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Quando fazia meu pós-doutorado em 2012, surgiu a ideia de construir um pequeno livro
sobre o surgimento da iconografia budista chinesa, centrado principalmente nas grutas de
Yungang – lugar onde teriam surgido as primeiras experiências originais, no campo artístico,
de uma iconografia sino-budista. O texto teria uma linguagem acessível, e sua narrativa seria
entremeada de uma visão do passado – o mundo de Índia, China e Roma, num longo quadro
histórico – com o momento em que surgiram as primeiras discussões Ocidentais sobre a arte
budista, no início do século 20. Assim, faríamos um jogo de vai-e-volta, quebrando a narrativa
linear do tradicional texto científico.
Acabei construindo um artigo científico, mais cabível ao perfil do pós-doutorado, e os textos
a seguir ficaram de lado. Recentemente, me interessei por relê-los, e pensei que o objetivo
inicial – uma divulgação vulgarizada, de linguagem solta – estava bem próximo do material
produzido. Acabou que saiu um pequeno livro, ou um longo artigo [até agora não me decidi
sobre esse perfil] que doravante publico, para a apreciação do leitor.
A leitura acompanha, pois, o surgimento do Budismo [de maneira a introduzir esse
movimento intelectual e filosófico], sua inserção num longo quadro histórico, e o surgimento
de suas representações artísticas. Ao mesmo tempo, veremos o processo de investigação
dessa arte, iniciada na França, e carregada das tensões que atravessam o estudo dos campos
religiosos. O Budismo, em minha opinião, escapa divertidamente das classificações, conceitos
e categorias tradicionais das Ciências Humanas ‘ocidentais’. Por si só, sua história mostra a
capacidade inequívoca do ser humano de ir além, de não quedar-se parado no mundo,
fazendo com que desde a antiguidade as trocas culturais e filosóficas acontecessem de um
extremo ao outro do mundo. É disso que quero dar essa pequena introdução, sem pretensões
de texto pesado ou definitivo, mas calcado em estudos arqueológicos e históricos que nos
mostram o quão rico era o mundo antigo, em seu fértil intercâmbio de idéias.
Surgimento
O surgimento do Budismo está situado em algum momento do período compreendido entre
os séculos -6 a -4 (Bareau, 1950 e Valée-Poussin, 1950, p.237-255).[2] É um período longo,
e sem uma literatura histórica própria (Kulke, 1998, p.47-51). A Índia hindu não se atinha ao
problema da datação ou da cronologia de maneira precisa. A preocupação fundamental do
hinduísmo védico dessa época era a libertação do Maya (conceito que significa a ‘Ilusão da
matéria’), que prendia os seres humanos num ciclo infindável de reencarnações na existência
física. A prisão do mundo material, causada pelos erros morais (entendidos sinonimicamente
como ‘espirituais’) gerava o ‘karma’, conceito que representava o nível de evolução da alma.
Quanto maior o karma (a quantidade de provas espirituais acumuladas), maior o tempo e o
número de reencarnações no mundo material para expiá-las. A extinção do karma, portanto,
era o objetivo fundamental da existência do indivíduo nessa cultura. Ora, isso envolvia
desprender-se da ‘matéria’, do mundo físico. Assim sendo, fazer história, tal como
entendemos, era um processo absolutamente sem sentido para os indianos da época.
Conquanto a especulação religiosa e filosófica fosse valorizada, a história era sumamente
desprezada. A escrita de um manual de história seria considerada meramente uma repetição
enciclopédica dos erros humanos no mundo material, o que não necessariamente ajudaria
na evolução da alma. Por essa razão, o mais próximo que os indianos tinham do que
entendemos ser ‘história’ eram os seus ‘puranas’, que tais como os jatakas, compreendiam
fábulas de fundo moral, mas sem uma necessária organização cronológica. Pode-se afirmar
sem dúvida de que o senso histórico indiano firmou-se num estágio literário similar, em
termos de estilo e conteúdo, ao de Homero ou Hesíodo; ele estava intimamente atrelado a
preocupação religiosa que o hinduísmo mantinha viva (Panikkar, 1973 e Bueno, 2009).
Por essas razões, é preciso vasculhar toda essa literatura épico-religiosa para tentar
reconstruir um possível quadro histórico da época. O que forneceremos, pois, são os
elementos básicos de uma narrativa que se consolidou, na indologia moderna, como
‘adequada’ para explicar as origens do Budismo.
A história tradicional começaria em Sidharta Gautama, príncipe que teria vivido no século -
6 na cidade de Kapilavastu, hoje situado no Nepal. Lembremos que na antiguidade o que
conhecemos como Índia, Afeganistão, Paquistão, Bangladesh, Nepal, Butão e Ceilão
formavam um todo geográfico, uma civilização indiana comum. Sidharta teria vindo de uma
família rica, poderosa e fraterna. Ele pertencia a uma das varnas (castas) mais altas da
sociedade, a dos xátrias (guerreiros e reis). Por uma série de razões e experiências
particulares, Sidharta de cansa dessa vida e sai em busca de conhecimento. Passa anos
meditando no meio da floresta em asceses duríssimas, cujos resultados não o satisfazem. Por
fim, intui uma sabedoria de vida ponderada, equilibrando o corpo físico e o espiritual.
Disposto a provar que suas intuições eram corretas, durante algum tempo ele medita
sozinho, atinge a iluminação (boddhi) e se transforma no ‘iluminado’, ‘Buda’, aquele que
alcançou o ‘nirvana’ – ou, a libertação do mundo material. Buda decide, porém, ‘ficar’ nesse
mundo físico, ensinando sua doutrina. Em breve ele arregimentou um grande número de
discípulos. Passa anos pregando, funda um mosteiro, e aproximadamente em -483, em torno
dos oitenta anos, sofre o passamento de seu corpo físico, o ‘parinirvana’, e a completa
libertação da alma. (Bareau, 1950 e Smith, 2004)
Esses detalhes são bem conhecidos, e podemos percebê-los em quase todas as narrativas –
budistas - sobre a vida de Buda. Mas a vida do Buda, em si, não constitui um roteiro original,
e milhares de outros ‘homens santos’ na Índia passaram por aventuras semelhantes.
Contudo, desde cedo o Budismo não constituiu um movimento unificado. Isso implica que
muitas tradições ou histórias sobre a vida de Buda variam de escola para escola, e não podem
ser consideradas apócrifas ou simplesmente descartadas. Temos que buscar nas origens do
Budismo, pois, o que o diferencia do hinduísmo, para delinear o momento em que este ‘surge’
como um movimento organizado na sociedade indiana, uma nova alternativa religiosa e
intelectual (Coomaraswamy, 2007).
Assim procedendo, nos aproximamos com mais segurança do final do século -4, perto da
chegada de Alexandre na Índia. Entre o possível nascimento de Buda e a chegada dos
macedônios, temos um período de quase dois séculos em que essa doutrina budista matura,
se afirma e cria para si uma identidade própria, que permite distingui-los do restante da
sociedade. E no que se baseava essa identidade? Na elaboração de um discurso alternativo
ao hinduísmo tradicional.
