Clube-Empresa: o Caráter Mercantil Do Desporto Profissional
Clube-Empresa: o Caráter Mercantil Do Desporto Profissional
Clube-Empresa: o Caráter Mercantil Do Desporto Profissional
CLUBE-EMPRESA:
O CARÁTER MERCANTIL DO DESPORTO
PROFISSIONAL
BELO HORIZONTE
FACULDADE DE DIREITO DA UFMG
2003
ALEXANDRE BUENO CATEB
CLUBE-EMPRESA:
O CARÁTER MERCANTIL DO DESPORTO
PROFISSIONAL
BELO HORIZONTE
FACULDADE DE DIREITO DA UFMG
2003
À Júnia, minha amada esposa.
A meus pais, Helena e Salomão.
Agradeço à minha querida Júnia, pela imensa paciência, dedicação, amor e carinho, que
aceitou abrir mão de vários momentos de lazer pelo simples prazer de estar ao meu lado
durante esta árdua tarefa. Obrigado por ser quem você é. Obrigado por estar sempre ao meu
lado.
À minha mãe, Helena, e ao meu pai, Salomão, cujas lições de vida me mostraram o quanto é
importante viver cada dia. Amo vocês!
Ao Dani e ao Vavá, mais que irmãos. Meus amigos de uma vida inteira.
Ao meu amigo Wille – Prof. Doutor Wille Duarte Costa para os outros –, cuja brilhante
orientação, amizade, carinho e paciência tornaram possível a realização desse trabalho.
Aos meus queridos avós, Nazira e saudosos Isaíra e Antonio. Espero que eu não os tenha
decepcionado.
À Dry, pelo estímulo e apoio. Ao Biel, pelo sorriso despretensioso, pela alegria que só uma
criança tem. Aos tios Totonho, Antelmo e Nilza, aos primos Guga, Tite, Tininha, Marquinho,
Christiano, Tatiana, ao “primo emprestado” Ika, aos demais familiares e, em especial, à prima
Lu, com saudade, um abraço especial.
Aos amigos Cau, Presidente Kennedy, Guilherme Martins, Rogério Santiago, colegas e
companheiros desde a faculdade, e também aos “colegas de infância” Elcinho, Bruno
Albergaria e Lúcio Borracha, com quem posso contar a cada momento.
Ao Ricardo (Simão) e à amiga Magda Guadalupe, com quem concorri durante boa parte dessa
pós-graduação para conseguir as mais estapafúrdias e divertidas conclusões (jurídicas,
inclusive!).
Aos diletos amigos Gustavo Brasil, William Delfino, Norberto, Marco Antonio, Humberto,
Júnia, Alex Otero, Hercília, Bernardo de Mello Franco e Frederico Portella.
À Professora Lúcia Massara, pelo apoio e incentivo, e à Faculdade de Direito Milton Campos,
que tornaram realidade grande parte da pesquisa desta tese.
À Simone e à Sandra, pela atenção, carinho e incentivo necessários para a conclusão desta
tarefa, e aos demais colegas da Faculdade de Direito Milton Campos que, de uma maneira ou
de outra, colaboraram na realização deste propósito.
Aos ex-alunos Felipe Falconi, Daniel Basbaum, Adriana Piscitelli, Joaquim Elias e Marcelo
Botrel, que muito colaboraram me auxiliando na pesquisa.
Ao Doutor Alberto dos Santos Puga Barbosa, pelo incentivo e atenção sempre que solicitado,
e aos colegas da CEVLEIS-L, pelas imprescindíveis lições virtuais.
Ao Professor Alberto Lima Vieira, que várias vezes me brindou com reflexões jurídico-
desportivas e histórias interessantíssimas dos bastidores dos clubes.
Aos colegas advogados Vicente de Paula, pelos conselhos, e Gilson Boncompagni, pela
disposição em ajudar.
Aos companheiros de Aikido Gliber, Euler, Evaldo, Pedro e Rogério, e aos amigos de trilha
Marcelo e Maurício Peixoto, fiéis companheiros e apoio seguro nesses anos de jornada.
Não poderia deixar de agradecer especialmente ao Sensei Shikanai e ao amigo Julio Yaber,
para quem o esporte é a própria vida. Obrigado pelas lições inesquecíveis de vida e de
conduta.
Ao brilhante trabalho da Tucha e da Aline, que apararam as arestas deste texto com paciência,
carinho e atenção.
O modelo associativo tem sido adotado pela quase totalidade das entidades de prática
desportiva de caráter profissional. Neste trabalho disseca-se a atividade dos clubes a partir da
ótica do Direito Comercial. Partindo das teorias tradicionais de conceituação do comerciante
até chegar à moderna teoria da empresa, esposada pelo Código Civil Brasileiro de 2002, e
confrontando as reflexões aqui propostas com a atividade desenvolvida pelos entes de prática
desportiva profissional, deduziu-se o caráter mercantil que prepondera nas atividades
econômicas dos clubes. Finalmente, em virtude do modelo associativo adotado, concluiu-se
que as entidades se equiparam a sociedades irregulares, posto que assumem a forma jurídica
civil, apesar da atividade comercial que faticamente desempenham. Decorre dessas
observações a conclusão de estar o legislador cometendo grave equívoco nas modificações
propostas à Lei n. 9.615/98, impondo aos clubes a adoção de uma das formas societárias
previstas nos arts. 1.039 a 1.092 da Lei n. 10.406, de 2002 – Código Civil. Ignorando a
vontade dos sócios que aderem às associações desportivas, impõe-se-lhes a assunção de
direitos e obrigações próprias do exercício profissional da empresa.
ABSTRACT
The association model has been used by almost all leagues os professional sports. The present
thesis dissects the activities of clubs from the standpoint of the Commercial Law. It starts
from the traditional concept of traders and reaches the modern theory of enterprise supported
by the new Brazilian Civil Code of 2002 enacted by Law n. 10406. By confronting our
thoughts with the activities of professional sport organisations it deduced that the mercantile
trait predominates over the economic activities of the clubs. Last but not the least, the thesis
concluded, in view of the association model adopted by the sports entities, that they are
comparable to irregular organisations since they are incorporated as a civil, not as a
commercial entity although the activity they carry on is factually commercial. The conclusion
arises from the observations that the legislators are committing a grave mistake when they
propose changes in Law n. 9615/98 so as to impose the commercial structural forms
established in sports clubs. Disregarding the will of clubs who are members of non-
commercial sport associations, the legislators will impose duties and rights tha pertain
typically to business entities on such member clubs.
RIASSUNTO
Il modello associativo viene adottato nella quasi totalità degli enti per la pratica sportiva di
carattere professionale. Il presente lavoro dissecca l'attività dei club sotto la luce del Diritto
Commerciale. Partendo dalle teorie tradizionali di concezione del commerciante arrivando
fino alla moderna teoria dell'impresa, sostenuta dal Codice Civile Brasiliano del 2002, e
confrontando le riflessioni con l'attività svolta dagli enti per la pratica sportiva professionale,
si deduce il carattere mercantile preponderando nelle attività economiche dei club.
Finalmente, in virtù del modello associativo adottato, si conclude che gli enti si uguagliano a
società irregolari, una volta che assumono la forma giuridica civile, nonostante l'attività
commerciale che in effetti svolgono. Decorre da queste osservazioni la conclusione che il
legislatore stà commettendo un grosso equivoco nelle modifiche proposte alla legge 9615/98,
imponendo ai club l'adozione di una delle forme societarie previste negli articoli 1039 a 1092
della Legge 10.406, del 2002 – Codice Civile. Ignorando la volontà dei soci che aderiscono
alle associazioni sportive, imponendo loro l'assunzione di diritti e obblighi propri
dell'esercizio professionale dell'impresa.
LISTA DE TABELAS
Introdução ________________________________________________________ 12
emergentes. Podemos mencionar parca doutrina, sendo relevantes os trabalhos de João Lyra
incursões sobre o tema, o legislador ainda não tecera tão profundas modificações sobre a
civis sem finalidade lucrativa, pensava-se não ter muito o que se analisar sobre sua
Deliberativo. Tudo o mais dependia dos estatutos, pois o legislador não regulamentara
1
LYRA FILHO, João. Introdução ao direito desportivo, Rio de Janeiro: Pongetti, 1952.
2
PERRY, Valed. Comentários à legislação desportiva brasileira, 1965.
3
Transcrito na íntegra por Valed Perry em seus Comentários à Legislação Desportiva Brasileira, de 1965.
13
Seguindo alterações iniciadas pela Lei n. 8.672/93, a Lei n. 9.615/98 (Lei Geral
sobre Desportos) disciplinou, de forma exaustiva, desde a organização dos clubes e suas
Arantes do Nascimento, Pelé, nada mais pretendeu que moralizar o meio desportivo.
associações civis sem finalidade lucrativa, gerando o descompasso que a todo momento a
mídia trata de explorar e divulgar, o advento da Lei Pelé e suas modificações parecem
aconselhar um novo panorama para o esporte no Brasil. Nossa dúvida, que buscaremos
O direito – e não poderia ser de outra forma – não fechou os olhos a esse
fenômeno social. Diante do atual panorama desportivo no país, o direito, como ciência,
mundial.
7
PONTES DE MIRANDA. Sistema de ciência positiva do direito – Fundamentos metodológicos do critério e da
investigação científica. Atual. por Vilson Rodrigues Alves. Campinas: Bookseller, 2000. t. IV, p. 241.
Capítulo 1
DESPORTIVA NO BRASIL
sociedade. Enquanto atividade lúdica, tanto nos animais quanto nas crianças se percebe o jogo
como forma de entretenimento. Os jogos infantis e os jogos animais, segundo João Lyra
Filho,8 não revelam traços culturais, embora traduzam algo mais que simples atividades
mecânicas.
das reuniões. Além das formas lúdicas de jogos, surgiram ali as primeiras competições
da competição.
8
LYRA FILHO, João. Introdução à sociologia dos desportos. Rio de Janeiro: Record, 1974. p. 15.
9
LYRA FILHO, João. Introdução à sociologia dos desportos, p. 17.
16
concluir que também não há competição em todos os desportos. Este só será competitivo
que arregimenta tantos admiradores para seguir as competições. Enquanto simples atividade
lúdica, não atrai atenção como espetáculo. Porém, a idéia competitiva que dele aflora adquire
importância cultural. E cada vez menos se identifica o jogo em sua forma lúdica e a
Como ciência, o Direito deve ocupar-se das várias atividades do homem, cuidando
de disciplinar relações entre pessoas, desde que tenham repercussão no mundo exterior. A
atitude de um ser humano que mata um de seus companheiros, que nos primórdios significava
superioridade sobre seus pares, passou a ser recebida com repúdio e reprovação. Cada uma
das atividades da pessoa que repercutam na sociedade passou a ter sua previsão nos
ordenamentos jurídicos.
relações familiares e comerciais. As relações do particular com o Estado também tiveram sua
10
LYRA FILHO, João. Introdução à sociologia dos desportos. p. 18.
17
Chegou a um ponto em que não lhe bastavam mais os limites terrenos para conter-
Depois de passar os últimos dois mil anos evoluindo a passos lentos – e, nesse passo,
evoluindo a ciência jurídica –, no último século a humanidade experimentou um salto que não
incrementando ainda mais a divulgação das notícias impressas. Depois, a televisão se tornou o
espantoso da publicidade. O que era de somenos importância assumiu, nas últimas décadas,
de percepção. Afinal, o público em geral busca divertir-se nos seus momentos de prazer e
Antes de iniciar o tratamento do tema, esclarecemos que não vemos motivos para
a diferenciação dos termos esporte e desporto, ao contrário do que defendem alguns. Manoel
Tubino11 faz abrangente síntese dos autores que estudaram a origem das palavras esporte e
desporto, para afinal concluir que as expressões possuem, na língua portuguesa, o mesmo
sentido.
11
TUBINO, Manoel. Teoria geral do esporte. São Paulo: Ibrasa, 1987. p. 38.
18
Quase todo ser humano, em alguma fase de sua vida, ocupou-se da prática de
12
ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. São Paulo: LTr,
1998. p. 20.
13
PERRY, Valed. O direito desportivo. Revista Brasileira de Direito Desportivo, São Paulo, v. 1, p. 18, 1° sem.
2002.
19
Percebendo o filão que se abria,14 a mídia cada vez mais passou a explorar a
divulgação das práticas esportivas. Com a extensão dos domínios das televisões, rádios,
veículos de comunicação, vincular qualquer atividade ao desporto passou a ser a forma mais
publicidade e patrocínio de times de futebol ou outros esportes especializados. Tudo isso por
relevantes serviços aos clubes, de forma honesta e desobrigada de qualquer benefício além da
modificaram-se as motivações. Interesses divorciados dos reais objetivos dos fundadores das
associações desportivas tomaram corpo. Assumiram a direção da maior parte dos clubes no
Brasil pessoas preocupadas sobretudo com sua própria realização pessoal (e independência
14
Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas, a indústria do esporte movimenta R$ 30 bilhões por ano, o que
equivale a 3,3% do PIB brasileiro (informação verbal colhida em palestra proferida por COSTA, Carlos
Eduardo. Marketing esportivo. In: SEMINÁRIO DE DIREITO DESPORTIVO, 1, 2001, Belo Horizonte).
15
Anotamos a evolução da audiência acumulada nas Copas do Mundo do México, em 1986: 13,5 bilhões de
pessoas; Itália, 1990: 26,7 bilhões; Estados Unidos, 1994: 32,1 bilhões; e, finalmente, na Copa da França, em
1998: 37,0 bilhões de telespectadores (PRONI, Marcelo Weishaupt. A metamorfose do futebol, apud COSTA,
Carlos Eduardo. Marketing esportivo. In: SEMINÁRIO DE DIREITO DESPORTIVO, 1, 2001, Belo Horizonte).
20
fazendo nascer uma casta de dirigentes desportivos. O cetro do poder nos clubes passou a
fazer parte da própria herança de famílias. Os cargos de direção das associações passou a ser
setor, composto por devedores contumazes da Previdência Social, inadimplentes com a maior
parecia singelo. Tornava obrigatória a transformação dos clubes, então associações civis sem
iniciativa daquelas castas sociais privilegiadas: as dinastias reinantes nos clubes de maior
expressão no país. Diziam eles: “O que movimenta o clube é a paixão de seus sócios e
Lei Pelé. Primeiro, com a publicação da Lei n. 9.981/2000. Em seguida, com a edição da
Medida Provisória n. 2.141, de 23 de março de 2001, arquitetada pelo Prof. Álvaro de Melo
16
Na Argentina, os torcedores do Racing viveram essa realidade, pois o clube de futebol teve a falência
decretada em 1998. Alguns de seus maiores credores foram ressarcidos com o passe de jogadores. Da mesma
forma, foi noticiada a possibilidade de falência do Atletico de Madrid, clube espanhol:
“Atletico de Madrid pode ter falência decretada
Justiça espanhola exige quitação de US$ 74,5 milhões em débitos
Um oficial de justiça da Corte espanhola enviou uma notificação à direção do Atletico de Madrid em que alerta
que o time está formalmente em situação de falência. Se débitos tributários e trabalhistas da ordem de US$ 74,5
milhões (R$ 130 milhões) não forem equacionados "urgentemente", a falência poderá ser requisitada.
O presidente Luis Manuel Rubi, que substitui o afastado Jesus Gil – por denúncias de desvio de verbas e
sonegação de impostos – informou em seu relatório sobre a situação do clube que o time está à beira da falência,
reforçando o aviso da Justiça.” (Disponível em: http://esportesa. lancenet. com. br/investimentos/investim84.
htm. Acesso em 12/7/2000.)
21
rejeitada pela Câmara dos Deputados em 5/11/2002, e, três semanas após, a Medida
Provisória n. 79, que, inconstitucionalmente, repete o texto rejeitado da Medida Provisória 39.
valores que envolvem atualmente os contratos entre times e seleções esportivas, de um lado, e
grupos econômicos interessados em utilizar o desporto para divulgar seus produtos ou, ainda,
comercializar marcas e símbolos dos clubes, de outro. Podemos mencionar alguns exemplos
Bolsa de Valores de Londres, teve, em 1999, uma oferta de aquisição da ordem de 1 bilhão de
dólares, não concretizada por restrições impostas pelo governo inglês. Apenas no ano 2000,
reais.18
17
MELO FILHO, Álvaro. Medida Provisória n. 2. 141: Uma revolução sem armas no desporto. Revista
Brasileira de Direito Desportivo, São Paulo, v. 1, p. 34, 2002.
18
“Manchester United atinge valor de R$ 3 bilhões
Valorização das ações atinge 41% este ano por causa de Internet e TV
Os investidores europeus não deram a mínima atenção para o fiasco do Manchester United no primeiro Mundial
de Clubes, realizado em janeiro no Brasil, quando o time inglês mais popular sequer ficou entre os quatro
primeiros lugares. Desde o começo do ano, as ações do clube não param de subir, atingindo uma valorização de
41% em menos de três meses. A alta dos papéis -- cotados na Bolsa de Londres desde 1991 – levou a cotação
para as 402 libras (R$ 1. 125) das 285 libras (R$ 798) em dezembro de 1999.” (Disponível em: http://esportesa.
lancenet. com. br/investimentos/investim59. htm. Acesso em 12/7/2000.)
22
para citar alguns exemplos, o Clube de Regatas do Flamengo celebrou contrato próximo de
800 milhões de reais com a ISL,19 para vigorar por quinze anos. O Sport Clube Corinthians
Paulista e sua parceira, o fundo de investimentos norte-americano Hicks, Muse, Tate & Furst
prevendo retorno do investimento em cerca de dois anos.20 Clube Atlético Mineiro e Cruzeiro
firmaram contratos próximos a 500 milhões de reais, por períodos semelhantes. O Vasco da
Gama celebrou uma parceria com o Bank of America para vigorar até 2099, cujos valores não
mudou seu nome e uniforme e, passando a investir enormes verbas, transformou-o na grande
sensação das divisões inferiores do futebol paulista. Outrora obscuro nos campeonatos
Paulo. Apesar disso, a cidade ainda torce pelo antecessor, o clube que morreu por interesse do
capitalismo, e vai ao estádio vestida com as cores da antiga agremiação, que nem são mais as
19
Empresa suíça de marketing esportivo, responsável pela promoção das Copas do Mundo, organizadas pela
FIFA, dos Torneios de Tênis da ATP – Associação de Tenistas Profissionais e do Campeonato Mundial de
Fórmula 1, cuja organização compete à FIA – Federação Internacional de Automobilismo.
20
“Esporte S. A!: Quando a parceria foi anunciada em 1999, Cesar Baez (vice-presidente da Hicks Muse) disse
que o investimento no primeiro ano seria de US$ 30 milhões (R$ 55 milhões), mais contratação de jogadores,
que já somou cerca de R$ 70 milhões. Foi isso que a Hicks Muse já investiu (R$ 125 milhões) até agora.
LAW: Não tenho os números exatos, mas deve ser por aí.
Esporte S. A!: Qual a expectativa de retorno do investimento? Quando a operação Corinthians vai atingir o
ponto de equilíbrio (quando as receitas obtidas empatam com os investimentos feitos e os custos rotineiros)?
LAW: Em dois anos, o que é um prazo inferior ao que havíamos calculado no começo. Isso pode acontecer
porque estamos sendo muito disciplinados nos nossos planos e projetos, trabalhando muito.” (Disponível em:
http://esportesa. lancenet. com. br/Entrevista/entrevis27. htm. Acesso em 12/7/2000.)
23
mesmas.21
empresário milionário da capital federal Luiz Estêvão, ex-senador da República, cassado por
chegou, menos de três anos após sua fundação, às finais da Copa do Brasil, após eliminar os
centenários Fluminense Football Club e Clube Atlético Mineiro. Organizado como empresa,
buscando auferir lucro com seus êxitos desportivos, foi derrotado nas finais para o Sport
futebol por 15, 20 milhões de dólares. Jogadores são contratados com salários mensais de 400,
500 mil reais. Poucos, é verdade, pois a grande maioria mal recebe um salário mínimo para
21
Trata-se do Etti Jundiaí, clube de futebol da cidade do interior de São Paulo, antigo Paulista de Jundiaí, que foi
comprado pela multinacional Parmalat S. p. A. O antigo uniforme, azul e branco, passou a ostentar a cor
vermelha, com o objetivo de lembrar o produto da multinacional: o extrato de tomate Etti.
