 16.455, da mesma data, (reserva
de mão de obra em Moçambique), o Acto Colonial, aprovado
por Decreto n.° 18.550, de 8 de Julho de 1950, (o qual, com
as alterações constantes da lei n.° 1.900, de 21 de Maio
de 1955, faz hoje parte da Constituição Politica da Repú-
blica), e, em seu complemento e regulamentação, a Carta
Orgânica do Império Colonial Português, aprovada por De-
creto-lei n.° 25.228, de 15 de Novembro de 1955, alterada
pela Lei n." 1.948, de 15 de Fevereiro do corrente ano, e pela
Portaria Ministerial n.° 8.699, de 5 de Maio do mesmo ano
(Cap. VIII, artigos 250° a 245.°) e a Reforma Administrativa
Ultramarina, aprovada por Decreto-lei n.° 25.229, de 15 de
Novembro de 1955 (artigos 28°, 51.0, 5o.0, 91.0 a 119.0, 294.0,
5ii.° a 515.0, e outros).
Não permite a estreiteza déste trabalho que aqui me
refira, em especial, a cada um dêstes diplomas e às impor-
tantes providências que nêles se acham consignadas.
Do seu conjunto, porém, se vê que o Estado, no cum-
primento da missão histórica de civilizar os indígenas das
180
suas colónias, — promulgou as mais rigorosas medidas para
impedir ou castigar, pelas suas autoridades, os abusos contra
êles cometidos, — criou Comissões Especiais e instituições des-
tinadas à defesa dos seus direitos, respeitando e mandando
codificar os seus usos e costumes em tudo o que não colida
com a sua soberania, com a moral ou com os princípios de
humanidade, — conservou as autoridades gentílicas, integran-
do-as nos seus quadros administrativos e criando, para a reso-
lução das suas questões, tribunais especiais em que elas en-
tram, — dispensou-lhes assistência médica e gratuita nos seus
hospitais e enfermarias, — aceitou as missões religiosas como
instrumentos de civilização e soberania, dando-lhes persona-
lidade jurídica e concedendo-lhes subsídios, e, finalmente,—
criou Estatutos especiais, regulando, em termos da mais abso-
luta liberdade e sob a sua fiscalização, o regime do trabalho
indígena; e, neste particular, mandando remunerar os que
forem empregados nas obras públicas, proibindo o forneci-
mento da mão de obra para o serviço de emprêsas ou de par-
ticulares, regulamentando o trabalho das mulheres e meno-
res, estabelecendo indemnizações nos casos de desastres ou
acidentes de trabalho, sujeitando-os apenas, fora dos casos
em que hajam de cumprir sentenças penais ou obrigações de
natureza fiscal, a ocupações que lhes sejam vantajosas e de
utilidade imediata, — e adoptou muitas outras medidas de
igual importância e transcendência.
Tais são, duma maneira geral, os preceitos essenciais con-
tidos nos aludidos diplomas, e tais são as directrizes por que
o Govêrno da Revolução Nacional está orientando a sua
acção, na defesa e protecção dos indígenas do seu vasto impé-
rio colonial, e no intuito de os integrar, já civilizados, no
grande todo espiritual e material que é a Nação Portuguesa.
Assim se tem ido realizando o pensamento politico que
o Sr. Dr. Oliveira Salazar, — o grande Ministro do Acto Co-
lonial, em cujo Titulo II aparecem, pela primeira vez em leis
constitucionais, preceitos especiais relativos a indígenas,—
181
deixou expresso no discurso que proferiu na Assembleia Na-
cional, por ocasião da inauguração da i." Conferência dos Go-
vernadores Coloniais, em i de Junho de i933> onâe disse:
u...e, por cima de tudo, porque mais alto e mais belo, deve-
mos organizar cada vez mais eficazmente e melhor a protec-
ção das raças inferiores, cujo chamamento à nossa civilização
cristã é uma das concepções mais arrojadas e das mais altas
obras da colonização portuguesa».
Atravessando nós um período de larga renovação social,
não foram também os indígenas esquecidos na i.° Conferência
Económica do Império, nem tão pouco na 2." Conferência dos
Governadores Coloniais, ambas há pouco realizadas em Lisboa.
Na primeira, foram apresentadas teses do maior inte-
rêsse sôbre o trabalho, assistência, pecuária e agricultura; na
segunda, adoptaram-se importantes medidas proteccionistas
das populações nativas, entre elas as contidas nos artigos
246." e 247.0 das Alterações à Carta Orgânica do Império.
E quem quiser compulsar a vasta obra da Colonização
Portuguesa, sob o ponto de vista da politica indígena, ime-
diatamente reconhecerá que, em todos os tempos e através
de tôdas as dificuldades, Portugal esteve sempre à altura das
suas gloriosas tradições e das responsabilidades que lhe com-
petem como a mais antiga Nação Colonial.
182
SECÇÃO III
Primeiros princípios
SECÇÃO IV
183
Europa, e proclamámos livre o africano escravo que desembar-
casse no nosso território europeu.— (Luciano Cordeiro).
Alvará com força de lei de 16 de Janeiro de 1773.
Que, quanto ao futuro, todos os que nascerem no dia da
publicação desta lei em diante, nasçam, por benefício dela,
inteiramente livres, posto que as mães e avós hajam sido escra-
vas e fiquem hábeis para todos os ofícios e honras e dignidades.
SECÇÃO V
Século dezanove
m
Decreto de 25-2-1869: — Reduziu o período anterior-
mente designado. — Carta de lei de 29-4-1878: — Extinguiu
no Ultramar português tôda ou qualquer condição servil. —
Regulamento geral do trabalho indígena. — 20-12-1875 — An-
drade Corvo. — Outros regulamentos gerais — 21-11-1878 —
Tomaz Ribeiro — 9-11-1899. — Eduardo Vilaça — 29-1 -1903.
— Teixeira de Sousa — 23-4-1908. — Augusto de Castilho —
31-12-1908. — Antonio Cabral—17-7-1909. — Terra Viana
— 14-10-1914.— Lisboa de Lima — Decreto de 27-5-1911.—
Azevedo Comes — Decreto de 1-10-1913. — Almeida Ribeiro.
185
Coimbra, por conta da Coroa Portuguesa. India,
1610.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial>
N.° 5 — Tratado pelo qual Sua Alteza o rei do Congo per-
mite que Sua Majestade Fidelíssima, a Senhora
D. Maria II, Rainha de Portugal, faça construir for-
talezas no Ambriz e coloque ali autoridades mili-
tares, civis e administrativas. Assinado em S. Sal-
vador, no Palácio do rei do Congo, aos 26 de Junho
de 1845.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial}
N.° 6— Instrução por que se deve regular o meu filho o
Infante D. Álvaro de Água Rosada de Serdónica,
Embaixador de Sua Majestade Católica, el-rei do
Congo. Palácio do Rei do Congo, 26 de Junho de
1845.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)
N.° 7 — Carta de D. Henrique 2.°, rei do Congo, à Rainha
D. Maria II, a quem participa a vinda a Portugal
do Infante D. Álvaro de Água Rosada de Serdónica
— 1845.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial/
186
N.o 10 — Ofício do Governador Geral de Angola, José Rodri-
gues Coelho do Amaral, remetendo o auto de vassa-
lagem dos sobas dos Gambos e de Quipungo.
Luanda, 14 de Agosto de 1856.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
DIAPOSITIVOS
Régulo de Fulacunda.
Indígenas cristãs de Bissau.
Indígena da Cuiné.
Mulheres «grumetes» (Cuiné).
Banda de música (S.Tomé).
Agricultores indígenas de S. Tomé.
Mulher assimilada (Ilha do Príncipe).
Serviçais caboverdeanos em S. Tomé.
Indígena assimilado (Ilha do Príncipe).
D. Henrique, rei do Congo.
Príncipe D. Nicolau, filho do rei do Congo.
Rainha Zíngara (Angola).
Régulo cristão com sua família (Angola).
Casal de ambaquistas (Angola).
Família indígena civilizada (Angola).
Banda de música (Angola).
Grupo de serviçais (Angola).
Um chefe indígena (Sul de Angola).
Casamento entre indígenas assimilados (Moçam-
bique).
Família cristã (Moçambique).
Uma família cristã (Moçambique).
Jovens assimilados (Moçambique).
Mulheres assimiladas da Beira (Moçambique).
Indígena assimilado (Lourenço Marques).
Costureiras indígenas de Moçambique.
Serviçal indígena (Moçambique).
Cantores «macuas» (Moçambique).
Pequena indígena assimilada (Timor).
Indígenas cristãos (Timor).
Uma família cristã (Timor).
Indígenas assimilados (Timor).
Jovem indígena assimilado (Timor).
A rainha de Camunaça e sua comitiva (Timor).
Um régulo (Timor).
Um chefe «dato» (Timor).
Um «macair Lulic» (sacerdote gentílico) (Timor).
189
?2ZZ792222Z22222ZZ22Z1
POLÍTICA DE LIMITES
Í9i
nam-se com a politica de limites levada a cabo a partir da
segunda metade do século XIX.
Apontaram-se os factos a que se alude noutras secções,
mas, depois de se ter sublinhado com alguns mapas proposi-
tadamente estudados e executados, e com alguns documentos,
o domínio efectivo de Portugal em tôdas as colónias actuais,
no meado do século XIX, procurou-se fazer notar com dois
outros mapas as consequências, no que toca aos domínios por-
tugueses em Africa, da Conferência de Berlim.
