O Cinema e A Crítica de Jairo Ferreira
O Cinema e A Crítica de Jairo Ferreira
O Cinema e A Crítica de Jairo Ferreira
Campinas
2013
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Campinas
2013
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AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meu pais, Afonso e Theresinha, pelo amor e apoio constante
a todas as minhas escolhas, e ao meu irmão, Di.
À minha avó, Graça, pelos constantes incentivos e pela alegria que sempre
emana com o seu sorriso, e a todos os meus avós, pelo carinho.
Ao mestre Luiz Rosemberg Filho, pelo exemplo de conduta, sempre fiel a
seus princípios, e pela câmera Super-8 que um dia foi do Jairo, com a qual me
presenteou.
Ao amigo Leonardo Esteves, pela sintonia intergalaxial e parceria
cinematográfica.
A Jane Ferreira, Inácio Araújo e Paulo Sacramento, pelas entrevistas
gentilmente cedidas, que me ajudaram a compreender melhor o universo de Jairo
Ferreira.
A Alessandro Gamo, Arthur Autran e Paolo Gregori, pelas conversas e
tantos ensinamentos sobre Jairo Ferreira e o cinema brasileiro.
Ao meu orientador, Nuno Cesar Abreu, pela oportunidade e pela
compreensão.
Aos professores Francisco Elinaldo Teixeira e Gilberto Alexandre Sobrinho,
pelos valiosos conselhos e observações durante a banca de qualificação.
Agradeço a toda minha família, amigos e pessoas que colaboram, mesmo
que indiretamente, com a concretização desse projeto.
Agradeço especialmente a Priscyla Bettim, minha companheira, pela
compreensão durante a feitura desta dissertação e pelo apoio nos momentos mais
árduos; bem como pelo amor e amizade durante todos os dias da minha vida.
Esta dissertação é dedicada à memória de Carlos Oscar Reichenbach
Filho, pela generosidade, pela extensa entrevista cedida e, principalmente, pelos
longos papos e ensinamentos sobre Jairo Ferreira, o cinema e a vida.
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RESUMO
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ABSTRACT
The main goal of this dissertation, called Jairo Ferreira´s Cinema and Critics, is to
study the trajectory of the cinema critic and film-maker Jairo Ferreira (1945 –
2003), author linked to Brazilian experimental cinema. The research begins with a
biographical text that covers Jairo´s activities concerning cinema throughout 40
years, as well as issues about his life. Following there is a chapter analyzing his
two most important periods as a steady critic in the newspapers São Paulo
Shimbun (1966 – 1973) and Folha de S. Paulo (1976 – 1980). Next we have the
analysis of every one of his nine movies, which were made especially between
1973 and 1980 in an independent way, without any connection with the cinema
industry. At last, a chapter that goes through specificities of his most well-known
work, the book Cinema de Invenção, in which he talks about Brazilian film-makers
taken as experimental, released in 1986.
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ÍNDICE
APRESENTAÇÃO..................................................................................................01
1. A TRAJETÓRIA DE JAIRO FERREIRA.............................................................05
2. JAIRO FERREIRA: CRÍTICO DE CINEMA
2.1. SÃO PAULO SHIMBUN, COLUNA “CINEMA”.....................................23
2.2. OS ANOS NA FOLHA DE S. PAULO...................................................39
3. OS FILMES DE JAIRO FERREIRA
3.1. O GURU E OS GURIS..........................................................................57
3.2. ECOS CAÓTICOS................................................................................63
3.3. O ATAQUE DAS ARARAS...................................................................68
3.4. O VAMPIRO DA CINEMATECA...........................................................73
3.5. ANTES QUE EU ME ESQUEÇA..........................................................92
3.6. HORROR PALACE HOTEL..................................................................95
3.7. NEM VERDADE NEM MENTIRA........................................................103
3.8. O INSIGNE FICANTE.........................................................................110
3.9. AS AVENTURAS DE RAUL SEIXAS NA CIDADE DE TOTH............124
4. CINEMA DE INVENÇÃO..................................................................................129
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................147
BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................151
INFORMAÇÕES...................................................................................................159
ANEXOS
A. FILMOGRAFIA DE JAIRO FERREIRA......................................................161
B. BIBLIOGRAFIA DE JAIRO FERREIRA.....................................................170
C. ARTIGOS E CRÍTICAS DE JAIRO FERREIRA.........................................171
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APRESENTAÇÃO
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XI
“Cinema é Amor
Cinema de Invenção
Sagrada Diversão” 1
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1
Mandamento do Manifesto do Cinema de Invenção, de Jairo Ferreira.
2
Jane Ferreira, em depoimento para este trabalho.
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sobre tudo o que via em seus cadernos de cinema, organizados e arquivados por
data. Sobre essa época, Jairo escreveu:
Autodidata de nascença, o colégio era para ele um suplício, e por volta dos
quinze anos abandona definitivamente a vida escolar. Em torno de 1963 começa a
frequentar o GEF, Grupo de Estudos Fílmicos – grupo responsável pela
publicação do livro O Filme Japonês 4, precursor estudo sobre o cinema japonês
no Brasil –, onde conhece o poeta Orlando Parolini. É também por essa fase que
conhece e se aproxima do cinéfilo e futuro cineasta Carlos Reichenbach, um de
seus grandes amigos ao longo da vida. Os dois sempre se esbarravam pelos
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
3
Criticanarquica Anozero de Conduta in Cinegrafia. São Paulo, 07/1974.
4
Orlando Parolini foi um dos autores do livro, publicado em 1963.
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Para Reichenbach, Orlando Parolini foi o grande guru de Jairo, “uma figura
essencial para se conhecer quem foi Jairo Ferreira, que o influenciou muito
culturalmente.”6 Considerado por muitos o primeiro beat brasileiro, definido por
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5
Carlos Reichencach, durante participação em debate na “Mostra Jairo Ferreira – Cinema de
Invenção”, no CCBB-SP, em 09/02/2012.
6
Idem 5.
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(!Carlos Reichencach, em depoimento para este trabalho.!
8
Parolini, Eminência Parda in São Paulo Shimbun. São Paulo, 23/03/1972. O texto foi escrito sob o
pseudônimo de Marshall Mac Gang.
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9
A coluna Cinema era a única do jornal escrita em português. Ficava na última página mas,
curiosamente, como no idioma japonês se lê da direita para a esquerda, “tinha essa fama por ser
a única coluna de cinema que ficava na primeira página”, nas palavras bem humoradas de Carlão
Reichenbach.
10
GAMO, Alessandro. Vozes da Boca. Campinas: Tese de doutorado, IA/Unicamp, 2006.
11
GAMO, Alessandro. Críticas de Jairo Ferreira / Críticas de invenção: os anos do São Paulo
Shimbun. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006.
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12
Carlos Reichenbach, em depoimento para este trabalho.
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13
Carlos Reichencach, durante participação em debate na “Mostra Jairo Ferreira – Cinema de
Invenção”, no CCBB-SP, em 09/02/2012.
14
“Ou de algum outro membro do alto escalão militar”, segundo Reichenbach.
15
Parolini, Eminência Parda in São Paulo Shimbun. São Paulo, 23/03/1972.
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Por volta de 1967, Jairo se muda da casa onde morava com os pais e os
irmãos. Sua vida boêmia e os hábitos noturnos já começavam a se manifestar e
não se encaixavam nos parâmetros do cotidiano familiar; Jairo varava as noites
pesquisando, escrevendo suas críticas, ouvindo música16 . Transfere-se, então,
para um apartamento no Largo do Glicério, região central de São Paulo,
constantemente frequentado pelos parceiros Carlão, Parolini, João Callegaro,
Inácio Araújo, entre outros. Essa vivência é posteriormente retratada em
passagens do longa-metragem Alma Corsária, dirigido por Reichenbach em 1993.
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19
A ESC fechou as portas antes de formar sua primeira turma.
20
Andrea Tonacci chegou a dar aulas na São Luís.
21
Carlos Reichenbach, em depoimento para este trabalho.
22
Marginal, adeus in Cinema Marginal brasileiro e suas fronteiras. Depoimento para o catálogo da
mostra homônima, realizada no CCBB em 2001.
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23
Episódio do longa-metragem Audácia!, que conta ainda com outro episódio dirigido por Antônio
Lima.
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Durante seus anos como crítico no São Paulo Shimbun, Jairo gozou de
total liberdade para escrever, acompanhando toda a produção do Cinema
Marginal durante o seu principal período. O estilo livre e poético de escrita, que já
acompanhava Jairo desde cedo, foi se acentuando nos últimos anos em que
escreveu para o Shimbun. Em 1972 passa a assinar suas críticas sob três
25
pseudônimos: Marshal Mac Gang, João Miraluar e Ligéia de Andrade . Sua
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24
Inácio Araújo, em depoimento para este trabalho.
25
Estes personagens reapareciam em alguns dos futuros filmes de Jairo Ferreira.
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coluna Cinema se encerra em 1973, quando certo tipo de cinema transgressor que
Jairo tanto defendia já não tinha mais apelo entre os produtores da Boca.
É em 1973 que Jairo inicia a realização de seus filmes, legítimos exercícios
de liberdade cinematográfica e da linguagem “de invenção” que tanto prezava.
São cinco curtas: O guru e os guris (1973), Ecos caóticos (1975), O ataque das
araras (1975), Antes que eu me esqueça (1977), Nem verdade nem mentira
(1979); um média, Horror Palace Hotel (1978); e dois longas, O vampiro da
cinemateca (1977) e O insigne ficante (1980).