A doutrina budista
O budismo, originalmente, estava embebido do hinduísmo. Ele tratava dos mesmos
problemas, cujo esquema era basicamente o seguinte: estamos presos no mundo material e
precisamos nos libertar. A libertação vem pela extinção do karma. Para alcançar essa
libertação, precisamos trilhar um caminho espiritual. Buda oferecia essa libertação por meio
das conhecidas ‘quatro verdades’, afirmações metafísicas dogmáticas que podem ser assim
resumidas:
a)Tudo é dor; b) A dor nasce do desejo; c) Cessando o desejo, cessa a dor e d) Para cessar a
dor, se deveria seguir o ‘caminho óctuplo’:
1) Olhar correto – analisar as coisas de modo correto e coerente, treinar os olhos a ver de
modo ‘realístico’, para além das aparências;
2) Intenção correta – possuir intenções corretas na busca da iluminação;
3) Falar correto – só se pronunciar quando há certeza nas palavras, cuidado na exposição ou
dúvidas autênticas. Afastar-se da maledicência e da ‘conversa inútil’ (superficial);
4) Agir correto – que as ações correspondam as intenções corretas, e as palavras adequadas;
5) Sustento correto – buscar um meio de vida que não fosse contra doutrina budista. Evitar,
por exemplo: atividades ligadas à guerra, ao abate de animais, ao comércio de luxo;
6) Esforço correto – dedicar-se aos aspectos anteriores, empreender o esforço físico e mental
para a doutrina;
7) Atenção correta – prestar atenção em todos os outros aspectos, de estão sendo cumpridos
corretamente, e atentar para as questões que se desenrolem no caminho do discípulo, e que
representem dúvidas sobre a conduta adequada;
8) Meditação correta – exercício fundamental do budismo, que consiste na prática direta do
meio físico mais apropriado para alcançar a iluminação. Os exercícios budistas de meditação
eram uma simplificação de algumas técnicas da yoga. Buda simplificou-os ao extremo, e sua
meditação consistia basicamente na postura de Lótus – sentar com as pernas cruzadas,
fechar os olhos e buscar ‘limpar a mente’. (Gard, 1968 e Conze, 1973).
Visto assim, os métodos budistas pareciam não oferecer nenhuma novidade relevante em
relação ao hinduísmo. O ponto crucial do pensamento budista, que se chocava diretamente
com o hinduísmo, era a possibilidade de libertação espiritual aberta a todos. Esse foi o cerne
do atrito que separaria o budismo do hinduísmo, e o destacaria como um movimento
religioso específico, dentro da civilização indiana, durante séculos.
Popularização
Essa proposta budista foi considerada revolucionária e anátema. Desde esse período, o
hinduísmo desenvolvera algumas particularidades que o caracterizavam como um sistema
de crenças bastante peculiar: é um sistema religioso amplo, plural, aberto, disposto a discutir
a existência das divindades (e até pô-las em dúvida, ver Rig Veda, 10:129), a aceitar a
convivência de diversos mitos de criação do universo, a discutir os destinos da alma, entre
outras coisas. Os debates metafísicos hindus são profundos, e a literatura antiga mostra isso.
Os fundamentos dogmáticos do hinduísmo residem, de fato, em: acreditar na reencarnação;
na aceitação da estrutura social das varnas; e nas múltiplas possibilidades em relação à
existência dos deuses.[3]Ora, o budismo vinha propor a falência do sistema de varnas, tendo
em vista que a possibilidade de libertação espiritual a todos quebrava o paradigma
‘espiritual evolucionário’ [evolucionismo espiritual]. O budismo não afirmava que todos
eram iguais espiritualmente: aqueles que não atingiam o nirvana voltariam ao mundo físico
em outra vida para continuar tentando. A questão é que, na visão de Buda, era impossível
saber quem podia se libertar ou não: isso cabia ao indivíduo. Desse modo, Buda também
deslocava o problema da intervenção divina na vida humana. Conquanto os hindus
admitissem a importância ritualística da devoção, o budismo menosprezava (ao menos na
origem) a relação com os deuses, transferindo a responsabilidade da salvação para o
indivíduo. Os primeiros discursos budistas são marcados pela ausência de uma preocupação
maior com as divindades. O budismo, para explicar os fenômenos da mente e da meditação,
criou para si uma nova linguagem, e começou a se distanciar ainda mais do hinduísmo
(Coomaraswamy, 1979 e Eliot, 1991).
A popularização do budismo foi rápida, e no século -4 encontramos diversas comunidades
espalhadas pelo norte da Índia.[4] Buda, preocupado em difundir sua mensagem, aconselhou
ainda que a doutrina fosse pregada numa linguagem mais popular e acessível ao público
(Gard, 1968, p.34-5). Essa foi uma das razões do budismo adotar línguas como o páli e o
karoshti (línguas populares) para a redação de seu cânone, afastando-se do sânscrito, a
língua erudita do hinduísmo. Em função disso, a terminologia budista, embora de início fosse
similar a do hinduísmo, gradualmente vai dele se separando pelo uso desses idiomas
alternativos (exemplo: ‘dharma’, ou lei religiosa em sânscrito, vira ‘dhama’ em páli), além da
criação de seu vocabulário metafísico próprio.
Proselitismo
Para conquistar novos adeptos, o budismo investiu também em algo absolutamente novo na
época: o proselitismo. É possível que o budismo seja, na verdade, o primeiro movimento
religioso proselitista do mundo. A razão dos budistas investirem na propagação de sua
doutrina residia, novamente, na idéia de aquisição de mérito espiritual. Os budistas eram
encorajados a ajudar seus irmãos no processo de libertação espiritual, tal como Buda havia
feito. Além disso, quanto mais se ajuda alguém a se libertar, mais se ajuda a si mesmo no
processo de expiação kármica. Um mundo com mais pessoas instruídas no caminho da
libertação se transformaria, por conseguinte, num lugar espiritualmente melhor para todos.
Isso era radicalmente diferente do pensamento hindu, em que alguém nascia numa casta e
lá devia permanecer; e que seu acesso aos recursos espirituais era limitado por barreiras
sociais.
Obviamente podemos pensar no poder que as comunidades budistas vão absorvendo ao
longo dos séculos -4 e -3, atraindo um número significativo de seguidores. Novamente,
porém, faltam-nos dados para saber a extensão desse desenvolvimento. Do mesmo modo,
temos uma dificuldade muito grande em identificar as críticas hinduístas ao crescimento do
budismo. O que podemos intuir dessa relação conflituosa vem dos poucos fragmentos que
possuímos do período em que Alexandre chega à Índia e a formação subseqüente do império
Maurya, que analisaremos a seguir.
De qualquer modo, o século -4 traça para nós o quadro geral que nos permitirá observar o
florescimento da arte budista. Uma religião proselitista, de linguagem flexível, popular,
aberta a discussão metafísica e teológica, o budismo guardava todos os requisitos para o
estabelecimento de um fértil diálogo intercultural. Em breve, essas possibilidades viriam a
se transformar numa forma de expressão física, fundamental a materialização e a
continuidade da difusão da doutrina budista fora de suas regiões de origem.
