Carl
Carl
Carl
Carl Sagan
gradiva
3. O NASCIMENTO DO HOMEM
RObCK ClBrkC
4. A PRODIGIOSA AVENTURA
DAS PLANTAS
lean-Marie PelUlean-Piene Cuny
5. COSMOS
Carl Sagan
6. A MEDUSA E O CARACOL
Lewis Thomas
7, O MACACO. A ÁFRlCA
E O HOMEM
Yves Coppens
8. OS DRAGåES DO ÉDEN
Carl Sagan
9. UM MUNDO IMAGINADO
lune Goodfield
18. ORIGENS
Roben Shapiro
23. vI&A
Francis Crick
24. SUPERFORmA
Paul Davies
25. QED - A ESTRANHA TEORIA
DA LUZ E DA MATÉRIA
Richard P. FeyOman
43. MALICORNE
Huben Reeves
44. INFINITO EM TODAS
AS DIRECÇåES
Freeman J. Dyson
45. O ÁTOMO ASSOMBRADO
P. C. W, DaviCs/J. R. Brown
46. MATÉRIAPENSANTE
lean-Pie&re Changeux/Alain Connes
47. A NATUREZA REENCONTRADA
lean-Marie Pelt
48. O CAMINHO QUE NENHUM
HOMEM TRILHOU
Carl Sagan/Richa&d Turco
49. O SORRISO DO FLAMINGO
Suphen lay Gould
50. EM BUSCA DA UNIFICAÇÃO
Abdus SalaMPaul Dúac/tVCmer
Heixnberg
51. OBJECTOS FRACTAIS
Benoh Mandelbmt
Carlos Fiolhais
65. OS HOMENS
AndrE LanganCy
gradiva
Para
@ Indice
Introdução
Prólogo: a ficha do órfão..
1. Na Terra como no céu... ..
2. Flocos de neve caídos na lareira...
3. "Que fazes"?.. .....
4. Um evangelho de imundície.... . .
5. A vida é apenas uma palavra de três letras
6. Nós e eles
7. Quando o fogo era novidade..........
8. Sexo e morte.........
9. Que finas divisórias... .....
10. O penúltimo recurso.... ....
11. Domínio e submissão........
12. A violação de Cénis..........
13. O mar da criação..
14. Bandolândia
15. Reflexões mortificantes.....
16. Vidas dos macacos
17. Advertir o conquistador....
18. Arquimedes dos macacos..
19. O que é ser-se humano....
20. O animal interior..
21. Sombras de antepassados esquecidos... . ....
Epílogo....
Notas.......
Agradecimentos....
Os autores
Introdução
CARL SAGAN
ANN DRUYAN
Jameiro de 1992
mais vasto.
A Pangeia formou-se há cerca de 270 milhões de anos,
durante o
Pérmico, uma época difícil para a Terra. O clima tinha vindo
a aquecer
a nível mundial. Nalguns locais a humidade era muito elevada
e haviam-se
formado enormes pântanos, que seriam, mais tarde, cobertos
por
extensos desertos. Há cerca de 255 milhões de anos, a Pangeia
começou
a quebrar-se - devido, julga-se, à repentina elevação de um
superpenacho
de lava derretida através do manto da Terra e vindo das
profundezas
do seu núcleo fervilhante. O Texas, a Florida e a Inglaterra
ficavam
então no equador. O Norte e o Sul da China, em pedaços
separados, a
Indochina e a Malásia juntas e fragmentos do que seria mais
tarde a
Sibéria eram, todos eles, grandes ilhas. Os períodos
glaciários registavam-se
com intervalos de 2,5 milhões de anos e, consequentemente, o
nível dos mares descia e subia.
Para os finais do Pérmico, o mapa da Terra parece ter sido
violentamente
reelaborado. Pedaços inteiros da Sibéria foram inundados pela
lava. A Pangeia fez uma rotação e derivou para norte,
empurrando a
Sibéria continental em direcção à sua situação actual, junto
ao pólo norte.
"Megamonções", chuvas torrenciais sazonais numa escala jamais
testemunhada
pelos homens, ensoparam e inundaram a Terra. O Sul da China
foi, lentamente, enroscar-se na Ásia. Muitos vulcões entraram
em erupção
ao mesmo tempo, libertando ácido sulfúrico para a
estratosfera e
desempenhando, talvez, um papel importante no arrefecimento
da Terra.
