Moção de Repudio - PL Agrotóxico - Copema
Moção de Repudio - PL Agrotóxico - Copema
Moção de Repudio - PL Agrotóxico - Copema
1. CONTEXTUALIZAÇÃO
Por versarem sobre matéria similar, foram a ele apensadas outras 29 (vinte e
nove) propostas legislativas, com as mais variadas sugestões de alteração da Lei nº 7.802, de 1989
- atual Lei de Agrotóxicos-, fazendo com que esse conjunto de proposições recebesse a
denominação de “pacote do veneno”.
1
"altera os arts. 3º e 9º da Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a
embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação,
a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de
agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências".
O relatório aprovado pela “Comissão Especial destinada a proferir parecer ao
Projeto de Lei nº 6299, de 2002”, lamentavelmente concluiu pela constitucionalidade, juridicidade
e técnica legislativa; pela adequação financeira e orçamentária; e, no mérito, pela aprovação do
PL 6.299/2002 e dos PL's nºs 2.495/2000, 3.125/2000, 5.852/2001, 5.884/2005, 6.189/2005,
1.567/2011, 1.779/2011, 4.166/2012, 3.200/2015, 3.649/2015, 6.042/2016 e 8.892/2017,
apensados, na forma do Substitutivo apresentado; e pela constitucionalidade, juridicidade e
técnica legislativa; pela adequação financeira e orçamentária; e, no mérito, pela rejeição dos PL's
nºs 713/1999, 1.388/1999, 7.564/2006, 3.063/2011, 4.412/2012, 49/2015, 371/2015, 461/2015,
958/2015, 1.687/2015, 2.129/2015, 4.933/2016, 5.218/2016, 5.131/2016, 7.710/2017, 8.026/2017
e 9.271/2017, apensados.
O Substitutivo está, então, apto a ser apreciado pelo Plenário da Câmara dos
Deputados e pelo Senado.
2. ASPECTOS GERAIS
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Por outro lado, repudiam o “PL do Veneno” e já manifestaram posição contrária
a sua aprovação, por meio de moções, alertas e diversas notas e pareceres técnico-científicos - que
enfrentam tanto as inconstitucionalidades do texto, quanto os incalculáveis danos à saúde e ao
meio ambiente que a futura lei irá provocar-, importantes órgãos e instituições, públicos e
privados, bem como organizações da sociedade civil, nacionais e internacionais, a exemplo do
Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Trabalho (MPT), Defensoria Pública da
União (DPU), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Nacional de Câncer José Alencar
Gomes da Silva (Inca), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Departamento de Vigilância em
Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, do Ministério da Saúde (DSAST/MS), Associação
Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC),
Associação Brasileira de Agroecologia (Aba Ecologia), Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia (SBEM), Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC),
Associação Nacional do Ministério Público do Consumidor, Conselho Nacional dos Direitos
Humanos (CNDH), Conselho Nacional de Saúde (CNS), Conselho Nacional de Segurança
Alimentar (Consea), Fórum Nacional e Estaduais de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos,
além da Organização das Nações Unidas (ONU).
2
Plano de Ação da Estratégia Intersetorial de Redução do Uso de Agrotóxicos e Apoio a Agroecologia e a Produção Orgânica em
Minas Gerais – PLANERA 2018-2022. P. 13.
3
Dossiê Abrasco: um alerta sobre os impactos dos Agrotóxicos na Saúde- 2015, Disponível em:
www.abrasco.org.br/dossieagrotoxicos/. Acesso em 30/07/2018.
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da população, em referido estudo defende-se que o uso exagerado de agrotóxicos afeta a
economia brasileira com um custo muito alto (mais de 12 bilhões de dólares por ano), uma vez
que a produção desses produtos é controlada por grandes multinacionais.