Em nosso quadro geográfico, a intensidade quantitativa e qualitativa da produção artística
budista mostra uma concentração notável nas regiões do Nordeste e do Noroeste indianos,
principalmente a partir do séc. -2, próximo de suas bases de origem tradicionais. Nessas
regiões, que também formam as pontes de passagem para o mundo indiano, veremos como
os budistas desenrolaram o desafio do intercambio de idéias com outras civilizações.
No início do século 20, o estudioso francês Alfred Foucher mergulhava no mundo das
imagens indianas, vasculhando uma quantidade inacreditável de estátuas e relevos em busca
de uma iconografia autenticamente budista. Foucher foi, provavelmente, o primeiro
especialista a preocupar-se em compreender a formação de uma iconografia budista, de um
cânone para a produção de imagens de Buda e de temas budistas. Seu magnífico e erudito
trabalho, ‘L’art Gréco-Bouddhique du Gandhara’, publicado em 1905, foi também o primeiro
estudo a realizar um extenso levantamento da arte budista e de suas possíveis origens. O
trabalho de Foucher foi marcante, e influenciou profundamente gerações de arqueólogos e
historiadores da arte asiática.
A teoria central do trabalho de Foucher era a seguinte: a imagem de Buda teria surgido do
contato entre budistas e gregos. Antes disso, Buda nunca teria sido representado em forma
humana. Até a chegada dos gregos na Índia, os budistas representariam Buda por ícones
associados à religião budistas, tais como o dharmachakra (a Roda da Lei), a marca de seus
passos, um espaço vazio debaixo da árvore boddhi (lugar em que Buda alcançou a
iluminação) ou uma cena conhecida das jatakas. Quase todas essas representações estariam
contidas em relevos, presentes nas stupas budistas – pequeno templo destinado a guarda de
relíquias budistas, ou para marcar um lugar de veneração. Antes disso, segundo Foucher, os
indianos desconheceriam a estatuária escultural de grande porte, e o budismo interditava
representações antropomórficas de Buda. Foi a chegada dos gregos, no final do século -4, que
mudaria o panorama das artes indianas. Alexandre trouxe consigo artesãos e escultores que
fixaram residência na Índia, e que repassaram suas técnicas aos artistas indianos.
Principalmente na região de Gandhara, segundo Foucher, essa arte grega seria absorvida de
maneira intensa, e por razões particulares. Gandhara era um dos grandes centros de
Budismo na Índia da época. Essa comunidade desejava expandir-se, mas para isso, precisava
de meios apropriados de expressão estética, que os diferenciassem do hinduísmo. Afinal,
quem olhasse para um relevo budista sem conhecer um pouco da doutrina ou de sua história
teria uma dificuldade tremenda em compreender o significado dessas representações, em
que a ‘ausência’ marcava uma ‘presença’. Para esses ‘ícones associativos’, Foucher propôs a
teoria denominada de ‘aniconismo’; antes dos gregos, pois, os budistas representariam Buda
tal como faziam as religiões judaica, cristã e islâmica: sem formas humanas. O uso de
símbolos ‘inumanos’ denotava um sentido de respeito religioso, mas também, uma certa
incapacidade de se desvencilhar das formas de expressão artísticas do hinduísmo. Os deuses
hindus já possuíam formas, atributos, sinais distintivos, enfim, toda uma gama de símbolos
que permitiam sua identificação junto à sociedade. O budismo, porém, sofria da dificuldade
de ter nascido dentro do hinduísmo, e de buscar novas formas simbólicas que pudessem
distingui-lo.
Assim, na teoria de Foucher, a iconografia budista pré-grega seria feita de ícones cujo sentido
podia ser lido somente por aqueles familiarizados com o budismo. A ausência de
representações humanas de Buda fortaleceria esse aspecto ‘anicônico’ do budismo. O
estabelecimento dos gregos na Índia, porém, teria modificado por completo esse panorama,
por várias razões. A primeira delas, como dissemos no capítulo anterior, era o proselitismo
budista. Os budistas não tinham receio de contatar estrangeiros, discutir sua doutrina e
ainda, de pregar para eles. Livres da idéia de que pertenciam a uma civilização fechada e
articulada pela religião (a civilização hindu), os budistas viram na chegada dos gregos uma
nova porta aberta para sua expansão. O império de Alexandre formava uma vasta rede de
territórios que se estendiam da Ásia Central ao mediterrâneo, nos quais a cultura grega
começava a penetrar como uma espécie de ‘cultura geral’, expandido a língua grega, e suas
formas artísticas, em todos os cantos desse mundo. Para os budistas, portanto, pareceu
interessante estabelecer um contato aprofundado com a cultura grega, tendo em vista uma
possível expansão para o Ocidente. Uma prova singular dessa iniciativa, por exemplo, é o
conhecido texto do ‘Milinda Panha’, produzido (provavelmente) no século -2. Nele, um rei
Grego chamado Menandro (em páli, Milinda) trava um debate filosófico com um sábio
budista chamado Nagasena, e no final, termina convertido ao budismo. Menandro de fato
existiu (-160 -135), e sabemos que o budismo realmente encontrou boa acolhida nos reinos
Greco-indianos que se formaram após a morte de Alexandre e a subseqüente fragmentação
do império macedônico (Xavier, 1968).
Mas a arte grega parecia representar algo ainda maior para os budistas: uma nova forma de
expressão artística, capaz de singularizar o budismo em relação ao hinduísmo. E mais: de
criar uma iconografia própria, capaz de dialogar tanto com o mundo indiano quanto com o
mundo grego.
O Aniconismo de Foucher
A teoria do aniconismo de Foucher foi muito bem recebida na época, e perdurou durante
décadas como uma certeza dentro do campo da história da arte indiana. Ele teve ainda a
oportunidade de sintetizar suas idéias em um outro artigo, publicado em 1913, intitulado
“L’origine grecque de l’image du Bouddha”, no qual defendia a preeminência da região de
Gandhara no surgimento de uma imagem humanizada de Buda. A vasta coleção de materiais
recolhidos por Foucher parecia mostrar que seu ponto de vista estava correto. A estatuária
budista de Gandhara inaugurara a representação de Buda. Os Budas de Gandhara se
apresentavam fundamentalmente na posição de meditação ou e de discurso, sentados, com
as pernas cruzadas, e realizando um ‘Mudrá’ – gesto de mão que possui um significado
religioso específico tanto no budismo quanto no hinduísmo. Essas peças representavam uma
novidade para a Índia em vários sentidos: primeiro, de uma estatuária em pedra cujas
formas, importadas da Grécia, eram desconhecidas pelos indianos; segundo, que essa mesma
estatuária apresentava adaptações significativas na representação de elementos budistas,
tais como gestos sagrados, a protuberância na cabeça de Buda (indicativo de sua sabedoria),
o disco solar atrás da cabeça, a postura meditativa. O que os artistas de Gandhara haviam
conseguido fazer, portanto, era incorporar o realismo grego das formas, a atenção ao detalhe,
a proporcionalidade das partes físicas, dentro de uma concepção inédita de representação
dos ícones budistas. Os exemplos recolhidos por Foucher pareciam ser suficientes para
corroborar essa tese, que foi aceita amplamente em sua época.