22
MAIORIA dos jogadores ganha até r$ 360. Folha de S. Paulo, São Paulo, 31 jan. 2002, p. D4:
“Apesar dos salários milionários pagos pelos principais clubes do país, a vida da maioria dos jogadores
brasileiros está longe do glamour e da mordomia de craques como Romário, do Vasco, e Edílson, do Cruzeiro.
De acordo com documentos do Departamento de Registro e Transferência da CBF obtidos pela Folha, 82,17%
dos atletas nacionais receberam em 2001 até dois salários mínimos. Ou seja, 16. 785 dos 20. 428 registrados na
CBF ganharam até R$ 360 mensais.
Na pirâmide salarial do ano passado, os jogadores que recebem até um salário mínimo formam o maior grupo.
Os clubes pagam apenas R$ 180 mensais para 42,62% dos atletas.
Os jogadores que recebem grandes salários formam o grupo mais reduzido. No total, eles são menos de mil
atletas. Segundo a CBF, apenas 3,75% dos jogadores ganham mais de 20 salários mínimos – R$ 3. 600 por mês.
O ano passado foi marcado por uma grave crise financeira no futebol brasileiro. Até grandes clubes atrasaram
salários.
Mesmo com a péssima distribuição de renda no futebol brasileiro, a elite dos atletas cresceu em 2001 depois de
quatro anos seguidos de queda.
O percentual de jogadores que recebem mais de 20 salários mínimos diminui desde 1997. Naquele ano, eles
representavam 5,20% do bolo salarial. No ano seguinte, a elite dos jogadores diminuiu para 4,30%. Em 1999,
houve nova queda entre os ricos da bola – 3,70%. No ano passado, a elite chegou ao seu pior percentual –
3,35%.
O número de jogadores que formam a base da pirâmide salarial também foi reduzido. Em 2000, 44,91% dos
atletas recebiam até um salário mínimo. No ano passado, a marca foi de 42,62%.
A estatística da pirâmide salarial dos jogadores é feita anualmente pela CBF, com base nos dados fornecidos
pelos clubes. Obrigatoriamente, todos os contratos são registrados na principal entidade do futebol brasileiro.
24
seguem trabalhando muitas vezes por ideal e amor ao esporte. A situação antes da Lei Pelé
poderia ser comparada quase a um regime de escravidão,23 pois o atleta, ao final de seu
contrato, permanecia vinculado ao clube, sem receber salários e sem poder se transferir
dirigente desportivo (na maior parte das vezes, tomado pela paixão de torcedor e pouco
profissional na administração do clube), ficando proibido de exercer sua profissão e sem ser
remunerado.
eficiência no esporte.24
O levantamento tem distorções por causa dos clubes que não declaram o valor verdadeiro dos salários dos seus
jogadores. Muitos dirigentes pressionam os jogadores a assinar contratos no valor de um salário mínimo, mas
pagam por fora até mais de R$ 2 mil.
A péssima distribuição salarial no futebol não é diferente da dos outros trabalhadores brasileiros.
De acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio) do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), apenas 1,6% dos trabalhadores brasileiros receberam mais de 20 salários mínimos em
1999.
O Departamento de Registro e Transferência da CBF ainda não conseguiu fazer um levantamento do número de
atletas desempregados no país.”
23
“A escravidão propriamente dita é o estabelecimento de um direito que torna um homem tão próprio de outro
homem, que este é o senhor absoluto de sua vida e de seus bens. Não é boa por natureza; não é útil nem ao
senhor, nem ao escravo: a este, porque nada pode fazer por virtude; àquele, porque contrai com seus escravos
toda sorte de maus hábitos e se acostuma insensivelmente a faltar contra todas as virtudes morais; torna-se
orgulhoso, brusco, duro, colérico, voluptuoso, cruel.” (MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Baron de. O
espírito das leis. Trad. Cristina Murachco. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 253.) Essa noção
emprestada de Montesquieu talvez explique por que a classe dirigente desportiva tenha as atitudes que tem.
24
Como no caso do Campeonato Brasileiro de Futebol de 1999, que sofreu mudanças de última hora para manter
clubes conhecidos nacionalmente, como o Botafogo de Futebol e Regatas, do Rio de Janeiro, time tradicional do
futebol brasileiro que surgiu em 1942 a partir da fusão do Clube de Regatas do Botafogo, de 1o de julho de 1894,
com o Botafogo de Foot Ball Club, de 18 de agosto de 1904, rebaixando a Sociedade Esportiva do Gama, de
Brasília, nascido em 1975 e de pouca expressão no restante do país.
25
desporto, sendo a primeira regulada por normas nacionais e internacionais e pelas regras de
participantes. Considerou que pode ainda ser reconhecido o desporto segundo as seguintes
manifestações:
prática do lazer;
seu desempenho. Afinal, não se paga para assistir a uma competição entre crianças, nos jogos
da escola, como também não interessam ao direito a interação social num condomínio quando
campinho situado naquele lote vago. Esses são meros eventos sociais; são atos-fatos que não
repercutem no Direito. Podem interessar a outras ciências humanas, que estudam a interação
identificado por remuneração pactuada em contrato formal de trabalho celebrado entre o atleta
sob a perspectiva do clube de futebol. Não só porque é a grande paixão nacional, cujos fatos
demais desportos, disposição, aliás, impertinente na Lei Geral sobre Desportos, pois cria
25
PONTES DE MIRANDA. Tratado das ações – Ação, classificação e eficácia. Atual. por: Vilson Rodrigues
Alves. Campinas: Bookseller, 1998. t. I, p. 21.
27
clubes menos conhecidos chegam a buscar doações para a manutenção de seus atletas. Mas a
legislação não tratou de forma diferente os desiguais, fazendo-os, assim, iguais. Manteve
exatamente o mesmo critério para todo e qualquer clube que pretenda disputar competições
irregulares ou de fato.
o operador do Direito concluir pela natureza mercantil dos clubes? Seria necessário impor
uma regra genérica e tão contundente para todas as entidades desportivas? E como fica o
interesse do sócio que, ao se agregar ao clube, busca apenas usufruir dos benefícios da
associação, a interação com amigos, o desenvolvimento social de seus filhos, sem, jamais,
importar-se com a possibilidade de auferir lucros daquela sociedade? Mais ainda: Qual a
qualidade desse sócio que não aderiu ao clube para obter vantagens pecuniárias? Porque toda
espécie de sociedade comercial admitida no Direito Brasileiro tem uma característica comum:
O COMÉRCIO
Mas é também a atividade profissional daquele que pratica atos para facilitar o tráfico de
contrato mais singelo praticado pelos povos primitivos. “Seu mecanismo consiste na entrega
de uma coisa por outra – rem pro re – objetivando a prestação de cada um dos contratantes
uma coisa em espécie”, como preleciona Caio Mário da Silva Pereira.27 Mas também troca de
coisa por dinheiro, ou compra e venda, lembrada por Orlando Gomes como o “contrato pelo
qual uma das partes se obriga a transferir a propriedade de uma coisa à outra parte, recebendo,
proteção de um patriarca, chefe supremo da organizações sociais da época. Então, não se fazia
concebidas pela ótica do senhor. A produção de então não permitia trocas, pois não havia
sobras suficientes para tanto. E o próprio patriarca continha a produção, a fim de evitar que,
com o enriquecimento das classes menos abastadas, estas se insurgissem contra seu poder.
29
COSTA, Wille Duarte. A possibilidade de aplicação do conceito de comerciante ao produtor rural. 1994.
Tese (Doutorado em Direito): Faculdade de Direito da UFMG, Belo Horizonte, p. 14.
30
“Família. A família antiga assentava no culto do antepassado comum, sendo o pai, o sacerdote o juiz e o
chefe. A família transmitia-se pelo homem e não pela mulher.” (Glossário organizado por AGUIAR, Fernando
de. In: FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. A cidade antiga. Trad. Fernando de Aguiar. 4. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1998. p. 573.)
31
“Fratria. (Do lat. phratria. ) Subdivisão da tribo na Ática e em muitos outros estados gregos. (Glossário
organizado por AGUIAR, Fernando de. In: FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. A cidade antiga, p. 576.)
32
“Tribo. (Do lat. tribus. ) Aglomeração de famílias sob a autoridade de um mesmo chefe, vivendo na mesma
localidade e com interesses comuns. Para os antigos era uma das divisões do povo: a Ática teve sucessivamente
quatro, dez e até treze tribos; em Roma primitivamente só houve três tribos. (Glossário organizado por
AGUIAR, Fernando de. In: FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. A cidade antiga, p. 621.)
33
“Cidade. Temos na terminologia arqueológica portuguesa um termo que, de qualuqer maneira, nos define a
cidade dos antigos – citânia. Assim, a palavra civitas não significa para os romandos o mesmo que para nós a
cidade, centro de povoação constituído pela contigüidade de muitos moradores, mas sociedade política
independentemente organizada, Estado, numa palavra. Para designar a nossa cidade tinham as palavras oppidum
30
porque cada grupamento obtinha melhores resultados na produção de determinados bens, seja
porque não conseguiam gerar todos os artigos de necessidade, seja por mera curiosidade em
relação a bens de consumo diferentes dos que sabia obter. Iniciou-se, então, a especialização
quantidade suficiente para o consumo interno do grupo e com excedentes destinados à troca
Percebendo a vantagem de tal forma de abastecimento das necessidades dos indivíduos, cada
organizado, fundado na noção de justiça, para ele o Estado ideal. Já se percebia a necessidade
e urbs, implicando a primeira ainda a idéia de fortificação. Nos primeiros tempos, quando só os habitantes de
Roma eram cidadãos, civitas e urbs coincidiam, o mesmo sendo a Roma urbs que a Roma civitas. Depois, ao
estender-se o direito de cidadania, Roma continuou sendo a urbs, mas já não foi toda a civitas, mas unicamente
sua capital. Cícero (Pro-Sextio, 42) distingue bem: tum conventicula hominum, quae postea civitates nominatae
sunt; tum domicilia conjuncta, quae urbes dicimus (então tiveram início as associações de homens, que se
chamaram cidades; então os domicílios juntos, que se dizem urbes).” (Glossário organizado por AGUIAR,
Fernando de. In: FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. A cidade antiga. p. 555.)
34
FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. A cidade antiga, p. 134.
35
PLATÃO. A república. Trad. Leonel Vallandro. 23. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.
31
logo os profissionais especializados na obtenção dos excessos e em sua troca aos carentes de
tais produtos. Esses – os primeiros comerciantes – passaram a ter como profissão econômica a
intermediação entre a fonte e o destino dos bens. No dizer da doutrina comercialista, entre o
produtor e o consumidor.
ser humano intermediar a troca de produtos. Mas, sendo essa conduta secundária no resultado
final de seu objetivo, não necessariamente poderá ser considerado comerciante. A mediação
principal de quem exerça tal ofício. Pode ocorrer que, para atingir determinado objetivo, o ser
humano pratique também outras atividades. Essas, no entanto, por não serem primordiais para
a consecução de sua proposta, não serão suficientes para distinguir sua atividade. Para Wille
profissão de comerciante:
conceito. Ao aplicador da lei caberá a particularização dos conceitos. Explicava João Eunápio
36
COSTA, Wille Duarte. A possibilidade de aplicação do conceito de comerciante ao produtor rural, p. 40.
32
Borges:
pela de empresário, como falaremos adiante. Não se diz mais que quem exerce atividade
profissional de mediação e troca, buscando lucro, é comerciante. Por ser mais abrangente, o
Assim, uma escola pode manter uma cantina para a alimentação de seus
estudantes. Pode, também, ter um setor para cópias xerográficas de material didático, sendo
este serviço cobrado dos seus usuários. Sua atividade final é o ensino. Mas a venda de
mencionadas são, apenas, meios para a melhor entrega do objetivo final pretendido: o ensino.
37
BORGES, João Eunápio. Curso de direito comercial terrestre. Rio de Janeiro: Forense, 1959. v. 1, n. 3, p. 11.
33
competem em caráter profissional? Afinal, dirão alguns, seu objetivo final é proporcionar o
consolidar nossa opinião sobre o tema. Tomando emprestadas as reflexões de Osmar Brina
38
COSTA, Wille Duarte. A possibilidade de aplicação do conceito de comerciante ao produtor rural, p. 40.
39
COSTA, Wille Duarte. A possibilidade de aplicação do conceito de comerciante ao produtor rural, p. 40.
34
Corrêa Lima,40 sabemos que este trabalho não pretende, nem quer ser completo e perfeito.
conceito pode ser admitida de duas maneiras fundamentais diferentes, isto é, como final e
como instrumental.
posto que atribui ao conceito o objetivo de exprimir ou revelar a substância das coisas.
que se estabeleçam entre eles conexões de natureza lógica. Porque o conceito não se limita a
Por último, fundamental sobretudo nas ciências físicas, o conceito tem a função da
40
CORRÊA-LIMA, Osmar Brina. Responsabilidade civil dos administradores de sociedade anônima. Rio de
Janeiro: Aide, 1989, p. 11.
41
MACH, E. Erkenntniss und irrtum, 1905, cap. VIII, Trad. fr., p. 136, apud ABBAGNANO, Nicola.
Dicionário de filosofia. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 168.
42
DUHEM. La théorie physique, p. 163 et seq, apud ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 3. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 168.
35
ciência econômica e no direito comercial. Aquele estuda o comércio na sua função orgânica,
este nas relações jurídicas que se derivam do exercício dessa função.”43 E prossegue o
mestre, para quem cada uma das ciências aprecia o comércio sob o ponto de vista que lhe é
peculiar. Por tal razão, sua natureza substancial não muda pelo simples fato de várias ciências
devem ter um significado diverso daquele que vem inserto, seja do público, seja da
Ferreira apenas lembra que “todos os homens, sujeitos à fatalidade universal das leis
Nem dos comerciantes.”45 Mas ressalta a importância da prática reiterada de atos de comércio
prossegue o tratadista:46
43
MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro. 6. ed. Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 1957. v. I, p. 424.
44
Comme mai le parole in bocca dell’economista debbono avere un significato diverso da quello che viene
inteso sai dal pubblico, sai dalla giurisprudenza, trattandosi di definire lo stesso fatto?” (ROMAGNOSI.
Disputa sull’idea del commercio. p. 132, apud MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de direito comercial
brasileiro, v. I, p. 425. )
45
FERREIRA, Waldemar. Tratado de direito comercial – O estatuto do comerciante. São Paulo: Saraiva, 1960.
v. 2, p. 32.
46
FERREIRA, Waldemar. Tratado de direito comercial – O estatuto do comerciante, v. 2, p. 33.
36
busca, em todas as suas atividades, remunerar-se pelo fato isolado ou pelo complexo de
serviços, de utilidades e de comodidades que presta. O lucro, ainda que não seja o objetivo
irremediavelmente essa categoria profissional que, na prática de seus atos, tem sempre a
especulativos. Essa especulação afasta do comércio a prática de atos por motivos de ordem
afetiva e sentimental.
Capítulo 3
ECONÔMICA ORGANIZADA
civis e comerciais. Além de o Código não ter conceituado comerciante nem ter disposto de
Sabe-se, contudo, que “a forma não deve jamais prevalecer à substância, nem a
aparência à realidade; porém é com o escopo que a sociedade se proponha a atingir que se
deve levar em conta para distinguir uma sociedade comercial de uma sociedade civil”.47
Não nos importa o fato de a maioria dos clubes serem constituídos como
sociedades civis sem fins lucrativos ou associações. Para o estudo eficiente e sistemático do
47
La forma non deve mai prevalere alla sostanza, nè l’apparenza alla realtà; epperó egli è allo scopo che la
società si propone di conseguire che si deve badare per distinguere una società commerciale da una società
civile. (VIDARI, Corso di diritto commerciale. 5. ed. v. 1, n. 688, apud MENDONÇA, J. X. Carvalho de.
Tratado de direito comercial brasileiro, v. III, p. 54.)
38
nós, aprendizes e estudiosos da matéria jurídica, tecer críticas aos modelos adotados – muitas
melhor desenvolverem e atingirem seus objetivos de bem prestar a tutela dos direitos.48
clubística brasileira, sem simplesmente nos fiar nos objetivos traçados nos estatutos das
centenário clube estará exercendo atividade típica de tal sociedade civil. Por outro lado, em
virtude da opção legislativa de não traçar parâmetros específicos para o enquadramento das
atividades como civis ou mercantis, devemos analisar, sob a ótica de cada um dos critérios
como associação civil, deverá ser sempre visto sob essa ótica. Para estes, será importante a
profissional e amador. Qualquer desvio a esta proposta, pela prática reiterada de atos de
48
São interessantes as lições de Dennis Lloyd e Chaïm Perelman sobre a idéia de lei contraposta às noções de
justiça e ética, bastante esquecidas por nossos administradores desportivos e, infelizmente, pela maioria dos
juízes, ao apreciarem lides entre clubes e seus fornecedores ou empregados. (LLOYD, Dennis. A idéia de lei.
Trad. Álvaro Cabral. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998, 440p.; PERELMAN, Chaïm. Ética e direito. Trad.
Maria Ermantina Galvão G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1996, 722p.)
39
comércio típicos, será visto como meio de proporcionar a consecução de sua atividade
principal ou preponderante.
comercial irá de encontro à maioria da doutrina tradicional, bem como à realidade fática dos
clubes no Brasil.49 Sabemos, contudo, que mediante objeções ao status quo vigente no meio
civil e o comerciante. Nem no Código Civil nem no Comercial vigentes ou no novo Código
Civil encontramos parâmetros claros para a diferenciação. E esta, não se discute, tem
críticas, pois cada um dos critérios desenvolvidos pelos juristas tem seus defeitos e merece
ressalvas, sabemos que nenhum dos métodos de identificação da iniciativa civil ou comercial
O termo mercancia é antiquado, pois nada define e não serve de parâmetro claro
não concluem pela definição objetiva do que seja matéria de comércio. Diz-se, comumente,
que o comerciante é aquele que faz da mercancia sua profissão habitual. Pouco informa o
conceito, posto que considera mercancia o exercício de uma profissão. Então mercancia seria
a prática habitual de determinados negócios. Mas não diz que negócios seriam esses. Melhor
seria que o legislador de 1850 tivesse dito que o exercício da empresa caracterizaria a
época, sendo portanto incabível exigir-se tal refinamento e clareza no vetusto Código
Comercial de 1850. Interessante é a exposição crítica de Wille Duarte Costa, para quem os
conceitos de mercancia e ato de comércio não se confundem, mas criam confusão e nada
esclarecem.50
essa definição, conclui que a omissão do Código Comercial quanto ao conceito de mercancia
foi suprida pelas disposições do art. 19 do Regulamento 737. Assim o fazendo, tendeu à
50
COSTA, Wille Duarte. A possibilidade de aplicação do conceito de comerciante ao produtor rural, p. 80.
51
MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro, v. I, p. 451.
41
atividades são consideradas como mercancia, sem contudo conceituar o que seja essa última.
olvidar, reiteramos, que o Regulamento 737 de 1850 não conceituou a mercancia, apesar de
descrever fatos considerados como atos de comércio. Seguindo o sistema objetivo, dispôs:
comerciantes. Não se pode generalizar a todos a profissão de comerciante, apenas com fulcro
na enumeração legal dos atos de comércio. Afinal, muito mais que atos civis, os atos
mercantis são freqüentes na vida cotidiana. A todo momento o homem compra alguma coisa,
emite cheque ou aceita duplicata para o pagamento de suas transações. Despacha mercadorias
ou interesses. Adquire passagem terrestre, marítima, aérea. Utiliza meios de transporte. Nem
por isso, contudo, o homem comum se transforma em comerciante, podendo gozar da lei
relevante para caracterização do comerciante. Não basta a prática da mercancia. Para ele, “do
confronto no entanto do disposto no art. 1o, com o consignado no art. 4o, se pôde configurar o
42
profissão habitual, deve o agente achar-se na livre administração de sua pessoa e bens,
de critérios para definição do comerciante regular. O comerciante de fato, ainda que não
administração de seus bens, pode fazer da mercancia sua profissão habitual. Exigência
tolerável há cinqüenta anos, hoje o Direito Comercial se depara com situações novas, sendo
comércio não se sustenta, como assevera Carvalho de Mendonça. Para o autor, se uma
outro, não se pode admitir o bifrontismo do ato. O Direito Comercial Brasileiro estabelece “o
subjetivo, pois o legislador quis, propositadamente, afastar-se do direito francês nessa parte:
52
FERREIRA, Waldemar. Tratado de direito comercial: O estatuto do comerciante, v. 2, p. 25.