Sem embargo, para além da afronta à construção jurídica que dá base ao direito
fundamental do trabalhador a laborar em um meio ambiente do trabalho hígido, inclusive no meio
rural, fruto da evolução dos estudos referentes ao trabalho e à saúde, e sua inter-relação com os
direitos fundamentais, o MPT destacou a afronta às normas internacionais ratificadas pelo Brasil,
4
Disponível em https://www.abrasco.org.br/site/wp-content/uploads/2018/08/DOSSIE_NOVO_26_JULHO_Final.pdf. Acesso em
10/08/18.
5
Disponível em http://www.mpf.mp.br/pgr/documentos/4ccr_notatecnica_pl-6-299-2002_agrotoxico.pdf. Acesso em 30/07/2018.
6
Disponível em http://portal.mpt.mp.br/wps/wcm/connect/portal_mpt/da036c30-2ff5-43c7-9b22-ebe3a9642d26/notatecnica_94-
2018_Gerado-em-14-05-2018-15h07min40s.pdf?MOD=AJPERES&CVID=mdB1rBh. Acesso em 30/07/2018.
7
CF/88 “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...)
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;”
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a exemplo da Convenção nº 155, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata da
Saúde e Segurança dos Trabalhadores - aprovada em Genebra, em 1983, e ratificada pelo Brasil
em 1992.
8
Nota Técnica Nº 1- DPGU/SGAI DPGU/GTGSAN DPGU, disponível em http://contraosagrotoxicos.org/wp-
content/uploads/2018/05/SEI-_-DPU-2393350-Nota-Te%CC%81cnica-__DPU-PL-6.299.pdf. Acesso em 10/08/2018.
9
ONU, Mandate of the Special Rapporteur on the implications for human rights of the environmentally sound management and
disposal of hazardous substances and wastes: junho de 2018. Disponível em
https://www.ohchr.org/Documents/Issues/ToxicWastes/LetterSGAshkaliEgyptianCommunities.pdf. Acesso em 02/08/18.
10
ONU BRASIL. Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Brasília, 2015. Disponível
em https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/. Acesso em 30/07/2018.
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observando o equilíbrio entre as demais três dimensões. Esse aspecto é materializado sob a
perspectiva da governança.
Dentro desse contexto, diversos objetivos traçados pela Agenda 2030 poderiam
ser aplicados para fundamentar a rejeição do “PL do Veneno”. Pela sua especificidade, cite-se o
ODS 02, que estabelece “acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da
nutrição e promover a agricultura sustentável”.
No âmbito desse objetivo, foram traçadas oito metas11 para serem cumpridas por
todos os países signatários, valendo destacar a meta 2.4, que determina “garantir sistemas
sustentáveis de produção de alimentos e implementar práticas agrícolas robustas que aumentem
a produtividade e a produção, que ajudem a manter os ecossistemas, que fortaleçam a
capacidade de adaptação às mudança do clima, às condições meteorológicas extremas, secas,
inundações e outros desastres, e que melhorem progressivamente a qualidade da terra e do solo”.
11
OBJETIVO 2. ACABAR COM A FOME, ALCANÇAR A SEGURANÇA ALIMENTAR E MELHORIA DA
NUTRIÇÃO E PROMOVER A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL.
2.1 Até 2030, acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas, em particular os pobres e pessoas em situações
vulneráveis, incluindo crianças, a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano.
2.2 Até 2030, acabar com todas as formas de desnutrição, incluindo atingir, até 2025, as metas acordadas internacionalmente sobre
nanismo e caquexia em crianças menores de cinco anos de idade, e atender às necessidades nutricionais dos adolescentes, mulheres
grávidas e lactantes e pessoas idosas.
2.3 Até 2030, dobrar a produtividade agrícola e a renda dos pequenos produtores de alimentos, particularmente das mulheres,
povos indígenas, agricultores familiares, pastores e pescadores, inclusive por meio de acesso seguro e igual à terra, outros recursos
produtivos e insumos, conhecimento, serviços financeiros, mercados e oportunidades de agregação de valor e de emprego não
agrícola.