Os gregos na Índia
De fato, a presença grega na Índia havia sido menosprezada durante um bom tempo pela
historiografia ocidental. Os trabalhos sobre antiguidade, até a época de Foucher, centravam-
se basicamente no Mediterrâneo. Devemos lembrar, todavia, que o Oriente ainda era uma
novidade para a Europa. Somente em 1857, por exemplo, a Inglaterra havia finalizado o
domínio da Índia, após debelar a revolta dos Cipaios.[5] Quando Foucher vai em sua primeira
missão no país, em 1895, mal haviam se passado cinqüenta anos do episódio, que ainda
estava fresco na memória de indianos e ingleses. Nessa mesma época, seriam descobertos os
sítios arqueológicos de Mohenjo Daro e Harappa, empurrando a aurora da civilização indiana
para um período contemporâneo ao dos sumérios (Alchin, 1998 e Thapar, 1990). Nem
mesmo os indianos tinham idéia dessas antigas cidades. Coube aos ingleses descobri-las, e
praticamente iniciar a construção da história antiga indiana em moldes científicos
ocidentais. Se atinarmos para esse quadro, compreenderemos o ineditismo de Foucher, e a
razão pela qual a presença grega na Ásia central começou a ser valorizada em outros termos.
Novamente, temos aí um problema de fontes históricas. Apesar dos gregos terem um projeto
inicial de historiografia, nos moldes de Heródoto e Tucídides, ainda assim não foram feitos –
ou não restaram – cronologias ou histórias da presença grega na Índia. Temos apenas
fragmentos. Sabemos, por exemplo, que uma ‘Historia Indika’ sobre esse período foi escrita,
das quais sobraram somente vestígios na ‘História da Grécia’ de Pausânias. Todavia, os
gregos trouxeram para a Ásia central as moedas. Grande parte da cronologia que temos dos
reinos gregos na Índia vem da numismática. Por meio delas, é possível remontar um quadro
– ainda que cheio de falhas – da situação política da época (Holt, 1999, p.67-83).
Os gregos conseguiram manter uma série de reinos autônomos, que brigavam entre si, num
período que se estende entre -325 a +10. Há uma série de avanços e recuos em suas
fronteiras. O principal centro do domínio helênico era a região chamada de Bactria, onde
hoje se situa o Afeganistão. Apenas para termos uma idéia, a conhecida região de Bamiyan,
cujos Budas gigantescos, escavados em pedra, foram explodidos pelo Talibã em 2001 já foi
um poderoso reino grego no passado. A mobilidade das fronteiras se devia tanto as
ocasionais divisões dinásticas gregas, quanto ao interesse em aproximar-se da Índia ou, a
partir do século -1, em participar mais diretamente da Rota da seda, como veremos adiante.
A presença grega foi marcante, em termos artísticos, nessa região. Não apenas os temas
budistas foram tocados pelo estilo naturalista grego; representações sincréticas de deuses
gregos surgem nos relevos indianos. Hércules se torna um dos temas preferidos nesses
relevos. Num deles, ele acompanha e protege Buda. Um conjunto de moedas dos reis Greco-
indianos apresenta os soberanos gregos fazendo um mudrá de benção perante seus súditos
nativos. A iniciativa de Foucher, portanto, deu base para a escrita de um novo e interesse
capítulo da história do helenismo. Talvez por isso, também, sua obra tivesse uma acolhida
tão favorável na Europa colonial e imperialista do início do século 20.
Gregos e Mauryas
Os gregos, porém, não estavam sozinhos. O norte da Índia havia se organizado num novo e
poderoso império, que ficou conhecido como dinastia Maurya (-322 a –183). O fundador da
dinastia Maurya, Chandragupta, havia assistido a chegada os gregos na Índia, e acompanhou
de perto suas conquistas e limitações. Chandragupta recolheu recursos e experiência
suficientes para unificar novamente a Índia, pondo limites aos interesses gregos. Contudo, a
formação do império Maurya deu certa estabilidade política à região, o que permitiu que os
sucessores de Chandragupta pudessem manter outras preocupações. O mais notável e
conhecido deles foi Ashoka, neto de Chandragupta, que teria governado o império de -268 a
-232 . Ashoka ficou conhecido por uma série de éditos, publicados em rochas, que se
estendiam por todo o império e traziam mensagens de paz e religiosidade ecumênica. Há
uma grande insistência, por parte da tradição budista, que Ashoka se converteu ao budismo
após uma profunda depressão pela qual passou. Numa das guerras de expansão dos Maurya
em direção ao sul da Índia, Ashoka teria ordenado um massacre na região de Kalinga, do qual
se arrependeu profundamente depois. Diante da visão da morte, ele teria despertado para
um sentimento religioso mais profundo, que o teria levado ao budismo. Obviamente, essa é
uma história que o próprio Ashoka escreveu em um de seus éditos, numa época em que
massacres em guerras eram coisas absolutamente comuns, mas com a qual os budistas se
locupletaram. No entanto, um exame das proclamações de Ashoka realmente mostra uma
preocupação notável com a preservação da vida, com a manutenção da paz, com o respeito
ao Dharma (a lei religiosa) e a construção de uma imagem piedosa:
Não devemos honrar apenas a religião própria e condenar a dos outros e devemos honrar as
religiões alheias por este ou aquele motivo. Fazendo assim, ajudamos nossa própria religião
a crescer e prestamos serviço também as alheias. Ao fazer de outro modo, estamos cavando
a sepultura de nossa própria religião e, ao mesmo tempo, fazendo mal as alheias. Quem quer
que honre sua própria religião e condene as alheias certamente o faz por devoção a própria,
pensando em glorificá-la, mas, ao contrário, ao fazer isso prejudica a mesma gravemente. Por
isso, a concórdia é boa, e que se permita a todos ouvir e prestar-se a ouvir as doutrinas
professadas pelo próximo. (Édito 13)
Todos esses elementos, porém, estavam presentes tanto no hinduísmo quanto no budismo,
e é possível que Ashoka estivesse tentando, na verdade, ter ambas as religiões sob seu
controle. De qualquer modo, Ashoka investiu mais no discurso religioso do que no conflito,
e seus éditos são prova concreta disso.
O que nos interessa, aqui, é que Ashoka escreveu alguns desses éditos em grego e aramaico,
de modo que pudessem ser compreendidos no Oeste grego. Esse ponto demonstra que os
indianos estavam absolutamente cientes da importância dos gregos como uma poderosa
força na Ásia central, e a ligação para o ocidente mediterrânico. No mesmo édito 13, por
exemplo, Ashoka nomeia os reis gregos com precisão, e leva até eles sua mensagem de paz
(Bloch, 1950).
Uma das regiões retomadas pelos Maurya foi Gandhara. Os budistas souberam tirar proveito
da situação, e continuaram a manter um proveitoso contato com os gregos. Se pudermos
acreditar num texto indiano desse momento, existiam até mesmo monges indianos que
ensinavam budismo aos gregos (Mahavamsa, 12). Mas os Maurya sofreram um súbito
colapso no século -2 por razões pouco conhecidas, sendo derrubados pela efêmera dinastia
Sunga. Pouco dispostos a tolerar influências estrangeiras, os Sunga tentaram restaurar o
poder do hinduísmo, promovendo uma perseguição aos budistas. Isso lançou os budistas,
novamente, a procurar abrigo e amparo nos reinos gregos. Mais uma vez, a escolha acabou
se mostrando acertada: enquanto o império dos Sunga encolhia, pressionado por todos os
lados, os gregos avançaram por todo noroeste indiano, retomando uma parte substancial da
Ásia central. Em sua maior extensão, os reinos gregos conseguiram manter, durante algum
tempo, uma extensão de terras que ia do mar Cáspio até Fergana, nas fronteiras com o
império chinês (Thapar, 1990, p. 92-109 e Holt, 1999, p. 126-33). O mais importante para os
budistas, contudo, é que Gandhara havia sido retomada nesse processo. Agora, eles
acreditavam que teriam uma importante base para se expandirem rumo a oeste, um governo
que lhes era favorável e tempo para trabalharem uma nova imagem para sua religião.
