Filosofia Oriental
Filosofia Oriental
Filosofia Oriental
Hinduísmo
O Hinduísmo não tem uma autoridade suprema como um papa ou aiatolá. “Quem é hindu é assim
porque nasceu hindu, já situado numa classe social, estritamente hierarquizada, que tem uma séria de
deveres e direitos correspondentes” (PAINE, 2007, p 78).
A tradição hindu se baseia, entre outras obras, no livro dos Vedas que, em sânscrito, deriva da
raiz vid (विद् ), que significa conhecer, escreve-se veda (िेद) no alfabeto devanágari e significa conhecimento.
Veda é o nome dado a certas obras antigas as quais formaram a base da fé religiosa primitiva dos hindus.
Os textos dos Vedas, atribuídos aos Ṛṣis (videntes ou poetas sagrados que os receberam por meio
de visão diretamente do Criador Supremo), servem de fundamento do universo cultural, ético e religioso
hindu. Os Vedas é composto de quatro obras ou livros do conhecimento (PAINE, 2007, p. 78-79; O ṚG-
VEDA, 1866).
1) o Rg Veda (ऋग्वेद) ou veda dos hinos (rc ou rg = hino ou louvor), assim chamado porque sua Saṁhitā ou
coleção de mantras ou hinos consiste em Ṛcas ou versos destinados à recitação em voz alta; é uma
antologia de hinos sagrados, preces métricas, consiste de mais de mil hinos e contém a mais antiga parte
dos textos; “também chamados Sūktas, – endereçados a diferentes divindades, – cada um dos quais é
atribuído a um Ṛṣi, um autor santo ou inspirado” (WILSON, H. H. apud ṚG-VEDA SAṀHITĀ, 1866, p. 19).
2) o Sama Veda (सामिेद) ou veda dos cantos rituais (sāman = canto ritual), contém arranjos musicais dos
hinos do Rg Veda e outras fontes; “O Sāma Veda é pouco mais do que uma remodelação do Ṛc, sendo
composto, com muito poucas exceções, dos mesmos hinos, divididos em partes, e organizados de nova
maneira, com a finalidade de serem cantados em diferentes ocasiões cerimoniais” (WILSON, H. H. apud ṚG-
VEDA SAṀHITĀ, 1866, p. 19).
3) o Yajur Veda (यजुिेद) ou veda do sacrifício (yajush = sacrifício), reúne as orações e fórmulas sacrificiais
utilizadas pelos sacerdotes e difere do Rg Veda por ser uma coleção de fórmulas litúrgicas; “As preces, ou
invocações, quando não emprestadas do Ṛc, são, a maioria, breves, e em prosa, e são aplicáveis à
consagração dos utensílios e materiais da adoração cerimonial, assim como ao louvor e culto dos deuses”
(WILSON, H. H. apud ṚG-VEDA SAṀHITĀ, 1866, p. 19).
4) o Atharva Veda (अथिविेद) é um conjunto de fórmulas mágicas e encantamento (atharvān = um tipo de
sacerdote); o Atharva Veda, no entanto, pode ser “considerado antes como um complemento aos três, do
que como um dos quatro Vedas” (WILSON, H. H. apud ṚG-VEDA SAṀHITĀ, 1866, p. 19), pois
Muitas passagens podem ser encontradas em escritos sânscritos, algumas nos
próprios Vedas, que limitam o número [dos Vedas] a três; e não há dúvida que o
quarto, ou Atharva Veda, embora ele se aproprie livremente do Ṛc, tem pouco em
comum com os outros, em seu caráter geral, ou em seu estilo: a linguagem indica
claramente uma época diferente e posterior (WILSON, H. H. apud ṚG-VEDA
SAṀHITĀ, 1866, p. 19).
Cantados durante rituais sagrados e recitados quotidianamente em comunidade védicas, o canto
védico é considerado patrimônio cultural imaterial da humanidade pela UNESCO, desde 2003 (UNESCO,
La tradition du chant védique). Os Vedas pertencem “à história do mundo e à história da Índia” (MÜLLER, F.
Max apud O ṚG-VEDA, 1866, p. 43) e onde houver uma biblioteca ou museu que trate das relíquias das
eras antigas ele terá sempre um lugar “naquela longa lista de livros que contêm os registros do ramo ariano
da humanidade” (id., ibidem, p. 43).
Além dos Vedas, temos também outro conjunto considerável de escritos (alguns que não tem origem
com os rishis).
(“Manava-Dharmashastra”), regras rituais (“Vedangas”), textos éticos (“Niti-
Shastras”), contos e lendas populares para os não letrados (as “Puranas”), poemas
(“Itihasas”, “Kavyas”), e as duas grandes epopéias indianas (que lembram um pouco
a “Odisséia” e a “Ilíada” homéricas): o “Ramayana” e o “Mahabharata” (PAINE, 2007,
p. 79).
Merece destaque também os Upanixades que apresenta um conjunto de preceitos que podemos
considerar ao mesmo tempo religiosos e filosóficos como: atman (realidade fundamental do
homem), brahman (realidade fundamental do mundo).