2.4 Até 2030, garantir sistemas sustentáveis de produção de alimentos e implementar práticas agrícolas resilientes, que aumentem a
produtividade e a produção, que ajudem a manter os ecossistemas, que fortaleçam a capacidade de adaptação às mudanças
climáticas, às condições meteorológicas extremas, secas, inundações e outros desastres, e que melhorem progressivamente a
qualidade da terra e do solo.
2.5 Até 2020, manter a diversidade genética de sementes, plantas cultivadas, animais de criação e domesticados e suas respectivas
espécies selvagens, inclusive por meio de bancos de sementes e plantas diversificados e bem geridos em nível nacional, regional e
internacional, e garantir o acesso e a repartição justa e equitativa dos benefícios decorrentes da utilização dos recursos genéticos e
conhecimentos tradicionais associados, como acordado internacionalmente.
2.a Aumentar o investimento, inclusive via o reforço da cooperação internacional, em infraestrutura rural, pesquisa e extensão de
serviços agrícolas, desenvolvimento de tecnologia, e os bancos de genes de plantas e animais, para aumentar a capacidade de
produção agrícola nos países em desenvolvimento, em particular nos países menos desenvolvidos.
2.b Corrigir e prevenir as restrições ao comércio e distorções nos mercados agrícolas mundiais, incluindo a eliminação paralela de
todas as formas de subsídios à exportação e todas as medidas de exportação com efeito equivalente, de acordo com o mandato da
Rodada de Desenvolvimento de Doha.
2.c Adotar medidas para garantir o funcionamento adequado dos mercados de commodities de alimentos e seus derivados, e
facilitar o acesso oportuno à informação de mercado, inclusive sobre as reservas de alimentos, a fim de ajudar a limitar a
volatilidade extrema dos preços dos alimentos.
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Embora o escopo da Agenda 2030 se mostre abrangente e multidirecionado, ele
compreende vários objetivos e metas que se aplicam à necessidade de provimento de políticas
públicas que estejam consonantes com aspirações já positivadas nas normas brasileiras, inclusive
na Constituição Federal de 1988, relativamente à produção agrícola sustentável, com respeito à
integridade dos ecossistemas e da saúde de toda a população.
Sem embargo, percebe-se que o pacto global adotado pelo Brasil, expresso nos
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e em suas metas específicas, vai ao encontro das
inúmeras argumentações técnico-científicas já produzidas com vistas à rejeição do “PL do
Veneno”.
12
TCU - Acórdão 709/2018.
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população, tanto dos consumidores dos alimentos contaminados, quanto
dos trabalhadores que lidam diretamente com essas substâncias (IBGE,
2015; ANVISA, 2016a; PINHEIRO e FREITAS, 2010 apud IPEA, 2012).
Em vez de fomentar a redução do consumo excessivo de agrotóxicos no
país, o governo incentiva o seu uso por meio de desonerações tributárias
concedidas à importação, à produção e à comercialização interestadual de
agrotóxicos. Ao reduzir a tributação, o governo brasileiro fomenta o uso
desses produtos e atua de forma contraditória e contraproducente aos
objetivos das políticas que buscam garantir sistemas sustentáveis de
produção de alimentos, a exemplo da PNAPO e do Plano ABC.