53
MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro, v. I, p. 453.
43
A teoria dos atos de comércio e, por conseqüência, o sistema objetivo perdem sua
importância com o advento do novel Código Civil Brasileiro. Quando trata do Direito de
referência ao termo no art. 968, quando estabeleceu critérios para a inscrição do empresário,
sem contudo defini-lo previamente. Isso porque, apesar de freqüentes menções da expressão
Mas também não abordou, ou sequer mencionou, a prática de atos de comércio para
de diferenciar a iniciativa civil da mercantil, passando a tratar de ambas sob um mesmo signo:
54
BORGES, João Eunápio. Curso de direito comercial terrestre, v. 1, p. 154.
44
qualificação do comerciante. Não mais sendo o direito dos comerciantes, mas sim o direito
para o Direito Comercial a conceituação e delimitação da mercancia, tema que jamais foi
Assim, seria comerciante aquele que praticasse determinados atos reputados comerciais. Essa
comercialidade, contudo, surge apenas da vontade do legislador. Aí o seu defeito, pois os atos
que o ato de comércio se conceitua como uma “manifestação jurídica da atividade econômica
55
COMPARATO, Fábio Konder. Novos ensaios e pareceres de direito empresarial. Rio de Janeiro: Forense,
1981, p. 251.
45
legislador uma relação de atos que reputa mercantis. Essa enumeração, contudo, não
muitas vezes, dispensando o auxílio dos juristas, o legislador, sem técnica ou critério
científico, compõe relações esdrúxulas e sem a mínima coerência, legando aos aplicadores da
não há critério para tais exceções, ficando o legislador com o poder discricionário de, ao seu
bel-prazer, mencionar as situações que não se enquadram na regra geral. Novamente, por
defeito nas redações, têm os juristas a inglória tarefa de compreender a vontade – política, na
objetiva, prefere a doutrina, na sua maioria, incentivar o estudo de outros métodos, a fim de
Pela teoria subjetiva, não mais tem importância o estudo dos atos de comércio. O
conceito deste para se construir o estudo científico da matéria. Decorre dessa concepção
56
SOUZA, Ruy de. Direito das empresas – Atualização do direito comercial. Belo Horizonte: Bernardo Álvares,
1959, p. 129.
46
Critica a teoria o eminente Prof. João Eunápio Borges, para quem o direito
comerciantes.57
trabalho artesanal e a atividade industrial cuja exploração não seja considerada como
atividade comercial, nos termos do art. 1o) e conclui que negócios comerciais são os negócios
de um comerciante.
claramente o comerciante, considerando que será “todo aquele que exerce uma profissão
praticados por comerciante, na exploração de seu comércio, está jungida ao panorama político
subjetivista, pois tais atos só são comerciais porque praticados pela pessoa do comerciante.
eram elencados vários atos de comércio no art. 3o. O exercício reiterado e freqüente de
mencionados atos faziam da atividade de quem os exercia sua profissão. Mas a lei se abstinha
57
BORGES, João Eunápio. Curso de direito comercial terrestre, v. 1, p. 147.
58
Handelsgesetzbuch – Código Comercial Alemão.
47
de definir os atos de comércio, fazendo apenas uma enumeração dos que assim considerava.
Com a reforma de 1942, o Código deixa de se ocupar dos atos e passa a relevar o
Código Civil Italiano, aquele que exercita profissionalmente uma atividade econômica
comerciante (empresário, na orientação moderna italiana, sem razão criticada por Waldemar
59
“2082. (Imprenditore) É imprenditore chi esercita professionalmente uma attività economica organizzata al
fine dellaproduzione o dello scambio di beni o di servizi.”
60
“Mudou o Código Civil de 1942 o nome do comerciante. Batizou-o de imprenditore, ou seja empresário.
Deixou-se o legislador, como era correntio na época do fascismo, seduzir pelo prestígio do vocábulo, em sua
expressão oral. É empresário quem exercita profissionalmente uma atividade econômica, organizada para os fins
da produção ou de escambo de bens e serviços. Di-lo o art. 2. 082. Poder-se-ia divisar, em face dessa definição,
no imprenditore, expressão genérica, a compreender o produtor e o comerciante, embora não pudesse fazer
desaparecer sua função histórica, social e política.” (FERREIRA, Waldemar. Tratado de direito comercial: O
estatuto do comerciante, v. 2, p. 21).
61
Naturalmente lo stabilire se si trata di una attività professionale o invece di un’attività occasionale, può in
pratica presentare notevoli difficoltà.
Per professione si intende un costante e normale indirizzo della propria attività, ma naturalmente la ricorrenza
di questi elementi deve essere fissata non in astratto, ma in concreto e cioè con riferimento alle diverse attività
pratiche, le quale possono avere un diverso ciclo di svolgimento, essere continuative o invece stagionali o
periodiche. (FERRI, Giuseppe. Manuale di diritto commerciale. A cura di Carlo Angelici e Giovanni B. Ferri.
10. ed. Torino: Unione Tipografico-Editrice Torinese, 1997, p. 45-46.)
48
a falta de rigor, no entanto, só nos permite admitir que a teoria subjetiva não
resolve inteiramente o problema, tal como a teoria objetiva. Ela é também
insatisfatória, porque, exteriorizando-se para muitos a profissão mercantil na
compra e venda como atividade fundamental para sua caracterização, como
se a profissão fosse apenas a prática de tal atividade, a maioria dos autores
procura ver no comerciante aquele que se interpõe entre o produtor e o
consumidor. Ressalta-se a mediação, que muitos julgam ser a única a
explicar a atividade do comerciante. Exame dessa forma não pode chegar a
solução alguma, já que só permite ver um aspecto ou uma parte do
problema.62
exercício de determinados atos pouco acrescenta, pois o ato mercantil em nada difere do ato
civil, além, é claro, da sua prática reiterada e de forma profissional, com intuito lucrativo.
caracterização do comerciante, pois quem reiteradamente compra bens para seu consumo,
como livros para sua biblioteca particular, evidentemente, não será comerciante. Georges
Ripert63 considera que o comerciante busca proveito pecuniário, devendo, além do mais,
pratica atos de comércio, traduz uma simplificação estéril, que não nos permite tecer um
conceito próprio e suficientemente claro. O Direito Comercial deve fugir dessa simplificação,
pois não obteve êxito na conceituação também dos atos de comércio, dizendo que são os
praticados por comerciantes, na concepção subjetiva, simplória e que não é suficiente para
conceituar o comerciante genericamente, precisando particularizar seus atos para obter êxito
na empreitada.64
62
COSTA, Wille Duarte. A possibilidade de aplicação do conceito de comerciante ao produtor rural, p. 97.
63
RIPERT, Georges. Tratado elemental de derecho comercial. Trad. Felipe de Solá Cañizares. Buenos Aires:
Tipográfica Editora, 1954. v. I, p. 108.
64
A doutrina também discute e desenvolve as teorias do ato acessório e do ato misto. Para a primeira, o ato que
tivesse a mínima conexão com atos de comércio também seriam assim considerados e, por conseqüência,
sujeitos à lei mercantil. A segunda teoria desenvolve o raciocínio de que o ato praticado entre um comerciante e
49
Em 1902, Heck publicou sua teoria, segundo a qual o Direito Mercantil é aquele
doutrina fundada no conceito econômico de comércio, graças à extensão das atividades e fatos
água mineral, construtores e incorporadores, mineradoras, todos estes estão sujeitos às leis do
comércio, apesar de fugirem à noção econômica de comerciante, como sendo aquela pessoa
Essa doutrina, contudo, sofre várias críticas, pois toma-se por base a empresa em
ganhos ilimitados”.65 Este instituto, perfeitamente definido no plano econômico, carece ainda
de satisfatória conceituação jurídica. Além do mais, empresas há que não estão incluídas no
um não-comerciante seria regida por duas jurisdições. O comerciante teria de acionar o não-comerciante no juízo
civil. Este, ao contrário, teria de ingressar no juízo comercial. Ambas perdem a importância no direito nacional,
seja porque o direito comercial exerce uma força atrativa (vis atractiva) sobre tais atos, submetendo-os a sua
jurisdição, seja porque o legislador brasileiro não adotou o sistema objetivo de caracterização do comerciante,
seja porque os Tribunais de Comércio deixaram de existir desde o final do século XIX, seja ainda porque a
recente unificação da legislação civil e comercial acabou por completo com a dicotomia (jurisdicional) do direito
privado. Tais teorias nos parecem irrelevantes para os objetivos propostos, servindo apenas para alimentar
discussões acadêmicas, históricas ou comparativas.
65
GARRIGUES, Juaquín. Tratado de derecho mercantil. Madrid, I, 1, p. 28, apud MARTINS, Fran. Curso de
direito comercial. 22. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 27.
50
âmbito do direito comercial, razão por que este não pode ser enxergado genericamente como
lícita.66
prática dos atos. Exemplo disso são os profissionais liberais, advogados e médicos, que, no
exercício de sua atividade profissional, praticam a empresa sob a ótica econômica, mas não do
ponto de vista jurídico. Estes não transferem seus conhecimentos no decorrer do exercício de
seus atos. Há, para estes profissionais, a aplicação de suas noções científicas na consecução de
objetivos. Nem por isso, contudo, estão transferindo a seus clientes o conhecimento adquirido
estabeleceu que não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza
66
AULETTA, Giuseppe. SANALITRO, Niccolò. Diritto commerciale. 12. ed. Milão: Giuffrè, 2000. p. 14-17.
51
caracterização efetiva do empresário. Deve ser assim caracterizado aquele profissional que
pratica atos em massa, buscando satisfazer ou suprir o mercado com seus produtos ou
O médico, por exemplo, aplica em seus pacientes diversos produtos – dentre eles
profissão. Só que não transfere ao paciente o conhecimento técnico fundamental para sua
prática profissional. Portanto, ainda que tenha aplicado um montante significativo de bens
científico – não foi transferido ao cliente. Portanto, a preponderância de sua atividade não é a
profissional foi o conhecimento técnico, e este não foi transmitido ao paciente. Sua atividade
empresa são exercidas várias práticas de natureza civil ou comercial, deve-se buscar a que
atividade como civil ou mercantil. Estas, como o próprio nome diz, são acessórias da
principal, servindo apenas para fornecer meios de consecução do objetivo principal do agente
econômico. Disse Wille Duarte Costa, em sua tese de doutoramento, num raciocínio que,
como concluiremos adiante, não espelha a realidade dos clubes que exploram o esporte
67
COSTA, Wille Duarte. A possibilidade de aplicação do conceito de comerciante ao produtor rural, p. 113.
52
o intuito de lucro, mesmo porque este não é elemento fundamental da empresa, no sentido
jurídico. É verdade que a empresa mercantil busca o lucro. Mas também a atividade civil
de serviços. Com digressões obscuras e confusas, não define claramente o que seja empresa
nem esclarece qual será o objeto da sociedade simples. Consagra, no entanto, novas e claras
das sociedades.
Capítulo 4
DO EMPRESÁRIO
era pouco abrangente, a doutrina alargou o seu conceito, passando a abordar numa mesma
sinônimas.
melhor seria que também seu sujeito deixasse de ser apenas o comerciante. Muito mais
importante para a vida econômica da sociedade, empresário é um termo que prevê não só a
noção de comerciante como aquele que pratica atos de comércio, mas também o
68
Segundo Waldírio Bulgarelli, empresarialidade é o “termo que utilizamos para exprimir numa idéia geral e
abstrata aquilo que é próprio da empresa. e isto, certamente, por influência da doutrina italiana, que utiliza,
contudo, a expressão genérica imprenditorialità; não estando ausente a inspiração da doutrina alemã, que, por
força das próprias características do idioma, sói utilizar expressões assim genéricas e abstratas.”
(BULGARELLI, Waldírio. Tratado de direito empresarial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1995. p. 23, n. 42.)
54
poderia ficar fora do Direito. Em decorrência do que a empresa não teria lugar no Direito
Comercial, pois este se basta com a trilogia ‘empresário, atividade econômica organizada e
estabelecimento’ – aliás, como se deu conta, com sagacidade, uma vasta corrente
doutrinária.”69
O novel Código Civil Brasileiro trata, inclusive, no seu Livro II, do Direito de
críticas, preferimos agradecer-lhe por evitar conceituar tão discutido e importante tema para o
Direito Comercial. É melhor que caiba à doutrina, e não ao legislador, atribuir conceitos a
institutos jurídicos. Quando o faz, salvo raras exceções, o legislador cerceia o pensamento
livre dos pensadores do Direito, coibindo (senão impedindo) o desenvolvimento das noções
teóricas e dos institutos jurídicos. Kelsen diferencia norma e enunciado, lição que podemos
falência. Quando editou a lei falimentar, o legislador brasileiro dispôs no art. 1o do Decreto-
Lei n. 7661/45 que se considera falido o comerciante que não paga no vencimento obrigação
líquida, constante de título que legitime a ação executiva, sem relevante razão de direito.
Quando assim caracterizou o estado de falência, o legislador incorreu em pelo menos dois
Se em 1945 a definição legal poderia bastar (sabe-se, na verdade, que não bastava...), os fatos
falência e por isso proporcionaram enormes danos a seus credores. O setor de serviços, que
não exerce ato de comércio na sua essência, pode, facilmente, provocar prejuízos e arrastar
consigo à bancarrota seus credores. Exemplo disso é que, durante muitos anos, questionou-se
intermédio da lei o fato de o dispositivo legal considerar falido o comerciante que, sem
relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida e certa. Ora, a doutrina
Insolvável é quem não tem capacidade econômica para solver suas dívidas. O
estado econômico prescinde da vontade do devedor. Estar inadimplente não induz em estar
incapacitado para suportar seus pagamentos vencidos. Pode o devedor deixar de pagar suas
obrigações no vencimento sem que isso traduza um estado econômico de difícil reversão, este
sim caracterizador do estado de falência. Insolvável é quem deve, mas não pode pagar;
insolvente (ou inadimplente), é quem deve e não quer adimplir. São situações diferentes, mas
o legislador preferiu o estado imediato para caracterizar o falido. Assim, retirou ou propiciou
71
Apud ÁLVARES, Walter T. Direito falimentar. 5. ed. São Paulo: Sugestões Literárias, 1973. p.63.
56
legislador de tratar especificamente sobre essa. Sabe-se, contudo, que o fenômeno econômico
da empresa não se deve adequar, forçosamente, ao seu sentido jurídico, posto que ela é, antes
empresa sob a ótica jurídica, em seu artigo Profili dell’impresa, elaborou quatro perfis.
Justamente por falta de definição legislativa na unificação italiana de 1942, seu estudo adquire
contorno importante e pode facilmente ser tomado emprestado pela doutrina nacional para a
para o professor italiano, o chamado “perfil subjetivo”. Daí decorre a idéia de que o
de lucro, contudo. Wille Duarte Costa critica a elaboração,73 pois não se pode conceber que a
empresa figure como sujeito de direito. É, pois, o empresário quem responde pessoalmente
72
“Entre nós, excluída a insolvabilidade das instituições financeiras e sociedades seguradoras, tradicionalmente
submetidas ao regime de liquidação administrativa forçada, o direito falimentar é pobre em distinções quanto à
qualidade ou importância social das empresas insolváveis.” (COMPARATO, Fábio Konder. Direito empresarial.
São Paulo: Saraiva, 1995, p. 15)
73
COSTA, Wille Duarte. A possibilidade de aplicação do conceito de comerciante ao produtor rural, p. 137.
57
decorrentes.
de praticar uma série de atos jurídicos. Seria a própria atividade econômica em pleno
desenvolvimento.
especial distinto pela sua finalidade, voltado para o exercício da atividade econômica
proposta. Este patrimônio, contudo, não se confunde com o estabelecimento (azienda), apesar
de os autores nacionais terem identificado a empresa, por este perfil, como sinônimo de
estabelecimento.74
Por último, Asquini trata do perfil corporativo, segundo o qual a empresa adquire
interesse individual deste funde-se com o daqueles, criando o fim comum buscado pela
Diz, afinal, o autor italiano que o Direito não consegue abraçar e dominar o
fenômeno econômico da empresa, uma vez que nela se expressam vários aspectos importantes
azienda, conclui Alberto Asquini seu estudo sem traçar, de forma clara e definitiva, um
Washington Albino Peluso de Souza, Valeri e Endemann; aqueles que defendem a empresa
74
Nesse sentido, podemos citar BULGARELLI, Waldírio. Tratado de direito empresarial, p. 23; ABRÃO,
Nelson. A continuação do negócio na falência. 1975 (Tese (Livre-docência). Faculdade de Direito da USP –
São Paulo, p. 12.
58
como um direito incorpóreo, cujo maior expoente é Francesco Messineo; Cesare Vivante,
Saleilles, Bekker, Winscheid, Wilson de Souza Campos Batalha e outros entendem que a
empresa é uma universalidade; Francesco Ferrara, Rotondi, Guarrigues, Pisko e outros são
estabelecimento, sem os quais a empresa não teria existência; segundo a teoria atomista,
defendida por Sylvio Marcondes, Fran Martins, Fábio Ulhôa Coelho e outros, contrária à
próprios da “instituição”, teoria também admitida por Van Ryn; Asquini identifica a empresa
interpreta Santi Romano, considera-a uma instituição social, isto é, um complexo de relações
empresa como a “complexa situação jurídica ativa que tem por objeto o empreendimento e
por conteúdo o direito de gestão desse empreendimento (ou seja, o direito à empresa)76”;
outros autores, como Graziani, Ascarelli e Messineo, relevam que o legislador, definindo o
75
Cf. Wille Duarte Costa (A possibilidade de aplicação do conceito de comerciante ao produtor rural, p. 149),
que também não conceitua a empresa.
76
Complessa situazione giuridica attiva che ha per oggetto l’azienda e per contenuto il diritto di gestione di
essa (c. d. diritto all’impresa). (FIALE, Aldo. Diritto commerciale. 9. ed. Napoli: Edizione Simone, 1994, p.
19.)
59
Aldo Fiale sistematiza as teses acima e conclui que o legislador italiano preferiu
Para Ruy de Souza, a empresa é atividade, sendo portanto objeto, e não sujeito, do
Direito Comercial:
77
“Conseguenzialmente, partendo dal presupposto che l’imprenditore è il titolare dell’impresa, quest’ultima può
definirsi come l’attività economica organizzata dall’imprenditore e da lui esercitata professionalmente al fine
della produzione o dello scambio di beni o di servizi.
Da tale definizione si evince che l’impresa non può considerarsi né come soggetto, né come oggetto di diritto, né
come istituzione (Santi Romano), né può identificarsi con l’azienda; essa costituisce invece un’attività
organizzata, o meglio ancora un’attività di organizzazione dei fattori produttivi. ...
Non si deve però dimenticare che il legislatore ha, altresì, preferito astenersi dal fornire uma definizione troppo
rigida di alcuni istituti fondamentali del sistema (come l’impresa e la proprietà), che – essendo in contitua
evoluzione – mal si prestano a cristallizzazioni definitive.” (FIALE, Aldo. Diritto commerciale, p. 19.)
60
conceito jurídico de empresa, pois não vê êxito na empreitada. Em suas digressões, conclui
ser a empresa um organismo econômico, que combina os fatores natureza, capital e trabalho,
buscando sempre a produção ou circulação de bens ou serviços, sendo sujeito dessa atividade
78
SOUZA, Ruy de. Direito das empresas – Atualização do direito comercial. Belo Horizonte: Bernardo Álvares,
1959, p. 299.
79
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. Atual. por Rubens Edmundo Requião. 24. ed. São Paulo:
Saraiva, 2000. v. 1, p. 49.
80
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial, v. 1, p. 50.
81
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial, v. 1, p. 50.
61
82
Questi organismi economici, che si concretano nella oranizzazione dei fattori della produzione e che si
propogono il soddisfacimento dei bisogni altrui e più precisamente delle esigenze del mercato generale,
assumono nella terminologia economica il nome di imprese. (FERRI, Giuseppe. Manuale di diritto
commerciale. A cura di Carlo Angelici e Giovanni B. Ferri. 10. ed. Torino: Unione Tipografico-Editrice
Torinese, 1997, p. 35.)
83
Dal punto di vista giuridico, l’impresa assume rilevanza soltanto per ciò che tocca la sfera giuridica di altri
soggetti e diversi possono essere i profili, sotto i quali questa rilevanza si determina. Così l’impresa viene in
considerazione:
a) anzitutto, in quanto essa è espressione dell’attività dell’imprenditore. L’esercizio di questa attività, come
quello di ogni altra, viene assoggettato a precise norme, le quali pongono particulari obblighi o prevedono
in determinate situazioni particulari effetti o subordinano l’esercizio dell’impresa a determinate condizioni
o presupposti o li circondano di particolari garaznie.