Em sua obra fílmica, apenas O guru e os guris e Nem verdade nem mentira
foram rodados em 35mm e com equipe profissional de cinema. Todos os outros
foram filmados em Super-8, filmes artesanais que Jairo realizava de maneira
solitária ou com o auxílio de poucos amigos, e nunca exibidos comercialmente.
Jairo funde experimental, documentário e ficção, usa imagens e sons de arquivo,
filma filmes diretamente do cinema e da televisão, se apropria de signos sempre
criando / inventando novos sentidos e acepções. Por vezes se aproxima do cine-
diário, mas é fato que sempre colocou / escancarou sua vida em tudo que fez,
tanto no que filmou quanto no que escreveu. Sobre sua produção em Super-8,
Jairo concedeu o seguinte depoimento:
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26
Entrevista concedida a Arthur Autran e Paulo Sacramento, em 1991, e publicada na única edição
da revista Paupéria.
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27
Entrevista concedida a Diomédio Morais, em 1993, e publicada no jornal alternativo Cine
Fanzine.
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Na Folha de S. Paulo Jairo Ferreira trabalha como crítico de 1976 até 1980.
Segundo Inácio Araújo, “esse é o período mais estável de sua vida, essa foi uma
época boa do Jairo”28. E também a mais criativa, com a realização de grande parte
dos seus filmes. Na Folha escreve muitas vezes sobre o cinema brasileiro,
acompanhando lançamentos e a continuidade da carreira de cineastas do grupo
Marginal, como Ozualdo Candeias, Júlio Bressane, Ivan Cardoso e outros. Fazia
um tipo de trabalho que, de fato, não teria qualquer espaço na grande imprensa
nos dias de hoje. Foi, nesse período, um dos poucos críticos que respeitavam e
admiravam parte do cinema popular feito na Boca, e escreveu sobre diversas
obras de cineastas como Cláudio Cunha e Jean Garret.
Em 1977 Jairo começa a escrever o que seria seu livro, o hoje clássico
Cinema de Invenção, cuja primeira edição saiu apenas em 1986. Inicialmente, o
projeto consistia em uma “história do cinema experimental brasileiro”, mas, não
encontrando editor que publicasse um livro tão volumoso, com em torno de 500
páginas, a ideia acabou abortada 29.
Entre outras atividades, Jairo trabalha como assessor de imprensa da
sucursal da Embrafilme em São Paulo, durante a década de 1980. Colabora como
crítico em O Estado de S. Paulo e no Jornal da Tarde, entre 1988 e 1990. Durante
sua carreira colaborou com diversos jornais e revistas, tais como Filme Cultura,
Fiesta Cinema, Cine Imaginário, Artes, Lampião da Esquina, entre outros. Em
1974 editou o único número da revista independente Metacinema; um segundo
número foi preparado, mas não chegou a ser lançado.30
Talvez a mais significativa e relevante contribuição para o pensamento
sobre o cinema brasileiro de sua carreira, o livro Cinema de Invenção é finalmente
publicado em 1986 (Editora Max Limonad / Embrafilme), após nove anos de
preparo. No livro, Jairo escreve sobre os filmes e cineastas brasileiros que
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
28
Em depoimento para este trabalho.
29
Em depoimento a Arthur Autran e Paulo Sacramento, em 1991.
30
Essa edição continha o roteiro de O vampiro da Cinemateca, que Jairo redigiu após a finalização
do filme. Uma cópia se encontra na Biblioteca Paulo Emílio Salles Gomes, na Cinemateca
Brasileira.
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31
POUND, Ezra. ABC da literatura. São Paulo: Cultrix, 2006.
32
Muitos desses filmes são de difícil acesso até os dias hoje.
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33
Edital para a realização de curtas-metragens da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.
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34
A mostra teve duração de duas semanas em cada praça.
35
Gravada em VHS por Arthur Autran e Paulo Sacramento em 1991.
36
O catálogo contém diversos textos inéditos sobre Jairo e sua obra, de autores como Inácio
Araújo, Arthur Autran, Carlos Reichenbach e Alessandro Gamo; além de uma apanhado de
escritos emblemáticos do próprio homenageado.
37
http://www.mostrajairoferreira.com.br
38
41º International Film Festival Rotterdam.
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39
Signals: The Mouth of Garbage.
40
GAMO, Alessandro. Vozes da Boca. Campinas: Tese de doutorado, IA/Unicamp, 2006.
41
GAMO, Alessandro. Críticas de Jairo Ferreira / Críticas de invenção: os anos do São Paulo
Shimbun. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006.
42
http://cinema-de-invencao.blogspot.com.br/
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Desde meados dos anos 1960, como muitos outros cinéfilos e jovens
aspirantes a cineastas - como Carlos Reichenbach, João Silvério Trevisan e
Rogério Sganzerla -, Jairo Ferreira frequentava os cinemas do bairro Liberdade.
Eram inúmeros os “poeiras” na região, e muitas cópias chegavam para entreter a
numerosa colônia japonesa de São Paulo Os cineastas da chamada Nouvelle
Vague Japonesa eram objeto de culto entre esse seleto grupo de jovens, que
conviviam nas salas com um público constituído basicamente por orientais, muitas
vezes para assistir cópias sem legendas. Carlos Reichenbach se recorda de
cruzar com Jairo por essas salas, mesmo antes de se tornarem amigos:
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43
O pseudônimo Ligéia de Andrade faz referência a Oswald de Andrade e Edgar Allan Poe, autor
de um conto intitulado Ligéia (1838); João Miraluar faz alusão direta ao personagem do romance
Memórias Sentimentais de João Miramar (1924), de Oswald de Andrade; Marshall MacGang faz
menção ao teórico da comunicação Marshall McLuhan, cujas ideias influenciaram Jairo no período.
44
Para se ter ideia dessa fase, o “sumiço” do crítico titular da coluna, Jairo Ferreira, é tratado em
um artigo como “abdução por óvnis”. Esse desdobramento pode ser interpretado como a
alternativa encontrada por Jairo para lidar com um período de incertezas, no qual o ápice da
produção dos filmes do grupo de “invenção”, pelos quais militava e que tanto defendia em sua
coluna, já havia passado na Boca do Lixo.
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É neste contexto que Jairo inicia sua trajetória crítica, dividindo a coluna
com seu amigo e mentor Orlando Parolini e escrevendo sobre os filmes de
cineastas japoneses que tanto admirava. Era um período de efervescência da
chamada Noberu Bagu, a Nouvelle Vague do Japão, e novos cineastas estavam
rompendo com os rígidos padrões da sociedade e do cinema clássico japonês,
tanto na forma como no conteúdo dos filmes. Segundo Alessandro Gamo, Ferreira
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
45
Carlos Reichencach, durante participação em debate na “Mostra Jairo Ferreira – Cinema de
Invenção”, no CCBB-SP, em 09/02/2012.
46
GAMO, Alessandro. Vozes da Boca. Campinas: Tese de doutorado, IA/Unicamp, 2006.
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Desde o seu início como crítico no São Paulo Shimbun, Jairo Ferreira já
escrevia sobre o cinema brasileiro. Anteriormente à formação do grupo marginal
na Boca, o jovem crítico escreve artigos elogiosos sobre filmes como O Corpo
Ardente48 (1966), de Walter Hugo Khouri, e O Caso dos Irmãos Naves49 (1967), de
Luís Sergio Person, nas ocasiões de seus lançamentos. Sobre o filme de Khouri,
discorre de maneira elegante, buscando capturar certa aura de mistério própria ao
filme:
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47
O Jogo dos Insetos in São Paulo Shimbun. São Paulo, 24/02/1967.
48
O Corpo Ardente in São Paulo Shimbun. São Paulo, 16/12/1966.
49
O Caso” de Person in São Paulo Shimbun. São Paulo, 15/07/1967.
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53
Mojica, Cineasta Antropofágico in São Paulo Shimbun. São Paulo, 28/11/1968.
54
Para um maior aprofundamento acerca deste período, ver: ABREU, Nuno Cesar. Boca do Lixo:
cinema e classes populares. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2006; e GAMO, Alessandro. Vozes
da Boca. Campinas: Tese de doutorado, IA/Unicamp, 2006.
55
Vários destes artigos estão reunidos em: GAMO, Alessandro. Críticas de Jairo Ferreira / Críticas
de invenção: os anos do São Paulo Shimbun. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006.
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56
Lances do Lixão in São Paulo Shimbun. São Paulo, 25/06/1970.
57
Helena – Rogério in O Pasquim. Rio de Janeiro, 11/02/1970. Na ocasião, Sganzerla denuncia a
suposta degeneração do Cinema Novo, acusando o movimento de conservador e reacionário.
58
Termo usado por Glauber Rocha no final dos anos 1960 para designar (e de certa forma
satirizar) a produção que posteriormente foi rotulada de Cinema Marginal.
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O Dragão tem uns 15% de inovação, taxa irrisória para quem se diz
tão revolucionário. É chupado de Deus e o Diabo, e dos outros
filmes, como se colorir fosse renovar.
(!)
Também em cartaz: Brasil Ano 2000. Um filme de Walter Lima
Júnior, revelação de simplicidade e talento com Menino de
Engenho. Representa um salto em sua carreira, pois passou do
lirismo para a gozação. Também colorido, mostra os avanços
técnicos do cinema nacional, que consegue se desenvolver mesmo
pressionado por todas as hostilidades que aí estão. 59
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59
O Dragão e Brasil Ano 2000 in São Paulo Shimbun. São Paulo, 19/06/1969.
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60
Filme em três episódios, de Reichenbach, Callegaro e Antônio Lima.
61
Filme em dois episódios, de Reichenbach e Antônio Lima.
62
Instituto Nacional de Cinema, criado em 1966.
63
Firmes Nossos in São Paulo Shimbun. São Paulo, 01/05/1969.