As consequências biológicas foram profundas - uma orgia de
morte a
nível mundial, em terra e mar, algo como nunca até então se
vira e jamais
voltaria a ser visto,.
A dissolução da Pangeia prosseguiu. Há cerca de 100 milhões
de
anos, a América do Sul e a África, que ainda hoje se ajustam
como duas
peças de um puzzle, estavam apenas separadas por uma estreita
faixa de
mar - afastando-se uma da outra cerca de 2,5 cm por ano. As
Américas
do Norte e do Sul eram então continentes separados sem nenhum
istmo
do Panamá a ligá-los. A Índia era uma grande ilha rumo ao
norte e
distante de Madagáscar. A Gronelândia e a Inglaterra estavam
ligadas à
Europa. A Indonésia, a Malásia e o Japão faziam parte da
região continental
da Ásia. Podia ir-se a pé do Alasca à Sibéria. Havia grandes
mares
interiores onde hoje não existe nenhum. Nesta altura, com um
breve olhar
vindo do espaço, tê-la-íamos reconhecido como sendo a Terra -
mas
com a configuração do solo e da água estranhamente alterada
como que
por um cartógrafo desatento e descuidado. Era esse o mundo
dos
dinossauros.
Mais tarde os continentes separaram-se ainda mais, levados
pelas suas
plataformas subjacentes. A África e a América do Sul
continuaram a
afastar-se uma da outra, dando lugar ao Atlântico. A
Austrália desligou-se
da Antárctida. A Índia foi chocar com a Ásia, fazendo erguer
os
Himalaias. Este é o mundo dos primatas.
SOBRE A TEMPORANEIDADE
@3 "Que fazes" ?
laùuiu.r, 45, 9
O mundo e tudo o que nele existe foi feito para nós, tal
como nós
fomos feitos para Deus.
Durante os últimos milhares de anos, sobretudo desde os
finais da
Idade Média, esta afirmação orgulhosa e autoconfiante foi-se
tornando
cada vez mais uma crença comum, defendida por imperadores e
escravos,
papas e priores de paróquia. A Terra era um cenário teatral
profusamente
decorado, concebido por um encenador engenhoso, ainda que
inescrutável,
o qual conseguira reunir lá, vindo só ele sabia donde, um
variado
elenco de tucanos e pálidos insectos, enguias, ratazanas,
ulmeiros, iaques,
e muitos, muitos mais. Dispô-los todos diante de nós, com os
seus trajes
de noite de estreia. Eram nossos, para fazermos com eles o
que nos
apetecesse: arrastar os nossos fardos, puxar os nossos
arados, guardar as
nossas casas, produzir leite para os nossos filhos, oferecer
a sua carne
para as nossas mesas, proporcionar úteis ensinamentos sobre
as virtudes
não só do trabalho árduo, mas também da monarquia
hereditária. Por que
motivo achou ele que precisávamos de centenas de tipos de
carrapatos e
baratas diferentes quando um ou dois teriam sido mais do que
suficientes,
por que razão existem mais espécies de besouros do que de
qualquer outro tipo
de ser na Terra, ninguém sabia. Não importa; o efeito final
da extravagante
diversidade da vida apenas poderia ser entendido postulando
que
um criador, cujos motivos ignoramos completamente, criara o
palco, o
cenário e os actores secundários para nosso benefício.
Durante milhares
de anos, praticamente todos, tanto teólogos como cientistas,
consideraram-na,
emocional e intelectualmente, uma explicação satisfatória.
O homem que destruiu este consenso fê-lo com a maior
relutância.
Não era nenhum ideólogo dado a rebelar-se contra o sistema,
nenhum
agitador. Não fora um simples acaso, teria, muito
provavelmente, passado
os seus dias como um simpático pastor da Igreja anglicana
nalguma
aldeia linda e bucólica do século xix. Em vez disso, ateou um
incêndio
tal, que destruiu mais da antiga ordem do que qualquer
revolução política
violenta já ocorrida. Através do método científico,
surpreendentemente
poderoso, este cavaleiro, que era conhecido por achar
enfadonha uma
conversa animada, transformou-se, de certa forma, no
revolucionário dos
revolucionários. Durante mais de um século, a simples menção
do seu
nome era o suficiente para inquietar os devotos e despertar
os estudiosos
da sua constante sonolência.
74 / 75
R1
ù Traça:
GTC GGG CGC GGT CAG TAC TTG GAT GGG TGA CCA
GGG AAC ACC GCG TGC CGT TGG...