A partir da tradição hindu é possível traçar paralelos entre a filosofia ocidental e oriental a partir das
ideias de:
uma lógica e uma epistemologia (Nyaya), uma filosofia da natureza (Vaisheshika),
uma hermenêutica e uma teoria de linguagem (Purvamimamsa), uma visão polar do
cosmos em princípios que lembram ato/potência, ou matéria/espírito, na
dualidade purusha/prakriti (Sankhya), uma psicologia de forças físicas e sutis no
corpo humano e sua harmonização (Yoga), e uma metafísica (Vedanta) (PAINE,
2007, p. 81).
Sobre os Vedanta podemos considerar Shankara (séc. VIII), Ramanuja (séc. XII) e Mahdva (séc.
XIII) como autênticos filósofos. Shankara desenvolveu uma interpretação não dualista Vedanta.
Propondo um monismo rigoroso, ele negou tanto o conteúdo real de maya (o jogo
das aparências), que foi acusado pelos outros dois grandes vedantins de ser um
cripto-budista, pois para eles o absoluto, brahman, na interpretação de Shankara,
não se diferenciava claramente do budista shunya (o vazio). Elementos aparentados
com a filosofia plotiniana, o apofatismo de Pseudo-Dionísio, o minimalismo quanto à
cognoscibilidade filosófica de Deus em Tomás de Aquino, abordagens de Espinosa
e até de Kant e Hegel podem ser identificados (PAINE, 2007, p. 81-82).
Ramanuja por sua vez é autor de comentários aos Brahma-Sutras e também adepto de um monismo
cujo caminho da devoção pessoal (bhakti) seria o mais eficaz para obter a libertação (moksha).
Madhva divergindo dos dois autores anteriores, é adepto do dualismo, que considera Brahman, o
mundo e a alma como substâncias distintas (sendo que o mundo e a alma dependem da primeira).
Taoísmo
O Taoísmo consiste, junto com o Confucionismo, nos dois grandes sistemas da tradição chinesa. A
China é considerada como “A Terra do Três Ensinamentos”, por causa da influência do Budismo,
incorporado à tradição taoísta e confucionista chinesa.
O Taoísmo é um sistema filosófico que tem como base as ideias de Lao-Tsé ou Lao-Tzy (604-531
a.C.). Pouco se sabe acerca da sua história de vida, porém sua historicidade está presente através do seu
livro Da Razão Suprema e da Virtude, o Tao-te King.
Confucionismo
O Confucionismo é derivado dos ensinamentos de Kong fu zi (551-479 a.C.) que quer dizer Mestre
Kong. A forma latina derivada de Kong fu zi é Confúcio.
São considerados como escritos confucianos os Seis Jing (seis livros sagrados ou seis clássicos):
“o Shijing, o Shujing, o I Ching, o Lijing, o Chunqiu e o Yojing (livro da música, atualmente perdido)”
(OLIVEIRA, 2007, p. 134); e os quatro livros da Escola de Confúcio. Temos ainda Os Analectos, uma obra
escrita em forma de diálogo (entre Confúcio e seus discípulo), reunidos e compilados pelos alunos de
Confúcio.
O Confucionismo é uma filosofia que tem um caráter eminentemente ético e moral e isto
independente de questões religiosas. Temos também uma questão pragmática do conhecimento, pois para
Confúcio, o conhecimento teórico de nada vale se não for colocado em prática. “Preocupado com a crise
que se instalava nas instituições da dinastia Zhou, sua resposta filosófica centrou-se na discussão dos mais
diversos tópicos relativos à política, aos costumes e à construção do conhecimento, difundido por meio de
ampla proposta educativa” (OLIVEIRA, 2007, p. 134).
A doutrina de Confúcio se baseia ainda na ideia de que a essência do ser humano é a boa vontade
e que todos os homens nascem com as mesmas aptidões. Há uma forte valoração do papel da família e do
amor filial. O bem é o princípio e fim da ação moral, além de que a política é considerada como o campo de
efetivação da moral.
No campo da ética Confúcio deu ênfase a conceitos como benevolência, simpatia e autocontrole: “o
adepto confucionista exalta o autocontrole e a atitude de reserva que se expressa no ‘observa-te a ti mesmo’”
(OLIVEIRA, 2007, p. 140). Além disso, “para o confucionista, a fonte de todo bem-estar está na harmonia
da alma que, em contrapartida, sugere uma repressão das diferentes formas de paixões para que não
chegue a se romper o equilíbrio existente e desejado entre o ser e o Cosmos” (OLIVEIRA, 2007, p. 140).
O Confucionismo visa entre outras coisas a organização da sociedade baseada no princípio da
simpatia universal. Esta simpatia deve ser alcançada através da educação, e estender-se do ser humano à
família e da família ao Estado (considerado como a grande família). Sobre a educação confucionista, Oliberia
(2007, p. 140) pondera ainda que ela
busca formar homens com uma cultura universal, mas oposta às demandas racionais
e especializadas das tarefas administrativas, nos moldes ocidentais. O cavalheiro
confucionista concebe sua educação como o Tao (“o caminho”) que o leva para a
virtude e autoperfeição, e não para algo instrumental a serviço de um propósito
utilitário específico (OLIVEIRA, 2007, p. 140)
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