Em seguida, o esfôrço dos organizadores da Exposição
cingiu-se especialmente ao vasto problema, mal estudado
ainda, do «mapa côr de rosa», cujas consequências acabaram
com a aspiração, que vinha do século XVI, de se unir, pelo
sertão africano, Angola a Moçambique.
Finalmente: com dois mapas deu-se a indicação dos tra-
tados que resolveram em Africa os litígios de fronteiras e a
comparação entre o que se poderia obter com o tratado
Hintze-Barjona, de 20 de Agôsto de 1890, e o que se perdeu e
ganhou com o tratado definitivo de 91.
Toda a acção diplomática, a partir do «Ultimatum», foi,
como se sabe, orientada por El-Rei D. Carlos. Com um busto
do grande Rei tão mal conhecido e compreendido preten-
deu-se iniciar o processo da revisão de juízos apressados ou
interesseiramente formulados no fragor das lutas politicas
em que Portugal se perdeu no fim do século passado e nas
primeiras décadas do actual.
Aqui, como em tôdas as outras secções, os organizadores
da Exposição têm plena consciência de que só fizeram um
ensaio, um apontamento. Não queriam, nem podiam fazer
mais, porque tôda a Exposição é uma síntese que, desenvol-
vida, daria, bem explorados os arquivos, diversas exposições.
Eis aqui...
MANUEL MURIAS
192
SECÇÃO VI
193
SECÇÃO VII
Í9k
ciso caminhar depressa, não demos tempo a que outros se
adiantem e tornem a nossa obra irrealizável.»
195
pósito de ligar as duas costas representava um êrro político e
uma impossibilidade geográfica.» (Aires de Orneias).
196
Zambeze, à Garanganja, ao Jengi, ao Cuando e ao Cubango
inferior. A vasta zona de entre Angola e Moçambique passou,
com essas duas colónias, a constituir o sonho da criação duma
grande possessão de costa a costa.
197
Quadro de Silvino Vieira e José de Lemos, representando as
fronteiras de Angola e Moçambique, propostas em 1890, mas
que resultaram do tratado de 1891.
is
nha, Manuel Pinheiro Chagas, sobre limites para o
interior das fronteiras de Moçambique— 1885.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
199
N* 10 — Ofício do Ministro dos Negócios Estrangeiros,
J. V. Barbosa du Bocage, ao Ministro da Marinha,
Manuel Pinheiro Chagas, devolvendo os ofícios do
cônsul de Portugal no Cabo da Boa Esperança,
C. A. de Carvalho, com informações sôbre a defi-
nição de limites de Moçambique e as possibilidades
de se estabelecer um protectorado de Portugal sô-
bre os matabeles— 1885.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial}
200
N.° 16 — Chegada ao Limpopo na junção de Pafuri no ex-
tremo da fronteira da missão portuguesa de deli-
mitação (fotografia).
(Cedida pela Agência Geral das Colónias)
201
nistro e Secretário de Estado dos Negócios Estran-
geiros, a António Enes, sôbre os problemas de limi-
tes resultantes do ultimatum de 11 de Janeiro de
1890.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
202
N.° 29 — Pasta com os seguintes documentos:
— Ofício e instruções para o serviço que substitue
a execução do mapa «côr de rosa», consistindo
na missão ao Mucusso, avassalamento dos sobas
respectivos e exploração do Cubango (Março de
1890).
— Ofício do capitão Paiva Couceiro, datado do
Forte Princesa Amélia (sobre o Cubango, 15 de
Outubro de 1890), dando conta da maneira
como as instruções foram cumpridas.
DIAPOSITIVOS
CONDE DE LAVRADIO
W3
DUQUE DE PALMELA
204
Deputados, a carta da África Meridional Portuguesa,
que ficou conhecida por «mapa côr de rosa», e contra
a qual reclamou em Agosto o governo britânico. Em
1 de Janeiro de 1890, o ministro da Inglaterra, George
Petre, entregava o «ultimatum» e o Ministério pedia,
em seguida, a demissão.
HINTZE RIBEIRO
BARIONA DE FREITAS
MARQUÊS DE SOVERAL
205
Portugal e a Grã-Bretanha, sendo especialmente con-
firmados o artigo 1.° do tratado de 1642 e o artigo
final do de 1661.
ANSELMO BRAAMCAMP
CONDE DE MACEDO
MARQUÊS DE SABUGOSA
CONDE DE VALBOM
206
DELIMITAÇÃO DA FRONTEIRA DE MOÇAMBIQUE-
-TRANSVAAL (Comissão portuguesa)
207
«...Também determina Sua Magestade mandar conquystar
pela terra dentro e abrir caminho para as minas de Monomo-
tapa, terras de Moçambique, porque é o caminho mui breve
por esta parte...»
«Benguela e seu Sertão» — Manuel Cerveira Pereira —
1617-1622.
208
« ..Levava eu o grande projecto de unir as duas costas,
encaminhando para o Ocidente os riquíssimos canais de oiro
dos rios de Sena, obra a maior que pode fazer um vassalo por-
tuguês e obra extremamente fácil...»
D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho, Governador
de Angola — 1764-1772.
209
ZZZ222ZZZ2ZZZZZ2Z2Z22H
ECONOMIA
211
mas sucessivamente a colonização interna foi-nos obrigando a
desbravar terras selváticas, transformar populações nómadas
em sedentárias, introduzir culturas, debelar doenças endémi-
cas, abrir estradas, construir linhas férreas, desassorear rios,
apetrechar portos.
Por certo esta verdadeira ocupação económica que reali-
zámos num esforço secular não teve o alcance, a importância
nem a extensão do que nesta matéria fizeram outras pode-
rosas nações colonizadoras, especialmente a Inglaterra. Mas,
por um lado a nossa escassez de recursos financeiros e técnicos
metropolitanos não permitiria um tal esforço e por outro, as
próprias condições naturais dos nossos territórios ultrama-
rinos o não justificariam.
Mas a-pesar-de ser modesta a nossa obra de fomento colo-
nial, a ocupação económica portuguesa foi-se desenvolvendo
dentro de um quadro a que não faltam sob o ponto de vista
de colonização comparada, certos elementos de originalidade
e de superioridade.
É bom não esquecer que nós procuramos, desde sempre,
na nossa política económica colonial defender três princípios
fundamentais: conservar a organização agrícola e familiar já
existente, aproveitando dos ensinamentos das práticas cultu-
rais e da tradição local; manter rigorosamente o direito de
propriedade dos indígenas, ressalvando os seus usos e costu-
mes e aceitando, dentro do possível, as suas organizações eco-
nómicas e sociais; admitir com a maior amplitude a inter-
venção da técnica e dos capitais estrangeiros, por vezes com
grave risco para a nossa própria soberania.
A economia colonial portuguesa tomou assim, a um tem-
po, uma feição agrária, humanitária e universalista. Como
seu factor dominante devemos destacar a tradicional colabo-
ração do colono com o indígena, êste orgulhoso de ser por-
tuguês e aquele absolutamente superior às diferenças de raça
ou de côr.
No momento que estamos atravessando, a nossa eco-
212
nomia colonial, sem perder as suas características seculares,
tem, a meu ver, outros objectivos fundamentais.
A ocupação económica, no nosso tempo, tem que ser
fatalmente precedida de uma séria ocupação cientifica e tem
que obedecer a um plano defenido da politica económica na?
cional. Dentro desta politica teremos, em primeiro lugar, de
caminhar gradual mas seguramente para a unidade econó-
mica da terra portuguesa, estabelecendo a solidariedade indis-
pensável entre os territórios metropolitano e o ultramarino,
como já foi estabelecido pelo Acto Colonial. Depois temos que
dar às colónias algumas compensações, comprando os seus
produtos, ligando-as por linhas de navegação à Metrópole e
fomentando a sua economia interna. Em seguida, temos que
realizar uma obra de verdadeira nacionalização económica,
defendendo a soberania portuguesa dos seus disfarçados ini-
migos externos, mas aceitando a colaboração estrangeira que
não tenha manifestamente propósitos políticos. Finalmente, a
ocupação económica do nosso Ultramar ficaria incompleta se
não resolvêssemos o problema da fixação dos colonos metro-
politanos nas colónias, problema êste que não é apenas demo-
gráfico mas também profundamente económico e social.