64
Empresa Brasileira de Filmes, estatal criada no final de 1969.
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65
Morra Boca! Viva Embra! in São Paulo Shimbun. São Paulo, 05/11/1970.
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Orgia ou o homem que deu cria não estrearia nas salas de cinema em
menos de dez anos. Entre outros filmes radicais do período, teve sua exibição
comercial negada pela censura, e só foi liberado após o abrandamento do regime
militar, no início dos anos 1980. Fato que colocaria um ponto final na carreira de
cineasta do futuro escritor João Silvério Trevisan, que se desmotivou em seguir a
profissão após a interdição de seu primeiro longa-metragem.
Outra característica da coluna de Jairo Ferreira no Shimbun foi, desde o
início, noticiar suas pretensões como realizador de cinema, escrevendo sobre os
seus projetos pessoais e acompanhando as produções das quais participava. Foi
assim com os projetos Via Sacra e Mulher dá luz a peixe, filmes não finalizados,
mas sobre os quais Jairo escreveu em vários artigos, tanto documentando os
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
66
No écran, O Pornógrado in São Paulo Shimbun. São Paulo, 27/05/1971.
67
Idem 23.
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68
Procura-se um produtor in São Paulo Shimbun. São Paulo, 13/01/1972.
69
Revista independente editada por Jairo Ferreira em 1974.
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filmes, mas também sobre a ligação do cinema com outras artes e com assuntos
como a cibernética70 e a semiologia, entre outros:
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70
Influenciado pelas ideias do teórico da comunicação Marshall McLuhan.
71
Informação e Linguagem in São Paulo Shimbun. São Paulo, 1972.
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Jairo Ferreira escreve para o São Paulo Shimbun até julho de 1972, quando
se desliga definitivamente do jornal. Foram no total 252 matérias em quase seis
anos, contando com as diversas colaborações de amigos. Foi um momento de
rara liberdade, radical e singular na história da crítica de cinema no Brasil. Como
costumava dizer, Jairo encarava escrever sobre filmes uma forma de fazer
cinema. Não por caso, no capítulo intitulado “Jairo Ferreira: síntese ideogrâmica”,
de seu livro Cinema de Invenção, o autor não aborda seus filmes. Curiosamente,
Jairo faz um apanhado de trechos de sua coluna no Shimbun, antecedida por um
breve texto introdutório no qual esclarece a proposta do capítulo e discorre sobre
seu período como crítico do nipo-jornal:
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72
Pseudônimo usado por Márcio Souza, com o qual assinou textos em ocasiões nas quais
substituiu Ferreira na coluna do Simbun.
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73
Trecho do livro Cinema de Invenção, 1986.
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74
Revista editada por Carlos Reichenbach e Inácio Araújo em 1974.
75
Editada por Jairo Ferreira em 1974.
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76
Publicação popular da Boca do Lixo.
77
Periódico independente carioca.
78
ABREU, Nuno Cesar. Boca do Lixo: cinema e classes populares. Campinas, SP: Editora
Unicamp, 2006.
79
Em 1973 a Embrafilme se torna também distribuidora.
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Mas é fato que nunca abandou seu estilo de escrita e seu humor por vezes
mordaz, e que sempre se manteve fiel às suas opiniões e ideias.
Ainda assim, dispunha de ampla liberdade, escrevendo frequentemente – e
na grande maioria das vezes – sobre os assuntos de seu principal interesse,
relativos ao cinema brasileiro. Escreve sobre a continuidade da carreira de
cineastas e os novos filmes do grupo marginal / experimental; e sobre temas como
a produção de curtas-metragens, o cinema Super-8, cineclubes, festivais e circuito
alternativo de exibição. A verve cômica e poética de sua escrita continuava
presente, talvez algo inimaginável para a crítica cinematográfica, na grande mídia,
nos dias de hoje. Integra também a equipe do suplemento dominical de cultura
Folhetim80, criado por Tarso de Castro em 1977, no qual podia publicar notas
espirituosas sobre polêmicas, notícias e os bastidores do cinema experimental, da
Boca, etc., bem como algumas entrevistas mais descontraídas.
Como toda a crítica cinematográfica daqueles tempos, Jairo é bem crítico
em relação a produção geral da Boca do Lixo, rotulada como pornochanchada.
Ainda sim, escreve sem preconceitos, e com certa simpatia por diretores,
produtores e técnicos, pelos “habitantes” daquela região na qual convivia e que
conhecia tão bem; ou seja, continuava escrevendo sobre a Boca como alguém
que conhecia aquele ambiente de dentro, de maneira por vezes sarcástica, mas
quase sempre generosa:
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85
O fantástico Jean Garret in Folha de S. Paulo. São Paulo, 07/02/1980.
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Sempre que escreve sobre Ozualdo Candeias, Jairo aproveita para fazer
um histórico / retrospectiva do ciclo experimental na Boca, que para ele teve como
precursor A Margem, longa de Candeias de 1967. Jairo dá grande destaque para
o cinema de Candeias, um de seus cineastas de cabeceira, em circunstâncias nas
quais dificilmente outro crítico daria; no lançamento do curta-metragem
Bocadolixocinema ou Festa na Boca (1976), ocasião propícia para tratar sobre a
Boca; e durante as filmagens de Aopção ou As Rosas da Estrada87 (1981), na
época interrompidas por falta de dinheiro. Em ambas as situações Jairo escreve
longas matérias com depoimentos de Candeias, que dimensionam o
reconhecimento do crítico à independência do cineasta:
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
86
Os mundos paralelos de Khouri in Folha de S. Paulo. São Paulo, 05/03/1979.
87
Candeias começou a rodar Aopção em 1977; Jairo Ferreira participou do filme como ator.
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90
Anarquia poética contra o Cinemão in Folha de S. Paulo. São Paulo, 12/01/1979.
91
Homenagem a Billy Wilder em comédia de Reichenbach in Folha de S. Paulo. São Paulo,
03/03/1979.
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92
A produção independente da Boca também vinha em alta naqueles anos.
93
As leis de obrigatoriedade de exibição de filmes brasileiros nas salas de cinema.
94
GATTI, André Piero. Embrafilme e o cinema brasileiro. São Paulo: Centro Cultural São Paulo,
2007.
95
“(...) a Embrafilme poderia coproduzir um filme e depois pagar um adiantamento de receita para
o mesmo produtor. Essa metodologia de trabalho criaria um dos piores vícios do cinema brasileiro:
o produtor poderia ter o orçamento total do seu filme bancado pela empresa, o que significava
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dizer que a Embrafilme, na prática, entraria com todo o risco do negócio. O produtor também
poderia levar um bom naco do orçamento para o seu próprio bolso através do esquema de
superfaturamento de prestação de serviços e contratação de terceiros, como é sabido
informalmente por quem se encontrava no circuito.” GATTI, André Piero. Embrafilme e o cinema
brasileiro. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2007, p. 29.
96
Cinemão, a receita da Embrafilme in Folha de S. Paulo. São Paulo, 10/05/1978.
%)!
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subjetiva, mas que sempre seguiam a lógica de defender o tipo de cinema que
admirava, o que tendia para o experimental, audacioso ou fora do lugar comum.
Dentro deste contexto, tratando sobre produções da Embrafilme, o crítico
poderia receber de maneira negativa filmes realizados por cineastas dos quais era
amigo e que de maneira geral admirava, como A Dama do Lotação, de Neville de
Almeida, que após dirigir tal filme teria deixado de lado seu início experimental e
abandonado o experimental para aderir ao “movimento Cinemão”. De fato, o que
Jairo mais criticava em produções da Embrafilme daquele período eram os filmes
que facilitavam a narrativa visando apenas o sucesso de bilheteria. Em matéria
sobre A Dama do Lotação, que posteriormente atingiria mais de sete milhões de
espectadores97, após apontar a simplificação do texto de Nelson Rodrigues por
parte do filme, explorando apenas o erotismo na obra do escritor, escreve:
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
97
GATTI, André Piero. Embrafilme e o cinema brasileiro. São Paulo: Centro Cultural São Paulo,
2007.
98
Filme de 1978, dirigido por Francisco Ramalho Jr.
99
A dama e os valetes do lotação in Folha de S. Paulo. São Paulo, 21/04/1978.
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100
Cinema e Liberdade in Folha de S. Paulo. São Paulo, 24/06/1979.
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104
A vitória de um horror poético e generoso in Folha de S. Paulo. São Paulo, 29/07/1978.
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105
Idem 104.
106
Liberado para exibição apenas no exterior, Crônica seria exibido no Festival de Cannes daquele
mesmo ano.
107
Manifesto de um cineasta visionário in Folha de S. Paulo. São Paulo, 23/07/1978.
108
Fiesta Cinema. São Paulo, 09/1978.
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média, Jairo a todo momento tece analogias entre o imaginário do gênero horror,
significado pela figura de Mojica Marins, e a situação de “horror” na qual jazia o
cinema nacional. “O horror não está no horror”, e “é por isso que eles são horríveis
e nós somos ótimos”, proferem, respectivamente, Júlio Bressane e Rogério
Sganzerla, representantes da mostra paralela O Horror Nacional, à certa altura do
filme.
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Boris Casoy. Você acha que o Jairo Ferreira vai continuar num lugar
onde está o Boris Casoy? Impossível.”109
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
109
Carlos Reichenbach e Inácio Araújo, durante participação em debate na “Mostra Jairo Ferreira –
Cinema de Invenção”, no CCBB-SP, em 09/02/2012. Na ocasião, Reichenbach descreve o
episódio exato em que Jairo teria sido despedido da Folha, por ter afrontado o editor-chefe.
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110
Os negativos e o copião do filme foram picotados pelo poeta Orlando Parolini, durante uma
paranoia pós AI-5.