ù Mosca-da fruta:
GTC GGC CGC GGT TAG TAC TTA GAT GGG GGA CCC
GGG AAC ACC GCG TGT TGT TGG...
ù Crustáceo:
GTC GGG CCC GGT CAG TAC TTG GAT GGG TGA CCC
GGG AAC ACC GGG TGC TGT TGG...
91
SOBRE A TEMPORANEIDADE
@6 Nós e eles
Que não haja porfia, peço-te, entre nós dois, pois somos
irmãos.
Génesis. 1 3, 8
HOMERO,
SOBRE A TEMPORANEIDADE
HomeRo, __Ilíada
118 119
IVúo sou eu, mas o mundo, que diz: tudo é uma coisa só.
H E Rncuro
WDLTMmT DTJBKWIRZREZLMQCO P
e à vigésima:
139
@8 Sexo e morte
GEORGE SANTAYANA,
ARTHUR SCHOPENHAUER,
SOBRE A TEMPORANEIDADE
Mentira! É mentira.
Vimos para viver na Terra.
152
ALEXANDER POPE,
Nada do que dissemos até agora nos indica seja o que for
sobre as
preferências da fêmea. E se ela achar o macho alfa arrogante,
rude,
demasiado seguro de si mesmo? Ou, pura e simplesmente, feio?
Terá ela
o direito de o recusar? Pelo menos entre os hamsters não é
opção que se
ponha.
Eis uma experiência feita com hamsters da Síria pela
psicóloga
Patricia Brown e seus colegas: para começar, os machos,
agrupados segundo
o tamanho e o peso, tiveram oportunidade para conviverem uns
com os outros, aos pares, com vista a estabelecerem o
domínio. Entre as
atitudes consideradas dominantes registaram-se as
perseguições e as
mordidelas; posturas defensivas, fugas, caudas erguidas e uma
submissão
totalmente cobarde foram classificadas como traços de
subordinação. Os
dominantes registaram um número de actos agressivos dez vezes
superior
aos revelados por igual número de animais subordinados; estes
somaram um número de actos submissos dez vezes superior aos
considerados
dominantes. Nunca foi preciso mais de uma hora para que um
par de hamsters decidisse quem era o dominante e quem era o
subordinado.
SOBRE A TEMPORANEIDADE
226 227
Isaías, 40, 4
Eles hão-de conseguir cruzar o mar da criação.
Bandolândia
@14. Bandolândia
Eu passei por vários postos. Não foi por acaso que cheguei
a número
dois. Quando comecei, era ainda novo, ninguém tinha respeito
por mim.
nessa altura, o que eu mais queria era respeito. Quando
fiquei suficientemente
importante, alguns dos outros miúdos e depois algumas das
mães
deles e irmãs começaram a ter respeito por mim. A seguir
foram as gajas
mas. Depois tive de começar a dar nas vistas entre os gajos.
Foi difícil.
Às vezes tinha de lhes implorar que me dessem comida. Carne,
principalmente.
Às vezes, quando eles me davam um bocadinho, eu agarrava
nele e fugia. Eles ficavam mesmo furiosos. As coisas não eram
fáceis
então. Agora é diferente. Agora toda a gente me respeita. Até
o Vesgo,
ás vezes. Até o Chefe, às vezes.
Damo-nos bem os dois. Eu ajudo-o a ele e ele ajuda-me a
mim. Eu
esfrego as costas dele e ele esfrega as minhas, se é que me
percebem.
tenho com ele uma grande intimidade, mais intimidade do que
qualquer
outro. excepto, talvez, o Vesgo. Mas uma vez ele ficou danado
comigo
por eu não lhe ter mostrado o devido respeito. Achou que me
devia
ensinar boas maneiras. Tivemos um grande combate. Vieram
juntar-se
uma data de outros gajos. A coisa descambou em mais lutas.
Mais gajos
aparecer. Se calhar vinham ajudar o irmão deles ou se calhar
estavam
nervosos por verem o Chefe a lutar comigo. Os que estão a
lutar pedem
ajuda aos que estão a assistir. Não tarda está toda a gente à
bulha.
Mas o Chefe não olhava pra mais ninguém, só para mim. E
chegou-me
a sério. Depois começou a acalmar a malta toda. Tive de
sentir
respeito por ele. Aquilo era de um verdadeiro chefe. Mesmo
assim, bateu-me
à frente de toda a gente. Um destes dias ainda hei-de
desforrar-me.