213
A PROPÓSITO DA EXPOSIÇÃO HISTÓRICA
DA OCUPAÇÃO
F. RIBEIRO SALGADO
216
O COMÉRCIO ESPECIAL DO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS
excluídos os valores monetários e fiduciários
(no início do Século XX — nas vésperas da Grande Guerra — e na aclualidade) MAPA N.» i
Cabo Verde (a) 2.358.987 2.147.270 5.7726.599 51.012.221 1.762.449 1.253.442 35.117.287 3I.5I3.225 8,99 5,6i 5,83 5.81 7>79 4,00 5,85 5,i8
Guiné 504.249 1.628.009 24.917.746 26.063.5o5 348.572 1.485.245 3o.o52.5o3 28.925.029 1,92 4,25 2,52 2
,97 1,54 4,73 5,oi 4,76
S. Tomé e Principe (g). . . . 2.478.643 3.726.027 22.655.790 17.021.901 5.700.768 10.169.296 30.970.215 31.836.170 9*4 9,74 2,29 ',94 25,21 32*2 5,i6 5,24
Angola, (d) 4.098.374 6.049.1ÍP 18.4338.539 164.484.750 4.836.179 5.582.024 225.237.370 221.964.123 .5,6i 15,8i l8,6l '8,74 21,38 '7,8o 37,55 36,52
Colónias na África Ocidental ■ 9.440253
. 13.550.501 289.638.674 258.582.377 12.647.968 18.4C0.007 321.377.375 314.238.547 35,96 35,41 29,25 29,46 55,92 58,95 53,57 51,70
Moçambique:
Administ. do Estado (a) . . . 3.755.780 8.382.973 288.344.1 249.812.671 1.126.263 2.147.160 i3o.og6.8i 1 152.203.087 i4,3i 21,go 29,12 28.46 4,98 6,85 21,69 25,04
» da C.' Moçambique 2.oo3.i68 2.823.3I6 82.726.522 42.199.510 542.010 2.818.455 31.975.743 28.249.491 7,63 7,38 8,36 4.82 2*0 8,99 5,33 4,65
África Oriental Portuguesa ■ ■5.758.948
• 11.206.289 371.070.711 2923)12.181 1.668.273 4.965.615 162.072.554 180.452.578 21,94 29,28 37,48 33,28 7,38 15,84 27,02 29,69
Índia 2.943.772 129.159.017 116.266.135 543.624 1.020.403 24.462.959 21.048.662 6
*7 7,69 i3,o5 13.25 2,40 3,25 4,08 3*6
Macau 9.185.998 10.136.561 194.633.232 205.021.109 7.607.338 6.416.826 84.446.533 87.790.773 34,99 26,49 19,66 23,36 33,64 20,46 ■ 4,08 '4*4
Timor 167.636 432.847 5.520.822 5.738.993 149.104 470.357 7.496.472 4.269.690 0,64 i,,3 o,56 o,65 0,66 i,5o 1,25 °l7'
Colónias no Oriente 11.052 355 13.513.180 329.313.071 327.026237 8300.066 7.007.586 116.405.964 113.109.125 42,10 35.31 33,27 37.26 36,70 25,21 19,41 18,61
Império Colonial Português (Esc.) 26.25i.556 38.269.970 990.022.456 877.620.795 22.616.307 31.363.208 599.855.893 607.800.250 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
(a) Compreende a importação para consumo e a reexportação estrangeira efectuada por intermédio da Metrópole nos anos de 1901 e 1913.
(b) Compreende a exportação nacional e nacionalizada e a reexportação colonial efectuada por intermédio da Metrópole.
(c) Inclue, igualmente, na importação e na exportação o valor dos combustíveis fornecidos à navegação transatlântica: 1.389:187 escudos em 1901; 939:242 em 1913; 32.237:83i em 1930/34
e 28.405:293 em 1935.
(d) Excluído o movimento do Circulo Aduaneiro do Congo, em 1913; por não ser conhecido. No Volume III da «Informação Económica sôbre o Império» avalia-se a exportação total
de Angola em 6.144:243 e a importação em 6.273:949, no ano de igi3.
(e) Excluído o movimento do território administrado pela extinta Companhia do Niassa, nos anos de 1901 e igi3. Em igt3 exportou 354:449 e importou 581:445 escudos.
(f) Por deficiência da sua estatística aduaneira o «comércio especial», de Macau, confunde-se com o «comércio geral». Em igi3 inclue o movimento monetário.
(») Não tendo sido possível obter elementos estatísticos referentes ao ano de 1913, da colónia de S. Tomé, lança-se mão da estatística aduaneira respeitante ao ano de 1914.
OS PRINCIPAIS PAÍSES FORNECEDORES E CLIENTES DO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS
excluídos os valores monetários e fiduciários
Alemanha (e colónias até 1914) • • 2.IO3.853 5.639-256 56.447.511 42.410.346 3.028.975 3.110.775 47.354.o3l 40.694.307 8,01 '4,74 5,70 4,78 '3,39 9,92 7,89 7,00
Bélgica e Congo Belga 281.762 750.278 24.642.388 24.369.794 588.057 990.788 99.874.803 111.984439 1.07 >,96 2
49 2,75 2,61 3,i6 i6,65 1842
Brasil 49.422 8.173 279.178 347.207 178 36 7°7 0,02 0,02 o,o3 0,04
China (c) 3.211.496 2.326.36o 48.261.783 47.047.285 2.961.519 2.310.057 30.779.409 3i.65i.786 19,85 6,08 4,87 5,3o i3,og 7,37 5,i 3 5,21
Dinamarca 1.623 12.475 472.756 527.906 28.000 1.190.259 3.600.873 6.36i.53i 0,01 o,o5 o,o5 0,06 0,12 3.80 0,60 i,o5
Espanha e possessões 13.574 34.756 775.024 1.175.973 188.068 31.027 2I2.IOO 102.129 o,o5 0,09 0,08 0,13 o,83 0,I0 0,04 0,02
Estados U. da América do Norte . 476.082 840.988 49.788.647 44.286.036 742.137 1.527.855 l3.l6g.359 16.377.865 1,81 2,20 5,o3 4,99 3,28 4,87 2,20 2,69
França e Colónias 585425 810.943 i2.oi5.o36 10.013.627 535.679 1.012.378 38.2o5.i68 23.941.128 2,23 2,12 1,2' ','3 2,37 3,23 6,37 3-94
Holanda e Colónias 242.446 619.205 38.795.5i 1 35.310.774 9i5.o35 4.416.994 38.457.076 29.114.230 0,92 1,62 3,92 3.98 4,°5 14,08 64' 4,79
Inglaterra e Irlanda do Norte, sò-
mente 4.841.242 7-351.797 148.362.581 101.654.678 4.349.005 1.821.695 14.227.612 9.564.135 1844 19,21 '4-99 "45 19,23 5.81 2,37 ',57
Dominios e Colónias ingle-
sas (c) 6.925.162 11.824.693 334.614.307 286.227.288 5.812.570 6.516.949 107.835.178 111.001.855 26,38 3o,90 33,8o 32,24 25,70 20,78 17,98 18,26
Itália e Colónias 94-'37 258.223 6.445.252 2.975.981 88.714 1.155.475 6.981.632 9.875.393 o,36 0,68 o,65 0,34 o,3g 3.68 1,16 1.62
Japão 18.169 2.197.310 31.848.992 281.539 264.972 o,o5 0,22 3,59 0,11 0,04
Noruega 1 272,671 2.33o.855 2.084.248 367496 I.6I3.436 2.388.981 o,7' o,23 0,23 ','7 0,27 o,39
1 154.343 1.647 o,5g 0,01
Suécia 233.937 4.999.542 3.3gg.o38 57.900 327.064 567.599 0,66 o,5o o,5o 0,18 o,o5 0,09
Não especificados e navegação (d) 282.779 675.073 41.919.802 40.42S.493 1.718.145 1.684.' 78 39.964.088 35.935.270 1.08 1,76 4,23 4,33 7,60 5,37 6,60 5.63
Totais para os paises estrangeiros 21.283.446 31.697.097 772.247.483 674.104.666 20.957.719 26.194.262 442.884.075 429.825.590 81,07 82,82 78,00
75,94 92,67 83,52 78,83 70,72
Colónias Portuguesas 619.866 1.401.416 24.495.469 18.774.985 429.402 1.671.288 13.412.961 11.539.955 2,36 3,66 2,12
3,66 1,90 5,33 2,24 1,00
Portugat metropolitano (e) 4.348.244 5.171.457 193.279.504 184.741.144 1.229.186 3497.658 143.548.857 166.434.705 16.57 13,52 21,94
18.34 5,43 11,15 23,93 28,38
Totais gerais da Imp. e da Exp... 26.251.556 38.269.970 990.022456 887.686.769 22.616.307 31.363.208 5g6.855.8g3 607.800.250 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Valor médio anual da £ esterlina. 6#>35 5#>2i,3 IC>9#>36 I I05>00 6#>35 5#>2i,3 IC>9#36 I lOj&OOO
(no início do Século XX — nas vésperas da Grande Guerra — e na actualidade) MAPA N.® 3
Gado bovino Cabeça 540 6.016 8.323 9.674 00,00 1.114,07 1.541,3o 1.791*8 13.35o 92.918 4*92.948 4.096.767 0*6
De origem IOO.OO
animal ... Quilo 4.029.478 4.464.079 14499.484 12.975.840 89*9
Peixe seco e salgado (a) 00,00 > 10,79 164.594 201.690 16*75.557 15.366.253 1,34 1.00
240,56 202,75
Açúcar 1.942.027 34.062.952 90.854.997 101.617.206 00,00 1.753,99 4.678,36 5.232,53 i63.i52 2.331.022 58.23*120 74.288.884 .,33 1*59
Café 7.898.368 6.793.078 13.387.007 12.408.832 00,00 86,00 169*3 157,11 1.122.067 1.439.731 49.023.14135.051.920 9,12 7,16
Milho 3.441.360 13.839.256 88.660.921 55.937.819 00,00 402,12 2.576,18 1.625,36 89.599 287.396 4*502*37 26.648.629 0,73 1*2
Uc vegetal 33.355.o66 11.157.466 11.124.824
Cacau 14.927.879 00,00 223,44 74,74 74,52 4.179.806 7.I72.OO2 23.793.02522.517*53 33,97 35,65
<C8*-> 2.628.145 11.204000 27.571.160
'St Castanha de cajú 1.200.950 00,00 218,84 932,93 2.295,78 38.771 87.467 6.814.88011.097.512 0,32 o*3
-OD
C/D \ Cocos (fruto) . . Numero 21.723.602 36.280.044 31.241.630 22.874.823 00,00 167,01 143,21 1O5,23 202.418 499-794 7.367.553 4.689.793 1,65 2*8
mineral, Sal comum . . . Quilo 15.014.813 27.408.011 23.524.884 24.486.606 OO.OO 182,54 156,68 I63,O8 72.575 60.317 2.552.581 2.046.387 0,59 o,3o
Coiros bovinos . 339.121 627489 1.104.203 1.147.856 OO.OO 185,o3 325,61 338*8 68.647 222.38o *971.582 5.001.403 o,56 1,11
animal .