111
A produção do que seria um episódio de longa-metragem foi suspensa pelo produtor Antônio
Polo Galante, logo após os primeiros dias de filmagem.
112
Que posteriormente daria origem a Cinemateca de Santos.
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114
No início do filme, Legeard diz “Godard é bom em termos de novidade, a novidade passa, é
moda”; mas adiante, dispara “Godard rompeu com toda a estrutura do passado, se o pessoal
assimila o Godard muito mal por aqui a culpa é deles”.
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115
“Atenção, chapinha da Tribuna: Hoje, no Clube de Cinema de Santos, haverá uma matinée
especial pra garotada, com a exibição do Vampiro de Dreyer, numa cópia gentilmente cedida pela
Fundação Cinemateca Brasileira. O coordenador Maurice Legeard avisa que após a sessão haverá
distribuição de chicletes e pipoca gratuitamente. Todos lá.”
116
Vampyr (1932), clássico filme de horror metafísico do dinamarquês Carl Theodor Dreyer.
117
Conhaque Dreher, cuja pronúncia é similar a “Dreyer”.
118
O trecho da letra da música, presente no álbum Billion Dollar Babies (1973), diz: “I love the
dead, before they’re cold”; “eu amo os mortos, antes que estejam frios”.
119
Monte na cidade de Santos, de onde se tem uma vista panorâmica da cidade.
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120
Críticas ou escritos sobre cinema.
121
Samba lançado em compacto para o carnaval de 1969.
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122
Na verdade, Sousândrade nasceu em Alcântara, no estado do Maranhão.
123
Depoimento de Jairo Ferreira, fonte desconhecida. Acompanhou a sinopse de Ecos Caóticos
em festivais e mostras onde o filme foi exibido.
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126
ESPÍNOLA, Adriano. O Irisado Sousândrade in Melhores Poemas de Sousândrade. São Paulo:
Global, 2008.
127
O poema O Guesa é inspirado livremente em um mito pertencente aos índios muíscas da
Colômbia, que narra a saga de um menino que é morto a flechadas em praça pública, tem seu
coração oferecido a Bochicha, o Rei do Sol, e seu sangue recolhido em vasos sagrados. Antes
disso, porém, peregrina pelos mesmos caminhos trilhados por Bochicha.
128
Denominação dada pelos irmãos Campos ao trecho do Canto X de O Guesa, todo composto
por fragmentos estróficos, que descrevem, narram ou comentam, através da fala de vários
personagens, episódios da vida dos EUA e sobretudo do universo financeiro industrial da Bolsa de
Valores de Nova Iorque, passagem na qual a modernidade de Sousândrade se manifesta de forma
contundente (ESPÍNOLA, p. 17).
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132
Em texto sobre Ecos Caóticos, presente no catálogo da mostra “Jairo Ferreira – Cinema de
Invenção”, Arthur Autran nos lembra que “Não devemos esquecer que 1975 foi o ano de
implantação da PNC (Política Nacional de Cultura), instrumento por meio do qual o Estado
ditatorial aproximou-se de diversos setores da produção cultural, incluindo os cineastas ligados ao
Cinema Novo; esta política possuía uma concepção nacionalista de cultura e a percebia como
elemento de construção e unificação de uma suposta identidade nacional. Ou seja, há todo um
significado político neste curta de Jairo Ferreira”. Num âmbito mais amplo, tal comentário se aplica
a toda obra fílmica do autor, bem como a muito do que escreveu.
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Assim como Ecos Caóticos, O Ataque das Araras foi rodado em Super-8 no
ano de 1975, durante a mesma incursão de Jairo Ferreira pelas regiões norte e
nordeste do Brasil. O filme contou com a participação dos amigos Orlando
Parolini, na seleção musical, e Carlos Reichenbach, que escreveu a narração /
locução com Jairo. Como a maior parte de sua produção em Super-8, o filme é
todo conduzido pela voz over do autor, através da tensão com as imagens
previamente captadas e articuladas por Jairo durante o trabalho de montagem e
de edição de som.
No caso de O Ataque das Araras a narração guarda semelhanças estreitas
com o modo um tanto ritmado e poético presente na escrita de Jairo Ferreira,
notadamente na fase final do São Paulo Shimbun e logo seguinte – os seus textos
presentes nas revistas independentes Metacinema, que editou, e Cinegrafia,
editada pelos comparsas Reichenbach e Inácio Araújo –, efeito que emerge na
atmosfera informal de “curtição” presente no filme. Podemos aferir que a
articulação imagem / narração, aqui, confere ao filme atributos de uma reportagem
ecológica, mesmo que em clima satírico e com postura nada “turística”.
Durante viagem à Amazônia, a câmera de Jairo Ferreira acompanha o
grupo teatral do amigo Márcio Souza, que segue de barco pelo Rio Negro, de
Manaus rumo a Anori, cidade a cerca de 250 quilômetros da capital, onde fará
uma apresentação para a comunidade ribeirinha local. Na embarcação, uma
equipe de filmagem japonesa faz uma reportagem com a trupe teatral. O futuro
escritor Márcio Souza, que participou do surgimento do grupo marginal, chegando
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135
Durante esta frase final, “e a câmera vomitando em porta errada”, a câmera, após perambular
pelo o barco, adentra no banheiro das “senhoras”.
136
Publicado originalmente na Revista de Antropofagia, no qual o autor fundamenta o emblemático
e catalisador conceito de Antropofagia, essencial para o Modernismo brasileiro.
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137
Aqui, ainda, referencia ao gênero hollywoodiano de filmes bíblicos / faraônicos, de diretores
como DeMille e Hawks.
138
Gênero musical e dança típica de origem indígena, com influências negras, originário do estado
do Pará.
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139
Trecho do Manifesto Antropófago.
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140
O roteiro do filme existe, uma cópia se encontra depositada nos arquivos da Cinemateca
Brasileira.
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142
Em depoimento para este trabalho, Carlos Reichenbach relembra que o compacto 78 rpm
pertenceu a seu pai (Carlos Oscar Reichenbach), editor gráfico que trabalhou para Ademar de
Barros naquela campanha. Certo dia, na casa de Carlão, Jairo ouviu o disco e “ficou maluco, levou
emprestado dizendo que usaria num filme, e de fato usou mesmo”. O que sugere a forma como
Jairo Ferreira caçava / sugava signos.
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143
Na parte final do filme, cenas selecionadas de Triunfo da Vontade (1935), de Leni Riefenstahl,
filmadas da tela de cinema, são rebatidas na banda sonora por Você não serve pra mim (1967),
canção de Renato Barros na voz de Roberto Carlos.
144
Umas & Outras: Um safari semiológico. Texto não publicado sobre o processo de realização de
O Vampiro da Cinemateca, em forma de depoimento, datado de 05/08/1977 e depositado por Jairo
Ferreira nos arquivos da Cinemateca Brasileira.
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“JF”, Jairo Ferreira faz a locução predominante no filme, discorrendo com a sua
voz natural; num segundo registro, imposta um vozeirão grave, no roteiro indicado
como “JF 2”; por último, uma voz distorcida, em rotação desacelerada, que em
geral comenta ou interfere sob os outros registros, descrita como “vozeirão
tonitruante”. Todos estes níveis dialogam entre si; há ainda a voz de Jairo captada
em som direto, bem como outras categorias secundárias indicadas no roteiro, tais
como “voz debochada”, etc.
Nas principais aparições do vampiro Jairo na tela, o autor desponta em
imagens caracterizadas pela composição cênica incomum e por vezes enigmática.
Marcantes são as cenas em que surge em sua casa (“eu simplesmente ligava a
câmera e me colocava na frente”), sentado diante do editor / moviola Super-8, no
ambiente e tempo de feitura do próprio (meta)filme. Apenas um abajur e velas
iluminam o cenário, o vulto espectral de Jairo fuma um cigarro e o efeito da
fumaça se difunde na luz, enquanto lê em som direto o Manifesto Antropófago
(1928), de Oswald de Andrade, entre outras intervenções na edição da banda
sonora.
Numa cena posterior, surge lendo e interpretando escritos seus, um tanto
poéticos, que discutem passagens do filme (“na câmara de horrores do Doutor
Phibes paulista, muita gente continuava sumindo, e o custo de vida subindo...”);
Jairo segura o cabo oscilante de uma lâmpada, única iluminação da cena, “briga”
com a lâmpada, seu rosto fica claro e escuro, numa performance um tanto
estrambólica e caótica.
Jairo Ferreira é o vampiro de uma espécie de cinemateca imaginária, que
se alimenta de filmes para renovar seu sangue e, assim, reconstruir seu vigor 146.
O cineasta parte de seu universo individual para, numa esfera mais vasta, aventar
questões universais, como o próprio estatuto do cinema e das artes em geral.
Acerca desta postura um tanto narcisista, assumida enquanto autor-protagonista,
Jairo refletiu que:
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146
Sobre isso, afirmou em entrevista: “chupo filmes para renovar meu sangue”.
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147
Umas & Outras: Um safari semiológico, 05/08/1977.
148
Atenção, câmera, ação: Super-8 in Cinema em Close-up nº 76, 1977.
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como Mao Tsé-Tung, Glauber Rocha, Karl Marx, Jimi Hendrix. Somados ainda à
outras referências emanadas da cultura de massa, como menções a Chacrinha,
ao programa Silvio Santos e locuções radiofônicas, como atrações da Rádio
Nacional.
Do embate entre os mais variados signos e da relação inusitada entre os
mesmos, desta síntese experimental, brotam novos sentidos, por vezes não
traduzíveis verbalmente, mas sim através das sensações que remetem e causam
ao espectador, interlocutor que tem a tarefa de interpretar os estilhaços de sons e
imagens em meio a profusão intertextual.