A questa categoria di norme appartengono le disposizioni sulle imprese commerciali e sulle altre imprese
soggette a registrazione (artt. 2188-2221 cod. civ. ); le disposizionei sul fallimento, amministrazione controllata
ecc. (R. D. 29 marzo 1942, n. 267); le norme per la tutela della concorrenza e del mercato poste con la legge 10
ottobre 1990, n. 287); la disposizione dell’articolo 2084 cod. civ., la quale trova i suoi sviluppi in uma ampia
serie di leggi speciali, tra le quali tradizionalmente si segnalano quelle concernenti le imprese assicurative e le
imprese bancarie, più in generale ora le imprese operanti nel mercato finanziario;
b) in secondo luogo, in quanto in essa si concreta la idea creativa dell’imprenditore alla quale la legge
intende apprestare tutela. A questo profilo si ricollegano le disposizioni sulla repressione della concorrenza
sleale (artt. 2598-2601 cod. civ. ); le disposizioni sulla tutela dei segni distintivi (artt. 2563, 2568, 2569 cod.
civ. ); le disposizioni sui brevetti industriali (artt. 2584-2594 cod. civ. );
c) in terzo luogo, in quanto attraverso la organizzazione di determina uma combinazione di cose in funzione
dell’unitarietà della destinazione economica, dalla quale deriva l’applicazione di particulari princìpi. A
questo profilo si ricollegano le nrome sull’azienda e sul trasferimento della titolarità o della gestione di
essa (artt. 2555-2562 cod. civ. );
d) infine, in quanto nell’ambito della organizzazione economica si realizza uma formazione sociale nella
quale collaborano imprenditore e lavoratori e nella quale i rapporti tra l’uno e gli altri assumono uma
particolare conformazione, per cui non soltanto il lavoratore, nella esplicazione della sua atività, è tenuto
all’osservanza di determinate regole, ma lo stesso imprenditore deve informare la sua azione a determinate
direttive fondamentali. A questo profilo si ricollegano da un lato le disposizioni che prevedono
l’applicazione del principio gerarchico nell’ambito dell’impresa (art. 2086 cod. civ. ), che prevedono
l’applicazione di sanzioni disciplinari a carico del lavoratore in caso di inosservanza dei suoi doveri (art.
2106 cod. civ. ); d’altro lato le disposizioni contenute nello statuto dei lavoratori (legge 20 maggio 1970, n.
300) a tutela della libertà e della dignità del lavoratore e della sua libertà sindacale, nonché a tutela
dell’attività sindacale, e in via programmatica le disposizioni dell’art. 46 della Costituzione che prevede la
collaborazione dei lavoratori alla gestione dell’impresa.
In tutte le norme sopra richiamate la nozione d’impresa è presupposta: la legge fa riferimento a quella nozione
che è nella realtà sociale, limitandosi a coblierne gli aspetti rilevanti per il diritto, salvo naturalmente a porre
62
Wille Duarte Costa, em sua tese de doutoramento, cita e critica Wilson de Souza
Para Enneccerus, empresa não é sujeito nem mesmo objeto do direito, sendo
assim definida:
nelle singole norme i presupposti specifici della loro applicazione. (FERRI, Giuseppe. Manuale di diritto
commerciale, p. 38).
84
Di fronte a questa pluralità di prospettive dalle quali il fenomeno può essere riguardato, più che di una
nozione giuridica di impresa è opportuno parlare di profili giuridici della impresa economica ed è opportuno
rilevare che, se questi profili giuridici possono essere diversi, essi tuttavia non costituiscono che diversi aspetti
di un único fenomeno economico-sociale: l’impresa. (FERRI, Giuseppe. Manuale di diritto commerciale, p. 40.)
85
COSTA, Wille Duarte. A possibilidade de aplicação do conceito de comerciante ao produtor rural, p. 128.
63
sobre a empresa.86
O Código Civil de 2002 não conceitua a empresa. Diz apenas que a sociedade
pode ser caracterizada como a pessoa jurídica organizada, por meio de um contrato, para o
percorrido enorme caminho se tivesse conseguido esse conceito. Entendemos porém ser
despiciendo para nossos propósitos. Preferimos, apenas, guardar a noção de empresa como o
exercício regular, constante e organizado de atividade que busca finalidade econômica. Ou,
sociedade para a consecução do fim a que se propõe. Essa vontade será, por disposição legal,
ou de fato.
86
I. La empresa (negocio mercantil, negocio, cf. §§ 112, 1. 367, 1. 405; C. com. §§ 20 y 22) es la suma de cosas,
derechos y circunstancias de hecho (probabilidades, goodwil) combinados al través de un sujeto de derecho
(empresario) en una unidad de organización.
II. La empresa se aproxima al patrimonio separado por la circunstancia de no tratarse del objeto de un derecho,
sino de un conjunto de derechos. Pero este concepto es más amplio que el del patrimonio separado por cuanto a
la empresa pertenecen también las oportunidades (la clientela, el renombre, los secretos del negocio, la buena
organización, la propaganda, etc. ) que constituyen precisamente la esencia y el valor de la empresa. Una suma
de derechos sólo puede constituir un patrimonio, pero no una empresa. Pero, por otro lado, la empresa es
menos ventajosa que la posición jurídica del patrimonio separado, pues a favor del empresario individual no
tiene lugar una separación jurídica de su patrimonio particular, pudiendo dirigirse los acreedores tanto contra
éste como contra el patrimonio de la empresa. No se reconoce un concurso especial sobre la empresa.
(ENNECCERUS, Ludwig. Tratado de Derecho Civil. Parte General. Volumen primero. Traducción de la 39.
Edición Alemana por Blas Pérez González y José Alguer. 2. ed. Barcelona: Bosch, p. 604.) Atualizando o
magistral Tratado alemão, González e Alguer assim se manifestam:
I. El concepto jurídico de empresa mercantil ha sido recientemente determinado por nuestra jurisprudencia,
pues, según la S. de 23 marzo 1946, a falta de su definición en la legislación vigente, ha de recurrirse a la
doctrina de las Sentencias de 13 de marzo y 3 de mayo de 1943 y 7 de diciembre de 1945, en las cuales se
establece que son sus elementos integrantes ‘el trabajo’, ‘el capital’ y ‘la organización’ de ambos, a los fines de
producción económica, el último de duyos elementos, o sea, la organización es el verdaderamente esencial para
que el conjunto de bienes y de trabajo tenga el carácter de empresa mercantil, con valor económico en su
conjunto, superior a la suma de los factores singulares que la componen y cuya responsabilidad en orden al
éxito o fracaso de la empresa es exclusivamente del empresario, por lo que es el elemento al que principalmente
se atiende en los negocios jurídicos que tienen por objeto la empresa mercantil. (ENNECCERUS, Ludwig.
Tratado de derecho civil. Parte general. Traducción de la 39. Edición Alemana por Blas Pérez González y José
Alguer. 2. ed. Barcelona: Bosch, v. 1, p. 605.)
Capítulo 5
PERSONIFICADA
ou de fato, deixando para a doutrina a responsabilidade pela elaboração dos conceitos, efeitos
união de seus esforços sem se preocupar em observar regras exteriores. O que lhes importava
indústria. Daí surgiram os primeiros diplomas legais relativos à atividade societária, nos
65
diversos povos. Scialoja noticiava, ainda no período medieval, o surgimento das primeiras
sociedades, que depois se chamaram em nome coletivo. Florença, entendia também Ageo
Arcangeli, pode ser considerada a pátria natural deste modelo societário. De fato, os
Eduardo Goulart Pimenta.88 Por causa dessa orientação, os diversos ordenamentos que se
a fim de evitar digressões extensas e prolixas, podemos encontrar quem entendia que a
personificação do ente.89
87
FERREIRA, Waldemar. Tratado de direito comercial – O estatuto da sociedade de pessoas. São Paulo:
Saraiva, 1961, v. 3, p. 166.
88
PIMENTA, Eduardo Goulart. Considerações sobre a personalidade jurídica das sociedades comerciais
irregulares. Revista da Faculdade Mineira de Direito, Belo Horizonte, v. 3, n. 5 e 6, p. 53, 1o e 2o sem. 2000.
89
Carvalho de Mendonça relata a pulsante divergência doutrinária acerca da personalização jurídica das
sociedades comerciais, no seu Tratado de direito comercial brasileiro. 1958, v. III, p. 77.
66
pacifica, entendendo ser a sociedade um negócio jurídico, celebrado por duas ou mais
jurídico pelo qual duas ou mais pessoas se obrigam mutuamente a somar esforços e recursos
se obrigam a combinar seus esforços ou recursos, para lograr fins comuns de natureza
comercial”.92
comercial, estudada por Vivante, Manara, Marghieri, Navarrini, Bonelli, Ferrara, De Semo,
dentre outros, mencionando que havia discussão entre os escritores, para os quais certas
90
Dispõe o Código Civil de 1916, no art. 1363: “Celebram contrato de sociedade as pessoas que mutuamente se
obrigam a combinar seus esforços ou recursos, para lograr fins comuns.” A Lei 10. 406/2002 (novo Código
Civil) mantém a mesma proposta conceitual, no art. 981: “Celebram contrato de sociedade as pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a
partilha, entre si, dos resultados.”
Nota-se que o legislador não tratou, em nenhum dos textos legais, da responsabilidade pelos prejuízos. Porém, ao
prever a partilha dos resultados, outorga ao sócio a responsabilidade pelo resultado negativo. Nesse sentido,
veja-se MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro, v. III, 5, p. 14 e nota n. 2.
91
GOMES, Orlando. Contratos. Atualização e notas de Humberto Theodoro Júnior. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1999, p. 393.
92
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial, 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 329.
67
Como ensina Giuseppe Ferri, a sociedade é uma organização ativa, que se propõe
à realização de um objetivo. Não se contenta com a obtenção de frutos. Busca, através de sua
no art. 287 ser da essência das companhias e sociedades comerciais que o objeto e fim a que
se propõem sejam lícitos, e que cada um dos sócios contribua para o seu capital com alguma
indústria, para adiante aduzir que o contrato de qualquer sociedade comercial se prova por
escritura pública ou particular, cujo teor deve ser lançado no Registro de Comércio onde se
houver estabelecido.
O Código Civil de 1916, que vigorou desde o início do século XX, dissipou todas
as dúvidas sobre a personalização da sociedade mercantil quando enumerou, no art. 16, dentre
mercantis; III – os partidos políticos. Previu, contudo, no § 2o, para as sociedades mercantis, a
93
RUGGIERO, Roberto de. Instituições de direito civil. Tradução da 6. ed. italiana, com notas remissivas aos
Códigos Civis Brasileiro e Português pelo Dr. Ary dos Santos. São Paulo: Saraiva, 1957. v. I: Introdução e parte
geral; direito das pessoas, p. 499-500.
94
FERRI, Giuseppe. Manuale di diritto commerciale, p. 236.
68
personalidade jurídica. O Código Comercial de 1850 realmente não tratou do assunto, mas o
Estatuto de 1916 veio acabar com as dúvidas acerca do tema, dispondo, no art. 16, sobre a
jurídicas de direito privado, ao lado das sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas
especial das sociedades comerciais, dispondo que estas continuam regidas pelas leis
comerciais. Adiante, no art. 18, estabelece que a existência legal das pessoas jurídicas de
direito privado inicia-se com a inscrição de seus contratos, atos constitutivos, estatutos ou
Regra semelhante é reproduzida no Código Civil de 2002, que dispõe, no art. 44,
sua existência legal verificada no momento de sua inscrição no registro competente, pelo
alterações por leis esparsas, seja modificando em grande parte o direito de família, seja
buscando a reforma dos vetustos Códigos. Dentre os mais destacados – motivo de orgulho
para nossa cultura jurídica –, citamos o Projeto de Orlando Gomes, de 31 de março de 1963, e
o Código das Obrigações de Caio Mário da Silva Pereira, em 25 de dezembro do mesmo ano.
legislação comercial, com a revogação do mais antigo Código em vigor no país –, nomeou-se,
em 1969, pelo então Ministro da Justiça, uma comissão encarregada de elaborar um novo
código. Dessa comissão, cuja supervisão ficou a cargo de Miguel Reale, surgiu em 1972 um
Agostinho de Arruda Alvim (direito das obrigações), Sylvio Marcondes (atividade negocial),
Ebert Vianna Chamoun (direito das coisas), Clóvis do Couto e Silva (direito de família) e
Torquato Castro (direito das sucessões). Após recebidas inúmeras emendas, o Anteprojeto foi
publicado em 1973.
1975, transformado no Projeto n. 634. Em 17 de maio de 1984, com algumas alterações, foi
Sob muitos aspectos ultrapassado,95 a história política do País não permitiu que
das discussões acerca do já antiquado Projeto n. 634/75. Novamente, o Prof. Miguel Reale foi
chamado a estudar o projeto, desta vez acompanhado do Ministro José Carlos Moreira Alves.
Com as constantes modificações políticas pelas quais passou o país, dentre elas a realização
95
O Prof. Sylvio Marcondes defende que o Código Civil não pretendeu inovar: “Com esse espírito, com essa
preocupação de sistematicidade da matéria, é que o Projeto só acolheu, como Projeto de Código que é, aquilo
que já está sedimentado no ordenamento jurídico brasileiro: na lei, na jurisprudência, na doutrina ou na prática.
Não se trouxe para dentro do Projeto nenhum experimento, mas sim a experiência do passado, sem nenhuma
tentativa de inovações estranhas.” (Exposição de Motivos – Diretrizes fundamentais, “i”, n. 4, p. 109 do
Suplemento, Diário do Congresso Nacional de 10/4/76.)
70
prejudicados, só sendo possível a aprovação tão ansiada da reforma do Código Civil em 2002,
essencialmente técnicos, que permanecem com a mesma redação ou, por vezes, têm
caráter civil das mercantis. Mantendo a coerência sobre o tema, o novel Código Civil não
propõe qualquer dicotomia na matéria societária, pondo fim, pelo menos em termos
demonstrará. De qualquer forma, é essa a legislação civil que nos guiará no século XXI.
Logo no art. 44, o novo texto enumera as pessoas jurídicas de direito privado. Ali,
mercantis.98
96
Disponível em: http://www.fugpmdb.org.br/c_cidada.htm. Acesso em 5/5/2003.
97
Disponível em: http://www.arquivonacional.gov.br/memoria/crapp_site/presidente.asp?rqID=31. Acesso em
5/5/2003.
98
Entendemos, entretanto, permanecer a dicotomia, posto que o objeto da sociedade é que determinará sua
natureza. Essa diferenciação é de suma importância para digressões acerca da possibilidade de falência ou
71
Atualizando o novo Código Civil, a Lei n. 10.406/02, no art. 981, assim dispõe
A definição legal pátria toma emprestada a lição germânica, que define o contrato
sociedade, portanto sujeita ao regramento contido na legislação civil. Além do mais, continua
o mestre, “sobreleva notar que, surgindo do contrato a personalidade jurídica das sociedades,
concordata da sociedade civil, fato à primeira vista possível, tendo em vista a ausência de diferenciação da
norma legal. Não é, no entanto, o que deverá prevalecer. O instituto falimentar é inerente ao comerciante, tendo
em vista a natureza de sua atividade. Sobre o tema, voltaremos à discussão adiante.
99
Art. 705 – Por el contrato de sociedad se obligan los socios recíprocamente a procurar la consecución de un fin
común en la forma determinada en el contrato, en especial a realizar las aportaciones pactadas. (Alemanha:
Código Civil Aleman. Traducción directa del alemán al castellano acompañada de notas aclaratorias, con
indicación de las modificaciones habidas hasta el año 1950, por INFANTE, Carlos Melon. Barcelona: Bosch,
1994, p. 145. )
100
MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro, v. III, p. 8.
101
MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro, v. III, p. 14.
72
participação social, buscando um objetivo comum, desde que os atos constitutivos e livros
exercida.
Importante tema a ser discutido com o advento do novo Código Civil Brasileiro é
o que diz respeito à sociedade em comum. Os dispositivos legais contidos nos arts. 986 a 990
que a doutrina muito estudou, com base nos antigos Códigos Civil e Comercial.
Reflexões sobre a matéria devem ser feitas sob o ponto de vista das novas
sociedade irregular tem personalidade jurídica, o novo Código lança novas luzes sobre as
(assunto que era omisso nas legislações anteriores), incluindo referida forma societária no
Subtítulo que trata das sociedades não personificadas, juntamente com a sociedade em conta
de participação.
entretanto, não foi estendida à irregular. Nas codificações anteriores, seja a comercial de
73
1850, seja a civil do início do século XX, evitou-se tratar das sociedades irregulares ou de
fato. Desta omissão legislativa surgiram discussões inclusive sobre a semelhança ou diferença
entre ambas.
das de fato porque as primeiras “funcionam durante certo tempo sem o cumprimento das
por vícios que a inquinam de nulidade”, apesar de ter vivido, contratado, participado de fatos
fato.
Por outro caminho traça sua doutrina Waldemar Ferreira,103 entendendo que a
sociedade de fato, “formada por mero ajuste verbal, sem contrato escrito, não tem, nem
poderá ter existência legal como pessoa jurídica de Direito Privado”. Esta sociedade “vive,
funciona e prospera. Mas vive de fato. Como sociedade de fato se considera”. Já a sociedade
irregular se caracteriza por ter sido “constituída por escrito não levado a arquivamento no
Registro do Comércio”. Nesta escritura particular são previstos os direitos, ônus e obrigações
sociais, porém enquanto não levados seus atos constitutivos ou alterações a arquivamento no
seus atos constitutivos, a sociedade não adquire personalidade jurídica, sendo, portanto, um
relação aos credores, pois ambas não se diferenciam perante estes, respondendo os sócios (do
quem tanto as sociedades de fato quanto as irregulares não possuem personalidade jurídica,
102
MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro, v. III, p. 130.
103
FERREIRA, Waldemar. Tratado de direito comercial: O estatuto da sociedade de pessoas, v. 3, p. 179-197.
74
pois lhes falta a inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis.104 Para o autor
isso “o credor da sociedade deve primeiro, pelas dívidas sociais, executar a sociedade, para,
na falta de bens, realizar a responsabilidade ilimitada do sócio, que por isso é subsidiária”.
Theóphilo de Azeredo Santos105 também conclui na sua tese de doutoramento, que, apesar de
não possuir personalidade jurídica, a sociedade irregular está sujeita ao regime jurídico a que
está ligada.
Waldemar Ferreira propunham (seguida, entre vários, por Rubens Requião) entre a sociedade
de fato e a sociedade irregular é totalmente irrelevante, sendo certo que não se verificam
resultados práticos naquela diferenciação, posto que em ambas a responsabilidade dos sócios
será a mesma, solidária e ilimitada. José Maria Rocha Filho107 e Fábio Ulhôa Coelho108
acompanham o mestre mineiro, sendo que o último insiste em que as expressões devem
tomar-se como sinônimas. Em atualização de sua obra, o grande comercialista mineiro chega
a defender que a expressão “sociedade de fato” deveria ser proscrita da linguagem jurídica.109
Ao final, contudo, conclui pela personificação da sociedade irregular, atentando para o fato de
não haver, na legislação comercial brasileira, razão para não lhe conferir personalidade
jurídica.
Fran Martins110 é de opinião que a sociedade será irregular quando “se organiza
104
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial, v. 1, p. 355.
105
SANTOS, Theóphilo de Azeredo. Regime jurídico das sociedades comerciais. Rio de Janeiro: Imprensa
Universitária da UMG, 1958.
106
BORGES, João Eunápio. Curso de direito comercial terrestre, v. 2, p. 42.
107
ROCHA FILHO, José Maria. Curso de direito comercial. Belo Horizonte: Del Rey, 1994.
108
COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de direito comercial. V. 2. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 394.
109
BORGES, João Eunápio. Curso de direito comercial terrestre, p. 284.
110
MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. 22. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 237.