Cera 845.673 1.224.440 1.360.409 1.420.102 147.15 160,87 167,93 5II 434 659.840 10.408.05112.193.416 *16 3*8
Tabaco 1.059 61.692 408.715 547.636 5.875*3 38.928,57 Ô2.i55,8I 298 io.63i 790.257 869.362 o,53
Sisal em fibra. . 11.089 358.oo5 i5.38i.39o 23.941.948 00,00 3.228*7 138.708,54 215.907,18 459 16.519 21.957.52031.917.362 0,82
Algodão em rama 78.O58 324.823 2.492.614 4.266.816 00,00 416.16 3.193,28 5.466,21 9.263 79.689 11.769.84819.388.187 0,08 0*0
Amendoim . . . 10.676.431 18.067.776 48.797.574 46.819.961 00,00 169,23 457,o6 438,54 340.190 830.189 37.755.59748.630.682 2,76 4.1 3
Copra i.267.585 5.612.148 28.408.632 36.837.443 00,00 442,74 2.241,16 2.906,11 65.053 348.446 2*256.1 1726.642.875 o,53 ',73
vegetal Coconote .... 6.095.067 11.650.377 2o.83o.ioi 21.962.761 00,00 191,14 341,75 36o,34 i6/.757 889.987 18.090.38816.292.883 i,36 4A*
Oleaginosas não especificadas 4.538.915 13.106.584 11.234.554 12.192.770 00,00 288.76 247,53 2(58,63 136.021 424.804 8.127.917 8.988.008 1,11 2,11
l Palma. 407.0 !7 951.477 5.163.700 3.346.627 00,00 233.77 1.268,67 822*3 32.654 96.593 7.622.822 4.809.843 0,27 0*8
Óleos vegetais .
( Outros. 7.215 20.202 2.192.373 1.112.964 00,00 280,00 3o.386,32 i5*55,7i 1.483 2.600 *655.944 1.340.624 0,01
Borracha 2.720.907 3.852.80 1 27.205 152.370 00,00 141,60 1,00 5.67 3.325.916 2.366.625 66.197 2*4.065 27,o3 ">77
Madeira em bruto.... 1.522.273 1.985.452 2.144.231 3.866.272 00,00 127,91 i38,i3 249,00 44-277 61.932 939.004 1.718.003 o,36 o,31
Ouro em pó ou pepita . Grama 18.000 222.118 ioo.i83 262.849 00,00 1.233,99 556.56 1*60,27 8*33 104.631 '-477-934 3.88i.658 0,07 0,52
mineral ( Diamantes Carat 372.765 471.134 126,38 62.358.964 70.169.359
f Carvão de pedra .... Quilo 4.176.369 5.620.444 134,58 361.179 401.825
Produtos não mencionados 1.546.439 1.828.084 37.226.632 12,55 7,89
Valores totais da exportação nacional (a) . . 12.304.656 20.115.287 485.519.785 100,00
Valor médio anuaI da £ esterlina fí$35 5S21,3 110S00
(a) Nos anos de 1901 e igi3 não se indicam as quantidades e os valores referentes à Colonia de Macau.
(b) Nos anos de 1901 e 1913 não se incluem, neste avaliação, os valores referentes à Colonia de Macau, cuja produção nacional é constituída pelo peixe pescado, assim como pelo Cimento produzido
na Ilha Verde.
A EVOLUÇÃO DOS PRINCIPAIS MEIOS DE COMUNICAÇÃO EXISTENTES NO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS
II — Movimento marítimo (longo curso e cabotagem) nos portos ultramarinos testas de linhas férreas internacionais
III
Beira 280 423.615 21.460 4.148 281 427.U9 5.643 4.556 c) 4.235 c) 2.3oo 6*535
Mormugão 874 176.342 7.613 '75 171.519 12.364
Lourenço Marques 559 2.481.190 372.873 7.300 556 2475.274 576.012 5.762 29.624 3.753 33.377
1913 Beira 534 1.023.021 136.942 3.593 529 991.843 82.923 2.804. l5.678 11.298 26.976
Mormugão 1.088 345.339 120.318 19.167 1.149 350.439 192.265 9.926 3.565 U.363 14.928
Lobito 3a3 1.532.629 16.010 322 1.544484 58.047 48423 55.084 io3.5O7
Lourenço Marques 955 5.377.846 693.492 25.125 958 5J95.994 555.562 25.816 1.247446 205.173 1452.619
i935
Beira 696 3.780.018 327.760 4.743 701 3.775.999 55o.651 5.015 384.595 930.667 1J15.262
Mormugão 853 786.397 222.112 8.85o 909 794429 248-377 7.822 io8.58o 126.078 234.658
a) As extensões das linhas telefónicas existentes em ig35 eram as seguintes: 3i8 quilómetros em Cabo Verde; i3a em S. Tomé e Principe; 5.318 em Moçambique; i34
b) São desconhecidas, oficialmente, as extensões das estradas existentes em 1913 nas colonias de S. Tomé, Moçambique, India e Timor, pelo que os números apre-
sentados são meras estimativas estatísticas. Na Guiné nao existiam estradas em 1913; fazia-se uso, especialmente, das suas numerosas vias fluviais.
c) Estimativa.
d) Para serviço das diversas roças existem 676 quilómetros de «decauville»
A CIRCULAÇÃO E O CRÉDITO
a) Rupias; b) Patacas; c) Os elementos fornecidos reportam-se sòmente ao ano em que o Banco iniciou a sua acção e ao ano de 1935 — o último a que se refere o trabalho em que se intregou o presente mapa.
d) Êste agrupamento concede as seguintes operações: Adiantamentos sobre Consignações e sôbre Letras, Contas-Correntes e Empréstimos Caucionados e Descontos (letras e câmbios).
SECÇÕES IX e X
Comércio exterior
SECÇÃO XI
Agricultura e Pecuária
219
distrito de Mossâmedes, pelo Governador do Dis-
trito, Fernando da Costa Leal — 1867.
(Cedidos pelo Arquivo Histórico Colonial)
220
N.° 12—Representação do Conselho Ultramarino, sôbre a
conveniência da fundação de jardins de aclimata-
ção em Angola e na Ilha da Madeira, conforme o
estudo do Dr. Frederico Welwitsch. Lisboa, 9 de
Novembro de 1852.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)
DIAPOSITIVOS
SECÇÃO XII
Vultos da Economia
221
A. Silva Gouveia — Depois de ter, como piloto, via-
jado nos mares de África, da índia e das Américas,
fixou-se na Guine, onde fundou a maior casa co-
mercial portuguesa, concorrendo assim para a na-
cionalização do comércio desta Colónia.
Adolfo Loureiro — Primeiro engenheiro que estu-
dou os problemas do pôrto de Macau.
Assis Bélard — Um dos iniciadores da grande cul-
tura em S. Tomé e Príncipe (1855-1875).
l.° Barão de Água-lzé— A sua actividade acha-se
associada ao início da grande cultura em S. Tomé e
Príncipe. (1855-1875).
Bernardino F. F. de Abreu e Castro — Chefiou e
instalou em Mossâmedes os primeiros colonos por-
tugueses provenientes de Pernambuco, assumindo
a direcção da colónia. Sá da Bandeira consultou-o
sôbre assuntos da extinção da escravatura e da colo-
nização no sul de Angola.
F. Mantero — Um dos agricultores que em S. Tomé
desenvolveram as obras de assistência indígena.
Guilherme de Arriaga — Pioneiro zambeziano, con-
temporâneo de Paiva de Andrada e de Paiva Ra-
poso. Fundou a Companhia Colonial do Búzi
(1898).
Henrique M. de Mendonça — Um dos agricultores
de S. Tomé que deram impulso à obra social de
assistência ao trabalhador indígena.
Jerónimo J. Carneiro — Sendo capitão de marinha
mercante, adquiriu em 1864, no Príncipe, as suas
primeiras propriedades, formando, dêste modo, o
núcleo da fazenda do Sundy. Trabalhou durante
vinte e seis anos como agricultor.
João Baptista e Silva — Governador de S. Tomé e
Príncipe, introduziu em 1800, naquela província, a
cultura do cacau.
222
José Ferreira Comes — Introduziu em 1822, na
ilha do Príncipe, a cultura do cacau.