Gandhara, século -1 a +1
O sossego que os budistas esperavam ter conseguido com a instalação dos reinos gregos em
Gandhara não durou muito. As fronteiras gregas eram instáveis: do lado oeste elas eram
pressionadas pelos temíveis partos, que se instalaram na mesopotâmia desde o século -3 e
lá fixaram um poderoso império, capaz de rivalizar com Roma em poder político, extensão e
força. Ao leste, uma nova onda de invasões fora provocada pelo êxodo de povos nômades
vindos das fronteiras chinesas. Tanto os indianos quanto os gregos foram assolados pelos
ataques dos Yuezhi, povo de origem cita que havia sido igualmente desalojado de seus
territórios pelo Xiong Nu (os futuros ‘Hunos’), por sua vez expulsos da China pela poderosa
Dinastia Han (da qual falaremos mais adiante).
Enfraquecidos, os governantes do norte e do noroeste indianos (ainda mais divididos nessa
época) não puderam resistir por muito tempo. Alguns reinos gregos conseguiram sobreviver
até +10, mas eram apenas um pálido reflexo do que haviam sido anteriormente. Gandhara
foi brevemente tomada por mais um reino indiano, os Shaka, cujo pode não durou nem
mesmo um século na região (-80 a -53). Quando os Yuezhi chegaram, nessa época, decidiram
fixar residência na região, submetendo os Shakas e começando a construir, a partir
principalmente no início do século +1, o império que seria posteriormente conhecido como
Kushan. (Koshelenko, 1994, p. 164-173 e Yu, 2011)[8]
Para os budistas gandharianos, contudo, todo esse trânsito de estrangeiros – embora
ocasionalmente preocupante – era extremamente benéfico. Como vimos antes, os budistas
estavam acostumados a lidar com culturas estranhas, em função principalmente do seu ativo
proselitismo. Sem necessidade de apoiar um ou outro Estado, os budistas se acostumaram
com as mudanças políticas, sabendo adaptar-se para sobreviver. Essa habilidade foi
fundamental para estabelecer uma relação pacífica e fértil com os novos conquistadores. Por
outro lado, o budismo representava para os Kushans uma porta de acesso a cultura e aos
pensamentos indianos e gregos. Novamente, os budistas conseguiram estabelecer
conversações proveitosas com o poder estabelecido, e saíram recompensados por sua
disponibilidade.
Sob Kanishka (78 +127), ápice da dinastia Kushan, os budistas experimentaram um estímulo
nunca visto antes. Kanishka, talvez inspirado nas histórias de Ashoka dos Maurya, converteu-
se ao budismo e tornou-se um patrono das religiões. Embora se apresentasse perante os
súditos como ecumênico, seus investimentos no budismo são notáveis. Ele chega mesmo a
produzir uma moeda com sua efígie de um lado e a de Buda do outro – nela, Buda aparece
em pé, vestido com um longo pano, que pode ser uma das primeiras representações da toga
romana, doravante denominada como ‘sangathi’. Os kushans aprenderam grego, e o usaram
profusamente (Harmatta, 1994, p. 407-429). Investiram nos contatos com o Ocidente, e
desenvolveram uma relação comercial rica com Roma e com a China.
A instalação do Budismo
Apesar das crises que afetaram os grandes impérios no século +3, a rota da seda continuou
fluindo, embora com menor intensidade. Mesmo assim, Solano - escritor latino do século +3
- afirmava conhecer os chineses, que considerava uma gente pacífica, mas que não gostava
de se misturar e que tinha dificuldades de se comunicar (Coedes, 1910, p.84); já Bardesano
admirava-os por achar que não eram idólatras, e que não conheciam nem a violência ou a
prostituição (idem, p.77)- aparentemente, Solano estava absolutamente certo sobre a
‘dificuldade de comunicação’ dos chineses, para que Bardesano pudesse ter criado
impressões tão equivocadas.
Os chineses estavam espalhados pelo mundo, e mesmo que a China se separasse em três
reinos independentes – Wei, Wu e Shu – ela continuava poderosa, e atraia viajantes de todo
mundo, principalmente os budistas indianos. A dinastia Wei, em particular, será uma grande
estimuladora o Budismo. Esse impulso seria de vital importância para afirmar a
autenticidade do budismo perante a sociedade chinesa. Obviamente, isso não foi bem
recebido pelos daoístas religiosos, mas a China – tal como Roma – tinha por tradição aceitar
religiões estrangeiras desde que elas não se intrometessem nos assuntos políticos,
cumprissem a lei civil, e se submetessem a autoridade do imperador. Como os budistas não
representavam problema em nenhum desses sentidos, não havia então impedimento para
seu estabelecimento.
De qualquer forma, o budismo demorou um pouco para se distinguir do daoísmo. Foi
necessário que Mouzi, um acadêmico convertido ao budismo, escrevesse um pequeno texto
chamado ‘Lihoulun’ (‘Diálogo para esclarecer princípios’) para explicar as diferenças entre a
nova doutrina e o pensamento chinês tradicional. Mesmo assim, o budismo não ficou isento
de críticas. Os intelectuais confucionistas ficaram preocupados com a doutrina budista, por
entender que ela ameaçava algumas instituições da sociedade chinesa (Zurcher, 2007, p.13).
Para entender essa reação dos confucionistas, precisamos novamente retornar ao passado
chinês. Tal como o daoísmo, o confucionismo surgiu em torno do século -6, baseado na
doutrina criada pelo sábio Confúcio (-551 – 479). Confúcio, porém, foi um personagem real,
cuja proposta era eminentemente educacional, filosófica e política. Ele defendia que a
articulação da sociedade se dava em função da cultura, e que essa só poderia ser
devidamente promovida pela educação. Sem educação, pois, seria impossível governar um
país, já que a sociedade desconheceria os costumes, as leis, seus direitos e deveres. A
educação, o estudo da história, das artes e de uma espécie de sociologia cultural (chamada
de ‘Li’[10]) constituiria o ‘dao’ confucionista. O confucionismo foi alçado à condição de
ideologia estatal da dinastia Han, e tornara-se a base da educação chinesa.
Os confucionistas acreditavam, portanto, na manutenção da sociedade por meio da cultura.
Em função disso, já existia uma certa animosidade entre eles e os daoístas, que eram
entendidos como preguiçosos, supersticiosos e pouco educados por conta de seu discurso de
desprendimento material e religiosidade. Mesmo assim, os daoístas encontraram seu lócus
específico justamente no campo das crenças religiosas, espaço da mentalidade chinesa
menosprezado pela intelectualidade confucionista. Isso gradualmente trouxe um equilíbrio
na relação entre ambas as doutrinas, e durante a dinastia Han já era possível encontrar
pensadores que acreditavam ser possível conciliá-las. No entanto, a chegada do budismo
representava um desafio mais sério.