75
pratica atos que desnaturam o tipo social”. A sociedade passa, então, a funcionar
os atos constitutivos escritos e não arquivados, quer resulte apenas de atividade comercial em
comum, com ânimo societário, será considerada uma sociedade de fato. Esta sequer possui
personalidade jurídica, pois não teve seus atos constitutivos inscritos no Registro do
Comércio. A existência ou não de contrato escrito será apenas meio de prova bastante entre os
sócios, nenhum reflexo tendo em relação a terceiros, pois é um contrato particular que faz lei
apenas entre as partes nele envolvidas. A doutrina do professor cearense, parece, serviu de
O novel Código Civil prevê o início da existência legal das pessoas jurídicas de
direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando
as alterações por que passar o ato constitutivo. Sendo as sociedades espécie do gênero pessoas
do Código Civil anterior, é com o registro de seus atos constitutivos que se inicia legalmente a
vida da sociedade.
comum, entendida como aquela sociedade cujos atos constitutivos não estejam ainda inscritos
111
Sobre a personificação das sociedades irregulares, Eduardo Goulart Pimenta publicou, na Revista da
Faculdade Mineira de Direito, excelentes comentários.
76
novo Código Civil, resume as lições aplicáveis à sociedade irregular ou de fato para concluir
que a nova legislação as trata sob um mesmo signo, como “sociedades em comum”.
isso, sociedade em comum, ou sociedade cujo patrimônio é comum aos sócios) enquanto não
inscritos os atos constitutivos no registro próprio, seus sócios, nas relações entre si ou com
A lei civil não estabelece meios para a citada prova, razão por que poderemos
tomar emprestados os termos do antigo Código Comercial Brasileiro. Assim dispõe o art. 304
do Código Comercial de 1850 que “a existência da sociedade pode provar-se por todos os
gêneros de prova admitidos em comércio (art. 122), e até por presunções fundadas em fatos de
que existe ou existiu sociedade”. Continua o art. 305 aduzindo que a existência da sociedade é
presumida sempre que alguém exercita atos próprios de sociedade, e que regularmente se não
forma pública;
112
COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de direito comercial, v. 2, p. 395.
77
Comercial, estão enumerados em artigos revogados pela lei de 2002. Os critérios, no entanto,
são admitidos pela doutrina pátria113 como mera exemplificação de indícios que provam a
existência da sociedade. Devido à omissão do novo Código Civil, nada obsta a que continuem
sendo utilizados.
cuja titularidade pertence em condomínio aos sócios. Esses ativos respondem por obrigações
excesso de poderes por qualquer dos sócios. Não estando a sociedade regularmente
constituída, ou seja, não estando seus atos constitutivos regularmente inscritos no registro
próprio, não se pode exigir de terceiros que conheçam as restrições de poderes conferidas a
societário.
solidária e ilimitada perante terceiros, para o cumprimento de obrigações sociais. Com o art.
expressa disposição legal. Para dirimir quaisquer dúvidas, o legislador dispõe que o sócio que,
113
João Eunápio Borges (1959), Waldemar Ferreira (1961) e Carvalho de Mendonça (1958), dentre outros,
consideram os critérios adotados pelo Código Comercial para identificação e prova da sociedade irregular como
enumeração exemplificativa do legislador, podendo o terceiro interessado se valer de outros métodos para
consecução de seu objetivo. Se os indícios de prova foram meramente relacionados na lei revogada, nada obsta a
que continuem valendo os critérios, em especial porque a lei nova não traçou novos critérios para o operador do
direito utilizar.
78
em nome da sociedade, contratou e assumiu obrigações não poderá exigir sequer que primeiro
entendida enquanto não regularmente constituída a pessoa jurídica. Faz parecer que só houve
preocupação com aquela chamada por Fran Martins de sociedade de fato. Entendemos não ser
praticar qualquer obrigação para permanecer regular, a sociedade deixa de estar legalmente
constituída, regularmente formada. Esta sociedade, não observando os preceitos legais que lhe
são impostos, deverá sofrer uma sanção. E a mais severa, em nosso entendimento, é a
comum.
114
MARTINS, Fran. Curso de direito comercial, p. 237.
79
deve ser interpretada como “se não inscritos os atos constitutivos ou não registradas as
lei sob o argumento que não a conhece, menos ainda podem deixar de observar preceitos
legais aqueles que constituem uma sociedade para contrair direitos e obrigações em nome da
pessoa jurídica, que é personificada graças à ficção legal que a equipara à pessoa natural.
Como ensina Vivante, “a sociedade mercantil constitui um sujeito de direito distinto das
pessoas dos sócios que estão interessados na mesma: ela é o verdadeiro titular dos direitos e
adquirido com a inscrição de seus atos no registro público competente, a teor do art. 985, só
nas hipóteses previstas na lei civil para cada um dos modelos societários regulamentados é
que perderá sua personificação. Assim, terminará a existência da sociedade simples na forma
prevista nos arts. 1033 e seguintes. A sociedade em nome coletivo se dissolve de pleno direito
na forma do art. 1033 e, também, pela decretação da falência (se sociedade empresária). Da
115
La sociedad mercantil constituye un sujeto de derecho distinto de las personas de los socios que están
interesados en la misma: ella es el verdadero titular de los derechos y las obligaciones que se crean por su
actividad. (VIVANTE, Cesar. Tratado de derecho mercantil: Las sociedades mercantiles, v. 2, p. 13.)
80
passa a ser solidária e ilimitada, como na sociedade em comum, desde que violados
dispositivos legais relativos à constituição e funcionamento sociais, tornando-a, por isso, uma
sociedade irregular.
permanece a responsabilidade solidária dos sócios pelos atos praticados enquanto era irregular
a sociedade, posto que aqueles que contrataram com a sociedade irregular foram conduzidos à
celebração do contrato com base na situação que lhes era apresentada. Uma posterior
regularização da sociedade não muda negócios jurídicos anteriormente pactuados e não exclui
Com o novo Código Civil, não restam dúvidas sobre a responsabilidade dos
O mesmo tratamento deve ser emprestado à sociedade irregular, que surge quando
benefício de ordem previsto no art. 1024 também não é aplicável a esta sociedade, em função
permanece para todos os atos jurídicos praticados enquanto tiver durado a irregularidade
societária.
Capítulo 6
DOS RECURSOS
associação desportiva é ente que, por força do disposto no Código Civil, tem personalidade
Silva Pereira117 de ter o Código Civil de 1916 deixado de se referir à distinção que a doutrina
faz, o que não se repetiu no novo Código Civil, que prevê normas específicas para as
esportivo), na sociedade busca-se o proveito dos sócios. Nesta, um grupo, em geral reduzido
116
GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil, p. 193.
117
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, v. I, p.
215.
118
La unión estable di una pluralidad de personas, independiente en su existencia del cambio de miembros, que
tiene una constitución corporativa y un nombre colectivo correspondiendo la administración de los asuntos de
la asociación a los miembros. La asociación tiene, por tanto, miembros y administración propia.
(ENNECCERUS, Ludwig. Tratado de derecho civil. Parte general, v. 1, p. 479-480.)
82
exatamente em virtude do seu caráter não econômico. É verdade que existem também
associações de fins econômicos e sociedades de fins não econômicos, como lembra Pontes de
ao narrar a introdução do futebol na sociedade brasileira por Charles Miller, que retornava em
1884 da Inglaterra e trazia consigo duas bolas e as regras do futebol,121 demonstra o ideal
119
GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil, p. 190.
120
PONTES DE MIRANDA. Tratado de direito privado, v. I, p. 321.
121
ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. São Paulo: LTr,
1998, p. 29.
122
CASTRO, Ruy. Estrela solitária; um brasileiro chamado Garrincha. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
83
caráter competitivo.
as poucas informações que recebemos não seriam suficientes para a análise pretendida neste
trabalho. Além do mais, a utilização de qualquer dado ficou vinculada à promessa de não-
123
AZAMBUJA, Antonio Carlos de. Clube-empresa; preconceitos, conceitos e preceitos (O 1001º gol), p. 80-81.
84
futebol”. Presidiu aquela CPI o Senador Álvaro Dias, relatando-a o Senador Geraldo Althoff.
brasileiros para o exterior, tendo o Banco Central já constatado problemas relativos a essas
Receita Federal estava investigando sonegação de imposto de renda praticada por entidades
do mesmo ano, a Folha de S. Paulo noticiava que a Receita Federal havia multado em US$
23,5 milhões clubes, jogadores, técnicos e empresários ligados ao futebol nos últimos dois
Paranaense de Futebol, condenado a quatro anos e dois meses de prisão por apropriação
indébita de R$ 525.605,00 que deveriam ter sido creditados à Previdência Social entre 1995 e
Estado de S. Paulo citavam que o Banco Central do Brasil estava investigando a venda de
passes de jogadores de futebol do país para clubes do exterior. Seriam vinte e dois os clubes
85
Futebol do Estado do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, além das contas do Clube de
Fluminense Football Club, Sociedade Esportiva Palmeiras, Santos Futebol Clube, Grêmio
Football Portoalegrense e Sport Club Internacional. Os dados coletados pela CPI, havidos
graças à quebra do sigilo bancário dos investigados, informações da Receita Federal e das
obtidos no livro do Dr. Antonio Carlos de Azambuja, intitulado Clube Empresa; preconceitos,
Percebe-se, pela análise das informações obtidas durante nossas pesquisas, que os
sociais, e uma vez que os respectivos patrimônios são de uso exclusivo de seus associados, a
ser admitida como única receita ordinária. Sendo ainda admitido que todos os serviços e bens
disponibilizados pelos clubes, tais como piscinas, saunas, aparelhos de ginástica, etc.,
patrimônio dos próprios associados, donos estes que são do próprio patrimônio social,
nenhuma contraprestação pecuniária poderia ser devida para seu uso. Afinal, sendo o
86
associado um condômino daquelas piscinas, quadras, etc., como se admitir que ele seja
serviços”, que surgiram nos Estados Unidos. Estes, cujo aspecto comercial é evidente, não
academias de ginástica. Jamais se poderia conceber e admitir a cobrança pelo uso de bens
Nessa linha de raciocínio, podemos admitir que a origem dos recursos financeiros
despesas, por conseqüência da crescente demanda, com a admissão de novos sócios – e que,
por isso, passariam a ter direito de usufruir de seu patrimônio em comum – ou com o aumento
das instalações para absorver um maior número de interessados em utilizar os bens comuns.
pessoas para usufruir das instalações sociais preexistentes, iriam insurgir-se contra o
Clube de Regatas do Flamengo, o Fluminense Football Club, o São Paulo Futebol Clube ou o
Clube Atlético Mineiro, inspirados no exemplo de clubes europeus, como o Barcelona F. C.,
87
aumentando o número de associados para, com isso, terem uma maior base de contribuintes,
certamente não funcionam no Brasil. Seja porque não estamos num país de primeiro mundo,
onde a renda per capita de nossa população é muitas vezes menor que a do povo catalão, seja
nem de longe, satisfatoriamente provida pelo Estado, fazendo com que a massa popular –
filão buscado nas campanhas de incentivo à adesão de sócios – não possa destinar seus parcos
recursos para atividades de lazer e entretenimento providas pelos clubes recreativos. Assim,
financiamento ali mencionadas decorrem da exploração de bens sociais por terceiros, além da
cobrança por serviços postos à disposição dos associados mediante cobrança, bem como
serviços postos à disposição dos associados são atividades diversas dos fins perseguidos pela
associação. Quem não é associado deve remunerar o clube pela utilização dos serviços postos
associação, para serem cobrados pelos serviços prestados pelo clube, estarão se sujeitando a
Diante de cada uma das receitas a seguir enumeradas, podemos analisá-las uma a
uma.
88
decorre da remuneração pelos jogos. Essa remuneração ocorre de duas formas: a renda
imagem, pelo televisionamento das partidas de futebol. Esse manancial de recursos decorre da
Sabe-se ainda que a fidelidade dessa informação é discutível, pois a sangria das
roletas de jogos, apesar de não comprovada125 (pois, se fosse, certamente os autores teriam
administradores dos estádios (quando não atuam em seu próprio campo), diminuem a receita
verdadeiramente auferida nas entradas de torcedores para evitar a penhora desses valores,
determinada por magistrados em busca de patrimônio desimpedido dos clubes para garantia
de execuções judiciais.
124
Art. 19. Considera-se mercancia:
§ 1o. A compra e venda ou troca de efeitos móveis ou semoventes, para os vender por grosso ou a retalho, na
mesma espécie ou manufaturados, ou para alugar o seu uso.
§ 2o. As operações de câmbio, banco e corretagem.
§ 3o. As empresas de fábricas, de comissões de depósito, de expedição, consignação e transporte de mercadorias,
de espetáculos públicos.
§ 4o. Os seguros, fretamentos, risco, e quaisquer contratos relativos ao comércio marítimo.
§ 5o. A armação e expedição de navios.
125
ALTHOFF, Geraldo. Relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar fatos
envolvendo as associações brasileiras de futebol. Brasília: Senado Federal, 2001. v. IV, p. 90.
89
desses dirigentes. Numa época em que, cada vez mais, a fidelidade, a paixão do torcedor, a
maior projeção e exposição do clube geram benefícios econômicos a longo prazo, um dos
melhores meios de comprovação desse amor coletivo pela agremiação – o público que
freqüenta os estádios e assiste aos jogos – é manipulado para ocultar a verdadeira receita e
Afinal, o parceiro econômico se interessará muito mais pela marca de um clube que conta
com uma torcida fanática e assídua freqüentadora dos campos, capaz de lotar um Maracanã ou
um Mineirão, que por uma desconhecida ou pouco amada agremiação de segunda linha, que
sequer consegue encher seu estádio com capacidade para parcos dez mil espectadores. Quanto
mais apaixonados os torcedores, maior será a freqüência nos estádios, maior será a demanda
por produtos feitos com a marca do clube, como macacões, bolsas, camisas, canetas, canecos
de cerâmica, calções e até bonés, (tirei “preservativos” por solicitação feita na pré-banca...)
dos atletas. A Lei Pelé, é verdade, acabou com o absurdo que era o passe de jogadores
profissionais.
contar com o jogador para atuar em jogos e competições desportivas oficiais. Abuso existia,
porém, quando o contrato de trabalho do atleta terminava e não havia interesse em sua
90
renovação. O jogador ficava impedido de atuar, por não estar em condições de jogo,126 não
podendo exercer sua profissão. Mas também não podia transferir-se para outro clube, pois o
clube, vendendo ou emprestando o passe, podia o atleta celebrar novo contrato de trabalho e
voltar a atuar. Num meio como o esporte profissional no Brasil, em que os dirigentes eram e
exclusivamente por paixão e emoção, era muito comum um atleta permanecer seis, oito, dez
meses impedido de atuar porque suas atitudes haviam “irritado” a cúpula do clube, a torcida
126
Segundo Marcílio Krieger, condição de jogo é um conjunto de circunstâncias específicas de que depende o
atleta para que possa atuar validamente por determinada associação de prática desportiva. Para que o atleta
participe validamente de uma partida é necessário que tenha, simultaneamente, a condição legal e a condição de
jogo, que não se confundem entre si. (KRIEGER, Marcílio Cesar Ramos. Alguns conceitos para o estudo do
direito desportivo. Revista Brasileira de Direito Desportivo, São Paulo, v. 1, p. 41, 1° sem. 2002.)
127
NUNES, Inácio. Lei Pelé; comentada e comparada: Lei Pelé x Lei Zico. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Juris, 2000, p. 43.
91
seja do atleta profissional, seja de qualquer outro empregado a que o instituto possa ser
exercício da profissão, o mesmo não poderá ser simplesmente extinto, sob pena de acarretar
distorções não ocorram, impedindo destarte que o empregador, mais forte economicamente,
capacitado.
Com o advento da Lei Pelé, o atleta não está mais vinculado ao clube no final de
seu contrato de trabalho. No entanto, como garantia de segurança para as partes envolvidas
nessa nova relação trabalhista, fica permitida a fixação de cláusula penal para a hipótese de
mais em vigor a sistemática anterior que mantinha o vínculo do atleta com seu clube. Os
trabalho. Passa a ser ilegal qualquer indenização para liberação do passe do atleta, salvo na
128
PEREIRA, Adilson Bassalho. O contrato de trabalho do jogador profissional de futebol e a legislação
brasileira. Revista de Direito do Trabalho, n. 3, p. 179, apud ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas
profissionais de futebol no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1998, p. 114.
92
direito de o antigo empregador exigir do novo a chamada indenização de promoção. Essa será
devida após até seis meses do término do primeiro contrato e apenas se a entidade formadora
estiver pagando os salários do atleta, enquanto não firmado novo vínculo de trabalho. Essa
Entretanto, estabelece-se que apenas o clube formador do atleta poderá cobrar tais
clube, estabeleceu-se o direito à cobrança da cláusula penal, que poderá ser estabelecida de
comum acordo pelas partes, até o montante de cem vezes o valor da remuneração anual do
atleta. Assim, pretendendo o atleta desvincular-se da atual entidade desportiva, esta poderá
passe do atleta, quando não interessa mais à entidade, como se negocia um bem de consumo,
6.2.3 MARCA
O mais importante bem do clube é, sem sombra de dúvida, sua marca. Afinal,
como é conhecido aquele clube cuja sede fica às margens da Lagoa da Pampulha e enverga as
cores azul-celeste e branco? Cruzeiro. O rubro-negro carioca, conhecido nos quatro cantos do
planeta? Flamengo, todos sabem. E o clube que lançou Pelé para o estrelato, conquistou duas
93
vezes o título mundial interclubes e tem como símbolo o peixe? É o Santos Futebol Clube.
férias nos Estados Unidos, passeando em um parque temático da Disney, vestido com a
camisa do Clube Atlético Mineiro. Qual não foi a minha surpresa ao ser abordado três ou
quatro vezes por turistas americanos que me cumprimentavam pelo simples fato de eu estar
envergando o uniforme do time de futebol. E, mais incrível ainda, dois deles propuseram
comprar minha camisa! Naquele ano, o Atlético disputou a final do Campeonato Brasileiro,
sagrando-se vice-campeão em três disputados jogos na época do Natal. Meu passeio pelas
terras americanas, contudo, ocorreu em outubro, quase dois meses antes dos jogos finais. Não
fui reconhecido porque o time disputava o título nacional, mas simplesmente porque sua
marca, seu uniforme, seu emblema e suas cores são conhecidos até fora do Brasil.
se aproxima da importância do nome do clube, suas tradições e conquistas, seu hino, cores,
129
AZAMBUJA, Antonio Carlos de. Clube-empresa; preconceitos, conceitos e preceitos (O 1001º gol), p. 49.
94
Como didaticamente ensina João Eunápio Borges, seus elementos podem ser em
Sempre, contudo, dois grupos são percebidos dentre os bens do fundo de comércio: o das
mineiro:
de cada torcedor têm maior ou menor procura em função da projeção do time, dos resultados
130
FERREIRA, Waldemar. Tratado de direito comercial: O estatuto do estabelecimento e a empresa mercantil.
São Paulo: Saraiva, 1962. v. 6,p. 12. Alfredo Rocco também preleciona: La hacienda, juridicamente, es ‘el
conjunto de cosas (bienes y servicios) reunidos y organizados para ejercer el comercio; el elemento económico
‘capital’, juridicamente, se traduce en el concpeto ‘bien’; el económico ‘trabajo’, en el concepto de ‘servicios’ o
‘prestación’. En rigor, a los servicios y prestaciones que contribuyen a constituir el establecimiento, deberia
agregarse el trabajo personal del empresario; pero como es el derecho-habiente de su hacienda, no puede
juridicamente tomarse en cuenta su trabajo; cabe, sin embargo, que el titular del establecimiento no lo sirva
personalmente; desde el punto de vista jurídico, por lo tanto, los servicios se consideran elementos del
establecimiento en cuanto se prestan por el personal adscrito a él y el titular del mismo tenga un derecho, esto
es, siempre que el personal esté ligado por un contrato de trabajo o de empleo; los servicios, o, con mayor
exactitud, los derechos a los servicios, también se incluyen entre la amplia clase de cosas. (ROCCO, Alfredo.
Principios de derecho mercantil. Parte general. Cidade do México: Editora Nacional, 1950, p. 239).
131
BORGES, João Eunápio. Curso de direito comercial terrestre, v. 1, p. 288-289.
95
Outra questão vinculada aos negócios com a marca versa sobre as contínuas
oscilações de demanda a que estão sujeitos todos os artefatos, os quais, de
uma forma ou de outra, contenham alusões visuais ao clube, seu distintivo e
suas cores, mercê de concessões especiais para tanto contratadas.
Ocorre que esse mercado, talvez por ser por demais recente e ainda não bem
dimensionado e compreendido, foi invadido por uma horda de interesses
desordenada, partida de industriais e comerciantes das mais exóticas
espécies de produtos, todos em princípio a acreditar que a força da paixão
dos aficcionados aceitaria desde angu com caroço até bala de mel, sem mel.