Ele tem sido bom para mim, mas eu quero é ver-me livre dele.
Um dia
hei-de ser eu a mandar nele.
Só que, para já, o Chefe, o Vesgo e eu temos de nos manter
unidos.
alguns dos mais novos começam a ficar impacientes. Querem
passar-nos
a perna. Eu sei como esses gajos são. Quando nos vêem, dão-
nos graxa.
mostram respeito por nós. Mas lá dentro estão a pensar "vai-
te lixar!" e
o meu dia há-de chegar". Pois é, mas o meu há-de chegar
primeiro.
por isso. Claro que, como todos os miúdos daqui, ele de facto
só tem a
mãe. Se eu não o proteger, quem é que o faz? Quando era
pequenino,
comia coisas que lhe faziam mal. Tive de acabar com isso.
Tive de lhe
mostrar quais eram as coisas boas para comer. Nessa altura
ele precisava
realmente de mim. Ainda precisa, mais do que ele julga. Às
vezes
os gajos ficam a tomar conta dele e parece que gostam dele.
Mas não se
pode confiar neles.
Um dos rapazes quis montar a própria mãe. Ela não quis. Um
dia
destes ele acaba por lhe fazer mal a sério. Ele pode montar a
irmã, mas
devia deixar a mãe em paz. Só que quando os gajos ficam dessa
maneira
não conseguem controlar-se. Ficam malucos. Comportam-se como
animais.
CHARLEs BONNET,
(ao comparar grandes símios e homens?)
298 299
@ Advertir o conquistador
Macacos
Macacos-esquilos
Macacos-capuchinhos
Orangotangos
Lémures
No caso do Lemur catta, a incidência de combates dentro dos
grupos
é elevada, particularmente entre machos. A agressividade
assume a forma
de perseguições, bofetadas, marcação de cheiro e, nos machos,
lutas
ferozes [...) Os actos de submissão incluem a fuga ou
retrocesso à
medida que um macho dominante se aproxima e os
hierarquicamente
inferiores seguem habitualmente de cabeça baixa e cauda a
arrastar,
caminhando vagarosamente atrás do grupo e evitando, por
regra, o contacto
com outros animais. As fêmeas são muito menos frequentemente
agressivas do que os machos e a hierarquia de domínio
feminino não é
tão fácil de detectar, muito embora os esporádicos recontros
agressivos
que se observem indiquem que é estável. Contudo, "a qualquer
momento
[...) uma fêmea poderá casualmente suplantar qualquer macho
ou,
irritadamente, dar-lhe um estalo na cara para lhe tirar da
mão uma vagem
de tamarindo.
Macacos
Macacos-de-cauda-curta
Macacos-de-cauda-curta
Cólobos
[As] crias são muitas vezes passadas de mão em mão entre as
fêmeas
pouco depois de nascerem. Este hábito poderá manter-se
durante os
primeiros meses de vida. Contrastando vivamente com certos
Macaca e
babuínos, qualquer cria de cólobo tem livre acesso a todas as
outras crias
e as fêmeas, seja qual for o seu estatuto, têm acesso a todos
os
pequeninos. A troca de crias pode ser uma das bases da
[comparativamente)
não agressiva sociedade de cólobos [... Uma característica
muito interessante dos seus encontros interbandos
é o facto de eles disporem rapidamente de um meio de evitarem
tais
lutas. Tratando-se de animais arborícolas instalados nos
andares mais
altos da vegetação, o que lhes proporciona uma vista
relativamente
desafogada das redondezas, e possuidores de vozes potentes e
sonoras,
os grupos de cólobos conseguem evitar facilmente os
conflitos. Apesar
de tudo, estes são frequentes. Os cólobos mantêm a separação
entre os
grupos utilizando uma ou uma combinação das seguintes
medidas: diversos
padrões de movimentação, poderosos berros masculinos e
comportamento vigilante dos machos.
[...] A excitação é grande nesta fase, incluindo saldos
fantásticos e
correrias por entre os topos das árvores, sendo também
demonstrada
por frequentes defecações e micções. Outro indício de uma
grande
excitação e/ou nervosismo é o facto de os machos poderem
exibir erecções [...]