M. da Costa Pedreira — Nome ligado ao período
(1855-1875) do início da grande cultura em
S. Tomé e Príncipe.
Mariano Machado — Fêz ocupação, como na Ma-
canga (1885, distrito de Tete) e colonização. Ini-
ciou na Zambézia plantações; construiu o caminho
de ferro de Quelimane e Maquival, iniciou a explo-
ração das marinhas de Namenumo; criou no Chinde
uma secção de transportes fluviais; fundou, no
Chire a Vila Bocage e Chilomo-Português e foi um
dos animadores do caminho de ferro de Benguela,
principal factor do povoamento português do pla-
nalto.
Marquês de Vale-Flôr — Agricultor em S. Tomé, o
seu nome ficou ligado a empreendimentos de assis-
tência ao indígena.
Mateus de Sampaio — Fêz a ocupação pacífica da
região dos Angolares, na ilha de S. Tomé.
Sousa Lara — Estabeleceu, em 1903, no vale do
Cupororo, a primeira fábrica de açúcar em Angola,
fundida posteriormente com a companhia do
Dombe Grande, também sua criação; fundou, ain-
da, em 1920, a Companhia do Açúcar de Angola.
Visconde do Alto Dande — Manuel Pereira Guedes,
um dos pioneiros desta região, num tempo em que
a infestavam a mosca do sono e as incursões das
aguerridas tríbus dos Dembos. Fundou em 1891 a
«Fazenda Tentativa», onde as fôrças de Ribeiro
de Almeida acamparam e se reabasteceram para os
primeiros combates travados às portas de Caxito,
na região do Sassa.
223
Nas vitrinas da secção expõem-se:
DIAPOSITIVOS
224
COMES NETO
HENRIQUE BENSAÚDE
J. A. LOPES GALVÃO
J. ROMA MACHADO
225
GENERAL TEÓFILO DA TRINDADE
SECÇÃO XIII
Indústrias
226
N.° 3 — Relação das participações de descobertas de jazi-
gos minerais na Província de Angola, registados no
livro competente da Secretaria do Governo Geral
de Angola— 1855 a 1863.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)
227
N.° 10 — Memória resultante do inquérito industrial em Ti-
mor, pelo tenente-coronel Frederico Leão Cabreira,
Governador da Capitania— 1842.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial>
DIAPOSITIVOS
— Salinas (Cabo Verde).
— Grupo de pescadores (Mossâmedes).
— Tôrre do Tombo (Mossâmedes).
— Preparando o algodão (Angola).
— Fábrica de arroz (Moçambique).
— Poço de uma mina (Moçambique).
— Secagem de sisal (Moçambique).
— Salinas (índia).
SECÇÃO XIV
Circulação e Crédito
DIAPOSITIVOS
— Filiais do Banco Nacional Ultramarino.
(18 aspectos).
SECÇÃO XV
Comunicações
228
DIAPOSITIVOS
SECÇÃO XVI
Carreiras de navegação
229
carreiras regulares e mensais para a África Orien-
tal, após o contrato provisório celebrado com o
Govêrno para aquelas carreiras, que foi tornado
definitivo em Novembro de 1905 e assinado pelo
então Ministro da Marinha Dr. Moreira Júnior.
(Cedido pela Companhia Nacional de Navegação)
230
binda, Santo António do Zaire, Ambriz, Luanda,
Novo Redondo, Benguela, Mossâmedes, Pôrto Ale-
xandre, Baía dos Tigres. Conduziu várias expedi-
ções para a colónia de Moçambique e entre elas,
em 1895, a que tomou parte na campanha contra
o Gungunhana. Em 1897 conduziu da Índia para
Lisboa a expedição comandada pelo Infante
D. Afonso.
(Cedido pela Companhia Nacional de Navegação)
231
Altura 5,79 metros
Tonelagem de registo 1.385 tonel.
Destinado expressamente para a cabotagem na
colónia de Moçambique, ali a tem exercido desde
1909 até à presente data, em viagens quinzenais
entre Lourenço Marques e o Tungue, extrêmo
norte daquela colónia, escalando em tôdas as via-
gens, na ida e no regresso, os portos de Inham-
bane, Beira, Chinde, Quelimane, Angoche, Mo-
çambique, Pôrto Amélia, Ibo e Tungue. Durante o
período da Grande Guerra foi êste vapor mobili-
zado pelo Govêrno e armado em transporte de
guerra desde 1914 até 1918, exercendo a fiscali-
zação e transporte de tropas no norte da colónia,
entre Moçambique e o Tungue, tendo também to-
mado parte nas operações para a tomada de
Quionga.
(Cedido pela Companhia Nacional de Navegação)
233
N.° 13 — Relação estatística dos serviços telegráficos em
Angola — 1897-1907.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)
23k
NUM ISMÁTICA
MOEDAS COLONIAIS
235
neiros ou ovelhas. Tão grande e importante foi o uso que esta
primitiva amoeda» desempenhou na sociedade de então, que
a nossa linguagem está cheia de vocábulos que a recordam:
tais como, capital de capita, cabeça de gado, pecunia de pecus
ou gado, pecúlio de peculium que significava apequeno reba-
nho» e que tê-lo era então uma pequena fortuna, etc., etc.
Esta breve evocação do passado tem apenas por fim escla-
recer, por um paralelo do tempo no espaço, o emprêgo dos
variados objectos que ainda há décadas, e não séculos, cor-
riam no interior das nossas Colónias, como aliás ainda hoje
acontece em certas regiões menos civilizadas.
*
* *
•
• •
230
séries quantas as oficinas que as lavraram. Eis a sua enume-
ração por ordem cronológica:
a) Goa
b) Malaca
c) Cochim
d) Ceilão
e) Baçaím
f) Damão
g) Chaúl
h) Diu.
• •
237
nunca visto em moeda — para o almirante D. Vasco da Gama
levar na sua armada e mostrar às gentes da índia, como a
moeda do Rei de Portugal.
Foram pois, estas, as primeiras moedas portuguesas que
correram na índia, e da admiração que elas causaram no
Mundo, nos dão notícia os cronistas do tempo.
Outros «portugueses» mandou el-rei lavrar em Lisboa
quando do regresso da primeira frota que viera da índia em
J
499, e onde o novo título do soberano pela primeira vez
se lê: Rei de Portugal e dos Algarves, Dàquem e Além Mar
em África, Senhor da Guiné, e da Conquista, Navegação e
Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e índia.
a) GOA.
238
foi a única que, para assim dizer, ininterruptamente cunhou
moeda desde o tempo da sua conquista em iyio, até 1869, em
que o seu labor foi suspenso, por virtude duma convenção
monetária com a Inglaterra.
Eis como um cronista do tempo — Gaspar Correia — nos
conta a resolução que Afonso de Albuquerque tomou de
cunhar moeda em nome do Rei de Portugal.
239
«Então o Governador falou com alguns homens ourives,
que entendiaõ da liga d'ouro e prata, e com ourives e camba-
dores da terra, que o muyto entendiaõ. Avia na terra pardaos
d'ouro... e huma moeda de prata boa, a quem chamavaõ bar-
ganym... e huma moeda de cobre, a que chamavão bazaruqos...
que todo o Governador mandou fazer e alealdar, e se fez
cruzados d'ouro de sua justa valia de quatrocentos e vinte
réis, em que poz de huma banda a cruz de Christus, e de outra
huma espera, que era a divisa d'ElRei Dom Manuel; e man-
dou que êste cruzado cambado valesse na terra quatrocentos e
oitenta réis, porque nom corressem pera fora, provendo da
gente a que avia de pagar cada mês, a um homem, hum cru-
zado de mantimento que lhe EIRei mandava pagar; e man-
dou lavrar moeda de prata, que era da valia de hum bargany;
fez moeda em que de huma parte pôs um A grego e da outra
a espera, e pôs nome espera, que valia dous vinteis, e meas
esperas, que valiaõ hum vintém; e nos bazarucos o propio pêso
que tinhaõ, com o A e espera; e de cada bazaruco fez quatro
moedas, a que chamavão cepaiqua, e aos bazarucos pôs nome
leaes; que pola conta destas moedas o cruzado se gastava na
contia de quatrocentos e oitenta réis.
«E tendo assy feitas estas moedas, todo visto e justificado
com o Timoja e Cojebequi, e os principaes e antigos da ci-
dade, toda ouveraõ por muy boa. Então a mostrou aos capi-
tães, que a todos pareceo muyto bem, indaque alguns mur-
murarão contra a letra do A, que era letra de seu nome; mas
não que ninguém lho faliasse; o que o Governador depois o
sabendo em pratica o fallou dizendo que na moeda baixa
posera letra de seu nome, porque se soubesse que fora elle o
moedeiro, e assy andaria até que EIRey mandasse o que fôsse
sua vontade. Então vendo que a moeda era aprazível a todos,
mandou pôr muyto delia em bacios de prata, cada huma
apartada, e com o Timoja e Cojebequi, com os tanadares e
gancares e com muyto povo, com muytos atabaqes e trom-
betas da terra, tangendo bacias e sestros segundo seus costu-
2W
7 8
mes e diante bailadeiras, e chocarreiros bradando e detrás as
trombetas, com a bandeyra real acompanhada da guarda do
Governador, e Tristão de Gá, e diante porteiro portuguez, e
da terra que por sua lingua apregoavaõ, dizendo que esta
moeda nova era d'ElRey nosso senhor, que mandava que cor-
resse em Goa, e suas terras, em suas valias que tinha. E aca-
bado o pregão Tristão de Gá deitava muytas mãos cheas por
cyma da gente que apanhavaõ ás rebatinhas; no que o Gover-
nador mandou assy despender mil cruzados polas principaes
ruas da cidade e arravaldes de que o povo ficou muy con-
tente, e EIRey, que por honra do Governador ouve por bem
que a moeda assy corresse, e correo em quanto elle viveon.