Como exemplo, descrevo a sequência na qual Carlos Reichenbach surge
caracterizado como gângster, de terno e óculos escuros, empunhando um revólver
e cobrindo o rosto com um livro, no qual está escrito “O 3º Mundo”. Lígia
Reichenbach, esposa de Carlão, vestida e maquiada de chinesa, recita um poema
de Mao Tsé-Tung. Na trilha fragmentos de Qui nem jiló150, de Luiz Gonzaga, e
trechos musicais de A Chinesa (1967), de Jean-Luc Godard. Numa interrupção,
surge na tela o painel noticioso do Estadão151, no qual corre a seguinte notícia:
“Hamburgo: o Chanceler Schmidt garantiu que o Brasil não usará para fins
militares a tecnologia nuclear que receberá da Alemanha Ocidental...”. O
“gângster” e a “chinesa” surgem novamente, encenando para a câmera; agora ao
fundo um cartaz de O Lobisomem, o terror da meia-noite (1971), longa udigrudi
de Elyseu Visconti. No próximo plano, Reichenbach aparece em close, apontando
a arma para a câmera, uma Coca-Cola na outra mão e um cigarro na boca. Na
trilha, o rock No more Mr. Niceguy152, de Alice Cooper. Sarcástico, o gângster
simula atirar no espectador, na garrafa de refrigerante e, por último, ri
ironicamente.
Numa breve análise desta sequência, constata-se que tal profusão
intertextual remete a diversos outros elementos e associações: como aos gêneros
do cinema americano, filmes B, Hollywood, o Film Noir, etc. (através do imaginário
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
150
De Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949.
151
Como descrito no roteiro, trata-se do painel noticioso do jornal O Estado de S. Paulo.
152
Canção do álbum Billion Dollar Babies (1973).
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Eu quero que esse teto caia, Quero que esse afeto saia. O
raciocínio lento, o passo pensamento, no olho o orifício, no passo o
precipício. O passo o pensamento. Eu quero que esse afeto saia,
em vermelho natural, no rosto e no lençol, com gosto de água e sal,
misturando o bem e o mau.
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153
Partitura composta como música de cena para a peça homônima de Gabrielle d’Annunzio.
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Marshall MacGang, lendo trechos de artigo154 que Jairo Ferreira publicou sob tal
pseudônimo no São Paulo Shinbum.
Há ainda alusões ao universo do travesti e suas relações com a
transgressão, entre passeios noturnos por São Paulo e Nova Iorque (via cenas
usurpadas de Taxi Driver), e narrações do autor, como:
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154
Distanciamento Metacrítico, 24/02/1972.
155
Há ainda frases impagáveis acerca do universo transexual, como a antropofágica “O travesti é
apenas uma das modalidades do gay pau-brasil”.
156
Gravadas em compacto simples para o carnaval de 1969.
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através de sua voz, mas por meio de imagens sugadas, de legendas de outros
filmes presentes na tela, letras de músicas, locuções radiofônicas, letreiros da
cidade, etc.
Isto é, o vampiro usufrui de todos estes artifícios na constituição de uma
espécie de teia / fio narrativo, arriscando associações inusitadas, nas quais se
utiliza das imagens e sons enquanto símbolos, levando e alterando os significados
destes ao limite. É um processo no qual desvirtua e distorce acepções com a
intenção de inventar novas ideias, dentro do paradigma experimental da paridade
entre forma e conteúdo.
Advém daí a noção da síntese-ideogrâmica, influência direta das antenas
vanguardista dos poetas concretos sob o cinepoeta e inventor Jairo Ferreira.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
159
Trechos de Poesia Concreta (Manifesto), de Augusto de Campos, 1957.
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Cinemateca. Invenção fílmica já presente nos outros filmes do autor, mas que aqui
reverbera em maior potência.
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160
Apenas duas sequências presentes no roteiro não constam no filme final, e uma sequência
presente no filme não aparece no roteiro.
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161
Como já mencionado, o roteiro de Umas & Outras / O Vampiro da Cinemateca seria publicado
numa segunda edição da revista Metacinema que nunca foi lançada. As indicações “JF” e “JF 2”
foram aqui transcritas fielmente: a primeira indicando a narração do autor em voz naturall; a
segunda indicando um vozeirão grave que dialoga com JF.
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162
Umas & Outras: Um safari semiológico, 05/08/1977.
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163
Em 1961 o editor Massao Ohno publica a Antologia dos Novíssimos, com poemas de Roberto
Piva, Cláudio Willer, Antônio Fernando de Franceschi e Décio Bar, entre outros. Em 1963, Piva
lança Paranoia, talvez o livro mais expressivo dessa geração de escritores, com o qual já consolida
seu status de poeta maldito.
164
Programa Espaço Aberto Literatura, Globo News, 03/2011.
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165
Ao que tudo indica uma versão original do filme, com duração de quarente minutos, se perdeu.
166
Trechos da música Matemática do Desejo (1974) são ouvidos durante todo o filme.
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167
Ao final do inspirado ensaio Cinema: música da luz, que integra o livro O cinema segundo a
crítica paulista (1986, organizado por Heitor Capuzzo), Jairo parafraseia Roberto Piva: “A crítica
considera prioritário num filme a temática, devido à sua formação conteudística e sócio-ideológica,
mas eu não separo a temática da forma utilizada: da forma nasce a ideia (Flaubert) e não há
linguagem revolucionária sem forma revolucionária (Maiakovski) e, como o poeta Roberto Piva, só
acredito em poeta experimental que tenha vida experimental”.
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169
Cinema, cineminha e cinemão in Fiesta Cinema. São Paulo, 09/1978.
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171
Em Brasília, a maior atração ainda é o horror in Folha de S. Paulo. São Paulo, 27/07/1978.
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173
Almeida Salles, presidente da amizade in Folha de S. Paulo. São Paulo, 20/12/1979. Jairo
Ferreira tinha também a ideia de realizar um filme em homenagem a Almeida Salles, intitulado
“Presidente da Amizade”, projeto que nunca se concretizou.
174
Segundo o ator Renato Consorte, em depoimento ao filme.
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176
Carlos Reichenbach, em depoimento para este trabalho.
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177
Carlos Reichenbach, durante participação em debate na “Mostra Jairo Ferreira – Cinema de
Invenção”, no CCBB-SP, em 09/02/2012.
178
É válido lembrar que Jairo Ferreira usou o pseudônimo de Ligéia de Andrade em artigos no São
Paulo Shimbun e na revista Metacinema. A personagem aparece ainda em O Vampiro da
Cinemateca.
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Numa análise de Nem verdade nem mentira, podemos ponderar que o filme
se divide em três linhas centrais, que se alternam ao longo dos seus dez minutos
de duração: (1) Ligéia de Andrade em seu quarto, falando e se dirigindo
diretamente à câmera e aos espectadores, em tom de depoimento; (2) a repórter
na redação do jornal onde trabalha, em trechos que ouvimos sua narração em voz
over; (3) as entrevistas / conversas com outros jornalistas, seus supostos colegas
de profissão.
As cenas em que Ligéia de Andrade aparece em sua casa foram rodadas
no próprio quarto de Jairo Ferreira, no apartamento em que morava naquela
época, na Rua Barão de Limeira. A personagem está sentada diante de uma
bancada, na qual vemos uma estante com livros e uma máquina de escrever. Está
virada para a lateral da bancada, olhando de frente para a câmera e dialogando
diretamente com o espectador. Por meio da voz da personagem, estilhaços da
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
179
Jairo Ferreira / Patrícia Scalvi.
180
Texto sobre Nem Verdade Nem Mentira, escrito para o catálogo da mostra “Jairo Ferreira:
Cinema de Invenção”, 2012.
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acerca da profissão. A personagem reflete que “A rotina tem seu encanto, estou
aqui estou lá, redação e deserto, uma coisa só. Profissão repórter. Aqui armei
minha tenda, meu arquivo de sonhos, e desse oásis não abro mão. A redação é
um campo de batalha: o amor, o talento, o sangue. Manchete de jornal”. Enquanto
Ligéia / Jairo elucubram, estilhaços de frases marcantes surgem em close,
datilografados na máquina de escrever, na função de letreiros que dialogam com a
narração.
Nas entrevistas com os jornalistas, em atmosfera de conversa informal,
Ligéia indaga os companheiros sobre a verdade e a mentira no jornalismo. Aqui
ganham força os traços de documentário que compõe o filme: na redação, o
ambiente é real, com planos nos quais ao fundo pessoas aparecem trabalhando;
as identidades dos entrevistados são reais, o que também interfere nas perguntas
e assuntos tratados com cada personalidade. Aqui, estão em pauta ainda temas
como a abertura política do país (na pergunta a Flávio Rangel), bem como
preferências político-ideológicas e religiosas (que parecem surpreender Tavares
de Miranda). Emblemática no contexto do filme é a declaração de Adilson
Laranjeira, claramente ensaiada como uma cena de ficção: “Você sabe quem é
que está certo? Quem está certo é aquele jornalista bêbado do filme O homem
que matou o facínora, você lembra o que ele disse? Se a verdade histórica não é
tão boa quanto a lenda, imprima-se a lenda”.
Ao final do filme, na redação do jornal, sentada numa mesa em frente à
máquina de escrever e olhando direto para os espectadores, Ligéia de Andrade lê
sua fala em folhas que segura, as quais descobrimos conter o relatório secreto.
Neste momento alegórico, o relatório se equipara ao próprio roteiro / filme, lido
pela atriz de frente para a câmera:
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“A chave é a invenção.”