Surpreendidos com essa procura inusitada e repentina, os clubes
deslumbraram-se com o insuspeitado: afinal, eis aí um negócio a se realizar
com produto sem custo de formação algum: imediatamente puseram-se a
distribuir autorizações de uso da marca a torto e a direito. Encontram-se no
mercado, hoje vendidos com o símbolo deles, os mais incríveis objetos,
desde bodoques estilizados até escovas para cachorro sarnento, passando por
canudos para soprar bolhas de sabão e quinquilharias de todos os gêneros,
tudo por um e noventa e nove, mas se não der, serve noventa e nove, quiçá,
nove.
Não se duvide de, algum dia, encontrar-se papel higiênico – calcinhas e
cuecas já andam por aí – sendo divulgado via superposição gráfica de
distintivos centenários, antes gloriosos e que não mereciam fim tão
deprimente.132
Tradicionais na vida dos brasileiros, com sessenta, oitenta, e até cem anos de
história, os clubes têm especial vínculo com a memória do povo. E esse laço decorre,
dos títulos disputados e conquistados. Atingindo o mais íntimo e suspeito dos sentimentos
humanos, a paixão por este ou aquele clube não tem explicação racional. É pura emoção, que
clube. E a renda daí advinda não é outra senão uma receita de natureza mercantil, pois é a
132
AZAMBUJA, Antonio Carlos de. Clube-empresa; preconceitos, conceitos e preceitos (O 1001º gol), p. 58-59.
96
relacionadas com o clube, diversas agremiações constituem lojas próprias, que comercializam,
símbolos correlatos ao time, pode o negócio representar substancial fonte de recursos para o
É bem verdade que toda e qualquer instituição conhecida que atraia a atenção do
público explora esse tipo de comércio. Na cidade do Vaticano, anexa à Basílica de São Pedro
forma, são vendidas lembranças de São Francisco e de Santa Clara. Não só santos em
miniatura, medalhas e livros sobre o local, mas também camisetas, bonés, agasalhos. Então,
diriam alguns, se até o Papa pode manter um comércio nas dependências do Vaticano, que
torno da fé e devoção ou do amor ao clube. Seja a figura de João Paulo II na medalha vendida
quinquilharias alusivas à instituição não terá outra finalidade que não auferir lucro com a
se duvide que as portas do negócio já estariam fechadas. Nem o Vaticano nem o clube de
ou licenciando produtos para venda, tais como relógios, chapéus, chaveiros, roupas de cama,
toalhas de banho e roupões, bonecos falantes a pilha, réplicas de troféus, camisetas, calças e
bermudas, sungas e toucas de natação, óculos de sol, buzinas de automóveis, adesivos, fraldas
veiculação e divulgação, o patrocínio na camisa perpetua-se por vários anos, trazendo frutos
significativos ao patrocinador. O torcedor que compra o uniforme de seu time não joga fora a
camisa quando a agremiação troca de patrocínio. Ao contrário. Como objeto de coleção, passa
a ser visto com desejo e cobiça, especialmente se o patrocínio ficou vinculado a um período
proporciona e incentiva a ostentação, até por status e para atender aos padrões de beleza e
98
porém, é envergar um terno da marca Giorgio Armani, de corte impecável e cuja etiqueta só
e sua veiculação até mesmo na mídia, posto que o torcedor enverga, com orgulho, seu
uniforme a cada êxito do time ou, até mesmo, no dia-a-dia, uma vez que a camisa não é nada
Na maioria das vezes, os clubes desportivos têm sedes sociais, com salões, bares e
restaurantes. Em alguns casos, mantém também um estádio próprio, onde realizam seus
prélios, sem a necessidade de ceder parte substancial da renda para o custeio do aluguel do
local do jogo.
encontros. Muitas vezes, aliás, têm utilização muito maior por terceiros que pelo próprio
clube ou seus associados. Poucas são as agremiações que prevêem a exclusividade de uso dos
salões, mediante locação, apenas a seus associados. O que sói ocorrer é a concessão de
benefícios para os associados, tais como a cessão por preço mais baixo, a desnecessidade de
99
espaço ou outra vantagem semelhante. Entretanto, sabe-se que o comodato gratuito do espaço
não ocorre, pois a receita obtida pela agremiação com o aluguer é substancial e considerável.
Seja locando o campo para os fins a que se destina – a prática desportiva –, seja para a
realização de eventos diversos, tais como shows de música, cultos religiosos e, até, exposições
e leilões de animais.
natural que tenham necessidade de beber um refrigerante ou uma cerveja, provar um biscoito,
133
AZAMBUJA, Antonio Carlos de. Clube-empresa; preconceitos, conceitos e preceitos (O 1001º gol), p. 90-91.
100
tomar um sorvete. Não raramente, famílias de torcedores almoçam nos tradicionais bares ao
redor (e, muitas vezes, dentro) do estádio. Um jogo de final de campeonato, se o espaço
comportar, costuma atrair oitenta, noventa, cem mil torcedores. Estão, na maioria das vezes,
ansiosos por uma bebida gelada, alimentação farta. Salgados e picolés são consumidos em
profusão. O clube bem administrado enxerga esse filão. Cria a oportunidade de receita,
construindo espaços adequados para a instalação de bares de todo gênero. O “Maracanã” (não
pertence a particulares, mas sim ao Poder Público) tem até lanchonetes do Mac Donald’s,
gigante multinacional do setor de alimentação tipo fast food, em seu interior. Mas o Clube
encontrar restaurantes de todo gênero, lojas que vendem artigos desportivos, presentes, roupas
Estados Unidos. Lá, onde o esporte há muito deixou de ser lúdico, sendo hoje um dos maiores
comum encontrar-se nos ginásios esportivos e estádios todo tipo de loja, oferecendo os mais
variados produtos e serviços para o freqüentador. Esses espaços todos, é certo, não são
cedidos gratuitamente para sua exploração. Mediante rentáveis contratos de locação, auferem
Mas não termina aí. Fonte generosa de financiamento, o estádio ainda proporciona
a locação de vagas, pois nenhum torcedor se arrisca, nos dias de hoje, a parar seu veículo em
letreiros, outdoors e painéis de anúncios no interior do estádio. Seja para divulgar sua marca
simples placas metálicas de alguns metros quadrados são disputadas a peso de ouro por
Não se pode esquecer, ainda, dos torcedores que querem conforto e tranqüilidade
durante as partidas de seu time do coração. Para os mais abastados, em lugar de comprar
cativas, apesar do alto preço (em Belo Horizonte, o aluguel anual de cada uma das cinco mil
420,00134), são disputadas avidamente por novos torcedores, a cada início de temporada. Os
maiores estádios privados do Brasil (Morumbi, do São Paulo Futebol Clube;135 Beira Rio, do
Baixada, do Clube Atlético Paranaense;138 Fonte Nova, do Esporte Clube Bahia139) têm pelo
menos duas mil cadeiras cativas. A receita anual proveniente da locação dessas cadeiras chega
a ser suficiente para custear a folha de pagamento mensal de um grande clube de futebol no
país.
locação é tratada no novo Código Civil nos arts. 565 a 578 e caracterizada como o contrato
mediante o qual uma das partes se obriga a ceder à outra o uso e gozo de coisa não fungível,
mediante certa retribuição. Pode ser por prazo determinado ou indeterminado. Deve, contudo,
ter a natureza onerosa, sob pena de se confundir com o comodato. Oneroso, ensina Caio
134
Informações obtidas em visita à Administração dos Estádios de Minas Gerais (ADEMG).
135
Disponível em: Em http://www. saopaulofc. net/,=. Acesso em 3/6/2002.
136
Diponível em: Em http://www. internacional. com. br/. Acesso em 3/6/2002.
137
Disponível em: http://www. gremio. net/. Acesso em 3/6/2002.
138
Disponível em: http://www. atleticopr. com. br/. Acesso em 3/6/2002.
139
Disponível em: http://www. esporteclubebahia. com. br/. Acesso em 3/6/2002.
102
Mário da Silva Pereira,140 pois proporciona vantagens e benefícios para os contratantes, que
Devido a esta reiterada e freqüente exploração onerosa dos bens de uso comum da
associação, não podemos deixar de concluir pelo caráter mercantil emprestado à locação
art. 23 do Decreto n. 8.0228/77, art. 39 da Lei n. 8672/93, sob a denominação “Dos Recursos
para o Desporto”, a Lei n. 9615/93 e o Decreto n. 2.574/98 permitiram, nos arts. 56 e 69,
A loteria tem sido uma das maiores responsáveis pelo sustento e financiamento
multas fiscais, seja com o peculiar amadorismo que cerca a administração dos recursos
humanos dos clubes, em especial dos contratos de trabalho dos atletas e técnicos, com
Críticas pertinentes são feitas à citada fonte de recursos, seja porque a agremiação
fonte de recursos, em função do seu caráter totalmente divorciado das finalidades propostas
pela entidade desportiva. Afinal, poder-se-ia até encontrar relação entre a exploração e
140
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, v. III, p. 189.
103
utilização dos bens sociais do clube, tais como sauna, salões de festas, estádios, etc. Todos
estes poderiam estar, de alguma forma, ligados aos interesses dos associados e torcedores, na
congraçamento e contato social. Mas a exploração e venda de bilhetes lotéricos não têm
qualquer relação com a proposta inicial de qualquer clube: a interação desportivo-social entre
Certamente não se pode admitir que a receita daí advinda seja peculiar a uma
associação civil sem finalidade lucrativa. Não se pode equiparar as loterias promovidas pelos
apelando, muitas vezes, à paixão do torcedor para obter sucesso na venda dos bilhetes
lotéricos. Não há razão, pois, para se considerar ordinária a presente fonte de financiamento,
amadores, sempre presentes nas administrações dos clubes, as associações são obrigadas a
recorrer ao mercado financeiro a fim de obter capital de giro para sustentar suas atividades
cotidianas. Seja porque a torcida clama por uma nova contratação, ainda que além das
fugiu da concentração ou se negou a treinar às vésperas do jogo, alegando cansaço, existe aí,
na cabeça miúda do dirigente desportivo amador, motivo suficiente para mudanças no plantel.
fática, o diretor se esquece da obrigação maior de preservar o patrimônio social e, para salvar
a honra da quase centenária instituição, contrata, por alguns milhões de dólares, uma nova
estrela, freqüentemente convocada para a Seleção nacional, onerando ainda mais o caixa da
associação.
Mais graves que essas atitudes irresponsáveis, no entanto, são certas atitudes de
seus próprios recursos. Ficam, então, com a faca e o queijo na mão. Se as instituições
mútuos com módicos juros de 3,5%, além da correção monetária (enquanto uma aplicação
desvalorização da moeda), sem exigir qualquer garantia. Não se esqueça que, além de se
beneficiar com o empréstimo de elevadas quantias para contornar problemas de caixa criados
controle e fiscalização das contas do clube, como salvadores da pátria, os gestores ainda
mantêm o controle da situação, pois eles próprios decidirão quando essas dívidas serão pagas,
dos administradores.
perpetuar essa prática ilícita, deveriam os clubes observar a correta manutenção dos
pagamentos em dia, a fim de não onerar ainda mais o caixa da associação e, por conseqüência,
foram fiscalizados 123 clubes e 10 federações de futebol. Também foram visitados pela
fiscalização do INSS, e estão sendo acompanhados, outros 103 clubes de futebol profissional
e 17 federações, os quais seriam fiscalizados após o término dos trabalhos da CPI. Do total de
226 clubes de futebol já fiscalizados e/ou visitados, apenas seis estavam em dia com os
5,4 milhões, pelo descumprimento de obrigações acessórias por parte dos clubes e federações
(ex.: deixar de preparar folha de pagamento, não apresentar Livro Diário, não contabilizar em
141
AZAMBUJA, Antonio Carlos de. Clube-empresa; preconceitos, conceitos e preceitos (O 1001º gol), p. 75-76.
106
foram emitidas Representações Fiscais para Fins Penais em virtude de retenção de valores
descontados dos empregados e da receita bruta dos jogos sem o respectivo repasse ao INSS, o
encargos previdenciários, o que caracteriza crime de sonegação fiscal. Esses fatos acarretaram
atingiu o valor de R$ 288 milhões. Os clubes devem R$ 256 milhões, enquanto as federações
milhões. Outros R$ 35 milhões que também estavam inscritos como Dívida Ativa passaram a
a seguir apresenta a dívida dos clubes e federações com o INSS por Unidade da Federação:
107
TABELA 1
UF DÍVIDA UF DÍVIDA
SP R$ 72,081 milhões ES R$ 3,292 milhões
RJ R$ 70,776 milhões PB R$ 1,777 milhão
RS R$ 27,077 milhões CE R$ 1,607 milhão
MG R$ 24,870 milhões MS R$ 1,082 milhão
PR R$ 20,453 milhões RN R$ 843 mil
PE R$ 17,690 milhões DF R$ 724 mil
SC R$ 9,044 milhões MT R$ 645 mil
BA R$ 8,709 milhões AP R$ 520 mil
GO R$ 8,687 milhões SE R$ 326 mil
PA R$ 4,936 milhões PI R$ 264 mil
AM R$ 4,708 milhões TO R$ 168 mil
AL R$ 4,030 milhões AC R$ 9 mil
MA R$ 4,022 milhões RO R$ 2 mil
TOTAL R$ 288,342 milhões
FONTE: INSS – Outubro/2000
época, a importância de quase R$ 172 milhões, o que representa 60% da dívida total. A tabela
TABELA 2
TABELA 3
associação civil sem finalidade lucrativa, como são constituídos, em geral, os clubes de
A maioria dos clubes se organiza como associação civil sem fins lucrativos. É
verdade que sem necessidade, porque nenhuma legislação determinou a adoção dessa forma
societária. No entanto, a razão de terem optado pela associação civil, prevista no Código Civil
de 1916, é histórica.
por não buscar resultados econômicos. Eram impulsionados pelo ideal olímpico, então
efervescente com a retomada dos jogos no final do século XIX, após séculos de
doações para constituição do patrimônio das incipientes associações. Não havendo motivação
para que assumissem outra forma societária, era natural que a associação civil fosse a
que não importa vencer ou perder, mas sim competir. Contudo, com o passar do tempo, as
passaram a exigir novos e melhores resultados nos prélios então organizados. O que fazer,
Sim, porque como amadores, os clubes só podiam contar com seus membros, muitas vezes de
qualidade técnica questionável. E assim foi feito. Iniciaram as associações um novo mercado,
melhores, pagando-lhes salários cada vez mais altos, pois estes representariam maior
que desvirtuaram o clube como associação desportiva. Além do novo mercado de atletas,
criado e alimentado por interesse único e exclusivo dos clubes, que passam a transacionar
entre si os mais requisitados e conceituados técnicos e jogadores, vê-se que a impulsão desse
pelos clubes necessitavam de melhor qualidade e beleza para atrair cada vez mais público.
Ora, como já lembramos no item 3.1.1, o Regulamento 737 previa, no art. 19, que uma das
públicos. Sendo o esporte um evento voltado para o público, que atrai pela sua qualidade
técnica e emoção que proporciona ao espectador, nada mais natural que sejam os clubes
De qualquer forma, sabemos que os clubes, associações civis que eram, não
Para angariar fundos, lançavam (e ainda o fazem) Títulos de Fundo Social, representativos do
patrimônio do clube.
irregularidades. Pela Portaria Ministerial n. 254, de 01/10/41 (itens 27, 30 e 31), publicada no
DOU de 3/10/41, regulada pela Deliberação 30/44 do CND, de 25/5/44 (DOU 29/5/44); pela
Deliberação 72/53 do mesmo CND, de 4/9/53, itens 35, 36, 37 e 38; pelos arts. 110, 111 e 112
142
TUBINO, Manoel. 500 anos de legislação esportiva brasileira – Do Brasil-Colônia ao início do século XXI.
Rio de Janeiro: Shape, 2002, p. 25.
112
perdeu o controle político-administrativo de suas entidades. Por essas normas legais, esse
direito passou a ser exercido isoladamente por um segmento de cada grupamento social,
lançamento desses Títulos. Associação civil que é, o ativo da agremiação pertence apenas aos
sócios que contribuíram para a formação desse patrimônio. Os demais, sócios contribuintes,
não detêm parcela do ativo, sendo meramente agraciados com o direito de uso dos bens
sociais. Portanto, como qualquer condomínio, apenas os donos dos bens podem manifestar-se
bens havidos por doações. Ora, enquanto dispõe das contribuições recebidas dos associados,
comum, está o clube agindo corretamente. Entretanto, para granjear interessados na aquisição
143
AZAMBUJA, Antonio Carlos de. Clube-empresa; preconceitos, conceitos e preceitos (O 1001º gol), p. 169.
113
dos chamados Títulos de Fundo Social, o clube compartilha os bens recebidos em doação. Há
que se observar se as citadas doações, muitas vezes recebidas do Poder Público, permitem ao
Ora, nesses empreendimentos, a sociedade civil sem fins lucrativos, por não
ter como objeto social este tipo de atividade nem a sua exploração comercial
(jogos desportivos, locações e etc.), ao captar valores dessa forma junto ao
público, não importa quem e sob que emulações, agiu (e age) mera e
indiscutivelmente como incorporadora, restando os aplicadores como os
efetivos senhores dominiais dos bens incorporados, se bem que não
exatamente no molde pevisto no diploma legal da espécie (Lei 4.591, de
16/12/64). Os aplicadores, inobstante, restam como efetivos senhores dos
bens incorporados, vale dizer, estádios e todo o acervo correlato e
complementar havido nessas condições, se, para o global do patrimônio – e
não apenas para o campo de jogo – servissem os aportes. Isso quer dizer que
os verdadeiros donos desses patrimônios, tidos como “do clube” – exceção
feita àqueles próprios havidos por concessão pública – são os portadores
desses Títulos de Fundo Social. Sócios entre si e não simplesmente
associados da agremiação, deveriam os estatutos conferir-lhes os direitos
especiais inerentes a essa condição, inclusive e principalmente os políticos,
coisa que não o fizeram, nem o fazem na sua generalidade, eis que, desde há
muito tempo, as elites dirigentes usurparam desses efetivos senhores dos
ativos os poderes de administração, gerenciamento e disposição dos bens e
interesses sociais. Isto materializou-se através da admissão estatutária – a
bem da verdade, respaldada na gelatinosa legislação que veio reger a matéria
– do exercício do direito de voto igualitário por todas as categorias sociais, o
que passa pelas dos simples contribuintes, além dos aprazamentos
condescendentes (de ação eleitoral) atribuídos excludentemente a certos
órgãos da estrutura político-administrativa, tudo cumulado com situações
fáticas privilegiadas (controle dos registros sociais –
Secretarias/Tesourarias).144
lançamento dos Títulos de Fundo Social, denota-se a irregularidade das entradas de capital na
associação, pelo que não podem ser qualificadas como receitas ordinárias, típicas desse
modelo societário.
Por outro lado, podem ser feitos lançamentos de cotas para acréscimo do
patrimônio do clube, com a aquisição de nova sede, reforma e melhoria das instalações já
144
AZAMBUJA, Antonio Carlos de. Clube-empresa; preconceitos, conceitos e preceitos (O 1001º gol), p. 84.
114
lançam novas ações no mercado. Esta receita é, sem sombra de dúvidas, mercantil.
investigadas.
quase todos os depoentes. Dentre os fatos curiosos, podemos citar a constatação do relator,
Senador Geraldo Althoff, sobre investigações feitas a partir de denúncias contra o ex-técnico
da Seleção Brasileira de Futebol, Sr. Vanderlei Luxemburgo, após a CPI apurar que o
depoente tinha 30 contas bancárias em seu nome, apesar de suas declarações de imposto de
145
ALTHOFF, Geraldo. Relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar fatos
envolvendo as associações brasileiras de futebol, v. III, p. 16-17.