Os budistas não pregavam apenas o desprendimento material, mas incitavam a substituição
do trabalho pela meditação. O modelo do monastério budista tradicionalmente não era auto-
sustentável, mas buscava amparo e financiamento do Estado, o que os confucionistas
achavam um absurdo. Como se não bastasse, os budistas estimulavam a mendicância.
Também defendiam o celibato, e se punham diretamente contra a família, instituição que era
o centro da vida social chinesa. Os budistas que vinham para a China traziam ainda consigo
relíquias para veneração, que incluíam supostos restos humanos de Buda ou de santos
budistas. Esse tipo de idolatria apavorava os confucionistas, que estavam acostumados a
cultuar os ancestrais, mas de maneira simbólica e distante. Não fazia muito sentido para eles
que restos mortais de alguém pudessem interceder pelos vivos. Por fim, a questão do
nirvana: primeiro, era um conceito estranho ao pensamento chinês. Para os daoístas, os
mundos espirituais e materiais estavam interligados; para os confucionistas, as regras da
vida valem para o mundo material, e não para outros mundos. Cada mundo, pois, com suas
leis. Mas o que indignava os confucionistas era a idéia de que aqueles que meditavam
poderiam atingir o nirvana, enquanto que aqueles que sustentavam os meditadores não o
atingiriam– e nisso os confucionistas não enxergavam qualquer tipo de justiça divina. O
número crescente de adeptos do budismo preocupou seriamente os confucionistas, que
viram nisso um indício de corrupção social. Fiéis, porém, ao discurso da tolerância e da
aceitação, os confucionistas não construíram qualquer tipo de oposição organizada – ou ao
menos, não deixaram indício. Muitos, na verdade, se interessaram pela metafísica budista,
que como vimos, era uma área de conhecimento ausente do confucionismo. Somente no
século +8 a China conheceria um crítico brilhante e assumido contra o budismo, Hanyu (768
+ 824). (Morton, 1986) Mesmo assim, os budistas foram obrigados a redigir um tratado, o
‘Discurso das Refutações’ (‘Zhengwu Lun’, aprox. séc.4), para se defender das inúmeras
acusações que lhes foram imputadas – e é por ele que temos uma idéia do que os principais
adversários do budismo o acusavam (Zhurcher, 2007, p.15).
Ainda assim, se pudermos acreditar nas fontes sino-budistas, a instalação na China frutificou.
No período Han, se teria inaugurado em Luoyang o ‘Templo do cavalo branco’ para receber
os budistas no país. Como os chineses ainda não conheciam bem o budismo e seus problemas
internos, o ‘Templo do cavalo branco’ recebia e abrigava tanto os hinayanas quanto os
mahayanas. Isso criava situações constrangedoras, como foi o caso de Lokaksema, quando
descobriu todo o trabalho que An Shigao já tinha realizado por lá (Yang, 1984). No entanto,
a capacidade de adaptação dos budistas mahayanas foi decisiva para sua aculturação na
China.
Quase na mesma época que Foucher andou pela Índia, outros estudiosos estavam vivamente
interessados na exploração da Ásia central. Em 1904, Aurel Stein realizou uma missão de
exploração seguindo o trajeto da rota da seda, em busca dos caminhos que Marco Polo teria
trilhado. A experiência de sua viagem foi fundamental para que outro pesquisador, Paul
Pelliot, organizasse em 1906 uma nova expedição, que iria contribuir substancialmente para
a história do Budismo.
Pelliot era um militar francês experiente, tendo lutado com distinção contra os Boxers, em
1900, no cerco da legação estrangeira de Beijing. Profundamente interessado nas
civilizações asiáticas, ele havia estudado indologia com Silvan Levy e sinologia com Edouard
Chavannes, simplesmente os maiores especialistas franceses da época nessas áreas. Após ser
despachado para a Ásia, ficou algum tempo em Hanoi, capital da Indochina francesa, antes
de ir para a China em 1900. Tempos depois, acabou retornando a França, onde começou a
preparar a expedição que seguiria um roteiro semelhante ao de Aurel Stein. Seu mestre
Chavannes teria um papel fundamental, como veremos depois, na definição de sua rota.
A missão de Pelliot sairia do Oriente Médio, atravessando a mesopotâmia em direção a Ásia
central, mapeando os sítios históricos e arqueológicos do Afeganistão, Índia, Nepal,
atravessando o deserto de Taklamakan e adentrando a China pelo território do Xinjiang,
seguindo a rota da seda pelo deserto. O objetivo era traçar o caminho das caravanas até as
antigas capitais imperiais chinesas, ponto final da expedição.
Já na China, Pelliot quis investigar o relato sobre as cavernas de Mogao, situadas na região
do Gansu, perto da prefeitura de Dunhuang, nas quais existiria uma vasta coleção de arte
budista. Ao deparar-se com o local das cavernas, próximo de um antigo oásis da rota da seda,
Pelliot foi surpreendido por um magnífico complexo de grutas recheadas de relevos e
pinturas budistas. O grande prêmio de Pelliot, porém, foi uma biblioteca magnífica de textos
chineses antigos, na sua maioria budista, guardada apenas por um monge cansado, que foi
convencido a vendê-la por um preço irrisório. Pelliot passou três semanas separando o que
havia de melhor naquela coleção, e precisou montar uma caravana para levar a coleção até
Beijing, de onde foi despachada para a França. A aquisição de Pelliot pode ser considerada
hoje, sem receio, como mais um dos saques artísticos e arqueológicos característicos dos
tempos imperialistas, com a concordância tácita das autoridades locais (Hopkirk, 1980).
Stein havia também adquirido uma parcela significativa dos mesmos manuscritos de
Dunhuang, embora em quantidade (e qualidade) consideravelmente menor. Isso ocorreu
porque Pelliot fora orientado por Chavannes a examinar a biblioteca de Dunhuang com um
cuidado e atenção ao que lhe oferecessem. Anos antes, Stein havia remetido a Chavannes
alguns dos documentos que havia encontrado nas cavernas. Chavannes reparou que existiam
muitas cópias recentes e fragmentos dispersos de livros, o que indicava a ignorância de Stein
na língua chinesa. Por outro lado, o material indicava que era possível existir uma grande
quantidade de textos antigos e valiosos nas grutas, ao que ele orientou Pelliot a examiná-los
mais atentamente. A diferença no preparo entre Stein e Pelliot marcou a abissal discrepância
entre o saque dos dois: e a França foi brindada com uma coleção inédita e de valor
incalculável de textos chineses. Contudo, a descoberta de Mogao foi ainda mais importante
por outros motivos: ali, estava registrado o ponto de passagem do budismo para a China, um
museu vivo para compreender as transformações na arte budista que penetrara no país
(Cordier, 1925).