Os sinais mais comuns do domínio incluem o arreganhar dos
dentes,
o olhar fixo, abrir e fechar a boca, bater no chão, atirar-se
para a frente,
perseguir, abanar a cabeça e montar outro animal. Os gestos
de submissão
incluem oferecer os quartos traseiros, desviar os olhos,
fugir, virar
as costas a outro animal e ser montado [...] Quanto mais
elevada for a
sua posição na hierarquia de domínio, mais vasto é o espaço
pessoal que
ele controla, no qual um animal de categoria inferior não
entrará sem
primeiro dar a entender claramente as suas intenções.
Macacos
[Enquanto) a cria tiver de andar agarrada à progenitora,
seja por
estar ferida ou até mesmo morta, a fêmea continuará a
carregá-la. Se
deixar de o fazer, o mais certo é um macho adulto vir logo
ter com ela
e, com uns berros, dar-lhe, assim, a entender que devia
continuar a
carregar a cria. Tivemos um caso, na nossa pequena colónia de
Berkeley,
em que uma fêmea carregou a cria morta durante dois dias e
depois
deixou-a cair; foi então que o macho adulto dominante do
bando pegou
na cria e carregou-a durante outros dois dias até que, por
fim, se desfez
do corpo.
Macacos-de faces-negras
Macacos-esquilos
Babuínos-hamadrias
Babuínos
Sir Andrew Smith, um zoólogo conhecido por muita gente pela
sua
escrupulosa precisão, contou-me a seguinte história que ele
próprio testemunhou:
no cabo da Boa Esperança um oficial andava, há muito, a
atormentar um certo babuíno e o animal, ao vê-lo aproximar-se
num
domingo para o desfile, encheu um buraco com água e fez
rapidamente
um bocado de lama espessa que, habilmente, atirou para cima
do oficial
quando este passou por ele, para gáudio de muitos
espectadores. Muito
tempo depois, o babuíno ainda se regozijava, todo ufano,
sempre que
avistava a vítima.
Babuínos
Na Abissínia, Brehm encontrou um enorme bando de babuínos
que
iam a atravessar um vale: alguns já tinham escalado o monte
oposto, mas
outros ainda estavam no vale; os últimos foram atacados pelos
cães, mas
os velhos machos desceram imediatamente dos rochedos e, de
bocas
escancaradas, soltaram rugidos tão assustadores que os cães
bateram
rapidamente em retirada. Voltaram a sentir-se encorajados e
atacaram,
mas, desta vez, os babuínos já tinham trepado todos às
alturas, excepto
um pequenito, com cerca de seis meses, que, gritando
ruidosamente por
socorro, trepou para um bloco rochoso e foi logo cercado. Foi
então que
um dos machos maiores, um verdadeiro herói, voltou a descer o
monte,
dirigiu-se vagarosamente para o jovem, sossegou-o e,
triunfantemente,
fê-lo seguir atrás de si - com os cães demasiado perplexos
para esboçarem
qualquer ataque".
320 321
@SOBRE A TEMPORANEIDADE
Mas tudo isto pode ser observado noutros animais, como, por
exemplo,
nos gibões, mais a primogenitura.
O filósofo e teólogo do século xix Ludwig Feuerbach -
conhecido
pela influência que exerceu em Karl Marx - afirmava que o que
distingue
os seres humanos é o reconhecimento de si mesmos como
espécie. Há,
no entanto, muitos animais que distinguem prontamente os
membros da
sua espécie dos de quaisquer outras - por exemplo, através de
pistas
olfactivas. E entre os homens há exemplos flagrantes de
aviltamento de
membros da própria espécie, declarando-os abaixo da condição
humana,
para justificarem actos de homicídio - sobretudo em períodos
de guerra.
Diz-se, por vezes, que os homens são melhores a criar
distinções de
classes do que outros primatas, mas as hierarquias de domínio
dos primatas,
algumas delas hereditárias, parecem estar dotadas de uma
excelência
de discriminação social que em certos aspectos supera mesmo a
nossa.
Concluímos que nenhuma destas caracteristicas sexuais e
sociais representa,
portanto, os aspectos definidores da espécie humana. O
comportamento
de outros animais, especialmente os chimpanzés, torna
capciosas
tais pretensões. Eles são, pura e simplesmente, demasiado
parecidos
connosco.
360 361
@O animal interior
SOBRE A TEMPORANEIDADE
382 383
@Sombras de antepassados esquecidos
EMPÉDOCLES,
@Epílogo
maio 1998