Ezra Pound
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181
Organizado por Augusto de Campos; traduzido por Augusto de Campos e José Paulo Paes.
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182
Informação encontrada nos originais do livro Só por hoje. No início dos anos 2000, Carlão
Reichenbach preparava uma home page de Jairo Ferreira, que nunca foi ao ar. Um protótipo
impresso desta página com informações sobre Jairo e sua obra escritas pelo mesmo, encontra-se
anexado aos originais do livro Só por hoje.
183
Em depoimento para este trabalho, Jane Ferreira relembra que Jairo e Cálgaro, naquela época,
por volta de 1960, viviam competindo sobre qual dos dois assistiria mais filmes ao longo de cada
ano.
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184
Trechos da apresentação de ABC da Literatura, escrita por Augusto de Campos.
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Logo após o referido trecho, a narração conclui: “Orson Welles que o diga”.
Vemos então fragmentos de imagens de discos voadores utilizadas por Orson
Welles, um dos paradigmas de invenção para Jairo, em F for Fake (1974), que
remetem à clássica transmissão radiofônica de A Guerra dos Mundos produzida
pelo jovem Welles em 1938. Logo após, na narração outra leitura de trecho de
ABC da Literatura, citando quatro das definições de categorias de escritores
propostas por Pound:
186
Seguem-se fragmentos de Aopção , filme de outro inventor
paradigmático, Ozualdo Candeias, e um close em zoom out de um ventre
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185
Há ainda duas categorias de escritores propostas por Pound, não citadas aqui por Jairo
Ferreira: Bons Escritores e Beletristas, que se situam abaixo de Diluidores e acima da mais
rasteira, Lançadores de Modas.
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186
Aparecem trechos de Aopção ou as rosas da estrada (1981), de Ozualdo Candeias, nos quais
Jairo Ferreira, ator do filme, surge na pele de um pregador da bíblia e acaba despido por
prostitutas em um prostíbulo de beira da estrada.
187
Personagem criado pelos estúdios Warner Brothers. O crítico Juliano Tosi descreve a cena e
seus significados de maneira certeira, em texto para o catálogo da mostra Jairo Ferreira: Cinema
de Invenção: “(!) a cena, fabulosa, retirada de um desenho do Ligeirinho (dublado em italiano!):
diante da pasmaceira, do “cemitério dos vivos”, de uma vida que é pura repetição, lenta demais,
surge a figura muito veloz (os lentos demais só veem seu rastro, depois que já passou) do
Ligeirinho. Ele vive plenamente: não dedica o melhor de seu tempo e energia com o inútil. É dele,
portanto, o beijo da moça mais bela, cobiçada por todos os demais. Mas ele, por viver mais,
desejar mais, também pode mais”.
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(JF) Dyonélio Machado, por que você acha que a arte atual está em
decadência?
“Eu acho que nós estamos invertendo. Isso que eu disse do melhor
cantor é aquele que não tem voz, o melhor escritor é aquele que
não conhece a língua. Tudo isso é uma forma de luta, eles lutam
assim, estão lutando contra uma situação, mas lutando eu penso
que com más armas, com péssimas armas. Não se luta contra uma
arte fazendo o contrário da arte. É mais fácil fazer arte como se faz
agora, sem nenhuma base, sem nenhum trabalho prévio. O escritor
precisava ter muitas leituras, dominar a língua para ser escritor,
agora não precisa. Antigamente o pintor precisava estudar a
anatomia humana para pintar, agora não tem nada disso. Vai-se
pelo que é mais fácil. Além disso, vai-se hostilizando. Isto é uma
forma de luta. Uma luta parecida com a luta infantil, que estraga
uma coisa por que está com raiva.”
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188
Como consta nos créditos do filme, também rodado em Super-8mm.
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193
Cine Olho nº 5-6, 08/1979.
194
Entre outras palavras sobre o assunto, Inácio escreve: “Agora que me ocorre voltar, de repente
me invade um certo temor quanto ao sectarismo generalizado dos nossos letrados. (...) a julgar
pelos artigos o Bressane é um cara acima da crítica, irônico, não? Ele antes era abaixo da crítica,
agora ninguém ousa dizer que ele tem filmes melhores e outros piores. Eu acho engraçada, por
que até o Fritz Lang tem filme merda, mas o Bressane não.”
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195
Acerca do episódio e da maneira de Jairo misturar filme e vida, Inácio Araújo escreveu, em texto
no catálogo da mostra Jairo Ferreira: Cinema de Invenção: “Nunca vou perdoá-lo por usar uma
carta que lhe escrevi, uma carta muito pessoal, aliás, com coisas tremendamente provisórias, num
filme”.
196
A letra diz: “Cansei, cansei / Cansei de te querer / Pois fui de plaga em plaga / O ale do além /
Numa esperança vaga / E eu pude compreender / Por que cansei / Cansei de padecer / Pois lá
ouvi de deus / A sua voz dizer / Que eu não vim ao mundo / Somente com o fito eterno de sofrer”.
197
Inácio relembra Jairo, em tom de brincadeira, em depoimento para este trabalho: “O Jairo era
uma merda, era um bom filho da puta. Tem uma carta que eu mandei pra ele, uma carta pessoal,
ele pegou e botou no filme. Mas quando foi me mostrar, ele botou o projetor rápido, pra fingir que
aquela parte é rápida. Depois quando eu vi, em 1990 e pouco, puta que pariu! Fico eu lá falando
umas coisas, mas que eu falava pessoalmente, não eram coisas públicas, mas o Jairo era isso... “
""*!
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Nas cenas em que Jairo Ferreira aparece, sobretudo numa longa sequência
de dez minutos na metade final de O Insigne Ficante, discute sobretudo questões
acerca dos estatutos da “vanguarda brasileira”, e das noções poundianas de
“seleção” e “invenção”. Nas cenas com som direto, a câmera é operada por Carlos
Reichenbach, e Jairo quase sempre impunha o microfone, lendo textos de sua
autoria escritos para o filme, bem como citando escritos paradigmáticos de outros
autores que dialogam com as inquietações vigentes no filme. É o caso do
fragmento abaixo de Situação da Vanguarda no Brasil (Proposta/66), texto escrito
por Hélio Oiticica200, artista-plástico inovador e experimental – integrante do grupo
Neoconcreto –, no qual propõe que:
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203
Dirigido por Carlos Reichenbach e produzido simultaneamente a Nem Verdade Nem Mentira
(1979).
204
Filme de Ruy Solberg, 1980.
205
“Limite funda o experimental no cinema brasileiro”, diria Jairo Ferreira a Arthur Autran e Paulo
Sacramento, em entrevista concedida em 1991.
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Após um hiato de treze anos desde a realização de seu último filme rodado
em Super-8, Jairo Ferreira realiza em 1993 o curta-metragem Metamorfose
Ambulante ou As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Toth, documentário em
vídeo que aborda o universo do roqueiro Raul Seixas, com duração de dezenove
minutos.
Único filme de Jairo Ferreira que contou com incentivo de verbas públicas,
o projeto foi financiado pelo antigo Prêmio Estímulo para a Realização de Vídeo
Tape, em 1991, concurso vigente naquela época. As imagens foram captadas
com uma câmera VHS-Compact, e posteriormente transferidas para U-matic,
formato no qual o filme precisou ser finalizado, por exigências do edital.
As gravações foram em vídeo, mas produção foi à moda antiga dos filmes
de Jairo Ferreira, já que a equipe durante as filmagens contou apenas com Jairo e
Paulo Sacramento, que participou como assistente de direção, além de exercer
diversas outras tarefas.
Na época, Jairo estava bastante próximo dos integrantes da produtora
independente Paraísos Artificiais, da qual faziam parte, além de Paulo
Sacramento, os cineastas Marcelo Toledo, Débora Waldman, Christian Saaghard
e Paolo Gregori. Paulo Sacramento relembra aqueles tempos e as gravações do
filme:
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claro que o filme que ele quis fazer foi um... documentário... não
exatamente um documentário sobre o Raul. (...)
Nesse filme a equipe eram duas pessoas: eu e o Jairo. Eu pegava
meu carro, ia até a casa do Jairo, ele descia com a câmera dele, na
época uma VHS Compact e a gente saia. “Pra onde é que a gente
vai hoje?”, daí ele: “Vamos para tal lugar”. Na época não tinha
celular, mas tinha um orelhão em frente a casa dele, a gente ligava
pra umas pessoas dali e pronto, estava feita a produção e a gente
saía pra filmar. Foi filmar com o Costa Senna...
Eu me lembro muito desse dia do Costa Senna, no parque da
Aclimação. Era o cara que tinha os mandamentos do raulseixismo,
alguma coisa assim, muito engraçado. O Jairo levou a iluminação,
que era uma lanterna, daí ele me deu e enquanto ele ficava com a
câmera entrevistando, eu tinha que ficar fazendo umas luzes verdes
na cara do Costa Senna e tal. (...)
Eu fazia still, era produtor, assistente de direção, motorista... E ele
tinha ganhado um prêmio estímulo, e o filme tinha que ser feito em
U-matic, coisas mais complicadas, câmeras mais pesadas. E daí
ele filmou em VHS Compact, transferiu e entregou em U-matic.206
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
206
Paulo Sacramento, em depoimento para este trabalho.
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apresenta a chamada “Lei de Thelema”, cujo preceito fundamental diz “Faze o que
tu queres, há de ser tudo da lei”. O próprio Jairo explica, em trecho de uma
palestra que proferiu sobre as ideias do mago inglês:
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207
Trecho de palestra de Jairo Ferreira, já no fim dos anos 1990.
208
Faixa do álbum A Pedra do Gênesis, de 1988.
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209
Do álbum Novo Aeon, 1975.