24Í
nulado; escudo coroado de Portugal, tendo do lado direito a
letra A (restos das letras de GOA) (Vid. Est. I, Fig. 5). Esta
moeda foi lavrada pelo Vice-Rei D. Luiz de Ataíde, que revo-
gou com ela a ordem de D. Antão de Noronha que havia
proibido a cunhagem da moeda de prata. Aquele Vice-Rei
cunhou ainda S. Tomes de ouro. Dêste reinado temos tam-
bém os bazarucos.
242
raríssimo exemplar do S. Tomé de dez xerafins, que dum lado
ostenta as armas de Portugal ornamentadas e no reverso a cruz
de S. Tomé entre a data 17-37; em volta a legenda: C.R. ...
5. D. — S. T. — M. E. (C R u S De S. T o M E) Ouro. Pesa
3,68 grs. (Vid. Est. II, Fig. 10).
245
nos aparecem figurados os dois soberanos (Vid. Est. II, Fig.
17). É êste, com efeito, o elemento mais característico da pri-
meira fase monetária dêste reinado (Vid. Est. II, Fig. 18);
pois que na segunda, após D. Maria I ter enviuvado, volta a
representação simples do busto dessa soberana, por vezes tão
tôscamente lavrado, que dificilmente se dá conta que houve
a pretensão de representar uma Senhora! (Vid. por ex. o
pardau n.° 19, e ainda há pior!...)
Nêste capítulo do barbarismo dos gravadores indianos,
devemos aqui salientar o que noutro lugar dissemos: è que
essa pseudo-arte, em vez de se aperfeiçoar foi piorando!... São
disso testemunho flagrante as peças que apresentamos.
2U
As moedas do tempo de El-Rei D. Pedro V, salvo o nome
do soberano e a data, em tudo mais seguem os tipos das moe-
das anteriores.
No reinado de D. Luiz cunham-se, de 1866 a 1869, as
últimas moedas na oficina monetária de Goa. Depois do que
o Govêrno português encomenda à Casa da Moeda de Bom-
baim, em 1871, uma emissão de moedas de cobre dos seguin-
tes valores: tanga ou 60 réis; 1 /st tanga ou 30 réis, 1/4 de tanga
ou 13 réis, 10 réis, 5 réis e 3 réis. Moedas estas para correrem
não só em Goa mas em tôdas as outras cidades da índia
Portuguesa.
E finalmente, pela Convenção Monetária com a Ingla-
terra, em 1880, deixaram de correr tôdas as moedas lavradas
em Goa, e até mesmo as dessa emissão executada em Bom-
baim, para terem curso as novas moedas batidas, segundo
aquele convénio, nas cidades de Calcutá e Bombaim; tendo
os seus valores directa correspondência com o sistema mone-
tário inglês usado na índia.
b) MALACA.-
215
com muyta gente, e em cyma dos alifantes alcatifas, que eram
onze todos em carreira hum atrás outro, e em cyma assen-
tados, que levavaõ bacias de prata de mãos em que levavaõ a
moeda, que era muyto fermosa. Detrás dos alifantes hia o alfe-
res com a bandeira real, com os capitãis e dozentos homens
de çoyça, com seus piques, atambor, e pífaro, e diante as
trombetas tangendo. E foram polas principais ruas da cidade,
em que hum porteiro portuguez apregoava: Esta he a moeda
nova que El-Rey Dom Manuel, nosso Senhor, mandou fazer
d'ouro, prata, calaym, pera com ella em esta populosa forta-
leza e cidade de Malaca todalas cousas se comprarem com ella,
e nom com outra nenhuma moeda; e quem outra moeda
tiver morrerá por ysso. Este pregão deitava hum portuguez,
e as próprias palavras fallava hum porteiro da terra em lingua
malaia, que entendido todas as outras gentes. O que acabado
tangião as trombetas, e de cyma dos alifantes deitavaõ por
cyma da gente a moeda espalhada, que apanhava quem que-
ria às rebatinhas; em que se gastaria três mil cruzados de
toda a moeda, de que a gente da terra fiquo muy espantada.
Com que se tornaraõ à fortaleza, em que o Governador fez a
todos muytas honras, com que os despediu todos muy con-
tentes...».
Destas primitivas moedas de Malaca apenas se conhecem
as de estanho: bastardos e soldos.
Nestas peças, lavradas pelo fundador do Império Por-
tuguês do Oriente — Albuquerque o Terríbil — claramente
se vê o piedoso sentimento cristão que animava os conquis-
tadores Portugueses na sua missão sagrada da expansão da
Pátria pela Cruz! E assim para a Pátria as conquistavam por
Deus! É o que se torna evidente nessas venerandas moedas,
cujas legendas se resumiam nesta frase: Crux Xpi spes nostre
única, (A Cruz de Cristo é a nossa única esperança), escrito
em volta dêsse sagrado símbolo; no reverso, uma esfera que
ocupava todo o campo da moeda — e nada mais, nem mesmo
o nome de Portugal, ou do seu Rei! (Vid. o «Bastardo»,
246
N.* 26 e o «Soldo», N.° 27, ou de emissão posterior àquele
outro o «bastardo» Est. IV N.# 28).
Desde então continuou Malaca a cunhar a sua moeda
própria, em nome dos soberanos, D. João III, D. Sebastião e
Felipes, (Vid. De D. João III, o ((bastardo», Est. IV, Fig. 29).
De D. Sebastião os «dois bazarucos», Fig. 30, e de D. Felipe
o «xerafim dobrado», Fig. 31' e a «tanga», Fig. 32, ambas
estas de prata), até que — pelo abandono a que estes votaram
as nossas possessões de além-mar — os holandeses se apode-
raram dessa histórica fortaleza em 1641.
c) CO CHIM
2ã8
Um novo tipo ainda nos aparece nas moedas de Ceilão.
É o que, tendo o anverso como o anterior, no reverso repre-
senta S. João em pé, à direita, levando um pendão com a Cruz
de Cristo. No campo C — I e em baixo 16 — 50. Em volta um
circulo de pontos. Prata. Tanga dobrada. (Vid. Est. V,
Fig- 37)-
A figura de S. João aparece-nos aqui nesta moeda em
homenaeem ao monarca português (D. João IV), tal como em
tempo dos Felipes se esculpia S. Felipe. Porém é aquela
moeda da última emissão dêsse tipo, posto que um decreto
de 1650 ordena que a figura do Santo seja substituída pela
Cruz de Cristo.
Para terminar lembraremos ainda que em Ceilão corriam
pequenos pedaços de ouro e prata, em forma de arames tor-
cidos e puncionados de caracteres persas, a que se chamavam
larins. (Vid. Est. V, Figs. 38 e 39).
e) BAÇAtM
249
Veja-se a roda de 10 bazarucos, que aos lados do Escudo
tem as letras D-B, as iniciais das cidades onde haviam de cor-
rer (Damão e Baçaim). No reverso vê-se claramente a roda
de Santa Catarina, a Padroeira da cidade de Goa — capital
do Oriente — em memória do dia em que a Igreja festeja
essa Santa, e foi o da tomada daquela cidade: 25 de Novembro
de 1510. (Vid. Est. V, Fig. 41).
f) DAMÃO
As primeiras moedas que em Damão se cunharam foram
bazarucos de cobre, por alvará de Rui Lourenço de Távora,
datado de 22 de Agosto de 161 /. Eis a sua descrição: O escudo
de Portugal ladeado por V — B (cinco bazarucos) e ao redor a
letra: F.R.E.X. P..R.T.V.G. (Filipus Rex Portugalli#). No
Rev. a Cruz do Santo Sepulcro cantonada por quatro rosetas e
em volta a legenda: 161 (I) P.D....F.A. (Vid. Est. V, Fig. 42).
E como o valor dessa moeda deveria ser o do próprio
metal, apenas deduzido o seu feitio, queixou-se o comércio do
prejuízo que ela lhe causava, por isso foi essa concessão sus-
pendida em 161^.
No último quartel do século XVII lavraram-se ainda
bazarucos de cobre (1678), mas dum módulo mais pequeno
do que o daqueles.
Em 1723 e 1724, ordenado pelos jesuítas, que então
eram os detentores da administração de Damão, cunharam-se
moedas de cobre e de chumbo — ditas tutenagas — para cor-
rerem nessa cidade e na de Baçaim.
As últimas emissões monetárias datam de 1840, 1843
e 1834.
g) CHAÚL
Em seguimento duma representação que a Câmara de
Chaúl féz a El-Rei, foi a essa cidade concedida licença para
bater moeda própria, em 1646.
250
E, como acima dissemos, não só essas moedas corriam em
Chaúl mas também na vila de Baçaim. Devendo, porém, no-
tar-se que aparecem nessas moedas alternadamente as ini-
ciais C-B e B-C aos lados do escudo, o que temos como indi-
cativo da cidade onde corriam, consoante era C (Chaúl) ou
B (Baçaim) que se encontrava à esquerda das Armas de
Portugal.