115
Entre os pagamentos questionados pela CPI, havia uma empresa investigada pela
CPI do Narcotráfico que estava ligada à lavagem de dinheiro e remessa ilegal de divisas ao
anos, foram 1.478 movimentações nesse montante), concluiu que o Sr. Vanderlei
recebido de clubes nos quais atuou como treinador ou de clubes para os quais fez indicação de
atletas, demonstrando absoluta falta de transparência tanto do depoente quanto dos clubes que
lhe pagaram pela indicação desses jogadores, ou ainda de outros negócios, cuja licitude não se
Clube Venezia, por US$ 6,5 milhões, em 2000, dos quais cerca de US$ 2 milhões utilizados
na compra do jogador foram desviados para as empresas Lake Blue Development Limited e
Picoline Corporation, ambas com sede no paraíso fiscal das Ilhas Virgens, por determinação
do presidente do Clube de Regatas do Flamengo, Sr. Edmundo dos Santos Silva. Ainda sobre
Senado:
146
ALTHOFF, Geraldo. Relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar fatos
envolvendo as associações brasileiras de futebol, v. III, p. 29.
116
O senhor Edmundo dos Santos Silva, após o seu primeiro depoimento, não
cumpriu o compromisso de enviar a esta Comissão os esclarecimentos
prometidos, o que não causou nenhuma estranheza a esta CPI, pois tal
postura – a de não colaborar em absolutamente nada com os trabalhos – foi
sistematicamente adotada por todas as agremiações de futebol
investigadas.147
conta e alegou que se tratava de um valor incorretamente depositado em favor do Clube e que,
por sua ordem, fora devolvido. Posteriormente, o advogado do Clube e então presidente da
147
ALTHOFF, Geraldo. Relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar fatos
envolvendo as associações brasileiras de futebol, v. IV, p. 39-41.
118
afirmando que o saldo da conta não era de US$ 908 mil, conforme apurou uma empresa de
auditoria, mas sim de US$ 908.00. Finalmente, a CPI obteve cópias dos extratos bancários da
referida conta corrente pela redação do Jornal do Brasil, quando o presidente do Clube
Pode ser citado como exemplo dos prejuízos dos clubes devido à
intermediação dos agentes, em contraponto aos lucros astronômicos
auferidos pelos empresários, a transferência do atleta Guilherme (atualmente
no Atlético Mineiro), do Grêmio para o Vasco da Gama, em 1998.
Conforme publicado pela Revista ISTO É, em 25 de novembro de 1998, o
então vice-presidente de futebol do Club de Regatas Vasco da Gama, Eurico
Miranda, decidiu comprar o passe do atleta Guilherme junto ao Grêmio pelo
valor de US$ 3,3 milhões ‘para salvar o Grêmio’, nas palavras do dirigente
vascaíno. O intermediário na negociação foi o empresário Reinaldo Pitta,
que embolsou o equivalente a 15% da negociação, ou US$ 495 mil.
148
ALTHOFF, Geraldo. Relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar fatos
envolvendo as associações brasileiras de futebol, v. IV, p. 55-59.
119
149
ALTHOFF, Geraldo. Relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar fatos
envolvendo as associações brasileiras de futebol, v. III, p. 35-36.
120
esporte, técnicos. Ao longo das mais de 1100 páginas do relatório da CPI, constata-se uma
impõem aos clubes a busca de receita em instituições financeiras ou no cofre dos dirigentes,
evitando os ônus do atraso –, a adimplência e o respeito aos contratos e obrigações fiscais não
121
Federal, por exemplo, o Clube de Regatas do Flamengo excedeu seu orçamento em mais de
Pagando salários mensais de até R$ 500 mil para atletas, fica difícil aceitar tratar-se de uma
associação civil.
Sabe-se, também, que diversos clubes investem nos esportes amadores e nas
categorias de base.151 Esse investimento é considerado por muitos defensores do status quo
como exercício de uma função social pelo clube e, portanto, descaracterizador de atividade
150
ALTHOFF, Geraldo. Relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar fatos
envolvendo as associações brasileiras de futebol, v. IV, p. 82.
151
“Clubes apóiam atletas”
“Os principais clubes do futebol mineiro se esforçam para evitar que falte alguma coisa para os seus jovens
atletas, oferecendo uma infra-estrutura completa. Isso inclui atendimento médico e odontológico,
acompanhamento escolar, pedagógico e psicológico. A alimentação é de qualidade, balanceada por nutricionistas
especializadas na área esportiva, além de oferecer moradia e transporte. ‘A gente assume a tutela do menino e
não pode faltar assistência. Muitos já vêm com grandes problemas de casa, nós aqui procuramos facilitar suas
vidas’, conta o diretor da categoria de base do América Futebol Clube, Luiz Alberto.
Toda a equipe que acompanha o desenvolvimento físico e psicológico dos jogadores, às vezes, não é suficiente
para afastar a sensação de solidão que a maioria tem. No Cruzeiro, as crianças contam com a ajuda da pedagoga
Maria Efigênia, apelidada por eles de Kiki. Ela auxilia os garotos em tudo e ainda faz o papel de mãe de todos.
‘São todos meus filhos, cada um tem uma necessidade diferente e eu ajudo no que é possível para aliviar a
saudade deles’, conta.
Já Fábio Guimarães, que assumiu há apenas dois meses o cargo de diretor das categorias de base do Atlético,
acredita na necessidade de um amadurecimento precoce. Já que aos 18 anos o jogador passa para a equipe
profissional e precisa de responsabilidade para seguir uma carreira de sucesso. ‘Se o sonho é a curto prazo, ele
precisa amadurecer mais cedo, e se for craque será um vencedor’, explica Fábio Guimarães.
E os mais velhos apóiam e incentivam os mais novos. Os meninos contam que o único jeito de amenizar o
problema é fazendo amigos no clube. Eles vão se juntando e formando seus grupos. A regra básica para tentar
driblar a saudade, é nunca ficar sozinho.” (ESTADO DE MINAS, 25 jun. 2001, p. 23).
122
qualidade do trabalho.
explorado futuramente na busca pelo lucro, não pode ter outra perspectiva senão a da
aplicação de capital pela agremiação no cultivo de frutos futuros: os atletas que despontarão
para o mercado, gerando receita para os clubes com a venda de seus passes ou com a
exploração de seu trabalho. Não se deve olvidar da importância que o clube tem na formação
152
“Considerando esses aspectos repontados, a Medida Provisória n. 2. 141 deu nova redação ao § 2o do art. 28,
bem como ao caput e § 3o do art. 29 da Lei n. 9. 615/98, com o fito de resguardar os clubes formadores,
ampliando, de 2 (dois) para 5 (cinco) anos, o prazo máximo do primeiro contrato de trabalho profissional do
atleta. Aliás, o próprio acórdão do ‘caso Bosman’ é explícito quando assinala que qualquer espécie de
indenização de transferência ‘apenas seria aceitável quando se tratasse da primeira transferência de clube e o
antigo clube tivesse formado o jogador’ (item CCXXXIV). Sem dúvida, essa passa a ser a única motivação para
os clubes persistirem no trabalho de base, arcando com notórias despesas para revelar novos valores, oriundos de
suas escolinhas, prestando, induvidosamente, relevantes serviços à sociedade, pois, ao assumir a formação de
milhares de jovens atletas, não raro, retira-os da rua e da marginalidade.
Não se pode olvidar, nesse passo, que os clubes formadores investem nos atletas, concedendo-lhes, entre outros
benefícios, alimentação, assistência médica e odontológica, transporte, ajuda de custo, material desportivo e
pagamento de corpo técnico-administrativo, daí a imperiosidade de garantir-se o retorno econômico dos gastos
na formação de atletas antes da sua profissionalização. Nesse contexto, as indenizações de formação ou de
promoção, tanto previstas na regulamentação da Fifa quanto inseridas no novel § 3o do art. 29 da Lei n. 9.
615/98, com limites e sem constituir barreiras desproporcionais, são instrumentos eficazes e justos para o
ressarcimento de tantas e permanentes despesas, assegurando a continuidade dessa função social exercitada pelos
clubes formadores, mesmo com a abolição do ‘passe’.” (MELO FILHO, Álvaro. Medida Provisória n. 2. 141:
Uma revolução sem armas no desporto. Revista Brasileira de Direito Desportivo, São Paulo, v. 1, p. 29, 1º sem.
2002).
153
SZTAJN, Rachel. A responsabilidade social das companhias. Revista de Direito Mercantil, São Paulo, v. 114,
p. 50, abr./jun. 1999.
123
escola. No máximo, uma bolsa equivalente a um salário mínimo mensal. Ao cabo de três ou
quatro anos, se a qualidade do atleta é boa – e ninguém melhor que os próprios técnicos e
“olheiros” dos clubes para descobrir esses talentos em formação –, o clube aufere imenso
retorno com a venda de seus direitos federativos (o antigo “passe”, extinto pela Lei n.
9.615/98). Cite-se, por exemplo, o caso do atacante Ronaldo Nazário de Lima, o Ronaldinho,
para atingir seus fins. O ideal é que invista em bens afetados a este objetivo e que se
faz a partilha das despesas, na forma da contribuição por seus associados. A disposição desses
ativos, é certo, dependerá da aprovação dos condôminos, sob pena de se ferir a propriedade de
cada um.
154
AZAMBUJA, Antonio Carlos de. Clube-empresa; preconceitos, conceitos e preceitos (O 1001º gol), cit., p.
109.
124
do período analisado.
TABELA 4
A escala de receitas
TABELA 5
A Escala das Despesas
Despesas – Gênero Despesas – espécie Percentual
Ordinária Departamentos amadores-sociais 6,27%
Extraordinária Departamento de futebol 45,75%
Extraordinária Loterias 13,64%
Extraordinária Financeiras 9,64%
Extraordinária Lojas 1,10%
Gerais Administrativas 23,50%
Despesas – total 100,00%
TABELA 6
O financiamento da atividade
Receitas – Gênero Receitas – Espécie Percentual de cobertura
das despesas totais
Ordinária Mensalidades Nihil R$
Extraordinária Espetáculos – Jogos 31,09%
Extraordinária Loterias 25,52%
Extraordinária Locações/concessões 14,15%
Extraordinária Marca 13,60%
Extraordinária Passes 8,56%
Extraordinária Lojas 2,64%
Extraordinária Outras – Excepcionais 2,36%
Extraordinária Departamentos amadores-sociais 1,68%
Extraordinária Títulos Nihil R$
Extraordinária Financeiras 0,40%
Receitas – Total 100,00%
OBS.: R$ – Observações: receitas dispensáveis, posto que somente com as demais seria o bastante
para o sustento das despesas totais do clube, no exercício considerado.
em negócios, por vezes arriscados, além da inadimplência de uma série de obrigações que não
foram descontadas, por não terem sido efetivamente suportadas, o autor conclui pela
Para bem se avaliar esse resultado, observem-se dois fatos: (a) no exercício
social em questão (anterior ao Plano Real), equivalente ao do ano civil, os
índices do IGPM atingiram o percentual de variação de 1800,00%
aproximadamente. Isto quer dizer que para cada unidade monetária
representativa daquele acervo, naturalmente arriscada pelo clube nos seus
negócios naquele ano, ele recuperou 19,50, enquanto se essa mesma unidade
monetária tivesse sido depositada em caderneta de poupança, computados os
juros legais, teria ela rendido, sem risco nenhum, 19,08; e (b) a referência
percentual de 6,75% foi efetuada tomando em consideração o valor do
patrimônio tal como o escriturado (visto há muitos anos não ter ocorrido
reavaliação do ativo no clube paradigma), significando afirmar que, uma vez
comparado o resultado obtido com os efetivos valores de mercado dos bens
dele integrantes, na época do encerramento do exercício, o ‘lucro’
percentualmente considerado reduzir-se-ía necessária e significativamente.
O resultado, pois, é pífio.
Percebe-se, outrossim, que o imenso esforço empreendido para gerar receitas
a partir dos vários gêneros de atividades comerciais a que se dedica – desde
os mais simples como, v.g., concessões de serviços no estádio, alojados na
área patrimonial, até os mais complexos, como os do futebol profissional e
126
busca o empate no resultado financeiro. Não se justifica arriscar, dia após dia, o patrimônio
social em busca apenas de satisfação pessoal e orgulho dos associados, quando a atividade
satisfatório. Não fosse assim, não teríamos a repetição de parcerias, patrocínios e tanto
Futebol e Regatas, Club de Regatas Vasco da Gama, Fluminense Football Club, Sociedade
Esportiva Palmeiras, Santos Futebol Clube, Grêmio Football Portoalegrense e Sport Club
Internacional), apurando, em todos eles, indícios de desvio de recursos para dirigentes, com a
civil e, portanto, seu patrimônio pertence à coletividade dos associados, a conclusão a que se
155
AZAMBUJA, Antonio Carlos de. Clube-empresa; preconceitos, conceitos e preceitos (O 1001º gol), p. 99.
127
pertencentes à casta de dirigentes que assumiu, longos anos atrás, a direção das agremiações
de fraudes no trato da coisa comum se torna evidente, graças aos elevados valores envolvidos
impedir o locupletamento indevido dos dirigentes amadores que hoje predominam na maioria
dos clubes de futebol do país, mantidos na administração graças a conluios com conselheiros,
próprio. Esse novo modelo societário deve impor aos administradores a responsabilidade por
profissionais.
Modificada em 1998 pela Ley 50, a Ley Española del Deporte passou a permitir
profissionais. Para os clubes que não pretendam modificar sua natureza jurídica, a lei
setores profissionais dos clubes desportivos. Formulou regras próprias e específicas para sua
156
BARBOSA, Alberto dos Santos Puga. O modelo societário como resposta organizativa no futebol
profissional em Portugal e no Brasil; Uma análise hermenêutico-dialéctica na perspectiva das cências do
desporto. 2001. Tese (Doutorado em Ciências do Desporto) Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação
Física da Universidade do Porto – Porto, p. 46.
130
receitas globais do futebol inglês, não apenas porque a presença do público tenha crescido,
mas porque os times tiveram que ser mais rigorosos com a gestão dos negócios, uma
que as iniciativas que tenham finalidade desportiva deverão adotar a forma mercantil. E assim
pela adoção de nova forma societária, a chamada “sociedade anônima desportiva”, obrigatória
na maioria das vezes. Quando houve a possibilidade de outro modelo de sociedade, como
Portugal, por exemplo, a lei impôs uma forma especial de gestão da atividade.
tratando da Educação, Cultura e Desporto, previu, no art. 217, o dever do Estado de fomentar
Espanha de 31/10/1978, cujo art. 47 trata do fomento ao desporto por parte dos poderes
públicos; a Constituição de Portugal de 25/4/1976, que prevê, nos arts. 70 e 79 normas gerais
1966 e emendada em 1977, que declara, no art. 71, de utilidade oficial a gratuidade do ensino
oficial, em todos os níveis, da educação física; a Constituição do Peru, que dispõe dever o
Constituições em vigor ou revogadas, na Alemanha Oriental (arts. 18, 25, 35, 44), Bulgária
(art. 47), Cabo Verde (art. 16), China (arts. 21, 46, 89, 107, 109), Cuba (arts. 8o, 38, 41),
Grécia (art. 74), Guiné-Bissau (art. 17), Nicarágua (art. 65), Polônia (arts. 49 e 69), Romênia
(art. 27), Suíça (art. 27) e Thecoslováquia (art. 15), também tratam do desporto em seu texto.
não formais do desporto, o inciso I do art. 217 dispõe expressamente sobre a autonomia das
critica a Lei Geral sobre Desportos ao dispor sobre a obrigatoriedade na transformação dos
clubes em sociedades de fins econômicos. Não se pode, contudo, considerar absoluta essa
seguintes perfis: 1o) poder de auto-regulação de seus destinos; 2o) livre critério na escolha de
Ainda que livre para se organizarem, segundo o texto insculpido no art. 5o, XVII e
internas. Não são órgãos soberanos,158 que fazem suas próprias leis; devem respeito à
empresarial. Com sua revogação, pela Lei n. 9.615/98, passou a ser obrigatória a finalidade
econômica, seja por meio de sociedades civis com este fim, seja por meio de sociedades
comerciais admitidas na legislação em vigor. A Lei Pelé ainda determinou que os clubes se
adaptassem ao novo modelo societário até 25 de março de 2000, quando todas as entidades
deveriam revestir-se de uma das formas previstas no art. 27. A Lei n. 9.940/99 alterou o prazo
para que os clubes se amoldassem à nova legislação de dois para três anos.
Passível de críticas por seu aspecto cogente e obrigatório, a Lei Pelé sofreu
nova modificação da Lei Pelé, pela Lei n. 9.981, voltando a facultatividade na transformação
inconstitucionalidade da lei, por ferir a autonomia das entidades desportivas, o texto melhor se
amolda a diversos outros princípios constitucionais, dentre os quais o respeito ao ato jurídico
perfeito. Afinal, se o clube é organizado como associação civil sem finalidade lucrativa, por
exemplo, lei posterior não pode determinar a adoção de um novo modelo societário. Mas não
157
PINTO FERREIRA. Comentários à Constituição brasileira. São Paulo: Saraiva, 1995. v, 7, p. 181.
158
Soberania interna, para José Luiz Quadros de Magalhães, é sinônimo de poder supremo, significando que não
existe nenhum poder paralelo ou acima do poder do Estado, nos seus limites territoriais. Por outro lado,
externamente, o Estado soberano não guarda vínculo de submissão, não admitindo nenhum tipo de intromissão
nos seus assuntos internos ou internacionais. (Direito constitucional. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002, t. II,
p. 127).
133
por violar a autonomia da entidade, e sim por tornar ilegal um ato jurídico perfeitamente
junho de 2002, a Medida Provisória n. 39, com o intuito de “moralizar o futebol no Brasil”.
seguinte redação:
competições profissionais:
I – transformar-se em sociedades civis de fins econômicos;
II – transformar-se em sociedades comerciais;
III – constituir ou contratar sociedade comercial para administrar suas
atividades profissionais.
§ 1o (parágrafo único original) (Revogado).
§ 2o A entidade a que se refere este artigo não poderá utilizar seus bens
patrimoniais, desportivos ou sociais para integralizar sua parcela de capital
ou oferecê-los como garantia, salvo com a concordância da maioria absoluta
da assembléia geral dos associados e na conformidade do respectivo estatuto.
§ 3o REVOGADO (MP n. 2.141)
§ 4o REVOGADO (MP n. 2.141).
Três semanas após a revogação da Medida Provisória 39, o Governo Federal edita
nova medida provisória, a Medida Provisória 79, tratando também do tema moralização do
futebol.
Não só por sua aparente inconstitucionalidade, pois foi editada nova medida
provisória dentro da mesma sessão legislativa, tratando do mesmo assunto e com a mesma
redação, após ter sido anteriormente rejeitada no Congresso Nacional, violando o art. 62, § 10,
da CR/88, com as alterações da Emenda Constitucional n. 32, de 11/9/2001, mas ainda por ser
norma de caráter não definitivo, não pretendemos nos alongar em análises desse texto, sob
responsabilidade subsidiária e ilimitada por dívidas sociais. Mas que sócios seriam esses? Por
também os sócios contribuintes, que pagam o rateio mensal de despesas do clube, mas não
Portanto, também responderão com seu patrimônio pessoal? Além disso, há necessidade de lei
para equiparar determinada atividade às sociedades de fato? Não bastaria a análise da situação
com todo tipo de iniciativa empresarial, por que o tratamento desigual aos clubes desportivos?
135
Medida Provisória 79159? Se é uma sociedade irregular, não decorre daí a impossibilidade de
tributária? Finalmente, se a Lei n. 9.615 é a Lei Geral sobre Desporto, por que criar nela
adere ao clube desportivo porque este dispõe de instalações adequadas à prática de esportes
para si e para sua família pouco importa o resultado financeiro que a entidade possa
proporcionar a seus associados. Afinal, ela não se associa para auferir lucros. Seu interesse é
ou nos finais de semana. Para isso ela adquire uma cota e paga seu condomínio (rateio das
despesas comuns do clube) mensalmente. Não quer comprometer seu patrimônio pessoal (que
de fato) para garantir dívidas contraídas pela sociedade desportiva. Também não espera
retorno financeiro de seu investimento. Não busca lucro na empreitada. A affectio societatis,
associa-se tendo pleno conhecimento que terá despesas com a manutenção de sua cota.
Como, então, exigir dessa pessoa manter-se como sócio de uma sociedade
159
Art. 9º As entidades desportivas que não se constituírem regularmente em sociedade empresária segundo o
art. 7º:
I – ficam impedidas de obter empréstimos, financiamentos ou patrocínios de entidades ou órgãos públicos,
inclusive empresas públicas, sociedades de economia mista e demais entidades controladas, direta ou
indiretamente, pela União;
II – não têm direito ao ressarcimento de que trata o art. 3º; e
III – sujeitam-se ao regime da sociedade em comum, em especial ao disposto no art. 990 da Lei n.º 10.406, de
2002 – Código Civil.