210
Do disco Metrô Linha 743, 1984.
211
Kenneth Anger é também seguidor do ocultista Aleister Crowley, influência nítida em alguns de
seus filmes, como Lucifer Rising (1972).
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4. CINEMA DE INVENÇÃO
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Como já abordado nessa pesquisa Jairo Ferreira, desde meados dos anos
1960, tinha o hábito de arquivar escritos e críticas, recortes de jornais sobre os
filmes e cineastas brasileiros que o interessavam, bem como roteiros e outros
documentos que recebia de cineastas. Esse arquivo, ao longo dos anos, foi se
avolumando e adquirindo proporções consideráveis. Era o seu acervo pessoal
sobre o cinema experimental brasileiro, meticulosamente organizado em pastas
com materiais sobre cada realizador e seus filmes.
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220
Editara Brasiliense / Embrafilme, 1987.
221
Publicado em 23/02/1986.
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Outro paralelo possível entre seus filmes e seu livro, no que tange a
abordagem de viés pessoal na concepção fílmica / escrita, é a exposição de cartas
enviadas e recebidas de amigos. Se em O Insigne Ficante Jairo leu longos trechos
de sua correspondência com Inácio Araújo, em Cinema de Invenção desvenda
seus prolixos diálogos postais com o cineasta carioca Luiz Rosemberg Filho,
também seu grande amigo.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
222
“A capa retangular (sentido vertical), sempre com a mesma marca, em preto sobre fundo
colorido, de poema-carimbo (autoria de Décio Pignatari) com o nome INVENÇÃO, que aparece
claramente ao alto e repetido em superposições, muitas vezes (com os ruídos inerentes ao
processo), configura-se uma espécie de caos, porém permitindo a identificação de partes da
palavra-nome-emblema da publicação: isto reforça a ideia de que do caos nasce a ordem: de um
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mar de redundância, brota o signo-novo.” KHOURI, Omar. Noigrandes e Invenção, revistas porta-
vozes da Poesia Concreta in Revista FACOM nº16. São Paulo: 2º semestre de 2006).
223
Sganzerla colaborou com O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e Folha da tarde, entre os
anos de 1964 e 1968.
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224
Jairo Ferreira, em entrevista concedida a Arthur Autran e Paulo Sacramento, 1991.
225
Fragmento de O ABC da Literatura (1931), de Ezra Pound.
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226
Crítico e cineasta, escrevi um livro sobre o movimento
cinematográfico que surgiu em 1967 contra o Cinema Novo, indo
sistematicamente até 1971 e, esporadicamente, até os dias atuais.
Não se trata de um movimento, mas sim de uma movimentação,
que chamo de cinema experimental. Começou em 1967 em São
Paulo e ficou conhecido também como Cinema Boca do Lixo. Eis
um trecho do livro:
“A rigor, a Boca do Lixo não era uma bandeira contra o Cinema
Novo, ciclo imediatamente anterior da produção independente
brasileira. . O filme que iniciou o Cinema Novo – “Os Cafajestes” – é
tão experimental quanto o que abriu a Boca do Lixo: “A Margem”
(1967), de Ozualdo Candeias. O Cinema Novo tinha relações
dialéticas com o Brasil dos presidentes Jânio Quadros e João
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
226
Numa nota de rodapé, Jairo se refere ao livro, ainda inédito, como “Signos em Transformação –
Um lance de olhos jamais abolirá o experimental no Cinema Brasileiro. No Prelo”.
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227
O Cinema Brasileiro in Nós e o cinema. São Paulo: Melhoramentos, 1980.
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cacos desta produção que a época ingrata (começo dos anos 70) se encarregou
de dispersar”.
Podemos avaliar, ainda, que a ideia de “sintonia” se rege por certa noção
de “companheirismo”, reminiscência que sempre se manteve viva na obra de Jairo
Ferreira, por exemplo, em filmes como O guru e os guris e Horror Palace Hotel,
bem como em vários artigos e críticas que escreveu ao longo dos anos.
Há também a questão de – enquanto porta voz de um cinema experimental
de certa forma relegado ao esquecimento pela história oficial, pelo mercado, pelo
status quo imperante no cinema e na cultura brasileira de maneira geral – agir
como uma espécie de divulgador e defensor desta cinematografia, de alguém que
numa postura apaixonada luta para manter a chama deste cinema acesa, tarefa
que tomou para si desde o final dos anos 1960.
A partir daí, tomando como alicerce este alinhamento a um grupo / vertente,
mesmo que nada coeso, e tudo mais o que isto implica (sobretudo a hoje mais do
que batida dissidência e querela histórica entre o Cinema Novo e o Cinema
Marginal), Jairo Ferreira concretiza sua síntese do que – partindo de seu próprio
juízo pessoal – de mais experimental existe ao longo da história do cinema no
país.
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Quem conhece Jairo Ferreira não duvida que a primeira palavra que
ele pronunciou foi cinema; a segunda, vanguarda; e a terceira,
rebeldia. De lá para cá a paixão obsessiva que ele sente por esse
trinômio só aumentou, o que explica o fato de não ter o menor
interesse por tudo (o cinema principalmente) que não seja
experimental, palavra que para ele melhor define a síntese entre
vanguarda e rebeldia. (...)
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faz com que esta às vezes se confunda com o leque determinado pelos amigos do crítico Jairo
Ferreira. A lista dos “inventivos”, talvez um pouco grande, acaba por fazer com que a necessidade
de experimentação pregada pelo crítico apareça diluída”. Folha de S. Paulo, 23/02/1986.
230
Luiz Nazário deve estar se referindo ao seminal Movie Journal: The Rise of a New American
Cinema (1972).
231
Estética recomposta; o crítico Jairo Ferreira investiga os subterrâneos do cinema experimental
brasileiro.
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O estilo com que este Cinema de Invenção foi escrito tem uma
ferocidade confessional que só poderá apreciar quem viveu (ou
quem puder entender) o espírito daquele tempo.232
Jairo Ferreira inicia o seu livro Cinema de Invenção com breves textos
introdutórios. Abrindo o primeiro capítulo, intitulado O que é o experimental;
Projeto estético, espécie de explanação do conteúdo do livro, há um pequeno
compêndio da história do cinema experimental ao redor do mundo desde os
primórdios do cinema, identificando os principais movimentos e autores; num
segundo texto, Retaguarda da vanguarda, um apanhado de diversas acepções
acerca do cinema por autores paradigmáticos, tais como Orson Welles, Jean
Renoir, Abel Gance; no subcapítulo que se segue, Terremoto clandestino, um
epílogo sobre o experimental no nosso cinema, o surgimento do Cinema Marginal
/ Boca do Lixo / Belair, recheado pelas memórias do autor; num último texto
introdutório, Jairo Ferreira aborda as ideias de “paideuma” e “invenção, propostas
por Pound, citando quase na íntegra o prefácio de Augusto de Campos para o livro
ABC da Literatura233 , ratificando que “a didática poundiana continua insuperável,
esclarecedora e reveladora. (...) neste sentido, os preceitos de Ezra Pound
passam a ser um manual do autor experimental em nosso cinema. Basta entender
cinema onde Pound escreve literatura e / ou poesia”.
Após estas introduções seguem-se, divididos entre os capítulos – cada qual
nomeado pelas já citadas sintonias –, os subcapítulos que abordam cada um dos
cineastas “inventores”, ao todo dezoito, aqui dispostos na mesma ordem em que
surgem no livro; no capítulo Sintonia Existencial: Ozualdo Candeias, Rogério
Sganzerla, Carlos Reichenbach, José Mojica Marins, Carlos Ebert, Júlio Calasso
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
232
Cinema de Invenção in O Estado de S. Paulo, 05/07/1986.
233
Como já havia citado durante o filme O Insigne Ficante.
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Jr., João Callegaro, João Silvério Trevisan, Jairo Ferreira234 / São Paulo Shimbun;
em Sintonia Intergalaxial: Glauber Rocha, José Agrippino de Paula, José Celso
Martinez Correa, Luiz Rosemberg Filho; em Sintonia Visionária: Júlio Bressane,
Walter Hugo Khouri, Ivan Cardoso, Andrea Tonacci, Mário Peixoto. O título de
cada um destes subcapítulos é seguido de uma descrição sintética do autor
tratado, como Ozualdo Candeias, marginal entre os marginais, ou Luiz Rosemberg
Filho, transfiguração poética.235
Concluindo o livro, o capítulo Sintonia Experimental, constituído por mais
um texto que debate o “experimental”, uma filmografia e o posfácio – um poema
em prosa de Roberto Piva. Há ainda, entre os capítulos, três galerias que citam
brevemente vários outros cineastas. A primeira menciona os autores que, segundo
Jairo Ferreira, “jogam nos dois times”, isto é, possuem tanto filmes experimentais
quanto “standard”, entre esses Walter Lima Jr. e Neville de Almeida. Nas duas
outras galerias que se seguem, cineastas de períodos distintos nos quais identifica
“talento”, tais como Luís Sérgio Person, Jean Garrett e Wilson Barros.
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de seu seminal Limite (1931); Walter Hugo Khouri aponta como tendência
alternativa à “ditadura ideológica e estética do Cinema Novo”; Glauber Rocha236
surge em controvérsia com o udigrudi, bem como em sintonia através de seu filme
Câncer (1968 / 1972).
É fato que cada capítulo / cineasta tratado no livro é abordado através de
um olhar singular, muitas vezes fruto da relação pessoal entre o autor e o
realizador em questão. E como praticamente todos os cineastas discutidos
conviveram com Jairo Ferreira, em maior ou menor grau, cada enfoque acaba por
ser único.