Das moedas de Chaúl conhecem-se dois tipos: a tanga
dobrada, de prata, que tem no anv. o Escudo de Portugal
ladeado pelas iniciais das cidades, e no rev. a figura de S. João
de pé, à direita, entre a data 16 — 53 (Vid. Est. V, Fig. 43);
e o bazaruco de cobre, que tem idêntico anv., ao passo que
no rev. se vê a Cruz do Santo Sepulcro cantonada pela data
do ano em que foi emitida (Vid. Est. V, Fig. 44).
Não se conhecem pormenores dos subsequentes lavra-
mentos de Chaúl, até que os maratas, em 1740, a ocuparam.
h) DIU
251
MOÇAMBIQUE
252
Só no reinado de D. Maria II voltam a aparecer novas
emissões monetárias de Moçambique; devendo primeiramente
salientar-se a moeda provincial das barrinhas (Vid. Est. VI,
Figs. 51, 52 e 53) e meias barrinhas de ouro e as onças, pata-
cas, canelos, ou seis cruzados, de prata, de forma rectangular
semelhantes àquelas, porém com os cantos cortados.
Também de cobre se lavraram nêste reinado, a pedido
instante do Governador que trabalhava pelo desenvolvi-
mento económico daquela Província. O que foi levado a efeito
em 1840, cunhando-se as moedas de cobre de 80, 40 e 20 réis,
com a legenda no reverso: PECUNIA-TOTUM-CIRCUMIT-
-ORBEM.
Em 1853 são enviadas da Metrópole para correr em Mo-
çambique as moedas de 20,10 e 5 réis, além das que especial-
mente se cunharam com destino àquela Colónia, de dois réis
e um real. Sendo estas, as últimas que em Portugal se lavra-
ram de tão pequeno valor.
Por outro lado, para dar legalidade às moedas estran-
geiras que ali corriam em abundância, foi determinado, em
1888, que todas elas fôssem recolhidas para se marcarem com
as iniciais P. M. (Província de Moçambique) encimadas por
uma pequena coròa real.
Posteriormente, em 1893, volta a ser aposto nas moedas
estrangeiras uma nova contramarca para sancionar o seu
curso legal (P. M. dentro dum oval).
ANGOLA
253r
indígenas de algum tempo apreciavam, como fazendas de
algodão, missangas de côres vivas, sal, caixas de música, etc.,
que os mercadores europeus davam em pagamento dos pro-
dutos africanos, figuravam também como meio circulante
determinados búzios ditos cauris, caurins ou coris, cuja natu-
reza e abundância se prestava — mais do que aqueles outros
objectos — a desempenhar a função de moeda propriamente
dita; isto é, de estalão comparativo do valor de todas as coisas.
Estes búzios, também chamados bouges, usavam-nos os
gentios como adornos, quer de suas pessoas, vulgarmente em
colares ou braceletes, quer de outros objectos estimados como
as armas ou os feitiços. E dêles já os escritores doutrora nos
dão noticia sob o nome de cyproea moneta ou cyproea caurica.
O seu valor variava consoante a maior ou menos distância
da costa onde em maior número se podiam colher, não
obstante alguns autores nos dizerem que no interior igual-
mente se encontravam aglomerados em fundas covas. A per-
muta dêles fazia-se de dois modos: por conta, se eram peque-
nas quantidades; por medida especial — em forma de al-
queire— se o montante da troca era elevado; e o seu valor
estimativo, além de oscilar com o local da transacção, como
acima dissemos, variou também no tempo, e... nas informa-
ções dos diversos escritores. Assim, difícil é dar uma ideia
exacta da estimação dessas peças; posto que, ora as vemos
computadas a 10 valerem i pano ou 5 réis provinciais, ora
ainda serem precisos 12 a /$ cauris para fazerem um real.
Tempo houve também — e por tristeza ainda não mui longe,
pouco mais dum século! — que um carregamento de qui-
nhentos ou seiscentos escravos se avaliava em 12.000 arráteis
dessas conchas!
25t
lense. Porém, não foi essa moeda privativa de Angola; pois
alèm-Oceano, na Província de Santa Cruz (Brasil), também
ela correu. Era de cobre e diziam suas legendas: PETRVS. II.
D. G. PORTUG. R. D. AETHIOP, Escudo de Portugal
ornamentado — e no reverso: MODERATO SPLENDEAT
USU —1694 — no campo o valor XX, X, ou V réis, entre
quatro P (indicativos da cidade — Pôrto — onde foram la-
vradas).
255
mente para Angola, duas grandes novidades trouxe: o ser de
prata, — além da de cobre — e de ter o valor indicado em
macutas, a moeda de conta de que os indígenas se serviam.
É pois curioso lembrar como então procediam na permuta
dos géneros; não tendo moeda efectiva, imaginàriamente ava-
liavam em macutas, tanto o que recebiam como aquilo que
em troca haviam de dar. Foi portanto uma inteligente medida
a de nomearem essa nova moeda pelo modo por que os negros
aferiam as suas transacções.
Eram essas moedas de prata de 12,10, 8,6, 4 e 2 macutas,
correspondendo respectivamente a 6, 5, 4, 3, 2 e 1 tostões.
Tinham na frente as Armas de Portugal ornamentadas, e as
letras: JOSEPHVS. I. D. G. REX. P. ET. D. GUINEAL — e
no reverso AFRICA PORTUGUEZA — '7^3 —em vo^a
duma coroa de louros que circunda a palavra macutas, por
extenso, e o algarismo indicativo do número delas.
Das moedas de cobre, pode dum modo geral dizer-se que
eram no tipo idênticas às de prata, devendo-se todavia salien-
tar as duas mais sensíveis diferenças: no anverso a especial
forma do escudo que assentava sôbre a esfera; e no reverso,
a coroa de louro daquelas foi nestas substituída por um cir-
culo pontuado, que rodeava o valor ai expresso: 1 macuta (que
correspondia a 50 réis), 1/2 e 114 de macuta ou equipaga,
com a proporcional valia daquela, e finalmente o denominado
pano ou 5 réis.
256
Moedas de Angola
Moedas de Angola
hoje, se tornou a cunhar prata para a Província de Angola;
foi a segunda metade do século XVIII, pois, o tempo áureo
— neste caso argênteo — do numerário circulante nesse rin-
cão de Portugal de além-mar.
257
amoedação para Angola, mas que não passou de ensaios. Além
de que essas moedas são no monetário angolense as primeiras
cujas legendas são tôdas escritas em português, à semelhança
das suas parceiras do Reino. A sua leitura é esta: D. LUIZ I.
REI. DE. PORTUGAL. 1886. entre dois círculos pontuados.
No campo a cabeça do soberano à esquerda. No verso:
PROVIN.IA (sic) DE ANGOLA — ULTRAMAR; dentro
de uma coroa de louro e carvalho 20, ao centro. Cobre.
258
■T77777777'777T77777777',
FILATELIA
SECÇAO XVIII
259
dades das colónias, têm as suas histórias, das quais muitas
sabemos e que deveriam interessar aos filatelistas, mas para
filatelistas não se destina êste resumo, pois ésses têm estudos
publicados por quem se tem interessado por selos, a ponto de
dedicar-lhes todos os momentos da sua vida, tal é a paixão
pela filatelia.
Entre vários autores, citaremos os nossos queridos amigos,
Carlos George, digníssimo Cônsul da Holanda em Lisboa,
Dr. Carlos Pinto Trincão, John Marsden, ilustre correspon-
dente do «Times» em Lisboa, etc., para não falarmos nos que
no estrangeiro têm escrito sôbre as nossas emissões, como Na-
pier, Harrisson, etc., aos quais recorremos neste pequeno
trabalho.
Primeiramente foram emitidos os selos de S. Tomé em
1869, seguidos dos de Angola em 1870, tipo coroa (Fig. 1) dese-
nhados por Gerard que também gravou os cunhos e que foram
impressos tipogràficamente, tipo êste usado mais tarde em
todas as colónias com diferenças de poucos anos, como segue:
Em 1877, Cabo Verde e Moçambique privativos; em 1879,
para a Índia também privativos; em 1881, foram postos em
circulação na Guiné os selos de Cabo Verde, com sobrecarga;
em 1884, para Macau privativos e em 1887, para Timor, selos
de Macau com sobrecarga.
Enquanto em Portugal se legislava para as outras coló-
nias, já em 1871 nos dava o Estado da índia, pois foram lá
fabricados, os selos chamados «Nativos» (Fig. 2) talvez os mais
curiosos de todos, e que têm merecido a atenção dos estu-
diosos, sendo sôbre êles publicados vários trabalhos mesmo no
estrangeiro.
Em 17 de Outubro de 1869, por decreto de El-Rei
D. Luiz, é autorizado o Govêrno a reformar os serviços dos
correios do Estado da índia e autorizadas todas as despesas ne-
cessárias para compra de material e máquinas destinadas à
fabricação de estampilhas para o mesmo Estado, referendado
por Luiz Augusto Rebêlo da Silva. Em portaria de 16 de
260
Agosto de i8ji o Governador Geral do Estado da tndia, Vis-
conde de S. Januário, regulamenta o serviço dos correios e
manda estampar e pôr à venda as estampilhas necessárias nos
termos da portaria. Em 25 de Agosto do mesmo ano publica o
Boletim Oficial, a ordem mandando que a fabricação das
estampilhas seja feita na Imprensa Nacional de Nova Goa.