Mogao juntou-se a dois outros importantes centros artísticos do budismo chinês, as grutas
de Longmen (perto de Luoyang) e as grutas de Yungang. Nelas, surgiu a arte budista chinesa,
que conjugava a arte budista indiana com os elementos advindos da mentalidade chinesa,
criando uma iconografia original e que serviria de base para a consolidação de uma imagem
de Buda intercultural mahayana (Liang, 1984, p.31-5). Curiosamente, Paul Pelliot
desenvolveu uma teoria pouco convincente de que o budismo teria entrado na China por via
marítima, pelo sul do país (Rong, 2004). No entanto, em Mogao, ele pode constatar que
algumas das idéias propostas por Foucher eram válidas: ali existiam Budas vestidos em
roupas parecidas com as túnicas gregas ou togas romanas. Os budistas passaram da Índia
para a China por ali, deixando rastros de suas peregrinações.
A sensação em torno das descobertas de Pelliot atraiu a atenção dos pesquisadores para
Dunhuang. Até então, se supunha que as grutas de Longmen e Yungang eram os mais antigos
monumentos budistas chineses, construídos ao longo dos séculos desde o século +5.
Curiosamente, o estudo aprofundado das pinturas nas cavernas de Mogao mostrou, porém,
a coexistência de imagens diversas de Buda, umas influenciadas pela escola de Gandhara e
outras, pela escola da Mathura. O Buda de Gandhara, sempre envolto num toga ou numa
túnica grega, contrastava com o Buda desnudo de feições indianizadas. Durante um bom
tempo, essas observações implicaram na idéia de que a instalação de Mogao precedia todos
os outros sítios chineses. A existência de algumas passagens da história chinesa Han nas
paredes de Mogao só aumentava a certeza sobre esses indícios.
No entanto, a análise da literatura histórica, tanto chinesa quanto a sino-budista, revelou
uma total ignorância sobre o lugar antes do século +5. Com o surgimento dos exames de
carbono 14, a datação de muitos murais também foi deslocada para o século +6. O que isso
poderia significar? Olhando no mapa, continua fazendo sentido pensar que Mogao era rota
de passagem para Yungang ou Longmen. No entanto, Mogao serviu durante anos apenas
como uma parada para descanso na rota, e ocasionalmente como refúgio para meditação. Os
missionários budistas preferiram, de fato, se dirigir para as capitais imperiais chinesas, em
busca de patrocínio e projeção. Assim, Mogao demorou algum tempo para se transformar,
também, num importante centro budista. Somente no período do século +5 é que haveria a
grande expansão do budismo, em meio a uma China em crise (Duan, 1993). O
desenvolvimento de Mogao, Yungang e Longmen foi praticamente concomitante; mas
enquanto Mogao continuou recebendo viajantes budistas indianos hinayanas e mahayanas,
que reproduziam em grande parte a iconografia indiana de Mathura e Gandhara, foi em
Longmen e Yungang que surgiu uma iconografia budista originalmente chinesa.
O complexo de Yungang
‘Tanyao implorou a majestade imperial permissão para que pudesse abrir cinco grutas na
montanha próxima do passo de Wuzhou, e que pudesse esculpir também uma imagem de
Buda de setenta pés de altura e sessenta pés de largura, cuja decoração magnífica clamaria
sua glória por todo o mundo’. (Fragmento do Shilaoji, do Weishu)
Nesse pequeno fragmento do Weishu, somos informados que coube a um monge, chamado
Tanyao, a permissão para construir o primeiro conjunto de cinco cavernas que comporiam
o complexo de Yungang. Em meio ao complexo, uma enorme estátua de Buda seria esculpida
na rocha, demonstrando poder de Buda e do imperador. Essa passagem se situa no reinado
de Wencheng (452 +465), sucessor de Taiwu, o perseguidor dos budistas. Como vimos
anteriormente, o Weishu contém alguns possíveis equívocos de informação e cronologia.
Todavia, a análise do texto nos dá uma base para começarmos a compreender ‘quando’ e
‘como’ as grutas começaram a ser construídas.
Num ponto os textos históricos e a literatura budista concordam: o complexo de cavernas de
Longmen só começou a ser construído depois da transferência da capital para Luoyang, em
493. Essa afirmação é confirmada por um texto budista, o ‘Recordações históricas dos
templos budistas de Luoyang’ (‘Luoyang Qielanji’), escrito por Yang Xuanzhi em torno da
metade do séc. +6. (Yang, 1984). Nele, a história do budismo é contada a partir da perspectiva
dos monges que viveram em Luoyang, desde a suposta chegada no século +1 durante a
dinastia Han, passando por todos os eventos históricos que transcorreram nesse período.
Yang pôde acompanhar diretamente a história dos Tuoba-Wei, e suas informações
concordam com as do Weishu, dando assim a Yungang a preeminência entre as grutas
budistas chinesas.
Curiosamente, há uma imagem que é considerada a ‘primeira imagem de Buda’ na China, que
fica na região de Jiangsu, noroeste do país, perto do oceano pacífico. Ela foi esculpida na
rocha, no monte Kongwang, e apresenta uma imagem rudemente entalhada, sem
refinamento, que lembra vagamente uma representação de Buda em estilo indo-cita. A
suposição é de que essa imagem foi feita no período Han, provavelmente por algum
mercador de origem kushan que não tinha conhecimentos aprofundados de técnicas
artísticas. Essa imagem está cercada de outras, porém, que foram adicionadas
posteriormente em seu entorno, o que torna a datação do conjunto ainda mais difícil. Por se
tratar de uma história da iconografia budista na China, entende-se que é necessário citar essa
obra. Contudo, ela não é relevante para o nosso estudo, por algumas razões claras: a) a
incerteza sobre sua datação; b) apesar das semelhanças, é difícil afirmar que se trata
realmente de uma imagem de Buda; c) ela não adicionou nada em termos artísticos aos
chineses. Mesmo especialistas como Li Zehou (1988, p. 143) e Liu Xujie (2002, p.45) colocam
em dúvida a validade de afirmar que essa seja a primeira imagem de Buda na China. Em
suma: ainda que fosse a primeira representação de Buda NA China, não seria a primeira
representação de Buda FEITA na China, o que são coisas substancialmente diferentes. Isso
nos leva, novamente, a construção de Yungang.
Até onde o ‘Shilaoji’ nos informa, as cavernas foram construídas com patrocínio imperial
(Caswell, 1988, p.14), e Tanyao pode contratar especialistas vindos de gandhara para a
construção das grutas. A construção de cavernas nas montanhas não representava algo novo
para os chineses. Desde os tempos primitivos, o povo escava cavernas no Loess para morar
(Morton, 1986), e os daoístas também apreciavam o costume de se isolar em grutas
retiradas. No imaginário chinês, havia ainda ‘cavernas mágicas’, que apareciam e
desapareciam segundo a vontade dos espíritos, abrindo portas para outros lugares ou
mundos. O que Tanyao propunha era algo absolutamente distinto dessas experiências
anteriores. Seu intuito era o de construir grutas-capelas, que diferente da tradição chinesa,
serviriam justamente para a exposição da imagem de Buda. Tanyao provavelmente ouviu
falar desse tipo de gruta ao entrar em contato com os monges que vinham da Índia. Tanto
em Gandhara como em Mathura e Amaravati, existiam construções desse gênero, mas não
nas dimensões colossais que ele concebera. De qualquer modo, a aprovação imperial deu
ensejo para que o monge pudesse iniciar seu projeto. Achar arquitetos e trabalhadores não
seria uma tarefa sumamente complicada: a região de Gansu estava repleta de artistas
gandharianos, espalhados em pequenas comunidades (Juliano, 2002 e Chen, 2002). É em
Gansu que será desenvolvido, depois, o complexo de Mogao-Dunhuang. Mas nessa época, as
comunidades budistas estão separadas pelas fronteiras instáveis dos reinos chineses, e ainda
tem uma ligação forte com a Índia. Tanyao dispunha, portanto, de mão de obra e uma
conexão indiana direta pela rota da seda para começar os trabalhos.