Sintetizando o espírito de tais abordagens de Jairo Ferreira em Cinema de
Invenção, reproduzimos fragmentos do poeta Cláudio Willer em seu sensato
prefácio para a obra:
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
236
Quando crítico da Folha no final dos anos 70, Jairo contesta uma declaração de Glauber, de
que teria sido precursor do experimental / udigrudi com Câncer, rodado em 1968, meses antes de
O Bandido, de Sganzerla. Jairo envia uma carta a Glauber, por quem possuía profunda admiração,
alegando que o experimental surgiu em 1967 com A Margem, de Candeias, na Boca. Glauber, já
doente, envia uma carta resposta a Jairo, que pede para não ser publicada. É essa
correspondência que o autor expõe no livro, já após a morte de Glauber, em abordagem um tanto
visceral do assunto.
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237
Museu da Imagem e Som.
238
!Enquanto crítico, o autor sempre manteve relação ambígua, por vezes de amor e ódio, com os
filmes de Khouri.
239
Tais capítulos já estavam pontos desde os anos 80, quando foram publicados como artigos no
jornal Cine Imaginário. Jairo escreveu, ainda, capítulos sobre cineastas como Geraldo Veloso,
Caetano Veloso, Aron Feldman, que acabaram novamente ficando de fora do livro.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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240
Fragmento do texto Uma estrela que zela por nós, de Paolo Gregori, constante no catálogo da
mostra Jairo Ferreira: Cinema de Invenção, 2012.
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241
Carlos Reichenbach, em depoimento para este trabalho, cedido no dia 14/01/2012.
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ABREU, Nuno César. Boca do Lixo: cinema e classes populares. Campinas, SP:
Editora Unicamp, 2006.
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Campinas: Tese de Doutorado, IA / Unicamp, 2008.
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ARQUIVOS PESQUISADOS
ACERVOS PESSOAIS
Jane Ferreira
Carlos Reichenbach
Paulo Sacramento
Arthur Autran
Luiz Rosemberg Filho
Júlio Calasso Jr.
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ENTREVISTAS REALIZADAS
Jane Ferreira, 22/05/2010
Inácio Araújo, 15/10/2010
Paulo Sacramento, 21/11/2010
Carlos Reichenbach, 07/09/2011
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ANEXOS
O GURU E OS GURIS
1973 / 35mm / Preto e Branco / 12 minutos
Sinopse: Um filme sobre Maurice Legeard, mítico fundador e coordenador do
Clube de Cinema de Santos, e sua paixão pelo cinema.
Elenco: Maurice Legeard, Herédia, Eduardo, Carlinhos, Kolhy, Aninha, Márcio,
Miro, Albertina.
Equipe:
Direção / Roteiro: Jairo Ferreira
Produção / Fotografia: Carlos Reichenbach
Montagem: Inácio Araújo
Direção de Produção: Percival Gomes de Oliveira
Música: Lélio Marcus Kolhy
Letreiros: Miro
Assistente de Câmera / Som Direto: Vechiato Valese
Eletricista: Isaac S. de Almeida
Assistente de Produção: Jair dos Santos
Assistente de Montagem: Ana Lúcia Franco
Produtora: Serviços Publicitários Jota Filmes Ltda.
ECOS CAÓTICOS
1975 / Super-8mm / Cor / 7 minutos
Sinopse: Uma homenagem cinepoética ao poeta maranhense Sousândrade,
rodada em sua cidade, São Luís do Maranhão.
Realização: Jairo Ferreira
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O VAMPIRO DA CINEMATECA
1977 / Super-8mm / Cor, Preto e Banco / 64 minutos
Sinopse: “Na cidade de São Paulo, entre 1975 e 1977, um jovem jornalista decide
romper com as limitações impostas à sua profissão e começa a elaborar o roteiro
de um filme. Ele se isola entre quarto paredes e investe furiosamente contra os
figurões da cultura de sua época. Sem conseguir criar um personagem, o jovem
entra em crise. Porém, filmando cenas isoladas com amigos e examinando cenas
de alguns filmes, recolhidos diretamente das telas, ele descobre novas
possibilidades de realização. E consegue finalmente inventar personagens: João
Miraluar, um contestador que deixa o país num disco voador; Marshall MacGang,
um mutante intergalaxial que veio semear a desordem na Terra; e Ligéía de
Andrade, uma crioula bêbada que dá escândalos num botequim.”
Elenco: Jairo Ferreira, Julio Calasso Jr., Luiz Alberto Fiori, Carlos Reichenbach,
Ligia Reichenbach, Orlando Parolini, Guilherme Vaz, Jards Macalé, José Mojica
Marins, Ednardo D’Ávila, Paulo Egídio Martins, Olavo Setubal, Edison Calgaro,
Sidney Estevan, José Farias.
Realização: Jairo Ferreira
Produtora: Jairo Ferreira Produções Cinematográficas
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O INSIGNE FICANTE
1980 / Super-8mm / Cor / 60 minutos
Sinopse: Jairo Ferreira discute o conceito de invenção, segundo Ezra Pound.
Jairo leva sua câmera à Goiás, Paris, Bahia, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, e
encontra diversas personalidades.
Elenco: Jairo Ferreira, Inácio Araújo, Edson Cálgaro, Dyonélio Machado, Carlos
Reichenbach, Júlio Bressane, Edgar Navarro, Paulo César Pereio, Maria Gladys,
Sylvio Lanna, Geraldo Veloso, Elyseu Visconti.
Realização: Jairo Ferreira
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AUDÁCIA (1969)
Episódio A BADALADÍSSIMA DOS TRÓPICOS X OS PICARETAS DO SEXO),
de Carlos Reichenbach
Co-roteirista, Assistente de Direção, Assistente de Produção, Continuísta,
Fotógrafo de Cena, Ator
Episódio AMOR 69, de Antônio Lima
Fotógrafo de Cena
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AS SAFADAS (1982)
Episódio A RAINHA DO FLIPPER, de Carlos Reichenbach
Direção Musical
Episódio UMA AULA DE SANFONA, de Inácio Araújo
Direção Musical, Continuísta
Episódio BELINHA, A VIRGEM, de Antônio Meliande
Direção Musical
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Livro publicado
- Cinema de Invenção, 1ª ed., Max Limoad / Embrafilme, 1986
- Cinema de Invenção, 2ª ed., Limiar, 2000
Livro inédito
- Só por hoje, 1999/2001
Revistas editadas
- Metacinema n º0, 1974 (publicada)
- Metacinema nº 1, 1977 (inédita)
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Folha de S. Paulo
Um exemplo de autocrítica, 31/08/1976
Um não à Pornochanchada, 08/09/1976
Um mexicano sem talento, 24/09/1976
Chanchada procura uma saída, 26/09/1976
Os Irmãos Marx; A comédia maluca voltou para fazer rir mais do que nunca,
01/11/1976
Faltou graça aos rapazes de banda, 10/11/1976
Um maldito, comédia maluca e violência, principais atrações, 15/11/1976
Khourioso, cafônico, paleolítico, 27/11/1976
Fields, um frenesi alcoólico, 04/12/1976
Estranhos em seu próprio ninho, 15/12/1976
Hollywood, entre outras boas surpresas, 20/12/1976
Mel Brooks, no rumo da megalomania, 23/12/1976
Bergman de volta aos rituais, 25/12/1976
Crise energética em ritmo de metralhadora, 27/12/1976
Mágica; a flauta de Bergman iluminando o fim do ano, 27/12/1976
No meio da confusão, vence o suspense, 30/12/1976
O melhor não pode ser visto, 31/12/1976
Cinema sai do escuro das salas, 05/01/1977
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Opinião (Jornal)
Didático, informativo, burocrático, 12/1973
Cinegrafia (Revista)
Criticanarquica anozero de conduta, 07/1974
Noite Americana, 07/1974
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Filme Cultura
O cinema e seu desejo, 11/1981
José Illés, gerente industrial do laboratório Flick (entrevista), 11/1981
Osvaldo Kemeny, gerente técnico do laboratório Revela (entrevista), 11/1981
O imaginário da Boca: pequenas omissões de uma obra fundamental,
10/1982
Documentário na trilha da chanchada, 05/1983
Quando o cinema era teatro, 04/1984
Voo entre galáxias, 03/1985
Cineasta (Revista)
Reativar o debate cultural, 10/1982
Revista Viu
Cinema pornô: celulite demais, celuloide de menos, 09/1983
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Imagemovimento (Jornal)
Brás Cubas: necrofilme, 11/1986
Nem tudo é paródia, 01/1987
Videologia, 1987
Artes (Revista)
O cinema brasileiro, 08/1986
Vento novo, 02/1987
Boca do Lixo, 06/1987
Moviola (Revista)
Cinema da crueldade, 1987
Caderno de Crítica
TV no curta na TV, 05/1989
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O Estado de S. Paulo
Feliz ano velho, mais que um filme de época, 26/08/1988
Sustos futurista e clichês em Príncipe da Sombras, 15/09/1988
A poesia visual do holandês Jos Stelling, 16/09/1988
A presença indisfarçável no filme, 11/08/1988
Muito humor em três curtas caprichados, 08/11/1988
Júlio Bressane e a imagem a 24 quilates por segundo, 16/11/1988
Uma semana paulista na tela do MIS, 06/12/1988
De Punhos Cerrados, no Studio ABC hoje e amanhã, 11/03/1989
A volta do curta-metragem a todo vapor e sem tortura, 31/03/1989
O polonês Wadja conta como faz seus filmes, 20/05/1989
O espetáculo como diversão, 28/07/1989
Crônica social de valor apenas arqueológico, 16/08/1989
A alma caipira do cinema que deu certo, 13/06/1991
Revista Cinema
Eles estão à solta, 11/1997
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