O desenho destes selos é de José Frederico de Assa
Castel-Branco, sendo a gravura feita por um nativo de nome
Goindazó, gravura esta bastante imperfeita.
Em 1886 foram postos em circulação em tôdas as colónias
os selos tipo D. Luiz (Fig. 3), seguidos em 1893-94-98 e 1901
pelos de D. Carlos (respectivamente Figs. 4 e 5).
Mais tarde os selos com a efígie de D. Manuel e depois
sobrecarregados com República. Vieram a seguir os de tipo
Ceres e tôda uma série de sobrecargas e sobretaxas conforme
necessidades coloniais e que não é aqui lugar para detalhar.
Séries comemorativas tiveram circulação em 1913 para
tôdas as colónias: as do 4." centenário da descoberta do ca-
minho marítimo para a índia por Vasco da Gama; em 1923
a do Marquês de Pombal e em 1893 unicamente em Moçam-
bique a do 7.0 centenário do nascimento de Santo António
de Lisboa. Em Moçambique fêz-se em 1929 uma emissão
especial comemorativa das vitórias de Mousinho de Albu-
querque (Fig. 6) e na tndia também uma, especial, come-
morativa da Exposição de S. Francisco Xavier (Fig. 7)-
Devemos também fazer, ainda aqui, referência especial
às emissões privativas das Companhias de Moçambique e
Niassa.
Como já dissemos não têm estas notas pretensão a estudo
filatélico mas unicamente uma ligeira elucidação do que
expomos na vitrina da a.4 galeria.
HENRIQUE MANTERO
261
■SSS777S/S
263
nacionalistas que marcam a trajectória da nossa política colo-
nial. Estabelece de forma insofismável princípios duma estrei-
ta solidariedade e comunidade entre a Mãi-Pátria e as colá
nias e mantém integra a nossa tradição de povo colonizador.
Ao abrir novos horizontes à administração colonial por-
tuguesa, êsse diploma abandonou o sistema de improvisações
de que usámos e abusámos largo tempo e deu à nossa política
ultramarina rumo diferente.
Êle foi a base duma nova e considerável orientação
colonial que permitiu a publicação dos diplomas que o
Sr. Dr. Armindo Monteiro promulgou quando Ministro das
Colónias: a Carta Orgânica do Império e a Reforma Admi-
nistrativa Ultramarina, que tão transcendente influência
tiveram na vida colonial portuguesa.
O estudo que a Conferência dos Governadores de
1936, sob a presidência do actual Ministro das Colónias,
Sr. Dr. Francisco José Vieira Machado, dêles fêz, concluiu
que, embora não se tocasse nas suas bases fundamentais,
seriam precisas algumas modificações que a experiência
aconselhava e o relatório que os precedeu previa.
Dêsse estudo nasceu a lei 1948 promulgada pela Assem-
bléia Nacional em 13 de Fevereiro de 1933.
Na Sala do Acto Colonial fazem-se justificadas referên-
cias especiais a todos êsses diplomas.
JÚLIO CAYOLLA
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Sala do Acto Colonial. — Estátua do Professor
Salazar, Presidente do Conselho, por Francisco
Franco
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Sala do Acto Colonial. — /.* Tábua. Respeito pelos usos e costumes gentílicos.
Reforma administrativa, 15 de Novembro de '933
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lis iniiieiis.
Sala do Acto Colonial. — }.a Tábua. Defesa e protecção dos indígenas e seus
Carta orgânica do Império Colonial, 13 de Novembro de 1933
9
vm m imbue Nteu
IB P.WI
Sôbre a porta:
Solidariedade, unidade, nacionalismo, eis a trin-
dade de princípios em que assenta a idéia im-
perial.
1." Tábua:
Respeito pelos usos e costumes gentílicos
Reforma administrativa ultramarina
15 de Novembro de 1933
265
a acção benéfica que desenvolverem apareça às
populações em verdade como resultado da inter-
venção superior portuguesa, em que aos rege-
dores e chefes de povoação coube a função de
executores.
2.* Tábua:
3.® Tábua:
Defesa e protecção dos indígenas e seus direitos
Carta orgânica do Império Colonial Português
15 de Novembro de 1933
26tí
forme a lei todos os abusos contra a pessoa e
bens dos indígenas.
Art. 232.' — A tôdas as autoridades administrativas coloniais
pertence assegurar aos indígenas o exercício dos
seus direitos, o respeito pelas suas pessoas e coi-
sas, o gôzo das isenções e benefícios que a lei
lhes concede, defendendo-os contra as extorsões,
violências ou vexames de que possam ser vítimas
e impondo o pagamento dos salários que lhes
forem devidos.
Art. 244.° — O regime de contrato de trabalho dos indígenas
assenta na liberdade individual e no direito a
justo salário e assistência, intervindo a autori-
dade pública somente para fiscalização.
4.* Tábua:
Respeito pela propriedade indígena
Lei n.° 1.948
267
777777777777777777777^
MAQUETES
269
GRÁFICOS
FOTOGRAFIAS
QUADROS
270
MAPAS
QUADROS ESTATÍSTICOS
— Casamentos.
— Baptismos.
— Missões católicas.
— Serviços missionários.
— Ensino primário oficial.
— Médicos e enfermeiros.
— População mestiça.
— População branca.
— Telégrafos e telefones.
— Estradas.
— Caminhos de ferro.
— Navegação.
— Comércio.
27/
Na escada, os seguintes exemplares de material de guerra:
272
Outro aspecto dos jogos de água da fonte luminosa
pêso. Na bolada vêem-se as armas portuguesas e a
indicação «D. AFONSO VI — 1663» e por baixo do
ouvido uma carranca. Não tem asas e os munhões
estão na culatra.
(Cedidos pelo Museu Militar)
273
ÍNDICES
COLABORADORES DO 2.° VOLUME
Pág.
Marcelo Caetano 7
David Lopes 21
Luiz de Pina 27
A. de Magalhães Basto 39
Gastão Sousa Dias 61
Aires Kopke 71
Conde de Penha Garcia 85
A. Fontoura da Costa 104
João de Castro Osório 107
José Gonçalo Santa Rita 123
Amadeu Cunha 151
António A. Corrêa de Aguiar 163
Manuel Murias 191
Armando Gonçalves Pereira 211
F. Ribeiro Salgado 215
Pedro Batalha Reis 235
Henrique Mantero 259
Júlio Cayolla 263
ÍNDICE DO 2.° VOLUME
I.' GALERIA
Pág.
Penetração e Povoamento 7
Mapa da Expansão da Língua (1.* sala anexa) 21
Viagens de carácter científico e político 27
Secção V —Viagens dos pombeiros de Honorato
da Costa, do dr. Lacerda e Almeida,
de Gamito e outros exploradores ... 35
Secção VI —Viagens de Silva Pôrto 45
Secção VII —Viagens de Serpa Pinto 46
Secção VIII—Viagens de Capelo e Ivens 50
Secção IX —Viagens de Artur de Paiva, Paiva
Couceiro e outros exploradores ... 53
Secção X —Viagens de António Maria Cardoso,
Paiva de Andrade e Vitor Cordon ... 57
Instrução 61
Política Médica e Sanitária 71
Sociedade de Geografia 85
Mapa dos Descobrimentos. (2.* sala anexa) 99
107
Cultura Colonial
2.- GALERIA
Pág.
Administração Colonial 123
Secção I—Administração colonial 133
Luta contra os negreiros 151
Secção II — Luta contra os negreiros 157
Política indígena 163
Secção III — Primeiros princípios 183
Secção IV — Precedentes próximos duma legislação 183
Secção V —Século dezanove 184
Política de limites 191
Secção VI —Antes e depois da Conferência de
Berlim 193
Secção VII —Mapa côr de rosa e mapa actual ... 194
Secção VIII—Concepção portuguesa da hidrogra-
fia africana no Século XVI 207
Economia 211
Secção XI —Agricultura e Pecuária 219
Secção XII —Vultos da Economia 221
Secção XIII — Indústrias 226
Secção XIV — Circulação e Crédito 228
Secção XV — Comunicações 228
Secção XVI—Carreiras de navegação 229
Numismática 235
Filatelia 259
Sala do acto colonial 263
Anexos 269
ÍNDICE DAS GRAVURAS
I.' GALERIA
A seguir
ò pág.:
Penetração e Povoamento — Mapa de Timor, por
Cunha Barros 16
Viagens de carácter científico e político — Viagem de
Serpa Pinto, quadro de Sara Afonso 16
Viagens de carácter científico e político — Viagem de
Silva Pôrto e seus pombeiros. Mapa de Sara Afonso.
No 1.° plano, «maquette» da embala de Silva
Pôrto, realizada por Pedro Veiga 48
Viagens de carácter científico e político — Viagens de
Paiva de Andrade, de António Maria Cardoso e Ví-
tor Cordon. Mapa de Francisco Amaral 48
Instrução, tábua de Manuel Lima 70
Política Médica e Sanitária — Tábua de Ferreira da
Silva 70
Fastos Memoráveis da Sociedade de Geografia, tábua de
Aurora Severo 88
A seguir
à pág.:
Precedência dos Portugueses no Continente Negro,
mapa de Lino António 88
Cultura Colonial, gráfico de Estrêla Faria 120
2." GALERIA