As grutas
Tão logo o complexo começa a ser construído, notáveis diferenças surgem entre as tradições
greco-indianas e as formas de representação que se desenvolvem em Yungang. Como bem
apontou Louis Frederic, especialista em arte indiana, as grutas chinesas nascem sob o signo
de uma diferença marcante: a decisiva influência da cultura nativa na formação de uma nova
representação de Buda (Frederic, 1959, p.13).
Para isso, precisamos compreender a formação do complexo, e que imagens podemos
escolher para podermos perceber as alterações efetuadas no estilo gandhariano.
As grutas tinham objetivos diversos: elas serviam basicamente de capelas para meditação e
adoração das imagens budistas. Algumas eram habitadas por monges responsáveis por
cuidar do complexo, e ocasionalmente podiam servir de hospedagem. Sabe-se que as cinco
primeiras grandes grutas foram construídas com apoio imperial; as restantes foram sendo
construídas ao longo dos séculos com o patrocínio de particulares, que esperavam acumular
mérito espiritual financiando essas obras (Caswell, 1988, p.21-29). A construção do
complexo também não foi contínua; os estudos mais recentes apontam que as escavações
foram feitas em períodos descontinuados, até o século +6 – ou talvez, até o +7. Subai (1978)
afirmou que a última construção teria sido finalizada em +525, em função, talvez, da atração
exercida por Luoyang como centro político e religioso depois da transferência da capital em
+493.
O complexo, como um todo, é composto de aproximadamente 250 cavernas, organizadas em
20 grandes grutas ou ‘escavações’. Existem mais de 50.000 imagens de Buda e de
bodhisatvas[11]entalhadas nessas grutas, e detectar as primeiras imagens produzidas nesse
complexo é uma tarefa obviamente difícil.
Desde os trabalhos de Mizuno (1938), baseado ainda em análises de estilo e do
posicionamento das escavações, se supôs que o conjunto formado pelas grutas 16 a 20 seria
o mais antigo. Essa idéia foi parcialmente comprovada por escavações posteriores que
revelaram inscrições dedicadas aos patronos dos outros conjuntos de grutas. Embora Subai
discordasse de algumas das proposições apresentadas por Mizuno, basicamente ele também
concordava com a idéia de que as primeiras grutas a serem escavadas foram de 16 a 20. Subai
se baseava num antigo texto chamado ‘Epígrafe de Jin’[12], que ele havia descoberto, no qual
se mencionava o suporte dado por um eunuco da corte as obras de construção das grutas. O
texto parece se tratar de uma compilação de dados históricos da dinastia Tuoba-Wei, e indica
a construção do complexo de Yungang. Apesar de ter sido transcrito no século +11, as
informações contidas da ‘Epígrafe de Jin’ foram recolhidas a partir de fontes mais antigas, e
apontavam para a confirmação das suposições de Mizuno. Com base nisso, considera-se
atualmente que os conjuntos de 16 a 20 são, de fato, os mais antigos. Desde 1999, Margareth
Rhie têm feito um extenso levantamento da arte budista na China e na Ásia central[13],
identificando as conexões entre a arte gandhariana e as grutas de Yungang dos conjuntos de
16-20 (Rhie, 1999, vol. 3). São nessas grutas que acharemos as imagens que fecham,
finalmente, nossa pequena viagem iconográfica, apresentando, enfim, os primeiros Budas
chineses.
Opúsculo
Ao fim de toda essa trajetória, surgiu o artigo ‘Um Buda Chinês para os Romanos’. Convido-
os a leitura em: http://sinografia.blogspot.com/2013/12/um-buda-chines-para-os-
romanos.htmlComo desdobramento de todas essas leituras, veio a luz também o artigo
‘Buda, discípulo de Laozi’. Pode ser lido aqui:
http://sinografia.blogspot.com/2013/12/buda-discipulo-de-laozi-controversia-da.html
Bibliografia
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[1] Os ‘três cestos’ da literatura budista, que contém as histórias do budismo, os textos
especulativos e os textos devocionais.
[2] Usaremos a notação ‘-‘ para datas a.C. e ‘+’ para datas d.C., conforme uso corrente na
sinologia.
[3] Vemos aqui a razão da incompatibilidade, também, do hinduísmo com o islamismo:
enquanto o primeiro defendia a existência dos deuses, a reencarnação, a desigualdade
entre os humanos e as interdições dietéticas, o islã defendia a existência de um único deus,
que só havia uma vida, que os humanos são iguais perante deus e as interdições dietéticas
se limitam a porco e álcool. Tal condição de conflito ainda se desenrola hoje.
[4] Ou: Nepal, Paquistão, Afeganistão e a própria Índia. A região de Gandhara, que
estudaremos adiante, situa-se hoje no território afegão.
[5] Revolta promovida pelos soldados indianos que serviam as forças inglesas na Índia, e
que degenerou num princípio de guerra civil controlado a grande custo pela intervenção de
tropas enviadas da Europa. Após esse incidente, a coroa britânica aboliu o monopólio das
companhias de comércio na Índia e transformou as áreas dominadas no vice-reino da Índia,
sob seu controle direto.
[6] Há uma cidade com o nome Mathura, que dá o nome a região a ser analisada aqui.
[7] 1ª edição de 1924: no entanto, Bhattacharya revisou por completo o livro 1958,
incorporando novos materiais e a discussão Foucher/Coomaraswamy.
[8] Corruptela de outro nome chinês para os Yuezhi, ‘Gui-Shuang’.
[9] A Dinastia Han é dividida em duas: Han anterior, ou Han ocidental, de -206 a +2, e Han
Posterior ou Han Oriental, de +22 a +221. Nesse intervalo, o imperador, Wang Mang, tentou
criar uma nova dinastia, chamada de Xin. Tão logo foi sucedido, o nome ‘Han’ e a estrutura
anterior foram retomadas.
[10] Li, em geral traduzido como ‘rito’; o mais apropriado seria, porém, traduzir por
‘costumes’, ‘regras sociais’ ou mesmo ‘cultura’.
[11] Bodhisatva pode significar duas coisas: alguém que atingiu o nirvana, mas ficou no
mundo para ajudar os outros; ou, alguém que é candidato a iluminação, mas só a alcança no
momento final de extinção da sua vida, após uma vida dedicada a doutrina.
[12] Do inglês, ‘Jin tablet’ (Caswell, 1988)
[13] RHIE, M. Early Buddhist art of China and Central Asia. Leiden: Brill, 1999. A coleção
tem, até agora, 3 volumes, e um 4º está sendo produzido.