13
Disponível em https://www.ibama.gov.br/phocadownload/notas/2018/nota_tecnica_4_2018_diqua.pdf. Acesso em 30/07/2018
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A versão de Projeto de Lei (PL) Substitutivo ao PL n° 6299/2002 e
apensados, de autoria do Deputado Luiz Nishimori, disponibilizada pela
Câmara dos Deputados em seu site na internet no dia 18 de junho de 2018,
apresenta as seguintes diferenças quando comparada à versão de PL
divulgada no final do mês de abril p.p., sobre o qual foi elaborada a Nota
Técnica n° 2/ DIQUAIBAMA ( 2240198):
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(5) no item VIII do art. 5°, no item IV do art. 6° e no item IV do art. 7° foi
previsto que o MAPA, o Ministério da Saúde (MS) e o MMA,
respectivamente, terão a incumbência de "analisar" a análise de risco
apresentada pelo requerente de registro, e quando couber, homologá-la,
em suas áreas de atribuição. Na versão anterior os três órgãos apenas
homologavam a análise recebida;
14
Disponível em http://portal.anvisa.gov.br/documents/219201/4340788/__+SEI+_+ANVISA+-+0202694+-
+Nota+T%C3%A9cnica+da+Dicol+__.pdf/7af8b109-5fbe-4338-b5fa-3698e513bf96. Acesso em 30/07/2018
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isonômica e equilibrada, que perfaz o âmbito das áreas de agricultura, do meio ambiente e da
saúde”. Argumentou, ainda, que referida lei “foi resultado de uma ampla discussão com a
sociedade e de um debate que envolveu diversos segmentos afetados pela temática de
agrotóxicos”, pelo que representa uma conquista regulatória importante, que está no nível dos
países desenvolvidos.
15
Disponível em https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/nota_tecnica_pl_agratoxicos.pdf. Acesso em
29/08/2018
16
Disponível em http://portal.sbpcnet.org.br/noticias/sbpc-se-manifesta-contra-projeto-de-lei-que-altera-lei-dos-agrotoxicos/.
Acesso em 29/08/2018
17
Disponível em https://www.endocrino.org.br/posicionamento-da-sbem-em-relacao-ao-projeto-de-lei-62992002/. Acesso em
29/07/2018.
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Finalmente, concluindo as breves citações extraídas de algumas das
manifestações das instituições e órgãos que, de forma lúcida e prudente, contestaram o conteúdo
do “PL do Veneno”, oportuno destacar o seguinte conteúdo do posicionamento18 do Instituto
Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), do Ministério da Saúde:
18
Disponível em http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/nota-publica-inca-pl-6299-2002-11-de-maio-de-2018.pdf. Acesso em
30/07/2018.
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Nesse sentido, na esteira do posicionamento adotado pela Abrasco e Aba-
19
Agroecologia , já mencionado, devem ser implementadas estratégias que visem “a ampliar os
programas de monitoramento de resíduos de agrotóxicos em alimentos; aumentar a capacidade
laboratorial para atender as demandas de análise; a exemplo do monitoramento da água para
consumo humano; capacitar os serviços de saúde para diagnosticar, tratar e notificar os casos de
intoxicação; revisar o registro de produtos muito tóxicos já proibidos por outros países; extinguir
a isenção tributária dos agrotóxicos; valorizar e investir nas experiências de produção de
alimentos de forma orgânica e agroecológica, dentre outras medidas”.
Exatamente com esse objetivo, foi proposto o Projeto de Lei nº. 6670, de
2016, que institui a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos – PNARA20, com o objetivo
de implementar ações que contribuam para a redução progressiva do uso de agrotóxicos na
produção agrícola, pecuária, extrativista e nas práticas de manejo dos recursos naturais, com
ampliação da oferta de insumos de origens biológicas e naturais, contribuindo para a promoção da
saúde e sustentabilidade ambiental, com a produção de alimentos saudáveis.
6. CONCLUSÃO:
19
“Dossiê Científico e Técnico contra o Projeto de Lei do Veneno (PL 6.229/2002) e a favor do Projeto de Lei que institui a
Política Nacional de Redução de Agrotóxicos – PNARA”
20
Disponível em http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2120775. Acesso em 03/08/2018.
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A COMISSÃO PERMANENTE DO MEIO AMBIENTE, HABITAÇÃO,
URBANISMO E PATRIMÔNIO CULTURAL – COPEMA pugna, ao Congresso Nacional,
para que rejeite o Projeto de Lei nº. 6299, de 2002, e seus apensados, na forma do
Substitutivo apresentado pela Comissão Especial.
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