136
clube poderá transformar-se? Ou, por outro lado, como admitir a responsabilidade solidária e
ilimitada, inserida no art. 9o, III, da Medida Provisória 79? E, mais: teria o sócio da limitada
fim de que estes possam também usufruir das instalações sociais dos clubes?
teriam apenas direito de usufruir dos benefícios e instalações sociais, pagando por essa
utilização. Sendo modelo de associação inteiramente diversa de qualquer das classes de sócios
ofereceria serviços ao interessado que não pretendesse participar dos seus resultados
financeiros. Assemelhar-se-ia, portanto, aos clubes de serviços, muito comuns nos Estados
Unidos, nos quais o uso e gozo dos bens sociais se dá mediante remuneração. Um completo
adapte à realidade fática que são os clubes desportivos. Nem a sociedade simples, a sociedade
tanto o sócio com interesse econômico quanto aquele que busca alternativas de lazer,
manutenção do atual art. 27. A despeito da insegurança jurídica imposta pelas freqüentes
desportiva por entidades de prática. Sendo em geral negócios de elevada monta, precede-se à
prática desportiva, o chamado due diligence. Essa fase implica uma “revisão do negócio com
financeiros, mas também aspectos comerciais, fiscais, legais, trabalhistas, etc. Como um
elemento a mais para análise, o due diligence permitirá ao investidor melhorar a compreensão
160
Revisión del negocio con objeto de confirmar las hipótesis sobre las que se há tornado una determinada
decisión vinculada, habitualmente, a procesos de fusiones, adquisiciones o ventas de negocios, joint ventures,
salidas a Bolsa, u obtención de financiación. (PÉREZ-ÍÑIGO, Juan Mascareñas. Fusiones y adquisiciones de
empresas. 3. ed. Madrid: Mc Graw Hill, 2000, p. 402. )
138
É importante lembrar que não existe uma regulamentação técnica por parte de
negócio.
exploração de sua marca, percebendo o montante de seu ativo e passivo. Como informação
chave para uma visão geral do negócio, sugerimos um esboço das atividades desenvolvidas
pelo clube, considerando receitas e despesas nos últimos exercícios, com perfeita
importante observar o passivo trabalhista, pois os elevados salários pagos ou contratados para
elevadíssimas ações trabalhistas, onerando sobremaneira o caixa dos clubes. Deve ser
funcionários de apoio, que são os primeiros a chegar aos treinos e os últimos a deixar os
vestiários, nos treinamentos e jogos, fazendo jus, pois, a horas extras e adicionais noturnos,
normalmente não pagos. Os contratos civis e comerciais celebrados pelo clube são
importantes para que o investidor possa perceber por quanto tempo será obrigado a manter-se
vinculado aos negócios anteriormente celebrados pela entidade, tais como patrocínio,
imprescindíveis a curto prazo para fazer frente às desmedidas atitudes tomadas pelos
dirigentes amadores. Podemos citar como exemplo o Clube Atlético Mineiro, que cedeu um
estendeu o prazo anterior para 40 anos, em troca de uma injeção urgente de capital. Também é
relatado pela CPI do Senado Federal a celeuma de contratos e prazos em que o Club de
Regatas Vasco da Gama se envolveu com o Bank of America, com sucessivas reformas e
time, tais como seu nome, símbolos e sinais característicos, a fim de conferir a conveniência
bem como a rentabilidade e potenciais mercados não explorados. Estima-se a cota de mercado
sucesso ou fracasso do clube nas competições que disputar. Quanto mais jogos ganhar, mais
161
ALTHOFF, Geraldo. Relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar fatos
envolvendo as associações brasileiras de futebol, cit. ,v. IV, p. 164.
140
repercussão terá, mais espaço e destaque conseguirá na mídia. A divulgação da marca ainda
poderá ser menos onerada, pois é interesse dos veículos de comunicação a divulgação de
jogos e resultados.
base nos estatutos sociais e na possibilidade de sua modificação, estabelece-se o modelo ideal
de parceria. Nesse momento, importa colaboração dos associados para, se necessário e com
base nas normas internas do clube, a alteração do modelo societário então adotado
(normalmente, associação civil) para sociedade civil com finalidade econômica ou sociedade
mercantil.
ainda sob os auspícios da Lei n. 8.672 (Lei Zico), foram notadas. São pequenas empresas que
Janeiro Futebol Clube Ltda. (setembro/96), razão social modificada posteriormente para CFZ
jogador de futebol Artur Antunes Coimbra (Zico), sociedade comercial por quotas, de
Pernambuco S/C Ltda., sociedade civil criada por vários desportistas em Recife/PE com o
multinacional Parmalat S.p.A., por intermédio de sua subsidiária Santal Prosport Ltda., do
Lousano Paulista Futebol Clube, denominação dada em 1995 ao Paulista Foot Ball Club, de
1909, que, por sua vez, sucedia ao Jundiahy Foot Ball Club, fundado em 1903. E, finalmente,
dezembro de 1994 como associação civil de natureza recreativa e que, em julho de 1998,
seguindo o comando do art. 27 da Lei Geral sobre Desportos,162 serão adiante analisadas e
comentadas.
7.2 Sociedade
Esse modelo foi adotado pelo Vitória da Bahia, em negociação com o Banco
Excel, criando-se o Vitória S.A., e pelo Esporte Clube Bahia e o Banco Opportunity,
“clube s.a.”. Para a realização do capital social, cede para a nova empresa todos os ativos
162
“Art. 27. É facultado à entidade de prática desportiva participante de competições profissionais:
I – transformar-se em sociedades civis de fins econômicos;
II – transformar-se em sociedades comerciais;
III – constituir ou contratar sociedade comercial para administrar suas atividades profissionais.”
142
(investidor s.a., por exemplo), celebra a compra e venda de ações do clube s.a.,
administração e fiscalização da nova companhia, dentro do que dispõe o estatuto social, ficam
segundo o preço acordado no contrato de compra e venda das ações, e na distribuição dos
dividendos. Sendo uma sociedade anônima, a nova companhia poderá lançar em mercado de
7.3 Administração
Modelo pretendido pelo Clube Atlético Mineiro e pelo Santos Futebol Clube nas
prazo determinado. O clube define previamente os ativos a serem cedidos para administração
condução dos negócios e transações financeiras. Como não detém o capital necessário para a
investimento. O clube mantém vínculos contratuais apenas com o administrador, e este com
os investidores.
143
Se desejar, o clube poderá também criar uma empresa comercial (clube s.a.),
relacionamento contratual com o administrador, ficando o clube por trás do novo negócio,
7.4 Licenciamento
Cruzeiro Esporte Clube (Cruzeiro S.A.) e no Sport Club Corínthians Paulista (Corínthians
S.A.), ambos com o fundo de investimentos HMTF – Hicks, Muse, Tate & Furst, o
intuito, criar uma empresa comercial (clube s.a.), não sendo, contudo, obrigatória. Nos casos
cedeu a marca e símbolos característicos, tais como o mascote estilizado. Após as negociações
preliminares, o clube (ou o clube s.a.) celebra com o investidor contrato de licenciamento para
econômicas. Assim, por prevenção, fez-se necessária a criação de uma subsidiária integral,
144
sociedade anônima, com o objetivo de gerir os ativos do clube que lhe foram licenciados. A
esta empresa denominaremos investidor s.a. Sua tarefa, como gestora desses ativos, é a
contratação com terceiros, por meio de autorização ou licenciamento, para produção dos mais
diversos produtos para divulgação da marca e/ou símbolos. É interessante que sejam impostas
restrições no contrato celebrado entre o clube e o investidor; caso contrário, poderão ser
licenciados desde artigos de vestuário até preservativos e papel higiênico, passando por jogos,
desportivos, sendo teoricamente vedada a ingerência do investidor nesse setor, uma vez que
comunhão com o clube, pois a LGSD prevê, no art. 28, a obrigatoriedade do contrato de
trabalho do atleta profissional “com entidade de prática desportiva, pessoa jurídica de direito
7.5 Co-gestão
Palmeiras e com o Esporte Clube Juventude até que se consolidasse no mercado brasileiro. Ao
145
iniciar sua parceria com o Palmeiras, a multinacional italiana era conhecida apenas como uma
marca de leite de consumo da elite, posto que comercializava seu produto em embalagens
“longa vida”. Naquela época, o costume do brasileiro médio era a aquisição de leite em
“saquinhos”, com validade para apenas um dia. Em função do preço mais elevado e por falta
de hábito, o laticínio de longa duração era relegado a segundo plano, servindo apenas para
Sul/RS. A relação surte resultados imediatos, levando a multinacional italiana a ser conhecida
sucesso na década de 90 nos campeonatos estaduais de São Paulo e Rio Grande do Sul, como
Modelo mais flexível de relacionamento comercial, basta que o clube defina o que
será gerido em conjunto com o investidor. Celebra-se um contrato163 em que são estabelecidos
–, não se pode concluir que a parceria foi bem ou mal sucedida para os clubes. Enquanto
durou, não há dúvidas, ambos lograram êxitos e conquistas. Porém, o investidor relegou a
163
Nos dois clubes mencionados nesse modelo não tivemos acesso aos contratos. Segundo nos foi informalmente
revelado, a multinacional não tinha acerto escrito com nenhuma das duas agremiações.
146
segundo plano as categorias de base das duas agremiações, optando por contratar jogadores já
O clube paulista limitou seus atletas a um teto salarial. Não poderia ser de outra
forma, pois não havia mais injeção permanente de recursos. No primeiro certame nacional,
após o fim da parceria, teve um desempenho modesto, longe do brilho da década anterior.
Buscando reabilitar-se, lançou mão de novos reforços, sem obter êxito, entretanto. Não se
pode afirmar, mas a aparente falta de profissionalismo dos dirigentes condenou o Palmeiras,
três vezes campeão brasileiro nos últimos dez anos, ao rebaixamento no campeonato nacional
clube passou ileso por crises de relacionamento entre atletas, técnicos e dirigentes, dada a
resultados, apenas em 2002 o time do Palmeiras foi dirigido por cinco técnicos diferentes.
manteve-se na elite do futebol nacional. Melhorando cada vez mais seu desempenho, chegou
ao final da fase classificatória do certame de 2002 em 4o lugar, após ter mantido a primeira
mantidas com o mesmo investidor, dizer se foi benéfica ou prejudicial para os clubes o regime
de co-gestão, após seu término. Sabe-se, apenas que, passados mais de dois anos do final da
relação com o mercado, nenhuma das entidades desportivas conseguiu ainda emplacar um
147
profissionais durante o período de coleta de dados para o presente trabalho, que o modelo
comentário corrente é que nenhum grande investidor se entusiasma com a idéia de se aliar a
qualquer um dos dois clubes cuja imagem ainda se encontra excessivamente vinculada ao
Qualquer que seja a forma de organização adotada pelo clube, é importante que os
rentável164 (após contabilizado o lucro havido durante a Copa da França, estimava-se que o
ramo, cada vez mais profissionalizado, sofre com os humores da economia globalizada.166
164
PRONI, Marcelo Weishaupt. A metamorfose do futebol. Campinas: Unicamp, 2001, 266p.
165
Conforme LAUDÍZIO, Fábio. Do esporte ao negócio. In: SEMINÁRIO DE DIREITO DESPORTIVO, 2,
2002, Belo Horizonte.
166
“O crash do futebol – Após a euforia, clubes e investidores pelo mundo vêem o negócio encolher.
A crise financeira não é uma primazia hoje do futebol brasileiro. Poderosos clubes europeus, Fifa, confederações
continentais e torneios de países que até bem pouco tempo eram exemplo de sucesso econômico no esporte
passam por momento financeiro ruim.
As ações de ricos times de Inglaterra, Itália, Alemanha e Holanda em Bolsas de Valores despencaram em 2001.
Os clubes britânicos tiveram, em média, por exemplo, uma perda de 27,8% no valor de suas ações, segundo
pesquisa feita pelo Soccer Investor, grupo inglês que estuda negócios e marketing envolvendo o esporte mundial.
Uma ação do Manchester United, considerado o clube mais rico do planeta, custava 224 libras (cerca de R$ 760)
no final de 2000. No último dia de 2001 a ação do clube podia ser adquirida por 145 libras (cerca de R$ 490).
Reflexo do retrocesso, o Manchester pode vender sua maior estrela, o meia-atacante Beckham, por não querer
bancar mais um salário de US$ 200 mil mensais.
A Roma, a campeã da temporada passada na Itália, e a Lazio, a campeã retrasada, viram suas ações caírem no
último ano, respectivamente, 51,6% e 47,1%.
O alemão Borussia Dortmund experimentou uma perda de 38,7% no valor de suas ações em 2001. O Ajax,
tradicional time holandês, observou uma queda de 26,5% no valor das suas.
As bolsas em quase todo o mundo apresentaram queda no último ano, mas não como os clubes. A Bolsa de
Londres, por exemplo, teve queda de 16% em 2001; as ações do Arsenal, principal time londrino, tiveram
desvalorização de 33% no período.
''Práticas como a adoção de pisos salariais para os atletas mostram que os clubes estão se esforçando para
diminuir os gastos'', diz Oliver Butler, responsável pelo Soccer Investor.
A Europa ainda não assimilou bem a falência da ISL, empresa de marketing suíça que esteve atrelada à Fifa por
quase duas décadas. A quebra da parceira da Fifa não foi bem explicada. Importantes dirigentes europeus, em
especial, querem uma devassa nas contas da máxima entidade do futebol.
Joseph Blatter, presidente da Fifa, contratou uma empresa para fazer auditoria na entidade, enfraquecida
economicamente.
A Fifa foi obrigada a cancelar a segunda edição do Mundial de Clubes, perdeu a sua seguradora original da Copa
e transformou a sua mais importante competição em títulos no mercado financeiro. ”
149
Certo é, porém, que a atual legislação brasileira impõe aos clubes uma situação
legislador brasileiro, ao impor a forma mercantil para as agremiações desportivas, não teve o
formação de jovens atletas nas categorias de base, a Lei Geral sobre Desportos impõe a
“Crise financeira afunda o futebol nos EUA e no Japão – Países que investiram nos anos 90 passam por
fase de contenção de despesas.
Dois grandes exemplos do momento financeiro delicado por que passa o futebol mundial são os EUA e o Japão.
Os dois países lançaram ambiciosas ligas profissionais (a MLS e a J-League) na década de 90 e hoje estão
vivendo fase de contenção de despesas.
A liga norte-americana fechou dois clubes: o Miami Fusion e o Tampa Bay Mutiny. Já a liga japonesa, segundo
a Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS), foi apenas o 32º mais forte campeonato
nacional do planeta em 2001, empatado com o Campeonato Paraguaio.
Na MLS e na J-League os craques estão rareando. Grandes nomes internacionais, como o colombiano Rincón,
encontram dificuldade para jogar nos EUA devido ao alto salário. E os principais atletas brasileiros que estavam
no Japão já voltaram ao país.
Os norte-americanos, cuja liga não figura nem entre os 50 melhores torneios nacionais do mundo, estão cortando
investimentos também no futebol estrangeiro.
O fundo HMTF, com grande prejuízo na Argentina, está revendo seus planos para a América Latina. No Brasil,
Cruzeiro e Corinthians já sentiram o ''pé no freio'' de seu milionário parceiro. A PSN, canal de esportes do
HMTF, também sente os efeitos da crise.
A empresa de material esportivo Nike cogitou rescindir contrato de patrocínio com a CBF e acabou reduzindo
em 25% o valor total que pagará à entidade.
A Confederação Sul-Americana de Futebol vive momento difícil. A empresa TyT diminuiu em 30% o valor
pago aos clubes na Libertadores, principal torneio do continente. A Toyota estuda encerrar sua parceria com a
entidade que rege o futebol sul-americano. A Copa Mercosul, que dava bons prêmios aos clubes, foi extinta.
A Confederação Africana transformou as eliminatórias para a Copa da África em eliminatórias para o Mundial
para dar um respiro em seu calendário, mas, com a redução no número de jogos, ameaça federações que
dependem das rendas das partidas.
Na América do Sul, enxugar as eliminatórias para a Copa causa medo, pois as dez federações querem que a
competição siga no sistema todos contra todos, em turno e returno, mais lucrativo.
A Copa América e a Copa da África, torneios bienais de seleções, estão sendo instigadas a acontecer de quatro
em quatro anos, mas as confederações dos dois continentes temem a perda de dinheiro com a diminuição de
edições dessas competições.
O calendário mundial unificado traçado pela Fifa está ameaçado pela necessidade financeira de confederações,
federações e clubes. Da mesma forma, o calendário quadrienal lançado pela CBF, que pode deixar times grandes
quase quatro meses sem atuar nesta temporada, corre risco.
A imagem da Copa
Vários países, como o México, não conseguiram ainda garantir a recepção de imagens da Copa. A aquisição de
anunciantes para o Mundial está sendo dificultada pelo horário em que os jogos serão exibidos no Ocidente.
A própria organização da Copa deste ano passou aperto financeiro. Os sul-coreanos não deram conta das
despesas e acabaram recebendo ajuda dos japoneses, que também abrigam o torneio.
Em meio à crise financeira, a Fifa liberou até publicidade no uniforme dos árbitros, uma nova forma de aumentar
a receita.
O dinheiro nunca foi tão essencial para o futebol como agora. ” BUENO, Rodrigo. Folha de S. Paulo, 27 jan.
2002, p. D1.
150
Correto seria que se adotasse, como em alguns países europeus, uma estrutura
societária nova, na qual poderiam ser admitidos o associado contribuinte ao lado do sócio-
educação e bem-estar aos jovens atletas das categorias de base –, além das diversas
peculiaridades que caracterizam o clube desportivo. A finalidade social dos clubes que
fins econômicos, seja civil, seja comercial, não se coaduna com a atividade desportivo-
recreacional.
Entretanto, não se pode deixar de constatar que os clubes, como associações civis,
constante, não se conclui de outra forma senão pelo caráter comercial de que se reveste a
atividade, constatando-se que não passam de sociedades irregulares ou de fato. A Lei Geral
sobre Desporto não resolve a questão. Ao contrário, impõe regimes incompatíveis com o
167
SZTAJN, Rachel. A responsabilidade social das companhias. Revista de Direito Mercantil, São Paulo, v. 114,
p. 35, abr./jun.1999.
151
importante patrimônio da cultura nacional, o desporto. Disse Keynes que as palavras devem
ser um pouco selvagens, pois são a agressão do pensamento àqueles que não pensam. Não
pode ser outra nossa conclusão, diante da análise da legislação brasileira sobre desportos
• Esse novo tipo societário deve prever uma ou mais classes de sócios que não se
Brasil não admitem sócios que têm direito a lucros ao lado de sócios que só contribuirão
168
MELO FILHO, Álvaro. Medida Provisória n. 2. 141: Uma revolução sem armas no desporto. Revista
Brasileira de Direito Desportivo, São Paulo, v. 1, p. 27, 1° sem. 2002.
152
educação. Sabe-se que, ante a realidade social do país, a grande maioria dos atletas é
egressa de classes mais baixas da população. E não porque não têm outra alternativa, ao
contrário dos mais ricos, que podem optar pelo sucesso mediante o estudo ou a
constituição de empresas dos mais variados tipos, mas porque o Brasil tem cerca de
destaque, pois o ser humano é capaz, independentemente de sua classe social e origem. O
incentivos fiscais, uma vez que, concomitantemente com sua atividade econômica, estará
que cria na população, os mecanismos de fiscalização devem ser revistos, a fim de não
associativo, hoje em franca decadência, para o modelo empresarial, que vige e se destaca no
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ITÁLIA. Codice civile. 10. ed. Piacenza: Casa Editrice La Tribuna, 2001.
PORTUGAL. Lei n. 103 – 13 set. 1997. Estabelece o regime fiscal específico das sociedades
desportivas.
Sítios na internet
AREIAS, João Henrique. Proposta de novo modelo de gestão para os clubes de futebol.
Disponível em: http://www.sportlink.info/modelo%20de%20gestão%20
futebol/novo%20modelo%20de%20gestão.htm, consultado em outubro/2002.
YAMAMOTO, Nilton Akira e TEIXEIRA, Hélio Janny. A “Lei Pelé” e a cartolagem ideal:
Comentários sobre modelos de gestão para os clubes de futebol brasileiro. Disponível em:
http://www.ead.fea.usp.br/semead/vsemead/4semead/
artigos/adm_geral/yamamoto_e_teixeira.pdf, consultado em março/2002.